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{{Bíblia}}
{{Bíblia}}
A '''''Bíblia''''' (do [[Língua grega|grego]] βιβλία, plural de βιβλίον, [[Transliteração|transl.]] ''bíblion'', "rolo" ou "livro", diminutivo de "byblos", “papiro egípcio”, provavelmente do nome da cidade de onde esse material era exportado para a Grécia, [[Biblos]], atual [[Jbeil]], no [[Líbano]]),<ref>{{citar web |url= http://www.mundoeducacao.com.br/historiageral/biblia.htm |título=Bíblia |acessodata=31 de março de 2011 |autor=Rainer Sousa |publicado= [[Mundo educação]] |citação= Em seu significado original, o termo bíblia vem da palavra grega “biblos” que significa “papel, livro, papiro” e pode ser utilizado para todo e qualquer conjunto de textos sagrados que contém os ensinamentos fundamentais de qualquer tipo de religião. Entretanto, o uso desse termo acabou sendo também utilizado para se nomear o principal livro adotado pela religião cristã. Contendo sessenta e seis livros, a Bíblia é tida como uma das publicações mais vendidas ao redor do mundo.}}</ref><ref name="infoescola" /><ref>{{citar web |url= http://www.etymonline.com/index.php?term=bible |título=Bible |acessodata=6 de setembro de 2016 |autor= |publicado= Online Etymology Dictionary |citação= early 14c., from Anglo-Latin biblia, Old French bible (13c.) "the Bible," also any large book generally, from Medieval and Late Latin biblia "the Bible" (neuter plural interpreted as feminine singular), from phrase biblia sacra "holy books," a translation of Greek ta biblia to hagia "the holy books." The Latin word is from Greek biblion "paper, scroll," the ordinary word for "book," originally a diminutive of byblos "Egyptian papyrus." The Greek word perhaps is from Byblos, the name of the Phoenician port from which Egyptian papyrus was exported to Greece (modern Jebeil, in Lebanon; compare parchment). Or the place name might be from the Greek word, which then would be probably of Egyptian origin. The Christian scripture was referred to in Greek as Ta Biblia as early as c. 223. Bible replaced Old English biblioðece (see bibliothek) as the ordinary word for "the Scriptures." Figurative sense of "any authoritative book" is from 1804. Bible-thumper "strict Christian" is from 1870. Bible belt in reference to the swath of the U.S. South then dominated by fundamentalist Christians is from 1926; likely coined by H.L. Mencken in the "American Mercury."}}</ref><ref>{{citar web |url= http://origemdapalavra.com.br/site/palavras/biblia/ |título=Bíblia |acessodata=6 de setembro de 2016 |autor= |publicado= Origem da Palavra - Site de Etimologia |citação= É o Latim medieval BIBLIA, retirado da expressão BIBLIA SACRA, “livros sagrados” (BIBLIA é um plural em Latim), uma tradução do Grego TA BIBLIA TO HAGIA, “os livros sagrados”, de BIBLION, “papel, rolo, livro”. Originalmente BIBLION era  diminutivo de BYBLOS, “papiro egípcio”, provavelmente do nome da cidade (hoje JEBEIL, no Líbano), de onde esse material era exportado para a Grécia.}}</ref> formalmente chamada de '''''Bíblia Sagrada''''', é uma coleção de [[livro sagrado|textos religiosos]] de valor sagrado para o [[cristianismo]] e parcialmente para o [[judaísmo]] e [[islamismo]].<ref>{{citar web |url=http://www.brasilescola.com/historiag/hebreus-1.htm |título=Hebreus |acessodata=30 de março de 2011 |autor=Rainer Sousa |publicado= [[Brasil Escola]] |citação= Uma das maiores fontes de estudo da trajetória do povo hebreu se encontra na Bíblia, principalmente na parte do conhecido Velho Testamento. Nesse livro, hoje de valor sagrado para o Cristianismo, podemos ver alguns traços da história e da cultura desse povo.}}</ref><ref>{{citar web | url = http://www.brasilescola.com/religiao/cristianismo.htm |título= Cristianismo |acessodata=31 de março de 2011 | autor= Tiago Dantas | publicado= [[Brasil escola]]|citação=O livro sagrado dos cristãos é a Bíblia Sagrada, composta pelo Antigo e pelo Novo Testamento. A primeira parte conta a história da criação do mundo, das leis, tradições judaicas, etc. Já o Novo Testamento conta a vida de Jesus, como os cristãos primitivos viviam, etc.}}</ref><ref>{{citar web |url= http://www.mundoeducacao.com.br/datas-comemorativas/dia-mundial-religiao.htm | título = Dia Mundial da Religião |acessodata=31 de março de 2011 | autor = [[Mundo educação]] | citação= Com o cristianismo, a igreja se dividiu em três vertentes[...]. Seu livro sagrado é a bíblia, e traz como forma de vida os ensinamentos do filho do Messias, Jesus Cristo.}}</ref><ref name="eoq">{{citar enciclopédia|título=Bible |autor =Jane Dammen McAuliffe |página=228 |enciclopédia=Encyclopaedia of the Qur'an |volume=1}}</ref><ref>Camilla Adang. ''Muslim Writers on Judaism and the Hebrew Bible: From Ibn Rabban to Ibn Hazm''. BRILL, 1996. {{ISBN|978-9-004-10034-3}}. page 231.</ref> Surgiu a partir da compilação de narrativas da tradição oral, que com o tempo se fixaram num cânone escrito. É considerada pelos cristãos como [[Inspiração (teologia)|divinamente inspirada]],<ref name="infoescola" /> tratando-se de importante documento doutrinário.
'''Bíblia''' (do [[Koiné|grego koiné]] {{Lang|grc|τὰ βιβλία}} , {{Transl|grc|tà biblía}}, 'os livros') é uma [[antologia]] de [[Livro sagrado|textos religiosos]] ou escrituras [[Sagrado|sagradas]] para o [[cristianismo]], o [[judaísmo]], o [[samaritanismo]] e muitas outras religiões. Esses textos, [[Línguas e materiais da Bíblia|originalmente escritos]] em [[Hebraico bíblico|hebraico]], [[aramaico]] e [[Koiné|grego koiné]], incluem instruções, histórias, poesias e profecias, entre outros [[gêneros literários]]. A coleção de materiais que são aceitos como parte da Bíblia por uma determinada tradição ou comunidade religiosa é chamada de [[cânone bíblico]]. Os crentes na Bíblia geralmente a consideram um [[Inspiração (teologia)|produto da inspiração divina]] e [[Hermenêutica bíblica|interpretam o texto]] de maneiras diferentes e variadas.


Seu conteúdo é de largo escopo, mostrando a criação do mundo, a origem do homem e o plano de Deus para a humanidade, traçando a milenar história do povo hebreu e descrevendo suas leis, doutrinas, costumes e sociedade, os atos e pensamentos dos seus personagens e líderes mais destacados, e traz também um panorama sobre o surgimento, a doutrina e a primeira difusão do cristianismo.
Os textos religiosos foram compilados por diferentes comunidades religiosas em várias coleções oficiais. A mais antiga, chamada de [[Torá]] em hebraico e [[Pentateuco]] em grego, continha os primeiros cinco livros da Bíblia; a segunda parte mais antiga era uma coleção de histórias narrativas e profecias (os [[Nevi'im]]); a terceira coleção (o [[Ketuvim]]) contém salmos, provérbios e histórias narrativas. [[Tanakh]] é um termo alternativo para a Bíblia hebraica composta pelas primeiras letras dessas três partes das escrituras hebraicas: a Torá ("Ensino"), o Nevi'im ("Profetas") e o Ketuvim ("Escritos"). O [[texto massorético]] é a versão medieval do Tanakh, em hebraico e aramaico, que é considerado o texto oficial da Bíblia hebraica pelo [[judaísmo rabínico]] moderno. A [[Septuaginta]] é uma tradução grega koiné do Tanakh dos séculos III e II a.C. e em grande parte sobrepõe-se à Bíblia hebraica.


Segundo a tradição aceita pela maioria dos cristãos, a ''Bíblia'' foi escrita por cerca de 40 [[autor]]es, entre 1500 AEC e 450 AEC para protestantes e 100 AEC, para os católicos (livros do [[Antigo Testamento]]) e entre 45 EC e 110 EC (livros do [[Novo Testamento]]), totalizando um período de quase {{Fmtn|1600}} anos.<ref>{{citar livro| título= Big Picture of the Bible — New Testament | autor = Lorna Daniels Nichols| editora= Winepress Publishing|ano= 2009|isbn= 978‐1‐433‐67181‐4}}</ref> A maioria dos [[historiador]]es  considera que a data dos primeiros escritos acreditados como sagrados é bem mais recente: por exemplo, enquanto a [[tradição cristã]] coloca [[Moisés]] como o autor dos primeiros cinco livros da ''Bíblia'' ([[Pentateuco]]), muitos estudiosos aceitam que foram compilados pela primeira vez apenas após o [[Cativeiro Babilónico|exílio babilônico]], a partir de outros textos datados entre o décimo e o quarto século antes de Cristo.<ref>{{citar livro|título=Reading the Pentateuch: a historical introduction| autor = John J. McDermott | editora= Paulist Press| ano= 2002|isbn= 978‐0‐8091‐4082‐4}}</ref> Muitos estudiosos também afirmam que ela foi escrita por dezenas de pessoas oriundas de diferentes regiões e nações.<ref>{{citar livro|título=The Oxford Companion to the Bible|autor= Bruce M. Metzger; Michael David Coogan | editora = Oxford University Press |ano=1993|isbn= 978‐0‐19‐504645‐8}}</ref><ref name=":0">{{Citar livro|título = Quem escreveu a Bíblia?: Por que os autores da Bíblia não são quem pensamos que são|url = https://books.google.com.br/books?id=W-zJAwAAQBAJ|editora = Agir Editora|ano = 2014|isbn = 9788522030033|nome = Bart D|sobrenome = Ehrman|local = Rio de Janeiro|autorlink = Bart Ehrman}}</ref>
O [[cristianismo]] começou como uma vertente do [[judaísmo]], usando a Septuaginta como base do [[Antigo Testamento]]. A [[História do cristianismo|Igreja primitiva]] continuou a tradição judaica de escrever e incorporar o que via como livros religiosos inspirados e oficiais. Os [[Evangelho|evangelhos]], [[epístolas paulinas]] e outros textos [[Desenvolvimento do cânone do Novo Testamento|rapidamente se fundiram]] no [[Novo Testamento]].


A Bíblia tem sido lida e interpretada de maneiras as mais variadas, que vão do [[literalismo bíblico|literalismo rigoroso]] a uma postura liberal e crítica,<ref>{{citar web |url=http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/deriva-genetica/evolucao-e-religiao |título=Evolução e religião |acessodata=29 de maio de 2011 |data=8 de outubro de 2009 |publicado=[[Ciência Hoje]] |citação=Apenas algumas denominações protestantes fundamentalistas fazem uma interpretação literal estrita, criacionista, do livro do Gênesis na Bíblia que os leva a rejeitar em princípio a evolução biológica. Para eles a Terra tem menos de 10 mil anos e Deus criou o homem diretamente. No seu livro Os anais do velho testamento, publicado em 1650, o bispo inglês James Ussher calculou que Deus criou o universo na véspera do dia 23 de outubro de 4004 a.C. Até o final dos anos 1970 todas as Bíblias colocadas em quartos de hotel nos Estados Unidos pela Gideon Society continham essa estimativa, que também fez parte da arguição a que Clarence Darrow submeteu William Jennings Bryan no famoso julgamento de Scopes, no Tennessee, em 1926.}}</ref> muitas vezes chegando-se a conclusões diametralmente opostas, e as controvérsias doutrinais, teológicas e morais que ela desencadeou ao longo dos séculos são incontáveis, em cuja esteira foram travadas muitas gerras e cometidos muitos abusos, massacres e violências.<ref name="Riches6"/> Por outro lado, ela tem sido uma inesgotável fonte de inspiração, direção, consolo e fortalecimento para milhões de pessoas, além de ser um tesouro de modelos e imagens de referência para a criatividade artística e literária.<ref name="Caldas">Caldas, Carlos. [https://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/view/47082/html "Influência da Bíblia na cultura pop: leitura do simbolismo e da linguagem bíblica na HQ A Queda De Murdock de Frank Miller e David Mazzucchelli"]. In: ''Revista de Cultura Teológica'', 2020; XXVIII (95) </ref> Sua influência sobre a construção da civilização e da cultura ocidental não tem paralelos.<ref>Biema, David. "The Case For Teaching The Bible". ''Time'', 22/03/2007</ref> É o livro mais estudado, o mais comentado, o mais traduzido<ref>Viríssimo, Thaís de Oliveira. [https://seminariodosul.com.br/wp-content/uploads/2020/12/REVISTA-TEOLOGIGA-OUT20-DIG.pdf "A análise do discurso na interpretação bíblica"]. In: ''Teológica — Revista Brasileira de Teologia'', 2020 (8)</ref><ref name="Trindade">Trindade, Israel Elias. [http://www.ileel.ufu.br/anaisdosielp/wp-content/uploads/2014/07/volume_2_artigo_142.pdf "Contribuições da Bíblia na difusão da leitura e da escrita"]. In: ''Anais do SIELP', 2012; 2 (1) </ref> e o mais vendido de todos os tempos<ref>{{citar web |url=http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/revista-ch-2006/223/a-proposito-ler-ou-nao-ler |título=Ler ou não ler? |acessodata=18 de maio de 2011 |data=1 de fevereiro de 2006 |publicado=[[Ciência Hoje]] |citação=Uma pesquisa sobre os livros mais vendidos de todos os tempos revela unanimidade apenas nos dois primeiros lugares. Na cabeça da lista vem a Bíblia [...]. }}</ref> com mais de seis bilhões de cópias em todo o mundo, uma quantidade sete vezes maior que o número de cópias do 2º colocado da lista dos [[Lista de livros mais vendidos|livros mais vendidos]], ''[[O Livro Vermelho]]''.<ref>{{citar web |url=http://lazer.hsw.uol.com.br/21-livros-mais-vendidos.htm |título=21 livros mais vendidos de todos os tempos |acessodata=29 de março de 2011 |autor=Editores da Publications International Ltd |data=2007 |publicado=[[Como tudo funciona]]|citação= }}</ref>
Com vendas totais estimadas em mais de cinco bilhões de cópias, a Bíblia é amplamente considerada a publicação mais vendida de todos os tempos. Ele teve uma profunda influência tanto na [[Cultura ocidental|cultura e história ocidentais]] quanto nas culturas ao redor do mundo. O estudo da Bíblia por meio da [[Exegese bíblica (teologia)|crítica bíblica]] também impactou indiretamente a cultura e a história. A Bíblia está atualmente [[Tradução da Bíblia|traduzida ou sendo traduzida]] para cerca de metade das línguas existentes do mundo.


Nos [[Estados Unidos]], o único presidente que não fez o juramento de posse com a mão em uma ''Bíblia'' foi [[Theodore Roosevelt]] (1901-1909), de acordo com os registros oficiais do [[Arquiteto do Capitólio]].<ref name="Slate posse">{{citar web |url=http://www.slate.com/id/2209134/ |título=Why Doesn't Every President Use the Lincoln Bible? |acessodata=19 de junho de 2011 |data=19 de janeiro de 2009 |publicado= [[Slate]] |língua= en | citação= According to official records kept by the Architect of the Capitol, Teddy Roosevelt is the only president who wasn't sworn in using a Bible; he took a rushed oath of office in 1901 following the assassination of William McKinley. [...] John Quincy Adams, according to his own letters, placed his hand on a constitutional law volume rather than a Bible to indicate where his fealty lay. [...] There are no known inauguration Bibles for presidents John Adams through John Tyler; in fact, there's no concrete evidence that those early presidents used a Bible at all for the oath.}}</ref> [[John Quincy Adams]] (1825-1829), em sua posse, de acordo com cartas de sua própria autoria, colocou a mão em um volume de direito constitucional em vez da ''Bíblia'' para indicar a quem pertencia sua lealdade.<ref name="Slate posse" /> Não há registros para presidentes anteriores a [[John Tyler]] (1841-1845).<ref name="Slate posse"/>
== Etimologia ==
O termo "Bíblia" pode se referir à [[Bíblia hebraica]] ou à Bíblia cristã, que contém o [[Antigo Testamento|Antigo]] e o [[Novo Testamento]].<ref>{{Citar web|url=http://dictionary.reference.com/search?q=Bible|titulo=Definition of Bible {{!}} Dictionary.com|website=www.dictionary.com|lingua=en|arquivourl=https://web.archive.org/web/20061015205119/http://dictionary.reference.com/search?q=bible|arquivodata=15 de outubro de 2006|urlmorta=live}}</ref>


==Origens e autoria==
A palavra ''[[wiktionary:Bible|Bíblia]]'' é derivada do termo em [[grego koiné]] τὰ βιβλία, que significa "os livros" (singular βιβλίον).{{sfnm |1a1=Bandstra |1y=2009 |1pp=7 |2a1=Gravett et al. |2y=2008 |2p=xv}} A palavra {{Lang|grc|βιβλίον}} em si tinha o significado literal de "[[Rolo (manuscrito)|rolo]]" e passou a ser usada como a palavra comum para "livro".{{Sfn|Beekes|2009|pp=246–247}} É o diminutivo de {{Lang|grc|βύβλος}} ''byblos'', "papiro egípcio", possivelmente assim chamado a partir do nome do porto marítimo [[Fenícia|fenício]] [[Biblos]] (também conhecido como Gebal) de onde o [[papiro]] egípcio era exportado para a Grécia.{{Sfn|Brake|2008|p=[https://archive.org/details/visualhistoryofe00brak/page/29 29]}}


{{Cristianismo}}
O termo [[Língua grega|grego]] ''ta biblia'' ("os livros") era "uma expressão que os [[Judaísmo helenístico|judeus helenísticos]] usavam para descrever seus livros sagrados".<ref>{{Citar web|ultimo=Hamilton|primeiro=Mark|url=https://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/shows/religion/first/scriptures.html|titulo=From Hebrew Bible To Christian Bible {{!}} From Jesus To Christ - The First Christians {{!}} FRONTLINE {{!}} PBS|website=www.pbs.org|arquivourl=https://web.archive.org/web/20180614021417/https://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/shows/religion/first/scriptures.html|arquivodata=14 de junho de 2018|urlmorta=live}}</ref> O estudioso bíblico [[Frederick Fyvie Bruce|F. F. Bruce]] observa que [[João Crisóstomo]] parece ser o primeiro escritor (em suas ''Homilias sobre Mateus'', proferidas entre 386 e 388) a usar a frase grega ''ta biblia'' ("os livros") para descrever o Antigo e o Novo Testamento juntos.{{Sfn|Bruce|1988|p=214}}
{{Principal|Autores da Bíblia|Inspiração (teologia)}}


A Bíblia é um conjunto de muitos livros que foram sendo compilados ao longo de muitos séculos até chegarem à forma canônica conhecida hoje. Há um consenso entre os historiadores que suas origens remontam a cantos, tradições, leis, profecias, poesias, doutrinas, histórias e outras narrativas transmitidas oralmente, e que começaram a ser postas por escrito no início do primeiro milênio a.C., num processo que continuou por mais de mil anos. Esses textos, cuja autoria é em sua maciça maioria desconhecida, refletiam uma larga variedade de contextos sociais, culturais, econômicos, políticos e religiosos. Nenhum dos textos originais sobreviveu, e os mais antigos manuscritos conhecidos datam de séculos depois que os textos foram primeiro postos por escrito. Existem muitas versões diferentes dos textos mais antigos, resultado de um longo processo de revisão e edição realizado por muitos escribas diferentes, que envolviam supressões, correções e acréscimos de variadas passagens.<ref>Riches, pp. 9-18</ref><ref name="Hayes">Hayes, Christine Elizabeth. ''Introduction to the Bible''. Yale University Press, 2012, cap. I</ref><ref name="Carr">Carr, David McLain. ''An introduction to the Old Testament: sacred texts and imperial contexts of the Hebrew Bible''. Wiley-Blackwell, 2010, pp. 17; 250</ref><ref name="Gravett">Gravett, Sandra L. et al. ''An introduction to the Hebrew Bible: a thematic approach''. Westminster John Knox Press, 2008, pp. 41-54</ref><ref>Harris, Stephen L. & Platzner, Robert Leonard. ''The Old Testament: an introduction to the Hebrew Bible''. McGraw-Hill Higher Education, 2008, 2ª ed., pp. 21-22</ref>  
A expressão em [[latim]] ''biblia sacra'' ("livros sagrados") foi traduzida do grego {{Lang|grc|τὰ βιβλία τὰ ἅγια}} (''tà biblía tà hágia'', "os livros sagrados").<ref>{{Citar web|ultimo=Liddell|primeiro=Henry George|ultimo2=Scott|primeiro2=Robert|url=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.04.0057%3Aentry%3Dbibli%2Fon|titulo=A Greek-English Lexicon, βιβλίον|website=www.perseus.tufts.edu|arquivourl=https://web.archive.org/web/20191118102635/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.04.0057%3Aentry%3Dbibli%2Fon|arquivodata=18 de novembro de 2019|urlmorta=live}}</ref> O termo ''{{Lang|la-x-medieval|biblia}}'' do [[latim medieval]] é a abreviação de ''biblia sacra'' ("livro sagrado"). Gradualmente, passou a ser considerado um substantivo feminino singular em latim medieval e, assim, a palavra foi emprestada como singular para os vernáculos da [[Europa Ocidental]].<ref>{{Citar web|url=http://www.newadvent.org/cathen/02543a.htm|titulo=The Catholic Encyclopedia|acessodata=23 de abril de  2010|publicado=Newadvent.org|ano=1907|arquivourl=https://web.archive.org/web/20100613102636/http://newadvent.org/cathen/02543a.htm|arquivodata=13 de junho de 2010|urlmorta=live}}</ref>


As versões mais antigas conhecidas dos livros do [[Velho Testamento]] não indicam quem foram seus autores. A autoria que se tornou tradicional (por exemplo, o [[Pentateuco]] como escrito por [[Moisés]], o [[Livro de Josué]] por [[Josué]], os livros dos profetas pelos profetas homônimos, etc) só se fixou tardiamente como produto de atribuição, principalmente porque esses textos passaram a ser considerados sagrados. Em função deste caráter sublime, pareceu natural e mesmo necessário para os antigos atribuir a autoria a líderes [[Inspiração (teologia)|divinamente inspirados]], consolidando a tradição, iniciada pelos eruditos judeus e depois adotada pelos cristãos, de que a Bíblia era a manifestação da palavra de Deus fixada materialmente através de escribas iluminados. Segundo Nelson Kilpp, "conforme toda a tradição judaico-cristã da Antiguidade, um livro era sagrado quando remontava a um autor inspirado. Na verdade, o que geralmente ocorria era o contrário. A tradição, o conteúdo, a relevância ou a popularidade de um livro o haviam tornado, com o tempo, significativo, normativo, canônico, sagrado. Somente num segundo momento, após ser aceito o caráter normativo, se refletia sobre o presumível autor de um livro".<ref>Kilpp, Nelson. "Nomes que se perderam: a questão da autoria da Bíblia". In: Ullmann, Reinholdo Aloysio (org.). ''Consecratio Mundi: festschrift em homenagem a Urbano Zilles''. EDIPUCRS, 1998, pp. 173-177</ref>
== Desenvolvimento e história ==
{{VT|Manuscrito bíblico|Crítica textual|Pentateuco samaritano}}
[[Ficheiro:Gutenberg_Bible,_Lenox_Copy,_New_York_Public_Library,_2009._Pic_01.jpg|miniaturadaimagem| A [[Bíblia de Gutenberg]], a primeira Bíblia impressa (meados do século XV)]]
[[Ficheiro:Bible_from_1300_(20).jpg|alt=Hebrew Bible from 1300. Genesis.|miniaturadaimagem| [[Bíblia hebraica]] de 1300. Gênese.]]
A Bíblia não é um único livro; é uma coleção de livros cujo desenvolvimento complexo não é completamente compreendido. Os livros mais antigos começaram como canções e histórias [[Tradição oral|transmitidas oralmente]] de geração em geração. Os estudiosos estão apenas começando a explorar "a interface entre escrita, performance, memorização e a dimensão auditiva" dos textos. As indicações atuais são de que o antigo processo de escrita-leitura foi complementado pela memorização e performance oral na comunidade.<ref>Carr, David M. The formation of the Hebrew Bible: A new reconstruction. Oxford University Press, 2011. page 5</ref> A Bíblia foi [[Autores da Bíblia|escrita e compilada por muitas pessoas]], a maioria desconhecida, de uma variedade de culturas díspares.{{sfnm |1a1=Swenson |1y=2021 |1p=12 |2a1=Rogerson |2y=2005 |2p=21 |3a1=Riches |3y=2000 |3loc=ch. 2}}


O Pentateuco só se tornou canônico em torno do século V a.C.; os Profetas em torno do século III a.C., e uma coleção de salmos, provérbios e histórias narrativas se fixou no cânone entre o século II a.C. e o século II d.C. O conjunto desses livros é conhecido como a [[Bíblia Hebraica]], que é a base do Velho Testamento. A partir do século III a.C. judeus falantes do grego incluíram outros textos na Bíblia Hebraica, numa versão revista que se tornou conhecida como a [[Septuaginta]]. Durante o século I d.C. com o surgimento do cristianismo, novas escrituras foram produzidas narrando a vida de [[Jesus]] e as atividades dos seus discípulos. O resultado foi a compilação do [[Novo Testamento]], que se tornou canônico em torno do século II d.C. Entre 385 e 405 d.C. os cristãos traduziram os textos hebreus, gregos e aramaicos considerados por eles canônicos em uma versão latina, conhecida como a [[Vulgata]], que se tornou o texto mais autorizado. A composição da Bíblia moderna não é homogênea, e versões significativamente diferentes foram adotadas pelas correntes judaicas, católicas, ortodoxas e protestantes, que divergem no número de livros considerados canônicos e disputam a canonicidade de determinados trechos de alguns livros.<ref name="Hayes"/><ref name="Carr"/><ref name="Gravett"/><ref>Lim, Timothy H. ''The Dead Sea Scrolls: a very short introduction''. Oxford University Press, 2017, 2ª ed., pp. 40–58</ref><ref>Bandstra, Barry L. ''Reading the Old Testament: an introduction to the Hebrew Bible''. Wadsworth Cengage Learning, 2009, 4ª ed., pp. 7-8, 480-484</ref>
O estudioso bíblico britânico John K. Riches escreveu: {{Sfn|Riches|2000|p=9}}
{{Quote|Os textos bíblicos foram produzidos em um período em que as condições de vida dos escritores – políticas, culturais, econômicas e ecológicas – variavam enormemente. Há textos que refletem uma existência nômade, textos de pessoas de uma monarquia estabelecida e culto ao Templo, textos do exílio, textos nascidos da feroz opressão por governantes estrangeiros, textos da corte, textos de pregadores carismáticos errantes, textos daqueles que se entregam ao ares de escritores [[período helenístico|helenísticos]] sofisticados. É um intervalo de tempo que engloba as composições de [[Homero]], [[Platão]], [[Aristóteles]], [[Tucídides]], [[Sófocles]], [[Júlio César|César]], [[Cícero ]] e [[Catulo]]. É um período que a ascensão e queda do [[Império Assírio]] (do décimo segundo ao sétimo século) e do [[Império Aquemênida|Império Persa]] (sexto ao quarto século) por [[Alexandre, o Grande|Alexandre]] (336–326), a ascensão de [[Roma Antiga|Roma]] e sua dominação do [[Mar Mediterrâneo|Mediterrâneo]] (século IV até a fundação do [[Principado]], em 27 a.C.), a destruição do [[Segundo Templo|Templo de Jerusalém]] (70 d.C.), e a extensão do domínio romano para partes da [[Escócia]] (84 d.C.).}}


A autoria divinamente inspirada se tornou universalmente aceita durante muitos séculos, dando origem ao fundamentalismo ou [[literalismo bíblico]] e à teoria da [[inerrância bíblica]]. Considerando-se Deus como seu autor, imaginou-se que a Bíblia devia ser interpretada literalmente e não podia conter erros.<ref name="Mendes"/> Correntes radicais de inerrância bíblica não apenas alegam que o conteúdo é inspirado "em seu sentido geral", mas também que cada palavra, cada letra, cada vírgula, cada ponto do texto, mesmo em suas versões traduzidas, é um ditado direto da divindade.<ref>Folarin, George O. [http://www.scielo.org.za/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0259-94222018000100008 "Theology and practice of Christ Apostolic Church on Bible inspiration and its authority in the context of Evangelical theology"]. In: ''HTS Theological Studies'', 2018. 74 (1)</ref> A partir do século XVI começaram a aparecer algumas dúvidas sérias contra a autoria divina, que se disseminaram e ampliaram com a progressiva ascensão do [[racionalismo]] e do [[cientificismo]], que levantaram evidências sólidas capazes de refutar, por exemplo, as narrativas bíblicas sobre a criação do mundo e sobre a origem do homem.<ref name="Mendes"/> Com os progressos na [[arqueologia]], na [[filologia]], na [[crítica textual]], na [[hermenêutica]] e outras ciências, foram encontradas muitas inconsistências e anacronismos no texto, e muitas afirmações sobre eventos e personagens históricos que os livros contêm não puderam ser confirmadas por evidências externas ao texto ou foram inteiramente derrubadas, erodindo ainda mais a tese da inerrância bíblica e boa parte da sua credibilidade como documento histórico confiável.<ref>Gunkel, Hermann. ''Genesis''. Mercer University Press, 1997, p. lxviii</ref><ref>Moore, Megan Bishop & Kelle, Brad E. ''Biblical History and Israel's Past''. Eerdmans, 2011, p. 62</ref><ref>Dever, William. "What Remains of the House That Albright Built?" In: ''The Biblical Archaeologist'', 1993; 56 (1): 25-35</ref><ref>Kenyon, K. M. & Moorey, P. R. S. ''The Bible and recent archaeology''. Knox Press, 1987, p. 35</ref><ref>Thompson, Thomas L. ''The Mythic Past: Biblical Archaeology And The Myth Of Israel''. Basic Books, 2008, s/pp.</ref><ref>Redford, Donald B. ''Egypt, Canaan, and Israel in ancient times''. Princeton University Press, 1992, p. 305</ref> A crença na autoria divina é de natureza doutrinal e teológica e não é um argumento válido para os estudos historiográficos modernos, embora os historiadores a estudem como um aspecto central de uma tradição plurissecular e como um produto de um contexto cultural, social e religioso específico. Por outro lado, permanece como um artigo de para muitas comunidades religiosas, embora mesmo nestes círculos seja um tópico hoje em dia cercado de enorme controvérsia, com variadas correntes propondo diferentes graus de inspiração.<ref name="Mendes">Mendes, Jones Talai & Santos, Eduardo da Silva. "Considerações sobre a inspiração bíblica". In: ''Teocomunicação'', 2007; 37 (158): 537-551</ref>
Os livros da Bíblia foram inicialmente escritos e copiados à mão em rolos de [[papiro]].{{Sfn|Lim|2017|pp=7; 47}} Nenhum original sobreviveu. A idade da composição original dos textos é, portanto, difícil de determinar e muito debatida. Usando uma abordagem linguística e historiográfica combinada, Hendel e Joosten datam as partes mais antigas da Bíblia hebraica (o [[Cântico de Débora]] em Juízes 5 e a história de Sansão de Juízes 16 e 1 Samuel) como tendo sido compostas no início da [[Idade do Ferro]] pré-monárquica (c. 1200 a.C.).{{Sfn|Hendel|Joosten|2018|p=ix; 98-99; 101; 104; 106}} Os [[Manuscritos do Mar Morto]], descobertos nas cavernas de [[Qumran]] em 1947, são cópias que podem ser datadas entre 250 a.C. e 100 d.C.. São as cópias mais antigas existentes dos livros da [[Bíblia hebraica]] de qualquer tamanho que não sejam simplesmente fragmentos.{{sfnm |Lim|2017|1pp=38, 47 |Ulrich|2013|2pp=103–104 |3a1=VanderKam|3a2=Flint|3y=2013 |3loc=ch. 5 |Brown|2010|4loc=ch. 3(A)|5a1=Harris|5a2=Platzner|5y=2008 |5p=22}}
 
Os primeiros manuscritos provavelmente foram escritos em [[Escrita paleo-hebraica|paleo-hebraico]], uma espécie de pictograma [[Escrita cuneiforme|cuneiforme]] semelhante a outros pictogramas do mesmo período.{{Sfn|Wegner|2006|p=59}} O exílio para a Babilônia provavelmente levou à mudança de escrita (aramaico) nos séculos V a III aC.{{Sfn|Wegner|2006|p=60}} Desde a época dos pergaminhos do Mar Morto, a Bíblia hebraica era escrita com espaços entre as palavras para ajudar na leitura.{{Sfn|Wegner|2006|p=61}} Por volta do século VIII d.C., os [[massoretas]] acrescentaram sinais vocálicos.{{Sfn|VanderKam|Flint|2013|p=88-90}} [[Levitas]] ou escribas mantiveram os textos, sendo que alguns textos sempre foram tratados como mais oficiais do que outros.{{Sfn|Wegner|2006|p=62-63}} Os escribas preservavam e alteravam os textos alterando a escrita e atualizando as formas arcaicas ao mesmo tempo em que faziam correções. Esses textos hebraicos foram copiados com muito cuidado.{{Sfn|Wegner|2006|p=64-65}}
 
[[Ficheiro:Samaritan_script_table.jpg|upright|esquerda|miniaturadaimagem|Escrita hebraico-samaritana]]
 
Considerados como escrituras (textos religiosos [[Sagrado|sagrados]] e oficiais), os livros foram compilados por diferentes comunidades religiosas em vários [[Cânone bíblico|cânones bíblicos]] (coleções oficiais de escrituras).{{Sfn|Hayes|2012|p=9}} A compilação mais antiga, contendo os primeiros cinco livros da Bíblia e chamada de [[Torá]] (que significa "lei", "instrução" ou "ensino") ou [[Pentateuco]] ("cinco livros"), foi aceita como [[Desenvolvimento do cânone da Bíblia hebraica|cânone judaico]] pelo século V a.C.. Uma segunda coleção de histórias narrativas e profecias, chamada [[Nevi'im]] ("profetas"), foi canonizada no século III a.C.. Uma terceira coleção chamada [[Ketuvim]] ("escritos"), contendo salmos, provérbios e histórias narrativas, foi canonizada em algum momento entre o século II a.C. e o século II d.C..{{Sfn|Hayes|2012|p=9-10}} Essas três coleções foram escritas principalmente em [[hebraico bíblico]], com algumas partes em [[aramaico]], que juntas formam a [[Bíblia hebraica]] ou "TaNaKh" (uma abreviação de "Torá", "Nevi'im" e "Ketuvim").{{Sfn|Lim|2017|p=40}}
 
Existem três [[Manuscrito bíblico|versões históricas]] principais da Bíblia hebraica: a [[Septuaginta]], o [[Texto massorético|Texto Massorético]] e o [[Pentateuco samaritano|Pentateuco Samaritano]] (que contém apenas os cinco primeiros livros). Elas estão relacionadas, mas não compartilham os mesmos caminhos de desenvolvimento. A Septuaginta, ou LXX, é uma tradução das escrituras hebraicas, e alguns textos relacionados, para o [[grego koiné]], iniciada em [[Alexandria]] no final do século III a.C. e concluída em 132 a.C..{{Sfn|Segal|2010|p=[https://books.google.co.uk/books?id=owd9zig7i1oC&pg=PA363&redir_esc=y#v=onepage 363]}}{{Sfn|Dorival|Harl|Munnich|1988|p=111}} Provavelmente encomendada por [[Ptolemeu II Filadelfo|Ptolomeu II Filadelfo]], rei do Egito, atendeu à necessidade dos judeus de língua grega da diáspora greco-romana.{{Sfn|Segal|2010|p=[https://books.google.co.uk/books?id=owd9zig7i1oC&pg=PA363&redir_esc=y#v=onepage 363]}}{{Sfn|Lavidas|2021|p=30}} As cópias completas existentes da Septuaginta datam do século III ao V d.C., com fragmentos que datam do século II a.C..{{sfnm |1a1=Lim |1y=2017 |1pp=45–46, 58 |2a1=Hayes |2y=2012 |2loc=ch. 1 |3a1=Brown |3y=2010 |3loc=Intro. |4a1=Carr |4y=2010 |4p=250 |5a1=Bandstra |5y=2009 |5pp=8, 480 |6a1=Gravett et al. |6y=2008 |6p=47 |7a1=Harris |7a2=Platzner |7y=2008 |7p=27 |8a1=Riches |8y=2000 |8loc=ch. 3}} A revisão de seu texto começou já no século I a.C..<ref name="Dines 2004">{{Citar livro|título=The Septuagint|ultimo=Dines|primeiro=Jennifer|data=2004|editora=Bloomsbury Publishing|isbn=9780567601520}}</ref> Fragmentos da Septuaginta foram encontrados entre os [[Manuscritos do Mar Morto]]; partes de seu texto também são encontradas em papiros existentes do Egito que datam do séculos I e II a.C. e do século I d.C..<ref name="Dines 2004" />{{Rp|5}}
 
Os [[Massoreta|massoretas]] começaram a desenvolver o que se tornaria o texto [[Hebraico bíblico|hebraico]] e aramaico oficial dos 24 livros da [[Bíblia hebraica]] no judaísmo rabínico perto do final do período talmúdico ({{Circa|300}} – {{Circa|500 a.C.}}), mas a data real é difícil de determinar.{{Sfn|Hauser|Watson|Kaufman|2003|pp=30-31}}{{Sfn|Wegner|1999|p=[https://books.google.com/books?id=kkVFOTsBOAEC&q=%22Masoretes+inherited%22&pg=PA172 172]}}{{Sfn|Swenson|2021|p=[https://www.google.com/books?id=5xQOEAAAQBAJ&pg=PA29 29]}} Nos séculos VI e VII, três comunidades judaicas contribuíram com sistemas para escrever o texto preciso, com sua [[Nicude|vocalização]] e [[Teamim|acentuação]] conhecidos como ''mas'sora'' (da qual derivamos o termo "massorético").{{Sfn|Hauser|Watson|Kaufman|2003|pp=30–31}} Esses primeiros estudiosos massoréticos estavam baseados principalmente nas cidades galileanas de [[Tiberíades]] e [[Jerusalém]], e na [[Babilônia]] (atual [[Iraque]]). Aqueles que viviam na comunidade judaica de Tiberíades na antiga [[Galiléia]] (c. 750-950), fizeram cópias de escribas dos textos da Bíblia hebraica sem um texto padrão, como fazia a tradição babilônica. A pronúncia canônica da Bíblia hebraica (chamada hebraica tiberiana) que eles desenvolveram, e muitas das notas que fizeram, diferiam da babilônica.{{Sfn|Phillips|2016|pp=288-291}} Essas diferenças foram resolvidas em um texto padrão chamado [[Texto massorético|Texto Massorético]] no século IX.{{Sfn|Lavidas|2021|p=75}} A cópia completa mais antiga ainda existente é o [[Códice de Leningrado|Códice de Leningrado,]] datado de c. 1000 d.C.{{Sfn|VanderKam|Flint|2013|p=87}}
 
O [[Pentateuco Samaritano]] é uma versão da [[Torá]] mantida pela comunidade [[Samaritanos|samaritana]] desde a Antiguidade, que foi redescoberta por estudiosos europeus no século XVII; suas cópias existentes mais antigas datam de c. 1100 d.C.{{sfnm |Lim|2017|1pp=46–49 |Ulrich|2013|2pp=95–104 |3a1=VanderKam|3a2=Flint|3y=2013|3loc=ch. 5 |Carr|2010|4p=8 |Bandstra|2009|5p=482 |Gravett et al.|2008|6pp=47–49 |7a1=Harris|7a2=Platzner|7y=2008|7pp=23–28}} Os samaritanos incluem apenas o Pentateuco (Torá) em seu cânon bíblico.{{Sfn|VanderKam|Flint|2013|p=[https://books.google.com/books?id=SBMXnB4CRpUC&pg=PA91 91]}} Eles não reconhecem autoria ou [[Inspiração (teologia)|inspiração]] [[Autores da Bíblia|divina]] em nenhum outro livro do [[Tanakh]] judaico.{{harvnb|Schaff|1885|loc=[https://www.ccel.org/ccel/schaff/anf04.vi.ix.i.l.html Chapter XLIX]|ps= (Commentary on John 13:26)}} Existe um Livro Samaritano de Josué parcialmente baseado no [[Livro de Josué]] do Tanakh, mas os samaritanos o consideram uma crônica histórica secular não canônica.{{Sfn|Gaster|1908|p=[https://books.google.com/books?id=eUCRAfZvwRgC&pg=PA166 166]}}
 
No século VII, a primeira forma de [[códice]] da Bíblia hebraica foi produzida. O códice é o precursor do livro moderno. Popularizado pelos [[primeiros cristãos]], era feito dobrando-se uma única folha de papiro ao meio, formando “páginas”. Juntar várias dessas páginas dobradas criou um "livro" que era mais facilmente acessível e mais portátil do que os pergaminhos. Em 1488, foi produzida a primeira versão impressa completa da Bíblia hebraica.{{Sfn|Hauser|Watson|Kaufman|2003|pp=31–32}}
[[Ficheiro:PaulT.jpg|direita|miniaturadaimagem| ''[[Paulo de Tarso|São Paulo]] escrevendo suas [[Epístola|epístolas]]'', {{Circa|1619}} pintura de [[Valentin de Boulogne]]]]
 
Durante a ascensão do cristianismo no século I, novas escrituras foram escritas em [[grego koiné]]. Os cristãos chamaram essas novas escrituras de "[[Novo Testamento]]" e começaram a se referir à Septuaginta como o "Antigo Testamento".{{sfnm |1a1=Lim |1y=2017 |1pp=45–46 |2a1=Brown |2y=2010 |2loc=Intro. and ch. 1 |3a1=Carr |3y=2010 |3p=17 |4a1=Bandstra |4y=2009 |4pp=7, 484 |5a1=Riches |5y=2000 |5loc=chs. 2 and 3}} O Novo Testamento foi preservado em mais manuscritos do que qualquer outro trabalho antigo.{{Sfn|Gurry|2016|p=117}}{{Sfn|Rezetko|Young|2014|p=164}} A maioria dos primeiros copistas cristãos não eram escribas treinados.{{Sfn|Wegner|2006|p=300}} Muitas cópias dos evangelhos e das [[cartas de Paulo]] foram feitas por cristãos individuais em um período de tempo relativamente curto, logo após os originais terem sido escritos.{{Sfn|Wallace|2009|p=88}} Há evidências nos Evangelhos Sinóticos, nos escritos dos [[Padres da Igreja|primeiros pais da igreja]], de [[Marcião]], e na [[Didaquê|Didache]] de que os documentos cristãos estavam em circulação antes do final do século I.{{Sfn|Wegner|2006|p=40-41; 300-301}}{{Sfn|Mowry|1944|p=76, 84, 85}} As cartas de Paulo circularam durante sua vida e acredita-se que sua morte tenha ocorrido antes de 68 durante o reinado de [[Nero]].{{Sfn|Mowry|1944|p=85}}{{Sfn|Brown|1997|p=436}} Os primeiros cristãos transportaram esses escritos por todo o [[Império Romano]], traduzindo-os para o siríaco antigo, [[Língua copta|copta]], [[Língua ge'ez|etíope]] e [[latim]], entre outras línguas.{{Sfn|Lavidas|2021|p=29}}
 
[[Bart D. Ehrman|Bart Ehrman]] explica como esses vários textos mais tarde foram agrupados por estudiosos em categorias:<blockquote>durante os primeiros séculos da igreja, os textos cristãos eram copiados em qualquer lugar para onde fossem escritos ou levados. Como os textos eram copiados localmente, não é surpresa que diferentes localidades tenham desenvolvido diferentes tipos de tradição textual. Ou seja, os manuscritos em Roma tinham muitos dos mesmos erros, porque eram em sua maioria documentos “internos”, copiados uns dos outros; eles não foram muito influenciados por manuscritos copiados na Palestina; e os da Palestina assumiram características próprias, que não eram as mesmas encontradas em um lugar como Alexandria, no Egito. Além disso, nos primeiros séculos da igreja, alguns locais tinham escribas melhores do que outros. Estudiosos modernos chegaram a reconhecer que os escribas em Alexandria – que era um importante centro intelectual no mundo antigo – eram particularmente escrupulosos, mesmo nestes primeiros séculos, e que lá, em Alexandria, uma forma muito pura do texto dos primeiros cristãos foi preservada, década após década, por escribas cristãos dedicados e relativamente habilidosos.<ref>Ehrman, Bart D. Misquoting Jesus: The Story Behind Who Changed the Bible and Why (New York, NY: HarperCollins, 2005) Pg. 72.</ref></blockquote>Essas diferentes histórias produziram o que os estudiosos modernos chamam de "tipos de texto" reconhecíveis. As quatro mais comumente reconhecidas são [[Texto-tipo Alexandrino|alexandrina]], [[Texto-tipo ocidental|ocidental]], [[Tipo de texto cesariana|cesariana]] e [[Texto-tipo bizantino|bizantina]].{{sfnm |Parker|2013|1pp=412–420, 430–432 |Brown|2010|2loc=ch. 3(A)}}
[[Ficheiro:P52_verso.jpg|upright|esquerda|miniaturadaimagem|[[Papiro P52]] é o fragmento mais antigo existente de papiro do Novo Testamento.{{Sfn|Orsini|Clarysse|2012|p=470}} Contém frases do [[Evangelho segundo João|Livro de João]].]]
 
A lista de livros incluídos na [[Bíblia católica]] foi estabelecida como cânone pelo [[Concílio de Roma (382)|Concílio de Roma]] em 382, seguido por [[Concílio de Hipona|Hipona]] em 393 e [[Concílio de Cartago|Cartago]] em 397. Entre os anos 385 e 405, a igreja cristã primitiva traduziu seu cânon para o [[latim vulgar]] (o latim comum falado por pessoas comuns), uma tradução conhecida como [[Vulgata]].{{sfnm |1a1=Lim |1y=2017 |1p=40 |2a1=Hayes |2y=2012 |2loc=ch. 1 |3a1=Brown |3y=2010 |3loc=Intro. |4a1=Carr |4y=2010 |4pp=3–5 |5a1=Bandstra |5y=2009 |5pp=7–8, 480–481 |6a1=Gravett et al. |6y=2008 |6p=xv |7a1=Harris |7a2=Platzner |7y=2008 |7pp=3–4, 28, 371 |8a1=Riches |8y=2000 |8loc=ch. 3 }} Desde então, os cristãos católicos realizaram [[Concílio ecuménico|concílios ecumênicos]] para padronizar seu cânon bíblico. O [[Concílio de Trento]] (1545-1563), realizado pela Igreja Católica em resposta à [[Reforma Protestante]], autorizou a Vulgata como sua tradução latina oficial da Bíblia.{{sfnm |1a1=Lim |1y=2017 |1pp=40, 46, 49, 58–59 |2a1=Hayes |2y=2012 |2loc=ch. 1 |3a1=Brown |3y=2010 |3loc=Intro. |4a1=Carr |4y=2010 |4pp=3–5 |5a1=Bandstra |5y=2009 |5pp=7–8, 480–481 |6a1=Gravett et al. |6y=2008 |6pp=xv, 49 |7a1=Harris |7a2=Platzner |7y=2008 |7pp=3–4, 28, 31–32, 371 |8a1=Riches |8y=2000 |8loc=ch. 3}} Uma série de cânones bíblicos evoluíram desde então. Os cânones bíblicos cristãos variam dos 73 livros do cânone da [[Igreja Católica]] e os 66 livros do cânone da maioria das denominações [[Protestantismo|protestantes]], aos 81 livros do cânone da [[Igreja Ortodoxa Etíope]], entre outros.{{Sfn|Riches|2000|pp=7–8}} O judaísmo há muito aceita um único texto oficial, enquanto o cristianismo nunca teve uma versão oficial, tendo muitas tradições manuscritas diferentes.{{Sfn|Barton|2019|p=15}}
 
Todos os textos bíblicos eram tratados com reverência e cuidado por aqueles que os copiaram, mas existem erros de transmissão, chamados variantes, em todos os manuscritos bíblicos.{{Sfn|Wegner|2006|p=41}}{{Sfn|Black|1994|p=24}} Uma variante é simplesmente qualquer desvio entre dois textos. O crítico textual Daniel B. Wallace explica que "cada desvio conta como uma variante, independentemente de quantos manuscritos o atestam".{{Sfn|Wallace|2009|p=98}} O estudioso hebraico Emanuel Tov diz que o termo não é avaliativo; é simplesmente um reconhecimento de que os caminhos de desenvolvimento de diferentes textos se separaram.{{Sfn|Tov|2001|p=18}}
 
Manuscritos medievais da Bíblia hebraica eram considerados extremamente precisos: os documentos de maior autoridade para copiar outros textos.<ref>{{Citar web|url=https://web.nli.org.il/sites/nli/english/collections/jewish-collection/pages/damascus.aspx|titulo=The Damascus Keters|acessodata=1 de julho de 2020|website=National Library of Israel|arquivourl=https://web.archive.org/web/20200728235241/https://web.nli.org.il/sites/NLI/English/collections/jewish-collection/Pages/damascus.aspx|arquivodata=28 de julho de 2020|urlmorta=live}}</ref> Mesmo assim, David Carr afirma que os textos hebraicos contêm tipos de variantes acidentais e intencionais: "variantes de memória" são geralmente diferenças acidentais. As variantes também incluem a substituição de equivalentes lexicais, diferenças semânticas e gramaticais e mudanças de escala maior na ordem, com algumas revisões importantes dos textos massoréticos que devem ter sido intencionais.{{Sfn|Carr|2011|pp=5-7,18,24,29,42,55,61,145,167}}
 
A maioria das variantes são acidentais, como erros de ortografia, mas algumas mudanças foram intencionais.{{Sfn|Black|1994|p=60}} Mudanças intencionais nos textos do Novo Testamento foram feitas para melhorar a gramática, eliminar discrepâncias, harmonizar passagens paralelas, combinar e simplificar várias leituras variantes em uma, e por razões teológicas.{{Sfn|Black|1994|p=60}}{{Sfn|Royce|2013|pp=461–464, 468, 470–473}} Bruce K. Waltke observa que uma variante para cada dez palavras foi observada na recente edição crítica da Bíblia hebraica, a ''Biblia Hebraica Stuttgartensia'', deixando 90% do texto hebraico sem variação. A quarta edição do ''Novo Testamento Grego'' da Sociedade Bíblica Unida observa variantes que afetam cerca de 500 de 6.900 palavras, ou cerca de 7% do texto.{{Sfn|Wegner|2006|p=25}}


== Interpretação ==
== Interpretação ==
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{{Principal|Historicidade da Bíblia|Datação da Bíblia|Simbologia bíblica}}
{{Principal|Historicidade da Bíblia|Datação da Bíblia|Simbologia bíblica}}


Segundo o jornalista David Plotz, da revista eletrônica ''[[Slate]]'', até um século atrás, a maioria dos estadunidenses bem instruídos conheciam a ''Bíblia'' a fundo.<ref name= "Slate" /> Ele também afirma que atualmente, o desconhecimento bíblico é praticamente total entre pessoas[[Irreligião| não religiosas]].<ref name= "Slate" /> Ainda segundo Plotz, mesmo entre os fiéis, a leitura da ''Bíblia'' é irregular: a [[Igreja Católica]] inclui somente uma pequena parcela do [[Antigo Testamento]] nas leituras oficiais; os [[judeu]]s estudam bastante os cinco primeiros livros da ''Bíblia'', mas não se importam muito com o restante; os [[Judaísmo ortodoxo |judeus ortodoxos]] normalmente passam mais tempo lendo o [[Talmude]] ou outra coisa que a Bíblia em si; muitos [[Protestantismo|protestante]]s e/ou [[Evangelicalismo|evangélico]]s leem a ''Bíblia'' frequentemente, mas geralmente dão mais ênfase ao Novo Testamento.<ref name ="Slate">{{citar web |url=http://www.slate.com/id/2212616/pagenum/all/#p2 |título=Good Book |acessodata=7 de junho de 2011 |data=3 de março de 2009 | publicado =[[Slate]] |língua= en |citação= A century ago, most well-educated Americans knew the Bible deeply. Today, biblical illiteracy is practically universal among nonreligious people. [...] Even among the faithful, Bible reading is erratic.  The Catholic Church, for example, includes only a teeny fraction of the Old Testament in its official readings. Jews study the first five books of the Bible pretty well but shortchange the rest of it. Orthodox Jews generally spend more time on the Talmud and other commentary than on the Bible itself. Of the major Jewish and Christian groups, only evangelical Protestants read the whole Bible obsessively. [...] Maybe it doesn't make sense for most of us to read the whole Bible. After all, there are so many difficult, repellent, confusing, and boring passages.}}</ref>
Segundo o jornalista David Plotz, da revista eletrônica ''[[Slate]]'', até um século atrás, a maioria dos estadunidenses bem instruídos conheciam a ''Bíblia'' a fundo.<ref name= "Slate" /> Ele também afirma que atualmente, o desconhecimento bíblico é praticamente total entre pessoas[[Irreligião| não religiosas]].<ref name= "Slate" /> Ainda segundo Plotz, mesmo entre os fiéis, a leitura da ''Bíblia'' é irregular: a [[Igreja Católica]] inclui somente uma pequena parcela do [[Antigo Testamento]] nas leituras oficiais; os [[judeu]]s estudam bastante os cinco primeiros livros da ''Bíblia'', mas não se importam muito com o restante; os [[Judaísmo ortodoxo |judeus ortodoxos]] normalmente passam mais tempo lendo o [[Talmude]] ou outra coisa que a Bíblia em si; muitos [[Protestantismo|protestante]]s e/ou [[Evangelicalismo|evangélico]]s leem a ''Bíblia'' frequentemente, mas geralmente dão mais ênfase ao Novo Testamento.<ref name ="Slate">{{citar web |url=http://www.slate.com/id/2212616/pagenum/all/#p2 |título=Good Book |acessodata=7 de junho de 2011 |data=3 de março de 2009 | publicado =[[Slate]] |língua= en }}</ref>


A inacessibilidade da ''Bíblia''<ref name= "Slate Biblically Speaking">{{citar web |url= http://www.unz.org/Pub/Slate-2009mar-00064 | título= Biblically Speaking | acessodata =7 de julho de 2011 |data=4 de março de 2009 |publicado=[[Slate]] |língua=inglês |citação=My book is by no means a substitute for the Bible. It's an effort to bring a new [...] perspective to a book that has been made inaccessible and difficult by clergy and academics. [...] James Kugel's recently published How To Read the Bible? [...] I read Kugel's book [...]. [...] Kugel demolishes, chapter by chapter, the idea that the Bible is historically true (No exodus from Egypt, no conquest of the Promised Land, God is an offshoot of Baal, etc). [...] Here we have a book written 3,000 years ago, with bizarre stories, peculiar laws, erratic deity [...] Martin Luther was one of the first theologians to suggest that people read AND interpret the Bible for themselves. [...] Clergy have mostly discouraged us from reading the Bible, insisting that we should only do it under their tutelage.}}</ref> entre a [[Antiguidade]] e a [[Idade Média]] resultou na criação de diversas narrativas sobre os personagens bíblicos, criando acréscimos e distorções.<ref>{{citar web |url= http://www.brasilescola.com/curiosidades/onde-judas-perdeu-as-botas.htm | título= Onde Judas perdeu as botas |acessodata= 30 de março de 2011 |autor= Rainer Sousa | publicado =[[Brasil Escola]] |citação=Entre a Antiguidade e a Idade Média, por exemplo, a inacessibilidade aos textos bíblicos foi responsável pela criação de várias narrativas envolvendo os personagens cristãos.  Os feitos e destinos de certos nomes presentes na Bíblia ganhavam acréscimos e certas distorções que salientavam a forte presença do cristianismo no imaginário dessa época. Levando em conta que boa parte da população era iletrada, ficava difícil de impor um rigor de verdade entre as várias histórias de cunho bíblico.}}</ref> A [[Igreja Católica]] não podia entregar muitos exemplares da ''Bíblia, por causa da dificuldades da época que não existia impressão'', tendo a Igreja, alegando que nem todos teriam a capacidade necessária para interpretá-la, devido à sua complexidade, tanto que a Igreja justificava essa dificuldade de entendê-la, mostrando aos seus fiéis às grandes heresias que até desbalancear a sociedade, desbalanceava, como o [[catarismo]].<ref name= "Historia Net">{{citar web |url= http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=698 |título=Lutero |acessodata= 7 de junho de 2011 |data =22 de abril de 2005 |publicado = [HistoriaNet]] |citação=Martin Lutero alegava ainda, que somente o amor de Cristo era capaz de providenciar paz de espírito, o alcance deste amor era oferecido por meio da Bíblia, gratuitamente. [...] A Igreja Católica centralizava seu poder sobre os fieis privando-os de possuírem um exemplar da bíblia, sob alegação que jamais poderiam entendê-la, devido a sua complexidade. Diziam ainda que o papel de ensinar as orientações de Deus era uma responsabilidade exclusiva da Igreja Católica, "comandada" pelo Papa.}}</ref> Assim, afirmava que a responsabilidade de ensinar as orientações de Deus era exclusivamente sua.<ref name="Historia Net"/>
A inacessibilidade da ''Bíblia'' entre a [[Antiguidade]] e a [[Idade Média]] resultou na criação de diversas narrativas sobre os personagens bíblicos, criando acréscimos e distorções. A [[Igreja Católica]] não podia entregar muitos exemplares da ''Bíblia, por causa da dificuldades da época que não existia impressão'', tendo a Igreja, alegando que nem todos teriam a capacidade necessária para interpretá-la, devido à sua complexidade, tanto que a Igreja justificava essa dificuldade de entendê-la, mostrando aos seus fiéis às grandes heresias que até desbalancear a sociedade, desbalanceava, como o [[catarismo]].<ref name= "Slate Biblically Speaking">{{citar web |url= http://www.unz.org/Pub/Slate-2009mar-00064 | título= Biblically Speaking | acessodata =7 de julho de 2011 |data=4 de março de 2009 |publicado=[[Slate]] |língua=inglês}}</ref>


Os [[Relação entre religião e ciência |conflitos entre ciência e religião]] foram, em parte, ajudados pela interpretação literal da ''Bíblia''.<ref name="Ciência Hoje">{{citar web |url=http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/historia-da-ciencia-e-epistemologia/e-possivel-a-convivencia-pacifica-entre-ciencia-e |título=É possível a convivência pacífica entre ciência e religião? |acessodata=18 de maio de 2011 |data=10 de janeiro de 2003 |publicado=[[Ciência Hoje]] |citação=A interpretação literal da Bíblia também ajudou a criar os conflitos entre ciência e religião. A crença de que um deus criou a Terra para nos abrigar e todas as outras espécies para nos servir pode ser muito alentadora, embora contrarie consensos científicos que poucos ousam desafiar. Mas a Bíblia, inspirada em tantas fontes diferentes, não pode ser entendida como um relato preciso da história humana ou uma descrição perfeita da natureza, apesar de estar repleta de verdades morais valiosas e incontestáveis.}}</ref> Esta não deve ser interpretada como um relato preciso da história da humanidade ou uma descrição perfeita da natureza.<ref name="Ciência Hoje"/> [[Galileu Galilei]] considerava que a ''Bíblia'' deveria ser interpretada a partir do estudo da natureza.<ref>{{citar web |url=http://cienciahoje.uol.com.br/resenhas/com-os-pes-na-terra-e-os-olhos-no-ceu |título=Com os pés na terra e os olhos no céu |acessodata=18 de maio de 2011|data=27 de outubro de 2009 |publicado=[[Ciência Hoje]] |arquivodata= |citação=Para o astrônomo e filósofo, as escrituras deveriam ser interpretadas a partir do estudo da natureza. }}</ref>
Os [[Relação entre religião e ciência |conflitos entre ciência e religião]] foram, em parte, ajudados pela interpretação literal da ''Bíblia''.<ref name="Ciência Hoje">{{citar web |url=http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/historia-da-ciencia-e-epistemologia/e-possivel-a-convivencia-pacifica-entre-ciencia-e |título=É possível a convivência pacífica entre ciência e religião? |acessodata=18 de maio de 2011 |data=10 de janeiro de 2003 |publicado=[[Ciência Hoje]] |citação=A interpretação literal da Bíblia também ajudou a criar os conflitos entre ciência e religião. A crença de que um deus criou a Terra para nos abrigar e todas as outras espécies para nos servir pode ser muito alentadora, embora contrarie consensos científicos que poucos ousam desafiar. Mas a Bíblia, inspirada em tantas fontes diferentes, não pode ser entendida como um relato preciso da história humana ou uma descrição perfeita da natureza, apesar de estar repleta de verdades morais valiosas e incontestáveis.}}</ref> Esta não deve ser interpretada como um relato preciso da história da humanidade ou uma descrição perfeita da natureza.<ref name="Ciência Hoje"/> [[Galileu Galilei]] considerava que a ''Bíblia'' deveria ser interpretada a partir do estudo da natureza.<ref>{{citar web |url=http://cienciahoje.uol.com.br/resenhas/com-os-pes-na-terra-e-os-olhos-no-ceu |título=Com os pés na terra e os olhos no céu |acessodata=18 de maio de 2011|data=27 de outubro de 2009 |publicado=[[Ciência Hoje]] |arquivodata= |citação=Para o astrônomo e filósofo, as escrituras deveriam ser interpretadas a partir do estudo da natureza. }}</ref>
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Os escravocratas basearam-se na parte da ''Bíblia'' que conta sobre [[Noé]] ter condenado seu filho [[Cam]] e seus descendentes à [[escravidão]] para justificar religiosamente a escravidão.<ref>{{citar web |url=http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/deriva-genetica/o-dna-do-racismo |título=O DNA do racismo |acessodata= |data=11 de julho de 2008 |publicado=[[Ciência Hoje]] |citação=Mas a conciliação do inconciliável precisava ser racionalizada com argumentos da própria religião. Isso envolveu duas vertentes principais. A primeira consistiu em substituir a ênfase da unidade da humanidade a partir da Adão e Eva por uma divisão tricotômica baseada nos filhos de Noé: Cam, Sem e Jafé. Segundo o livro do Gênese na Bíblia, Cam viu Noé nu e bêbado e contou para seus irmãos, zombando do pai. Ao saber disso, Noé amaldiçoou Cam e o condenou, assim como toda a sua descendência, à servidão. Os escravocratas avidamente adotaram uma identificação dos africanos com os descendentes de Cam, uma cômoda justificativa religiosa para a escravidão, embora na própria Bíblia não haja nenhuma referência à cor de Cam ou qualquer descrição de seus descendentes.}}</ref>
Os escravocratas basearam-se na parte da ''Bíblia'' que conta sobre [[Noé]] ter condenado seu filho [[Cam]] e seus descendentes à [[escravidão]] para justificar religiosamente a escravidão.<ref>{{citar web |url=http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/deriva-genetica/o-dna-do-racismo |título=O DNA do racismo |acessodata= |data=11 de julho de 2008 |publicado=[[Ciência Hoje]] |citação=Mas a conciliação do inconciliável precisava ser racionalizada com argumentos da própria religião. Isso envolveu duas vertentes principais. A primeira consistiu em substituir a ênfase da unidade da humanidade a partir da Adão e Eva por uma divisão tricotômica baseada nos filhos de Noé: Cam, Sem e Jafé. Segundo o livro do Gênese na Bíblia, Cam viu Noé nu e bêbado e contou para seus irmãos, zombando do pai. Ao saber disso, Noé amaldiçoou Cam e o condenou, assim como toda a sua descendência, à servidão. Os escravocratas avidamente adotaram uma identificação dos africanos com os descendentes de Cam, uma cômoda justificativa religiosa para a escravidão, embora na própria Bíblia não haja nenhuma referência à cor de Cam ou qualquer descrição de seus descendentes.}}</ref>


[[Martinho Lutero]] considerava que o amor de [[Cristo]] era alcançável gratuitamente por meio da ''Bíblia''.<ref name="Historia Net"/> Foi um dos primeiros [[teólogo]]s a sugerir que as pessoas deveriam ler e interpretar a ''Bíblia'' por si mesmas.<ref name="Slate Biblically Speaking"/> A maioria das pessoas interpreta a ''Bíblia'' por intermédio de seu líder religioso.<ref>[http://www.unz.org/Pub/Slate-2007apr-00155 "Chatting the Bible".] ''Slate'',  13/04/2007 </ref>
[[Martinho Lutero]] considerava que o amor de [[Cristo]] era alcançável gratuitamente por meio da ''Bíblia''. Foi um dos primeiros [[teólogo]]s a sugerir que as pessoas deveriam ler e interpretar a ''Bíblia'' por si mesmas.<ref name="Slate Biblically Speaking"/> A maioria das pessoas interpreta a ''Bíblia'' por intermédio de seu líder religioso.<ref>[http://www.unz.org/Pub/Slate-2007apr-00155 "Chatting the Bible".] ''Slate'',  13/04/2007 </ref>
 
As [[Testemunhas de Jeová]] consideram 66 livros como componentes da ''Bíblia'', interpretando-a de forma literal exceto quando o texto evidencia estar em sentido figurado.<ref name="BR escola jeová">{{citar web |url=http://www.brasilescola.com/religiao/testemunhas-de-jeova.htm |título=Testemunhas de Jeová |acessodata=31 de março de 2011 |autor=Patrícia Lopes |publicado=[[Brasil escola]] |citação=As Testemunhas de Jeová acreditam que a Bíblia é a palavra de Deus, tendo-a como base para suas crenças. O Novo Testamento é chamado de Escrituras Gregas Cristãs e o Velho Testamento, de Escrituras Hebraicas. Consideram os 66 livros que compõem a Bíblia, interpretando-a de forma literal, salvo quando as expressões ou o contexto revelam que o sentido é figurado ou simbólico. }}</ref> Chamam o Novo Testamento de Escrituras Gregas Cristãs e o Antigo Testamento de Escrituras Hebraicas.<ref name="BR escola jeová"/> Usam o método de comparação de textos bíblicos com outros textos bíblicos, encontrando, por temas, o que a ''Bíblia'' ensina como um todo. Suas conclusões são registradas por escrito, sendo utilizadas para outras pesquisas bíblicas.
 
Para o [[espiritismo]] a ''Bíblia'' é uma das várias referências de compreensão do mundo espiritual (não é a principal), para eles, tem um sentido um pouco espiritual, outras, contrárias às suas [[Espiritismo|doutrinas dos espíritos]].<ref>{{citar web |url=http://www.brasilescola.com/religiao/espiritismo.htm |título=Espiritismo |acessodata=5 de abril de 2011 |autor=Rainer Sousa |publicado=[[Brasil Escola]] |citação=Abrindo portas para a doutrina cristã, o espiritismo tem um elo relativo com o texto bíblico e os evangelhos. Sem ocupar a posição fundamental da obra de Kardec, a Bíblia é utilizada como uma das várias referências de compreensão do mundo espiritual. Concomitantemente, a vida de Jesus Cristo é considerada um modelo de evolução espiritual também obtido na história de vida de outros indivíduos iluminados.}}</ref>


== Estrutura interna ==
== Estrutura interna ==
A ''Bíblia'' é dividida em duas partes: o [[Antigo Testamento|Antigo]] e o [[Novo Testamento]]s. O primeiro, na versão aceita de forma geral por [[protestante]]s e [[judeu]]s, apresenta a [[história do mundo]] desde [[Criação (teologia)|sua criação]] até os acontecimentos após a volta dos [[judeus]] do [[cativeiro babilônico|exílio babilônico]], no {{-séc|IV}} Os [[Igreja Católica Romana|católicos]] e [[Igreja Ortodoxa|ortodoxos]], por outro lado, têm um cânon mais extenso, cobrindo até os [[asmoneus]] do {{-séc|II}}
A ''Bíblia'' é dividida em duas partes: o [[Antigo Testamento|Antigo]] e o [[Novo Testamento]]s. O primeiro, na versão aceita de forma geral por [[protestante]]s e [[judeu]]s, apresenta a [[história do mundo]] desde [[Criação (teologia)|sua criação]] até os acontecimentos após a volta dos [[judeus]] do [[cativeiro babilônico|exílio babilônico]], no {{-séc|IV}} Os [[Igreja Católica Romana|católicos]] e [[Igreja Ortodoxa|ortodoxos]], por outro lado, têm um cânon mais extenso, cobrindo até os [[asmoneus]] do {{-séc|II}}


O [[Novo Testamento]] apresenta a história de [[Jesus Cristo]] e a pregação de seus ensinamentos, durante sua vida e após sua morte e ressurreição, no {{séc|I}}. (''ver: [[Vida de Cristo]]'') A ''Bíblia'' não era dividida em capítulos até {{Fmtn|1227}}, quando o [[cardeal]] [[Stephen Langton|Sthepen Langton]] os criou, e não apresentava [[versículo]]s até ser assim dividida em {{Fmtn|1551}} por [[Robert Estienne|Robert Stephanus]].<ref name="infoescola" />
O [[Novo Testamento]] apresenta a história de [[Jesus Cristo]] e a pregação de seus ensinamentos, durante sua vida e após sua morte e ressurreição, no {{séc|I}}. (''ver: [[Vida de Cristo]]'') A ''Bíblia'' não era dividida em capítulos até {{Fmtn|1227}}, quando o [[cardeal]] [[Stephen Langton|Sthepen Langton]] os criou, e não apresentava [[versículo]]s até ser assim dividida em {{Fmtn|1551}} por [[Robert Estienne|Robert Stephanus]].


=== Livros do Antigo Testamento ===
=== Livros do Antigo Testamento ===
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Os livros do Antigo Testamento aceitos por todos os cristãos como sagrados (chamados [[livros protocanônicos|protocanônicos]] pela Igreja Católica) são: ''[[Gênesis]], [[Livro do Êxodo|Êxodo]], [[Levítico]], [[Livro dos Números|Números]], [[Deuteronômio]], [[Livro de Josué|Josué]], [[Livro dos Juízes|Juízes]], [[Livro de Rute|Rute]], [[I Samuel]], [[II Samuel]], [[I Reis]], [[II Reis]], [[I Crônicas]], [[II Crônicas]], [[Livro de Esdras|Esdras]], [[Livro de Neemias|Neemias]],  [[Livro de Ester|Ester]], [[Livro de Jó|Jó]], [[Livro dos Salmos|Salmos]], [[Livro dos Provérbios|Provérbios]], [[Eclesiastes]], [[Cânticos dos Cânticos]], [[Livro de Isaías|Isaías]], [[Livro de Jeremias|Jeremias]], [[Lamentações]],  [[Livro de Ezequiel|Ezequiel]], [[Livro de Daniel|Daniel]], [[Livro de Oseias|Oseias]], [[Livro de Joel|Joel]], [[Livro de Amós|Amós]], [[Livro de Obadias|Obadias]], [[Livro de Jonas|Jonas]], [[Livro de Miqueias|Miqueias]], [[Livro de Naum|Naum]], [[Livro de Habacuque|Habacuque]], [[Livro de Sofonias|Sofonias]], [[Livro de Ageu|Ageu]], [[Livro de Zacarias|Zacarias]]'' e [[Livro de Malaquias|''Malaquias'']].<ref name="BIBLIA">Bíblia On Line (http://www.bibliaon.com/)</ref>
Os livros do Antigo Testamento aceitos por todos os cristãos como sagrados (chamados [[livros protocanônicos|protocanônicos]] pela Igreja Católica) são: ''[[Gênesis]], [[Livro do Êxodo|Êxodo]], [[Levítico]], [[Livro dos Números|Números]], [[Deuteronômio]], [[Livro de Josué|Josué]], [[Livro dos Juízes|Juízes]], [[Livro de Rute|Rute]], [[I Samuel]], [[II Samuel]], [[I Reis]], [[II Reis]], [[I Crônicas]], [[II Crônicas]], [[Livro de Esdras|Esdras]], [[Livro de Neemias|Neemias]],  [[Livro de Ester|Ester]], [[Livro de Jó|Jó]], [[Livro dos Salmos|Salmos]], [[Livro dos Provérbios|Provérbios]], [[Eclesiastes]], [[Cânticos dos Cânticos]], [[Livro de Isaías|Isaías]], [[Livro de Jeremias|Jeremias]], [[Lamentações]],  [[Livro de Ezequiel|Ezequiel]], [[Livro de Daniel|Daniel]], [[Livro de Oseias|Oseias]], [[Livro de Joel|Joel]], [[Livro de Amós|Amós]], [[Livro de Obadias|Obadias]], [[Livro de Jonas|Jonas]], [[Livro de Miqueias|Miqueias]], [[Livro de Naum|Naum]], [[Livro de Habacuque|Habacuque]], [[Livro de Sofonias|Sofonias]], [[Livro de Ageu|Ageu]], [[Livro de Zacarias|Zacarias]]'' e [[Livro de Malaquias|''Malaquias'']].<ref name="BIBLIA">Bíblia On Line (http://www.bibliaon.com/)</ref>


Os [[Livros deuterocanônicos|deuterocanônicos]], aceitos pela Igreja Católica como sagrados são: ''[[Livro de Tobias|Tobias]], [[Livro de Judite|Judite]], [[I Macabeus]], [[II Macabeus]], [[Livro da Sabedoria|Sabedoria]], [[Eclesiástico]]'' e [[Livro de Baruque|''Baruque'']]. Estes estão disponíveis na tradução grega do Antigo Testamento, datada do Século I AEC, a [[Septuaginta]].
Os [[Livros deuterocanônicos|deuterocanônicos]], aceitos pela Igreja Católica como sagrados são: ''[[Livro de Tobias|Tobias]], [[Livro de Judite|Judite]], [[I Macabeus]], [[II Macabeus]], [[Livro da Sabedoria|Sabedoria]], [[Eclesiástico]]'' e [[Livro de Baruque|''Baruque'']]. Estes estão disponíveis na tradução grega do Antigo Testamento, datada do Século I AC, a [[Septuaginta]].


Segundo a visão protestante, os textos deuterocanônicos (chamados "[[Livros apócrifos]]" pelos protestantes) foram, supostamente, escritos entre ''Malaquias'' e o Novo Testamento, numa época em que segundo o historiador judeu [[Flávio Josefo]], a Revelação Divina havia cessado porque a sucessão dos [[profeta]]s era inexistente ou imprecisa (''ver: [[Testimonium Flavianum]]''). O parecer de Josefo não é aceito pelos cristãos católicos, [[Igreja Ortodoxa |ortodoxos]] e por alguns protestantes, e igualmente pensam assim uma maioria judaica não [[Fariseu|farisaica]], porque Jesus afirma que durou até [[João Batista]], "''A lei e os profetas duraram até João''" (cf. {{Citar bíblia|livro=Lucas |capítulo=16|verso=16}}; ''{{Citar bíblia|livro=Mateus|capítulo=11|verso=13}}'').<ref name="BIBLIA"/>
Segundo a visão protestante, os textos deuterocanônicos (chamados "[[Livros apócrifos]]" pelos protestantes) foram, supostamente, escritos entre ''Malaquias'' e o Novo Testamento, numa época em que segundo o historiador judeu [[Flávio Josefo]], a Revelação Divina havia cessado porque a sucessão dos [[profeta]]s era inexistente ou imprecisa (''ver: [[Testimonium Flavianum]]''). O parecer de Josefo não é aceito pelos cristãos católicos, [[Igreja Ortodoxa |ortodoxos]] e por alguns protestantes, e igualmente pensam assim uma maioria judaica não [[Fariseu|farisaica]], porque Jesus afirma que durou até [[João Batista]], "''A lei e os profetas duraram até João''" (cf. {{Citar bíblia|livro=Lucas |capítulo=16|verso=16}}; ''{{Citar bíblia|livro=Mateus|capítulo=11|verso=13}}'').<ref name="BIBLIA"/>
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As respectivas expressões "antiga aliança" e "nova aliança" passaram a designar a coleção dos escritos que contém os [[documento]]s respectivamente da primeira e da segunda aliança. As denominações "Antigo Testamento" e "Novo Testamento", para as duas coleções dos livros sagrados, começaram a ser usadas no final do [[século II]], quando os evangelhos e outros escritos apostólicos foram considerados como parte do cânon sagrado. O termo "testamento" surgiu através do [[latim]], quando a primeira versão latina do Antigo Testamento grego traduziu ''diatheke'' por ''testamentum'' . [[Jerônimo de Estridão]], revisando esta versão latina, manteve a palavra ''testamentum'', equivalendo ao hebraico ''berith'' — "aliança", "concerto", quando a palavra não tinha essa significação no grego (''ver: [[Vulgata]]''). Afirmam alguns pesquisadores que a palavra grega para "contrato", "aliança" deveria ser ''suntheke'', por traduzir melhor o hebraico ''berith''.<ref name="apolinario" /><ref>{{citar livro|título=Teologia Sistemática|autor=[[Louis Berkhof]]|isbn= 9788576222590}}</ref>
As respectivas expressões "antiga aliança" e "nova aliança" passaram a designar a coleção dos escritos que contém os [[documento]]s respectivamente da primeira e da segunda aliança. As denominações "Antigo Testamento" e "Novo Testamento", para as duas coleções dos livros sagrados, começaram a ser usadas no final do [[século II]], quando os evangelhos e outros escritos apostólicos foram considerados como parte do cânon sagrado. O termo "testamento" surgiu através do [[latim]], quando a primeira versão latina do Antigo Testamento grego traduziu ''diatheke'' por ''testamentum'' . [[Jerônimo de Estridão]], revisando esta versão latina, manteve a palavra ''testamentum'', equivalendo ao hebraico ''berith'' — "aliança", "concerto", quando a palavra não tinha essa significação no grego (''ver: [[Vulgata]]''). Afirmam alguns pesquisadores que a palavra grega para "contrato", "aliança" deveria ser ''suntheke'', por traduzir melhor o hebraico ''berith''.<ref name="apolinario" /><ref>{{citar livro|título=Teologia Sistemática|autor=[[Louis Berkhof]]|isbn= 9788576222590}}</ref>


== Traduções ==
== Versões e traduções ==
 
{{Principal|Tradução da Bíblia}}
{{Principal|Tradução da Bíblia}}


[[Ficheiro:Genesis in a Tamil bible from 1723.jpg|thumbnail|Livro do ''Gênesis'', ''Bíblia'' em [[língua tâmil|tâmil]] de 1723]]
[[Ficheiro:Genesis in a Tamil bible from 1723.jpg|thumbnail|upright|Livro do ''Gênesis'', ''Bíblia'' em [[língua tâmil|tâmil]] de 1723]]


[[Eusébio Sofrônio Jerônimo]] (conhecido como São Jerônimo pelos católicos) traduziu a Bíblia diretamente do hebraico, [[aramaico]] e grego para o latim, criando a [[Vulgata]].<ref>{{citar web |url=http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=951 |título=A Igreja na Idade Média |acessodata=30 de março de 2011 |publicado=[[Historianet]] |citação=Eusébio Jerônimo, dálmata, conhecido como São Jerônimo que traduziu a Bíblia diretamente do hebraico, aramaico e grego para o latim. Esta versão é a célebre Vulgata, cuja autenticidade foi declara pelo Concílio de Trento.}}</ref><ref name="História Net">{{citar web |url=http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=951 |título=A Igreja na Idade Média |acessodata=4 de junho de 2011 |publicado=[[HistoriaNet]] |citação=Os principais Padres do Ocidente são: [...] Eusébio Jerônimo, dálmata, conhecido como São Jerônimo que traduziu a Bíblia diretamente do hebraico, aramaico e grego para o latim. Esta versão é a célebre Vulgata, cuja autenticidade foi declara pelo Concílio de Trento. }}</ref> No [[Concílio de Trento]] em 1542, essa tradução foi estabelecida como versão oficial da Bíblia para a Igreja Católica (vide [[Cânone de Trento]]).<ref>{{citar web |url=http://www.brasilescola.com/historiag/contra-reforma.htm |título=Reforma Protestante - Contra-reforma |acessodata=31 de março de 2011 |publicado=[[Brasil escola]] |citação=Em 1542, o Concílio de Trento, uma reunião dos principais líderes da Igreja organizada pelo papa Paulo III, [...] . No Concílio de Trento estabeleceu-se [...] . Além disso, a Vulgata foi estabelecida como versão oficial da Bíblia Sagrada, [...].}}</ref><ref name="História Net"/>
As diversas igrejas cristãs possuem algumas divergências quanto aos seus [[cânone]]s sagrados,<ref group="nota" name="CANON">Veja por exemplo em {{1913CE|Canon of the New Testament}}. Para uma discussão mais aprofundada, veja o artigo [[Cânon bíblico]]</ref> inclusive entre protestantes.<ref group="nota" name="CANON"/> A [[Igreja Católica]] possui 46 livros no Antigo Testamento como parte de seu cânone bíblico.<ref name=CAN1>{{citar web| url = http://www.catholicculture.org/culture/library/dictionary/index.cfm?id=32167| título = Cânone Católico| língua = inglês| publicado = Catholic Culture|acessodata=16-04-2011}}</ref> Os livros de ''[[Livro de Tobias]], [[Livro de Judite|Judite]], [[Sabedoria]], [[Eclesiástico]], [[Baruc|Baruque]], [[I Macabeus]]'' e ''[[II Macabeus]]'' e as chamadas [[Adições em Ester|Adições em ''Ester'']] e [[Adições em Daniel|Adições em ''Daniel'']]) são considerados "[[deuterocanônicos]]" (ou "do segundo cânon") pela Igreja Católica.<ref>{{1913CE|Canon of the Old Testament}}</ref> Além disso, existem 27 livros no Novo Testamento.<ref name=CAN1/>


Em meados do {{séc|XIV}} o teólogo [[John Wyclif]] realizou a tradução da Bíblia para o inglês.<ref>{{citar web |url=http://www.brasilescola.com/historiag/reforma.htm |título=Reforma Protestante - Anglicanismo |acessodata=31 de março de 2011 |publicado=[[Brasil escola]] |citação=Desde meados do século XIV, o teólogo John Wyclif realizou duras críticas ao poder material da Igreja e fez a tradução da Bíblia para o inglês. }}</ref> Após a [[Reforma Protestante]] a Bíblia recebeu traduções para diversas línguas e passou a ser distribuída sem restrições para as pessoas.<ref>{{citar web |url=http://www.brasilescola.com/religiao/protestantismo.htm |título=Protestantismo |acessodata=31 de março de 2011 |publicado=[[Brasil escola]] |citação=Por esse motivo, a partir da Reforma Protestante, a Bíblia foi traduzida para diversas línguas e distribuída sem restrições para as pessoas.}}</ref>
As [[Igreja Ortodoxa|igrejas cristãs ortodoxas]] e as outras [[Cristianismo oriental|igrejas orientais]], aceitam, além de todos estes já citados, outros dois livros de Esdras, outros dois dos [[Livros dos Macabeus |Macabeus]], a ''[[Oração de Manassés]]'', e alguns capítulos a mais no final do ''[[livro dos Salmos]]'' (um nas ''Bíblias'' das igrejas de tradição [[Igreja Ortodoxa Grega|grega]], [[Igreja Ortodoxa Copta|cóptica]], [[Igreja Ortodoxa Russa|eslava]] e [[Rito bizantino|bizantina]], e cinco nas ''Bíblias'' das igrejas de tradição [[Igreja Ortodoxa Síria|siríaca]]).
 
[[Martinho Lutero]] traduziu a Bíblia para a [[língua alemã]]<ref>{{citar web |url=http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=918 |título=Reforma Religiosa |acessodata=5 de junho de 2011 |publicado=[[HistoriaNet]] |citação=Lutero foi excomungado em 1520. Ele queima publicamente a carta do papa (Bula papal), traduz a Bíblia para o Alemão, [...]. }}</ref> enquanto estava escondido em [[Wittenberg]] do papa [[Papa Leão X|Leão X]], que queria fazer um "julgamento" após a publicação das [[95 Teses]].<ref name="Historia Net" />


A grande fonte hebraica para o Antigo Testamento é o chamado [[Texto Massorético]]. Trata-se do texto hebraico fixado ao longo dos séculos por escolas de [[copista]]s, chamados [[massoretas]], que tinham como particularidade um escrúpulo rigoroso na fidelidade da cópia ao original. O trabalho dos [[massoretas]], de cópia e também de vocalização do texto hebraico (que não tem vogais, e que, por esse motivo, ao tornar-se língua morta, necessitou de as indicar por meio de sinais), prolongou-se até ao  Século VIII d.C. Pela grande seriedade deste trabalho, e por ter sido feito ao longo de séculos, o [[texto massorético]] (sigla TM) é considerado a fonte mais autorizada para o texto hebraico bíblico original.<ref name="MASOR">[[Nahum M. Sarna]] and [[S. David Sperling]] (2006), [http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/judaica/ejud_0002_0003_0_02930.html#TEXT Text], in Bible, ''[[Encyclopaedia Judaica]]'' 2nd ed.; via [[Jewish Virtual Library]]</ref>
A grande fonte hebraica para o Antigo Testamento é o chamado [[Texto Massorético]]. Trata-se do texto hebraico fixado ao longo dos séculos por escolas de [[copista]]s, chamados [[massoretas]], que tinham como particularidade um escrúpulo rigoroso na fidelidade da cópia ao original. O trabalho dos [[massoretas]], de cópia e também de vocalização do texto hebraico (que não tem vogais, e que, por esse motivo, ao tornar-se língua morta, necessitou de as indicar por meio de sinais), prolongou-se até ao  Século VIII d.C. Pela grande seriedade deste trabalho, e por ter sido feito ao longo de séculos, o [[texto massorético]] (sigla TM) é considerado a fonte mais autorizada para o texto hebraico bíblico original.<ref name="MASOR">[[Nahum M. Sarna]] and [[S. David Sperling]] (2006), [http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/judaica/ejud_0002_0003_0_02930.html#TEXT Text], in Bible, ''[[Encyclopaedia Judaica]]'' 2nd ed.; via [[Jewish Virtual Library]]</ref>
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No entanto, outras versões do Antigo Testamento têm importância, e permitem suprir as deficiências do [[Texto Massorético]]. É o caso do [[Pentateuco Samaritano]] (os [[samaritanos]] que eram uma comunidade étnica e religiosa separada dos judeus, que tinham culto e templo próprios, e que só aceitavam como livros sagrados os do [[Pentateuco]]), e principalmente a [[Septuaginta]] grega (sigla LXX).<ref>[http://jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=110&letter=S&search=Samaritan%20Torah#437 Jewish Encyclopedia: Samaritans: Samaritan Version on the Pentateuch]</ref>
No entanto, outras versões do Antigo Testamento têm importância, e permitem suprir as deficiências do [[Texto Massorético]]. É o caso do [[Pentateuco Samaritano]] (os [[samaritanos]] que eram uma comunidade étnica e religiosa separada dos judeus, que tinham culto e templo próprios, e que só aceitavam como livros sagrados os do [[Pentateuco]]), e principalmente a [[Septuaginta]] grega (sigla LXX).<ref>[http://jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=110&letter=S&search=Samaritan%20Torah#437 Jewish Encyclopedia: Samaritans: Samaritan Version on the Pentateuch]</ref>


A Versão dos Setenta ou Septuaginta grega, designa a tradução grega do Antigo Testamento, elaborada entre os séculos IV e I AEC, feita em [[Alexandria]], no [[Egito]]. O seu nome deve-se à [[lenda]] que dizia ter sido essa tradução um resultado milagroso do trabalho de 70 [[erudito]]s judeus, e que pretende exprimir que não só o texto, mas também a tradução, fora inspirada por Deus. A Septuaginta grega é a mais antiga versão do Antigo Testamento que conhecemos. A sua grande importância provém também do facto de ter sido essa a versão da ''Bíblia'' utilizada entre os cristãos, desde o início, versão que continha os [[deuterocanônicos]], e a que é de maior citação do Novo Testamento, mais do que o Texto Massorético.<ref name="Jobes and Silva">{{citar livro |autor=Karen H. Jobes e Moises Silva |coautor= |título=Invitation to the Septuagint |ano=2001 |editora=Paternoster Press |citação= | url=http://books.google.com/books?id=OysSAQAAIAAJ&q |isbn=1-84227-061-3| língua = inglês }}</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=owd9zig7i1oC&pg=PA363 Life after death: a history of the afterlife in the religions of the West], [[Alan F. Segal]], p.363 {{en}}</ref>
A Versão dos Setenta ou Septuaginta grega, designa a tradução grega do Antigo Testamento, elaborada entre os séculos IV e I AC, feita em [[Alexandria]], no [[Egito]]. O seu nome deve-se à [[lenda]] que dizia ter sido essa tradução um resultado milagroso do trabalho de 70 [[erudito]]s judeus, e que pretende exprimir que não só o texto, mas também a tradução, fora inspirada por Deus. A Septuaginta grega é a mais antiga versão do Antigo Testamento que conhecemos. A sua grande importância provém também do facto de ter sido essa a versão da ''Bíblia'' utilizada entre os cristãos, desde o início, versão que continha os [[deuterocanônicos]], e a que é de maior citação do Novo Testamento, mais do que o Texto Massorético.<ref name="Jobes and Silva">{{citar livro |autor=Karen H. Jobes e Moises Silva |coautor= |título=Invitation to the Septuagint |ano=2001 |editora=Paternoster Press |citação= | url=http://books.google.com/books?id=OysSAQAAIAAJ&q |isbn=1-84227-061-3| língua = inglês }}</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=owd9zig7i1oC&pg=PA363 Life after death: a history of the afterlife in the religions of the West], [[Alan F. Segal]], p.363 {{en}}</ref>


A [[Igreja Católica]] considera como oficiais 73 livros bíblicos (46 do Antigo Testamento e 27 do Novo), sendo 7 livros a mais no Antigo Testamento do que das demais religiões cristãs e pelo [[judaísmo]].<ref name="infoescola">{{citar web |url=http://www.infoescola.com/religiao/biblia/ |título=Bíblia |acessodata=15 de abril de 2011 |data=26 de fevereiro de 2008 |publicado=[[Infoescola]] |citação=A Bíblia  é um dos livros sagrados da Humanidade, a interpretação religiosa da jornada humana pela Terra, do ponto de vista do povo judeu, narrada pelo próprio Homem, mas segundo a Igreja inspirada diretamente por Deus. [...] Ela deriva do grego Bíblos ou bíblion, significando ‘rolo’ ou ‘livro’. [...] A palavra ‘Bíblia’ foi adotada pelo cristianismo a partir do ano 200 d.C. [...] A Igreja Católica Apostólica Romana determinou como oficiais 73 livros bíblicos, 46 integrantes do Antigo Testamento e 27 do Novo. A Bíblia Católica tem sete livros a mais no Velho Testamento do que as versões adotadas por outras religiões cristãs e pelo Judaísmo [...] Originalmente a Bíblia não era dividida em capítulos e versículos. Os capítulos foram criados pelo Professor Stephen Langton, em 1227 d.C [...]. Em 1551 Robert Stephanus percebeu que era fundamental implementar subdivisões nesta obra, e assim elaborou os versículos. [...] Somente em 1748 d.C. surgiu uma edição bíblica na língua portuguesa, a partir da Vulgata Latina.}}</ref> Já a ''Bíblia'' usada pela [[Igreja Ortodoxa]] contém 78 livros, 5 a mais que a católica e 12 a mais que a protestante.<ref>{{ro}}[http://www.bibliaortodoxa.ro/ bibliaortodoxa.ro]</ref>
A [[Igreja Católica]] considera como oficiais 73 livros bíblicos (46 do Antigo Testamento e 27 do Novo), sendo 7 livros a mais no Antigo Testamento do que das demais religiões cristãs e pelo [[judaísmo]]. Já a ''Bíblia'' usada pela [[Igreja Ortodoxa]] contém 78 livros, 5 a mais que a católica e 12 a mais que a protestante.<ref>{{ro}}[http://www.bibliaortodoxa.ro/ bibliaortodoxa.ro]</ref>
 
===Número de traduções===
 
De acordo com as [[Sociedades Bíblicas Unidas]], a ''Bíblia'' já foi traduzida, até 31 de dezembro de 2007, para pelo menos {{fmtn|2454}} línguas e dialetos.<ref name="ubs">{{citar web| url=http://www.ubs-translations.org/about_us/| título=Sumário estatístico de idiomas com traduções das  Escrituras| publicado=Sociedades Bíblicas Unidas| acessodata=27 de março de 2009| língua=inglês}}</ref> (''ver: [[Traduções da Bíblia em línguas indígenas do Brasil]]'').


===Mundo lusófono===
===Mundo lusófono===
{{Principal|Tradução Brasileira|Traduções da Bíblia em língua portuguesa}}
{{Principal|Tradução Brasileira|Traduções da Bíblia em língua portuguesa}}
A primeira versão portuguesa da ''Bíblia'' surgiu em 1681, a partir das línguas originais, traduzida para o português por [[João Ferreira de Almeida]]. Almeida faleceu antes de concluir o trabalho, que foi finalizado por colaboradores da [[Igreja Reformada Holandesa|Igreja Reformada]] holandesa, e a versão completa com o Antigo Testamento foi publicada no início de 1750.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=YFY7DwAAQBAJ&pg=PT115|título=Introdução à interpretação bíblica|ultimo=Jr|primeiro=Robert L. Hubbard|ultimo2=Blomberg|primeiro2=Craig L.|ultimo3=Klein|primeiro3=William W.|data=2017-11-01|editora=Thomas Nelson Brasil|lingua=pt-BR}}</ref>
A primeira versão portuguesa da ''Bíblia'' surgiu em 1681, a partir das línguas originais, traduzida para o português por [[João Ferreira de Almeida]]. Almeida faleceu antes de concluir o trabalho, que foi finalizado por colaboradores da [[Igreja Reformada Holandesa|Igreja Reformada]] holandesa, e a versão completa com o Antigo Testamento foi publicada no início de 1750.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=YFY7DwAAQBAJ&pg=PT115|título=Introdução à interpretação bíblica|ultimo=Jr|primeiro=Robert L. Hubbard|ultimo2=Blomberg|primeiro2=Craig L.|ultimo3=Klein|primeiro3=William W.|data=2017-11-01|editora=Thomas Nelson Brasil|lingua=pt-BR}}</ref>


== Versões ==
=== Religiões ===
 
[[Ficheiro:Gutenberg Bible.jpg|thumb|180px|esquerda|Cópia da [[Bíblia de Gutenberg]], de propriedade do [[Congresso dos Estados Unidos]]]]
 
As diversas igrejas cristãs possuem algumas divergências quanto aos seus [[cânone]]s sagrados,<ref group="nota" name="CANON">Veja por exemplo em {{1913CE|Canon of the New Testament}}. Para uma discussão mais aprofundada, veja o artigo [[Cânon bíblico]]</ref> inclusive entre protestantes.<ref group="nota" name="CANON"/>
 
A [[Igreja Católica]] possui 46 livros no Antigo Testamento como parte de seu cânone bíblico.<ref name=CAN1>{{citar web| url = http://www.catholicculture.org/culture/library/dictionary/index.cfm?id=32167| título = Cânone Católico| língua = inglês| publicado = Catholic Culture|acessodata=16-04-2011}}</ref> Os livros de ''[[Livro de Tobias]], [[Livro de Judite|Judite]], [[Sabedoria]], [[Eclesiástico]], [[Baruc|Baruque]], [[I Macabeus]]'' e ''[[II Macabeus]]'' e as chamadas [[Adições em Ester|Adições em ''Ester'']] e [[Adições em Daniel|Adições em ''Daniel'']]) são considerados "[[deuterocanônicos]]" (ou "do segundo cânon") pela Igreja Católica.<ref>{{1913CE|Canon of the Old Testament}}</ref> Além disso, existem 27 livros no Novo Testamento.<ref name=CAN1/>
 
As [[Igreja Ortodoxa|igrejas cristãs ortodoxas]] e as outras [[Cristianismo oriental|igrejas orientais]], aceitam, além de todos estes já citados, outros dois livros de Esdras, outros dois dos [[Livros dos Macabeus |Macabeus]], a ''[[Oração de Manassés]]'', e alguns capítulos a mais no final do ''[[livro dos Salmos]]'' (um nas ''Bíblias'' das igrejas de tradição [[Igreja Ortodoxa Grega|grega]], [[Igreja Ortodoxa Copta|cóptica]], [[Igreja Ortodoxa Russa|eslava]] e [[Rito bizantino|bizantina]], e cinco nas ''Bíblias'' das igrejas de tradição [[Igreja Ortodoxa Síria|siríaca]]).<ref group="nota">Veja por exemplo, {{citar livro| título = The Canon of the Bible| nome = Larry A| sobrenome = Taylor| url = The Canon of the Bible| ano = 1999| língua = inglês}}. O artigo {{Iwlink|en|Biblical canon}} da Wikipedia em inglês contém uma tabela com as diferenças entre as diversas denominações cristãs.</ref>
 
== Religiões ==


Os [[judaísmo|judeus]] têm o [[Pentateuco]] (''[[Gênesis]], [[Livro do Êxodo|Êxodo]], [[Levítico]], [[Livro dos Números|Números]], [[Deuteronômio]]'') como seu mais importante livro sagrado, o qual chamam de ''[[Torá]]''. O restante do Antigo Testamento de acordo com a tradição protestante são chamados de [[Nevi'im]] e [[Ketuvim]], coletivamente com a ''Torá'' chamados de ''[[Tanakh]]''.<ref>[http://www.dictionary.com/browse/tanach Dictionary.com: Tanach]</ref> Os [[samaritanos]], cuja fé se originou em uma antiga divisão no seio de Israel, usam apenas a ''Torá''. A [[fé bahá'i]] tem tanto a ''Bíblia'' quanto o ''Alcorão'' como livros sagrados, além de seu livro particular, o ''[[Kitáb-i-Aqdas]]''.
Os [[judaísmo|judeus]] têm o [[Pentateuco]] (''[[Gênesis]], [[Livro do Êxodo|Êxodo]], [[Levítico]], [[Livro dos Números|Números]], [[Deuteronômio]]'') como seu mais importante livro sagrado, o qual chamam de ''[[Torá]]''. O restante do Antigo Testamento de acordo com a tradição protestante são chamados de [[Nevi'im]] e [[Ketuvim]], coletivamente com a ''Torá'' chamados de ''[[Tanakh]]''.<ref>[http://www.dictionary.com/browse/tanach Dictionary.com: Tanach]</ref> Os [[samaritanos]], cuja fé se originou em uma antiga divisão no seio de Israel, usam apenas a ''Torá''. A [[fé bahá'i]] tem tanto a ''Bíblia'' quanto o ''Alcorão'' como livros sagrados, além de seu livro particular, o ''[[Kitáb-i-Aqdas]]''.
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Os [[Espíritas]] consideram a Primeira Aliança como um livro histórico, e têm sua doutrina, seus princípios morais, fundamentada em [[Evangelho segundo o Espiritismo|''O Evangelho segundo o Espiritismo'']], que alegam ser uma terceira revelação, superando o Antigo e o Novo Testamentos, que creem ser, respectivamente, a revelação da lei por [[Moisés]] e a da graça por [[Jesus Cristo]].<ref>{{citar livro |ultimo=Allan Kardec |titulo=O Evangelho Segundo o Espiritismo |url= http://febnet.org.br/wp-content/themes/portalfeb-grid/obras/evangelho-guillon.pdf |editora=FEB Editora |isbn=978-85-7328-730-1}}</ref>
Os [[Espíritas]] consideram a Primeira Aliança como um livro histórico, e têm sua doutrina, seus princípios morais, fundamentada em [[Evangelho segundo o Espiritismo|''O Evangelho segundo o Espiritismo'']], que alegam ser uma terceira revelação, superando o Antigo e o Novo Testamentos, que creem ser, respectivamente, a revelação da lei por [[Moisés]] e a da graça por [[Jesus Cristo]].<ref>{{citar livro |ultimo=Allan Kardec |titulo=O Evangelho Segundo o Espiritismo |url= http://febnet.org.br/wp-content/themes/portalfeb-grid/obras/evangelho-guillon.pdf |editora=FEB Editora |isbn=978-85-7328-730-1}}</ref>


==Erros e adulterações==
===Erros e adulterações===
{{parcialcontroverso|data=outubro de 2020}}
{{parcialcontroverso|data=outubro de 2020}}
No {{séc|XIII}}, diversos estudiosos, especialmente de [[Ordem dos Pregadores|ordens dominicanas]] e [[Ordem dos Frades Menores|franciscanas]], como [[Roger Bacon]], denunciavam erros e buscavam corrigir (através de pesquisas em textos [[língua hebraica|hebraicos]] e [[língua grega|grego]]s) as traduções usadas nas cópias em [[latim]] mais populares da época, chamadas "Bíblias de Paris".<ref>{{citar livro|título=The Practice of the Bible in the Middle Ages|subtítulo=Production, Reception, & Performance in Western Christianity|autor=Susan Boynton|editora=Columbia University Press|página=188-190|isbn= 9780231148276}}</ref> Com as descobertas da [[biblioteca de Nag Hammadi]] e dos Manuscritos do Mar Morto (ou [[Qumram]]), no {{séc|XX}}, essas dúvidas dissiparam-se e, com o advento das técnicas de crítica textual, hoje a ''Bíblia'' está disponível com pelo menos 99% de fidelidade aos originais; sendo que a maioria das discrepâncias presentes nos outros 1% dos trechos são de natureza trivial, i. e., sem relevância.<ref name = "William Lane Craig: adulterações">{{citar web | url = http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/e-possivel-acreditar-em-deus-usando-a-razao-afirma-william-lane-craig | título= É possível acreditar em Deus usando a razão |acessodata= 24 de julho de 2012 | citação = Os textos da Bíblia passaram por diversas revisões ao longo do tempo. Como podemos ter certeza de que as informações às quais temos acesso hoje são as mesmas escritas há 2.000 anos? Além disso, como lidar com o fato de que informações podem ser perdidas durante a tradução? Você tem razão quanto a variedade de revisões e traduções. Por isso, é imperativo voltar às línguas originais nas quais esses textos foram escritos. Hoje, os críticos textuais comparam diferentes manuscritos antigos de modo a reconstruir o que os originais diziam. O Novo Testamento é o livro mais atestado da história antiga, seja em termos de manuscritos encontrados ou em termos de quão próximos eles estão da data original de escrita. Os textos já foram reconstruídos com 99% de precisão em relação aos originais. As incertezas que restam são trivialidades. Por exemplo, na Primeira Epístola de João, ele diz: “Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra”. Mas alguns manuscritos dizem: “Estas coisas vos escrevemos, para que o nosso gozo se cumpra”. Não temos certeza se o texto original diz ‘vosso’ ou ‘nosso’. Isso ilustra como esse 1% de incerteza é trivial. Alguém que realmente queira entender os textos deverá aprender grego, a língua original em que o Novo Testamento foi escrito. Contudo, as pessoas também podem comprar diferentes traduções e compará-las para perceber como o texto se comporta em diferentes versões.}} </ref>
No {{séc|XIII}}, diversos estudiosos, especialmente de [[Ordem dos Pregadores|ordens dominicanas]] e [[Ordem dos Frades Menores|franciscanas]], como [[Roger Bacon]], denunciavam erros e buscavam corrigir (através de pesquisas em textos [[língua hebraica|hebraicos]] e [[língua grega|grego]]s) as traduções usadas nas cópias em [[latim]] mais populares da época, chamadas "Bíblias de Paris".<ref>{{citar livro|título=The Practice of the Bible in the Middle Ages|subtítulo=Production, Reception, & Performance in Western Christianity|autor=Susan Boynton|editora=Columbia University Press|página=188-190|isbn= 9780231148276}}</ref> Com as descobertas da [[biblioteca de Nag Hammadi]] e dos Manuscritos do Mar Morto (ou [[Qumram]]), no {{séc|XX}}, essas dúvidas dissiparam-se e, com o advento das técnicas de crítica textual, hoje a ''Bíblia'' está disponível com pelo menos 99% de fidelidade aos originais; sendo que a maioria das discrepâncias presentes nos outros 1% dos trechos são de natureza trivial, i. e., sem relevância.<ref name = "William Lane Craig: adulterações">{{citar web | url = http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/e-possivel-acreditar-em-deus-usando-a-razao-afirma-william-lane-craig | título= É possível acreditar em Deus usando a razão |acessodata= 24 de julho de 2012 | citação = Os textos da Bíblia passaram por diversas revisões ao longo do tempo. Como podemos ter certeza de que as informações às quais temos acesso hoje são as mesmas escritas há 2.000 anos? Além disso, como lidar com o fato de que informações podem ser perdidas durante a tradução? Você tem razão quanto a variedade de revisões e traduções. Por isso, é imperativo voltar às línguas originais nas quais esses textos foram escritos. Hoje, os críticos textuais comparam diferentes manuscritos antigos de modo a reconstruir o que os originais diziam. O Novo Testamento é o livro mais atestado da história antiga, seja em termos de manuscritos encontrados ou em termos de quão próximos eles estão da data original de escrita. Os textos já foram reconstruídos com 99% de precisão em relação aos originais. As incertezas que restam são trivialidades. Por exemplo, na Primeira Epístola de João, ele diz: “Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra”. Mas alguns manuscritos dizem: “Estas coisas vos escrevemos, para que o nosso gozo se cumpra”. Não temos certeza se o texto original diz ‘vosso’ ou ‘nosso’. Isso ilustra como esse 1% de incerteza é trivial. Alguém que realmente queira entender os textos deverá aprender grego, a língua original em que o Novo Testamento foi escrito. Contudo, as pessoas também podem comprar diferentes traduções e compará-las para perceber como o texto se comporta em diferentes versões.}} </ref>
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Segundo alguns estudiosos, em maioria de origem nas [[Testemunhas de Jeová]], um erro de tradução da ''Bíblia'' seria o de tomar ''σταυρός'' ([[transliteração|transliterado]] ''stavrós'') como [[cruz]], e baseando-se nisto, dizer que [[Jesus]] foi pregado em uma [[cruz]] ao invés de uma [[estaca de tortura]] que significa simplesmente um ''madeiro'',<ref name="Nortão" /> pois na época da morte de Jesus, o significado da palavra abrangia apenas uma só estaca ou madeiro.<ref name="Nortão">{{citar web |url=http://biblias2.com/a-cruz-de-cristo.html |título=A cruz de Cristo |acessodata=11 de novembro de 2011 |data=4 de novembro de 2011 |publicado=O Nortão |citação=Outro erro refere-se à cruz. Afirma-se que a [[cruz]] é um símbolo [[pagão]] e que Jesus teria sido pregado em uma estaca e com as mãos transpassadas por um só prego, por isto escolhendo traduzir ''σταυρός'' como "estaca". Originalmente, “staurós” significava poste, conforme se pode ver em [[Homero]], [[Hesíquio de Alexandria]] e outros. Porém, passou a significar duas traves (uma vertical e outra horizontal) atravessada uma na outra. E tanto os escritores pagãos como os cristãos nos apresentam a cruz no tempo de Cristo usada para punir os [[criminoso]]s: havia uma trave vertical chamada “stipes” ou “staticulum”, e uma outra dita “patibulum”, que era fixada à anterior em sentido horizontal. O [[réu]] era preso à trave horizontal com os braços abertos e depois fixo ao poste vertical.}}</ref> Este posicionamento, no entanto, é rechaçado por outras denominações, que apontam a polissemia da palavra ''σταυρός'' e o antigo testemunho de patrísticos como [[Justino Mártir]],<ref>[http://www.ccel.org/ccel/schaff/anf01.viii.iv.xl.html Diálogo com Trifão, 40]: ''That lamb which was commanded to be wholly roasted was a symbol of the suffering of the cross which Christ would undergo. For the lamb, which is roasted, is roasted and dressed up in the form of the cross. For one spit is transfixed right through from the lower parts up to the head, and one across the back, to which are attached the legs of the lamb.''</ref> [[Irineu de Lyon]]<ref>[http://www.newadvent.org/fathers/0103224.htm ''Contra as Heresias'' 2:14:4]: ''The very form of the cross, too, has five extremities, two in length, two in breadth, and one in the middle, on which [last] the person rests who is fixed by the nails.''</ref> e [[Hipólito de Roma]].<ref>[http://biblehub.com/library/hippolytus/the_extant_works_and_fragments_of_hippolytus/iii_quoted_in_jerome_epist.htm Ad Damasum, 18]</ref>
Segundo alguns estudiosos, em maioria de origem nas [[Testemunhas de Jeová]], um erro de tradução da ''Bíblia'' seria o de tomar ''σταυρός'' ([[transliteração|transliterado]] ''stavrós'') como [[cruz]], e baseando-se nisto, dizer que [[Jesus]] foi pregado em uma [[cruz]] ao invés de uma [[estaca de tortura]] que significa simplesmente um ''madeiro'',<ref name="Nortão" /> pois na época da morte de Jesus, o significado da palavra abrangia apenas uma só estaca ou madeiro.<ref name="Nortão">{{citar web |url=http://biblias2.com/a-cruz-de-cristo.html |título=A cruz de Cristo |acessodata=11 de novembro de 2011 |data=4 de novembro de 2011 |publicado=O Nortão |citação=Outro erro refere-se à cruz. Afirma-se que a [[cruz]] é um símbolo [[pagão]] e que Jesus teria sido pregado em uma estaca e com as mãos transpassadas por um só prego, por isto escolhendo traduzir ''σταυρός'' como "estaca". Originalmente, “staurós” significava poste, conforme se pode ver em [[Homero]], [[Hesíquio de Alexandria]] e outros. Porém, passou a significar duas traves (uma vertical e outra horizontal) atravessada uma na outra. E tanto os escritores pagãos como os cristãos nos apresentam a cruz no tempo de Cristo usada para punir os [[criminoso]]s: havia uma trave vertical chamada “stipes” ou “staticulum”, e uma outra dita “patibulum”, que era fixada à anterior em sentido horizontal. O [[réu]] era preso à trave horizontal com os braços abertos e depois fixo ao poste vertical.}}</ref> Este posicionamento, no entanto, é rechaçado por outras denominações, que apontam a polissemia da palavra ''σταυρός'' e o antigo testemunho de patrísticos como [[Justino Mártir]],<ref>[http://www.ccel.org/ccel/schaff/anf01.viii.iv.xl.html Diálogo com Trifão, 40]: ''That lamb which was commanded to be wholly roasted was a symbol of the suffering of the cross which Christ would undergo. For the lamb, which is roasted, is roasted and dressed up in the form of the cross. For one spit is transfixed right through from the lower parts up to the head, and one across the back, to which are attached the legs of the lamb.''</ref> [[Irineu de Lyon]]<ref>[http://www.newadvent.org/fathers/0103224.htm ''Contra as Heresias'' 2:14:4]: ''The very form of the cross, too, has five extremities, two in length, two in breadth, and one in the middle, on which [last] the person rests who is fixed by the nails.''</ref> e [[Hipólito de Roma]].<ref>[http://biblehub.com/library/hippolytus/the_extant_works_and_fragments_of_hippolytus/iii_quoted_in_jerome_epist.htm Ad Damasum, 18]</ref>


==Crítica==
== Influência ==
Com uma tradição literária de dois milênios, a Bíblia tem sido um dos livros mais influentes do mundo.{{Sfn|Riches|2000|p=1}} Das práticas de higiene pessoal à filosofia e ética, a Bíblia influenciou direta e indiretamente a política e o direito, a guerra e a paz, a moral sexual, o casamento e a vida familiar, as letras e o aprendizado, as artes, a economia, a justiça social, os cuidados médicos e mais. De acordo com a edição de março de 2007 da ''[[Time (revista)|Time]]'', a Bíblia "fez mais para moldar a literatura, a história, o entretenimento e a cultura do que qualquer livro já escrito. Sua influência na história mundial é incomparável e não mostra sinais de diminuir." A Bíblia é um dos livros mais publicados do mundo, com vendas totais estimadas em mais de cinco bilhões de cópias.<ref name="WSJ">{{Citar jornal|ultimo=Ryken|primeiro=Leland|url=https://www.wsj.com/articles/SB10001424053111903918104576502782310557332|titulo=How We Got the Best-Selling Book of All Time|acessodata=9 de dezembro de 2015|website=The Wall Street Journal|arquivourl=https://web.archive.org/web/20200508064956/https://www.wsj.com/articles/SB10001424053111903918104576502782310557332|arquivodata=8 de maio de 2020|urlmorta=live}}</ref> Como tal, a Bíblia teve uma profunda influência, especialmente no [[mundo ocidental]], onde a [[Bíblia de Gutenberg]] foi o primeiro livro impresso na Europa usando tipos móveis.<ref>{{Cite magazine |url=http://content.time.com/time/magazine/article/0,9171,1601845,00.html |title=The Case For Teaching The Bible |last=Biema |first=David |date=22 de março de 2007 |magazine=[[Time (magazine)|Time]] |access-date=11 de agosto de 2018 |archive-date=27 de setembro de 2018 |archive-url=https://web.archive.org/web/20180927152109/http://content.time.com/time/magazine/article/0,9171,1601845,00.html |urlmorta=live}}</ref><ref>{{Citar web|url=https://www.bbc.com/news/entertainment-arts-30036581|titulo=The Bible tops 'most influential' book survey|data=13 de novembro de 2014|acessodata=11 de agosto de 2018|website=[[BBC]]|arquivourl=https://web.archive.org/web/20180812052559/https://www.bbc.com/news/entertainment-arts-30036581|arquivodata=12 de agosto de 2018|urlmorta=live}}</ref>


{{Principal|Crítica da Bíblia|Historicidade da Bíblia|Jesus histórico}}
=== Críticas ===
Os críticos veem certos textos bíblicos como moralmente problemáticos. A Bíblia tem conteúdos que são considerados injustos, imorais ou ofensivos por diferentes grupos sociais, produzindo grandes controvérsias. Por exemplo, são criticadas a condenação da [[homossexualidade]] como um pecado e uma abominação;<ref>Follis, Rodrigo & Carmo, Felipe. [https://revistas.unasp.edu.br/kerygma/article/view/140/139 "Homobiblismo: abordagens bíblicas pró-homossexuais?"]. In: ''Revista Kerygma'', 2011; 7 (2): 103–113</ref><ref>Greenough, Chris. [https://theconversation.com/using-the-bible-against-lgbtq-people-is-an-abuse-of-scripture-110128 "Using the Bible against LGBTQ+ people is an abuse of scripture"]. ''The Conversation'', 28/02/2020</ref><ref name="Mayo">Mayo, Laura. [https://www.houstonchronicle.com/lifestyle/houston-belief/article/Stop-using-the-Bible-as-a-weapon-of-hate-against-14048469.php "Stop using the Bible as a weapon of hate against LGBTQ community"]. ''Houston Chronicle'', 25/06/2019</ref> sua orientação [[patriarcal]] e muitas passagens em que a mulher é colocada em posição subalterna, oprimida e submissa;<ref>Giorgi, Alberta. [https://journals.openedition.org/rccs/6371 "Gender, Religion, and Political Agency: Mapping the Field"]. In: ''Revista Crítica de Ciências Sociais'', 2016 (110)</ref><ref>Setzer, Claudia. [https://oxford.universitypressscholarship.com/view/10.1093/acprof:oso/9780190468910.001.0001/acprof-9780190468910-chapter-15 "The Bible and the Legacy of First Wave Feminism"]. In: Goff, Philip; Farnsley, Arthur; Thuesen, Peter (eds.). ''The Bible in American Life''. Oxford University Press, 2017</ref><ref>Wilshire, Leland E. ''Insight Into Two Biblical Passages: Anatomy of a Prohibition I Timothy 2:12, the TLG computer and the Christian church; The servant city, The Servant Songs of Isaiah 40-60 and the fall of Jerusalem in 586 BC/BCE''. University Press of America, 2010, pp. 22-34</ref><ref>Hovhannisyan, Hayk. ''Men and Women in the Ministry for Christ''. West Bow Press, 2014, p. 297</ref> e o uso de trechos selecionados do texto para justificar violência, [[intolerância religiosa]], [[discurso de ódio|discursos de ódio]], [[racismo]], teorias [[supremacismo|supremacistas]], privilégios de classe, manipulação política, campanhas [[colonialismo|colonialistas]], [[genocídio]]s, [[escravidão]] e [[proselitismo]] religioso.<ref name="Mayo"/><ref>Strijdom, Johan. [http://www.scielo.org.za/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0259-94222016000400083 "Violence in the Christian Bible: Assessing Crossan's use of 'violence' as a key analytical concept"]. In: ''HTS Theological Studies'', 2016; 72 (4)</ref><ref>Farisani, Elelwani B. [http://www.scielo.org.za/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1017-04992014000300014 "Interpreting the Bible in the context of apartheid and beyond: An African perspective"]. In: ''Studia Historiae Ecclesiasticae'', 2014; 40 (2)</ref><ref>Kelley, Shawn. [https://brill.com/view/journals/rpbi/1/3/article-p1_1.xml "Genocide, the Bible, and Biblical Scholarship"]. In: ''Brill Research Perspectives in Biblical Interpretation'', 2016; 1 (3): 1-71</ref>


A Bíblia tem conteúdos que são considerados injustos, imorais ou ofensivos por diferentes grupos sociais, produzindo grandes controvérsias. Por exemplo, são criticadas a condenação da [[homossexualidade]] como um pecado e uma abominação;<ref>Follis, Rodrigo & Carmo, Felipe. [https://revistas.unasp.edu.br/kerygma/article/view/140/139 "Homobiblismo: abordagens bíblicas pró-homossexuais?"]. In: ''Revista Kerygma'', 2011; 7 (2): 103–113</ref><ref>Greenough, Chris. [https://theconversation.com/using-the-bible-against-lgbtq-people-is-an-abuse-of-scripture-110128 "Using the Bible against LGBTQ+ people is an abuse of scripture"]. ''The Conversation'', 28/02/2020</ref><ref name="Mayo">Mayo, Laura. [https://www.houstonchronicle.com/lifestyle/houston-belief/article/Stop-using-the-Bible-as-a-weapon-of-hate-against-14048469.php "Stop using the Bible as a weapon of hate against LGBTQ community"]. ''Houston Chronicle'', 25/06/2019</ref> sua orientação [[patriarcal]] e muitas passagens em que a mulher é colocada em posição subalterna, oprimida e submissa;<ref>Giorgi, Alberta. [https://journals.openedition.org/rccs/6371 "Gender, Religion, and Political Agency: Mapping the Field"]. In: ''Revista Crítica de Ciências Sociais'', 2016 (110)</ref><ref>Setzer, Claudia. [https://oxford.universitypressscholarship.com/view/10.1093/acprof:oso/9780190468910.001.0001/acprof-9780190468910-chapter-15 "The Bible and the Legacy of First Wave Feminism"]. In: Goff, Philip; Farnsley, Arthur; Thuesen, Peter (eds.). ''The Bible in American Life''. Oxford University Press, 2017</ref><ref>Wilshire, Leland E. ''Insight Into Two Biblical Passages: Anatomy of a Prohibition I Timothy 2:12, the TLG computer and the Christian church; The servant city, The Servant Songs of Isaiah 40-60 and the fall of Jerusalem in 586 BC/BCE''. University Press of America, 2010, pp. 22-34</ref><ref>Hovhannisyan, Hayk. ''Men and Women in the Ministry for Christ''. West Bow Press, 2014, p. 297</ref> e o uso de trechos selecionados do texto para justificar violência, [[intolerância religiosa]], [[discurso de ódio|discursos de ódio]], [[racismo]], teorias [[supremacismo|supremacistas]], privilégios de classe, manipulação política, campanhas [[colonialismo|colonialistas]], [[genocídio]]s, [[escravidão]] e [[proselitismo]] religioso.<ref name="Mayo"/><ref>Strijdom, Johan. [http://www.scielo.org.za/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0259-94222016000400083 "Violence in the Christian Bible: Assessing Crossan's use of 'violence' as a key analytical concept"]. In: ''HTS Theological Studies'', 2016; 72 (4)</ref><ref>Farisani, Elelwani B. [http://www.scielo.org.za/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1017-04992014000300014 "Interpreting the Bible in the context of apartheid and beyond: An African perspective"]. In: ''Studia Historiae Ecclesiasticae'', 2014; 40 (2)</ref><ref>Kelley, Shawn. [https://brill.com/view/journals/rpbi/1/3/article-p1_1.xml "Genocide, the Bible, and Biblical Scholarship"]. In: ''Brill Research Perspectives in Biblical Interpretation'', 2016; 1 (3): 1-71</ref>  
A Bíblia não condena a [[Escravatura|escravidão]] totalmente, mas há versículos que tratam dela e eles têm sido usados para apoiá-la. Alguns escreveram que o [[Teologia da substituição|supersessionismo]] começa no livro de Hebreus, onde outros localizam seu início na cultura do Império Romano do século IV.<ref name="Michael J. Vlach">{{Citar livro|título=Has the Church Replaced Israel? A Theological Evaluation|ultimo=Vlach|primeiro=Michael J.|data=2010|editora=B&H Publishing Group|isbn=9780805449723}}</ref>{{Rp|1}} A Bíblia tem sido usada para apoiar a [[pena de morte]], o [[patriarcado]], a intolerância sexual, a [[violência]] da [[guerra total]] e [[colonialismo]]. Na Bíblia cristã, a violência da guerra é abordada de quatro maneiras: [[pacifismo]], não resistência, [[Doutrina da guerra justa|guerra justa]] e [[guerra preventiva]], que às vezes é chamada de [[cruzada]].<ref name="Robert G. Clouse">{{Citar livro|título=War: Four Christian Views|ultimo=Clouse|primeiro=Robert G.|editora=BMH Books|ano=1986|localização=Winona Lake, Indiana}}</ref>{{Rp|13–37}}
 
Na Bíblia hebraica, há ''guerra justa'' e ''guerra preventiva'' que inclui os [[amalequitas]], [[cananeus]], [[moabitas]] e o registro em Êxodo, Deuteronômio, Josué e ambos os livros de Reis.<ref name="A.G.Hunter">{{Citar livro|título=Denominating Amalek: Racist stereotyping in the Bible and the Justification of Discrimination", in Sanctified aggression: legacies of biblical and post biblical vocabularies of violence|ultimo=Hunter|primeiro=A. G.|editora=Continuum Internatio Publishing Group|ano=2003|editor-sobrenome=Bekkencamp|páginas=92–108|editor-sobrenome2=Sherwood}}</ref> John J. Collins escreve que as pessoas ao longo da história usaram esses textos bíblicos para justificar a violência contra seus inimigos.<ref>{{Citar livro|título=Does the Bible justify violence?|ultimo=Collins|primeiro=John J.|editora=Fortress Press|isbn=0-8006-3689-9}}</ref> Nur Masalha argumenta que o [[genocídio]] é inerente a esses mandamentos e que eles serviram como exemplos inspiradores de apoio divino para massacrar oponentes.<ref>Masalha, Nur, ''The Bible and Zionism: invented traditions, archaeology and post-colonialism in Palestine-Israel, Volume 1'', Zed Books, 2007, pp 273-276</ref> O antropólogo Leonard B. Glick oferece o exemplo moderno de fundamentalistas judeus em Israel, como Shlomo Aviner, um teórico proeminente do movimento [[Gush Emunim]], que considera os [[palestinos]] como os "[[cananeus]] bíblicos" e, portanto, sugere que Israel "deve estar preparado para destruir" os palestinos se os palestinos não deixarem a terra.<ref>Glick, Leonard B., "Religion and Genocide", in ''The Widening circle of genocide'', Alan L. Berger (Ed). Transaction Publishers, 1994, p 46.</ref>
 
A "aplicabilidade do termo [genocídio] a períodos anteriores da [[História do mundo|história]]" é questionada pelos sociólogos Frank Robert Chalk e Kurt Jonassohn.<ref name="Frank Robert Chalk">{{Citar livro|url=https://archive.org/details/historysociology00chal|título=The History and Sociology of Genocide: Analyses and Case Studies|ultimo=Chalk|primeiro=Frank Robert|ultimo2=Jonassohn|primeiro2=Kurt|editora=Yale University Press|ano=1990|localização=New Haven, Connecticut|páginas=[https://archive.org/details/historysociology00chal/page/3 3], 23–27|isbn=978-0-300-04445-4}}</ref> Uma vez que a maioria das sociedades do passado apoiava e pratica o genocídio, ele era aceito naquela época como algo da "natureza da vida" por causa da sua "brutalidade" inerente; a condenação moral associada a termos como genocídio são produtos da moralidade moderna.<ref name="Frank Robert Chalk" />{{Rp|27}} A definição do que constitui violência ampliou-se consideravelmente ao longo do tempo.<ref name="Matthew Lynch">{{Citar livro|título=Portraying Violence in the Hebrew Bible: A Literary and Cultural Study|ultimo=Lynch|primeiro=Matthew|data=2020|editora=Cambridge University Press|isbn=9781108494359}}</ref>{{Rp|1–2}} A Bíblia reflete como as percepções de violência mudaram para seus autores.<ref name="Matthew Lynch" />{{Rp|261}}
 
De acordo com o historiador Shulamith Shahar, "alguns historiadores sustentam que a Igreja desempenhou um papel considerável na promoção do status inferior das mulheres na sociedade medieval em geral", fornecendo uma "justificativa moral" para a superioridade masculina e aceitando práticas como o espancamento de esposas.<ref>Shahar, Shulamith (2003). The Fourth Estate A History of Women in the Middle Ages. Taylor & Francis. ISBN 9781134394203.</ref>{{Rp|88}} Phyllis Trible, em sua agora famosa obra ''Texts of Terror'', conta quatro histórias bíblicas de sofrimento no antigo Israel, onde as mulheres são as vítimas. Tribble descreve a Bíblia como "um espelho" que reflete os humanos e a vida humana em toda a sua "santidade e horror".<ref>{{Citar livro|título=Texts of Terror: Literary-feminist Readings of Biblical Narratives|ultimo=Trible|primeiro=Phyllis|editora=Fortress Press|ano=1984|páginas=1–2|isbn=9781451416183}}</ref>


Segundo o [[jornalista]] David Plotz, da [[Revista eletrônica|revista]] ''[[online]]'' ''Slate Magazine'', a Bíblia tem muitas passagens "difíceis, repulsivas, confusas e entediantes",<ref name ="Slate"/> enquanto especialistas em [[literatura]] discordam e abordam a beleza da literatura bíblica em artigos acadêmicos.<ref name = "A Bíblia como obra literária. Hermenêutica literária dos textos bíblicos em diálogo com a teologia">{{citar web | url = http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/054/ANTONIO_MAGALHAES.pdf | título = A Bíblia como obra literária. Hermenêutica literária dos textos bíblicos em diálogo com a teologia | citação = }} </ref><ref name = "Textos do Novo Testamento nas crônicas de Machado de Assis">{{citar web | url = http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/49106 | título = Textos do Novo Testamento nas crônicas de Machado de Assis | citação = }} </ref><ref name = "A Bíblia como Literatura - Lendo as narrativas bíblicas"> {{citar web | url = https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/COR/article/viewArticle/1650 | título= A Bíblia como Literatura - Lendo as narrativas bíblicas | citação = }}</ref><ref name = "Estudos Literários Aplicados à Bíblia"> {{citar web | url = http://www.revistatheos.com.br/Artigos%20Anteriores/Artigo_03_03.pdf | título= Estudos Literários Aplicados à Bíblia | citação = }} </ref>
Segundo o [[jornalista]] David Plotz, da [[Revista eletrônica|revista]] ''[[online]]'' ''Slate Magazine'', a Bíblia tem muitas passagens "difíceis, repulsivas, confusas e entediantes",<ref name ="Slate"/> enquanto especialistas em [[literatura]] discordam e abordam a beleza da literatura bíblica em artigos acadêmicos.<ref name = "A Bíblia como obra literária. Hermenêutica literária dos textos bíblicos em diálogo com a teologia">{{citar web | url = http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/054/ANTONIO_MAGALHAES.pdf | título = A Bíblia como obra literária. Hermenêutica literária dos textos bíblicos em diálogo com a teologia | citação = }} </ref><ref name = "Textos do Novo Testamento nas crônicas de Machado de Assis">{{citar web | url = http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/49106 | título = Textos do Novo Testamento nas crônicas de Machado de Assis | citação = }} </ref><ref name = "A Bíblia como Literatura - Lendo as narrativas bíblicas"> {{citar web | url = https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/COR/article/viewArticle/1650 | título= A Bíblia como Literatura - Lendo as narrativas bíblicas | citação = }}</ref><ref name = "Estudos Literários Aplicados à Bíblia"> {{citar web | url = http://www.revistatheos.com.br/Artigos%20Anteriores/Artigo_03_03.pdf | título= Estudos Literários Aplicados à Bíblia | citação = }} </ref>
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[[Mark Twain]] tinha uma visão ambígua da Bíblia. Por um lado entendia que ela continha muitas passagens inspiradoras, belas e grandiosas, muitas ideias interessantes e imaginativas, mas de modo geral mantinha uma opinião negativa, verificando que a Bíblia estava cheia de mentiras, hipocrisia, indecências e carnificinas e apresentava um Deus injusto, mesquinho, impiedoso, cruel e vingativo, punindo crianças inocentes pelos erros de seus pais; punindo pessoas pelos pecados de seus governantes; descarregando sua ira em ovelhas e bezerros inofensivos como punição por ofensas insignificantes cometidas por seus proprietários. Também criticava as leituras literais e interpretações errôneas do conteúdo e a influência perniciosa do livro sobre a humanidade, por ter doutrinas contrárias à natureza e à justiça e por fazer o planeta ser coberto de sangue em seu nome.<ref>Ensor, Allison. [https://core.ac.uk/download/pdf/232565868.pdf ''Mark Twain and the Bible'']. University Press of Kentucky, 1969, pp. 73-88</ref>
[[Mark Twain]] tinha uma visão ambígua da Bíblia. Por um lado entendia que ela continha muitas passagens inspiradoras, belas e grandiosas, muitas ideias interessantes e imaginativas, mas de modo geral mantinha uma opinião negativa, verificando que a Bíblia estava cheia de mentiras, hipocrisia, indecências e carnificinas e apresentava um Deus injusto, mesquinho, impiedoso, cruel e vingativo, punindo crianças inocentes pelos erros de seus pais; punindo pessoas pelos pecados de seus governantes; descarregando sua ira em ovelhas e bezerros inofensivos como punição por ofensas insignificantes cometidas por seus proprietários. Também criticava as leituras literais e interpretações errôneas do conteúdo e a influência perniciosa do livro sobre a humanidade, por ter doutrinas contrárias à natureza e à justiça e por fazer o planeta ser coberto de sangue em seu nome.<ref>Ensor, Allison. [https://core.ac.uk/download/pdf/232565868.pdf ''Mark Twain and the Bible'']. University Press of Kentucky, 1969, pp. 73-88</ref>


Para John Riches, professor de teologia na Universidade de Glasgow, a Bíblia "inspirou alguns dos grandes monumentos do pensamento humano, da literatura e da arte; também alimentou alguns dos piores excessos da selvageria humana, do egoísmo e da mesquinhez. Inspirou homens e mulheres a atos de grande serviço e coragem, a lutar pela libertação e o desenvolvimento humano; e forneceu o combustível ideológico para sociedades que escravizaram seus semelhantes e os reduziram à pobreza abjeta. [...] Talvez, acima de tudo, forneceu uma fonte de normas religiosas e morais que permitiram às comunidades manterem-se unidas, cuidar e proteger umas às outras; no entanto, precisamente esse forte sentimento de pertencimento alimentou, por sua vez, tensões e conflitos étnicos, raciais e internacionais".<ref name="Riches6">Riches, John. ''The Bible: A Very Short Introduction''. Oxford University Press, 2000, p. 134</ref>
John Riches, professor de divindade e crítica bíblica da [[Universidade de Glasgow]], fornece a seguinte visão das diversas influências históricas da Bíblia:
{{Quote|Ela inspirou alguns dos grandes monumentos do pensamento humano, literatura e arte; também alimentou alguns dos piores excessos de selvageria humana, interesse próprio e estreiteza mental. Inspirou homens e mulheres a atos de grande serviço e coragem, a lutar pela libertação e pelo desenvolvimento humano; e forneceu o combustível ideológico para sociedades que escravizaram seus semelhantes e os reduziram à pobreza abjeta. ... Talvez acima de tudo, [a Bíblia] forneceu uma fonte de normas religiosas e morais que permitiram às comunidades manter-se unidas, cuidar e proteger umas às outras; no entanto, precisamente esse forte sentimento de pertencimento alimentou, por sua vez, tensões e conflitos étnicos, raciais e internacionais. Ou seja, tem sido a fonte de grande verdade, bondade e beleza, ao mesmo tempo que inspirou mentiras, maldade e feiúra.{{sfn|Riches|2000|p=134}}}}
 
=== Política e direito ===
A Bíblia tem sido usada para apoiar e se opor ao poder político. Inspirou a revolução e "uma inversão de poder" porque Deus é muitas vezes retratado como escolhendo o que é "fraco e humilde a confrontar o poderoso (o Moisés gaguejante, o menino Samuel, Saul de uma família insignificante, Davi confrontando Golias, etc.)".<ref>{{Citar web|url=https://en.wikiquote.org/wiki/Jacques_Ellul|titulo=Jacques Ellul - Wikiquote|acessodata=4 de agosto de  2017|website=en.wikiquote.org}}</ref><ref>Ellul, Jacques, The Subversion of Christianity, Eerdman's Publishing Co., 1984, pages 116, 123</ref> Os textos bíblicos têm sido o catalisador de conceitos políticos como [[democracia]], [[liberdade religiosa|tolerância e liberdade religiosa]].<ref name="Scribner">{{Citar livro|título=Tolerance and Intolerance in the European Reformation|editora=Cambridge University Press|ano=2002|editor-sobrenome=Scribner|localização=United Kingdom|isbn=9780521894128|editor-sobrenome2=Grell|editor-sobrenome3=Scribner}}</ref>{{Rp|3}} Estes, por sua vez, inspiraram movimentos que vão desde o [[abolicionismo]] nos séculos XVIII e XIX, até o [[movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos]], o movimento contra o [[apartheid]] na [[África do Sul]] e [[teologia da libertação]] na [[América Latina]]. A Bíblia, por sua vez, tem sido a fonte de muitos movimentos de paz ao redor do mundo e esforços de reconciliação.<ref>POWERY, EMERSON B. "The Bible and Social Reform: Musings of a Biblical Scholar." The Bible in the American Experience 2 (2020): 255.</ref>
 
As raízes de muitas leis modernas podem ser encontradas nos ensinamentos da Bíblia sobre o devido processo legal, justiça nos procedimentos criminais e equidade na aplicação da lei.<ref>Unterman, Jeremiah. Justice for All: How the Jewish Bible Revolutionized Ethics. U of Nebraska Press, 2017. pages=23-25</ref> Juízes são instruídos a não aceitar [[suborno]] (Deuteronômio 16:19), devem ser imparciais tanto para nativos quanto para estrangeiros (Levítico 24:22; Deuteronômio 27:19), necessitados e poderosos (Levítico 19:15) e ricos e pobres igualmente (Deuteronômio 1:16,17; Êxodo 23:2-6). O direito a um julgamento justo e punição justa também são encontrados na Bíblia (Deuteronômio 19:15; Êxodo 21:23-25). Os mais vulneráveis em uma sociedade [[patriarcal]] – crianças, mulheres e estranhos – são escolhidos na Bíblia para proteção especial (Salmo 72:2,4).<ref name="Christopher Marshall">{{Citar livro|título=Human Rights and the Common Good: Christian Perspectives|ultimo=Marshall|primeiro=Christopher|data=1999|editora=Victoria University Press|editor-sobrenome=Atkin|localização=Wellington, New Zealand|capitulo="A Little lower than the Angels" Human rights in the biblical tradition|isbn=0-86473-362-3|editor-sobrenome2=Evans}}</ref>{{Rp|47–48}}
 
=== Responsabilidade social ===
O fundamento filosófico dos [[direitos humanos]] está nos ensinamentos bíblicos da lei natural.<ref name="Levent Gönenç">{{cite book| last=Gönenç| first=Levent| title=Prospects for Constitutionalism in Post-Communist Countries| year=2002| publisher=Kluwer Law International| location=The Netherlands| isbn=90-411-1836-5| page=218}}</ref><ref name="David Kim">{{cite book|editor1-last=Kim|editor1-first=David|editor2-last=Kaul|editor2-first=Susanne|title=Imagining Human Rights|year=2015|publisher=de Gruyter| location=Berlin, Germany|isbn=978-3-11-037619-7|pages=13–17}}</ref> Os profetas da Bíblia hebraica repetidamente advertem o povo a praticar [[justiça]], [[caridade]] e [[responsabilidade social]]. H. A. Lockton escreve em "''A Bíblia da Pobreza e Justiça'' (The Bible Society, 2008) afirma que há mais de 2 mil versículos na Bíblia que tratam das questões de justiça das relações entre ricos e pobres, exploração e opressão".<ref>Lockton, Harwood A. "When Doing Good is Not Good Enough: Justice and Advocacy." (2014).page 130</ref> O [[judaísmo]] praticava a caridade e curava os doentes, mas tendia a limitar essas práticas ao seu próprio povo.<ref name="Bullough"/>  Para os [[cristãos]], as declarações do Antigo Testamento são reforçadas por vários versículos, como Mateus 10:8, Lucas 10:9 e 9:2 e Atos 5:16 que dizem "curar os enfermos". Os autores Vern e Bonnie Bullough escrevem em ''The care of the sick: the emergence of modern nursing'', que isso é visto como um aspecto de seguir o exemplo de Jesus, já que grande parte de seu ministério público se concentrou na cura.<ref name="Bullough">Bullough, Vern L., and Bonnie Bullough. The care of the sick: The emergence of modern nursing. Routledge, 2021. page 28</ref> No processo de seguir este comando, o [[monaquismo]] no terceiro século transformou os cuidados de saúde.{{sfn|Crislip|2005|p=3}} Isso produziu o primeiro [[hospital]] para os pobres em [[Cesareia Marítima|Cesareia]] no século IV. O [[sistema de saúde]] [[monástico]] foi inovador em seus métodos, permitindo que os doentes permanecessem dentro do [[mosteiro]] como uma classe especial que recebia benefícios especiais; desestigmatizou a doença, legitimou o desvio da norma que a doença inclui e formou a base para futuros conceitos modernos de assistência à [[saúde pública]].{{sfn|Crislip|2005|pp=68–69; 99}} As práticas bíblicas de alimentar e vestir os [[pobre]]s, visitar [[prisioneiro]]s, sustentar [[viúva]]s e crianças [[órfã]]s tiveram um grande impacto.<ref name="Charles Schmidt">{{cite book| last=Schmidt| first=Charles|title=The Social Results of Early Christianity| chapter-url=https://archive.org/details/bub_gb_X-UROGF6ZcUC|year=1889| publisher=William Isbister Ltd.|location=London, England| pages=[https://archive.org/details/bub_gb_X-UROGF6ZcUC/page/n279 245]–256| chapter=Chapter Five: The Poor and Unfortunate| isbn=9780790531052}}</ref><ref name="Establishments">{{cite book |url=https://archive.org/details/modelsforchristi0000unse |page=[https://archive.org/details/modelsforchristi0000unse/page/290 290] |title=Models for Christian Higher Education: Strategies for Survival and Success in the Twenty-First Century |year=1997 |publisher=William B. Eerdmans Publishing Company|isbn=9780802841216 |access-date=18 de outubro de 2007 }}</ref><ref name="Teasdale2014">{{cite book |last=Teasdale |first=Mark R. |title=Methodist Evangelism, American Salvation: The Home Missions of the Methodist Episcopal Church, 1860–1920 |date=17 de março de 2014 |publisher=Wipf and Stock Publishers|isbn=9781620329160 |page=203}}</ref>
 
A ênfase da Bíblia no aprendizado teve uma influência formidável sobre os crentes e a sociedade ocidental. Durante séculos após a [[queda do Império Romano do Ocidente]], todas as escolas na Europa eram escolas religiosas baseadas na Bíblia e, fora dos assentamentos monásticos, quase ninguém tinha a capacidade de ler ou escrever. Essas escolas eventualmente levaram às primeiras [[universidade]]s do [[mundo ocidental]] (criadas pela igreja) na [[Idade Média]], que se espalharam pelo mundo nos dias modernos.<ref name="auto">Geoffrey Blainey; A Short History of Christianity; Penguin Viking; 2011</ref> Os [[Reforma Protestante|reformadores]] [[Protestantismo|protestantes]] queriam que todos os membros da igreja pudessem ler a Bíblia, então a [[educação obrigatória]] para meninos e meninas foi introduzida. Traduções da Bíblia em línguas [[vernáculas]] locais apoiaram o desenvolvimento de literaturas nacionais e a invenção de [[alfabeto]]s.{{sfn|Sanneh|McClymond|2016|p=279}}
 
Os ensinamentos bíblicos sobre a [[moralidade]] [[Sexualidade|sexual]] mudaram o Império Romano, o milênio que se seguiu e continuaram a influenciar a sociedade.{{sfn|Harper|2013|pp=14–18}} O conceito de moralidade sexual de Roma estava centrado no estatuto social e político, no poder e na [[reprodução social]] (a transmissão da [[desigualdade social]] para a próxima geração). O padrão bíblico era uma "noção radical de liberdade individual centrada em torno de um paradigma libertário de agência sexual completa" na própria imagem do ser humano"..<ref name="Rebecca Langlands">{{cite book| last=Langlands| first=Rebecca| title=Sexual Morality in Ancient Rome|year=2006| publisher=Cambridge University Press| location=Cambridge, UK| isbn=978-0-521-85943-1}}</ref>{{rp|10,38}}
 
=== Literatura e artes ===
[[Imagem:Regnault,_Henri,_Salomé.jpg|thumb|upright|''[[Salomé]]'', de [[Henri Regnault]] (1870).]]
A Bíblia influenciou direta e indiretamente a literatura: a obra ''[[Confissões]]'' de [[Santo Agostinho]] é amplamente considerada a primeira [[autobiografia]] da [[literatura ocidental]].<ref name="Wilken 2003 291">{{cite book | last = Wilken | first = Robert L. | title = The Spirit of Early Christian Thought | publisher = Yale University Press | location = New Haven | year = 2003 | isbn = 0-300-10598-3 |page=291}}</ref> A ''[[Summa Theologica]]'', escrita entre 1265 e 1274, é "um dos clássicos da história da filosofia e uma das obras mais influentes da literatura ocidental".<ref>Ross, James F., "Thomas Aquinas, ''Summa theologiae'' (ca. 1273), Christian Wisdom Explained Philosophically", in ''The Classics of Western Philosophy: A Reader's Guide'', (eds.) Jorge J. E. Gracia, Gregory M. Reichberg, Bernard N. Schumacher (Oxford: Blackwell Publishing, 2003), p. 165. [https://books.google.com/books?id=6jAcwGItzssC&pg=PA165#v=onepage]</ref> Ambas influenciaram os escritos da poesia épica de [[Dante]] e sua ''[[Divina Comédia]]'' e, por sua vez, a criação e a teologia sacramental de Dante contribuíram para influenciar escritores como [[J. R. R. Tolkien]]<ref>{{cite web |title=Tolkien's Catholic Imagination |url=http://www.crisismagazine.com/november2001/feature7.htm |last=Boffetti |first=Jason |date=Novembro de 2001 |work=Crisis Magazine |publisher=Morley Publishing Group |urlmorta=dead |archive-url=https://web.archive.org/web/20060821111145/http://www.crisismagazine.com/november2001/feature7.htm |archive-date=21 de agosto de 2006 }}</ref> e [[William Shakespeare]].<ref>{{cite web |title=Assurances of faith: How Catholic Was Shakespeare? How Catholic Are His Plays? |url= http://www.crisismagazine.com/julaug2002/feature4.htm |last=Voss |first=Paul J. |date=Julho de 2002 |work=Crisis Magazine |publisher=Morley Publishing Group}}</ref>
 
Muitas obras-primas da arte ocidental foram inspiradas por temas bíblicos: desde as esculturas de ''[[David (Michelangelo)|David]]'' e ''[[Pietà (Michelangelo)|Pietà]]'' de [[Michelangelo]], até ''[[A Última Ceia (Leonardo da Vinci)|A Última Ceia]]'' de [[Leonardo da Vinci]] e as várias pinturas ''Madonna'' de [[Rafael]]. Existem centenas de exemplos. [[Eva]], a tentadora que desobedece ao mandamento de Deus, é provavelmente a figura mais amplamente retratada na arte.<ref name="Mati Meyer">{{cite web|last1=Meyer|first1=Mati|title=Art: Representation of Biblical Women|url=https://jwa.org/encyclopedia/article/art-representation-of-biblical-women|website=Jewish Women's Archive|publisher=Jewish Women's Archive}}</ref> A [[Renascença]] preferiu o sensual nu feminino, enquanto a "[[Mulher fatal|femme fatale]]" [[Dalila]] do século XIX em diante demonstra como a Bíblia e a arte moldam e refletem as visões das mulheres.<ref>{{Cite web | url=https://jwa.org/encyclopedia/article/art-representation-of-biblical-women | title=Art: Representation of Biblical Women &#124; Jewish Women's Archive}}</ref><ref name="Diane Apostolos-Cappadona">{{Cite journal|last1=Apostolos-Cappadona|first1=Diane|title=Women in Religious Art|volume=1|journal=Oxford Research Encyclopedia of Religion|publisher=Oxford Research Encyclopedias|doi=10.1093/acrefore/9780199340378.013.208|date=Julho de 2016|isbn=9780199340378}}</ref>
 
A Bíblia tem muitos rituais de purificação que falam de puro e impuro em termos literais e metafóricos.<ref name="Warsh">{{cite book |last= Warsh |first= Cheryl Krasnick |others=Veronica Strong-Boag |title=Children's Health Issues in Historical Perspective |year=2006 |publisher=Wilfrid Laurier Univ. Press|quote= ... From Fleming's perspective, the transition to Christianity required a good dose of personal and public hygiene ...|isbn=9780889209121|page=315}}</ref> A etiqueta bíblica do banheiro incentiva a lavagem após todas as ocorrências de [[defecação]], daí a invenção do [[bidê]].<ref>{{cite book|title=Contemporary Biology: Concepts and Implications|first=Mary|last= E. Clark|year= 2006| isbn= 9780721625973|publisher=University of Michigan Press}}</ref><ref>{{cite web |title=A hose: the strange device next to every Finnish toilet |url=https://en.biginfinland.com/hose-always-next-every-finnish-toilet/ |website=Big in Finland |date=8 de julho de 2014 |publisher=Curiosities |access-date=21 de maio de 2022}}</ref>
 
== Arqueologia e pesquisa histórica ==
{{AP|Arqueologia bíblica|Historicidade da Bíblia|Datação da Bíblia}}
A [[arqueologia bíblica]] é uma subseção da [[arqueologia]] que se relaciona e foca nas escrituras hebraicas e no [[Novo Testamento]].{{sfn|Caraher|Pettegrew|2019|p=19}} É usada para ajudar a determinar o estilo de vida e as práticas das pessoas que vivem nos tempos bíblicos.{{sfn|Caraher|Pettegrew|2019|p=11}} Há uma ampla gama de interpretações no campo da arqueologia bíblica.{{sfn|Mazar|2003|p=85-87}} Uma ampla divisão inclui o [[maximalismo bíblico]], que geralmente considera que a maior parte do [[Antigo Testamento]] ou da [[Bíblia hebraica]] é baseada na história, embora seja apresentada através do ponto de vista religioso de seu tempo. De acordo com o historiador Lester L. Grabbe, há poucos, se houver, maximalistas no ''[[mainstream]]'' acadêmico.{{sfn|Grabbe|2017|p=36}} É considerado o extremo oposto do [[minimalismo bíblico]], que considera a Bíblia uma composição puramente [[Período do Segundo Templo|pós-exílica]] (século V a.C. e posteriores).{{sfn|Davies|2000|p=27}} De acordo com Mary-Joan Leith, professora de estudos religiosos, muitos minimalistas ignoraram as evidências da antiguidade da [[língua hebraica]] na Bíblia e poucos levam em consideração as evidências arqueológicas.{{sfn|Leith|2022|p=5}} A maioria dos estudiosos e arqueólogos bíblicos e arqueólogos ficam em algum lugar em um espectro entre essas duas correntes de pensamento.{{sfn|Leith|2022|p=4}}{{sfn|Grabbe|2017|p=36}}
[[Imagem:JRSLM 300116 Tel Dan Stele 01.jpg|esquerda|thumb|[[Estela de Tel Dã]], [[Museu de Israel]]]]
 
O relato bíblico dos eventos do [[O Êxodo|Êxodo do Egito]] na Torá, a migração para a [[Terra Prometida]] e o [[Período dos Juízes]] são fontes de debate acalorado. Há uma ausência de evidências que comprovem a presença de [[hebreus]] no [[Egito antigo]] de qualquer fonte egípcia, histórica ou arqueológica.{{sfn|Hoffmeier|1999|p=53}} No entanto, como William Dever aponta, essas tradições bíblicas foram escritas muito depois dos eventos que descrevem e são baseadas em fontes agora perdidas e tradições orais mais antigas.{{sfn|Dever|2003|p=8}}
 
A Bíblia hebraica/Antigo Testamento, antigos textos não-bíblicos e arqueologia apoiam o [[Cativeiro Babilónico]] começando por volta de 586 a.C..{{sfn|Leith|2022|p=1}} Escavações no sul da [[Judeia]] mostram um padrão de destruição consistente com a devastação [[Império Neoassírio|neoassíria]] de Judá no final do século VIII e II a.C., Reis 18:13.{{sfn|Leith|2022|p=6}} Em 1993, em [[Tel Dã]], o arqueólogo Avraham Biran desenterrou uma inscrição fragmentária em [[aramaico]], a [[Estela de Tel Dã]], datada do final do século IX ou início do XVIII que menciona um "rei de Israel", bem como uma "casa de Davi". Isso mostra que [[David|Davi]] não poderia ser uma invenção do final do século VI e implica que os [[Reino de Judá|reis de Judá]] traçaram sua linhagem até alguém chamado Davi.{{sfn|Leith|2022|p=2}} No entanto, não há evidências arqueológicas atuais para a existência dos reis [[David|Davi]] e [[Salomão]] ou do [[Primeiro Templo]] já no século X a.C., onde a Bíblia os coloca.{{sfn|Leith|2022|p=2-3}}
 
No século XIX e início do século XX, pesquisas demonstraram que os estudos de [[Atos dos Apóstolos]] (Atos) foram divididos em duas tradições, "uma tradição conservadora (em grande parte britânica) que tinha grande confiança na historicidade de Atos e uma menos conservadora (em grande parte alemã) tradição que tinha muito pouca confiança na historicidade de Atos". Pesquisas subsequentes mostram que pouco mudou.{{sfn|Phillips|2006|p=365}} O autor Thomas E. Phillips escreve que "neste debate de dois séculos sobre a historicidade de Atos e suas tradições subjacentes, apenas uma suposição parecia ser compartilhada por todos: Atos deveria ser lido como história".{{sfn|Phillips|2006|p=366}} Isso também está sendo debatido pelos estudiosos como: a que gênero os Atos realmente pertencem?{{sfn|Phillips|2006|p=366}} "Atos é história ou ficção? Aos olhos da maioria dos estudiosos, é história - mas não o tipo de história que exclui a ficção." diz Phillips.{{sfn|Phillips|2006|p=385}}


Entre os historiadores não ligados a círculos religiosos, é opinião corrente que a Bíblia em sua maior parte não é um documento histórico confiável. Grande parte do seu conteúdo histórico é considerado mítico, lendário ou alegórico, e não pôde ser comprovado por evidências indisputadas externas ao texto, e para muitas passagens foram descobertas evidências que as contradizem frontalmente.<ref>Moore, Megan Bishop & Kelle, Brad E. ''Biblical History and Israel's Past''. Eerdmans, 2011, p. 62</ref><ref>Kenyon, Kathleen Mary; Moorey, P.R.S. (1987). ''The Bible and recent archaeology''. Atlanta: J. Knox Press. p. 35.</ref><ref>Thompson, Thomas L. ''The Mythic Past: Biblical Archaeology And The Myth Of Israel''. Basic Books, 2008</ref><ref>Powell, Mark Allan. ''Jesus as a Figure in History: How Modern Historians View the Man from Galilee''. Westminster John Knox Press, 1998, pp. 168-181</ref><ref>Bellinzoni, Arthur J. ''The New Testament: An Introduction to Biblical Scholarship''. Wipf and Stock, 2016, p. 336</ref><ref>Israel Finkelstein; Neil Asher Silberman. ''The Bible Unearthed: Archaeology's New Vision of Ancient Israel and the Origin of Sacred Texts''. Simon and Schuster, 2001, pp. 81–82</ref> Além disso, seu texto contém muitas incongruências, contradições, anacronismos, interpolações tardias, que têm gerado intensas controvérsias e trazido problemas para a interpretação do texto, afirmação de doutrinas e determinação da historicidade.<ref>Schmitt, Flavio. [http://periodicos.est.edu.br/index.php/estudos_teologicos/article/view/3780 "Método histórico-crítico: um olhar em perspectiva"]. In: ''Estudos Teológicos'', 2019; 52 (2)</ref><ref>Lima, Anderson de Oliveira. "A Bíblia de Lourenço: uma bíblia laica". In: ''Reflexão'', 2017; 42 (1) </ref><ref>Vito, Francikley. [https://revistas.unasp.edu.br/kerygma/article/view/682 "O texto bíblico: abordagens diacrônica, sincrônica e literária de narrativas do Novo Testamento"]. In: ''Revista Kerygma'', 2014; 10 (2)</ref><ref>Jones, Alexander (ed.). ''The Jerusalem Bible''. Doubleday, 2000</ref><ref>Redford, Donald B. ''Egypt, Canaan, and Israel in ancient times''. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1992, p. 305</ref>
Entre os historiadores não ligados a círculos religiosos, é opinião corrente que a Bíblia em sua maior parte não é um documento histórico confiável. Grande parte do seu conteúdo histórico é considerado mítico, lendário ou alegórico, e não pôde ser comprovado por evidências indisputadas externas ao texto, e para muitas passagens foram descobertas evidências que as contradizem frontalmente.<ref>Moore, Megan Bishop & Kelle, Brad E. ''Biblical History and Israel's Past''. Eerdmans, 2011, p. 62</ref><ref>Kenyon, Kathleen Mary; Moorey, P.R.S. (1987). ''The Bible and recent archaeology''. Atlanta: J. Knox Press. p. 35.</ref><ref>Thompson, Thomas L. ''The Mythic Past: Biblical Archaeology And The Myth Of Israel''. Basic Books, 2008</ref><ref>Powell, Mark Allan. ''Jesus as a Figure in History: How Modern Historians View the Man from Galilee''. Westminster John Knox Press, 1998, pp. 168-181</ref><ref>Bellinzoni, Arthur J. ''The New Testament: An Introduction to Biblical Scholarship''. Wipf and Stock, 2016, p. 336</ref><ref>Israel Finkelstein; Neil Asher Silberman. ''The Bible Unearthed: Archaeology's New Vision of Ancient Israel and the Origin of Sacred Texts''. Simon and Schuster, 2001, pp. 81–82</ref> Além disso, seu texto contém muitas incongruências, contradições, anacronismos, interpolações tardias, que têm gerado intensas controvérsias e trazido problemas para a interpretação do texto, afirmação de doutrinas e determinação da historicidade.<ref>Schmitt, Flavio. [http://periodicos.est.edu.br/index.php/estudos_teologicos/article/view/3780 "Método histórico-crítico: um olhar em perspectiva"]. In: ''Estudos Teológicos'', 2019; 52 (2)</ref><ref>Lima, Anderson de Oliveira. "A Bíblia de Lourenço: uma bíblia laica". In: ''Reflexão'', 2017; 42 (1) </ref><ref>Vito, Francikley. [https://revistas.unasp.edu.br/kerygma/article/view/682 "O texto bíblico: abordagens diacrônica, sincrônica e literária de narrativas do Novo Testamento"]. In: ''Revista Kerygma'', 2014; 10 (2)</ref><ref>Jones, Alexander (ed.). ''The Jerusalem Bible''. Doubleday, 2000</ref><ref>Redford, Donald B. ''Egypt, Canaan, and Israel in ancient times''. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1992, p. 305</ref>
== Exegese bíblica ==
{{AP|Estudos bíblicos|Exegese bíblica (teologia)|Crítica textual}}
[[Imagem:Faculté de Médecine Purpan 01.jpg|thumb|[[Jean Astruc]], muitas vezes chamado de "pai da crítica bíblica", no ''Centre hospitalier universitaire de Toulouse'']]
A [[Exegese bíblica (teologia)|exegese (ou crítica) bíblica]] refere-se à investigação analítica da Bíblia como texto e aborda questões como história, autoria, datas de composição e intenção autoral. Não é o mesmo que crítica à Bíblia, que é uma afirmação contra a Bíblia ser uma fonte de informação ou orientação ética, nem é uma crítica a possíveis erros de tradução.<ref>{{cite web |url=http://www.baptistlink.com/creationists/expondoerrossbinvi.htm |archive-url=https://web.archive.org/web/20021029221934/http://www.baptistlink.com/creationists/expondoerrossbinvi.htm |urlmorta=dead |archive-date=29 de outubro de 2002 |title=Expondo Os Erros Da Sociedade Bíblica Internacional |publisher=Baptistlink.com |year=2000 |access-date=13 de janeiro de 2012}}</ref>
A crítica bíblica tornou o estudo da Bíblia secularizado, erudito e mais democrático, ao mesmo tempo que alterou permanentemente a maneira como as pessoas entendiam a Bíblia.{{sfn|Soulen|Soulen|2001|p=22}} A Bíblia não é mais pensada apenas como um artefato religioso e sua interpretação não está mais restrita à comunidade de crentes.{{sfn|Fishbane|1992|p=129}}
Michael Fishbane escreve: "Há aqueles que consideram a dessacralização da Bíblia como a condição afortunada para o desenvolvimento do mundo moderno".{{sfn|Fishbane|1992|p=121}} Para muitos, a crítica bíblica "lançou uma série de ameaças" à fé cristã. Para outros, ela "provou ser um fracasso, principalmente devido à suposição de que a pesquisa diacrônica e linear poderia dominar todas e quaisquer questões e problemas decorrentes da interpretação".{{sfn|Harrisville|2014|p=vii}} Outros ainda acreditavam que a crítica bíblica, "despojada de sua arrogância injustificada", poderia ser uma fonte confiável de interpretação.{{sfn|Harrisville|2014|p=vii}}
Fishbane compara a crítica bíblica a Jó, um profeta que destruiu "visões egoístas para uma passagem mais honesta do ''textus'' divino para o humano".{{sfn|Fishbane|1992|p=129}} Ou como diz Rogerson: a crítica bíblica tem sido libertadora para aqueles que querem sua fé "inteligentemente fundamentada e intelectualmente honesta".{{sfn|Rogerson|2000|p=[https://archive.org/details/oxfordcompaniont00hast/page/298 298]}}


== Ver também ==
== Ver também ==
Linha 156: Linha 218:
* [[Cronologia Bíblica]]
* [[Cronologia Bíblica]]
* [[École Biblique]]
* [[École Biblique]]
* [[Federação Bíblica Católica]]
* [[Harmonia evangélica]]
* [[Harmonia evangélica]]
* [[Inerrância bíblica]]
* [[Inerrância bíblica]]
Linha 171: Linha 234:
** [[Bíblia Sagrada - Ave Maria]]
** [[Bíblia Sagrada - Ave Maria]]
** Bíblia Sagrada - Edição Pastoral
** Bíblia Sagrada - Edição Pastoral
** ''[[Biblia pauperum]]''
** [[Tradução Brasileira]]
** [[Tradução Brasileira]]
** [[Tradução_do_Novo_Mundo_das_Escrituras_Sagradas_(edição_de_1961_a_1984)|Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas]] (edição de 1961 a 1984)
** [[Tradução_do_Novo_Mundo_das_Escrituras_Sagradas_(edição_de_1961_a_1984)|Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas]] (edição de 1961 a 1984)
Linha 178: Linha 242:
** [[King James Atualizada]]
** [[King James Atualizada]]
**[[Almeida Corrigida Fiel]]
**[[Almeida Corrigida Fiel]]
* [[YouVersion]]{{dividir em colunas fim}}
* [[YouVersion]]
{{dividir em colunas fim}}
 
{{notas}}
 
{{referências}}


== Bibliografia ==
== Bibliografia ==
{{Refbegin|2}}
* {{cite book |title=The Walther League Messenger |date=1924 |publisher=University of Wisconsin |url=https://books.google.com/books?id=lnnTAAAAMAAJ |ref={{sfnref|Messenger|1924}}}}
* {{cite book |last1=Aland |first1=Kurt |last2=Aland |first2=Barbara |title=The text of the New Testament : an introduction to the critical editions and to the theory and practice of modern textual criticism |date=1995 |publisher=W.B. Eerdmans |location=Grand Rapids |isbn=978-0-8028-4098-1}}
* {{cite book |editor-last1=Alter |editor-first1=Robert |editor-link1=Robert Alter |editor-last2=Kermode |editor-first2=Frank |editor-link2=Frank Kermode |title=The Literary Guide to the Bible |year=1987 |publisher=Harvard University Press |url=https://books.google.com/books?id=O4hYlvzWui8C |isbn=978-0-674-87531-9}}
* {{cite book |last1=Aune |first1=David E. |author-link=David Aune |title=The Blackwell Companion to The New Testament |date=22 de janeiro de 2010 |publisher=John Wiley & Sons |isbn=978-1-4443-1894-4 |url=https://books.google.com/books?id=ygcgn8h-jo4C |language=en}}
* {{Cite book|last=Baden|first=Joel S.|title=The Composition of the Pentateuch: Renewing the Documentary Hypothesis|publisher=Yale University Press|year=2012|url=https://books.google.com/books?id=CYW7z9tFHisC&q=The+Composition+of+the+Pentateuch%3A+Renewing+the+Documentary+Hypothesis|series=Anchor Yale Reference Library|isbn=978-0-300-15264-7}}
* {{Cite book |last=Bandstra |first=Barry L. |date=2009 |title=Reading the Old Testament: an introduction to the Hebrew Bible |edition=4th |publisher=Wadsworth Cengage Learning |isbn=978-0-495-39105-0 |oclc=244017850}}
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* {{cite journal|last=Phillips| first=Kim|title=The Masora Magna of two biblical fragments from the Cairo Genizah, and the unusual practice of the scribe behind the Leningrad Codex | year=2016|journal=The Tyndale Bulletin|volume=67|issue=2|doi=10.17863/CAM.11381| s2cid=165565008}}
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* {{cite book|last=Swartley|first=Willard|editor1-last=Brenneman| editor1-first = Laura|editor2-last=Schantz| editor2-first=Brad D.|title=Struggles for Shalom: Peace and Violence across the Testaments| year=2014| publisher=Wipf and Stock| location=Eugene, Oregon| isbn=978-1-62032-622-0| chapter=God's moral character as the basis of human ethics: Foundational convictions}}
* {{cite book |last1=Swenson |first1=Kristin |title=A Most Peculiar Book: The Inherent Strangeness of the Bible |date=2021 |publisher=Oxford University Press |isbn=978-0-19-065173-2 |url=https://books.google.com/books?id=5xQOEAAAQBAJ}}
* {{cite book |last1=Tov |first1=Emanuel |author-link=Emanuel Tov |title=Textual Criticism of the Hebrew Bible |date=2001 |publisher=Uitgeverij Van Gorcum |isbn=978-90-232-3715-0 |edition=illustrated}}
* {{cite book |last1=Ulrich |first1=Eugene |author1-link=Eugene Ulrich |date=2013 |chapter=The Old Testament text and its transmission |pages=83–104 |editor1-first=James Carleton |editor1-last=Paget |editor1-link=James Carleton Paget |editor2-first=Joachim |editor2-last=Schaper |title=Volume 1: From the Beginnings to 600 |series=The New Cambridge History of the Bible |publisher=[[Cambridge University Press]] |isbn=978-0-521-85938-7 |oclc=774213683}}
* {{Cite book |first1=James C. |last1=VanderKam |first2=Peter W. |last2=Flint |author-link2=Peter Flint (religious scholar) |title=The meaning of the Dead Sea scrolls: their significance for understanding the Bible, Judaism, Jesus, and Christianity |date=2013|publisher=[[HarperCollins]] |url=https://books.google.com/books?id=SBMXnB4CRpUC |isbn=978-0-06-224330-0 |edition=E-book |oclc=856526599}}
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* {{cite journal |last=Wallace |first=Daniel B. |author-link=Daniel B. Wallace |title=Challenges in New Testament textual criticism for the twenty-first century |journal=Journal of the Evangelical Theological Society |volume=52 |issue=1 |year=2009 |pages=79–100}}
* {{cite book |last1=Walzer |first1=Michael |title=In God's Shadow: Politics in the Hebrew Bible |date=2012 |publisher=Yale University Press |location=New Haven, Connecticut |isbn=978-0-300-18044-2}}
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* {{cite book |last1=Young |first1=Edward Joseph |author-link=Edward Joseph Young |title=An Introduction to the Old Testament |year=1984 |orig-year=1964 |edition=reprint, revised|publisher=Eerdmans |isbn=9780802803399}}
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}}
* LIMA, Alessandro. ''O Cânon Bíblico - A Origem da Lista dos Livros Sagrados''. São José dos Campos-SP: Editora COMDEUS, 2007.
* {{citar livro|último = Gibert  |primeiro = Pierre  |título= A Bíblia: o Livro, os livros  |colecao= «[[Découvertes Gallimard|Descobrir]]», série Religiões  |ano= 2003  |publicado= [[Quimera Editores]]  |local= Lisboa  | isbn = 9789725890929  }}
* PASQUERO, Fedele. ''O Mundo da Bíblia, Autores Vários''. São Paulo: Paulinas, 1986.
* ROST, Leonard. ''Introdução aos Livros Apócrifos e Pseudo-Epígrafos do Antigo Testamento''. São Paulo: Paulinas, 1980.{{clear}}
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Edição atual tal como às 03h52min de 22 de agosto de 2022

Predefinição:Sidebar with collapsible lists Bíblia (do grego koiné τὰ βιβλία , tà biblía, 'os livros') é uma antologia de textos religiosos ou escrituras sagradas para o cristianismo, o judaísmo, o samaritanismo e muitas outras religiões. Esses textos, originalmente escritos em hebraico, aramaico e grego koiné, incluem instruções, histórias, poesias e profecias, entre outros gêneros literários. A coleção de materiais que são aceitos como parte da Bíblia por uma determinada tradição ou comunidade religiosa é chamada de cânone bíblico. Os crentes na Bíblia geralmente a consideram um produto da inspiração divina e interpretam o texto de maneiras diferentes e variadas.

Os textos religiosos foram compilados por diferentes comunidades religiosas em várias coleções oficiais. A mais antiga, chamada de Torá em hebraico e Pentateuco em grego, continha os primeiros cinco livros da Bíblia; a segunda parte mais antiga era uma coleção de histórias narrativas e profecias (os Nevi'im); a terceira coleção (o Ketuvim) contém salmos, provérbios e histórias narrativas. Tanakh é um termo alternativo para a Bíblia hebraica composta pelas primeiras letras dessas três partes das escrituras hebraicas: a Torá ("Ensino"), o Nevi'im ("Profetas") e o Ketuvim ("Escritos"). O texto massorético é a versão medieval do Tanakh, em hebraico e aramaico, que é considerado o texto oficial da Bíblia hebraica pelo judaísmo rabínico moderno. A Septuaginta é uma tradução grega koiné do Tanakh dos séculos III e II a.C. e em grande parte sobrepõe-se à Bíblia hebraica.

O cristianismo começou como uma vertente do judaísmo, usando a Septuaginta como base do Antigo Testamento. A Igreja primitiva continuou a tradição judaica de escrever e incorporar o que via como livros religiosos inspirados e oficiais. Os evangelhos, epístolas paulinas e outros textos rapidamente se fundiram no Novo Testamento.

Com vendas totais estimadas em mais de cinco bilhões de cópias, a Bíblia é amplamente considerada a publicação mais vendida de todos os tempos. Ele teve uma profunda influência tanto na cultura e história ocidentais quanto nas culturas ao redor do mundo. O estudo da Bíblia por meio da crítica bíblica também impactou indiretamente a cultura e a história. A Bíblia está atualmente traduzida ou sendo traduzida para cerca de metade das línguas existentes do mundo.

Etimologia

O termo "Bíblia" pode se referir à Bíblia hebraica ou à Bíblia cristã, que contém o Antigo e o Novo Testamento.[1]

A palavra Bíblia é derivada do termo em grego koiné τὰ βιβλία, que significa "os livros" (singular βιβλίον).Predefinição:Sfnm A palavra βιβλίον em si tinha o significado literal de "rolo" e passou a ser usada como a palavra comum para "livro".[2] É o diminutivo de βύβλος byblos, "papiro egípcio", possivelmente assim chamado a partir do nome do porto marítimo fenício Biblos (também conhecido como Gebal) de onde o papiro egípcio era exportado para a Grécia.[3]

O termo grego ta biblia ("os livros") era "uma expressão que os judeus helenísticos usavam para descrever seus livros sagrados".[4] O estudioso bíblico F. F. Bruce observa que João Crisóstomo parece ser o primeiro escritor (em suas Homilias sobre Mateus, proferidas entre 386 e 388) a usar a frase grega ta biblia ("os livros") para descrever o Antigo e o Novo Testamento juntos.[5]

A expressão em latim biblia sacra ("livros sagrados") foi traduzida do grego τὰ βιβλία τὰ ἅγια (tà biblía tà hágia, "os livros sagrados").[6] O termo biblia do latim medieval é a abreviação de biblia sacra ("livro sagrado"). Gradualmente, passou a ser considerado um substantivo feminino singular em latim medieval e, assim, a palavra foi emprestada como singular para os vernáculos da Europa Ocidental.[7]

Desenvolvimento e história

Predefinição:VT

A Bíblia de Gutenberg, a primeira Bíblia impressa (meados do século XV)
Hebrew Bible from 1300. Genesis.
Bíblia hebraica de 1300. Gênese.

A Bíblia não é um único livro; é uma coleção de livros cujo desenvolvimento complexo não é completamente compreendido. Os livros mais antigos começaram como canções e histórias transmitidas oralmente de geração em geração. Os estudiosos estão apenas começando a explorar "a interface entre escrita, performance, memorização e a dimensão auditiva" dos textos. As indicações atuais são de que o antigo processo de escrita-leitura foi complementado pela memorização e performance oral na comunidade.[8] A Bíblia foi escrita e compilada por muitas pessoas, a maioria desconhecida, de uma variedade de culturas díspares.Predefinição:Sfnm

O estudioso bíblico britânico John K. Riches escreveu: [9] Página Predefinição:Quote/styles.css não tem conteúdo.

Os textos bíblicos foram produzidos em um período em que as condições de vida dos escritores – políticas, culturais, econômicas e ecológicas – variavam enormemente. Há textos que refletem uma existência nômade, textos de pessoas de uma monarquia estabelecida e culto ao Templo, textos do exílio, textos nascidos da feroz opressão por governantes estrangeiros, textos da corte, textos de pregadores carismáticos errantes, textos daqueles que se entregam ao ares de escritores helenísticos sofisticados. É um intervalo de tempo que engloba as composições de Homero, Platão, Aristóteles, Tucídides, Sófocles, César, Cícero e Catulo. É um período que vê a ascensão e queda do Império Assírio (do décimo segundo ao sétimo século) e do Império Persa (sexto ao quarto século) por Alexandre (336–326), a ascensão de Roma e sua dominação do Mediterrâneo (século IV até a fundação do Principado, em 27 a.C.), a destruição do Templo de Jerusalém (70 d.C.), e a extensão do domínio romano para partes da Escócia (84 d.C.).

Os livros da Bíblia foram inicialmente escritos e copiados à mão em rolos de papiro.[10] Nenhum original sobreviveu. A idade da composição original dos textos é, portanto, difícil de determinar e muito debatida. Usando uma abordagem linguística e historiográfica combinada, Hendel e Joosten datam as partes mais antigas da Bíblia hebraica (o Cântico de Débora em Juízes 5 e a história de Sansão de Juízes 16 e 1 Samuel) como tendo sido compostas no início da Idade do Ferro pré-monárquica (c. 1200 a.C.).[11] Os Manuscritos do Mar Morto, descobertos nas cavernas de Qumran em 1947, são cópias que podem ser datadas entre 250 a.C. e 100 d.C.. São as cópias mais antigas existentes dos livros da Bíblia hebraica de qualquer tamanho que não sejam simplesmente fragmentos.Predefinição:Sfnm

Os primeiros manuscritos provavelmente foram escritos em paleo-hebraico, uma espécie de pictograma cuneiforme semelhante a outros pictogramas do mesmo período.[12] O exílio para a Babilônia provavelmente levou à mudança de escrita (aramaico) nos séculos V a III aC.[13] Desde a época dos pergaminhos do Mar Morto, a Bíblia hebraica era escrita com espaços entre as palavras para ajudar na leitura.[14] Por volta do século VIII d.C., os massoretas acrescentaram sinais vocálicos.[15] Levitas ou escribas mantiveram os textos, sendo que alguns textos sempre foram tratados como mais oficiais do que outros.[16] Os escribas preservavam e alteravam os textos alterando a escrita e atualizando as formas arcaicas ao mesmo tempo em que faziam correções. Esses textos hebraicos foram copiados com muito cuidado.[17]

Escrita hebraico-samaritana

Considerados como escrituras (textos religiosos sagrados e oficiais), os livros foram compilados por diferentes comunidades religiosas em vários cânones bíblicos (coleções oficiais de escrituras).[18] A compilação mais antiga, contendo os primeiros cinco livros da Bíblia e chamada de Torá (que significa "lei", "instrução" ou "ensino") ou Pentateuco ("cinco livros"), foi aceita como cânone judaico pelo século V a.C.. Uma segunda coleção de histórias narrativas e profecias, chamada Nevi'im ("profetas"), foi canonizada no século III a.C.. Uma terceira coleção chamada Ketuvim ("escritos"), contendo salmos, provérbios e histórias narrativas, foi canonizada em algum momento entre o século II a.C. e o século II d.C..[19] Essas três coleções foram escritas principalmente em hebraico bíblico, com algumas partes em aramaico, que juntas formam a Bíblia hebraica ou "TaNaKh" (uma abreviação de "Torá", "Nevi'im" e "Ketuvim").[20]

Existem três versões históricas principais da Bíblia hebraica: a Septuaginta, o Texto Massorético e o Pentateuco Samaritano (que contém apenas os cinco primeiros livros). Elas estão relacionadas, mas não compartilham os mesmos caminhos de desenvolvimento. A Septuaginta, ou LXX, é uma tradução das escrituras hebraicas, e alguns textos relacionados, para o grego koiné, iniciada em Alexandria no final do século III a.C. e concluída em 132 a.C..[21][22] Provavelmente encomendada por Ptolomeu II Filadelfo, rei do Egito, atendeu à necessidade dos judeus de língua grega da diáspora greco-romana.[21][23] As cópias completas existentes da Septuaginta datam do século III ao V d.C., com fragmentos que datam do século II a.C..Predefinição:Sfnm A revisão de seu texto começou já no século I a.C..[24] Fragmentos da Septuaginta foram encontrados entre os Manuscritos do Mar Morto; partes de seu texto também são encontradas em papiros existentes do Egito que datam do séculos I e II a.C. e do século I d.C..[24]Predefinição:Rp

Os massoretas começaram a desenvolver o que se tornaria o texto hebraico e aramaico oficial dos 24 livros da Bíblia hebraica no judaísmo rabínico perto do final do período talmúdico (Predefinição:CircaPredefinição:Circa), mas a data real é difícil de determinar.[25][26][27] Nos séculos VI e VII, três comunidades judaicas contribuíram com sistemas para escrever o texto preciso, com sua vocalização e acentuação conhecidos como mas'sora (da qual derivamos o termo "massorético").[28] Esses primeiros estudiosos massoréticos estavam baseados principalmente nas cidades galileanas de Tiberíades e Jerusalém, e na Babilônia (atual Iraque). Aqueles que viviam na comunidade judaica de Tiberíades na antiga Galiléia (c. 750-950), fizeram cópias de escribas dos textos da Bíblia hebraica sem um texto padrão, como fazia a tradição babilônica. A pronúncia canônica da Bíblia hebraica (chamada hebraica tiberiana) que eles desenvolveram, e muitas das notas que fizeram, diferiam da babilônica.[29] Essas diferenças foram resolvidas em um texto padrão chamado Texto Massorético no século IX.[30] A cópia completa mais antiga ainda existente é o Códice de Leningrado, datado de c. 1000 d.C.[31]

O Pentateuco Samaritano é uma versão da Torá mantida pela comunidade samaritana desde a Antiguidade, que foi redescoberta por estudiosos europeus no século XVII; suas cópias existentes mais antigas datam de c. 1100 d.C.Predefinição:Sfnm Os samaritanos incluem apenas o Pentateuco (Torá) em seu cânon bíblico.[32] Eles não reconhecem autoria ou inspiração divina em nenhum outro livro do Tanakh judaico.Predefinição:Harvnb Existe um Livro Samaritano de Josué parcialmente baseado no Livro de Josué do Tanakh, mas os samaritanos o consideram uma crônica histórica secular não canônica.[33]

No século VII, a primeira forma de códice da Bíblia hebraica foi produzida. O códice é o precursor do livro moderno. Popularizado pelos primeiros cristãos, era feito dobrando-se uma única folha de papiro ao meio, formando “páginas”. Juntar várias dessas páginas dobradas criou um "livro" que era mais facilmente acessível e mais portátil do que os pergaminhos. Em 1488, foi produzida a primeira versão impressa completa da Bíblia hebraica.[34]

Durante a ascensão do cristianismo no século I, novas escrituras foram escritas em grego koiné. Os cristãos chamaram essas novas escrituras de "Novo Testamento" e começaram a se referir à Septuaginta como o "Antigo Testamento".Predefinição:Sfnm O Novo Testamento foi preservado em mais manuscritos do que qualquer outro trabalho antigo.[35][36] A maioria dos primeiros copistas cristãos não eram escribas treinados.[37] Muitas cópias dos evangelhos e das cartas de Paulo foram feitas por cristãos individuais em um período de tempo relativamente curto, logo após os originais terem sido escritos.[38] Há evidências nos Evangelhos Sinóticos, nos escritos dos primeiros pais da igreja, de Marcião, e na Didache de que os documentos cristãos estavam em circulação antes do final do século I.[39][40] As cartas de Paulo circularam durante sua vida e acredita-se que sua morte tenha ocorrido antes de 68 durante o reinado de Nero.[41][42] Os primeiros cristãos transportaram esses escritos por todo o Império Romano, traduzindo-os para o siríaco antigo, copta, etíope e latim, entre outras línguas.[43]

Bart Ehrman explica como esses vários textos mais tarde foram agrupados por estudiosos em categorias:

durante os primeiros séculos da igreja, os textos cristãos eram copiados em qualquer lugar para onde fossem escritos ou levados. Como os textos eram copiados localmente, não é surpresa que diferentes localidades tenham desenvolvido diferentes tipos de tradição textual. Ou seja, os manuscritos em Roma tinham muitos dos mesmos erros, porque eram em sua maioria documentos “internos”, copiados uns dos outros; eles não foram muito influenciados por manuscritos copiados na Palestina; e os da Palestina assumiram características próprias, que não eram as mesmas encontradas em um lugar como Alexandria, no Egito. Além disso, nos primeiros séculos da igreja, alguns locais tinham escribas melhores do que outros. Estudiosos modernos chegaram a reconhecer que os escribas em Alexandria – que era um importante centro intelectual no mundo antigo – eram particularmente escrupulosos, mesmo nestes primeiros séculos, e que lá, em Alexandria, uma forma muito pura do texto dos primeiros cristãos foi preservada, década após década, por escribas cristãos dedicados e relativamente habilidosos.[44]

Essas diferentes histórias produziram o que os estudiosos modernos chamam de "tipos de texto" reconhecíveis. As quatro mais comumente reconhecidas são alexandrina, ocidental, cesariana e bizantina.Predefinição:Sfnm

Papiro P52 é o fragmento mais antigo existente de papiro do Novo Testamento.[45] Contém frases do Livro de João.

A lista de livros incluídos na Bíblia católica foi estabelecida como cânone pelo Concílio de Roma em 382, seguido por Hipona em 393 e Cartago em 397. Entre os anos 385 e 405, a igreja cristã primitiva traduziu seu cânon para o latim vulgar (o latim comum falado por pessoas comuns), uma tradução conhecida como Vulgata.Predefinição:Sfnm Desde então, os cristãos católicos realizaram concílios ecumênicos para padronizar seu cânon bíblico. O Concílio de Trento (1545-1563), realizado pela Igreja Católica em resposta à Reforma Protestante, autorizou a Vulgata como sua tradução latina oficial da Bíblia.Predefinição:Sfnm Uma série de cânones bíblicos evoluíram desde então. Os cânones bíblicos cristãos variam dos 73 livros do cânone da Igreja Católica e os 66 livros do cânone da maioria das denominações protestantes, aos 81 livros do cânone da Igreja Ortodoxa Etíope, entre outros.[46] O judaísmo há muito aceita um único texto oficial, enquanto o cristianismo nunca teve uma versão oficial, tendo muitas tradições manuscritas diferentes.[47]

Todos os textos bíblicos eram tratados com reverência e cuidado por aqueles que os copiaram, mas existem erros de transmissão, chamados variantes, em todos os manuscritos bíblicos.[48][49] Uma variante é simplesmente qualquer desvio entre dois textos. O crítico textual Daniel B. Wallace explica que "cada desvio conta como uma variante, independentemente de quantos manuscritos o atestam".[50] O estudioso hebraico Emanuel Tov diz que o termo não é avaliativo; é simplesmente um reconhecimento de que os caminhos de desenvolvimento de diferentes textos se separaram.[51]

Manuscritos medievais da Bíblia hebraica eram considerados extremamente precisos: os documentos de maior autoridade para copiar outros textos.[52] Mesmo assim, David Carr afirma que os textos hebraicos contêm tipos de variantes acidentais e intencionais: "variantes de memória" são geralmente diferenças acidentais. As variantes também incluem a substituição de equivalentes lexicais, diferenças semânticas e gramaticais e mudanças de escala maior na ordem, com algumas revisões importantes dos textos massoréticos que devem ter sido intencionais.[53]

A maioria das variantes são acidentais, como erros de ortografia, mas algumas mudanças foram intencionais.[54] Mudanças intencionais nos textos do Novo Testamento foram feitas para melhorar a gramática, eliminar discrepâncias, harmonizar passagens paralelas, combinar e simplificar várias leituras variantes em uma, e por razões teológicas.[54][55] Bruce K. Waltke observa que uma variante para cada dez palavras foi observada na recente edição crítica da Bíblia hebraica, a Biblia Hebraica Stuttgartensia, deixando 90% do texto hebraico sem variação. A quarta edição do Novo Testamento Grego da Sociedade Bíblica Unida observa variantes que afetam cerca de 500 de 6.900 palavras, ou cerca de 7% do texto.[56]

Interpretação

Segundo o jornalista David Plotz, da revista eletrônica Slate, até um século atrás, a maioria dos estadunidenses bem instruídos conheciam a Bíblia a fundo.[57] Ele também afirma que atualmente, o desconhecimento bíblico é praticamente total entre pessoas não religiosas.[57] Ainda segundo Plotz, mesmo entre os fiéis, a leitura da Bíblia é irregular: a Igreja Católica inclui somente uma pequena parcela do Antigo Testamento nas leituras oficiais; os judeus estudam bastante os cinco primeiros livros da Bíblia, mas não se importam muito com o restante; os judeus ortodoxos normalmente passam mais tempo lendo o Talmude ou outra coisa que a Bíblia em si; muitos protestantes e/ou evangélicos leem a Bíblia frequentemente, mas geralmente dão mais ênfase ao Novo Testamento.[57]

A inacessibilidade da Bíblia entre a Antiguidade e a Idade Média resultou na criação de diversas narrativas sobre os personagens bíblicos, criando acréscimos e distorções. A Igreja Católica não podia entregar muitos exemplares da Bíblia, por causa da dificuldades da época que não existia impressão, tendo a Igreja, alegando que nem todos teriam a capacidade necessária para interpretá-la, devido à sua complexidade, tanto que a Igreja justificava essa dificuldade de entendê-la, mostrando aos seus fiéis às grandes heresias que até desbalancear a sociedade, desbalanceava, como o catarismo.[58]

Os conflitos entre ciência e religião foram, em parte, ajudados pela interpretação literal da Bíblia.[59] Esta não deve ser interpretada como um relato preciso da história da humanidade ou uma descrição perfeita da natureza.[59] Galileu Galilei considerava que a Bíblia deveria ser interpretada a partir do estudo da natureza.[60]

Os escravocratas basearam-se na parte da Bíblia que conta sobre Noé ter condenado seu filho Cam e seus descendentes à escravidão para justificar religiosamente a escravidão.[61]

Martinho Lutero considerava que o amor de Cristo era alcançável gratuitamente por meio da Bíblia. Foi um dos primeiros teólogos a sugerir que as pessoas deveriam ler e interpretar a Bíblia por si mesmas.[58] A maioria das pessoas interpreta a Bíblia por intermédio de seu líder religioso.[62]

Estrutura interna

A Bíblia é dividida em duas partes: o Antigo e o Novo Testamentos. O primeiro, na versão aceita de forma geral por protestantes e judeus, apresenta a história do mundo desde sua criação até os acontecimentos após a volta dos judeus do exílio babilônico, no Predefinição:-séc Os católicos e ortodoxos, por outro lado, têm um cânon mais extenso, cobrindo até os asmoneus do Predefinição:-séc

O Novo Testamento apresenta a história de Jesus Cristo e a pregação de seus ensinamentos, durante sua vida e após sua morte e ressurreição, no século I. (ver: Vida de Cristo) A Bíblia não era dividida em capítulos até 1 227, quando o cardeal Sthepen Langton os criou, e não apresentava versículos até ser assim dividida em 1 551 por Robert Stephanus.

Livros do Antigo Testamento

Ver artigo principal: Antigo Testamento

A quantidade de livros do Antigo Testamento varia de acordo com a religião ou denominação cristã que o adota: a Bíblia dos cristãos protestantes e o Tanakh judaico incluem apenas 39 livros, enquanto a Igreja Católica possui 46 e a Igreja Ortodoxa em geral aceita 51. Os sete livros existentes na Bíblia católica, ausentes da judaica e da protestante são conhecidos como deuterocanônicos para os católicos e apócrifos para os protestantes. O mesmo se aplica aos livros da Bíblia ortodoxa, que por sua vez pode vir a ter mais livros.[63]

Os livros do Antigo Testamento aceitos por todos os cristãos como sagrados (chamados protocanônicos pela Igreja Católica) são: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, I Samuel, II Samuel, I Reis, II Reis, I Crônicas, II Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, , Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos dos Cânticos, Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.[64]

Os deuterocanônicos, aceitos pela Igreja Católica como sagrados são: Tobias, Judite, I Macabeus, II Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruque. Estes estão disponíveis na tradução grega do Antigo Testamento, datada do Século I AC, a Septuaginta.

Segundo a visão protestante, os textos deuterocanônicos (chamados "Livros apócrifos" pelos protestantes) foram, supostamente, escritos entre Malaquias e o Novo Testamento, numa época em que segundo o historiador judeu Flávio Josefo, a Revelação Divina havia cessado porque a sucessão dos profetas era inexistente ou imprecisa (ver: Testimonium Flavianum). O parecer de Josefo não é aceito pelos cristãos católicos, ortodoxos e por alguns protestantes, e igualmente pensam assim uma maioria judaica não farisaica, porque Jesus afirma que durou até João Batista, "A lei e os profetas duraram até João" (cf. [[:s:Tradução Brasileira da Bíblia/Lucas/

  1. REDIRECIONAMENTO Predefinição:Números romanos#16:16|Lucas 16:16]]; [[:s:Tradução Brasileira da Bíblia/Mateus/
  2. REDIRECIONAMENTO Predefinição:Números romanos#11:13|Mateus 11:13]]).[64]

Livros do Novo Testamento

Ver artigo principal: Novo Testamento

O Novo Testamento é composto de 27 livros: Evangelho de Mateus, Evangelho de Marcos, Evangelho de Lucas, Evangelho de João, Atos dos Apóstolos, Romanos, I Coríntios, II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I Tessalonicenses, II Tessalonicenses, I Timóteo, II Timóteo, Tito, Filémon, Hebreus, Epístola de Tiago, Primeira Epístola de Pedro, Segunda Epístola de Pedro, Primeira Epístola de João, Segunda Epístola de João, Terceira Epístola de João, Epístola de Judas e Apocalipse.[64]

As traduções do Novo Testamento foram feitas a partir de mais de 5 000 manuscritos, que podem ser divididos em duas categorias: Texto-Tipo Bizantino e Texto-Tipo Alexandrino.[65] Os pergaminhos do Texto-Tipo Bizantino (também chamado Textus Receptus) são representados pela maioria (cerca de 95%) dos manuscritos existentes.[66]

Através dos séculos, desde o começo da era cristã, e inclusive em alguns contextos, como na Reforma Protestante do século XVI, os textos deuterocanônicos do Novo Testamento foram tão debatidos como os textos deuterocanônicos do Antigo Testamento. Finalmente, os reformistas protestantes decidiram rejeitar todos os textos deuterocanônicos do Antigo Testamento, e aceitar todos os textos deuterocanônicos do Novo Testamento, embora houvesse em Lutero, no processo da Reforma Protestante, a intenção de remover determinados livros do Novo Testamento por considerá-los apócrifos ou dolosos, como a Epístola de Tiago.[67] (ver: Apócrifos do Novo Testamento).

Origem do termo "testamento"

Este vocábulo não se encontra na Bíblia como designação de uma de suas partes. A palavra portuguesa "testamento" corresponde à palavra hebraica berith (que significa aliança, pacto, convênio, contrato), e designa a aliança que Deus fez com o povo de Israel no monte Sinai, tal como descrito no livro de Êxodo ([[:s:Tradução Brasileira da Bíblia/Êxodo/

  1. REDIRECIONAMENTO Predefinição:Números romanos#24:1|Êxodo 24:1-8]] e [[:s:Tradução Brasileira da Bíblia/Êxodo/
  2. REDIRECIONAMENTO Predefinição:Números romanos#34:10|Êxodo 34:10-28]]). Segundo a própria Bíblia, tendo sido esta aliança quebrada pela infidelidade do povo, Deus prometeu uma nova aliança ([[:s:Tradução Brasileira da Bíblia/Jeremias/
  3. REDIRECIONAMENTO Predefinição:Números romanos#31:31|Jeremias 31:31-34]]) que deveria ser ratificada com o sangue de Cristo ([[:s:Tradução Brasileira da Bíblia/Mateus/
  4. REDIRECIONAMENTO Predefinição:Números romanos#26:28|Mateus 26:28]]). Os escritores do Novo Testamento denominam a primeira aliança de antiga ([[:s:Tradução Brasileira da Bíblia/Hebreus/
  5. REDIRECIONAMENTO Predefinição:Números romanos#8:13|Hebreus 8:13]]), em contraposição à nova ([[:s:Tradução Brasileira da Bíblia/2 Coríntios/
  6. REDIRECIONAMENTO Predefinição:Números romanos#3:6|2 Coríntios 3:6-14]]).

Os tradutores da Septuaginta traduziram berith para diatheke, embora não haja perfeita correspondência entre as palavras, já que berith designa "aliança" (compromisso bilateral) e diatheke tem o sentido de "última disposição dos próprios bens", "testamento" (compromisso unilateral).[68]

As respectivas expressões "antiga aliança" e "nova aliança" passaram a designar a coleção dos escritos que contém os documentos respectivamente da primeira e da segunda aliança. As denominações "Antigo Testamento" e "Novo Testamento", para as duas coleções dos livros sagrados, começaram a ser usadas no final do século II, quando os evangelhos e outros escritos apostólicos foram considerados como parte do cânon sagrado. O termo "testamento" surgiu através do latim, quando a primeira versão latina do Antigo Testamento grego traduziu diatheke por testamentum . Jerônimo de Estridão, revisando esta versão latina, manteve a palavra testamentum, equivalendo ao hebraico berith — "aliança", "concerto", quando a palavra não tinha essa significação no grego (ver: Vulgata). Afirmam alguns pesquisadores que a palavra grega para "contrato", "aliança" deveria ser suntheke, por traduzir melhor o hebraico berith.[68][69]

Versões e traduções

Ver artigo principal: Tradução da Bíblia
Livro do Gênesis, Bíblia em tâmil de 1723

As diversas igrejas cristãs possuem algumas divergências quanto aos seus cânones sagrados,[nota 1] inclusive entre protestantes.[nota 1] A Igreja Católica possui 46 livros no Antigo Testamento como parte de seu cânone bíblico.[70] Os livros de Livro de Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, I Macabeus e II Macabeus e as chamadas Adições em Ester e Adições em Daniel) são considerados "deuterocanônicos" (ou "do segundo cânon") pela Igreja Católica.[71] Além disso, existem 27 livros no Novo Testamento.[70]

As igrejas cristãs ortodoxas e as outras igrejas orientais, aceitam, além de todos estes já citados, outros dois livros de Esdras, outros dois dos Macabeus, a Oração de Manassés, e alguns capítulos a mais no final do livro dos Salmos (um nas Bíblias das igrejas de tradição grega, cóptica, eslava e bizantina, e cinco nas Bíblias das igrejas de tradição siríaca).

A grande fonte hebraica para o Antigo Testamento é o chamado Texto Massorético. Trata-se do texto hebraico fixado ao longo dos séculos por escolas de copistas, chamados massoretas, que tinham como particularidade um escrúpulo rigoroso na fidelidade da cópia ao original. O trabalho dos massoretas, de cópia e também de vocalização do texto hebraico (que não tem vogais, e que, por esse motivo, ao tornar-se língua morta, necessitou de as indicar por meio de sinais), prolongou-se até ao Século VIII d.C. Pela grande seriedade deste trabalho, e por ter sido feito ao longo de séculos, o texto massorético (sigla TM) é considerado a fonte mais autorizada para o texto hebraico bíblico original.[72]

No entanto, outras versões do Antigo Testamento têm importância, e permitem suprir as deficiências do Texto Massorético. É o caso do Pentateuco Samaritano (os samaritanos que eram uma comunidade étnica e religiosa separada dos judeus, que tinham culto e templo próprios, e que só aceitavam como livros sagrados os do Pentateuco), e principalmente a Septuaginta grega (sigla LXX).[73]

A Versão dos Setenta ou Septuaginta grega, designa a tradução grega do Antigo Testamento, elaborada entre os séculos IV e I AC, feita em Alexandria, no Egito. O seu nome deve-se à lenda que dizia ter sido essa tradução um resultado milagroso do trabalho de 70 eruditos judeus, e que pretende exprimir que não só o texto, mas também a tradução, fora inspirada por Deus. A Septuaginta grega é a mais antiga versão do Antigo Testamento que conhecemos. A sua grande importância provém também do facto de ter sido essa a versão da Bíblia utilizada entre os cristãos, desde o início, versão que continha os deuterocanônicos, e a que é de maior citação do Novo Testamento, mais do que o Texto Massorético.[74][75]

A Igreja Católica considera como oficiais 73 livros bíblicos (46 do Antigo Testamento e 27 do Novo), sendo 7 livros a mais no Antigo Testamento do que das demais religiões cristãs e pelo judaísmo. Já a Bíblia usada pela Igreja Ortodoxa contém 78 livros, 5 a mais que a católica e 12 a mais que a protestante.[76]

Mundo lusófono

A primeira versão portuguesa da Bíblia surgiu em 1681, a partir das línguas originais, traduzida para o português por João Ferreira de Almeida. Almeida faleceu antes de concluir o trabalho, que foi finalizado por colaboradores da Igreja Reformada holandesa, e a versão completa com o Antigo Testamento foi publicada no início de 1750.[77]

Religiões

Os judeus têm o Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio) como seu mais importante livro sagrado, o qual chamam de Torá. O restante do Antigo Testamento de acordo com a tradição protestante são chamados de Nevi'im e Ketuvim, coletivamente com a Torá chamados de Tanakh.[78] Os samaritanos, cuja fé se originou em uma antiga divisão no seio de Israel, usam apenas a Torá. A fé bahá'i tem tanto a Bíblia quanto o Alcorão como livros sagrados, além de seu livro particular, o Kitáb-i-Aqdas.

O Alcorão, livro sagrado do Islã, possui várias passagens em coincidência com a Bíblia, o que leva alguns estudiosos islâmicos a estudarem-na em busca de informações adicionais. As visões dentro do Islã sobre esta Escritura, no entanto, são variadas, com o próprio Alcorão denunciando-a como corrupta e estudiosos como Abzeme denunciando os supostos textos subjacentes à Bíblia condizentes à ortodoxia islâmica como irrecuperáveis.[79] [80]

Os Espíritas consideram a Primeira Aliança como um livro histórico, e têm sua doutrina, seus princípios morais, fundamentada em O Evangelho segundo o Espiritismo, que alegam ser uma terceira revelação, superando o Antigo e o Novo Testamentos, que creem ser, respectivamente, a revelação da lei por Moisés e a da graça por Jesus Cristo.[81]

Erros e adulterações

No século XIII, diversos estudiosos, especialmente de ordens dominicanas e franciscanas, como Roger Bacon, denunciavam erros e buscavam corrigir (através de pesquisas em textos hebraicos e gregos) as traduções usadas nas cópias em latim mais populares da época, chamadas "Bíblias de Paris".[82] Com as descobertas da biblioteca de Nag Hammadi e dos Manuscritos do Mar Morto (ou Qumram), no século XX, essas dúvidas dissiparam-se e, com o advento das técnicas de crítica textual, hoje a Bíblia está disponível com pelo menos 99% de fidelidade aos originais; sendo que a maioria das discrepâncias presentes nos outros 1% dos trechos são de natureza trivial, i. e., sem relevância.[83]

Segundo alguns estudiosos, em maioria de origem nas Testemunhas de Jeová, um erro de tradução da Bíblia seria o de tomar σταυρός (transliterado stavrós) como cruz, e baseando-se nisto, dizer que Jesus foi pregado em uma cruz ao invés de uma estaca de tortura que significa simplesmente um madeiro,[84] pois na época da morte de Jesus, o significado da palavra abrangia apenas uma só estaca ou madeiro.[84] Este posicionamento, no entanto, é rechaçado por outras denominações, que apontam a polissemia da palavra σταυρός e o antigo testemunho de patrísticos como Justino Mártir,[85] Irineu de Lyon[86] e Hipólito de Roma.[87]

Influência

Com uma tradição literária de dois milênios, a Bíblia tem sido um dos livros mais influentes do mundo.[88] Das práticas de higiene pessoal à filosofia e ética, a Bíblia influenciou direta e indiretamente a política e o direito, a guerra e a paz, a moral sexual, o casamento e a vida familiar, as letras e o aprendizado, as artes, a economia, a justiça social, os cuidados médicos e mais. De acordo com a edição de março de 2007 da Time, a Bíblia "fez mais para moldar a literatura, a história, o entretenimento e a cultura do que qualquer livro já escrito. Sua influência na história mundial é incomparável e não mostra sinais de diminuir." A Bíblia é um dos livros mais publicados do mundo, com vendas totais estimadas em mais de cinco bilhões de cópias.[89] Como tal, a Bíblia teve uma profunda influência, especialmente no mundo ocidental, onde a Bíblia de Gutenberg foi o primeiro livro impresso na Europa usando tipos móveis.[90][91]

Críticas

Os críticos veem certos textos bíblicos como moralmente problemáticos. A Bíblia tem conteúdos que são considerados injustos, imorais ou ofensivos por diferentes grupos sociais, produzindo grandes controvérsias. Por exemplo, são criticadas a condenação da homossexualidade como um pecado e uma abominação;[92][93][94] sua orientação patriarcal e muitas passagens em que a mulher é colocada em posição subalterna, oprimida e submissa;[95][96][97][98] e o uso de trechos selecionados do texto para justificar violência, intolerância religiosa, discursos de ódio, racismo, teorias supremacistas, privilégios de classe, manipulação política, campanhas colonialistas, genocídios, escravidão e proselitismo religioso.[94][99][100][101]

A Bíblia não condena a escravidão totalmente, mas há versículos que tratam dela e eles têm sido usados para apoiá-la. Alguns escreveram que o supersessionismo começa no livro de Hebreus, onde outros localizam seu início na cultura do Império Romano do século IV.[102]Predefinição:Rp A Bíblia tem sido usada para apoiar a pena de morte, o patriarcado, a intolerância sexual, a violência da guerra total e colonialismo. Na Bíblia cristã, a violência da guerra é abordada de quatro maneiras: pacifismo, não resistência, guerra justa e guerra preventiva, que às vezes é chamada de cruzada.[103]Predefinição:Rp

Na Bíblia hebraica, há guerra justa e guerra preventiva que inclui os amalequitas, cananeus, moabitas e o registro em Êxodo, Deuteronômio, Josué e ambos os livros de Reis.[104] John J. Collins escreve que as pessoas ao longo da história usaram esses textos bíblicos para justificar a violência contra seus inimigos.[105] Nur Masalha argumenta que o genocídio é inerente a esses mandamentos e que eles serviram como exemplos inspiradores de apoio divino para massacrar oponentes.[106] O antropólogo Leonard B. Glick oferece o exemplo moderno de fundamentalistas judeus em Israel, como Shlomo Aviner, um teórico proeminente do movimento Gush Emunim, que considera os palestinos como os "cananeus bíblicos" e, portanto, sugere que Israel "deve estar preparado para destruir" os palestinos se os palestinos não deixarem a terra.[107]

A "aplicabilidade do termo [genocídio] a períodos anteriores da história" é questionada pelos sociólogos Frank Robert Chalk e Kurt Jonassohn.[108] Uma vez que a maioria das sociedades do passado apoiava e pratica o genocídio, ele era aceito naquela época como algo da "natureza da vida" por causa da sua "brutalidade" inerente; a condenação moral associada a termos como genocídio são produtos da moralidade moderna.[108]Predefinição:Rp A definição do que constitui violência ampliou-se consideravelmente ao longo do tempo.[109]Predefinição:Rp A Bíblia reflete como as percepções de violência mudaram para seus autores.[109]Predefinição:Rp

De acordo com o historiador Shulamith Shahar, "alguns historiadores sustentam que a Igreja desempenhou um papel considerável na promoção do status inferior das mulheres na sociedade medieval em geral", fornecendo uma "justificativa moral" para a superioridade masculina e aceitando práticas como o espancamento de esposas.[110]Predefinição:Rp Phyllis Trible, em sua agora famosa obra Texts of Terror, conta quatro histórias bíblicas de sofrimento no antigo Israel, onde as mulheres são as vítimas. Tribble descreve a Bíblia como "um espelho" que reflete os humanos e a vida humana em toda a sua "santidade e horror".[111]

Segundo o jornalista David Plotz, da revista online Slate Magazine, a Bíblia tem muitas passagens "difíceis, repulsivas, confusas e entediantes",[57] enquanto especialistas em literatura discordam e abordam a beleza da literatura bíblica em artigos acadêmicos.[112][113][114][115]

Mark Twain tinha uma visão ambígua da Bíblia. Por um lado entendia que ela continha muitas passagens inspiradoras, belas e grandiosas, muitas ideias interessantes e imaginativas, mas de modo geral mantinha uma opinião negativa, verificando que a Bíblia estava cheia de mentiras, hipocrisia, indecências e carnificinas e apresentava um Deus injusto, mesquinho, impiedoso, cruel e vingativo, punindo crianças inocentes pelos erros de seus pais; punindo pessoas pelos pecados de seus governantes; descarregando sua ira em ovelhas e bezerros inofensivos como punição por ofensas insignificantes cometidas por seus proprietários. Também criticava as leituras literais e interpretações errôneas do conteúdo e a influência perniciosa do livro sobre a humanidade, por ter doutrinas contrárias à natureza e à justiça e por fazer o planeta ser coberto de sangue em seu nome.[116]

John Riches, professor de divindade e crítica bíblica da Universidade de Glasgow, fornece a seguinte visão das diversas influências históricas da Bíblia: Página Predefinição:Quote/styles.css não tem conteúdo.

Ela inspirou alguns dos grandes monumentos do pensamento humano, literatura e arte; também alimentou alguns dos piores excessos de selvageria humana, interesse próprio e estreiteza mental. Inspirou homens e mulheres a atos de grande serviço e coragem, a lutar pela libertação e pelo desenvolvimento humano; e forneceu o combustível ideológico para sociedades que escravizaram seus semelhantes e os reduziram à pobreza abjeta. ... Talvez acima de tudo, [a Bíblia] forneceu uma fonte de normas religiosas e morais que permitiram às comunidades manter-se unidas, cuidar e proteger umas às outras; no entanto, precisamente esse forte sentimento de pertencimento alimentou, por sua vez, tensões e conflitos étnicos, raciais e internacionais. Ou seja, tem sido a fonte de grande verdade, bondade e beleza, ao mesmo tempo que inspirou mentiras, maldade e feiúra.[117]

Política e direito

A Bíblia tem sido usada para apoiar e se opor ao poder político. Inspirou a revolução e "uma inversão de poder" porque Deus é muitas vezes retratado como escolhendo o que é "fraco e humilde a confrontar o poderoso (o Moisés gaguejante, o menino Samuel, Saul de uma família insignificante, Davi confrontando Golias, etc.)".[118][119] Os textos bíblicos têm sido o catalisador de conceitos políticos como democracia, tolerância e liberdade religiosa.[120]Predefinição:Rp Estes, por sua vez, inspiraram movimentos que vão desde o abolicionismo nos séculos XVIII e XIX, até o movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, o movimento contra o apartheid na África do Sul e teologia da libertação na América Latina. A Bíblia, por sua vez, tem sido a fonte de muitos movimentos de paz ao redor do mundo e esforços de reconciliação.[121]

As raízes de muitas leis modernas podem ser encontradas nos ensinamentos da Bíblia sobre o devido processo legal, justiça nos procedimentos criminais e equidade na aplicação da lei.[122] Juízes são instruídos a não aceitar suborno (Deuteronômio 16:19), devem ser imparciais tanto para nativos quanto para estrangeiros (Levítico 24:22; Deuteronômio 27:19), necessitados e poderosos (Levítico 19:15) e ricos e pobres igualmente (Deuteronômio 1:16,17; Êxodo 23:2-6). O direito a um julgamento justo e punição justa também são encontrados na Bíblia (Deuteronômio 19:15; Êxodo 21:23-25). Os mais vulneráveis em uma sociedade patriarcal – crianças, mulheres e estranhos – são escolhidos na Bíblia para proteção especial (Salmo 72:2,4).[123]Predefinição:Rp

Responsabilidade social

O fundamento filosófico dos direitos humanos está nos ensinamentos bíblicos da lei natural.[124][125] Os profetas da Bíblia hebraica repetidamente advertem o povo a praticar justiça, caridade e responsabilidade social. H. A. Lockton escreve em "A Bíblia da Pobreza e Justiça (The Bible Society, 2008) afirma que há mais de 2 mil versículos na Bíblia que tratam das questões de justiça das relações entre ricos e pobres, exploração e opressão".[126] O judaísmo praticava a caridade e curava os doentes, mas tendia a limitar essas práticas ao seu próprio povo.[127] Para os cristãos, as declarações do Antigo Testamento são reforçadas por vários versículos, como Mateus 10:8, Lucas 10:9 e 9:2 e Atos 5:16 que dizem "curar os enfermos". Os autores Vern e Bonnie Bullough escrevem em The care of the sick: the emergence of modern nursing, que isso é visto como um aspecto de seguir o exemplo de Jesus, já que grande parte de seu ministério público se concentrou na cura.[127] No processo de seguir este comando, o monaquismo no terceiro século transformou os cuidados de saúde.[128] Isso produziu o primeiro hospital para os pobres em Cesareia no século IV. O sistema de saúde monástico foi inovador em seus métodos, permitindo que os doentes permanecessem dentro do mosteiro como uma classe especial que recebia benefícios especiais; desestigmatizou a doença, legitimou o desvio da norma que a doença inclui e formou a base para futuros conceitos modernos de assistência à saúde pública.[129] As práticas bíblicas de alimentar e vestir os pobres, visitar prisioneiros, sustentar viúvas e crianças órfãs tiveram um grande impacto.[130][131][132]

A ênfase da Bíblia no aprendizado teve uma influência formidável sobre os crentes e a sociedade ocidental. Durante séculos após a queda do Império Romano do Ocidente, todas as escolas na Europa eram escolas religiosas baseadas na Bíblia e, fora dos assentamentos monásticos, quase ninguém tinha a capacidade de ler ou escrever. Essas escolas eventualmente levaram às primeiras universidades do mundo ocidental (criadas pela igreja) na Idade Média, que se espalharam pelo mundo nos dias modernos.[133] Os reformadores protestantes queriam que todos os membros da igreja pudessem ler a Bíblia, então a educação obrigatória para meninos e meninas foi introduzida. Traduções da Bíblia em línguas vernáculas locais apoiaram o desenvolvimento de literaturas nacionais e a invenção de alfabetos.[134]

Os ensinamentos bíblicos sobre a moralidade sexual mudaram o Império Romano, o milênio que se seguiu e continuaram a influenciar a sociedade.[135] O conceito de moralidade sexual de Roma estava centrado no estatuto social e político, no poder e na reprodução social (a transmissão da desigualdade social para a próxima geração). O padrão bíblico era uma "noção radical de liberdade individual centrada em torno de um paradigma libertário de agência sexual completa" na própria imagem do ser humano"..[136]Predefinição:Rp

Literatura e artes

A Bíblia influenciou direta e indiretamente a literatura: a obra Confissões de Santo Agostinho é amplamente considerada a primeira autobiografia da literatura ocidental.[137] A Summa Theologica, escrita entre 1265 e 1274, é "um dos clássicos da história da filosofia e uma das obras mais influentes da literatura ocidental".[138] Ambas influenciaram os escritos da poesia épica de Dante e sua Divina Comédia e, por sua vez, a criação e a teologia sacramental de Dante contribuíram para influenciar escritores como J. R. R. Tolkien[139] e William Shakespeare.[140]

Muitas obras-primas da arte ocidental foram inspiradas por temas bíblicos: desde as esculturas de David e Pietà de Michelangelo, até A Última Ceia de Leonardo da Vinci e as várias pinturas Madonna de Rafael. Existem centenas de exemplos. Eva, a tentadora que desobedece ao mandamento de Deus, é provavelmente a figura mais amplamente retratada na arte.[141] A Renascença preferiu o sensual nu feminino, enquanto a "femme fatale" Dalila do século XIX em diante demonstra como a Bíblia e a arte moldam e refletem as visões das mulheres.[142][143]

A Bíblia tem muitos rituais de purificação que falam de puro e impuro em termos literais e metafóricos.[144] A etiqueta bíblica do banheiro incentiva a lavagem após todas as ocorrências de defecação, daí a invenção do bidê.[145][146]

Arqueologia e pesquisa histórica

A arqueologia bíblica é uma subseção da arqueologia que se relaciona e foca nas escrituras hebraicas e no Novo Testamento.[147] É usada para ajudar a determinar o estilo de vida e as práticas das pessoas que vivem nos tempos bíblicos.[148] Há uma ampla gama de interpretações no campo da arqueologia bíblica.[149] Uma ampla divisão inclui o maximalismo bíblico, que geralmente considera que a maior parte do Antigo Testamento ou da Bíblia hebraica é baseada na história, embora seja apresentada através do ponto de vista religioso de seu tempo. De acordo com o historiador Lester L. Grabbe, há poucos, se houver, maximalistas no mainstream acadêmico.[150] É considerado o extremo oposto do minimalismo bíblico, que considera a Bíblia uma composição puramente pós-exílica (século V a.C. e posteriores).[151] De acordo com Mary-Joan Leith, professora de estudos religiosos, muitos minimalistas ignoraram as evidências da antiguidade da língua hebraica na Bíblia e poucos levam em consideração as evidências arqueológicas.[152] A maioria dos estudiosos e arqueólogos bíblicos e arqueólogos ficam em algum lugar em um espectro entre essas duas correntes de pensamento.[153][150]

O relato bíblico dos eventos do Êxodo do Egito na Torá, a migração para a Terra Prometida e o Período dos Juízes são fontes de debate acalorado. Há uma ausência de evidências que comprovem a presença de hebreus no Egito antigo de qualquer fonte egípcia, histórica ou arqueológica.[154] No entanto, como William Dever aponta, essas tradições bíblicas foram escritas muito depois dos eventos que descrevem e são baseadas em fontes agora perdidas e tradições orais mais antigas.[155]

A Bíblia hebraica/Antigo Testamento, antigos textos não-bíblicos e arqueologia apoiam o Cativeiro Babilónico começando por volta de 586 a.C..[156] Escavações no sul da Judeia mostram um padrão de destruição consistente com a devastação neoassíria de Judá no final do século VIII e II a.C., Reis 18:13.[157] Em 1993, em Tel Dã, o arqueólogo Avraham Biran desenterrou uma inscrição fragmentária em aramaico, a Estela de Tel Dã, datada do final do século IX ou início do XVIII que menciona um "rei de Israel", bem como uma "casa de Davi". Isso mostra que Davi não poderia ser uma invenção do final do século VI e implica que os reis de Judá traçaram sua linhagem até alguém chamado Davi.[158] No entanto, não há evidências arqueológicas atuais para a existência dos reis Davi e Salomão ou do Primeiro Templo já no século X a.C., onde a Bíblia os coloca.[159]

No século XIX e início do século XX, pesquisas demonstraram que os estudos de Atos dos Apóstolos (Atos) foram divididos em duas tradições, "uma tradição conservadora (em grande parte britânica) que tinha grande confiança na historicidade de Atos e uma menos conservadora (em grande parte alemã) tradição que tinha muito pouca confiança na historicidade de Atos". Pesquisas subsequentes mostram que pouco mudou.[160] O autor Thomas E. Phillips escreve que "neste debate de dois séculos sobre a historicidade de Atos e suas tradições subjacentes, apenas uma suposição parecia ser compartilhada por todos: Atos deveria ser lido como história".[161] Isso também está sendo debatido pelos estudiosos como: a que gênero os Atos realmente pertencem?[161] "Atos é história ou ficção? Aos olhos da maioria dos estudiosos, é história - mas não o tipo de história que exclui a ficção." diz Phillips.[162]

Entre os historiadores não ligados a círculos religiosos, é opinião corrente que a Bíblia em sua maior parte não é um documento histórico confiável. Grande parte do seu conteúdo histórico é considerado mítico, lendário ou alegórico, e não pôde ser comprovado por evidências indisputadas externas ao texto, e para muitas passagens foram descobertas evidências que as contradizem frontalmente.[163][164][165][166][167][168] Além disso, seu texto contém muitas incongruências, contradições, anacronismos, interpolações tardias, que têm gerado intensas controvérsias e trazido problemas para a interpretação do texto, afirmação de doutrinas e determinação da historicidade.[169][170][171][172][173]

Exegese bíblica

Jean Astruc, muitas vezes chamado de "pai da crítica bíblica", no Centre hospitalier universitaire de Toulouse

A exegese (ou crítica) bíblica refere-se à investigação analítica da Bíblia como texto e aborda questões como história, autoria, datas de composição e intenção autoral. Não é o mesmo que crítica à Bíblia, que é uma afirmação contra a Bíblia ser uma fonte de informação ou orientação ética, nem é uma crítica a possíveis erros de tradução.[174]

A crítica bíblica tornou o estudo da Bíblia secularizado, erudito e mais democrático, ao mesmo tempo que alterou permanentemente a maneira como as pessoas entendiam a Bíblia.[175] A Bíblia não é mais pensada apenas como um artefato religioso e sua interpretação não está mais restrita à comunidade de crentes.[176]

Michael Fishbane escreve: "Há aqueles que consideram a dessacralização da Bíblia como a condição afortunada para o desenvolvimento do mundo moderno".[177] Para muitos, a crítica bíblica "lançou uma série de ameaças" à fé cristã. Para outros, ela "provou ser um fracasso, principalmente devido à suposição de que a pesquisa diacrônica e linear poderia dominar todas e quaisquer questões e problemas decorrentes da interpretação".[178] Outros ainda acreditavam que a crítica bíblica, "despojada de sua arrogância injustificada", poderia ser uma fonte confiável de interpretação.[178]

Fishbane compara a crítica bíblica a Jó, um profeta que destruiu "visões egoístas para uma passagem mais honesta do textus divino para o humano".[176] Ou como diz Rogerson: a crítica bíblica tem sido libertadora para aqueles que querem sua fé "inteligentemente fundamentada e intelectualmente honesta".[179]

Ver também

Predefinição:Notas

Referências

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  84. 84,0 84,1 «A cruz de Cristo». O Nortão. 4 de novembro de 2011. Consultado em 11 de novembro de 2011. Outro erro refere-se à cruz. Afirma-se que a cruz é um símbolo pagão e que Jesus teria sido pregado em uma estaca e com as mãos transpassadas por um só prego, por isto escolhendo traduzir σταυρός como "estaca". Originalmente, “staurós” significava poste, conforme se pode ver em Homero, Hesíquio de Alexandria e outros. Porém, passou a significar duas traves (uma vertical e outra horizontal) atravessada uma na outra. E tanto os escritores pagãos como os cristãos nos apresentam a cruz no tempo de Cristo usada para punir os criminosos: havia uma trave vertical chamada “stipes” ou “staticulum”, e uma outra dita “patibulum”, que era fixada à anterior em sentido horizontal. O réu era preso à trave horizontal com os braços abertos e depois fixo ao poste vertical. 
  85. Diálogo com Trifão, 40: That lamb which was commanded to be wholly roasted was a symbol of the suffering of the cross which Christ would undergo. For the lamb, which is roasted, is roasted and dressed up in the form of the cross. For one spit is transfixed right through from the lower parts up to the head, and one across the back, to which are attached the legs of the lamb.
  86. Contra as Heresias 2:14:4: The very form of the cross, too, has five extremities, two in length, two in breadth, and one in the middle, on which [last] the person rests who is fixed by the nails.
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