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| autor_letra = [[Osório Duque-Estrada|Joaquim Osório Duque-Estrada]] | | autor_letra = [[Osório Duque-Estrada|Joaquim Osório Duque-Estrada]] | ||
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| compositor = [[Francisco Manuel da Silva]] | | compositor = [[Francisco Manuel da Silva]] | ||
| data_composição = [[1831]] | | data_composição = [[1831]] | ||
| adotado = [[1890]] no [[Brasil República]]<br>[[1909]] (letra)<br>[[1922]] ( | | adotado = [[1890]] no [[Brasil República]]<br>[[1909]] (letra)<br>[[1922]] (oficializado) | ||
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}} | }} | ||
O '''Hino Nacional Brasileiro''' é um dos quatro símbolos oficiais da [[Brasil|República Federativa do Brasil]], conforme estabelece o art. 13, § 1.º, da [[Constituição brasileira de 1988|Constituição do Brasil]]. Os outros símbolos da República são a [[Bandeira do Brasil|Bandeira Nacional]], as [[Brasão de armas do Brasil|Armas Nacionais]] e o [[Selo Nacional do Brasil|Selo Nacional]]. Tem letra de [[Osório Duque-Estrada|Joaquim Osório Duque-Estrada]] ([[1870]] | O '''Hino Nacional Brasileiro''' é um dos quatro símbolos oficiais da [[Brasil|República Federativa do Brasil]], conforme estabelece o art. 13, [[Parágrafo (símbolo)|§]] 1.º, da [[Constituição brasileira de 1988|Constituição do Brasil]]. Os outros símbolos da República são a [[Bandeira do Brasil|Bandeira Nacional]], as [[Brasão de armas do Brasil|Armas Nacionais]] e o [[Selo Nacional do Brasil|Selo Nacional]]. Tem letra de [[Osório Duque-Estrada|Joaquim Osório Duque-Estrada]] ([[1870]]–[[1927]]) e música de [[Francisco Manuel da Silva]] (1795–1865).<ref name=folha1>{{Citar web|url=http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2212200816.htm|titulo=Foco: No centenário do hino nacional, mostra resgata história do autor da letra |data= 22/12/2008|publicado=Folha de S.Paulo |acessodata=6/11/2017 |autor=Luísa Alcântara e Silva |arquivodata=18/8/2018 |arquivourl=http://archive.is/meEZH}}</ref> | ||
A letra e o ritmo sofreram algumas alterações ao longo de sua história, e teve sua primeira gravação em disco efetuada em [[1917]].<ref name=celestino>{{citar web|URL=http://www.revistafenix.pro.br/PDF27/ARTIGO_06_RAFAEL_ROSA_HAGEMEYER_FENIX_SET_DEZ_2011.pdf |título=Levando ao longe o canto da pátria |autor=Rafael Rosa Hagemeyer |ano=2011|publicado=Fênix – Revista de História e Estudos Culturais, Vol. 8 Ano VIII nº 3 |acessodata=17/8/2018 |arquivourl=https://archive.fo/heVYo |arquivodata=17/8/2018}}</ref> | A letra e o ritmo sofreram algumas alterações ao longo de sua história, e teve sua primeira gravação em disco efetuada em [[1917]].<ref name=celestino>{{citar web|URL=http://www.revistafenix.pro.br/PDF27/ARTIGO_06_RAFAEL_ROSA_HAGEMEYER_FENIX_SET_DEZ_2011.pdf |título=Levando ao longe o canto da pátria |autor=Rafael Rosa Hagemeyer |ano=2011|publicado=Fênix – Revista de História e Estudos Culturais, Vol. 8 Ano VIII nº 3 |acessodata=17/8/2018 |arquivourl=https://archive.fo/heVYo |arquivodata=17/8/2018}}</ref> | ||
==Histórico == | == Antecedentes ao Hino Pátrio == | ||
A composição de Francisco | Certamente que não há notícia de algum hino patriótico narrado pelos principais historiadores no período colonial. Nem mesmo Portugal possuía um hino patriótico até a vinda da Família Real ao Brasil, pois o que havia era o “Hino ao Rei” sempre substituído por ocasião do falecimento do monarca.<ref name=":0">{{citar livro|título=História do Hino Nacional Brasileiro|ultimo=Lira|primeiro=Mariza|editora=Biblioteca do Exército|ano=1954|local=Rio de Janeiro|página=|páginas=20-24}}</ref> Porém, após a vitória lusitana sobre os franceses, um hino passou a ser entoado em Portugal composto pelo maestro [[Marcos Portugal|Marcos Antônio da Fonseca Portugal,]] que trouxe ao Brasil onde pode ter figurado como uma espécie de hino nacional.<ref name=":0" /> | ||
Quando se declarou o regime constitucional em Portugal, [[Pedro I do Brasil|D. Pedro I do Brasil]] fez composição de letra e música do Hino Imperial Constitucional, que foi executado e entoado no Brasil a 5 de Junho de 1821,<ref name=":0" /> e mais tarde foi conhecido como [[Hymno da Carta|Hino da Carta]]. Contudo, foi executado em Portugal e no Brasil sem qualquer decreto que o oficializasse.<ref name=":0" /> | |||
== Histórico == | |||
[[Ficheiro:Hymno Nacional Brazileiro 1931.jpeg|miniaturadaimagem|Imagem de menção a Francisco Manuel da Silva como autor da música do hino nacional.<ref>Album Muzical Gfo do ano de 1931</ref>]] | |||
A composição de Francisco Manuel da Silva foi feita quando da [[Abdicação de Pedro I do Brasil]], a [[7 de abril]] de [[1831]], tendo sua primeira execução no dia 14 daquele mês, no Teatro São Pedro do Rio de Janeiro; a 3 de maio daquele ano, com a instalação das Câmaras Legislativas, voltou a ser executado junto à apresentação de um drama intitulado "O dia de júbilo para os amantes da liberdade" ou "A queda do tirano".<ref name=hist>{{citar web|URL=https://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/71352/74352|título=Hino Nacional Brasileiro: que história é esta? |autor=Avelino Romero Simões Pereira |ano=1995|publicado=Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, nº 38, p. 21-42 |acessodata=18/8/2018 }}</ref> | |||
Em razão da dedicatória mesma que o compositor fizera, onde dizia: "Ao Grande e Heroico Dia 7 de Abril de 1831, Hino Oferecido aos Brasileiros por um seu patrício nato", era conhecido como "Hino ao 7 de Abril" e com este fim foi registrada sua execução nesta data também nos anos de 1832 e 1833.<ref name=hist/> Neste último ano uma letra, escrita pelo desembargador Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva, fora publicada no jornal "Sete de Abril", sendo esta aquela que o próprio compositor adotara, havendo um seu manuscrito de uma partitura em que esta aparece.<ref name=hist/> | Em razão da dedicatória mesma que o compositor fizera, onde dizia: "Ao Grande e Heroico Dia 7 de Abril de 1831, Hino Oferecido aos Brasileiros por um seu patrício nato", era conhecido como "Hino ao 7 de Abril" e com este fim foi registrada sua execução nesta data também nos anos de 1832 e 1833.<ref name=hist/> Neste último ano uma letra, escrita pelo desembargador Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva, fora publicada no jornal "Sete de Abril", sendo esta aquela que o próprio compositor adotara, havendo um seu manuscrito de uma partitura em que esta aparece.<ref name=hist/> | ||
A letra é marcada por claro antilusitanismo, onde o povo português em certa passagem é tratado com verdadeiro [[racismo]], ao falar "Homens bárbaros, gerados / De sangue Judaico, e Mouro / Desenganai-vos: a Pátria / Já não é vosso tesouro"; a despeito de pregar ainda uma unidade nacional pelo império, e fidelidade à monarquia, os versos de Carvalho e Silva deixam entrever ideais republicanos; deixa ainda entrever a expansão do país, face a independência do [[Uruguai]] em 1828, ao pregar uma unidade nacional "do Amazonas ao Prata", como alusão à [[Província Cisplatina]]:<ref name=hist/> | A letra é marcada por claro antilusitanismo, onde o povo português em certa passagem é tratado com verdadeiro [[racismo]], ao falar "Homens bárbaros, gerados / De sangue Judaico, e Mouro / Desenganai-vos: a Pátria / Já não é vosso tesouro"; a despeito de pregar ainda uma unidade nacional pelo império, e fidelidade à monarquia, os versos de Carvalho e Silva deixam entrever ideais republicanos; deixa ainda entrever a expansão do país, face a independência do [[Uruguai]] em 1828, ao pregar uma unidade nacional "do Amazonas ao Prata", como alusão à [[Província Cisplatina]]:<ref name=hist/>{{Quote|<poem> | ||
<poem> | |||
(estribilho) | (estribilho) | ||
:Da Pátria o grito | :Da Pátria o grito | ||
Linha 42: | Linha 47: | ||
:Um Monarca Brasileiro | :Um Monarca Brasileiro | ||
:Nos prometem venturoso | :Nos prometem venturoso | ||
:Um porvir mais lisonjeiro | :Um porvir mais lisonjeiro | ||
(12ª, última) | (12ª, última) | ||
:Novas gerações sustentem | :Novas gerações sustentem | ||
Linha 48: | Linha 53: | ||
:Seja isto a divisa delas, | :Seja isto a divisa delas, | ||
:Como foi d'Abril ao Dia. | :Como foi d'Abril ao Dia. | ||
</poem> | </poem>}}Uma outra letra, de autoria anônima, foi registrada por ocasião da [[Coroação de Pedro II do Brasil|Coroação de D. Pedro II]], em 1841; Francisco Manuel da Silva também compusera um hino a tal solenidade, o que levou o historiador Sousa Pitanga e consignar erroneamente este ano como de sua composição; outro historiador, Guilherme de Melo, dizia que o hino possuía várias letras, sendo aquela da Coroação a que era mais cantada; nesta ainda se conservava a ideia de unidade até "ao Prata", além de honrar a D. Pedro II.<ref name=hist/> Porém, sabe-se que a composição de Francisco Manuel da Silva foi usada em outras ocasiões, por exemplo, a 13 de setembro de 1843 houve um espetáculo em homenagem ao casamento de D. Pedro II e D. Teresa Cristina que em sua abertura foi executado o Hino cantado com poema escrito por Carlos Augusto Taunay.<ref>{{citar livro|título=História do Hino Nacional Brasileiro|ultimo=Lira|primeiro=Mariza|editora=Biblioteca do Exército|ano=1954|local=Rio de Janeiro|página=319|páginas=}}</ref> | ||
Uma outra letra, de autoria anônima, foi registrada por ocasião da [[Coroação de D. Pedro II]], em 1841; Francisco | |||
A coroação de Pedro II, junto à ascensão dos conservadores ao poder, levou mesmo ao ressurgimento do [[Hino à Independência]], composto por Pedro I para ser o hino oficial da nova nação, bem como de sua figura como "herói" nacional; isto certamente levou ao esquecimento da letra de Carvalho e Silva, bem como a celebração do 7 de abril como data a ser comemorada; esta nova versão se popularizou nas décadas seguintes, através da publicação de partituras para a execução particular - então o principal meio de divulgação musical.<ref name=hist/> A letra alternativa dizia (repetindo o estribilho): | A coroação de Pedro II, junto à ascensão dos conservadores ao poder, levou mesmo ao ressurgimento do [[Hino à Independência]], composto por Pedro I para ser o hino oficial da nova nação, bem como de sua figura como "herói" nacional; isto certamente levou ao esquecimento da letra de Carvalho e Silva, bem como a celebração do 7 de abril como data a ser comemorada; esta nova versão se popularizou nas décadas seguintes, através da publicação de partituras para a execução particular - então o principal meio de divulgação musical.<ref name=hist/> A letra alternativa dizia (repetindo o estribilho):{{Quote|<poem> | ||
<poem> | |||
:Quando vens, faustoso dia, | :Quando vens, faustoso dia, | ||
:Entre nós raiar feliz, | :Entre nós raiar feliz, | ||
Linha 68: | Linha 70: | ||
:É negar como é sublime | :É negar como é sublime | ||
:Da bela aurora, o romper | :Da bela aurora, o romper | ||
</poem> | </poem>}}Com o advento da [[Proclamação da República do Brasil|Proclamação da República]] o mesmo hino monarquista se manteve; uma lenda foi então divulgada até mesmo em livros escolares, onde ao ouvir composições inscritas em concurso o chefe do governo provisório, marechal [[Deodoro da Fonseca]] teria declarado "prefiro o velho"; já em outubro de 1888 fora composto um novo hino, para substituir a [[Marselhesa]] que até então os republicanos entoavam, após concurso proposto por [[Antônio da Silva Jardim|Silva Jardim]] - mas o advento do novo regime não permitiu que a composição do farmacêutico Ernesto de Souza tivesse qualquer divulgação; desta forma a 22 de novembro de 1889 foi aberto um novo concurso oficial para escolha do novo hino brasileiro pelo Ministério do Interior, chefiado por [[Aristides Lobo]], e idealizado por José Rodrigues Barbosa: fizeram parte da comissão além do próprio Rodrigues Barbosa, [[Leopoldo Miguez]], Alfredo Bevilacqua, [[Rodolfo Bernardelli]] e [[Rodolfo Amoedo]].<ref name=hist/> | ||
Com o advento da [[Proclamação da República do Brasil|Proclamação da República]] o mesmo hino monarquista se manteve; uma lenda foi então divulgada até mesmo em livros escolares, onde ao ouvir composições inscritas em concurso o chefe do governo provisório, marechal [[Deodoro da Fonseca]] teria declarado "prefiro o velho"; já em outubro de 1888 fora composto um novo hino, para substituir a [[Marselhesa]] que até então os republicanos entoavam, após concurso proposto por [[Antônio da Silva Jardim|Silva Jardim]] - mas o advento do novo regime não permitiu que a composição do farmacêutico Ernesto de Souza tivesse qualquer divulgação; desta forma a 22 de novembro de 1889 foi aberto um novo concurso oficial para escolha do novo hino brasileiro pelo Ministério do Interior, chefiado por [[Aristides Lobo]], e idealizado por José Rodrigues Barbosa: fizeram parte da comissão além do próprio Rodrigues Barbosa, [[Leopoldo Miguez]], Alfredo Bevilacqua, [[Rodolfo Bernardelli]] e [[Rodolfo Amoedo]].<ref name=hist/> | |||
O concurso de 1889 previa a participação de músicos "eruditos e populares"; temendo a inserção de ritmos africanos em tal certame, o crítico musical [[Oscar Guanabarino]] iniciou uma campanha contrária em 4 de janeiro de 1890, usando dentre outros o pretexto patriótico de que sob o "antigo" hino os militares brasileiros, como o próprio Deodoro, haviam combatido na [[Guerra do Paraguai]]; o então major [[Serzedelo Correia]] levou este apelo ao próprio Ministro da Guerra, [[Benjamin Constant (militar)|Benjamin Constant]], no dia 15 daquele mês, sendo então atendido e o concurso, previsto para ocorrer no dia 20, passou a ser para a escolha do [[Hino da Proclamação da República]], vencido por Leopoldo Miguez: isto foi consagrado no decreto número 171, de 20 de janeiro de 1890.<ref name=hist/> | O concurso de 1889 previa a participação de músicos "eruditos e populares"; temendo a inserção de ritmos africanos em tal certame, o crítico musical [[Oscar Guanabarino]] iniciou uma campanha contrária em 4 de janeiro de 1890, usando dentre outros o pretexto patriótico de que sob o "antigo" hino os militares brasileiros, como o próprio Deodoro, haviam combatido na [[Guerra do Paraguai]]; o então major [[Serzedelo Correia]] levou este apelo ao próprio Ministro da Guerra, [[Benjamin Constant (militar)|Benjamin Constant]], no dia 15 daquele mês, sendo então atendido e o concurso, previsto para ocorrer no dia 20, passou a ser para a escolha do [[Hino da Proclamação da República]], vencido por Leopoldo Miguez: isto foi consagrado no decreto número 171, de 20 de janeiro de 1890.<ref name=hist/> | ||
[[ | [[Imagem:Osório Duque-Estrada (foto oficial em 1902)2.jpg|thumb|direita|100px|[[Osório Duque-Estrada|Joaquim Osório Duque-Estrada]], autor da letra do hino nacional brasileiro.]] | ||
[[ | [[Imagem:Francisco Manuel da Silva.jpg|thumb|esquerda|100px|[[Francisco Manuel da Silva]], autor da música do hino nacional brasileiro.]] | ||
O decreto 171 de 1890 o governo provisório oficializara a música, mas não a letra, e sua execução se dava apenas por instrumentos; mesmo esta execução, entretanto, ainda não possuía uniformidade, levando o compositor [[Alberto Nepomuceno]] a propor ao presidente [[Afonso Pena]] uma reforma do Hino, em 1906.<ref name=hist/> | O decreto 171 de 1890 o governo provisório oficializara a música, mas não a letra, e sua execução se dava apenas por instrumentos; mesmo esta execução, entretanto, ainda não possuía uniformidade, levando o compositor [[Alberto Nepomuceno]] a propor ao presidente [[Afonso Pena]] uma reforma do Hino, em 1906.<ref name=hist/> | ||
Um concurso realizado em 1909 escolheu a letra que deveria acompanhar a composição já aceita como a oficial do Hino; perfeccionista, Duque-Estrada efetuou daquele ano até sua oficialização em 1922, alterações em nove passagens sobre a versão inicial.<ref name=folha1/> A letra ainda assim não fora objeto de consenso, sendo alvo de grandes debates na imprensa e no parlamento, de forma que sua oficialização se deu de forma apressada, a fim de a sua execução pudesse se dar na comemoração do primeiro centenário da Independência, em setembro de 1922.<ref name=hist/> | Um concurso realizado em 1909 escolheu a letra que deveria acompanhar a composição já aceita como a oficial do Hino; perfeccionista, Duque-Estrada efetuou daquele ano até sua oficialização em 1922, alterações em nove passagens sobre a versão inicial.<ref name=folha1/> A letra ainda assim não fora objeto de consenso, sendo alvo de grandes debates na imprensa e no parlamento, de forma que sua oficialização se deu de forma apressada, a fim de a sua execução pudesse se dar na comemoração do primeiro centenário da Independência, em setembro de 1922.<ref name=hist/> | ||
A propriedade plena e definitiva da letra foi adquirida em [[21 de agosto]] de [[1922]] pela União por 5:000$ (cinco contos de [[réis]]) pelo decreto n.º 4.559 expedido pelo então presidente [[Epitácio Pessoa]].<ref>{{citar web|url=http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=31461 |título=DECRETO N. 4.559 |data=21/8/1922 |publicado=Senado do Brasil |autor=Institucional |arquivourl=http://archive.is/GKmt3 |arquivodata=3/9/2013}}</ref> | A propriedade plena e definitiva da letra foi adquirida em [[21 de agosto]] de [[1922]] pela União por 5:000$ (cinco contos de [[réis]]) pelo decreto n.º 4.559 expedido pelo então presidente [[Epitácio Pessoa]].<ref>{{citar web|url=http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=31461 |título=DECRETO N. 4.559 |data=21/8/1922 |publicado=Senado do Brasil |autor=Institucional |arquivourl=http://archive.is/GKmt3 |arquivodata=3/9/2013}}</ref> | ||
Em 1917 o cantor [[Vicente Celestino]] foi quem primeiro gravou o Hino Nacional, tendo por acompanhamento a Banda do Batalhão Naval e, nas passagens de refrão, também por um coro; esta versão, em [[si bemol]], deu um tom de difícil interpretação pelas pessoas; a Banda deu andamento mais lento e solene nas passagens do cantor, enquanto mantinha o estilo tradicional (mais rápido e vibrante) apenas durante os refrões - o que veio a motivar apreciação oficial por uma comissão de reavaliação do Hino em 1936 e, durante algum tempo, insatisfação por parte das bandas militares da época; a despeito disso essa versão foi oficializada em 1922.<ref name=celestino/> | Em 1917 o cantor [[Vicente Celestino]] foi quem primeiro gravou o Hino Nacional, tendo por acompanhamento a Banda do Batalhão Naval e, nas passagens de refrão, também por um coro; esta versão, em [[si bemol]], deu um tom de difícil interpretação pelas pessoas; a Banda deu andamento mais lento e solene nas passagens do cantor, enquanto mantinha o estilo tradicional (mais rápido e vibrante) apenas durante os refrões - o que veio a motivar apreciação oficial por uma comissão de reavaliação do Hino em 1936 e, durante algum tempo, insatisfação por parte das bandas militares da época; a despeito disso essa versão foi oficializada em 1922.<ref name=celestino/> | ||
== Legislação == | == Legislação == | ||
De acordo com o Capítulo V da Lei 5.700 (01/09/1971) | De acordo com o Capítulo V da Lei 5.700 (01/09/1971), a [[Lei dos Símbolos Nacionais do Brasil]], durante a execução do Hino Nacional, todos devem tomar atitude de respeito, de pé e em silêncio. Civis do sexo masculino com a cabeça descoberta e os militares em continência, segundo os regulamentos das respectivas corporações. Além disso, é vedada qualquer outra forma de saudação (gestual ou vocal como, por exemplo, aplausos, gritos de ordem ou manifestações ostensivas do gênero, sendo estas desrespeitosas ou não).<ref name=lei1>[http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5700.htm Lei 5.700]</ref> | ||
Segundo a Seção II da mesma lei, execuções simplesmente instrumentais devem ser tocadas sem repetição e execuções vocais devem sempre apresentar as duas partes do poema cantadas em uníssono. Portanto, em caso de execução instrumental prevista no cerimonial, não se deve acompanhar a execução cantando, deve-se manter, conforme descrito acima, silêncio.<ref name=lei1/> | Segundo a Seção II da mesma lei, execuções simplesmente instrumentais devem ser tocadas sem repetição e execuções vocais devem sempre apresentar as duas partes do poema cantadas em uníssono. Portanto, em caso de execução instrumental prevista no cerimonial, não se deve acompanhar a execução cantando, deve-se manter, conforme descrito acima, silêncio.<ref name=lei1/> O Art. 32 da mesma lei prevê que não é permitida a execução de qualquer arranjo vocal do Hino Nacional Brasileiro se não o de Alberto Nepomuceno.<ref name=lei1/> | ||
Em caso de cerimônia em que se tenha que executar um hino nacional estrangeiro, este deve, por cortesia, preceder o Hino Nacional Brasileiro.<ref name=lei1/> | Em caso de cerimônia em que se tenha que executar um hino nacional estrangeiro, este deve, por cortesia, preceder o Hino Nacional Brasileiro.<ref name=lei1/> | ||
=== Execução semanal em escolas de ensino fundamental=== | |||
=== Execução semanal em escolas de ensino fundamental === | |||
Em 2009 o Congresso Nacional aprovou e foi sancionada a lei 12.031 que incluiu o parágrafo único no artigo 39 da Lei dos Símbolos Nacionais, tornando obrigatória a execução do Hino Nacional, uma vez por semana, nos estabelecimentos públicos e privados de ensino fundamental.<ref>[http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12031.htm LEI Nº 12.031, DE 21 DE SETEMBRO DE 2009. Altera a Lei no 5.700, de 1o de setembro de 1971, para determinar a obrigatoriedade de execução semanal do Hino Nacional nos estabelecimentos de ensino fundamental]. planalto.gov.br. Acesso em 26 de fevereiro de 2019</ref> | Em 2009 o Congresso Nacional aprovou e foi sancionada a lei 12.031 que incluiu o parágrafo único no artigo 39 da Lei dos Símbolos Nacionais, tornando obrigatória a execução do Hino Nacional, uma vez por semana, nos estabelecimentos públicos e privados de ensino fundamental.<ref>[http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12031.htm LEI Nº 12.031, DE 21 DE SETEMBRO DE 2009. Altera a Lei no 5.700, de 1o de setembro de 1971, para determinar a obrigatoriedade de execução semanal do Hino Nacional nos estabelecimentos de ensino fundamental]. planalto.gov.br. Acesso em 26 de fevereiro de 2019</ref> | ||
== Letra em vigor == | == Letra em vigor == | ||
A letra atualmente em vigor do Hino Nacional Brasileiro é a que se segue: | A letra atualmente em vigor do Hino Nacional Brasileiro é a que se segue:[[Imagem:Teodoro Braga (1922) Hino Nacional do Brasil.JPG|miniaturadaimagem|Vitrine em uma [[Biblioteca Municipal|biblioteca municipal]] expondo um trabalho, em [[art nouveau]], do ilustrador [[Teodoro Braga]], sobre o Hino Nacional.]]{{Escute | ||
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|título=Hino Nacional Brasileiro - em íntegra. | |título=Hino Nacional Brasileiro - em íntegra. | ||
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{|class="toccolours" cellpadding="10" rules="cols" | {| class="toccolours" cellpadding="10" rules="cols" | ||
!colspan="2" align="center"|HINO NACIONAL BRASILEIRO | ! colspan="2" align="center" |HINO NACIONAL BRASILEIRO | ||
|- | |- | ||
!bgcolor="coral" align="center"|Primeira parte||bgcolor="coral" align="center"|Segunda parte | ! bgcolor="coral" align="center" |Primeira parte|| bgcolor="coral" align="center" |Segunda parte | ||
|- | |- | ||
| | | | ||
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas | Ouviram do Ipiranga as margens plácidas | ||
De um povo heroico o brado retumbante, | |||
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos, | De um povo heroico o brado retumbante, | ||
Brilhou no céu da Pátria nesse instante. | |||
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos, | |||
Se o penhor dessa igualdade | |||
Conseguimos conquistar com braço forte, | Brilhou no céu da Pátria nesse instante. | ||
Em teu seio, ó Liberdade, | |||
Desafia o nosso peito a própria morte! | Se o penhor dessa igualdade | ||
Ó Pátria amada, | Conseguimos conquistar com braço forte, | ||
Idolatrada, | |||
Salve! Salve! | Em teu seio, ó Liberdade, | ||
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido, | Desafia o nosso peito a própria morte! | ||
De amor e de esperança à terra desce, | |||
Se em teu formoso céu, risonho e límpido, | Ó Pátria amada, | ||
A imagem do Cruzeiro resplandece. | |||
Idolatrada, | |||
Gigante pela própria natureza, | |||
És belo, és forte, impávido colosso, | Salve! Salve! | ||
E o teu futuro espelha essa grandeza. | |||
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido, | |||
Terra adorada | |||
Entre outras mil | De amor e de esperança à terra desce, | ||
És tu, Brasil, | |||
Ó Pátria amada! | Se em teu formoso céu, risonho e límpido, | ||
Dos filhos deste solo | A imagem do Cruzeiro resplandece. | ||
És mãe gentil, | |||
Pátria amada, | Gigante pela própria natureza, | ||
Brasil! | |||
És belo, és forte, impávido colosso, | |||
E o teu futuro espelha essa grandeza. | |||
Terra adorada | |||
Entre outras mil | |||
És tu, Brasil, | |||
Ó Pátria amada! | |||
Dos filhos deste solo | |||
És mãe gentil, | |||
Pátria amada, | |||
Brasil! | |||
| | | | ||
Deitado eternamente em berço esplêndido, | Deitado eternamente em berço esplêndido, | ||
Ao som do mar e à luz do céu profundo, | |||
Fulguras, ó Brasil, florão da América, | Ao som do mar e à luz do céu profundo, | ||
Iluminado ao sol do Novo Mundo! | |||
Fulguras, ó Brasil, florão da América, | |||
Do que a terra mais garrida | |||
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores, | Iluminado ao sol do Novo Mundo! | ||
"Nossos bosques têm mais vida", | |||
"Nossa vida" no teu seio "mais amores". '''(*)''' | Do que a terra mais garrida | ||
Ó Pátria amada, | Teus risonhos, lindos campos têm mais flores, | ||
Idolatrada, | |||
Salve! Salve! | "Nossos bosques têm mais vida", | ||
Brasil, de amor eterno seja símbolo | "Nossa vida" no teu seio "mais amores". '''(*)''' | ||
O lábaro que ostentas estrelado, | |||
E diga o verde-louro dessa flâmula | Ó Pátria amada, | ||
- Paz no futuro e glória no passado. | |||
Idolatrada, | |||
Mas se ergues da justiça a clava forte, | |||
Verás que um filho teu não foge à luta, | Salve! Salve! | ||
Nem teme, quem te adora, a própria morte. | |||
Brasil, de amor eterno seja símbolo | |||
Terra adorada | |||
Entre outras mil | O lábaro que ostentas estrelado, | ||
És tu, Brasil, | |||
Ó Pátria amada! | E diga o verde-louro dessa flâmula | ||
Dos filhos deste solo | - Paz no futuro e glória no passado. | ||
És mãe gentil, | |||
Pátria amada, | Mas se ergues da justiça a clava forte, | ||
Brasil! | |||
Verás que um filho teu não foge à luta, | |||
Nem teme, quem te adora, a própria morte. | |||
Terra adorada | |||
Entre outras mil | |||
És tu, Brasil, | |||
Ó Pátria amada! | |||
Dos filhos deste solo | |||
És mãe gentil, | |||
Pátria amada, | |||
Brasil! | |||
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<small>'''*''' - Trechos entre aspas (") retirados do poema "''[[Canção do Exílio]]''", de [[Gonçalves Dias]]. | <small>'''*''' - Trechos entre aspas (") retirados do poema "''[[Canção do Exílio]]''", de [[Gonçalves Dias]]. | ||
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== Significados == | == Significados == | ||
[[ | [[Imagem:José Correia de Lima - Maestro Francisco Manuel ditando o Hino Nacional.jpg|miniaturadaimagem|Maestro Francisco Manuel ditando o Hino Nacional ([[Museu Nacional de Belas Artes (Brasil)|Museu Nacional de Belas Artes]]).]] | ||
Eis o significado dos termos usados na letra do Hino: | Eis o significado dos termos usados na letra do Hino: | ||
* ''Margens plácidas'' - "Plácida" significa serena, calma. | *''Margens plácidas'' - "Plácida" significa serena, calma; margens tranquilas. | ||
* ''[[Riacho do Ipiranga|Ipiranga]]'' - É o riacho junto ao qual D. Pedro I proclamou a | *''[[Riacho do Ipiranga|Ipiranga]]'' - É o [[Curso de água|riacho]] junto ao qual [[Pedro I do Brasil|D. Pedro I]] proclamou a [[Independência do Brasil|Independência]]; | ||
* ''Brado retumbante'' - Grito forte que provoca eco | *''Brado retumbante'' - Grito forte que provoca [[eco]]; | ||
* ''Penhor'' - | *''[[Penhor]]'' - Nessa acepção é usado de maneira metafórica (figurada): "penhor desta igualdade" é a garantia, a segurança de que haverá liberdade; | ||
* ''Imagem do [[Crux|Cruzeiro]] resplandece'' - O "Cruzeiro" é a constelação do [[Crux|Cruzeiro do Sul]] que resplandece (brilha) no céu | *''Imagem do [[Crux|Cruzeiro]] resplandece'' - O "Cruzeiro" é a [[constelação]] do [[Crux|Cruzeiro do Sul]] que resplandece (brilha) no [[céu]]; | ||
* ''Impávido colosso'' - "Colosso" é o nome de uma estátua de enormes dimensões. Estar "impávido" é estar tranquilo, calmo | *''Impávido colosso'' - "Colosso" é o nome de uma estátua de enormes dimensões, como o [[Colosso de Rodes]]. Estar "impávido" é estar tranquilo, calmo; | ||
* ''Mãe gentil'' - A "mãe gentil" é a [[pátria]]. Um país que ama e defende os "filhos" (os brasileiros) como qualquer mãe | *''Mãe gentil'' - A "mãe gentil" é a [[pátria]]. Um país que ama e defende os "filhos" (os brasileiros) como qualquer [[mãe]]; | ||
* ''Fulguras'' - do verbo fulgurar (reluzir, brilhar) | *''Fulguras'' - do verbo fulgurar (reluzir, brilhar); | ||
* ''Florão'' - "Florão" | *''Florão'' - O "[[Florão]]" tanto pode ser o [[Florão (arquitetura)|florão da arquitetura]], um ornato em forma de flor usado nas [[abóbada]]s de construções grandiosas, quanto o [[Florão (heráldica)| florão da heráldica]], o ornato das coroas reais. Nessa acepção, figurada, o Brasil seria o ponto mais importante e vistoso da [[América]]; | ||
* ''Garrida'' - | *''Garrida'' - de [[Garrido]], elegante. Que chama a atenção pela beleza; | ||
* ''Lábaro'' - Sinônimo de bandeira. "Lábaro" era um antigo estandarte usado pelos [[roma]]nos | *''Lábaro'' - Sinônimo de bandeira. "[[Lábaro]]" era um antigo estandarte usado pelos [[roma]]nos; | ||
* ''Clava forte'' - Clava é um grande porrete, usado no combate corpo-a-corpo. No verso, significa mobilizar um exército, entrar em guerra. | *''Clava forte'' - [[Clava]] é um grande porrete, usado no combate corpo-a-corpo. No verso, significa mobilizar um exército, entrar em guerra. | ||
== Da introdução do Hino == | |||
Recentemente tornou-se não pouco divulgado em sítios da internet o curioso fato de que o Hino Nacional Brasileiro possuía oficialmente uma letra em sua introdução orquestrada que supostamente era conhecida e entoada, de composição atribuída a [[Américo de Moura Marcondes de Andrade|Américo Moura]]. Este poema originalmente é mais extenso do que se tem notícia, e pode demonstrar não ter sido adaptado apenas para a introdução.<ref name=":1">{{citar livro|título=História do Hino Nacional Brasileiro|ultimo=Lira|primeiro=Mariza|editora=Biblioteca do Exército|ano=1954|local=Rio de Janeiro|página=328, 329|páginas=}}</ref> Há um registro deste poema em adaptação ao Hino no fascículo 3 do ano XII, na Revista do [http://ccla.org.br Centro de Ciências Letras e Artes de Campinas] (1913), nas páginas 46-47 conforme reza:<blockquote>''“Espera o Brasil que todos cumprais o vosso dever!'' | |||
''Eia! Avante, Brasileiros! Sempre avante.'' | |||
''Gravai a buril nos pátrios anais o vosso poder!'' | |||
''Eia! Avante, Brasileiros! Sempre avante.'' | |||
''Servir o Brasil sem esmorecer,'' | |||
''Com ânimo audaz!'' | |||
''Cumpri o dever na guerra e na paz!'' | |||
''À sombra da lei,'' | |||
''À brisa gentil,'' | |||
''O lábaro erguer,'' | |||
''do belo Brasil!'' | |||
''Eia! Sus! Oh, sus!'' | |||
''Se alguma página da nossa história'' | |||
''Tiver do obscurecimento o cunho impressor'' | |||
''Que há que, a revivê-la, em luta inglória,'' | |||
''Se oponha as exigências do progresso!'' | |||
''Ó pátria!'' | |||
''Hás de Brilhar!'' | |||
''Do bem hás de conter a excelsa côrte!'' | |||
''Teus filhos'' | |||
''Hás de almejar'' | |||
''As normas da justiça,'' | |||
''E a paz de expor-te!'' | |||
''Pátria querida,'' | |||
''Estremecida!'' | |||
''Hás de, Brasil,'' | |||
''Sempre Brilhar.”''<ref name=":1" /></blockquote>O fato é que até antes de 6 de setembro de 1922, data em que o poema de [[Osório Duque-Estrada|Joaquim Osório Duque Estrada]] foi oficializado,<ref name=":2">{{citar livro|título=História do Hino Nacional Brasileiro|ultimo=Lira|primeiro=Mariza|editora=Biblioteca do Exército|ano=1954|local=Rio de Janeiro|página=|páginas=157, 209, 210, 323, 324}}</ref> o Hino de [[Francisco Manuel da Silva]] permanecia sem um poema oficial, era entoado com as mais diferentes adaptações de uma localidade para outra, e não raro refletia um regionalismo contrário ao ideal de federalismo e unidade nacional.<ref name=":2" /> Há relatos que não era incomum professores das escolas normais também produzirem suas próprias adaptações ao já bem conhecido Hino com a finalidade de ser possível que seus alunos pudessem de alguma forma entoá-lo, esta pode ser a razão de eventual testemunho sobre variações desde uma introdução cantada, até a totalidade da letra do Hino.<ref name=":2" /> | |||
== Primeiras gravações == | |||
A primeira gravação do hino nacional foi feita em 4 de março de 1901, executada pela Municipal Military Band, de Londres, e lançada sob o disco Berliner 145.<ref>{{citar web |ultimo=Krieger |primeiro=Fernando |url=https://discografiabrasileira.com.br/posts/244363/raridades-da-colecao-tinhorao-ha-120-anos-a-primeira-gravacao-de-musica-brasileira-em-disco |titulo=Raridades da Coleção Tinhorão: há 120 anos, a primeira gravação de música brasileira em disco |website=Discografia Brasileira |arquivourl=https://web.archive.org/web/20210910200133/https://discografiabrasileira.com.br/posts/244363/raridades-da-colecao-tinhorao-ha-120-anos-a-primeira-gravacao-de-musica-brasileira-em-disco |arquivodata=10/09/2021}}</ref> | |||
=== Gravações [[Zonophone|Zon-o-phone]] === | |||
A primeira gravação brasileira do hino nacional foi feita em 1902. Instrumental, foi interpretada pela [[Banda da Casa Edison]] e lançada sob o disco [[Zonophone|Zon-o-phone]] 10187.<ref>{{citar web |url=https://discografiabrasileira.com.br/disco/421/zon-o-phone-10187 |titulo=Disco no sítio Discografia Brasileira |acessodata=13/09/2021 |website=Discografia Brasileira |arquivourl=https://web.archive.org/web/20210913204550/https://discografiabrasileira.com.br/disco/421/zon-o-phone-10187 |arquivodata=13/09/2021}}</ref> No ano seguinte, foi feita outra gravação, também pela Banda da Casa Edison, e lançada no disco Zon-o-phone X-1051.<ref>{{citar web |url=https://discografiabrasileira.com.br/disco/635/zon-o-phone-x-1051 |titulo=Zon-o-phone X-1051 |website=Discografia Brasileira |arquivourl=https://web.archive.org/web/20210913205535/https://discografiabrasileira.com.br/disco/635/zon-o-phone-x-1051 |arquivodata=13/09/2021}}</ref> | |||
=== Menções honrosas === | |||
Uma gravação bem rara - e importante - é a gravação da Casa a Elétrica, disco Gaúcho R 1214 / 1239. | |||
== ''Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro'' == | == ''Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro'' == | ||
''Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro'' foi composta por [[Louis Moreau Gottschalk]] e sua estreia se deu em concerto em 1869, tendo sido executada por 650 músicos, no Rio de Janeiro. Dedicada a ''Son Altesse Impériale Madame la Comtesse d'Eu'', [[Isabel do Brasil|D. Isabel]], a obra se trata de variações, especialmente em piano, da música de Francisco Manuel da Silva. Foi muito executada por [[Guiomar Novais]] e por [[Eudóxia de Barros]]. Mais recentemente, tornou-se popular por ter sido tocada pela [[Rede Globo]] durante o funeral de [[Tancredo Neves]] e por ser usada em propagandas eleitorais do [[Partido Democrático Trabalhista|Partido Democrático Trabalhista (PDT)]]. Em 1973, a Comissão Nacional de Moral e Civismo abriu processo para verificar se a obra deveria ser banida do território nacional, por supostamente tratar-se de arranjo musical do hino nacional, algo proibido pela lei 5.700, de 1971. Após alguns anos, o processo foi encerrado, prevalecendo o parecer de pessoas como o músico Alfredo Melo, que explicou a diferença entre [[Arranjo (música)|arranjo]] e [[Variação (música)|variação]]. | ''Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro'' foi composta por [[Louis Moreau Gottschalk]] e sua estreia se deu em concerto em 1869, tendo sido executada por 650 músicos, no Rio de Janeiro. Dedicada a ''Son Altesse Impériale Madame la Comtesse d'Eu'', [[Isabel do Brasil|D. Isabel]], a obra se trata de variações, especialmente em piano, da música de Francisco Manuel da Silva. Foi muito executada por [[Guiomar Novais]] e por [[Eudóxia de Barros]]. Mais recentemente, tornou-se popular por ter sido tocada pela [[Rede Globo]] durante o funeral de [[Tancredo Neves]] e por ser usada em propagandas eleitorais do [[Partido Democrático Trabalhista|Partido Democrático Trabalhista (PDT)]]. Em 1973, a Comissão Nacional de Moral e Civismo abriu processo para verificar se a obra deveria ser banida do território nacional, por supostamente tratar-se de arranjo musical do hino nacional, algo proibido pela lei 5.700, de 1971. Após alguns anos, o processo foi encerrado, prevalecendo o parecer de pessoas como o músico Alfredo Melo, que explicou a diferença entre [[Arranjo (música)|arranjo]] e [[Variação (música)|variação]]. | ||
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* [http://www.hinonacionalbrasileiro.net Hino Nacional Brasileiro] Hino Nacional Brasileiro. | * [http://www.hinonacionalbrasileiro.net Hino Nacional Brasileiro]Hino Nacional Brasileiro. | ||
* [http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2213 Hino Nacional do Brasil] Arquivo em mp3. | * [http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2213 Hino Nacional do Brasil]Arquivo em mp3. | ||
* [https://web.archive.org/web/20070928034028/http://www.ca.ufsc.br/ela/outros/brasil.wav Hino Nacional Brasileiro] Arquivo *.wav. | * [https://web.archive.org/web/20070928034028/http://www.ca.ufsc.br/ela/outros/brasil.wav Hino Nacional Brasileiro]Arquivo *.wav. | ||
* [http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5700.htm Lei nº 5 | * [http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5700.htm Lei nº 5 700, de 1º de setembro de 1971]Lei que trata dos Símbolos Nacionais, entre eles o Hino Nacional. | ||
* [https://web.archive.org/web/20180324102715/http://patriotismo.org.br/ OSC Patriotismo] Veja detalhes sobre os Símbolos Nacionais | * [https://web.archive.org/web/20180324102715/http://patriotismo.org.br/ OSC Patriotismo]Veja detalhes sobre os Símbolos Nacionais | ||
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Edição atual tal como às 15h34min de 27 de junho de 2022
Predefinição:Info/Hino O Hino Nacional Brasileiro é um dos quatro símbolos oficiais da República Federativa do Brasil, conforme estabelece o art. 13, § 1.º, da Constituição do Brasil. Os outros símbolos da República são a Bandeira Nacional, as Armas Nacionais e o Selo Nacional. Tem letra de Joaquim Osório Duque-Estrada (1870–1927) e música de Francisco Manuel da Silva (1795–1865).[1]
A letra e o ritmo sofreram algumas alterações ao longo de sua história, e teve sua primeira gravação em disco efetuada em 1917.[2]
Antecedentes ao Hino Pátrio
Certamente que não há notícia de algum hino patriótico narrado pelos principais historiadores no período colonial. Nem mesmo Portugal possuía um hino patriótico até a vinda da Família Real ao Brasil, pois o que havia era o “Hino ao Rei” sempre substituído por ocasião do falecimento do monarca.[3] Porém, após a vitória lusitana sobre os franceses, um hino passou a ser entoado em Portugal composto pelo maestro Marcos Antônio da Fonseca Portugal, que trouxe ao Brasil onde pode ter figurado como uma espécie de hino nacional.[3]
Quando se declarou o regime constitucional em Portugal, D. Pedro I do Brasil fez composição de letra e música do Hino Imperial Constitucional, que foi executado e entoado no Brasil a 5 de Junho de 1821,[3] e mais tarde foi conhecido como Hino da Carta. Contudo, foi executado em Portugal e no Brasil sem qualquer decreto que o oficializasse.[3]
Histórico
A composição de Francisco Manuel da Silva foi feita quando da Abdicação de Pedro I do Brasil, a 7 de abril de 1831, tendo sua primeira execução no dia 14 daquele mês, no Teatro São Pedro do Rio de Janeiro; a 3 de maio daquele ano, com a instalação das Câmaras Legislativas, voltou a ser executado junto à apresentação de um drama intitulado "O dia de júbilo para os amantes da liberdade" ou "A queda do tirano".[5]
Em razão da dedicatória mesma que o compositor fizera, onde dizia: "Ao Grande e Heroico Dia 7 de Abril de 1831, Hino Oferecido aos Brasileiros por um seu patrício nato", era conhecido como "Hino ao 7 de Abril" e com este fim foi registrada sua execução nesta data também nos anos de 1832 e 1833.[5] Neste último ano uma letra, escrita pelo desembargador Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva, fora publicada no jornal "Sete de Abril", sendo esta aquela que o próprio compositor adotara, havendo um seu manuscrito de uma partitura em que esta aparece.[5]
A letra é marcada por claro antilusitanismo, onde o povo português em certa passagem é tratado com verdadeiro racismo, ao falar "Homens bárbaros, gerados / De sangue Judaico, e Mouro / Desenganai-vos: a Pátria / Já não é vosso tesouro"; a despeito de pregar ainda uma unidade nacional pelo império, e fidelidade à monarquia, os versos de Carvalho e Silva deixam entrever ideais republicanos; deixa ainda entrever a expansão do país, face a independência do Uruguai em 1828, ao pregar uma unidade nacional "do Amazonas ao Prata", como alusão à Província Cisplatina:[5]Página Predefinição:Quote/styles.css não tem conteúdo.
(estribilho)
Da Pátria o grito
Eis se desata;
Desde o Amazonas,
Até ao Prata.
(7ª estrofe)
Homens bárbaros, gerados
De sangue Judaico e Mouro
Desenganai-vos: a Pátria
Já não é vosso tesouro.
(10ª estrofe)
Uma prudente regência,
Um Monarca Brasileiro
Nos prometem venturoso
Um porvir mais lisonjeiro
(12ª, última)
Novas gerações sustentem
No Povo a Soberania
Seja isto a divisa delas,
Como foi d'Abril ao Dia.
Uma outra letra, de autoria anônima, foi registrada por ocasião da Coroação de D. Pedro II, em 1841; Francisco Manuel da Silva também compusera um hino a tal solenidade, o que levou o historiador Sousa Pitanga e consignar erroneamente este ano como de sua composição; outro historiador, Guilherme de Melo, dizia que o hino possuía várias letras, sendo aquela da Coroação a que era mais cantada; nesta ainda se conservava a ideia de unidade até "ao Prata", além de honrar a D. Pedro II.[5] Porém, sabe-se que a composição de Francisco Manuel da Silva foi usada em outras ocasiões, por exemplo, a 13 de setembro de 1843 houve um espetáculo em homenagem ao casamento de D. Pedro II e D. Teresa Cristina que em sua abertura foi executado o Hino cantado com poema escrito por Carlos Augusto Taunay.[6]
A coroação de Pedro II, junto à ascensão dos conservadores ao poder, levou mesmo ao ressurgimento do Hino à Independência, composto por Pedro I para ser o hino oficial da nova nação, bem como de sua figura como "herói" nacional; isto certamente levou ao esquecimento da letra de Carvalho e Silva, bem como a celebração do 7 de abril como data a ser comemorada; esta nova versão se popularizou nas décadas seguintes, através da publicação de partituras para a execução particular - então o principal meio de divulgação musical.[5] A letra alternativa dizia (repetindo o estribilho):Página Predefinição:Quote/styles.css não tem conteúdo.
Quando vens, faustoso dia,
Entre nós raiar feliz,
Vemos em Pedro Segundo
A ventura do Brasil
Da Pátria o grito
Eis que se desata
Desde o Amazonas
Até o Prata
Negar de Pedro as virtudes
Seu talento escurecer
É negar como é sublime
Da bela aurora, o romper
Com o advento da Proclamação da República o mesmo hino monarquista se manteve; uma lenda foi então divulgada até mesmo em livros escolares, onde ao ouvir composições inscritas em concurso o chefe do governo provisório, marechal Deodoro da Fonseca teria declarado "prefiro o velho"; já em outubro de 1888 fora composto um novo hino, para substituir a Marselhesa que até então os republicanos entoavam, após concurso proposto por Silva Jardim - mas o advento do novo regime não permitiu que a composição do farmacêutico Ernesto de Souza tivesse qualquer divulgação; desta forma a 22 de novembro de 1889 foi aberto um novo concurso oficial para escolha do novo hino brasileiro pelo Ministério do Interior, chefiado por Aristides Lobo, e idealizado por José Rodrigues Barbosa: fizeram parte da comissão além do próprio Rodrigues Barbosa, Leopoldo Miguez, Alfredo Bevilacqua, Rodolfo Bernardelli e Rodolfo Amoedo.[5]
O concurso de 1889 previa a participação de músicos "eruditos e populares"; temendo a inserção de ritmos africanos em tal certame, o crítico musical Oscar Guanabarino iniciou uma campanha contrária em 4 de janeiro de 1890, usando dentre outros o pretexto patriótico de que sob o "antigo" hino os militares brasileiros, como o próprio Deodoro, haviam combatido na Guerra do Paraguai; o então major Serzedelo Correia levou este apelo ao próprio Ministro da Guerra, Benjamin Constant, no dia 15 daquele mês, sendo então atendido e o concurso, previsto para ocorrer no dia 20, passou a ser para a escolha do Hino da Proclamação da República, vencido por Leopoldo Miguez: isto foi consagrado no decreto número 171, de 20 de janeiro de 1890.[5]
O decreto 171 de 1890 o governo provisório oficializara a música, mas não a letra, e sua execução se dava apenas por instrumentos; mesmo esta execução, entretanto, ainda não possuía uniformidade, levando o compositor Alberto Nepomuceno a propor ao presidente Afonso Pena uma reforma do Hino, em 1906.[5]
Um concurso realizado em 1909 escolheu a letra que deveria acompanhar a composição já aceita como a oficial do Hino; perfeccionista, Duque-Estrada efetuou daquele ano até sua oficialização em 1922, alterações em nove passagens sobre a versão inicial.[1] A letra ainda assim não fora objeto de consenso, sendo alvo de grandes debates na imprensa e no parlamento, de forma que sua oficialização se deu de forma apressada, a fim de a sua execução pudesse se dar na comemoração do primeiro centenário da Independência, em setembro de 1922.[5]
A propriedade plena e definitiva da letra foi adquirida em 21 de agosto de 1922 pela União por 5:000$ (cinco contos de réis) pelo decreto n.º 4.559 expedido pelo então presidente Epitácio Pessoa.[7]
Em 1917 o cantor Vicente Celestino foi quem primeiro gravou o Hino Nacional, tendo por acompanhamento a Banda do Batalhão Naval e, nas passagens de refrão, também por um coro; esta versão, em si bemol, deu um tom de difícil interpretação pelas pessoas; a Banda deu andamento mais lento e solene nas passagens do cantor, enquanto mantinha o estilo tradicional (mais rápido e vibrante) apenas durante os refrões - o que veio a motivar apreciação oficial por uma comissão de reavaliação do Hino em 1936 e, durante algum tempo, insatisfação por parte das bandas militares da época; a despeito disso essa versão foi oficializada em 1922.[2]
Legislação
De acordo com o Capítulo V da Lei 5.700 (01/09/1971), a Lei dos Símbolos Nacionais do Brasil, durante a execução do Hino Nacional, todos devem tomar atitude de respeito, de pé e em silêncio. Civis do sexo masculino com a cabeça descoberta e os militares em continência, segundo os regulamentos das respectivas corporações. Além disso, é vedada qualquer outra forma de saudação (gestual ou vocal como, por exemplo, aplausos, gritos de ordem ou manifestações ostensivas do gênero, sendo estas desrespeitosas ou não).[8]
Segundo a Seção II da mesma lei, execuções simplesmente instrumentais devem ser tocadas sem repetição e execuções vocais devem sempre apresentar as duas partes do poema cantadas em uníssono. Portanto, em caso de execução instrumental prevista no cerimonial, não se deve acompanhar a execução cantando, deve-se manter, conforme descrito acima, silêncio.[8] O Art. 32 da mesma lei prevê que não é permitida a execução de qualquer arranjo vocal do Hino Nacional Brasileiro se não o de Alberto Nepomuceno.[8]
Em caso de cerimônia em que se tenha que executar um hino nacional estrangeiro, este deve, por cortesia, preceder o Hino Nacional Brasileiro.[8]
Execução semanal em escolas de ensino fundamental
Em 2009 o Congresso Nacional aprovou e foi sancionada a lei 12.031 que incluiu o parágrafo único no artigo 39 da Lei dos Símbolos Nacionais, tornando obrigatória a execução do Hino Nacional, uma vez por semana, nos estabelecimentos públicos e privados de ensino fundamental.[9]
Letra em vigor
A letra atualmente em vigor do Hino Nacional Brasileiro é a que se segue:
HINO NACIONAL BRASILEIRO | |
---|---|
Primeira parte | Segunda parte |
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas De um povo heroico o brado retumbante, E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos, Brilhou no céu da Pátria nesse instante. Se o penhor dessa igualdade Conseguimos conquistar com braço forte, Em teu seio, ó Liberdade, Desafia o nosso peito a própria morte! Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, um sonho intenso, um raio vívido, De amor e de esperança à terra desce, Se em teu formoso céu, risonho e límpido, A imagem do Cruzeiro resplandece. Gigante pela própria natureza, És belo, és forte, impávido colosso, E o teu futuro espelha essa grandeza. Terra adorada Entre outras mil És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo És mãe gentil, Pátria amada, Brasil! |
Deitado eternamente em berço esplêndido, Ao som do mar e à luz do céu profundo, Fulguras, ó Brasil, florão da América, Iluminado ao sol do Novo Mundo! Do que a terra mais garrida Teus risonhos, lindos campos têm mais flores, "Nossos bosques têm mais vida", "Nossa vida" no teu seio "mais amores". (*) Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, de amor eterno seja símbolo O lábaro que ostentas estrelado, E diga o verde-louro dessa flâmula - Paz no futuro e glória no passado. Mas se ergues da justiça a clava forte, Verás que um filho teu não foge à luta, Nem teme, quem te adora, a própria morte. Terra adorada Entre outras mil És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo És mãe gentil, Pátria amada, Brasil! |
* - Trechos entre aspas (") retirados do poema "Canção do Exílio", de Gonçalves Dias.
Significados
Eis o significado dos termos usados na letra do Hino:
- Margens plácidas - "Plácida" significa serena, calma; margens tranquilas.
- Ipiranga - É o riacho junto ao qual D. Pedro I proclamou a Independência;
- Brado retumbante - Grito forte que provoca eco;
- Penhor - Nessa acepção é usado de maneira metafórica (figurada): "penhor desta igualdade" é a garantia, a segurança de que haverá liberdade;
- Imagem do Cruzeiro resplandece - O "Cruzeiro" é a constelação do Cruzeiro do Sul que resplandece (brilha) no céu;
- Impávido colosso - "Colosso" é o nome de uma estátua de enormes dimensões, como o Colosso de Rodes. Estar "impávido" é estar tranquilo, calmo;
- Mãe gentil - A "mãe gentil" é a pátria. Um país que ama e defende os "filhos" (os brasileiros) como qualquer mãe;
- Fulguras - do verbo fulgurar (reluzir, brilhar);
- Florão - O "Florão" tanto pode ser o florão da arquitetura, um ornato em forma de flor usado nas abóbadas de construções grandiosas, quanto o florão da heráldica, o ornato das coroas reais. Nessa acepção, figurada, o Brasil seria o ponto mais importante e vistoso da América;
- Garrida - de Garrido, elegante. Que chama a atenção pela beleza;
- Lábaro - Sinônimo de bandeira. "Lábaro" era um antigo estandarte usado pelos romanos;
- Clava forte - Clava é um grande porrete, usado no combate corpo-a-corpo. No verso, significa mobilizar um exército, entrar em guerra.
Da introdução do Hino
Recentemente tornou-se não pouco divulgado em sítios da internet o curioso fato de que o Hino Nacional Brasileiro possuía oficialmente uma letra em sua introdução orquestrada que supostamente era conhecida e entoada, de composição atribuída a Américo Moura. Este poema originalmente é mais extenso do que se tem notícia, e pode demonstrar não ter sido adaptado apenas para a introdução.[10] Há um registro deste poema em adaptação ao Hino no fascículo 3 do ano XII, na Revista do Centro de Ciências Letras e Artes de Campinas (1913), nas páginas 46-47 conforme reza:
“Espera o Brasil que todos cumprais o vosso dever!
Eia! Avante, Brasileiros! Sempre avante.
Gravai a buril nos pátrios anais o vosso poder!
Eia! Avante, Brasileiros! Sempre avante.
Servir o Brasil sem esmorecer,
Com ânimo audaz!
Cumpri o dever na guerra e na paz!
À sombra da lei,
À brisa gentil,
O lábaro erguer,
do belo Brasil!
Eia! Sus! Oh, sus!
Se alguma página da nossa história
Tiver do obscurecimento o cunho impressor
Que há que, a revivê-la, em luta inglória,
Se oponha as exigências do progresso!
Ó pátria!
Hás de Brilhar!
Do bem hás de conter a excelsa côrte!
Teus filhos
Hás de almejar
As normas da justiça,
E a paz de expor-te!
Pátria querida,
Estremecida!
Hás de, Brasil,
Sempre Brilhar.”[10]
O fato é que até antes de 6 de setembro de 1922, data em que o poema de Joaquim Osório Duque Estrada foi oficializado,[11] o Hino de Francisco Manuel da Silva permanecia sem um poema oficial, era entoado com as mais diferentes adaptações de uma localidade para outra, e não raro refletia um regionalismo contrário ao ideal de federalismo e unidade nacional.[11] Há relatos que não era incomum professores das escolas normais também produzirem suas próprias adaptações ao já bem conhecido Hino com a finalidade de ser possível que seus alunos pudessem de alguma forma entoá-lo, esta pode ser a razão de eventual testemunho sobre variações desde uma introdução cantada, até a totalidade da letra do Hino.[11]
Primeiras gravações
A primeira gravação do hino nacional foi feita em 4 de março de 1901, executada pela Municipal Military Band, de Londres, e lançada sob o disco Berliner 145.[12]
Gravações Zon-o-phone
A primeira gravação brasileira do hino nacional foi feita em 1902. Instrumental, foi interpretada pela Banda da Casa Edison e lançada sob o disco Zon-o-phone 10187.[13] No ano seguinte, foi feita outra gravação, também pela Banda da Casa Edison, e lançada no disco Zon-o-phone X-1051.[14]
Menções honrosas
Uma gravação bem rara - e importante - é a gravação da Casa a Elétrica, disco Gaúcho R 1214 / 1239.
Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro
Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro foi composta por Louis Moreau Gottschalk e sua estreia se deu em concerto em 1869, tendo sido executada por 650 músicos, no Rio de Janeiro. Dedicada a Son Altesse Impériale Madame la Comtesse d'Eu, D. Isabel, a obra se trata de variações, especialmente em piano, da música de Francisco Manuel da Silva. Foi muito executada por Guiomar Novais e por Eudóxia de Barros. Mais recentemente, tornou-se popular por ter sido tocada pela Rede Globo durante o funeral de Tancredo Neves e por ser usada em propagandas eleitorais do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Em 1973, a Comissão Nacional de Moral e Civismo abriu processo para verificar se a obra deveria ser banida do território nacional, por supostamente tratar-se de arranjo musical do hino nacional, algo proibido pela lei 5.700, de 1971. Após alguns anos, o processo foi encerrado, prevalecendo o parecer de pessoas como o músico Alfredo Melo, que explicou a diferença entre arranjo e variação.
Ver também
- Cruzeiro do Sul
- Ipiranga
- Hino à Bandeira
- Hino da Independência
- Hino da Proclamação da República
- Símbolos do Brasil
- Lei dos Símbolos Nacionais do Brasil
Referências
- ↑ 1,0 1,1 Luísa Alcântara e Silva (22 de dezembro de 2008). «Foco: No centenário do hino nacional, mostra resgata história do autor da letra». Folha de S.Paulo. Consultado em 6 de novembro de 2017. Cópia arquivada em 18 de agosto de 2018
- ↑ 2,0 2,1 Rafael Rosa Hagemeyer (2011). «Levando ao longe o canto da pátria» (PDF). Fênix – Revista de História e Estudos Culturais, Vol. 8 Ano VIII nº 3. Consultado em 17 de agosto de 2018. Cópia arquivada em 17 de agosto de 2018
- ↑ 3,0 3,1 3,2 3,3 Lira, Mariza (1954). História do Hino Nacional Brasileiro. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército. pp. 20–24
- ↑ Album Muzical Gfo do ano de 1931
- ↑ 5,0 5,1 5,2 5,3 5,4 5,5 5,6 5,7 5,8 5,9 Avelino Romero Simões Pereira (1995). «Hino Nacional Brasileiro: que história é esta?». Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, nº 38, p. 21-42. Consultado em 18 de agosto de 2018
- ↑ Lira, Mariza (1954). História do Hino Nacional Brasileiro. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército. p. 319
- ↑ Institucional (21 de agosto de 1922). «DECRETO N. 4.559». Senado do Brasil. Cópia arquivada em 3 de setembro de 2013
- ↑ 8,0 8,1 8,2 8,3 Lei 5.700
- ↑ LEI Nº 12.031, DE 21 DE SETEMBRO DE 2009. Altera a Lei no 5.700, de 1o de setembro de 1971, para determinar a obrigatoriedade de execução semanal do Hino Nacional nos estabelecimentos de ensino fundamental. planalto.gov.br. Acesso em 26 de fevereiro de 2019
- ↑ 10,0 10,1 Lira, Mariza (1954). História do Hino Nacional Brasileiro. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército. p. 328, 329
- ↑ 11,0 11,1 11,2 Lira, Mariza (1954). História do Hino Nacional Brasileiro. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército. pp. 157, 209, 210, 323, 324
- ↑ Krieger, Fernando. «Raridades da Coleção Tinhorão: há 120 anos, a primeira gravação de música brasileira em disco». Discografia Brasileira. Cópia arquivada em 10 de setembro de 2021
- ↑ «Disco no sítio Discografia Brasileira». Discografia Brasileira. Consultado em 13 de setembro de 2021. Cópia arquivada em 13 de setembro de 2021
- ↑ «Zon-o-phone X-1051». Discografia Brasileira. Cópia arquivada em 13 de setembro de 2021
Ligações externas
- Hino Nacional BrasileiroHino Nacional Brasileiro.
- Hino Nacional do BrasilArquivo em mp3.
- Hino Nacional BrasileiroArquivo *.wav.
- Lei nº 5 700, de 1º de setembro de 1971Lei que trata dos Símbolos Nacionais, entre eles o Hino Nacional.
- OSC PatriotismoVeja detalhes sobre os Símbolos Nacionais