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Oxigénio: mudanças entre as edições

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{{Elemento/Oxigênio}}
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O {{PEPB|oxigénio|oxigênio}} é um [[Tabela periódica dos elementos|elemento químico]] de [[número atómico|número atômico]] 8 e símbolo '''O''' (8 [[Prótons|protões]] e 8 [[Elétrons|eletrões]]) representando com [[massa atômica]] 16 [[unidade de massa atômica|u]]. Constitui parte do [[Grupo (química)|grupo]] dos [[calcogénio]]s e é um [[não metal]] [[reação química|reactivo]] e um forte [[oxidação|agente oxidante]] que facilmente forma [[composto químico|compostos]] com a maioria dos outros elementos, principalmente [[óxido]]s. Tem a segunda [[electronegatividade]] mais elevada de todos os elementos químicos, superado apenas pelo [[flúor]].<ref>{{citar web |título=WebElements: the periodic table on the web – Oxygen: electronegativities |url=http://www.webelements.com/oxygen/electronegativity.html |página=WebElements|acessodata=7 de novembro de 2011}}</ref> Medido pela sua [[massa]], o oxigênio é o terceiro elemento mais abundante do [[universo]], atrás do [[hidrogénio|hidrogênio]] e [[hélio]],<ref name="NBB297">{{Harvnb|Emsley|2001|p=297}}</ref> e o mais abundante na [[crosta terrestre]] como parte de compostos óxidos, formando praticamente metade da sua massa.<ref name="lanl"/> Em [[condições normais de pressão e temperatura]], dois [[átomo]]s do elemento [[Ligação química|ligam-se]] para formar o [[Oxigénio#Alótropos|dioxigénio]], um [[gás]] [[Molécula diatômica|diatômico]] com fórmula {{nowrap|{{chem|O|2}}}}. Este gás diatômico constitui 20,8% da [[atmosfera]] e é fundamental para suportar a [[vida]] [[Terra|terrestre]].<ref name="ECE500">{{Harvnb|Cook|Lauer|1968|p=500}}</ref> Não obstante, vários estudos dos níveis de oxigênio atmosférico indicam uma progressão global descendente na proporção deste elemento, principalmente por causa das emissões procedentes da queima de [[combustível fóssil|combustíveis fósseis]].<ref>{{citar web|url=http://scrippso2.ucsd.edu/|título=Atmospheric Oxygen Research|editora=Scrippdios Institute|acessodata=20 de abril de 2016}}</ref>
O {{PEPB|oxigénio|oxigênio}} é um [[Tabela periódica dos elementos|elemento químico]] de [[número atómico]] 8 e símbolo '''O''' (8 [[Prótons|protões]] e 8 [[Elétrons|eletrões]]) representando com [[massa atômica|massa atómica]] 16 [[unidade de massa atômica|u]]. Constitui parte do [[Grupo (química)|grupo]] dos [[calcogénio]]s e é um [[não metal]] [[reação química|reactivo]] e um forte [[oxidação|agente oxidante]] que facilmente forma [[composto químico|compostos]] com a maioria doutros elementos, principalmente [[óxido]]s. Tem a segunda [[electronegatividade]] mais elevada de todos os elementos químicos, superado apenas pelo [[flúor]].<ref>{{citar web |título=WebElements: the periodic table on the web – Oxygen: electronegativities |url=http://www.webelements.com/oxygen/electronegativity.html |página=WebElements|acessodata=7/11/2011}}</ref> Medido pela sua [[massa]], o oxigénio é o terceiro elemento mais abundante do [[universo]], atrás do [[hidrogénio]] e [[hélio]],<ref name="NBB297">{{Harvnb|Emsley|2001|p=297}}</ref> e o mais abundante na [[crosta terrestre]] como parte de compostos óxidos, formando praticamente metade da sua massa.<ref name="lanl"/> Em [[condições normais de pressão e temperatura]], dois [[átomo]]s do elemento [[Ligação química|ligam-se]] para formar o [[Oxigénio#Alótropos|dioxigénio]], um [[gás]] [[molécula diatómica|diatómico]] com fórmula {{nowrap|{{chem|O|2}}}}. Este gás diatómico constitui 20,8% da [[atmosfera]] e é fundamental para suportar a [[vida]] [[Terra|terrestre]].<ref name="ECE500">{{Harvnb|Cook|Lauer|1968|p=500}}</ref> Não obstante, vários estudos dos níveis de oxigénio atmosférico indicam uma progressão global descendente na proporção deste elemento, principalmente por causa das emissões procedentes da queima de [[combustível fóssil|combustíveis fósseis]].<ref>{{citar web|url=http://scrippso2.ucsd.edu/|título=Atmospheric Oxygen Research|editora=Scrippdios Institute|acessodata=20/4/2016}}</ref>


É um gás [[cor|incolor]] (azul em estado líquido<ref>{{Citar web|url=http://www.astronautix.com/props/loxlh2.htm|título=Lox/LH2|publicado=Encyclopedia Astronautica|acessodata=22 de setembro de 2015}}</ref> e sólido), [[inodoro]] e {{Linktext|insípido}}, [[comburente]], não [[combustível]] e pouco [[solúvel]] em água. O dioxigénio é usado na [[respiração celular]] e muitas das principais [[molécula orgânica|moléculas orgânicas]] dos [[organismos vivos]] como [[proteína]]s, [[ácidos nucleicos]], [[carboidrato]]s e [[lípido]]s contêm oxigênio , além dos principais [[composto inorgânico|compostos inorgânicos]] que formam as conchas, os dentes e os ossos dos animais. A maior parte da massa dos organismos vivos é composta por oxigênio  enquanto componente da água, o principal constituinte das formas de vida. Devido à sua reactividade química, o oxigênio  não pode permanecer na atmosfera terrestre como elemento livre sem que seja constantemente reabastecido pela [[fotossíntese|acção fotossintética]] dos organismos que utilizam a energia solar para produzir oxigênio  a partir da água. O oxigênio  elementar O<sub>2</sub> somente começou a acumular-se na atmosfera depois do aparecimento destes organismos, há aproximadamente 2500 milhões de anos.<ref>{{citar periódico|título=NASA Research Indicates Oxygen on Earth 2.5 Billion Years ago|url=http://www.nasa.gov/home/hqnews/2007/sep/HQ_07215_Timeline_of_Oxygen_on_Earth.html|editor=[[NASA]]|data=27 de setembro de 2007|acessodata=22 de julho de 2012|língua=inglês}}</ref> O [[alótropo]] [[ozono]] ({{chem|O|3}}) é um forte absorvente de [[radiação ultravioleta]], e a [[camada de ozono]] da [[Terra]], a grande altitude, ajuda a proteger a [[biosfera]] da incidência de radiação procedente do [[Sol]]. Porém, o ozono é um agente contaminante perto da superfície terrestre, sendo um produto derivado do [[smog]]. A altitudes de [[órbita terrestre baixa]], o oxigênio  atômico presente provoca a [[corrosão]] das [[nave espacial|naves espaciais]].<ref>{{citar web|acessodata=8 de agosto de 2009|url=http://www.spenvis.oma.be/spenvis/help/background/atmosphere/erosion.html|título=Atomic oxygen erosion|arquivourl= https://web.archive.org/web/20070613121048/http://www.spenvis.oma.be/spenvis/help/background/atmosphere/erosion.html |arquivodata=13 de junho de 2007|urlmorta=yes}}</ref>
É um gás [[cor|incolor]] (azul em estado líquido<ref>{{Citar web|url=http://www.astronautix.com/props/loxlh2.htm|título=Lox/LH2|publicado=Encyclopedia Astronautica|acessodata=22/9/2015}}</ref> e sólido), [[inodoro]] e {{Linktext|insípido}}, [[comburente]], não [[combustível]] e pouco [[solúvel]] em água. O dioxigénio é usado na [[respiração celular]] e muitas das principais [[molécula orgânica|moléculas orgânicas]] dos [[organismos vivos]] como [[proteína]]s, [[ácidos nucleicos]], [[carboidrato]]s e [[lípido]]s contêm oxigénio, além dos principais [[composto inorgânico|compostos inorgânicos]] que formam as conchas, os dentes e os ossos dos animais. A maior parte da massa dos organismos vivos é composta por oxigénio enquanto componente da água, o principal constituinte das formas de vida. Devido à sua reactividade química, o oxigénio não pode permanecer na atmosfera terrestre como elemento livre sem que seja constantemente reabastecido pela [[fotossíntese|acção fotossintética]] dos organismos que utilizam a energia solar para produzir oxigénio a partir da água. O oxigénio elementar O<sub>2</sub> somente começou a acumular-se na atmosfera depois do aparecimento destes organismos, há aproximadamente 2 500 milhões de anos.<ref>{{citar periódico|título=NASA Research Indicates Oxygen on Earth 2.5 Billion Years ago|url=http://www.nasa.gov/home/hqnews/2007/sep/HQ_07215_Timeline_of_Oxygen_on_Earth.html|editor=[[NASA]]|data=27/9/2007|acessodata=22/7/2012|língua=en}}</ref> O [[alótropo]] [[ozono]] ({{chem|O|3}}) é um forte absorvente de [[radiação ultravioleta]], e a [[camada de ozono]] da [[Terra]], a grande altitude, ajuda a proteger a [[biosfera]] da incidência de radiação procedente do [[Sol]]. Porém, o ozono é um agente contaminante perto da superfície terrestre, sendo um produto derivado do [[smog]]. A altitudes de [[órbita terrestre baixa]], o oxigénio atómico presente provoca a [[corrosão]] das [[nave espacial|naves espaciais]].<ref>{{citar web|acessodata=8/8/2009|url=http://www.spenvis.oma.be/spenvis/help/background/atmosphere/erosion.html|título=Atomic oxygen erosion|wayb=20070613121048|urlmorta=sim}}</ref>


O oxigênio  foi descoberto autonomamente por [[Carl Wilhelm Scheele]] em [[Uppsala]], no ano de 1773, e por [[Joseph Priestley]] em [[Wiltshire]] no ano de 1774, no entanto é Priestley quem costuma ser designado prioritariamente, uma vez que a sua obra foi a primeira a ser publicada. Em 1777, [[Antoine Lavoisier]] cunhou o seu nome<ref name="mellor" /> e suas experiências com o oxigênio  ajudaram a desacreditar a até então popular [[teoria do flogisto]] da [[combustão]] e [[corrosão]]. O nome deriva do [[Grego antigo|grego]] ὀξύς (oxys) («ácido», literalmente «picante», em alusão ao [[paladar|sabor]] dos [[ácido]]s) e γόνος (-gonos) («produtor», literalmente «gerar»), porque na época em que se lhe deu esta denominação acreditava-se, equivocadamente, que todos os ácidos necessitavam de oxigênio  para a sua composição. As aplicações habituais do oxigênio  incluem, entre outras, o seu uso em [[calefação|calefações]] residenciais e [[motor de combustão interna|motores de combustão interna]], a produção de [[aço]], [[plástico]]s e [[têxteis]], aplicações de corte industrial e [[soldadura]] de aços e outros metais, como propulsor para [[foguete]]s, para [[Oxigenoterapia|terapias de oxigênio]] e [[Suporte à vida|sistemas de suporte à vida]] em [[aeronave]]s, [[submarino]]s, [[nave espacial|naves espaciais]] tripuladas e [[mergulho]].
O oxigénio foi descoberto autonomamente por [[Carl Wilhelm Scheele]] em [[Uppsala]], no ano de 1773, e por [[Joseph Priestley]] em [[Wiltshire]] no ano de 1774, no entanto é Priestley quem costuma ser designado prioritariamente, uma vez que a sua obra foi a primeira a ser publicada. Em 1777, [[Antoine Lavoisier]] cunhou o seu nome<ref name=":0">{{Harvnb|Parks|Mellor|1939}}</ref> e suas experiências com o oxigénio ajudaram a desacreditar a até então popular [[teoria do flogisto]] da [[combustão]] e [[corrosão]]. O nome deriva do [[Grego antigo|grego]] ὀξύς (oxys) («ácido», literalmente «picante», em alusão ao [[paladar|sabor]] dos [[ácido]]s) e γόνος (-gonos) («produtor», literalmente «gerar»), porque na época em que se lhe deu esta denominação acreditava-se, equivocadamente, que todos os ácidos necessitavam de oxigénio para a sua composição. As aplicações habituais do oxigénio incluem, entre outras, o seu uso em [[calefação|calefações]] residenciais e [[motor de combustão interna|motores de combustão interna]], a produção de [[aço]], [[plástico]]s e [[têxteis]], aplicações de corte industrial e [[soldadura]] de aços e outros metais, como propulsor para [[foguete]]s, para [[Oxigenoterapia|terapias de oxigénio]] e [[Suporte à vida|sistemas de suporte à vida]] em [[aeronave]]s, [[submarino]]s, [[nave espacial|naves espaciais]] tripuladas e [[mergulho]].


== Características principais ==
== Características principais ==
=== Estrutura molecular e propriedades ===
=== Estrutura molecular e propriedades ===
[[Imagem:Oxygen discharge tube.jpg|thumb|left|upright|Tubo de descarga cheio de oxigênio  puro.]]
[[Imagem:Oxygen discharge tube.jpg|thumb|left|upright|Tubo de descarga cheio de oxigénio puro.]]
Nas [[Condições Normais de Temperatura e Pressão]] (PTN), o oxigênio  é um [[gás]] incolor e inodoro com [[fórmula molecular]] O<sub>2</sub>, em que dois átomos de oxigênio  se [[ligação química|ligam]] com uma [[configuração electrónica]] em [[estado tripleto]]. Esta ligação apresenta uma [[ordem de ligação]] de dois e costuma-se simplificar nas descrições como uma ligação dupla<ref>{{citar web|url=http://chemed.chem.purdue.edu/genchem/topicreview/bp/ch8/mo.html#bond|título=Molecular Orbital Theory|editora=Purdue University|acessodata=24 de agosto de 2014|arquivourl=https://web.archive.org/web/20080510235736/http://chemed.chem.purdue.edu/genchem/topicreview/bp/ch8/mo.html#bond|arquivodata=2008-05-10|urlmorta=yes}}</ref> ou como uma combinação duma ligação de dois electrões e duas [[ligação química|ligações de três electrões]].<ref name="pauling">{{citar livro |título=The nature of the chemical bond and the structure of molecules and crystals : An introduction to modern structural chemistry |sobrenome=Pauling|nome=L. |ano=1960 |editora=Cornell University Press |edição=3.ª |isbn=0-8014-0333-2}}</ref>
Nas [[Condições Normais de Temperatura e Pressão]] (PTN), o oxigénio é um [[gás]] incolor e inodoro com [[fórmula molecular]] O<sub>2</sub>, em que dois átomos de oxigénio se [[ligação química|ligam]] com uma [[configuração electrónica]] em [[estado tripleto]]. Esta ligação apresenta uma [[ordem de ligação]] de dois e costuma-se simplificar nas descrições como uma ligação dupla<ref>{{citar web|url=http://chemed.chem.purdue.edu/genchem/topicreview/bp/ch8/mo.html#bond|título=Molecular Orbital Theory|editora=Purdue University|acessodata=24/8/2014|wayb=20080510235736|urlmorta=sim}}</ref> ou como uma combinação duma ligação de dois electrões e duas [[ligação química|ligações de três electrões]].<ref>{{Harvnb|Pauling|1960}}</ref>


[[Imagem:Paramagnetism of liquid oxygen.jpeg|thumb|left|upright|Um fio de oxigênio  líquido é desviado por um campo magnético, ilustrando a sua propriedade paramagnética.]]
[[Imagem:Paramagnetism of liquid oxygen.jpeg|thumb|left|upright|Um fio de oxigénio líquido é desviado por um campo magnético, ilustrando a sua propriedade paramagnética.]]
O oxigênio  [[oxigénio tripleto|tripleto]]{{Efn|Não confundir com [[ozono]], O<sub>3</sub>}} é o [[estado fundamental]] da molécula O<sub>2</sub>,<ref name="BiochemOnline">{{citar web|página=Biochemistry Online|url=http://employees.csbsju.edu/hjakubowski/classes/ch331/oxphos/oldioxygenchem.html |título=Chapter 8: Oxidation-Phosphorylation, the Chemistry of Di-Oxygen|nome=Henry|sobrenome=Jakubowski|acessodata=28 de janeiro de 2008|editora=Saint John's University}}</ref> que apresenta dois electrões desemparelhados que ocupam dois [[Orbital molecular|orbitais moleculares]] [[Nível degenerado de energia|degenerados]].{{Efn|Um orbital é um conceito de [[mecânica quântica]] que modela um electrão como uma [[dualidade onda-partícula]] que apresenta uma distribuição espacial ao redor dum átomo ou molécula.<ref>{{Citar livro|título=Chemistry|nome1=John|sobrenome1=McMurry|nome2=Robert C.|sobrenome2=Fay|edição=3.ª|editora=Prentice Hall|ano=2001|isbn=9780130872050|página=193}}</ref>}} Estes orbitais são classificados como [[Orbital de antiligação|antiligações]] - debilitam a ordem de ligação de três para dois-, de forma a que a ligação do dioxigénio é mais fraca do que a tripla ligação do [[nitrogénio]] diatómico, em que todos os orbitais das ligações moleculares são preenchidos, mas alguns [[orbitais de antiligação]] não.<ref name="BiochemOnline"/><ref name=Barrett2002>{{Citar livro|nome=Jack|sobrenome=Barrett|ano=2002|título=Atomic Structure and Periodicity|serie=Basic concepts in chemistry|volume=9|editora=Royal Society of Chemistry|local=Cambridge, Reino Unido|página=153|isbn=0854046577}}</ref>
O [[oxigénio tripleto]]{{Efn|Não confundir com [[ozono]], O<sub>3</sub>}} é o [[estado fundamental]] da molécula O<sub>2</sub>,<ref name="BiochemOnline">{{citar web|página=Biochemistry Online|url=http://employees.csbsju.edu/hjakubowski/classes/ch331/oxphos/oldioxygenchem.html |título=Chapter 8: Oxidation-Phosphorylation, the Chemistry of Di-Oxygen|nome=Henry|sobrenome=Jakubowski|acessodata=28/1/2008|editora=Saint John's University}}</ref> que apresenta dois electrões desemparelhados que ocupam dois [[Orbital molecular|orbitais moleculares]] [[Nível degenerado de energia|degenerados]].{{Efn|Um orbital é um conceito de [[mecânica quântica]] que modela um electrão como uma [[dualidade onda-partícula]] que apresenta uma distribuição espacial ao redor dum átomo ou molécula.<ref>{{Harvnb|McMurry|Fay|2001|p=193}}</ref>|nome=|grupo=}} Estes orbitais são classificados como [[Orbital de antiligação|antiligações]] - debilitam a ordem de ligação de três para dois-, de forma a que a ligação do dioxigénio é mais fraca do que a tripla ligação do [[nitrogénio]] diatómico, em que todos os orbitais das ligações moleculares são preenchidos, mas alguns [[orbitais de antiligação]] não.<ref name="BiochemOnline"/><ref>{{Harvnb|Barrett|2002|p=153}}</ref>


Na sua forma normal de tripleto, as moléculas de O<sub>2</sub> são [[Magnetismo|paramagnéticas]]; ou seja, na presença dum [[campo magnético]] formam um [[íman]], devido ao [[momento magnético]] do [[spin]] dos electrões desemparelhados na molécula e à [[interação de troca]] negativa entre moléculas de O<sub>2</sub> contíguas.<ref name="NBB303">{{Harvnb|Emsley|2001|p=303}}</ref> O oxigênio  líquido é de tal forma magnético que, em demonstrações laboratoriais, um fio de oxigênio  líquido pode suster o seu próprio peso entre os polos dum íman potente.<ref>{{Citar web|url=http://genchem.chem.wisc.edu/demonstrations/Gen_Chem_Pages/0809bondingpage/liquid_oxygen.htm|título=Demonstration of a bridge of liquid oxygen supported against its own weight between the poles of a powerful magnet|editora=University of Wisconsin-Madison Chemistry Department Demonstration lab|acessodata=22 de julho de 2012|arquivourl=https://web.archive.org/web/20071217064218/http://genchem.chem.wisc.edu/demonstrations/Gen_Chem_Pages/0809bondingpage/liquid_oxygen.htm|arquivodata=2007-12-17|urlmorta=yes}}</ref>{{Efn|O paramagnetismo do oxigénio pode ser usado analiticamente em analizadores de oxigénio gasoso paramagnético que determinam a pureza do gás.<ref>{{citar web|url = http://www.servomex.com/oxygen_gas_analyser.html|título = Company literature of Oxygen analyzers (triplet)|página = Servomex|acessodata = 21 de setembro de 2014|arquivourl = https://web.archive.org/web/20080308213517/http://www.servomex.com/oxygen_gas_analyser.html|arquivodata = 2008-03-08|urlmorta = yes}}</ref>}}
Na sua forma normal de tripleto, as moléculas de O<sub>2</sub> são [[Magnetismo|paramagnéticas]]; ou seja, na presença dum [[campo magnético]] formam um [[íman]], devido ao [[momento magnético]] do [[spin]] dos electrões desemparelhados na molécula e à [[interação de troca]] negativa entre moléculas de O<sub>2</sub> contíguas.<ref name="NBB303">{{Harvnb|Emsley|2001|p=303}}</ref> O oxigénio líquido é de tal forma magnético que, em demonstrações laboratoriais, um fio de oxigénio líquido pode suster o seu próprio peso entre os polos dum íman potente.<ref>{{Citar web|url=http://genchem.chem.wisc.edu/demonstrations/Gen_Chem_Pages/0809bondingpage/liquid_oxygen.htm|título=Demonstration of a bridge of liquid oxygen supported against its own weight between the poles of a powerful magnet|editora=University of Wisconsin-Madison Chemistry Department Demonstration lab|acessodata=22/7/2012|wayb=20071217064218|urlmorta=sim}}</ref>{{Efn|O paramagnetismo do oxigénio pode ser usado analiticamente em analizadores de oxigénio gasoso paramagnético que determinam a pureza do gás.<ref>{{citar web|url=http://www.servomex.com/oxygen_gas_analyser.html|título=Company literature of Oxygen analyzers (triplet)|página=Servomex|acessodata=21/9/2014|wayb=20080308213517|urlmorta=sim}}</ref>}}


O oxigênio  [[oxigênio singlete|molecular singlete]] é um nome dado a várias espécies de O<sub>2</sub> de maior energia, em que todos os spins dos electrões se emparelham. É muito mais reactivo com [[matéria orgânica|moléculas orgânicas]] comuns do que o oxigênio  molecular propriamente dito. Na natureza, o oxigênio  singlete costuma formar-se com a água durante a [[fotossíntese]], utilizando a [[energia solar]].<ref>{{citar periódico|nome=Anja|sobrenome=Krieger-Liszkay |revista=Journal of Experimental Botanics|volume=56|editora=Oxford Journals|páginas=337–346|data=13 de outubro de 2004|título=Singlet oxygen production in photosynthesis|doi=10.1093/jxb/erh237|pmid=15310815|número=411}}</ref> É também produzido na [[troposfera]] por meio da [[fotólise]] do ozono pela luz de [[onda curta]]<ref name="harrison">{{citar livro|sobrenome=Harrison |nome=Roy M.|ano=1990|título=Pollution: Causes, Effects & Control|edição=2ª |local=Cambridge|editora=Royal Society of Chemistry|isbn=0-85186-283-7}}</ref> e pelo sistema imunitário enquanto fonte de oxigênio  activo.<ref name="immune-ozone">{{citar periódico|revista=Science|título=Evidence for Antibody-Catalyzed Ozone Formation in Bacterial Killing and Inflammation|data=13 de dezembro de 2002|volume=298|páginas=2195–2219|doi=10.1126/science.1077642|nome1=Paul|sobrenome1=Wentworth Jr.|pmid=12434011 |sobrenome2=McDunn|nome2=JE|sobrenome3=Wentworth|nome3=AD|sobrenome4=Takeuchi|nome4=C |sobrenome5=Nieva| nome5=J|sobrenome6=Jones|nome6=T|sobrenome7=Bautista|nome7=C|sobrenome8=Ruedi|nome8=JM|sobrenome9=Gutierrez|nome9=A|número=5601|bibcode = 2002Sci...298.2195W}}</ref> Nos organismos fotossintéticos - e possivelmente também nos animais - os [[carotenóide|carotenoide]]s exercem um papel fundamental na absorção de energia do oxigênio  singlete e na conversão deste para o seu estado não excitado antes de provocar danos nos tecidos.<ref>{{citar periódico|título=Singlet oxygen quenching ability of naturally occurring carotenoids|revista=Lipids|nome=Osamu|sobrenome=Hirayama|sobrenome2=Nakamura|nome2=Kyoko|sobrenome3=Hamada|nome3=Syoko|sobrenome4= Kobayasi|nome4=Yoko|editora=Springer|volume=29|número=2|ano=1994|doi=10.1007/BF02537155|páginas=149–150|pmid=8152349}}</ref>
O [[oxigênio singlete|oxigénio molecular singlete]] é um nome dado a várias espécies de O<sub>2</sub> de maior energia, em que todos os spins dos electrões se emparelham. É muito mais reactivo com [[matéria orgânica|moléculas orgânicas]] comuns do que o oxigénio molecular propriamente dito. Na natureza, o oxigénio singlete costuma formar-se com a água durante a [[fotossíntese]], utilizando a [[energia solar]].<ref>{{Harvnb|Krieger-Liszkay|2004|pp=337–346}}</ref> É também produzido na [[troposfera]] por meio da [[fotólise]] do ozono pela luz de [[onda curta]]<ref>{{Harvnb|Harrison|1990}}</ref> e pelo sistema imunitário enquanto fonte de oxigénio activo.<ref>{{Harvnb|Wentworth Jr.|McDunn|Wentworth|Takeuchi|2002|pp=2195–2219}}</ref> Nos organismos fotossintéticos - e possivelmente também nos animais - os [[carotenóide|carotenoide]]s exercem um papel fundamental na absorção de energia do oxigénio singlete e na conversão deste para o seu estado não excitado antes de provocar danos nos tecidos.<ref>{{Harvnb|Hirayama|Nakamura|Hamada|Kobayasi|1994|pp=149–150}}</ref>


=== Alótropos ===
=== Alótropos ===
{{Artigo principal|Alótropos do oxigénio}}
{{Artigo principal|Alótropos do oxigénio}}
[[Imagem:Ozone-1,3-dipole.png|thumb|O ozono é um gás pouco comum na Terra e encontra-se em grande parte na [[estratosfera]].|alt=Central atom is positively charged and end atoms are negatively charged.]]
[[Imagem:Ozone-1,3-dipole.png|thumb|O ozono é um gás pouco comum na Terra e encontra-se em grande parte na [[estratosfera]].|alt=Central atom is positively charged and end atoms are negatively charged.]]
O [[Alotropia|alótropo]] comum do oxigênio  elementar é o chamado [[Oxigénio molecular|dioxigénio]] (O<sub>2</sub>), que possui um comprimento de ligação de 121&nbsp;[[Picómetro|pm]] e uma energia de ligação de 498&nbsp;[[quilojoule por mol|kJ•mol<sup>−1</sup>]],<ref>{{citar web|sobrenome=Chieh|nome=Chung|título=Bond Lengths and Energies|url=http://www.science.uwaterloo.ca/~cchieh/cact/c120/bondel.html|página=University of Waterloo|acessodata=11 de outubro de 2014|arquivourl=https://web.archive.org/web/20071214215455/http://www.science.uwaterloo.ca/~cchieh/cact/c120/bondel.html|arquivodata=2007-12-14|urlmorta=yes}}</ref> menor que a energia das outras ligações duplas ou pares de ligações simples presentes na biosfera, e responsável pela [[reação exotérmica]] do O<sub>2</sub> com qualquer molécula orgânica.<ref name="Weiss2008">{{Citar periódico|título=Appreciating Oxygen|sobrenome=Weiss|nome=Hilton M.|revista=J. Chem. Educ.|ano=2008| url=https://www.researchgate.net/publication/231267944_Appreciating_Oxygen | bibcode = 2008JChEd..85.1218W|volume=85|número=9|página=1218–1219|doi=10.1021/ed085p1218}}</ref><ref name="Schmidt-Rohr2015">{{Citar periódico|sobrenome=Schmidt-Rohr|nome=K.|ano=2015|título=Why Combustions Are Always Exothermic, Yielding About 418 kJ per Mole of O<sub>2</sub>|revista=J. Chem. Educ.|volume=92|páginas=2094-2099|doi=10.1021/acs.jchemed.5b00333}}</ref> Devido ao seu teor de energia, o O<sub>2</sub> é utilizado por formas de vida complexas, tal como os animais, na sua [[respiração celular]], desempenhando um papel fundamental na composição da [[#Abundância|atmosfera terrestre]].
O [[Alotropia|alótropo]] comum do oxigénio elementar é o chamado [[Oxigénio molecular|dioxigénio]] (O<sub>2</sub>), que possui um comprimento de ligação de 121&nbsp;[[Picómetro|pm]] e uma energia de ligação de 498&nbsp;[[quilojoule por mol|kJ•mol<sup>−1</sup>]],<ref>{{citar web|sobrenome=Chieh|nome=Chung|título=Bond Lengths and Energies|url=http://www.science.uwaterloo.ca/~cchieh/cact/c120/bondel.html|página=University of Waterloo|acessodata=11/10/2014|wayb=20071214215455|urlmorta=sim}}</ref> menor que a energia das outras ligações duplas ou pares de ligações simples presentes na biosfera, e responsável pela [[reação exotérmica]] do O<sub>2</sub> com qualquer molécula orgânica.<ref name=":1">{{Harvnb|Weiss|2008|pp=1218–1219}}</ref><ref name=":2">{{Harvnb|Schmidt-Rohr|2015|pp=2094-2099}}</ref> Devido ao seu teor de energia, o O<sub>2</sub> é utilizado por formas de vida complexas, tal como os animais, na sua [[respiração celular]], desempenhando um papel fundamental na composição da [[#Abundância|atmosfera terrestre]].


O trioxigénio (O<sub>3</sub>) é habitualmente conhecido como [[ozono]] e é um alótropo bastante reactivo, prejudicial para o tecido pulmonar.<ref name="GuideElem48">{{citar livro|título=Guide to the Elements|nome=Albert|sobrenome=Stwertka|editora=Oxford University Press|ano=1998|isbn=0-19-508083-1|páginas=48–49}}</ref> O ozono é produzido na [[ozonosfera|atmosfera superior]] quando o O<sub>2</sub> se combina com o oxigênio  atômico causado pela divisão do O<sub>2</sub> por [[radiação ultravioleta]].<ref name="mellor"/> Uma vez que o ozono é um poderoso absorvente na região ultravioleta do [[espectro electromagnético]], a [[camada de ozono]] da atmosfera superior funciona como um escudo protector da radiação que o planeta recebe.<ref name="mellor" /> Perto da superfície terrestre, todavia, é um [[Poluição atmosférica|contaminante]] formado como subproduto das emissões de automóveis.<ref name="GuideElem48"/> A molécula [[metaestabilidade|metaestável]] do [[tetraoxigénio]] (O<sub>4</sub>) só foi descoberta em 2001,<ref name="o4">{{citar periódico|sobrenome=Cacace|nome=Fulvio|sobrenome2=de Petris|nome2=Giulia|sobrenome3=Troiani|nome3=Anna |ano=2001|título=Experimental Detection of Tetraoxygen|revista=Angewandte Chemie International Edition|volume=40|número=21|páginas=4062–65|id={{doi |id=10.1002/1521-3773(20011105)40:21<4062::AID-ANIE4062>3.0.CO;2-X|label= <nowiki>10.1002/1521-3773(20011105)40:21<4062::AID-ANIE4062>3.0.CO;2-X}}</nowiki>}}|pmid=12404493}}</ref><ref name="newform">{{citar periódico|sobrenome=Phillip|nome=Ball|url=http://www.nature.com/news/2001/011122/pf/011122-3_pf.html|título=New form of oxygen found|editora = Nature News|data=16 de setembro de 2001|acessodata=22 de julho de 2012|arquivourl=https://web.archive.org/web/20070808151105/http://www.nature.com/news/2001/011122/pf/011122-3_pf.html|arquivodata=8 de agosto de 2007}}</ref> e assumiu-se que existia numa das seis fases do oxigênio  [[oxigénio sólido|sólido]]. Em 2006 demonstrou-se que esta fase, criada por meio da pressurização do O<sub>2</sub> a 20&nbsp;[[Pascal (unidade)|GPa]], é, de facto, um ''[[agregado atómico|cluster]]'' {{Efn|Em química inorgânica, o termo ''cluster'' é utilizado para indicar um composto caracterizado pela presença de uma ou mais ligações metálicas.<ref>{{Citar livro|título=Introduction to Cluster Chemistry|nome=D. M. P.|sobrenome=Mingos|nome2=David J.|sobrenome2=Wales|isbn=9780134790497|editora=Prentice Hall|ano=1990}}</ref>}} O<sub>8</sub> do [[Sistema cristalino trigonal|sistema trigonal]].<ref>{{citar periódico|url=http://www.nature.com/nature/journal/v443/n7108/abs/nature05174.html|
O trioxigénio (O<sub>3</sub>) é habitualmente conhecido como [[ozono]] e é um alótropo bastante reactivo, prejudicial para o tecido pulmonar.<ref name=":3">{{Harvnb|Stwertka|1998|pp=48–49}}</ref> O ozono é produzido na [[ozonosfera|atmosfera superior]] quando o O<sub>2</sub> se combina com o oxigénio atómico causado pela divisão do O<sub>2</sub> por [[radiação ultravioleta]].<ref name=":0" /> Uma vez que o ozono é um poderoso absorvente na região ultravioleta do [[espectro electromagnético]], a [[camada de ozono]] da atmosfera superior funciona como um escudo protector da radiação que o planeta recebe.<ref name=":0" /> Perto da superfície terrestre, todavia, é um [[Poluição atmosférica|contaminante]] formado como subproduto das emissões de automóveis.<ref name=":3" /> A molécula [[metaestabilidade|metaestável]] do [[tetraoxigénio]] (O<sub>4</sub>) só foi descoberta em 2001,<ref name=":4">{{Harvnb|Cacace|de Petris|Troiani|2001|pp=4062–4065}}</ref><ref name="newform">{{citar periódico|sobrenome=Phillip|nome=Ball|url=http://www.nature.com/news/2001/011122/pf/011122-3_pf.html|título=New form of oxygen found|editora = Nature News|data=16/9/2001|acessodata=22/7/2012|wayb=20070808151105|urlmorta=sim}}</ref> e assumiu-se que existia numa das seis fases do [[oxigénio sólido]]. Em 2006 demonstrou-se que esta fase, criada por meio da pressurização do O<sub>2</sub> a 20&nbsp;[[Pascal (unidade)|GPa]], é, de facto, um ''[[agregado atómico|cluster]]'' {{Efn|Em química inorgânica, o termo ''cluster'' é utilizado para indicar um composto caracterizado pela presença de uma ou mais ligações metálicas.<ref>{{Harvnb|Mingos|Wales|1990}}</ref>}} O<sub>8</sub> do [[Sistema cristalino trigonal|sistema trigonal]].<ref>{{Harvnb|Lundegaard|Weck|McMahon|Desgreniers|2006|pp=201–204}}</ref> Este ''cluster'' tem potencial para ser um [[oxidante]] muito mais potente do que o O<sub>2</sub> e o O<sub>3</sub> e pode, por conseguinte, ser usado como [[propulsor]] de [[foguete]]s.<ref name=":4" /><ref name="newform" /> Em 1990 foi descoberta uma fase metálica quando o oxigénio sólido é submetido a uma pressão superior a 96 GPa<ref>{{Harvnb|Desgreniers|Vohra|Ruoff|1990|pp=1117–1122}}</ref> e demonstrou-se em 1998 que a temperaturas muito baixas converte-se em [[Supercondutividade|supercondutor]].<ref>{{Harvnb|Shimizu|Suhara|Ikumo|Eremets|1998|pp=767–769}}</ref>
título=Observation of an O<sub>8</sub> molecular lattice in the phase of solid oxygen|revista=Nature|volume=443|número=7108|paginas=201–04|doi=10.1038/nature05174|nome=Lars F. |sobrenome=Lundegaard|pmid=16971946| sobrenome2=Weck|nome2=Gunnar|sobrenome3=McMahon|nome3=Malcolm I.|sobrenome4= Desgreniers|nome4=Serge|sobrenome5=Loubeyre|nome5=Paul|ano=2006|bibcode = 2006Natur.443..201L}}</ref> Este ''cluster'' tem potencial para ser um [[oxidante]] muito mais potente do que o O<sub>2</sub> e o O<sub>3</sub> e pode, por conseguinte, ser usado como [[propulsor]] de [[foguete]]s.<ref name="o4" /><ref name="newform" /> Em 1990 foi descoberta uma fase metálica quando o oxigênio  sólido é submetido a uma pressão superior a 96 GPa<ref>{{citar periódico|sobrenome=Desgreniers |nome=S |sobrenome2=Vohra|nome2=Y. K. |sobrenome3=Ruoff|nome3=A. L.|título=Optical response of very high density solid oxygen to 132 GPa|revista=J. Phys. Chem.|volume=94|páginas=1117–22|ano=1990|doi=10.1021/j100366a020|número=3}}</ref> e demonstrou-se em 1998 que a temperaturas muito baixas converte-se em [[Supercondutividade|supercondutor]].<ref>{{citar periódico|sobrenome=Shimizu|nome=K.|sobrenome2=Suhara|nome2= K.|sobrenome3= Ikumo|nome3= M.|sobrenome4= Eremets|nome4= M. I. |sobrenome5= Amaya|nome5= K.|título=Superconductivity in oxygen|revista=Nature|volume=393|páginas=767–69|ano=1998|doi=10.1038/31656|número=6687|bibcode = 1998Natur.393..767S}}</ref>


=== Propriedades físicas ===
=== Propriedades físicas ===
[[Imagem:WOA09 sea-surf O2 AYool.png|miniatura|A baixa temperatura da água aumenta a concentração de O<sub>2</sub> dissolvido na superfície do mar.<ref>{{Citar web|título=World Ocean Atlas 2009|url=http://www.nodc.noaa.gov/OC5/WOA09/pr_woa09.html|editora=National Centers for Environmental Information|acessodata=26 de abril de 2016}}</ref>|alt=O mapamundi assinala que o oxigénio da superfície marinha reduz ao redor do equador e aumenta perto dos pólos]]
{{Artigo principal|Oxigénio líquido|Oxigénio sólido}}[[Imagem:WOA09 sea-surf O2 AYool.png|miniatura|A baixa temperatura da água aumenta a concentração de O<sub>2</sub> dissolvido na superfície do mar.<ref>{{Citar web|título=World Ocean Atlas 2009|url=http://www.nodc.noaa.gov/OC5/WOA09/pr_woa09.html|editora=National Centers for Environmental Information|acessodata=26/4/2016}}</ref>|alt=O mapamundi assinala que o oxigénio da superfície marinha reduz ao redor do equador e aumenta perto dos pólos]]
<!-- {{VT|Oxigénio líquido|oxigénio sólido}} -->
O oxigénio é mais [[solubilidade|solúvel]] em água do que o nitrogénio; água em equilíbrio com ar contém aproximadamente uma molécula de O<sub>2</sub> por cada duas moléculas de N<sub>2</sub>, em comparação à proporção atmosférica, de aproximadamente 1:4. A solubilidade do oxigénio na água depende da temperatura, dissolvendo-se em cerca do dobro (14,6&nbsp;mg•L<sup>−1</sup>) a 0&nbsp;°C do que a 20&nbsp;°C (7,6&nbsp;mg•L<sup>−1</sup>).<ref name="NBB299"/><ref name="toolbox">{{citar web|url=http://www.engineeringtoolbox.com/air-solubility-water-d_639.html|título=Air solubility in water|acessodata=26/10/2014|página=The Engineering Toolbox}}</ref> A 25&nbsp;°C e {{convert|1|atm|lk=on|sigfig=4}}, a água doce contém cerca de 6,04&nbsp;[[Litro|mililitros]]&nbsp;(ml) de oxigénio por litro, enquanto que a água do mar contém cerca de 4,95&nbsp;ml por litro.<ref>{{Harvnb|Evans|Claiborne|2006|p=88}}</ref> A 5&nbsp;°C a solubilidade aumenta até 9,0&nbsp;ml (cerca de 50 % mais do que a 25&nbsp;°C) por litro na água e 7,2&nbsp;ml (45% mais) na água do mar.<ref name="toolbox"/>
O oxigênio  é mais [[solubilidade|solúvel]] em água do que o nitrogénio; água em equilíbrio com ar contém aproximadamente uma molécula de O<sub>2</sub> por cada duas moléculas de N<sub>2</sub>, em comparação à proporção atmosférica, de aproximadamente 1:4. A solubilidade do oxigênio  na água depende da temperatura, dissolvendo-se em cerca do dobro (14,6&nbsp;mg•L<sup>−1</sup>) a 0&nbsp;°C do que a 20&nbsp;°C (7,6&nbsp;mg•L<sup>−1</sup>).<ref name="NBB299"/><ref name="toolbox">{{citar web|url=http://www.engineeringtoolbox.com/air-solubility-water-d_639.html|título=Air solubility in water|acessodata=26 de outubro de 2014|página=The Engineering Toolbox}}</ref> A 25&nbsp;°C e {{convert|1|atm|lk=on|sigfig=4}}, a água doce contém cerca de 6,04&nbsp;[[Litro|mililitros]]&nbsp;(ml) de oxigênio  por litro, enquanto que a água do mar contém cerca de 4,95&nbsp;ml por litro.<ref>{{citar livro|título = The Physiology of Fishes |nome=David Hudson |sobrenome=Evans |sobrenome2=Claiborne|nome2=James B.|página=88|ano=2006|editora=CRC Press|isbn=0-8493-2022-4}}</ref> A 5&nbsp;°C a solubilidade aumenta até 9,0&nbsp;ml (cerca de 50 % mais do que a 25&nbsp;°C) por litro na água e 7,2&nbsp;ml (45% mais) na água do mar.<ref name="toolbox"/>


O oxigênio  condensa-se a 90,20 [[kelvin|K]] (-182,95&nbsp;°C, -297,31&nbsp;°F) e congela a 54,36 K (-218,79&nbsp;°C, -361,82&nbsp;°F).<ref>{{citar livro|nome=David R.|sobrenome=Lide |título=CRC Handbook of Chemistry and Physics|edição=84ª |editora=CRC Press |local=Boca Raton, Florida|ano=2003|capítulo=Section 4, Properties of the Elements and Inorganic Compounds; Melting, boiling, and critical temperatures of the elements|isbn=0-8493-0595-0}}</ref> Tanto o O<sub>2</sub> [[oxigénio líquido|líquido]] como o [[oxigénio sólido|sólido]] são substâncias claras com uma cor [[Radiação difusa do céu|azul céu]] provocada pela [[Absorção (física)|absorção]] no vermelho, contrastando com a cor azul do céu, que se deve à [[dispersão de Rayleigh]] da luz azul. O O<sub>2</sub> líquido de grande pureza é obtido através da [[destilação fracionada]] do [[atmosfera|ar]] liquefeito.<ref>{{citar web|url = http://www.uigi.com/cryodist.html|título = Overview of Cryogenic Air Separation and Liquefier Systems|editora = Universal Industrial Gases, Inc.|acessodata= 15 de janeiro de 2015}}</ref> O oxigênio  líquido também pode ser produzido pela condensação do ar, utilizando nitrogénio líquido como refrigerante. É uma substância altamente reactiva e deve ser separado de materiais inflamáveis.<ref>{{citar web|url = https://www.mathesongas.com/pdfs/msds/00225011.pdf |título = Liquid Oxygen Material Safety Data Sheet|página= Matheson Tri Gas|acessodata= 15 de janeiro de 2015}}</ref>
O oxigénio condensa-se a 90,20 [[kelvin|K]] (-182,95&nbsp;°C, -297,31&nbsp;°F) e congela a 54,36 K (-218,79&nbsp;°C, -361,82&nbsp;°F).<ref>{{Harvnb|Lide|2003}}</ref> Tanto o O<sub>2</sub> [[oxigénio líquido|líquido]] como o [[oxigénio sólido|sólido]] são substâncias claras com uma cor [[Radiação difusa do céu|azul céu]] provocada pela [[Absorção (física)|absorção]] no vermelho, contrastando com a cor azul do céu, que se deve à [[dispersão de Rayleigh]] da luz azul. O O<sub>2</sub> líquido de grande pureza é obtido através da [[destilação fracionada]] do [[atmosfera|ar]] liquefeito.<ref>{{citar web|url=http://www.uigi.com/cryodist.html|título=Overview of Cryogenic Air Separation and Liquefier Systems|editora=Universal Industrial Gases, Inc.|acessodata=15/1/2015}}</ref> O oxigénio líquido também pode ser produzido pela condensação do ar, utilizando nitrogénio líquido como refrigerante. É uma substância altamente reactiva e deve ser separado de materiais inflamáveis.<ref>{{citar web|url=https://www.mathesongas.com/pdfs/msds/00225011.pdf|título=Liquid Oxygen Material Safety Data Sheet|página=Matheson Tri Gas|acessodata=15/1/2015}}</ref>


A [[espectroscopia]] do oxigênio  molecular associa-se aos processos atmosféricos das [[Aurora polar|auroras]] e outras emissões de luz na atmosfera.<ref name="Krupenie1972">{{citar periódico|sobrenome1=Krupenie|nome1=Paul H.|título=The Spectrum of Molecular Oxygen|revista=Journal of Physical and Chemical Reference Data|volume=1|número=2|ano=1972|página=423 |doi=10.1063/1.3253101}}</ref> A absorção no [[contínuo de Herzberg]] e nas [[bandas de Schumann–Runge]] no ultravioleta produz oxigênio  atómico, importante na química do meio atmosférico.<ref name="BrasseurSolomon2006">{{citar livro|nome1=Guy P.|sobrenome1= Brasseur|nome2=Susan|sobrenome2=Solomon|título=Aeronomy of the Middle Atmosphere: Chemistry and Physics of the Stratosphere and Mesosphere|data=2006|editora=Springer Science & Business Media|isbn=978-1-4020-3824-2|página=220}}</ref> O oxigênio  molecular singlete em estado excitado é responsável pela luminescência química vermelha nas soluções.<ref name="Kearns1971">{{citar periódico|sobrenome1=Kearns|nome1=David R.|título=Physical and chemical properties of singlet molecular oxygen|revista=Chemical Reviews|volume=71|número=4|ano=1971|páginas=395–427 |doi=10.1021/cr60272a004}}</ref>
A [[espectroscopia]] do oxigénio molecular associa-se aos processos atmosféricos das [[Aurora polar|auroras]] e outras emissões de luz na atmosfera.<ref>{{Harvnb|Krupenie|1972|p=423}}</ref> A absorção no [[contínuo de Herzberg]] e nas [[bandas de Schumann–Runge]] no ultravioleta produz oxigénio atómico, importante na química do meio atmosférico.<ref>{{Harvnb|Brasseur|Solomon|2006|p=220}}</ref> O oxigénio molecular singlete em estado excitado é responsável pela luminescência química vermelha nas soluções.<ref>{{Harvnb|Kearns|1971|p=395–427}}</ref>


=== Importância da sua existência ===
=== Importância da sua existência ===
{{VT|Silicato|Metalicidade|Cosmoquímica|Astroquímica}}
{{VT|Silicato|Metalicidade|Cosmoquímica|Astroquímica}}
[[Imagem:Cat's Eye Nebula - GPN-2000-000955.jpg|miniatura|esquerda|A [[nebulosa Olho de gato]] possui zonas ricas em oxigênio  [[íon|ionizado]], a cor verde na imagem.]]
[[Imagem:Cat's Eye Nebula - GPN-2000-000955.jpg|miniatura|esquerda|A [[nebulosa Olho de gato]] possui zonas ricas em oxigénio [[íon|ionizado]], a cor verde na imagem.]]
O oxigênio  é o [[elemento químico]] mais abundante, por [[massa]], na [[biosfera]], ar, mar e terra. É o terceiro mais abundante no universo, atrás do [[hidrogénio]] e [[hélio]].<ref name="NBB297"/> Cerca de 0,9 % da massa do [[Sol]] é oxigênio . Constitui também 49,2 % da massa da [[crosta terrestre]] (cerca de 46,7%), e é o principal componente dos [[oceano]]s (cerca de 87% como componente da [[água]]).<ref name="ECE500"/> O oxigênio  gasoso é o segundo componente mais abundante na [[atmosfera terrestre|atmosfera]], constituindo 20,8 % do seu volume e 23,1 % da sua massa (cerca de 10<sup>15</sup> toneladas).<ref name="lanl">{{citar web|url=http://periodic.lanl.gov/elements/8.html|editora=Los Alamos National Laboratory|título=Oxygen|acessodata=22 de julho de 2012|arquivourl=https://web.archive.org/web/20071026034224/http://periodic.lanl.gov/elements/8.html|arquivodata=2007-10-26|urlmorta=no}}</ref><ref name="ECE500"/><ref name="NBB298">{{Harvnb|Emsley|2001|p=298}}</ref>{{Efn|As cifras apresentadas estão para valores de até 80 km acima da superfície.}} A Terra é uma excepção entre os planetas do [[Sistema Solar]] pela elevada concentração de oxigênio  gasoso na sua atmosfera; por exemplo, [[Marte (planeta)|Marte]] (com cerca de 0,1 % de O<sub>2</sub> do total do seu volume) e [[Vénus (planeta)|Vénus]] têm concentrações muito inferiores. Contudo, o O<sub>2</sub> que circula nestes planetas provém exclusivamente da reação das moléculas que contêm oxigênio , assim como o dióxido de carbono, por efeito da radiação ultravioleta.<ref>{{Citar periódico|título=A Search for O2 on Mars and Venus: a Possible Detection of Oxygen in the Atmosphere of Mars|sobrenome1=Belton|nome1=M. J. S.|sobrenome2=Hunten|nome2= D. M.|revista=Astrophysical Journal|volume=153|página=963|bibcode=1968ApJ...153..963B|ano=1968}}</ref>
O oxigénio é o [[elemento químico]] mais abundante, por [[massa]], na [[biosfera]], ar, mar e terra. É o terceiro mais abundante no universo, atrás do [[hidrogénio]] e [[hélio]].<ref name="NBB297"/> Cerca de 0,9 % da massa do [[Sol]] é oxigénio. Constitui também 49,2 % da massa da [[crosta terrestre]] (cerca de 46,7%), e é o principal componente dos [[oceano]]s (cerca de 87% como componente da [[água]]).<ref name="ECE500"/> O oxigénio gasoso é o segundo componente mais abundante na [[atmosfera terrestre|atmosfera]], constituindo 20,8 % do seu volume e 23,1 % da sua massa (cerca de 10<sup>15</sup> toneladas).<ref name="lanl">{{citar web|url=http://periodic.lanl.gov/elements/8.html|editora=Los Alamos National Laboratory|título=Oxygen|acessodata=22/7/2012|wayb=20071026034224|urlmorta=sim}}</ref><ref name="ECE500"/><ref name="NBB298">{{Harvnb|Emsley|2001|p=298}}</ref>{{Efn|As cifras apresentadas estão para valores de até 80 km acima da superfície.}} A Terra é uma excepção entre os planetas do [[Sistema Solar]] pela elevada concentração de oxigénio gasoso na sua atmosfera; por exemplo, [[Marte (planeta)|Marte]] (com cerca de 0,1 % de O<sub>2</sub> do total do seu volume) e [[Vénus (planeta)|Vénus]] têm concentrações muito inferiores. Contudo, o O<sub>2</sub> que circula nestes planetas provém exclusivamente da reação das moléculas que contêm oxigénio, assim como o dióxido de carbono, por efeito da radiação ultravioleta.<ref>{{Harvnb|Belton|Hunten|1968|p=963}}</ref>


Os [[óxido]]s de [[Metal|metais]], [[silicato]]s (SiO<sub>4</sub><sup>4-</sup>) e [[carbonato]]s (CO<sub>3</sub><sup>2-</sup>) encontram-se frequentemente em [[rocha]]s e no [[solo]]. Na atmosfera apresenta-se como oxigênio  molecular, O<sub>2</sub>, [[dióxido de carbono]] e em menor proporção como [[monóxido de carbono]] (CO), ozono (O<sub>3</sub>), dióxido de nitrogénio (NO<sub>2</sub>), [[monóxido de nitrogénio]] (NO) ou dióxido de enxofre (SO<sub>2</sub>). Nos planetas exteriores (mais distantes do [[Sol]]) e em [[cometa]]s encontra-se água congelada e outros compostos de oxigênio ; por exemplo, em [[Marte (planeta)|Marte]] existe dióxido de carbono congelado.<ref>{{Citar livro|título=Mars|sobrenome=Elikns-Tanton|nome=Linda T.|editora=Infobase Publishing|ano=2006|isbn=9781438107264|página=82}}</ref> O espectro deste elemento também é com frequência observado nas [[estrela]]s.<ref>{{Citar livro|título=Late stages of stellar evolution: carbon-oxygen stars and neutron stars|nome=Allen Hayne|sobrenome=Boozer|publicado=Cornell University|ano=1970|bibcode=1970PhDT........11B|obra=Dissertation Abstracts International|volume=31-12|página=7067}}</ref>
Os [[óxido]]s de [[Metal|metais]], [[silicato]]s (SiO<sub>4</sub><sup>4-</sup>) e [[carbonato]]s (CO<sub>3</sub><sup>2-</sup>) encontram-se frequentemente em [[rocha]]s e no [[solo]]. Na atmosfera apresenta-se como oxigénio molecular, O<sub>2</sub>, [[dióxido de carbono]] e em menor proporção como [[monóxido de carbono]] (CO), ozono (O<sub>3</sub>), dióxido de nitrogénio (NO<sub>2</sub>), [[monóxido de nitrogénio]] (NO) ou dióxido de enxofre (SO<sub>2</sub>). Nos planetas exteriores (mais distantes do [[Sol]]) e em [[cometa]]s encontra-se água congelada e outros compostos de oxigénio; por exemplo, em [[Marte (planeta)|Marte]] existe dióxido de carbono congelado.<ref>{{Harvnb|Elikns-Tanton|2006|p=82}}</ref> O espectro deste elemento também é com frequência observado nas [[estrela]]s.<ref>{{Harvnb|Boozer|1970|p=7067}}</ref>


{| class="wikitable sortable" style="float:right; margin-left: 10px"
{| class="wikitable sortable" style="float:right; margin-left: 10px"
|+Os cinco elementos mais comuns<br />na [[Via Láctea]]<ref name="croswell">{{citar livro| sobrenome= Croswell | nome= Ken | título = Alchemy of the Heavens | editora= Anchor |data=1996 | url = http://kencroswell.com/alchemy.html| isbn = 0-385-47214-5}}</ref>
|+Os cinco elementos mais comuns<br />na [[Via Láctea]]<ref>{{Harvnb|Croswell|1996}}</ref>
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A concentração anormalmente elevada de oxigênio  gasoso na Terra é resultado do [[ciclo do oxigénio|ciclo do oxigênio]] . Este [[ciclo biogeoquímico]] descreve o movimento do oxigênio  dentro e entre os seus três principais reservatórios no planeta: a atmosfera, a [[biosfera]] e a [[litosfera]]. O factor de condução mais importante neste ciclo é a [[fotossíntese]], responsável pela atmosfera moderna da Terra, que libera oxigênio  na atmosfera, enquanto que os processos de [[Respiração celular|respiração]] e [[Descomposição biológica|descomposição]] o eliminam.<ref>{{citar livro|título=Evolution of Matter and Energy on a Cosmic and Planetary Scale|editora=Springer Science & Business Media|ano=2012|isbn=9783642954535|página=158|sobrenome=Taube|nome=M.}}</ref>
A concentração anormalmente elevada de oxigénio gasoso na Terra é resultado do [[ciclo do oxigénio]]. Este [[ciclo biogeoquímico]] descreve o movimento do oxigénio dentro e entre os seus três principais reservatórios no planeta: a atmosfera, a [[biosfera]] e a [[litosfera]]. O factor de condução mais importante neste ciclo é a [[fotossíntese]], responsável pela atmosfera moderna da Terra, que libera oxigénio na atmosfera, enquanto que os processos de [[Respiração celular|respiração]] e [[Descomposição biológica|descomposição]] o eliminam.<ref>{{Harvnb|Taube|2012|p=158}}</ref>


O oxigênio  livre ocorre também em soluções nas massas de água do planeta. A [[#Propriedades físicas|maior solubilidade do O<sub>2</sub> a baixas temperaturas]] tem importantes implicações para a vida marinha, uma vez que os oceanos polares sustentam uma densidade de vida muito maior devido ao seu elevado teor de oxigênio .{{Efn|De ''The Chemistry and Fertility of Sea Waters'', de H.W. Harvey, 1955, citando a C.J.J. Fox, ''On the coefficients of absorption of atmospheric gases in sea water'', Publ. Circ. Cons. Explor. Mer, no. 41, 1907. Contudo, Harvey sustenta que, de acordo com artigos posteriores em ''Nature'', os valores parecem estar sobrestimados em 3 %.}} A quantidade de O<sub>2</sub> na água pode ser diminuída pela [[Poluição da água|contaminação hídrica]], devido à acção da descomposição das algas e outros biomateriais por um processo denominado [[eutrofização]]. Os cientistas avaliam este aspecto da qualidade da água através da medição da sua [[Demanda biológica de oxigênio|carência biológica de oxigênio]] , ou quantidade de O<sub>2</sub> necessária para restaurá-la para níveis de concentração normais.<ref name="NBB301">{{Harvnb|Emsley|2001|p=301}}</ref>
O oxigénio livre ocorre também em soluções nas massas de água do planeta. A [[#Propriedades físicas|maior solubilidade do O<sub>2</sub> a baixas temperaturas]] tem importantes implicações para a vida marinha, uma vez que os oceanos polares sustentam uma densidade de vida muito maior devido ao seu elevado teor de oxigénio.{{Efn|De ''The Chemistry and Fertility of Sea Waters'', de H.W. Harvey, 1955, citando a C.J.J. Fox, ''On the coefficients of absorption of atmospheric gases in sea water'', Publ. Circ. Cons. Explor. Mer, no. 41, 1907. Contudo, Harvey sustenta que, de acordo com artigos posteriores em ''Nature'', os valores parecem estar sobrestimados em 3 %.}} A quantidade de O<sub>2</sub> na água pode ser diminuída pela [[Poluição da água|contaminação hídrica]], devido à acção da decomposição das algas e outros biomateriais por um processo denominado [[eutrofização]]. Os cientistas avaliam este aspecto da qualidade da água através da medição da sua [[Demanda biológica de oxigênio|carência biológica de oxigénio]], ou quantidade de O<sub>2</sub> necessária para restaurá-la para níveis de concentração normais.<ref name="NBB301">{{Harvnb|Emsley|2001|p=301}}</ref>


=== Isótopos e origem estelar ===
=== Isótopos e origem estelar ===
{{Artigo principal|Isótopos do oxigénio}}
{{Artigo principal|Isótopos do oxigénio}}
O oxigênio  possui dezassete isótopos cujo [[número de massa]] varia entre 12 e 28. O oxigênio  encontrado na natureza é composto por três isótopos estáveis: [[oxigénio-16|O<sup>16</sup>]], [[oxigénio-17|O<sup>17</sup>]] e [[oxigénio-18|O<sup>18</sup>]], sendo o O<sup>16</sup> o mais abundante (99,762 % de [[abundância natural]]).<ref name="EnvChem-Iso">{{citar web|url=http://environmentalchemistry.com/yogi/periodic/O-pg2.html|título=Oxygen Nuclides / Isotopes|página=EnvironmentalChemistry.com|acessodata=15 de janeiro de 2015}}</ref> A maior parte do O<sup>16</sup> é [[Nucleossíntese|sintetizado]] no final do [[Processo triplo-alfa|processo de combustão do hélio]] no interior de [[estrela]]s massivas, mas outra parte é produzida no [[Fusão nuclear do neônio|processo de combustão do néon]].<ref name="Meyer2005">{{Citar periódico|nome=B.S.|sobrenome=Meyer|título=Nucleosynthesis and Galactic Chemical Evolution of the Isotopes of Oxygen|data=19-21 de setembro de 2005|local=Gatlinburg, Tennessee|outros= www.lpi.usra.edu/meetings/ess2005/pdf/9022.pdf|jornal=Proceedings of the NASA Cosmochemistry Program and the Lunar and Planetary Institute|url=http://www.lpi.usra.edu/meetings/ess2005/|editora=Workshop on Oxygen in the Earliest Solar System|id=9022}}</ref> O O<sup>17</sup> deriva fundamentalmente da fusão do hidrogénio em hélio durante o [[ciclo CNO]], convertendo-o num isótopo comum nas zonas de combustão de hidrogénio nas estrelas.<ref name="Meyer2005"/> A maioria do O<sup>18</sup> é produzido quando o [[Nitrogénio-14|N<sup>14</sup>]] — que abunda devido à combustão CNO — captura um núcleo de [[Hélio-4|He<sup>4</sup>]], tornando o O<sup>18</sup> comum nas zonas ricas em hélio das [[Evolução estelar#Estrelas de massivas|estrelas massivas]].<ref name="Meyer2005"/>
O oxigénio possui dezassete isótopos cujo [[número de massa]] varia entre 12 e 28. O oxigénio encontrado na natureza é composto por três isótopos estáveis: [[oxigénio-16|O<sup>16</sup>]], [[oxigénio-17|O<sup>17</sup>]] e [[oxigénio-18|O<sup>18</sup>]], sendo o O<sup>16</sup> o mais abundante (99,762 % de [[abundância natural]]).<ref name="EnvChem-Iso">{{citar web|url=http://environmentalchemistry.com/yogi/periodic/O-pg2.html|título=Oxygen Nuclides / Isotopes|página=EnvironmentalChemistry.com|acessodata=15/1/2015}}</ref> A maior parte do O<sup>16</sup> é [[Nucleossíntese|sintetizado]] no final do [[Processo triplo-alfa|processo de combustão do hélio]] no interior de [[estrela]]s massivas, mas outra parte é produzida no [[Fusão nuclear do neônio|processo de combustão do néon]].<ref name="Meyer2005">{{Citar periódico|nome=B.S.|sobrenome=Meyer|título=Nucleosynthesis and Galactic Chemical Evolution of the Isotopes of Oxygen|data=21/9/2005|local=Gatlinburg, Tennessee|periódico=Proceedings of the NASA Cosmochemistry Program and the Lunar and Planetary Institute|url=http://www.lpi.usra.edu/meetings/ess2005/|editora=Workshop on Oxygen in the Earliest Solar System|id=9022}}</ref> O O<sup>17</sup> deriva fundamentalmente da fusão do hidrogénio em hélio durante o [[ciclo CNO]], convertendo-o num isótopo comum nas zonas de combustão de hidrogénio nas estrelas.<ref name="Meyer2005"/> A maioria do O<sup>18</sup> é produzido quando o [[Nitrogénio-14|N<sup>14</sup>]] — que abunda devido à combustão CNO — captura um núcleo de [[Hélio-4|He<sup>4</sup>]], tornando o O<sup>18</sup> comum nas zonas ricas em hélio das [[Evolução estelar#Estrelas de massivas|estrelas massivas]].<ref name="Meyer2005"/>


Foram evidenciados quatorze [[radioisótopo]]s, dos quais os mais estáveis são o O<sup>15</sup> com um [[período de semidesintegração]] de 70,606&nbsp;segundos.<ref name="EnvChem-Iso"/> Todos os restantes isótopos [[Radioactividade|radioactivos]] têm períodos de semidesintegração inferiores a 27&nbsp;segundos e a maior parte destes, inferiores a 83&nbsp;milissegundos.<ref name="EnvChem-Iso"/> A forma de desintegração dos isótopos mais leves que o O<sup>16</sup> é a [[emissão de positrões|desintegração β<sup>+</sup>]]<ref name="NUDAT-13O">{{citar web|url=http://www.nndc.bnl.gov/nudat2/decaysearchdirect.jsp?nuc=13O&unc=nds|título=NUDAT 13O|acessodata=22 de julho de 2012}}</ref><ref name="NUDAT-14O">{{citar web|url=http://www.nndc.bnl.gov/nudat2/decaysearchdirect.jsp?nuc=14O&unc=nds|título=NUDAT 14O|acessodata=21 de fevereiro de 2015}}</ref><ref name="NUDAT-15O">{{citar web|url=http://www.nndc.bnl.gov/nudat2/decaysearchdirect.jsp?nuc=15O&unc=nds|título=NUDAT 15O|acessodata=21 de fevereiro de 2015}}</ref> para produzir nitrogénio. O tipo de decaimento mais comum para os isótopos mais pesados do que o O<sup>18</sup> é a [[emissão beta|desintegração β]] que dá origem ao [[flúor]].<ref name="EnvChem-Iso"/>
Foram evidenciados quatorze [[radioisótopo]]s, dos quais os mais estáveis são o O<sup>15</sup> com um [[período de semidesintegração]] de 70,606&nbsp;segundos.<ref name="EnvChem-Iso"/> Todos os restantes isótopos [[Radioactividade|radioactivos]] têm períodos de semidesintegração inferiores a 27&nbsp;segundos e a maior parte destes, inferiores a 83&nbsp;milissegundos.<ref name="EnvChem-Iso"/> A forma de desintegração dos isótopos mais leves que o O<sup>16</sup> é a [[emissão de positrões|desintegração β<sup>+</sup>]]<ref name="NUDAT-13O">{{citar web|url=http://www.nndc.bnl.gov/nudat2/decaysearchdirect.jsp?nuc=13O&unc=nds|título=NUDAT 13O|acessodata=22/7/2012}}</ref><ref name="NUDAT-14O">{{citar web|url=http://www.nndc.bnl.gov/nudat2/decaysearchdirect.jsp?nuc=14O&unc=nds|título=NUDAT 14O|acessodata=21/2/2015}}</ref><ref name="NUDAT-15O">{{citar web|url=http://www.nndc.bnl.gov/nudat2/decaysearchdirect.jsp?nuc=15O&unc=nds|título=NUDAT 15O|acessodata=21/2/2015}}</ref> para produzir nitrogénio. O tipo de decaimento mais comum para os isótopos mais pesados do que o O<sup>18</sup> é a [[emissão beta|desintegração β]] que dá origem ao [[flúor]].<ref name="EnvChem-Iso"/>


== Compostos ==
== Compostos ==
[[Imagem:Stilles Mineralwasser.jpg|miniatura|upright|A [[água]] (H<sub>2</sub>O) é o composto de oxigênio  mais familiar.]]
[[Imagem:Stilles Mineralwasser.jpg|miniatura|upright|A [[água]] (H<sub>2</sub>O) é o composto de oxigénio mais familiar.]]
{{VT|:Categoria:Compostos de oxigénio}}
{{VT|:Categoria:Compostos de oxigénio}}
O [[estado de oxidação]] do oxigênio  é -2 em quase todos os compostos conhecidos do oxigênio . O estado de oxidação -1 encontra-se em alguns compostos, como os [[peróxido]]s.<ref>{{citar livro|título=Chemistry of the Elements|edição=2ª|autor=Greenwood, N. N.; Earnshaw, A.|editora=Butterworth–Heinemann|ano=1997|páginas=28|isbn=0080379419|idioma=inglês}}</ref> Os compostos noutro estado de oxidação são muito raros: -1/2 ([[superóxido]]s), -1/3 ([[ozónido]]s), 0 ([[Alótropos do oxigénio|elementar]], [[ácido hipofluoroso]]), +1/2 ([[dioxigenil]]), +1 ([[difluoreto de dioxigénio]]) e +2 ([[difluoreto de oxigénio|difluoreto de oxigênio]] ).<ref>{{Citar livro|título=Study Package for NDA|autor=TMH|editora=Tata McGraw-Hill Education|isbn=9780071074643|capítulo=13 - Oxygen|página=359}}</ref>
O [[estado de oxidação]] do oxigénio é -2 em quase todos os compostos conhecidos do oxigénio. O estado de oxidação -1 encontra-se em alguns compostos, como os [[peróxido]]s.<ref>{{Harvnb|Greenwood|Earnshaw|1997|p=28}}</ref> Os compostos noutro estado de oxidação são muito raros: -1/2 ([[superóxido]]s), -1/3 ([[ozónido]]s), 0 ([[Alótropos do oxigénio|elementar]], [[ácido hipofluoroso]]), +1/2 ([[dioxigenil]]), +1 ([[difluoreto de dioxigénio]]) e +2 ([[difluoreto de oxigénio]]).{{Sfn|TMH}}


A sua alta [[eletronegatividade]] faz com que reaja com muitos elementos químicos, excepto os [[gás nobre|gases nobres]]. O composto mais notável do oxigênio  é a [[água]] (H<sub>2</sub>O); outros compostos importantes que apresentam o elemento oxigênio  na sua composição são: o dióxido de carbono, os [[álcool|álcoois]] (R-OH), [[aldeído]]s, (R-CHO) e [[ácido carboxílico|ácidos carboxílicos]] (R-COOH).
A sua alta [[eletronegatividade]] faz com que reaja com muitos elementos químicos, excepto os [[gás nobre|gases nobres]]. O composto mais notável do oxigénio é a [[água]] (H<sub>2</sub>O); outros compostos importantes que apresentam o elemento oxigénio na sua composição são: o dióxido de carbono, os [[álcool|álcoois]] (R-OH), [[aldeído]]s, (R-CHO) e [[ácido carboxílico|ácidos carboxílicos]] (R-COOH).


Os radicais [[clorato]] (ClO<sub>3</sub><sup>-</sup>), [[perclorato]] (ClO<sub>4</sub><sup>-</sup>), [[cromato]] (CrO<sub>4</sub><sup>2-</sup>), [[dicromato]] (Cr<sub>2</sub>O<sub>7</sub><sup>2-</sup>), [[permanganato]] (MnO<sub>4</sub><sup>-</sup>) e [[nitrato]] (NO<sub>3</sub><sup>-</sup>) são fortes agentes oxidantes. Os [[epóxido]]s são [[éter]]es nos quais o átomo de oxigênio  é um hétero-tomo. O [[ozónio]] (O<sub>3</sub>) forma-se mediante [[Electricidade|descargas elétricas]] a partir do oxigênio  molecular, como por exemplo, durante as [[tempestade]]s elétricas. Também já foi encontrado no oxigênio  líquido, em pequenas quantidades, uma dupla molécula de oxigênio : (O<sub>2</sub>)<sub>2</sub>.
Os radicais [[clorato]] (ClO<sub>3</sub><sup>-</sup>), [[perclorato]] (ClO<sub>4</sub><sup>-</sup>), [[cromato]] (CrO<sub>4</sub><sup>2-</sup>), [[dicromato]] (Cr<sub>2</sub>O<sub>7</sub><sup>2-</sup>), [[permanganato]] (MnO<sub>4</sub><sup>-</sup>) e [[nitrato]] (NO<sub>3</sub><sup>-</sup>) são fortes agentes oxidantes. Os [[epóxido]]s são [[éter]]es nos quais o átomo de oxigénio é um hétero-tomo. O [[ozónio]] (O<sub>3</sub>) forma-se mediante [[Electricidade|descargas elétricas]] a partir do oxigénio molecular, como por exemplo, durante as [[tempestade]]s elétricas. Também já foi encontrado no oxigénio líquido, em pequenas quantidades, uma dupla molécula de oxigénio: (O<sub>2</sub>)<sub>2</sub>.


=== Óxidos e outros compostos inorgânicos ===
=== Óxidos e outros compostos inorgânicos ===
A [[água]] (H<sub>2</sub>O) é um óxido de [[hidrogénio]] e é o composto de oxigênio  mais comum. Os átomos de hidrogénio estão [[ligação covalente|ligados covalentemente]] ao oxigênio  na molécula de água, mas numa massa de água também são atraídos (cerca de 23,3&nbsp;kJ•mol<sup>−1</sup> por átomo de hidrogénio) pelo átomo de oxigênio  doutra molécula de água adjacente.<ref>{{citar periódico|nome=P.|sobrenome=Maksyutenko|nome2=T. R.|sobrenome2= Rizzo|nome3=O. V.|sobrenome3= Boyarkin|ano=2006|título=A direct measurement of the dissociation energy of water|pmid=17115729|revista=J. Chem. Phys.|páginas=181101 |doi=10.1063/1.2387163|número=18|volume=125|bibcode = 2006JChPh.125r1101M }}</ref> Estas [[ligação de hidrogénio|ligações de hidrogénio]] entre moléculas de água mantêm-nas aproximadamente 15 % mais próximas do que seria espectável num líquido simples apenas com as [[forças de Van der Waals]].<ref>{{citar web|título=Water Hydrogen Bonding|sobrenome=Chaplin|nome=Martin|url=http://www.lsbu.ac.uk/water/hbond.html|acessodata=27 de junho de 2015|data=4 de Janeiro de 2008}}</ref>{{Efn|Também, devido à maior electronegatividade do oxigénio em relação ao hidrogénio, a diferença na carga converte-a numa [[Polaridade (química)#Polaridade das Moléculas|molécula polar]]. As interacções entre os diferentes [[Dipolo eléctrico|dipolos]] de cada molécula originam uma força de atracção global.}}
A [[água]] (H<sub>2</sub>O) é um óxido de [[hidrogénio]] e é o composto de oxigénio mais comum. Os átomos de hidrogénio estão [[ligação covalente|ligados covalentemente]] ao oxigénio na molécula de água, mas numa massa de água também são atraídos (cerca de 23,3&nbsp;kJ•mol<sup>−1</sup> por átomo de hidrogénio) pelo átomo de oxigénio doutra molécula de água adjacente.<ref>{{Harvnb|Maksyutenko|Rizzo|Boyarkin|2006|p=181101}}</ref> Estas [[ligação de hidrogénio|ligações de hidrogénio]] entre moléculas de água mantêm-nas aproximadamente 15 % mais próximas do que seria espectável num líquido simples apenas com as [[forças de Van der Waals]].<ref>{{citar web|título=Water Hydrogen Bonding|sobrenome=Chaplin|nome=Martin|url=http://www.lsbu.ac.uk/water/hbond.html|acessodata=27/6/2015|data=4/1/2008}}</ref>{{Efn|Também, devido à maior electronegatividade do oxigénio em relação ao hidrogénio, a diferença na carga converte-a numa [[Polaridade (química)#Polaridade das Moléculas|molécula polar]]. As interacções entre os diferentes [[Dipolo eléctrico|dipolos]] de cada molécula originam uma força de atracção global.}}
[[Imagem:Rust screw.jpg|miniatura|esquerda|Os óxidos, como o [[óxido de ferro (II,III)|óxido de ferro]], formam-se quando o oxigênio  é combinado com outros elementos.]]
[[Imagem:Rust screw.jpg|miniatura|esquerda|Os óxidos, como o [[óxido de ferro (II,III)|óxido de ferro]], formam-se quando o oxigénio é combinado com outros elementos.]]
Devido à sua [[electronegatividade]], o oxigênio  forma [[ligação química|ligações químicas]] com quase todos os elementos a altas temperaturas para formar [[óxido]]s correspondentes. Contudo, alguns elementos formam óxidos directamente em [[condições normais de pressão e temperatura]], como o óxido formado do [[ferro]]. As superfícies de metais como o [[alumínio]] e o [[titânio]] oxidam-se na presença do ar e são revestidas por uma fina camada de óxido que [[Passivação|passiva]] o metal e abranda a [[corrosão]]. Alguns dos óxidos [[metal de transição|metálicos de transição]] são encontrados na natureza como [[compostos não-estequiométricos|compostos não estequiométricos]], com um pouco menos de metal do que a [[fórmula química]] sugere. Por exemplo, o [[Óxido de ferro(II)|FeO]] (''[[wustite]]''), que se forma naturalmente, é escrito como Fe<sub>x-1</sub>O, onde o «x» é normalmente cerca de 0,05.<ref>{{citar livro|nome=Lesley E.|sobrenome=Smart|sobrenome2=Moore|nome2=Elaine A. |título=Solid State Chemistry: An Introduction|edição=3.ª |editora=CRC Press|ano=2005|página=214|isbn=978-0-7487-7516-3}}</ref>
Devido à sua [[electronegatividade]], o oxigénio forma [[ligação química|ligações químicas]] com quase todos os elementos a altas temperaturas para formar [[óxido]]s correspondentes. Contudo, alguns elementos formam óxidos directamente em [[condições normais de pressão e temperatura]], como o óxido formado do [[ferro]]. As superfícies de metais como o [[alumínio]] e o [[titânio]] oxidam-se na presença do ar e são revestidas por uma fina camada de óxido que [[Passivação|passiva]] o metal e abranda a [[corrosão]]. Alguns dos óxidos [[metal de transição|metálicos de transição]] são encontrados na natureza como [[Composto não-estequiométrico|compostos não estequiométricos]], com um pouco menos de metal do que a [[fórmula química]] sugere. Por exemplo, o [[Óxido de ferro(II)|FeO]] (''[[wustite]]''), que se forma naturalmente, é escrito como Fe<sub>x-1</sub>O, onde o «x» é normalmente cerca de 0,05.<ref>{{Harvnb|Smart|Moore|2005|p=214}}</ref>


O oxigênio  como composto está presente na atmosfera em pequenas quantidades em forma de [[dióxido de carbono]] (CO<sub>2</sub>). A [[rocha]] da [[crosta terrestre]] é composta por grandes quantidades de óxidos de [[silício]] ([[dióxido de silício]] SiO<sub>2</sub>, como o encontrado no [[granito]] e [[quartzo]]), alumínio ([[óxido de alumínio]] Al<sub>2</sub>O<sub>3</sub>, em [[bauxite]] e [[corindo]]), ferro ([[óxido férrico]] Fe<sub>2</sub>O<sub>3</sub>, na [[hematite]] e [[ferrugem]]) e [[cálcio]] ([[carbonato de cálcio]] CaCO<sub>3</sub>, no [[calcário]]). O restante da crosta terrestre é também constituído por compostos de oxigênio , em particular vários [[silicato]]s complexos. No [[manto terrestre]], com uma massa muito maior do que a crosta terrestre, abundam os silicatos de ferro e [[magnésio]].
O oxigénio como composto está presente na atmosfera em pequenas quantidades em forma de [[dióxido de carbono]] (CO<sub>2</sub>). A [[rocha]] da [[crosta terrestre]] é composta por grandes quantidades de óxidos de [[silício]] ([[dióxido de silício]] SiO<sub>2</sub>, como o encontrado no [[granito]] e [[quartzo]]), alumínio ([[óxido de alumínio]] Al<sub>2</sub>O<sub>3</sub>, em [[bauxite]] e [[corindo]]), ferro ([[óxido férrico]] Fe<sub>2</sub>O<sub>3</sub>, na [[hematite]] e [[ferrugem]]) e [[cálcio]] ([[carbonato de cálcio]] CaCO<sub>3</sub>, no [[calcário]]). O restante da crosta terrestre é também constituído por compostos de oxigénio, em particular vários [[silicato]]s complexos. No [[manto terrestre]], com uma massa muito maior do que a crosta terrestre, abundam os silicatos de ferro e [[magnésio]].


Os silicatos [[solubilidade|solúveis]] em água com as formas Na<sub>4</sub>SiO<sub>4</sub>, Na<sub>2</sub>SiO<sub>3</sub> e Na<sub>2</sub>Si<sub>2</sub>O<sub>5</sub> são utilizados em [[detergente]]s e [[adesivo]]s.<ref name="ECE507">{{Harvnb|Cook|Lauer|1968|p=507}}</ref> O oxigênio  também actua como ligação para metais de transição, formando ligações de O<sub>2</sub> metálico com átomos de [[irídio]] no [[complexo de Vaska]],<ref>{{citar livro|sobrenome=Crabtree|nome=R.|título=The Organometallic Chemistry of the Transition Metals|edição=3.ª |editora=John Wiley & Sons|ano=2001|página=152|isbn=978-0-471-18423-2}}</ref> com [[platina]] no [[Hexafluoreto de platina|PtF<sub>6</sub>]] e com o centro de ferro no grupo [[hemo]] da [[hemoglobina]].<ref name="ECE505">{{Harvnb|Cook|Lauer|1968|p=505}}</ref>
Os silicatos [[solubilidade|solúveis]] em água com as formas Na<sub>4</sub>SiO<sub>4</sub>, Na<sub>2</sub>SiO<sub>3</sub> e Na<sub>2</sub>Si<sub>2</sub>O<sub>5</sub> são utilizados em [[detergente]]s e [[adesivo]]s.<ref name="ECE507">{{Harvnb|Cook|Lauer|1968|p=507}}</ref> O oxigénio também actua como ligação para metais de transição, formando ligações de O<sub>2</sub> metálico com átomos de [[irídio]] no [[complexo de Vaska]],<ref>{{Harvnb|Crabtree|2001|p=152}}</ref> com [[platina]] no [[Hexafluoreto de platina|PtF<sub>6</sub>]] e com o centro de ferro no grupo [[hemo]] da [[hemoglobina]].<ref name="ECE505">{{Harvnb|Cook|Lauer|1968|p=505}}</ref>


=== Compostos orgânicos e biomoléculas ===
=== Compostos orgânicos e biomoléculas ===
[[Imagem:ATP structure.svg|miniatura|O oxigênio  representa mais de 40 % da [[massa molecular]] da molécula da [[Adenosina trifosfato|ATP]]]]
[[Imagem:ATP structure.svg|miniatura|O oxigénio representa mais de 40 % da [[massa molecular]] da molécula da [[Adenosina trifosfato|ATP]]]]
Entre as classes mais importantes de compostos orgânicos que contêm oxigênio  mencione-se (onde «R» é um grupo orgânico): [[álcool|álcoois]] (R-OH), [[éter]]es (R-O-R), [[cetona]]s (R-CO-R), [[aldeído]]s (R-CO-H), [[ácido carboxílico|ácidos carboxílicos]] (R-COOH), [[éster]]es (R-COO-R), [[Anidrido de ácido carboxílico|anidridos de ácido]] (R-CO-O-CO-R) e [[amida]]s (R-C(O)-NR<sub>2</sub>).<ref>{{Harvnb|Manahan|2013|p=568}}</ref> Existem muitos [[dissolvente]]s orgânicos importantes que contêm oxigênio , entre os quais: [[acetona]], [[metanol]], [[etanol]], [[álcool isopropílico]], [[Furano (química)|furano]], [[tetraidrofurano]], [[éter etílico]], [[dioxano]], [[acetato de etila]], [[dimetilformamida]], [[dimetilsulfóxido]], [[ácido acético]] e [[ácido fórmico]]. A acetona (CH<sub>3</sub>(CO)CH<sub>3</sub>) e o [[fenol]] (C<sub>6</sub>H<sub>5</sub>OH) são usados como matérias na síntese de muitas substâncias diferentes.<ref>{{Harvnb|Manahan|2013|p=246}}</ref> Outros compostos orgânicos importantes que contêm oxigênio  são, o [[glicerol]], [[formaldeído]], [[glutaraldeído]], [[ácido acético]] e [[acetamida]].<ref>{{Citar livro|título=General Chemistry|nome1=Darrell|sobrenome1= Ebbing|nome2=Steven D.|sobrenome2=Gammon|editora=Cengage Learning|ano=2016|isbn=9781305580343|página=834}}</ref> Os [[epóxido]]s são [[éter]]es nos quais o átomo de oxigênio  constitui parte dum anel de três átomos.<ref name=UllmannEpoxides>{{citar periódico| autor1 = Guenter Sienel | autor2 = Robert Rieth | autor3 = Kenneth T. Rowbottom | título= Epoxides | doi = 10.1002/14356007.a09_531|ano= 2005 |editora= Wiley-VCH | local= Weinheim|enciclopédia= Ullmann's Encyclopedia of Industrial Chemistry}}</ref>
Entre as classes mais importantes de compostos orgânicos que contêm oxigénio mencione-se (onde «R» é um grupo orgânico): [[álcool|álcoois]] (R-OH), [[éter]]es (R-O-R), [[cetona]]s (R-CO-R), [[aldeído]]s (R-CO-H), [[ácido carboxílico|ácidos carboxílicos]] (R-COOH), [[éster]]es (R-COO-R), [[Anidrido de ácido carboxílico|anidridos de ácido]] (R-CO-O-CO-R) e [[amida]]s (R-C(O)-NR<sub>2</sub>).<ref>{{Harvnb|Manahan|2013|p=568}}</ref> Existem muitos [[dissolvente]]s orgânicos importantes que contêm oxigénio, entre os quais: [[acetona]], [[metanol]], [[etanol]], [[álcool isopropílico]], [[Furano (química)|furano]], [[tetraidrofurano]], [[éter etílico]], [[dioxano]], [[acetato de etila]], [[dimetilformamida]], [[dimetilsulfóxido]], [[ácido acético]] e [[ácido fórmico]]. A acetona (CH<sub>3</sub>(CO)CH<sub>3</sub>) e o [[fenol]] (C<sub>6</sub>H<sub>5</sub>OH) são usados como matérias na síntese de muitas substâncias diferentes.<ref>{{Harvnb|Manahan|2013|p=246}}</ref> Outros compostos orgânicos importantes que contêm oxigénio são, o [[glicerol]], [[formaldeído]], [[glutaraldeído]], [[ácido acético]] e [[acetamida]].<ref>{{Harvnb|Ebbing|Gammon|2016|p=834}}</ref> Os [[epóxido]]s são [[éter]]es nos quais o átomo de oxigénio constitui parte dum anel de três átomos.<ref>{{Harvnb|Sienel|Rieth|Rowbottom|2005}}</ref>


O oxigênio  reage espontaneamente com muitos compostos [[Química orgânica|orgânicos]] a temperatura ambiente ou inferior, num processo designado [[autoxidação]].<ref name="ECE506">{{Harvnb|Cook|Lauer|1968|p=506}}</ref> A maior parte dos [[matéria orgânica|compostos orgânicos]] que contêm oxigênio  não se produzem por acção directa do O<sub>2</sub>. Os compostos orgânicos importantes na indústria e comércio produzidos por oxidação directa dum precursor incluem o óxido de etileno e o [[ácido peracético]].<ref name="ECE507"/>
O oxigénio reage espontaneamente com muitos compostos [[Química orgânica|orgânicos]] a temperatura ambiente ou inferior, num processo designado [[autoxidação]].<ref name="ECE506">{{Harvnb|Cook|Lauer|1968|p=506}}</ref> A maior parte dos [[matéria orgânica|compostos orgânicos]] que contêm oxigénio não se produzem por acção directa do O<sub>2</sub>. Os compostos orgânicos importantes na indústria e comércio produzidos por oxidação directa dum precursor incluem o óxido de etileno e o [[ácido peracético]].<ref name="ECE507"/>


O elemento encontra-se em quase todas as [[biomolécula]]s importantes para (ou geradas por) a vida.<ref>{{Citar livro|título=Oxygen and the Evolution of Life|página=99|nome1=Heinz|sobrenome1=Decker|nome2=Kensal E|sobrenome2=van Holde|editora=Springer Science & Business Media|ano=2010|isbn=9783642131790}}</ref> Apenas algumas biomoléculas complexas comuns, como o [[esqualeno]] e o [[caroteno]], não possuem oxigênio . Dos compostos orgânicos com importância biológica, os [[carboidrato]]s contêm a maior proporção de oxigênio  na sua massa. Todas as [[gordura]]s, [[ácido graxo|ácidos gordos]], [[aminoácido]]s e [[proteína]]s contêm oxigênio  (devido à presença de [[carbonila|grupos carbonilos]] nesses ácidos e nos seus resíduos de éster). O oxigênio  também está presente em grupos de [[fosfato]] ({{chem|PO|4|3-}}) nas moléculas biologicamente importantes que transportam energia, [[adenosina trifosfato|ATP]] e [[Adenosina difosfato|ADP]], na coluna vertebral e [[purina]]s (à excepção de [[adenina]] e [[pirimidina]]s de [[ácido ribonucleico|ARN]] e [[Ácido desoxirribonucleico|ADN]]) e nos ossos como [[fosfato de cálcio]] e [[hidroxiapatita]].
O elemento encontra-se em quase todas as [[biomolécula]]s importantes para (ou geradas por) a vida.<ref>{{Harvnb|Decker|van Holde|2010|p=99}}</ref> Apenas algumas biomoléculas complexas comuns, como o [[esqualeno]] e o [[caroteno]], não possuem oxigénio. Dos compostos orgânicos com importância biológica, os [[carboidrato]]s contêm a maior proporção de oxigénio na sua massa. Todas as [[gordura]]s, [[ácido graxo|ácidos gordos]], [[aminoácido]]s e [[proteína]]s contêm oxigénio (devido à presença de [[carbonila|grupos carbonilos]] nesses ácidos e nos seus resíduos de éster). O oxigénio também está presente em grupos de [[fosfato]] ({{chem|PO|4|3-}}) nas moléculas biologicamente importantes que transportam energia, [[adenosina trifosfato|ATP]] e [[Adenosina difosfato|ADP]], na coluna vertebral e [[purina]]s (à excepção de [[adenina]] e [[pirimidina]]s de [[ácido ribonucleico|ARN]] e [[Ácido desoxirribonucleico|ADN]]) e nos ossos como [[fosfato de cálcio]] e [[hidroxiapatita]].


== História ==
== História ==
[[Imagem:Philos experiment of the burning candle.PNG|thumb|esquerda|Desenho de uma vela acesa dentro de um bulbo de vidro.]]
[[Imagem:Philos experiment of the burning candle.PNG|thumb|esquerda|Desenho de uma vela acesa dentro de um bulbo de vidro.]]


Uma das primeiras experiências conhecidas sobre a relação entre [[combustão]] e o ar foi realizada por [[Filão de Bizâncio]], escritor grego do [[século II a.C.]], que tinha como um de seus interesses a mecânica. Na sua obra ''Pneumatica'', Filão observou que invertendo um recipiente sobre uma vela acesa e colocando água em torno do gargalo do vaso, uma parte do líquido subia pelo gargalo.<ref>{{citar livro|título= Story of Human Error|primeiro = Joseph |último = Jastrow|url=http://books.google.com/?id=tRUO45YfCHwC&pg=PA171&lpg=PA171|página= 171 |ano= 1936|publicado= Ayer Publishing|isbn = 0836905687}}</ref> Filão supôs erradamente que partes do ar no recipiente eram convertidas no [[Quatro Elementos|elemento clássico]] do [[Fogo (elemento)|fogo]] e, portanto, eram capazes de escapar através dos poros do vidro. Vários séculos depois, [[Leonardo da Vinci]], com base no trabalho de Filão, observou que uma parte do ar é consumida durante a combustão e [[respiração (fisiologia)|respiração]].<ref name="ECE499">[[#Reference-idCook1968|Cook & Lauer 1968]], p.499.</ref>
Uma das primeiras experiências conhecidas sobre a relação entre [[combustão]] e o ar foi realizada por [[Filão de Bizâncio]], escritor grego do [[século II a.C.]], que tinha como um de seus interesses a mecânica. Na sua obra ''Pneumatica'', Filão observou que invertendo um recipiente sobre uma vela acesa e colocando água em torno do gargalo do vaso, uma parte do líquido subia pelo gargalo.<ref>{{Harvnb|Jastrow|1936|p=171}}</ref> Filão supôs erradamente que partes do ar no recipiente eram convertidas no [[Quatro Elementos|elemento clássico]] do [[Fogo (elemento)|fogo]] e, portanto, eram capazes de escapar através dos poros do vidro. Vários séculos depois, [[Leonardo da Vinci]], com base no trabalho de Filão, observou que uma parte do ar é consumida durante a combustão e [[respiração (fisiologia)|respiração]].<ref name="ECE499">[[#Reference-idCook1968|Cook & Lauer 1968]], p.499.</ref>


No final do século XVII, [[Robert Boyle]] provou que o ar é necessário para a combustão. O químico inglês [[John Mayow]] refinou este trabalho, mostrando que o fogo requer apenas uma parte do ar, que denominou de ''nitroaereus spiritus'' ou simplesmente ''nitroaereus''.<ref name="EB1911">{{citar livro|título=Encyclopædia Britannica|capítulo=John Mayow|edição=11th|ano=1911|url=http://www.1911encyclopedia.org/John_Mayow|acessodata=2007-12-16|autor=''Britannica'' contributors|arquivourl=https://web.archive.org/web/20130825011055/http://www.1911encyclopedia.org/John_Mayow|arquivodata=2013-08-25|urlmorta=yes}}</ref> Num experimento, descobriu que, colocando tanto um rato como uma vela acesa num recipiente fechado sobre água, levava a água a subir e substituir um décimo quarto do volume do ar antes de sufocar os objetos da experiência.<ref name="WoC">{{citar livro|título=World of Chemistry|capítulo=John Mayow|ano=2005|publicado=Thomson Gale|url=http://www.bookrags.com/John_Mayow|acessodata=2007-12-16|autor =''World of Chemistry'' contributors|isbn=0669327271}}</ref> A partir disso, supôs-se que o ''nitroaereus'' era consumido tanto na [[Respiração (fisiologia)|respiração]] como na combustão.
No final do século XVII, [[Robert Boyle]] provou que o ar é necessário para a combustão. O químico inglês [[John Mayow]] refinou este trabalho, mostrando que o fogo requer apenas uma parte do ar, que denominou de ''nitroaereus spiritus'' ou simplesmente ''nitroaereus''.<ref name="EB1911">{{citar livro|título=Encyclopædia Britannica|capítulo=John Mayow|edição=11ª|ano=1911|url=http://www.1911encyclopedia.org/John_Mayow|acessodata=2007-12-16|autor=''Britannica'' contributors|wayb=20130825011055|urlmorta=sim}}</ref> Num experimento, descobriu que, colocando tanto um rato como uma vela acesa num recipiente fechado sobre água, levava a água a subir e substituir um décimo quarto do volume do ar antes de sufocar os objetos da experiência.<ref name="WoC">{{citar livro|título=World of Chemistry|capítulo=John Mayow|ano=2005|publicado=Thomson Gale|url=http://www.bookrags.com/John_Mayow|acessodata=2007-12-16|autor =''World of Chemistry'' contributors|isbn=0669327271}}</ref> A partir disso, supôs-se que o ''nitroaereus'' era consumido tanto na [[Respiração (fisiologia)|respiração]] como na combustão.


Mayow observou que o [[antimónio]] aumentava o seu peso quando aquecido, e inferiu que o ''nitroaereus'' deve ter combinado com ele.<ref name="EB1911"/> Também pensava que os pulmões separavam o ''nitroaereus'' do ar passando-o para o sangue, e que o calor animal e o movimento dos músculos resultava da reação do ''nitroaereus'' com determinadas substâncias no organismo.<ref name="EB1911"/> Relatos dessas e doutras experiências e ideias foram publicados em 1668 na sua obra ''Tractatus duo'' no tratado "De respiratione".<ref name="WoC"/>
Mayow observou que o [[antimónio]] aumentava o seu peso quando aquecido, e inferiu que o ''nitroaereus'' deve ter combinado com ele.<ref name="EB1911"/> Também pensava que os pulmões separavam o ''nitroaereus'' do ar passando-o para o sangue, e que o calor animal e o movimento dos músculos resultava da reação do ''nitroaereus'' com determinadas substâncias no organismo.<ref name="EB1911"/> Relatos dessas e doutras experiências e ideias foram publicados em 1668 na sua obra ''Tractatus duo'' no tratado "De respiratione".<ref name="WoC"/>
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{{Artigo principal|Teoria do flogisto}}
{{Artigo principal|Teoria do flogisto}}
[[Imagem:Georg Ernst Stahl.png|miniatura|esquerda|upright|[[Georg Stahl]] ajudou a desenvolver e popularizar a teoria do flogisto.]]
[[Imagem:Georg Ernst Stahl.png|miniatura|esquerda|upright|[[Georg Stahl]] ajudou a desenvolver e popularizar a teoria do flogisto.]]
[[Robert Hooke]], [[Ole Borch]], [[Mikhail Lomonossov]] e [[Pierre Bayen]] produziram oxigênio  durante experimentações entre os séculos XVII e [[século XVIII|XVIII]], mas nenhum deles o reconheceu como um elemento.<ref name="NBB299">{{Harvnb|Emsley|2001|p=299}}</ref> Isto deveu-se em parte à prevalência da filosofia da [[combustão]] e [[corrosão]], denominada [[teoria do flogisto]], que era até então a melhor explicação para esses processos.<ref name="Conant">{{Citar livro|nome=James Bryan|sobrenome=Conant|título=The Overthrow of Phlogiston Theory: The Chemical Revolution of 1775–1789|lugar=Cambridge|editora=Harvard University Press|ano=1950|volume=14|oclc=301515203}}</ref>
[[Robert Hooke]], [[Ole Borch]], [[Mikhail Lomonossov]] e [[Pierre Bayen]] produziram oxigénio durante experimentações entre os séculos XVII e [[século XVIII|XVIII]], mas nenhum deles o reconheceu como um elemento.<ref name="NBB299">{{Harvnb|Emsley|2001|p=299}}</ref> Isto deveu-se em parte à prevalência da filosofia da [[combustão]] e [[corrosão]], denominada [[teoria do flogisto]], que era até então a melhor explicação para esses processos.<ref name=":5">{{Harvnb|Conant|1950}}</ref>


Esta teoria, estabelecida em 1667 pelo químico alemão [[Johann Joachim Becher]] e modificada pelo também químico [[Georg Stahl]] em 1731,<ref name="morris">{{citar livro| título = The last sorcerers: The path from alchemy to the periodic table |sobrenome = Morris| nome = Richard| ano = 2003|editora = Joseph Henry Press|lugar= Washington, D.C.|isbn = 0-309-08905-0}}</ref> postulava que todos os materiais combustíveis eram constituídos por duas partes; uma, chamada flogisto, que era emitida ao queimar a substância em questão, e outra, denominada desflogisticado, que era tida como a sua verdadeira forma, o ''calx'' (cinza; [[giz|greda]] em [[Língua latina|latim]]).<ref name="ECE499"/>
Esta teoria, estabelecida em 1667 pelo químico alemão [[Johann Joachim Becher]] e modificada pelo também químico [[Georg Stahl]] em 1731,<ref name=":6">{{Harvnb|Morris|2003}}</ref> postulava que todos os materiais combustíveis eram constituídos por duas partes; uma, chamada flogisto, que era emitida ao queimar a substância em questão, e outra, denominada desflogisticado, que era tida como a sua verdadeira forma, o ''calx'' (cinza; [[giz|greda]] em [[Língua latina|latim]]).<ref name="ECE499"/>


Acreditava-se que os materiais altamente inflamáveis que deixam poucos [[resíduo (química)|resíduos]], como a [[madeira]] ou o [[carbono]], eram constituídos essencialmente por flogisto, enquanto que as substâncias não combustíveis que se corroem, como o [[ferro]], continham muito pouco. O ar não desempenhava nenhum papel na teoria do flogisto nem foram realizadas experiências quantitativas para testar a ideia; em vez disso, a teoria baseava-se em observações sobre o que acontece quando um objeto é queimado: os objectos mais comuns pareciam tornar-se mais leves e perdiam algo no processo de combustão.<ref name="ECE499"/> Para justificar o facto de que uma substância como a madeira realmente ''ganhava'' peso no seu conjunto durante a combustão, Stahl afirmava que o flogisto possuía massa negativa. Uma das primeiras evidências sobre a falsidade da teoria do flogisto era que os metais também ganhavam peso na oxidação (quando supostamente perdiam flogisto).<ref name="Conant"/>
Acreditava-se que os materiais altamente inflamáveis que deixam poucos [[resíduo (química)|resíduos]], como a [[madeira]] ou o [[carbono]], eram constituídos essencialmente por flogisto, enquanto que as substâncias não combustíveis que se corroem, como o [[ferro]], continham muito pouco. O ar não desempenhava nenhum papel na teoria do flogisto nem foram realizadas experiências quantitativas para testar a ideia; em vez disso, a teoria baseava-se em observações sobre o que acontece quando um objeto é queimado: os objectos mais comuns pareciam tornar-se mais leves e perdiam algo no processo de combustão.<ref name="ECE499"/> Para justificar o facto de que uma substância como a madeira realmente ''ganhava'' peso no seu conjunto durante a combustão, Stahl afirmava que o flogisto possuía massa negativa. Uma das primeiras evidências sobre a falsidade da teoria do flogisto era que os metais também ganhavam peso na oxidação (quando supostamente perdiam flogisto).<ref name=":5" />


=== Descoberta ===
=== Descoberta ===
[[Imagem:Carl Wilhelm Scheele from Familj-Journalen1874.png|miniatura|upright|[[Carl Wilhelm Scheele]] descobriu primeiro que Priestley, mas só depois deste é que publicou o seu trabalho.]]
[[Imagem:Carl Wilhelm Scheele from Familj-Journalen1874.png|miniatura|upright|[[Carl Wilhelm Scheele]] descobriu primeiro que Priestley, mas só depois deste é que publicou o seu trabalho.]]
A descoberta se deu pelo [[farmácia|farmacêutico]] [[Suécia|sueco]] [[Carl Wilhelm Scheele]], que produziu oxigênio  gasoso aquecendo óxido de mercúrio e vários [[nitrato]]s por volta de [[1772]].<ref name="ECE500"/><ref name="ECE499"/> Scheele chamou ao gás "ar do fogo", porque era o único apoio conhecido para a combustão, e escreveu um relatório sobre a sua descoberta em um manuscrito intitulado "Chemische Abhandlung von der Luft und dem Feuer» ( «Tratado químico do ar e do fogo" ) e enviou-o para a sua editora em 1775; no entanto, só em 1777 é que o documento foi publicado.<ref name="NBB300">{{Harvnb|Emsley|2001|p=300}}</ref>
A descoberta se deu pelo [[farmácia|farmacêutico]] [[Suécia|sueco]] [[Carl Wilhelm Scheele]], que produziu oxigénio gasoso aquecendo óxido de mercúrio e vários [[nitrato]]s por volta de [[1772]].<ref name="ECE500"/><ref name="ECE499"/> Scheele chamou ao gás "ar do fogo", porque era o único apoio conhecido para a combustão, e escreveu um relatório sobre a sua descoberta em um manuscrito intitulado "Chemische Abhandlung von der Luft und dem Feuer» ( «Tratado químico do ar e do fogo" ) e enviou-o para a sua editora em 1775; no entanto, só em 1777 é que o documento foi publicado.<ref name="NBB300">{{Harvnb|Emsley|2001|p=300}}</ref>


[[Imagem:PriestleyFuseli.jpg|miniatura|upright|esquerda|É costume atribuir a descoberta a [[Joseph Priestley]].]]
[[Imagem:PriestleyFuseli.jpg|miniatura|upright|esquerda|É costume atribuir a descoberta a [[Joseph Priestley]].]]


O seu trabalho não teve reconhecimento imediato, sendo a descoberta ocasionalmente atribuída a [[Joseph Priestley]], que elaborou uma experimentação independente a [[1 de agosto]] de [[1774]]. Este realizou uma experiência no qual focou a luz solar sobre [[óxido de mercúrio (II)]] (HgO) no interior de um tubo de cristal, que libertou um gás que denominou de «ar desflogisticado".<ref name="ECE500"/> Com isso, observou que as velas ardiam mais intensamente no gás e que o rato estava mais ativo e vivia durante mais tempo enquanto o respirava. Após ele mesmo inalar o gás, escreveu: "A sensação do gás nos meus pulmões não era perceptivelmente diferente à do ar normal, mas senti o meu peito particularmente leve e desafogado durante algum tempo depois".<ref name="NBB299"/> Priestley publicou as suas descobertas em 1775 num artigo intitulado "An Account of Further Discoveries in Air" ("Um relatório de mais descobertas no ar"), que incluiu no segundo volume do seu livro intitulado ''Experiments and Observation on Different Kinds of Air''.<ref name="ECE499"/><ref>{{citar periódico|título = An Account of Further Discoveries in Air|nome = Joseph|sobrenome = Priestley|revista = Philosophical Transactions|ano = 1775|volume = 65|páginas = 384–94|doi = 10.1098/rstl.1775.0039}}</ref> Uma vez que os seus achados foram publicados primeiro, Priestley é geralmente considerado o autor da descoberta.
O seu trabalho não teve reconhecimento imediato, sendo a descoberta ocasionalmente atribuída a [[Joseph Priestley]], que elaborou uma experimentação independente a [[1 de agosto]] de [[1774]]. Este realizou uma experiência no qual focou a luz solar sobre [[óxido de mercúrio (II)]] (HgO) no interior de um tubo de cristal, que libertou um gás que denominou de «ar desflogisticado".<ref name="ECE500"/> Com isso, observou que as velas ardiam mais intensamente no gás e que o rato estava mais ativo e vivia durante mais tempo enquanto o respirava. Após ele mesmo inalar o gás, escreveu: "A sensação do gás nos meus pulmões não era perceptivelmente diferente à do ar normal, mas senti o meu peito particularmente leve e desafogado durante algum tempo depois".<ref name="NBB299"/> Priestley publicou as suas descobertas em 1775 num artigo intitulado "An Account of Further Discoveries in Air" ("Um relatório de mais descobertas no ar"), que incluiu no segundo volume do seu livro intitulado ''Experiments and Observation on Different Kinds of Air''.<ref name="ECE499"/><ref>{{Harvnb|Priestley|1775|pp=384–394}}</ref> Uma vez que os seus achados foram publicados primeiro, Priestley é geralmente considerado o autor da descoberta.


O renomado químico francês [[Antoine Lavoisier]] afirmou mais tarde ter descoberto a substância autonomamente. No entanto, Priestley visitou Lavoisier em outubro de 1774 e falou-lhe sobre o seu experimento e como libertar o novo gás. Scheele também escreveu uma carta a Lavoisier em 30 de setembro do mesmo ano, na qual descrevia a sua própria descoberta da substância antes desconhecida, mas o francês nunca reconheceu tê-la recebido. Após a morte de Scheele, foi encontrada uma cópia da carta entre os seus pertences.<ref name="NBB300"/>
O renomado químico francês [[Antoine Lavoisier]] afirmou mais tarde ter descoberto a substância autonomamente. No entanto, Priestley visitou Lavoisier em outubro de 1774 e falou-lhe sobre o seu experimento e como libertar o novo gás. Scheele também escreveu uma carta a Lavoisier em 30 de setembro do mesmo ano, na qual descrevia a sua própria descoberta da substância antes desconhecida, mas o francês nunca reconheceu tê-la recebido. Após a morte de Scheele, foi encontrada uma cópia da carta entre os seus pertences.<ref name="NBB300"/>
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=== Contribuição de Lavoisier ===
=== Contribuição de Lavoisier ===
[[Imagem:Antoine lavoisier.jpg|miniatura|upright|esquerda|[[Antoine Lavoisier]] desacreditou a teoria do flogisto.]]
[[Imagem:Antoine lavoisier.jpg|miniatura|upright|esquerda|[[Antoine Lavoisier]] desacreditou a teoria do flogisto.]]
Embora tenha sido contestada na época, a contribuição de Lavoisier conduziu efectivamente às primeiras experiências quantitativas satisfatórias sobre a [[oxidação]] e forneceu a primeira explicação correta a respeito do funcionamento da combustão.<ref name ="ECE500"/> Estas e outras experimentações semelhantes, que tiveram início em 1774, iriam levar à desacreditação da teoria do flogisto e à comprovação de que a substância descoberta por Priestley e Scheele era um [[elemento químico]].<ref name="morris"/>
Embora tenha sido contestada na época, a contribuição de Lavoisier conduziu efectivamente às primeiras experiências quantitativas satisfatórias sobre a [[oxidação]] e forneceu a primeira explicação correta a respeito do funcionamento da combustão.<ref name ="ECE500"/> Estas e outras experimentações semelhantes, que tiveram início em 1774, iriam levar à desacreditação da teoria do flogisto e à comprovação de que a substância descoberta por Priestley e Scheele era um [[elemento químico]].<ref name=":6" />


Numa experiência, Lavoisier observou que não havia um aumento da massa total quando o [[estanho]] e o ar eram aquecidos num recipiente fechado.<ref name="ECE500"/> Notou que, quando o recipiente era aberto, o ar entrava subitamente nele, o que indicava que uma porção do ar retido teria sido consumido. Também observou que o estanho aumentara o seu peso e que o aumento era igual ao peso do ar que retornava para o recipiente quando aberto. Esta e outras experiências sobre a combustão foram documentas no seu livro ''Sur la combustion en général'', publicado em 1777.<ref name="ECE500"/> Nesta obra, provou que o ar é uma mistura de dois gases: o "ar essencial", fundamental para a combustão e respiração, e o ''azoto'' (do grego ''ἄζωτον'', sem vida), que não servia para nenhuma das duas, o qual se viria mais tarde a denominar [[nitrogénio]].<ref name="ECE500"/>
Numa experiência, Lavoisier observou que não havia um aumento da massa total quando o [[estanho]] e o ar eram aquecidos num recipiente fechado.<ref name="ECE500"/> Notou que, quando o recipiente era aberto, o ar entrava subitamente nele, o que indicava que uma porção do ar retido teria sido consumido. Também observou que o estanho aumentara o seu peso e que o aumento era igual ao peso do ar que retornava para o recipiente quando aberto. Esta e outras experiências sobre a combustão foram documentas no seu livro ''Sur la combustion en général'', publicado em 1777.<ref name="ECE500"/> Nesta obra, provou que o ar é uma mistura de dois gases: o "ar essencial", fundamental para a combustão e respiração, e o ''azoto'' (do grego ''ἄζωτον'', sem vida), que não servia para nenhuma das duas, o qual se viria mais tarde a denominar [[nitrogénio]].<ref name="ECE500"/>


Lavoisier renomeou o «ar essencial" como oxigênio  em 1777, com base no [[grego antigo|grego]] ''ὀξύς (oxys)'' ([[ácido]], literalmente "amargo", devido ao sabor dos ácidos) e ''-γενής (-genēs)'' (produtor, literalmente "que gera"), porque pensava, erroneamente, que o oxigênio  era um constituinte de todos os ácidos.<ref name="mellor">{{citar livro|sobrenome=Parks|nome=G. D.|sobrenome2=Mellor|nome2=J. W.|ano=1939|título=Mellor's Modern Inorganic Chemistry|edição=6.ª |editora=Longmans, Green and Co|local=Londres|língua=inglês}}</ref> Os químicos — em particular sir [[Humphry Davy]], em 1812 — depois de um tempo comprovaram que Lavoisier estava errado na sua apreciação, pois, na realidade, é o hidrogénio que constitui a base química dos ácidos, entretanto o nome já se popularizara o suficiente para assim permanecer.<ref>{{Citar livro|sobrenome1=Cobb|nome1=Cathy|sobrenome2=Goldwhite|nome2=Harold|título=Creations of Fire: Chemistry’s Lively History from Alchemy to the Atomic Age|capítulo=ca. 1800–1848: The Professional Chemist|páginas=185-211|ano=1995|editora=Springer|isbn=978-1-4899-2770-5|doi=10.1007/978-1-4899-2770-5_10}}</ref>
Lavoisier renomeou o «ar essencial" como ''oxigénio'' em 1777, com base no [[grego antigo|grego]] ''ὀξύς (oxys)'' ([[ácido]], literalmente "amargo", devido ao sabor dos ácidos) e ''-γενής (-genēs)'' (produtor, literalmente "que gera"), porque pensava, erroneamente, que o oxigénio era um constituinte de todos os ácidos.<ref name=":0" /> Os químicos — em particular sir [[Humphry Davy]], em 1812 — depois de um tempo comprovaram que Lavoisier estava errado na sua apreciação, pois, na realidade, é o hidrogénio que constitui a base química dos ácidos, entretanto o nome já se popularizara o suficiente para assim permanecer.<ref>{{Harvnb|Cobb|Goldwhite|1995|pp=185–211}}</ref>


=== Passado recente ===
=== Passado recente ===
[[Imagem:Goddard and Rocket.jpg|thumb|upright|[[Robert Goddard]] e um [[Propulsão de foguete|foguete]] de combustível de oxigênio  líquido.]]
[[Imagem:Goddard and Rocket.jpg|thumb|upright|[[Robert Goddard]] e um [[Propulsão de foguete|foguete]] de combustível de oxigénio líquido.]]
A [[Modelo atómico de Dalton|hipótese atómica]] original de [[John Dalton]] assumia que todos os elementos eram monoatómicos e que os átomos dos compostos teriam por norma as relações atômicas mais simples. Por exemplo, Dalton achava que a fórmula da água era HO, apresentando a [[massa atómica]] do oxigênio como 8 vezes a do hidrogénio, em vez de 16, o valor que lhe é atribuído hoje em dia.<ref>{{citar livro|título= The Interactive Textbook of PFP96 |capítulo= Do We Take Atoms for Granted?|capítulourl=http://www.physics.upenn.edu/courses/gladney/mathphys/subsubsection1_1_3_2.html |url=http://www.physics.upenn.edu/courses/gladney/mathphys/Contents.html |primeiro =Dennis |último =DeTurck |último2 =Gladney|primeiro2 =Larry|último3 =Pietrovito|primeiro3 =Anthony|publicado=University of Pennsylvania|data=1997|acessodata=28 de janeiro de 2008|arquivourl= https://web.archive.org/web/20080117230939/http://www.physics.upenn.edu/courses/gladney/mathphys/subsubsection1_1_3_2.html |arquivodata= 17 de janeiro de 2008|urlmorta=yes}}</ref> Em 1805, [[Louis Joseph Gay-Lussac]] e [[Alexander von Humboldt]] mostraram que a água é formada por dois volumes de hidrogénio e um de oxigênio  e, em 1811, [[Amedeo Avogadro]] chegou à correta interpretação sobre a composição do líquido, com base no que é hoje denominado de [[Lei de Avogadro]] e nas moléculas biatómicas elementares desses gases.<ref>{{citar livro|título=A Treatise on Chemistry|primeiro =Henry Enfield |último =Roscoe |último2 =Schorlemmer|primeiro2 =Carl|página=38|data=1883|publicado=D. Appleton and Co.}}</ref>{{Efn|A maior parte destes resultados foram ignorados até 1860. Parte dessa rejeição deveu-se à crença de que os átomos de um elemento não teriam [[afinidade química]] com os átomos do mesmo elemento, e outra parte deveu-se às aparentes excepções à Lei de Avogadro que não tinham sido explicadas em termos de dissociação de moléculas.<ref name="Chemical Atomism in the Nineteenth Century">{{citar livro|nome=Alan J.|sobrenome=Rocke |ano=1984 |título=Chemical Atomism in the Nineteenth Century |editora=Ohio State University Press}}</ref>}}
A [[Modelo atómico de Dalton|hipótese atómica]] original de [[John Dalton]] assumia que todos os elementos eram monoatómicos e que os átomos dos compostos teriam por norma as relações atômicas mais simples. Por exemplo, Dalton achava que a fórmula da água era HO, apresentando a [[massa atómica]] do oxigênio como 8 vezes a do hidrogénio, em vez de 16, o valor que lhe é atribuído hoje em dia.<ref>{{Harvnb|DeTurck|Gladney|Pietrovito|1997}}</ref> Em 1805, [[Louis Joseph Gay-Lussac]] e [[Alexander von Humboldt]] mostraram que a água é formada por dois volumes de hidrogénio e um de oxigénio e, em 1811, [[Amedeo Avogadro]] chegou à correta interpretação sobre a composição do líquido, com base no que é hoje denominado de [[Lei de Avogadro]] e nas moléculas biatómicas elementares desses gases.<ref>{{Harvnb|Roscoe|Schorlemmer|1883|p=38}}</ref>{{Efn|A maior parte destes resultados foram ignorados até 1860. Parte dessa rejeição deveu-se à crença de que os átomos de um elemento não teriam [[afinidade química]] com os átomos do mesmo elemento, e outra parte deveu-se às aparentes excepções à Lei de Avogadro que não tinham sido explicadas em termos de dissociação de moléculas.<ref name="Chemical Atomism in the Nineteenth Century">{{Harvnb|Rocke|1984}}</ref>}}


No final do [[século XIX]], os pesquisadores deram conta de que o ar podia ser liquefeito e os seus componentes isolados por meio da compressão e arrefecimento. Utilizando um método de [[processo em cascata|cascata]], o químico e físico [[Suíça|suíço]] [[Raoul Pictet]] [[Evaporação|evaporou]] [[dióxido de enxofre]] para liquefazer dióxido de carbono, que por sua vez era evaporado para arrefecer o oxigênio  gasoso o suficiente para liquefazê-lo. Pictet enviou um telegrama à [[Academia de Ciências da França]] em 22 de dezembro de 1877 anunciando a sua descoberta do oxigênio  [[oxigénio líquido|líquido]].<ref name="BES707">{{citar livro|título=Biographical Encyclopedia of Scientists|último =Daintith|primeiro =John|data=1994|publicado=CRC Press|isbn=0-7503-0287-9|página=707}}</ref> Apenas dois dias depois, o físico francês [[Louis Paul Cailletet]] anunciou o seu próprio método de liquefacção do oxigênio molecular.<ref name="BES707"/> Nos dois casos foram produzidas apenas algumas gotas do líquido, pelo que não foi possível realizar uma análise conclusiva. O oxigênio foi liquefeito de forma estável pela primeira vez a [[29 de março]] de [[1883]] pelos cientistas [[Polónia|polacos]] da [[Universidade Jaguelónica]] [[Zygmunt Wroblewski]] e [[Karol Olszewski]].<ref>{{Citar web|url=http://www.poland.gov.pl/Karol,Olszewski,and,Zygmunt,Wroblewski:,condensation,of,oxygen,and,nitrogen,1987.html|título=Poland&nbsp;– Culture, Science and Media. Condensation of oxygen and nitrogen|data=4 de outubro de 2008|arquivourl=https://web.archive.org/web/20101004133000/http://www.poland.gov.pl/Karol,Olszewski,and,Zygmunt,Wroblewski:,condensation,of,oxygen,and,nitrogen,1987.html|arquivodata=4 de outubro de 2010}}</ref>
No final do [[século XIX]], os pesquisadores deram conta de que o ar podia ser liquefeito e os seus componentes isolados por meio da compressão e arrefecimento. Utilizando um método de [[processo em cascata|cascata]], o químico e físico [[Suíça|suíço]] [[Raoul Pictet]] [[Evaporação|evaporou]] [[dióxido de enxofre]] para liquefazer dióxido de carbono, que por sua vez era evaporado para arrefecer o oxigénio gasoso o suficiente para liquefazê-lo. Pictet enviou um telegrama à [[Academia de Ciências da França]] em 22 de dezembro de 1877 anunciando a sua descoberta do [[oxigénio líquido]].<ref name=":7">{{Harvnb|Daintith|1994|p=707}}</ref> Apenas dois dias depois, o físico francês [[Louis Paul Cailletet]] anunciou o seu próprio método de liquefacção do oxigênio molecular.<ref name=":7" /> Nos dois casos foram produzidas apenas algumas gotas do líquido, pelo que não foi possível realizar uma análise conclusiva. O oxigênio foi liquefeito de forma estável pela primeira vez a [[29 de março]] de [[1883]] pelos cientistas [[Polónia|polacos]] da [[Universidade Jaguelónica]] [[Zygmunt Wroblewski]] e [[Karol Olszewski]].<ref>{{Citar web|url=http://www.poland.gov.pl/Karol,Olszewski,and,Zygmunt,Wroblewski:,condensation,of,oxygen,and,nitrogen,1987.html|título=Poland&nbsp;– Culture, Science and Media. Condensation of oxygen and nitrogen|data=4/10/2008|wayb=20101004133000|urlmorta=sim}}</ref>


Em [[1891]], o químico escocês [[James Dewar]] conseguiu produzir uma quantidade suficiente de oxigênio líquido para poder estudá-lo. O primeiro processo comercialmente viável para a produção de oxigênio líquido foi desenvolvido em 1895 de forma independente pelos engenheiros [[Carl von Linde]], [[Alemanha|alemão]], e [[William Hampson]], [[Reino Unido|britânico]]. Ambos reduziram a temperatura do ar até que este se liquefizesse e, então, [[destilação|destilaram]] os componentes gasosos fazendo-os chegar à ebulição um a um e capturando-os. Mais tarde, em 1901, foi demonstrada pela primeira vez a [[Soldagem|soldadura]] de [[oxiacetileno]] ao queimar uma mistura de [[acetileno]] e O<sub>2</sub> comprimido. Este método de soldagem e corte do metal veio mais tarde a tornar-se comum.<ref name="HPAM">{{Citar web|título=Goddard-1926|url=http://grin.hq.nasa.gov/ABSTRACTS/GPN-2002-000132.html|publicado=NASA|acessodata= 18 de novembro de 2007|arquivourl=https://web.archive.org/web/20151106093243/http://grin.hq.nasa.gov/ABSTRACTS/GPN-2002-000132.html|arquivodata=6 de novembro de 2015}}</ref> O físico [[William Thomson]], em 1898, calculou que o oxigênio  que permanece no planeta tem apenas cerca de 400 ou 500 anos, com base no ritmo de uso dos combustíveis fósseis na combustão.<ref>{{Citar web|url=http://paperspast.natlib.govt.nz/cgi-bin/paperspast?a=d&d=EP18980730.2.105 |título=Papers Past – Evening Post – 30 de julho de 1898 – A Startling Scientific Prediction |publicado=Paperspast.natlib.govt.nz |data= |acessodata=7 de Novembro de 2011}}</ref><ref>{{citar jornal|url=http://news.google.com/newspapers?nid=1982&dat=19010716&id=yCYiAAAAIBAJ&sjid=AaQFAAAAIBAJ&pg=5236,534844|jornal=The Evening News|título=The Oxygen Famine|data=16 de Julho de 1901|acessodata=20 de Junho de 2015}}</ref>
Em [[1891]], o químico escocês [[James Dewar]] conseguiu produzir uma quantidade suficiente de oxigênio líquido para poder estudá-lo. O primeiro processo comercialmente viável para a produção de oxigênio líquido foi desenvolvido em 1895 de forma independente pelos engenheiros [[Carl von Linde]], [[Alemanha|alemão]], e [[William Hampson]], [[Reino Unido|britânico]]. Ambos reduziram a temperatura do ar até que este se liquefizesse e, então, [[destilação|destilaram]] os componentes gasosos fazendo-os chegar à ebulição um a um e capturando-os. Mais tarde, em 1901, foi demonstrada pela primeira vez a [[Soldagem|soldadura]] de [[oxiacetileno]] ao queimar uma mistura de [[acetileno]] e O<sub>2</sub> comprimido. Este método de soldagem e corte do metal veio mais tarde a tornar-se comum.<ref name="HPAM">{{Citar web|título=Goddard-1926|url=http://grin.hq.nasa.gov/ABSTRACTS/GPN-2002-000132.html|publicado=NASA|acessodata=18/11/2007|wayb=20151106093243|urlmorta=sim}}</ref> O físico [[William Thomson]], em 1898, calculou que o oxigénio que permanece no planeta tem apenas cerca de 400 ou 500 anos, com base no ritmo de uso dos combustíveis fósseis na combustão.<ref>{{Citar web|url=http://paperspast.natlib.govt.nz/cgi-bin/paperspast?a=d&d=EP18980730.2.105|título=Papers Past – Evening Post – 30 de julho de 1898 – A Startling Scientific Prediction|publicado=Paperspast.natlib.govt.nz|acessodata=7/11/2011}}</ref><ref>{{citar jornal|url=http://news.google.com/newspapers?nid=1982&dat=19010716&id=yCYiAAAAIBAJ&sjid=AaQFAAAAIBAJ&pg=5236,534844|jornal=The Evening News|título=The Oxygen Famine|data=16/7/1901|acessodata=20/6/2015}}</ref>


Em 1923, o cientista norte-americano [[Robert Goddard]] foi a primeira pessoa a desenvolver um [[Propulsão de foguete|motor de foguete]], com uso de [[gasolina]] como combustível e oxigênio líquido como [[oxidante]]. Em 16 de março, conseguiu fazer voar um pequeno foguete propelido por combustível líquido ao longo de 56&nbsp;m de altura a 97&nbsp;km/h, em [[Auburn (Massachusetts)|Auburn]], [[Massachusetts]].<ref name="HPAM"/>
Em 1923, o cientista norte-americano [[Robert Goddard]] foi a primeira pessoa a desenvolver um [[Propulsão de foguete|motor de foguete]], com uso de [[gasolina]] como combustível e oxigênio líquido como [[oxidante]]. Em 16 de março, conseguiu fazer voar um pequeno foguete propelido por combustível líquido ao longo de 56&nbsp;m de altura a 97&nbsp;km/h, em [[Auburn (Massachusetts)|Auburn]], [[Massachusetts]].<ref name="HPAM"/>
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== Acção biológica ==
== Acção biológica ==
=== Fotossíntese e respiração ===
=== Fotossíntese e respiração ===
O oxigênio  respirado pelos organismos aeróbicos, liberado pelas plantas no processo de [[fotossíntese]], participa na conversão de nutrientes em energia intracelular ([[Adenosina trifosfato|ATP]]). O oxigênio  [[oxigénio molecular|molecular]] é o aceptor final de electrões da [[cadeia de transporte de electrões]] na [[respiração aeróbica]] celular. A redução dos níveis de oxigênio  provoca [[hipoxemia]], e a falta total dele ocasiona a [[anoxia]], podendo provocar a morte do organismo.<ref name=MARTIN1999>{{citar livro|sobrenome=Martin|nome=Lawrence|título=All you really need to know to interpret arterial blood gases|ano=1999|editora=Lippincott Williams & Wilkins |local=Philadelphia|isbn=978-0683306040|página=XXVI|edição=2.ª}}</ref> De acordo com algumas estimativas, as [[algas verdes]] e as [[cianobactérias]] dos ambientes marinhos produzem cerca de 70% do oxigênio  produzido na Terra, e as plantas terrestres são responsáveis pelo restante.<ref>{{citar livro|título=Plants: the potentials for extracting protein, medicines, and other useful chemicals (workshop proceedings)|ano=1983|obra=Marine Plants: A Unique and Unexplored Resource|sobrenome=Fenical|nome=William|página=147|isbn=1-4289-2397-7|editora=DIANE Publishing}}</ref> Outras estimativas apontam para uma contribuição oceânica na produção de oxigênio  atmosférico ainda mais significativa, enquanto que outros estudos revelam números mais baixos, em torno dos 45% do oxigênio  atmosférico total do planeta a cada ano.<ref>{{citar livro|sobrenome=Walker|nome=J. C. G.|ano=1980|título=The oxygen cycle in the natural environment and the biogeochemical cycles|editora=Springer-Verlag|local=Berlin}}</ref>
O oxigénio respirado pelos organismos aeróbicos, liberado pelas plantas no processo de [[fotossíntese]], participa na conversão de nutrientes em energia intracelular ([[Adenosina trifosfato|ATP]]). O [[oxigénio molecular]] é o aceptor final de electrões da [[cadeia de transporte de electrões]] na [[respiração aeróbica]] celular. A redução dos níveis de oxigénio provoca [[hipoxemia]], e a falta total dele ocasiona a [[anoxia]], podendo provocar a morte do organismo.<ref>{{Harvnb|Martin|1999|p=XXVI}}</ref> Todas as espécies de cianobactérias que vivem hoje podem ser rastreadas até um ancestral comum que evoluiu há cerca de 2,9 bilhões de anos. Os ancestrais das cianobactérias se ramificaram de outras bactérias há cerca de 3,4 bilhões de anos, com a fotossíntese oxigenada provavelmente evoluindo durante meio bilhão de anos intermediários, no [[Eoarqueano|Éon Arqueano]].<ref>{{Citar web |ultimo=Chu |primeiro=Jennifer |ultimo2=Technology |primeiro2=Massachusetts Institute of |url=https://scitechdaily.com/mit-scientists-zero-in-on-the-origins-of-earths-single-most-important-evolutionary-innovation/ |titulo=MIT Scientists Zero In on the Origins of Earth’s “Single Most Important Evolutionary Innovation” |data=2021-09-30 |acessodata=2021-10-01 |website=SciTechDaily |lingua=en-US}}</ref>
 
De acordo com algumas estimativas, as [[algas verdes]] e as [[cianobactérias]] dos ambientes marinhos produzem cerca de 70% do oxigénio produzido na Terra, e as plantas terrestres são responsáveis pelo restante.<ref>{{Harvnb|Fenical|1983|p=147}}</ref> Outras estimativas apontam para uma contribuição oceânica na produção de oxigénio atmosférico ainda mais significativa, enquanto que outros estudos revelam números mais baixos, em torno dos 45% do oxigénio atmosférico total do planeta a cada ano.<ref>{{Harvnb|Walker|1980}}</ref>


[[Imagem:Simple photosynthesis overview gl.svg|miniatura|200px|esquerda|A fotossíntese divide a água para liberar O<sub>2</sub> e liga o CO<sub>2</sub> ao açúcar.]]
[[Imagem:Simple photosynthesis overview gl.svg|miniatura|200px|esquerda|A fotossíntese divide a água para liberar O<sub>2</sub> e liga o CO<sub>2</sub> ao açúcar.]]


Uma fórmula genérica simplificada da [[fotossíntese]] é:<ref>{{citar livro|sobrenome=Brown|nome=Theodore L. |autor2=LeMay, Burslen|título=Chemistry: The Central Science|isbn=0-13-048450-4|página=958|ano=2003|editora=Prentice Hall/Pearson Education}}</ref>
Uma fórmula genérica simplificada da [[fotossíntese]] é:<ref>{{Harvnb|Brown|LeMay|2003|p=958}}</ref>


<center>6 CO<sub>2</sub> + 6 H<sub>2</sub>O + [[fotão|fotões]] → C<sub>6</sub>H<sub>12</sub>O<sub>6</sub> + 6 O<sub>2</sub></center>
<center>6 CO<sub>2</sub> + 6 H<sub>2</sub>O + [[fotão|fotões]] → C<sub>6</sub>H<sub>12</sub>O<sub>6</sub> + 6 O<sub>2</sub></center>
<div style="text-align: center;">[[dióxido de carbono]] + água + luz solar → [[glucose]] + dioxigénio</div>
<div style="text-align: center;">[[dióxido de carbono]] + água + luz solar → [[glucose]] + dioxigénio</div>


A [[Evolução do oxigénio|evolução]] fotolítica do oxigênio  ocorre nas membranas dos [[tilacóide|tilacoide]]s dos organismos fotossintéticos e requer energia de quatro fotões.{{Efn|As membranas tilacoidais fazem parte dos [[cloroplasto]]s de algas e plantas; entretanto, são uma das muitas estruturas membranosas nas [[cianobactéria]]s. Na verdade, acredita-se que os cloroplastos evolucionaram a partir das cianobactérias que antes eram parceiros simbióticos dos predecessores das plantas e algas.}} Estão implicados muitos processos, mas o resultado é a formação de um [[gradiente]] de [[Protão|protões]] através da membrana tilacoidal, que é usado para a sintetização de [[adenosina trifosfato]] (ATP) por meio da [[fotofosforilação]]. O O<sub>2</sub> remanescente, após a oxidação e rutura da molécula de água, é liberado para a atmosfera.<ref name="Raven">{{Harvnb|Raven|Evert|Eichhorn|2005|pp=115–127}}</ref>{{Efn|A oxidação da água catalisa-se por um [[complexo proteico|complexo]] de [[enzima]]s contendo [[manganésio]], conhecido como complexo enzimático capaz de [[lise|lisar]] água, que se encontra associado ao [[lúmen (anatomia)|lúmen]] dos [[Tilacoide|discos tilacoides]]. O manganésio é um importante [[Cofator (bioquímica)|cofactor]], e o [[cálcio]] e o [[cloro]] são também necessários para que a reacção ocorra.<ref name="Raven" />}}
A [[Evolução do oxigénio|evolução]] fotolítica do oxigénio ocorre nas membranas dos [[tilacóide|tilacoide]]s dos organismos fotossintéticos e requer energia de quatro fotões.{{Efn|As membranas tilacoidais fazem parte dos [[cloroplasto]]s de algas e plantas; entretanto, são uma das muitas estruturas membranosas nas [[cianobactéria]]s. Na verdade, acredita-se que os cloroplastos evolucionaram a partir das cianobactérias que antes eram parceiros simbióticos dos predecessores das plantas e algas.}} Estão implicados muitos processos, mas o resultado é a formação de um [[gradiente]] de [[Protão|protões]] através da membrana tilacoidal, que é usado para a sintetização de [[adenosina trifosfato]] (ATP) por meio da [[fotofosforilação]]. O O<sub>2</sub> remanescente, após a oxidação e rutura da molécula de água, é liberado para a atmosfera.<ref name="Raven">{{Harvnb|Raven|Evert|Eichhorn|2005|pp=115–127}}</ref>{{Efn|A oxidação da água catalisa-se por um [[complexo proteico|complexo]] de [[enzima]]s contendo [[manganésio]], conhecido como complexo enzimático capaz de [[lise|lisar]] água, que se encontra associado ao [[lúmen (anatomia)|lúmen]] dos [[Tilacoide|discos tilacoides]]. O manganésio é um importante [[Cofator (bioquímica)|cofactor]], e o [[cálcio]] e o [[cloro]] são também necessários para que a reacção ocorra.<ref name="Raven" />}}


O dioxigénio molecular é essencial para a respiração celular em todos os [[Organismo aeróbico|organismos aeróbios]]. O oxigênio  é utilizado nas [[mitocôndria]]s ​​para gerar adenosina trifosfato durante a [[fosforilação oxidativa]]. A equação para a respiração aeróbica é essencialmente o oposto da fotossíntese (embora o processo não seja exactamente o inverso, é muito diferente) e simplifica-se da seguinte forma:
O dioxigénio molecular é essencial para a respiração celular em todos os [[Organismo aeróbico|organismos aeróbios]]. O oxigénio é utilizado nas [[mitocôndria]]s ​​para gerar adenosina trifosfato durante a [[fosforilação oxidativa]]. A equação para a respiração aeróbica é essencialmente o oposto da fotossíntese (embora o processo não seja exactamente o inverso, é muito diferente) e simplifica-se da seguinte forma:
<center>C<sub>6</sub>H<sub>12</sub>O<sub>6</sub> + 6 O<sub>2</sub> → 6 CO<sub>2</sub> + 6 H<sub>2</sub>O + 2880 kJ•mol<sup>−1</sup></center>
<center>C<sub>6</sub>H<sub>12</sub>O<sub>6</sub> + 6 O<sub>2</sub> → 6 CO<sub>2</sub> + 6 H<sub>2</sub>O + 2880 kJ•mol<sup>−1</sup></center>


Nos [[vertebrado]]s, o O<sub>2</sub> [[Difusão|difunde-se]] através das membranas pulmonares para o interior dos [[Eritrócito|glóbulos vermelhos]]. A [[hemoglobina]] liga-se ao O<sub>2</sub> alterando a sua cor de um vermelho azulado para um vermelho brilhante<ref name="GuideElem48"/> (o CO<sub>2</sub> libera-se de outra parte da hemoglobina através do [[efeito de Bohr]]). Outros animais utilizam a [[hemocianina]] ([[molusco]]s e alguns [[artrópode]]s) ou [[hemeritrina]] ([[aranha]]s e [[lagosta]]s).<ref name="NBB298"/> Um litro de sangue pode dissolver 200&nbsp;cm³ de O<sub>2</sub>.<ref name="NBB298"/>
Nos [[vertebrado]]s, o O<sub>2</sub> [[Difusão|difunde-se]] através das membranas pulmonares para o interior dos [[Eritrócito|glóbulos vermelhos]]. A [[hemoglobina]] liga-se ao O<sub>2</sub> alterando a sua cor de um vermelho azulado para um vermelho brilhante<ref name=":3" /> (o CO<sub>2</sub> libera-se de outra parte da hemoglobina através do [[efeito de Bohr]]). Outros animais utilizam a [[hemocianina]] ([[molusco]]s e alguns [[artrópode]]s) ou [[hemeritrina]] ([[aranha]]s e [[lagosta]]s).<ref name="NBB298"/> Um litro de sangue pode dissolver 200&nbsp;cm³ de O<sub>2</sub>.<ref name="NBB298"/>


As [[Espécie reactiva de oxigénio|espécies reactivas de oxigênio]] , como o ião [[superóxido]] (O<sub>2</sub><sup>-</sup>) e [[peróxido de hidrogénio]], são subprodutos perigosos no uso de oxigênio  em organismos.<ref name="NBB298"/> Algumas partes do [[sistema imunológico]] de organismos mais avançados, no entanto, criam peróxido, superóxido e oxigênio  singlete para destruir micróbios invasores. As espécies reativas de oxigênio  também apresentam um papel importante na [[Hipersensibilidade|resposta de hipersensibilidade]] das plantas contra o ataque de agentes [[patógeno|patogénicos]].<ref name="Raven"/>
As [[Espécie reactiva de oxigénio|espécies reactivas de oxigénio]], como o ião [[superóxido]] (O<sub>2</sub><sup>-</sup>) e [[peróxido de hidrogénio]], são subprodutos perigosos no uso de oxigénio em organismos.<ref name="NBB298"/> Algumas partes do [[sistema imunológico]] de organismos mais avançados, no entanto, criam peróxido, superóxido e oxigénio singlete para destruir micróbios invasores. As espécies reativas de oxigénio também apresentam um papel importante na [[Hipersensibilidade|resposta de hipersensibilidade]] das plantas contra o ataque de agentes [[patógeno|patogénicos]].<ref name="Raven"/>


Um ser humano adulto em repouso respira em média 13,5 vezes por minuto - 1,8 a 2,4&nbsp;gramas de oxigênio  por minuto.{{Efn|Em humanos, o volume normal é de 6 a 8 litros de ar por minuto.<ref>{{citar livro|título = Impact of Climate Change on Natural Resource Management | sobrenome1 = Bipal | nome1 = Kr. Jana | sobrenome2 = Mrinmoy | nome2 = Majumder | editora = Springer Science & Business Media | ano = 2010 | isbn = 9789048135813|página=14}}</ref>}} A soma total da quantidade inalada por cada pessoa no planeta produz um total de 6000 milhões de toneladas de oxigênio  por ano.<ref>(1,8 gramas/min/pessoa)×(60 min/h)×(24 h/dia)×(365 dias/ano)×(6600 milhões de pessoas)/1 000 000 g/t=6240 milhões de toneladas.</ref>
Um ser humano adulto em repouso respira em média 13,5 vezes por minuto - 1,8 a 2,4&nbsp;gramas de oxigénio por minuto.{{Efn|Em humanos, o volume normal é de 6 a 8 litros de ar por minuto.<ref>{{Harvnb|Bipal|Mrinmoy|2010|p=14}}</ref>|nome=|grupo=}} A soma total da quantidade inalada por cada pessoa no planeta produz um total de 6 000 milhões de toneladas de oxigénio por ano.<ref>(1,8 gramas/min/pessoa)×(60 min/h)×(24 h/dia)×(365 dias/ano)×(6600 milhões de pessoas)/1 000 000 g/t=6240 milhões de toneladas.</ref>


=== Organismos vivos ===
=== Organismos vivos ===
{|class="wikitable" style="float:right; margin-left: 10px"
{|class="wikitable" style="float:right; margin-left: 10px"
|+[[Pressão parcial|Pressões parciais]] do oxigênio  no [[corpo humano]] (PO<sub>2</sub>)
|+[[Pressão parcial|Pressões parciais]] do oxigénio no [[corpo humano]] (PO<sub>2</sub>)
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! Unidade !! Pressão alveolar dos<br />gases pulmonares !! [[Gasometria arterial|Oxigénio do<br />sangue arterial]] !! Gás sanguíneo<br />[[veia|venoso]]
! Unidade !! Pressão alveolar dos<br />gases pulmonares !! [[Gasometria arterial|Oxigénio do<br />sangue arterial]] !! Gás sanguíneo<br />[[veia|venoso]]
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| [[Pascal (unidade)|kPa]] {{Efn|Derivado dos valores de mmHg usando 0,133322 kPa/mmHg.|name=mmHg}} || 14.2 || >11 || 4.0-5.3
| [[Pascal (unidade)|kPa]] {{Efn|Derivado dos valores de mmHg usando 0,133322 kPa/mmHg.|name=mmHg}} || 14,2 || >11 || 4,0-5,3
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| [[mmHg]]<ref name=brookside>{{Citar web|url=http://www.brooksidepress.org/Products/OperationalMedicine/DATA/operationalmed/Lab/ABG_ArterialBloodGas.htm|título=ABG (Arterial Blood Gas)|página=brooksidepress.org|acessadoem=21 de abril de 2016}}</ref>|| 107 || >79 || 30-40
| [[mmHg]]<ref name=brookside>{{Citar web|url=http://www.brooksidepress.org/Products/OperationalMedicine/DATA/operationalmed/Lab/ABG_ArterialBloodGas.htm|título=ABG (Arterial Blood Gas)|página=brooksidepress.org|acessodata=21/4/2016}}</ref>|| 107 || >79 || 30-40
|}
|}
O conteúdo de oxigênio  livre expresso como [[pressão parcial]] no corpo dum organismo vertebrado vivo é normalmente maior no [[sistema respiratório]] e diminui ao longo de qualquer [[Artéria|sistema arterial]], tecidos periféricos e [[veia|sistema venoso]], respectivamente. A pressão parcial é a pressão que o oxigênio  teria se ocupasse por si só o volume.<ref>{{citar livro|autor=Charles Henrickson|título=Chemistry|editora=Cliffs Notes|ano=2005|isbn=0-7645-7419-1}}</ref>
O conteúdo de oxigénio livre expresso como [[pressão parcial]] no corpo dum organismo vertebrado vivo é normalmente maior no [[sistema respiratório]] e diminui ao longo de qualquer [[Artéria|sistema arterial]], tecidos periféricos e [[veia|sistema venoso]], respectivamente. A pressão parcial é a pressão que o oxigénio teria se ocupasse por si só o volume.<ref>{{Harvnb|Henrickson|2005}}</ref>


=== Acumulação na atmosfera ===
=== Acumulação na atmosfera ===
[[Imagem:Oxygenation-atm gl.svg|miniatura|esquerda|300px|Acumulação do O<sub>2</sub> na atmosfera terrestre: 1) Sem produção de O<sub>2</sub>; 2) O<sub>2</sub> produzido, mas absorvido em oceanos e rochas no fundo do mar; 3) O O<sub>2</sub> começa a sair do oceano, mas é absorvido pela superfície terrestre e devido à formação da camada de ozono; 4-5) O O<sub>2</sub> desce e o gás é acumulado.|alt=A graph showing time evolution of oxygen pressure on Earth; the pressure increases from zero to 0.2 atmospheres.]]
[[Imagem:Oxygenation-atm gl.svg|miniatura|esquerda|300px|Acumulação do O<sub>2</sub> na atmosfera terrestre: 1) Sem produção de O<sub>2</sub>; 2) O<sub>2</sub> produzido, mas absorvido em oceanos e rochas no fundo do mar; 3) O O<sub>2</sub> começa a sair do oceano, mas é absorvido pela superfície terrestre e devido à formação da camada de ozono; 4-5) O O<sub>2</sub> desce e o gás é acumulado.|alt=A graph showing time evolution of oxygen pressure on Earth; the pressure increases from zero to 0.2 atmospheres.]]
O oxigênio  gasoso não combinado era quase inexistente na [[atmosfera]] antes da evolução das [[bactérias]] e [[arquea]]s fotossintéticas. Surgiu pela primeira vez em quantidades significativas durante o [[Éon geológico|éon]] [[Paleoproterozoico]] (entre 3000 e 2300 milhões de anos atrás).<ref name="Crowe2013">{{citar periódico|último1 = Crowe |primeiro1 = S. A. |último2 = Døssing |primeiro2 = L. N. |último3 = Beukes |primeiro3 = N. J. |último4 = Bau |primeiro4 = M. |último5 = Kruger |primeiro5 = S. J. |último6 = Frei |primeiro6 = R. |último7 = Canfield |primeiro7 = D. E. |título= Atmospheric oxygenation three billion years ago |periódico= Nature | volume = 501 |número= 7468 |páginas= 535–538 |ano= 2013 | pmid = 24067713 | doi = 10.1038/nature12426 }}</ref> Nos primeiros milhões de anos, o oxigênio  combinou-se com [[ferro]] dissolvido nos oceanos para criar [[Formação de ferro bandado|formações de ferro bandado]]. Os oceanos começaram a exalar oxigênio  não combinado por volta de 3000 e 2700 milhões de anos, alcançando 10% do seu nível actual há cerca de 1700 milhões de anos.<ref name="Crowe2013" /><ref name="Campbell">{{citar livro|último = Campbell|primeiro = Neil A.|último2 =Reece|primeiro2 =Jane B.|título= Biology|edição= 7th|publicado= Pearson&nbsp;– Benjamin Cummings |data=2005|local= San Francisco|páginas= 522–23|isbn = 0-8053-7171-0}}</ref>
O oxigénio gasoso não combinado era quase inexistente na [[atmosfera]] antes da evolução das [[bactérias]] e [[arquea]]s fotossintéticas. Surgiu pela primeira vez em quantidades significativas durante o [[Éon geológico|éon]] [[Paleoproterozoico]] (entre 3000 e 2300 milhões de anos atrás).<ref name=":8">{{Harvnb|Crowe|Døssing|Beukes|Bau|2013|pp=535–538}}</ref> Nos primeiros milhões de anos, o oxigénio combinou-se com [[ferro]] dissolvido nos oceanos para criar [[Formação de ferro bandado|formações de ferro bandado]]. Os oceanos começaram a exalar oxigénio não combinado por volta de 3 000 e 2 700 milhões de anos, alcançando 10% do seu nível actual há cerca de 1 700 milhões de anos.<ref name=":8" /><ref>{{Harvnb|Campbell|Reece|2005|pp=522–523}}</ref>


A presença de grandes quantidades de oxigênio  não combinado dissolvido nos oceanos e na atmosfera pode ter conduzido à [[extinção]] a maioria dos [[Anaerobiose|organismos anaeróbios]] que viviam na altura, durante a [[Grande oxidação]] (''catástrofe do oxigênio'' ) há cerca de 2400 milhões de anos. Contudo, a utilização de O<sub>2</sub> na [[respiração celular]] permite que os [[aerobiose|organismos aeróbios]] produzam muito mais [[trifosfato de adenosina|ATP]] do que os anaeróbios, contribuindo para que os primeiros dominassem a [[biosfera]] da Terra.<ref name="Freeman">{{citar livro|último = Freeman|primeiro = Scott|título= Biological Science, 2nd|publicado= Pearson&nbsp;– Prentice Hall |data=2005|local= Upper Saddle River, NJ|páginas= 214, 586|isbn = 0-13-140941-7}}</ref> A fotossíntese e respiração celular do O<sub>2</sub> permitiram a evolução das [[célula eucariótica|células eucarióticas]] e, finalmente, o aparecimento de [[Organismo pluricelular|organismos multicelulares]] complexos como plantas e animais.
A presença de grandes quantidades de oxigénio não combinado dissolvido nos oceanos e na atmosfera pode ter conduzido à [[extinção]] a maioria dos [[Anaerobiose|organismos anaeróbios]] que viviam na altura, durante a [[Grande oxidação]] (''catástrofe do oxigénio'') há cerca de 2 400 milhões de anos. Contudo, a utilização de O<sub>2</sub> na [[respiração celular]] permite que os [[aerobiose|organismos aeróbios]] produzam muito mais [[trifosfato de adenosina|ATP]] do que os anaeróbios, contribuindo para que os primeiros dominassem a [[biosfera]] da Terra.<ref>{{Harvnb|Freeman|2005|pp=214, 586}}</ref> A fotossíntese e respiração celular do O<sub>2</sub> permitiram a evolução das [[célula eucariótica|células eucarióticas]] e, finalmente, o aparecimento de [[Organismo pluricelular|organismos multicelulares]] complexos como plantas e animais.


Desde o início do período [[Cambriano]], há 540 milhões de anos, os níveis de O<sub>2</sub> na atmosfera oscilaram entre 15% e 30% do volume.<ref name="geologic">{{citar periódico|url=http://www.pnas.org/cgi/content/full/96/20/10955 |título=Atmospheric oxygen over Phanerozoic time |primeiro =Robert A. |último =Berner |número=20 |páginas=10955–57 |data=1999|periódico=Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA |pmid=10500106 |doi=10.1073/pnas.96.20.10955 |volume=96 |pmc=34224 |bibcode=1999PNAS...9610955B}}</ref> Para fins do [[Carbonífero]] (há cerca de 300 milhões de anos) o nível de O<sub>2</sub> na atmosfera atingiu um volume máximo de 35%,<ref name="geologic" /> o que pode ter contribuído para o desmesurado tamanho dos insetos e anfíbios daquela época.<ref name=Butterfield2009>{{citar periódico|último1 = Butterfield |primeiro1 = N. J. |título= Oxygen, animals and oceanic ventilation: An alternative view | doi = 10.1111/j.1472-4669.2009.00188.x |periódico= Geobiology | volume = 7 |número= 1 |páginas= 1–7 |ano= 2009 | pmid = 19200141 }}</ref> As variações nos níveis de oxigênio  ao longo da história foram alterando os diferentes climas. A diminuição dos níveis de oxigênio  provocou uma queda na densidade da atmosfera, o que por sua vez aumentou a evaporação de água na superfície, dando lugar a um aumento de precipitações e temperaturas mais quentes.<ref>{{citar periódico|doi=10.1126/science.1260670|revista=Science|título=Long-term climate forcing by atmospheric oxygen concentrations|nome1=Christopher J. |sobrenome1=Poulsen|nome2=Clay |sobrenome2=Tabor|nome3= Joseph D.|sobrenome3= White}}</ref> A atividade humana, inclusive a combustão de 7000 milhões de toneladas de [[combustível fóssil]] todos os anos, exerceu um impacto muito pequeno na quantidade de oxigênio  combinado na atmosfera.<ref name="NBB303"/> Com os níveis actuais da fotossíntese, demoraria cerca de 2000 anos a regenerar a quantidade total de O<sub>2</sub> na atmosfera atual.<ref>{{citar periódico|título=The Natural History of Oxygen|primeiro =Malcolm|último =Dole |url=http://www.jgp.org/cgi/reprint/49/1/5.pdf|acessodata=16 de dezembro de 2007|periódico=The Journal of General Physiology|volume=49|páginas=5–27|data=1965|doi=10.1085/jgp.49.1.5|pmid=5859927|número=1|pmc=2195461}}</ref>
Desde o início do período [[Cambriano]], há 540 milhões de anos, os níveis de O<sub>2</sub> na atmosfera oscilaram entre 15% e 30% do volume.<ref name=":9">{{Harvnb|Berner|1999|pp=10955–57}}</ref> Para fins do [[Carbonífero]] (há cerca de 300 milhões de anos) o nível de O<sub>2</sub> na atmosfera atingiu um volume máximo de 35%,<ref name=":9" /> o que pode ter contribuído para o desmesurado tamanho dos insetos e anfíbios daquela época.<ref>{{Harvnb|Butterfield|2009|pp=1–7}}</ref> As variações nos níveis de oxigénio ao longo da história foram alterando os diferentes climas. A diminuição dos níveis de oxigénio provocou uma queda na densidade da atmosfera, o que por sua vez aumentou a evaporação de água na superfície, dando lugar a um aumento de precipitações e temperaturas mais quentes.<ref>{{Harvnb|Poulsen|Tabor|White|2015|pp=1238-1241}}</ref> A atividade humana, inclusive a combustão de 7 000 milhões de toneladas de [[combustível fóssil]] todos os anos, exerceu um impacto muito pequeno na quantidade de oxigénio combinado na atmosfera.<ref name="NBB303"/> Com os níveis actuais da fotossíntese, demoraria cerca de 2 000 anos a regenerar a quantidade total de O<sub>2</sub> na atmosfera atual.<ref>{{Harvnb|Dole|1965|pp=5–27}}</ref>


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São utilizados principalmente dois métodos para produzir 100 milhões de toneladas de O<sub>2</sub> extraídas do ar para aplicações industriais a cada ano.<ref name="NBB300"/> O mais comum consiste na [[destilação fracionada]] do ar liquefeito nos seus diversos componentes, com o N<sub>2</sub> [[destilação|destilado]] como vapor e O<sub>2</sub> deixado como líquido.<ref name="NBB300"/>
São utilizados principalmente dois métodos para produzir 100 milhões de toneladas de O<sub>2</sub> extraídas do ar para aplicações industriais a cada ano.<ref name="NBB300"/> O mais comum consiste na [[destilação fracionada]] do ar liquefeito nos seus diversos componentes, com o N<sub>2</sub> [[destilação|destilado]] como vapor e O<sub>2</sub> deixado como líquido.<ref name="NBB300"/>


O outro método principal de obtenção de O<sub>2</sub> gasoso consiste em passar uma corrente de ar limpo e seco através de um leito de crivos moleculares de [[zeólito]], que adsorvem o nitrogénio e deixam passar um fluxo de gás que é entre 90 e 93% de O<sub>2</sub>.<ref name="NBB300"/> Simultaneamente, o outro leito de zeólito saturado de nitrogénio libera este gás ao reduzir a pressão de operação da câmara e introduzir nela, no sentido inverso do fluxo, parte do oxigênio  separado no leito produtor. Depois de cada ciclo completo, os leitos são intercambiados, permitindo um fornecimento constante de oxigênio . Isto é conhecido por [[adsorção por oscilação de pressão]] e utiliza-se para produzir oxigênio  em pequena escala.<ref>{{citar web|url=http://www.uigi.com/noncryo.html|título=Non-Cryogenic Air Separation Processes|ano=2003|acessadoem=22 de julho de 2012|página=UIG Inc.}}</ref>
O outro método principal de obtenção de O<sub>2</sub> gasoso consiste em passar uma corrente de ar limpo e seco através de um leito de crivos moleculares de [[zeólito]], que adsorvem o nitrogénio e deixam passar um fluxo de gás que é entre 90 e 93% de O<sub>2</sub>.<ref name="NBB300"/> Simultaneamente, o outro leito de zeólito saturado de nitrogénio libera este gás ao reduzir a pressão de operação da câmara e introduzir nela, no sentido inverso do fluxo, parte do oxigénio separado no leito produtor. Depois de cada ciclo completo, os leitos são intercambiados, permitindo um fornecimento constante de oxigénio. Isto é conhecido por [[adsorção por oscilação de pressão]] e utiliza-se para produzir oxigénio em pequena escala.<ref>{{citar web|url=http://www.uigi.com/noncryo.html|título=Non-Cryogenic Air Separation Processes|ano=2003|acessodata=22/7/2012|página=UIG Inc.}}</ref>


O oxigênio  também pode ser produzido através da [[eletrólise da água]], decompondo-a em oxigênio  e hidrogénio, para o qual deve ser usada uma [[corrente contínua]]; se se usasse uma [[corrente alternada]] os gases de cada extremidade consistiriam em hidrogénio e oxigênio  na explosiva relação de 2:1. Contrariamente à crença popular, a relação 2:1 observada na eletrólise de corrente contínua da água acidificada não demonstra que a fórmula empírica da água seja H<sub>2</sub>O, a menos que se assumam certas premissas sobre a fórmula molecular do hidrogénio e oxigênio . Um método semelhante é a evolução electrocatalítica do O<sub>2</sub> de óxidos e [[oxiácido]]s. Também podem ser utilizados catalisadores químicos, como em [[gerador químico de oxigénio|geradores químicos de oxigênio]] ou nas velas de oxigênio  usadas no equipamento de apoio em [[submarino]]s e que ainda são parte do equipamento padrão em companhias aéreas comerciais para situações de despressurização. Outra tecnologia de separação do ar consiste em forçar a dissolução do ar através de membranas de [[cerâmica]] com base em [[dióxido de zircónio]], seja por alta pressão ou por corrente elétrica, para produzir O<sub>2</sub> gasoso praticamente puro.<ref name="NBB301"/>
O oxigénio também pode ser produzido através da [[eletrólise da água]], decompondo-a em oxigénio e hidrogénio, para o qual deve ser usada uma [[corrente contínua]]; se se usasse uma [[corrente alternada]] os gases de cada extremidade consistiriam em hidrogénio e oxigénio na explosiva relação de 2:1. Contrariamente à crença popular, a relação 2:1 observada na eletrólise de corrente contínua da água acidificada não demonstra que a fórmula empírica da água seja H<sub>2</sub>O, a menos que se assumam certas premissas sobre a fórmula molecular do hidrogénio e oxigénio. Um método semelhante é a evolução electrocatalítica do O<sub>2</sub> de óxidos e [[oxiácido]]s. Também podem ser utilizados catalisadores químicos, como em [[gerador químico de oxigénio|geradores químicos de oxigénio]] ou nas velas de oxigénio usadas no equipamento de apoio em [[submarino]]s e que ainda são parte do equipamento padrão em companhias aéreas comerciais para situações de despressurização. Outra tecnologia de separação do ar consiste em forçar a dissolução do ar através de membranas de [[cerâmica]] com base em [[dióxido de zircónio]], seja por alta pressão ou por corrente elétrica, para produzir O<sub>2</sub> gasoso praticamente puro.<ref name="NBB301"/>


=== Armazenamento ===
=== Armazenamento ===
O custo da energia necessária para liquefazer o ar envolve o principal custo de produção, pelo que o preço da produção de oxigeno varia em função do preço da energia. Por motivos económicos, é costume transportar oxigênio  em grandes quantidades em estado líquido, armazenado em tanques especialmente isolados, uma vez que um litro de oxigênio  líquido equivale a 840 litros de oxigênio  gasoso à pressão atmosférica e 20&nbsp;°C (68&nbsp;°F).<ref name="NBB300"/>
O custo da energia necessária para liquefazer o ar envolve o principal custo de produção, pelo que o preço da produção de oxigeno varia em função do preço da energia. Por motivos económicos, é costume transportar oxigénio em grandes quantidades em estado líquido, armazenado em tanques especialmente isolados, uma vez que um litro de oxigénio líquido equivale a 840 litros de oxigénio gasoso à pressão atmosférica e 20&nbsp;°C (68&nbsp;°F).<ref name="NBB300"/>
Estas cisternas são usadas para encher os grandes contentores de oxigênio  líquido que se encontram no exterior dos hospitais e demais instituições que necessitam de enormes quantidades de oxigênio  gasoso puro. O oxigênio  líquido é passado por uns [[permutador de calor|permutadores de calor]] que convertem o líquido criogénico em gás antes de entrar no edifício. O oxigênio  também é armazenado e transportado em [[Cilindro de oxigénio|cilindros]] que contêm o gás comprimido, sendo muito útil para determinadas aplicações médicas portáteis e [[oxicorte]].<ref name="NBB300"/>
Estas cisternas são usadas para encher os grandes contentores de oxigénio líquido que se encontram no exterior dos hospitais e demais instituições que necessitam de enormes quantidades de oxigénio gasoso puro. O oxigénio líquido é passado por uns [[permutador de calor|permutadores de calor]] que convertem o líquido criogénico em gás antes de entrar no edifício. O oxigénio também é armazenado e transportado em [[Cilindro de oxigénio|cilindros]] que contêm o gás comprimido, sendo muito útil para determinadas aplicações médicas portáteis e [[oxicorte]].<ref name="NBB300"/>


== Aplicações ==
== Aplicações ==
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=== Medicina ===
=== Medicina ===
{{Artigo principal|Oxigenoterapia}}
{{Artigo principal|Oxigenoterapia}}
[[Imagem:Home oxygen concentrator.jpg|miniatura|esquerda|Um [[concentrador de oxigénio|concentrador de oxigênio]] na casa de um paciente com [[Doença pulmonar obstrutiva crónica|enfisema]]]]
[[Imagem:Home oxygen concentrator.jpg|miniatura|esquerda|Um [[concentrador de oxigénio]] na casa de um paciente com [[Doença pulmonar obstrutiva crónica|enfisema]]]]
O propósito essencial da [[respiração]] consiste na absorção de O<sub>2</sub> do ar e, em [[medicina]], são utilizados suplementos de oxigênio . O tratamento não só aumenta os níveis de oxigênio  no sangue do paciente, como também apresenta um efeito secundário de diminuir a resistência ao fluxo sanguíneo em muitos tipos de pulmões doentes, facilitando o trabalho de bombeamento do coração. A [[oxigenoterapia]] é utilizada para tratar o [[enfisema pulmonar|enfisema]], a [[pneumonia]], determinadas [[insuficiência cardíaca|insuficiências cardíacas]], certas desordens que causam uma elevada [[pressão arterial pulmonar]] e qualquer doença que afecte a capacidade do corpo para absorver e usar oxigênio  gasoso.<ref name="ECE510">{{Harvnb|Cook|Lauer|1968|p=510}}</ref>
O propósito essencial da [[respiração]] consiste na absorção de O<sub>2</sub> do ar e, em [[medicina]], são utilizados suplementos de oxigénio. O tratamento não só aumenta os níveis de oxigénio no sangue do paciente, como também apresenta um efeito secundário de diminuir a resistência ao fluxo sanguíneo em muitos tipos de pulmões doentes, facilitando o trabalho de bombeamento do coração. A [[oxigenoterapia]] é utilizada para tratar o [[enfisema pulmonar|enfisema]], a [[pneumonia]], determinadas [[insuficiência cardíaca|insuficiências cardíacas]], certas desordens que causam uma elevada [[pressão arterial pulmonar]] e qualquer doença que afecte a capacidade do corpo para absorver e usar oxigénio gasoso.<ref name="ECE510">{{Harvnb|Cook|Lauer|1968|p=510}}</ref>


Os tratamentos são suficientemente flexíveis para ser usados em hospitais, na casa do paciente ou, cada vez mais comum, por meio de dispositivos portáteis. Assim, as [[tenda de oxigénio|tendas de oxigênio]] eram antes empregues como suplementos de oxigênio , mas foram substituídas pelas [[Máscara de oxigénio|máscaras de oxigênio]] e [[cânula nasal|cânulas nasais]].<ref name="pmid18540928">{{citar periódico|sobrenome1=Sim|nome1=MA|sobrenome2= Dean|nome2=P|sobrenome3= Kinsella|nome3=J|sobrenome4= Black|nome4= R|sobrenome5= Carter|nome5= R|sobrenome6= Hughes|nome6=M |título=Performance of oxygen delivery devices when the breathing pattern of respiratory failure is simulated |revista=Anaesthesia |volume=63 |número=9 |páginas=938–40 |ano=2008 |pmid=18540928 |doi=10.1111/j.1365-2044.2008.05536.x}}</ref>
Os tratamentos são suficientemente flexíveis para ser usados em hospitais, na casa do paciente ou, cada vez mais comum, por meio de dispositivos portáteis. Assim, as [[tenda de oxigénio|tendas de oxigénio]] eram antes empregues como suplementos de oxigénio, mas foram substituídas pelas [[Máscara de oxigénio|máscaras de oxigénio]] e [[cânula nasal|cânulas nasais]].<ref>{{Harvnb|Sim|Dean|Kinsella|Black|2008|pp=938–940}}</ref>


A [[medicina hiperbárica]] (de alta pressão) utiliza câmaras especiais de oxigênio  para aumentar a [[pressão parcial]] do O<sub>2</sub> no paciente e, quando necessário, no pessoal médico.<ref name="pmid8931286">{{citar periódico|sobrenome1=Stephenson|nome1=RN|sobrenome2=Mackenzie|nome2=I|sobrenome3=Watt|nome3=SJ|sobrenome4= Ross|nome4=JA |título=Measurement of oxygen concentration in delivery systems used for hyperbaric oxygen therapy |revista=Undersea Hyperb Med|url=http://archive.rubicon-foundation.org/2245 |volume=23 |número=3 |páginas=185–8 |ano=1996|pmid=8931286}}</ref> A [[intoxicação por monóxido de carbono]], a [[mionecrose]] (gangrena gasosa) e a [[síndrome de descompressão]] são por vezes tratadas com recurso a estes aparelhos.<ref>{{citar web |url=http://www.uhms.org/Default.aspx?tabid=270 |título=Indications for hyperbaric oxygen therapy |página=Undersea and Hyperbaric Medical Society |acessadoem=20 de junho de 2015|arquivourl=https://web.archive.org/web/20110525130923/http://www.uhms.org/Default.aspx?tabid=270|arquivodata=25 de maio de 2011}}</ref> O aumento da concentração de O<sub>2</sub> nos pulmões ajuda a deslocar o [[monóxido de carbono]] do hemogrupo da [[hemoglobina]].<ref>{{citar web |url=http://www.uhms.org/ResourceLibrary/Indications/CarbonMonoxidePoisoning/tabid/272/Default.aspx |título=Carbon Monoxide |página=Undersea and Hyperbaric Medical Society |acessadoem=22 de julho de 2012 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20080725005744/http://www.uhms.org/ResourceLibrary/Indications/CarbonMonoxidePoisoning/tabid/272/Default.aspx |arquivodata=2008-07-25 |urlmorta=yes }}</ref><ref name="pmid15233173">{{citar periódico|sobrenome1=Piantadosi|nome1=CA |título=Carbon monoxide poisoning |revista=Undersea Hyperb Med |volume=31 |número=1 |páginas=167–77 |ano=2004 |pmid=15233173}}</ref> O oxigênio  é tóxico para a [[Anaerobiose|bactéria anaeróbica]] que provoca gangrena gasosa, de forma que aumentar a sua presão parcial ajuda a acabar com elas.<ref>{{citar periódico|sobrenome1=Hart|nome1=GB|sobrenome2=Strauss|nome2=MB |url=http://archive.rubicon-foundation.org/4428|título=Gas Gangrene&nbsp;– Clostridial Myonecrosis: A Review |revista=J. Hyperbaric Med |volume=5 |número=2 |páginas=125–144 |ano=1990}}</ref><ref>{{citar periódico|sobrenome1=Zamboni|nome1=WA|sobrenome2=Riseman|nome2=JA|sobrenome3= Kucan|nome3=JO |url=http://archive.rubicon-foundation.org/4431|título=Management of Fournier's Gangrene and the role of Hyperbaric Oxygen |revista=J. Hyperbaric Med |volume=5 |número=3 |páginas=177–186 |ano=1990}}</ref> A síndrome de descompressão ocorre em mergulhadores que saem demasiado rápido do mar, o que resulta na formação de bolhas de gás inerte no seu sangue, sobretudo de nitrogénio.<ref name="ECE510"/><ref>{{citar web |url=http://www.uhms.org/ResourceLibrary/Indications/DecompressionSickness/tabid/275/Default.aspx |título=Decompression Sickness or Illness and Arterial Gas Embolism |página=Undersea and Hyperbaric Medical Society |acessadoem=22 de julho de 2012 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20080705210353/http://www.uhms.org/ResourceLibrary/Indications/DecompressionSickness/tabid/275/Default.aspx |arquivodata=2008-07-05 |urlmorta=yes }}</ref><ref>{{citar periódico|sobrenome=Acott |nome=C. |título=A brief history of diving and decompression illness |revista=South Pacific Underwater Medicine Society Journal |volume=29 |número=2 |ano=1999 |issn=0813-1988 |oclc=16986801}}</ref>
A [[medicina hiperbárica]] (de alta pressão) utiliza câmaras especiais de oxigénio para aumentar a [[pressão parcial]] do O<sub>2</sub> no paciente e, quando necessário, no pessoal médico.<ref>{{Harvnb|Stephenson|Mackenzie|Watt|Ross|1996|pp=185–188}}</ref> A [[intoxicação por monóxido de carbono]], a [[mionecrose]] (gangrena gasosa) e a [[síndrome de descompressão]] são por vezes tratadas com recurso a estes aparelhos.<ref>{{citar web|url=http://www.uhms.org/Default.aspx?tabid=270|título=Indications for hyperbaric oxygen therapy|página=Undersea and Hyperbaric Medical Society|acessodata=20/6/2015|wayb=20110525130923|urlmorta=sim}}</ref> O aumento da concentração de O<sub>2</sub> nos pulmões ajuda a deslocar o [[monóxido de carbono]] do hemogrupo da [[hemoglobina]].<ref>{{citar web|url=http://www.uhms.org/ResourceLibrary/Indications/CarbonMonoxidePoisoning/tabid/272/Default.aspx|título=Carbon Monoxide|página=Undersea and Hyperbaric Medical Society|acessodata=22/7/2012|wayb=20080725005744|urlmorta=sim}}</ref><ref>{{Harvnb|Piantadosi|2004|pp=167–177}}</ref> O oxigénio é tóxico para a [[Anaerobiose|bactéria anaeróbica]] que provoca gangrena gasosa, de forma que aumentar a sua pressão parcial ajuda a acabar com elas.<ref>{{Harvnb|Hart|Strauss|1990|pp=125–144}}</ref><ref>{{Harvnb|Zamboni|Riseman|Kucan|1990|pp=177–186}}</ref> A síndrome de descompressão ocorre em mergulhadores que saem demasiado rápido do mar, o que resulta na formação de bolhas de gás inerte no seu sangue, sobretudo de nitrogénio.<ref name="ECE510"/><ref>{{citar web|url=http://www.uhms.org/ResourceLibrary/Indications/DecompressionSickness/tabid/275/Default.aspx|título=Decompression Sickness or Illness and Arterial Gas Embolism|página=Undersea and Hyperbaric Medical Society|acessodata=22/7/2012|wayb=20080705210353|urlmorta=sim}}</ref><ref>{{Harvnb|Acott|1999-1}}</ref>


O oxigênio  é também utilizado clinicamente em pacientes que necessitam de [[ventilação mecânica]], normalmente a concentrações superiores a 21% encontradas no ar ambiente. Para além disto, o isótopo <sup>15</sup>O foi usado de forma experimental na [[tomografia por emissão de positrões]].<ref>{{citar periódico|título=Positron emission tomography with oxygen-15 of stunned myocardium caused by coronary artery vasospasm after recovery |pmc=483759 |nome=D.|sobrenome=Agostini|nome2=H.|sobrenome2=Iida|nome3= A.|sobrenome3= Takahashi |revista=British Heart Journal |ano=1995 |volume=73 |número=1 |páginas=69–72 |doi=10.1136/hrt.73.1.69 |pmid=7888266}}</ref>
O oxigénio é também utilizado clinicamente em pacientes que necessitam de [[ventilação mecânica]], normalmente a concentrações superiores a 21% encontradas no ar ambiente. Para além disto, o isótopo <sup>15</sup>O foi usado de forma experimental na [[tomografia por emissão de positrões]].<ref>{{Harvnb|Agostini|Iida|Takahashi|1995|pp=69–72}}</ref>


=== Suporte vital e uso recreativo ===
=== Suporte vital e uso recreativo ===
[[Imagem:Wisoff on the Arm - GPN-2000-001069.jpg|thumb|Nos [[Traje espacial|trajes espaciais]] é utilizado O<sub>2</sub> a baixa pressão.]]
[[Imagem:STS057-89-067 - Wisoff on the Arm (Retouched).jpg|thumb|Nos [[Traje espacial|trajes espaciais]] é utilizado O<sub>2</sub> a baixa pressão.]]
Uma aplicação notável do O<sub>2</sub> como [[gás respirável]] de baixa pressão encontra-se nos [[traje espacial|trajes espaciais]] modernos, que envolvem o corpo dos seus ocupantes com ar pressurizado. Estes dispositivos usam oxigênio  quase puro a uma pressão de cerca de um terço da normal, resultando numa pressão parcial normal de O<sub>2</sub> no sangue. Este intercâmbio de oxigênio  de alta concentração para uma baixa pressão é necessária para manter a flexibilidade dos fatos espaciais.<ref name="pmid11541018">{{citar periódico|sobrenome1=Morgenthaler|nome1= GW|sobrenome2= Fester|nome2= DA|sobrenome3= Cooley|nome3=CG| título=As assessment of habitat pressure, oxygen fraction, and EVA suit design for space operations|revista=Acta Astronaut|volume= 32|número=1|páginas=39–49|ano=1994|pmid=11541018|doi=10.1016/0094-5765(94)90146-5}}</ref><ref name="pmid2730484">{{citar periódico|sobrenome1=Webb|nome1=JT|sobrenome2= Olson|nome2=RM|sobrenome3= Krutz|nome3=RW|sobrenome4= Dixon|nome4=G|sobrenome5= Barnicott|nome5=PT|título=Human tolerance to 100% oxygen at 9.5 psia during five daily simulated 8-hour EVA exposures|revista=Aviat Space Environ Med|volume=60|número=5|páginas=415–21|ano=1989|pmid=2730484}}</ref>
Uma aplicação notável do O<sub>2</sub> como [[gás respirável]] de baixa pressão encontra-se nos [[traje espacial|trajes espaciais]] modernos, que envolvem o corpo dos seus ocupantes com ar pressurizado. Estes dispositivos usam oxigénio quase puro a uma pressão de cerca de um terço da normal, resultando numa pressão parcial normal de O<sub>2</sub> no sangue. Este intercâmbio de oxigénio de alta concentração para uma baixa pressão é necessária para manter a flexibilidade dos fatos espaciais.<ref name=":11">{{Harvnb|Morgenthaler|Fester|Cooley|1994|pp=39–49}}</ref><ref>{{Harvnb|Webb|Olson|Krutz|Dixon|1989|pp=415–421}}</ref>


Os [[mergulho|mergulhadores]] e os tripulantes de [[submarino]]s também utilizam O<sub>2</sub> fornecido artificialmente, mas a maioria usa uma pressão normal ou uma mistura de oxigênio  e ar. O uso de O<sub>2</sub> puro ou quase puro em mergulho a pressões maiores que a atmosférica geralmente restringe-se a intervalos de descanso, descompressão e tratamentos de emergência a relativamente pouca profundidade (~ 6 metros ou menos). O mergulho a uma profundidade mais elevada requer uma diluição significativa de O<sub>2</sub> com outros gases, como nitrogénio ou hélio, para ajudar a prevenir a [[toxicidade do oxigénio|toxicidade do oxigênio]] .<ref name="Acott">{{citar periódico|sobrenome=Acott|nome=C.|título=Oxygen toxicity: A brief history of oxygen in diving|revista=South Pacific Underwater Medicine Society Journal|volume=29|número=3|ano=1999|issn=0813-1988|oclc=16986801|url=http://archive.rubicon-foundation.org/6014}}</ref><ref name="Longphre">{{citar periódico|sobrenome=Longphre|nome=J. M.|sobrenome2=Denoble|nome2=PJ|sobrenome3=Moon|nome3=RE|sobrenome4=Vann|nome4=RD|sobrenome5=Freiberger|nome5=JJ|título= First aid normobaric oxygen for the treatment of recreational diving injuries|revista=Undersea Hyperb Med.|volume=34|número=1|páginas =43–49|ano=2007|issn=1066-2936|oclc=26915585|pmid=17393938|url=http://archive.rubicon-foundation.org/5514}}</ref>
Os [[mergulho|mergulhadores]] e os tripulantes de [[submarino]]s também utilizam O<sub>2</sub> fornecido artificialmente, mas a maioria usa uma pressão normal ou uma mistura de oxigénio e ar. O uso de O<sub>2</sub> puro ou quase puro em mergulho a pressões maiores que a atmosférica geralmente restringe-se a intervalos de descanso, descompressão e tratamentos de emergência a relativamente pouca profundidade (~ 6 metros ou menos). O mergulho a uma profundidade mais elevada requer uma diluição significativa de O<sub>2</sub> com outros gases, como nitrogénio ou hélio, para ajudar a prevenir a [[toxicidade do oxigénio]].<ref name=":10">{{Harvnb|Acott|1999-2}}</ref><ref>{{Harvnb|Longphre|Denoble|Moon|2007|pp=43–49}}</ref>


Os alpinistas e os que viajam em [[avião|aviões]] não pressurizados normalmente têm um suplemento de O<sub>2</sub>.{{Efn|Isto porque, ao aumentar a proporção de oxigénio no gás de respiração a baixa pressão, aumenta a pressão parcial do O<sub>2</sub> inalado perto da encontrada no nível do mar.}} Os passageiros de aviões comerciais (pressurizados) possuem um fornecimento de O<sub>2</sub> para situações de emergência, que é colocado automaticamente à sua disposição em caso de despressurização da cabine. Uma perda repentina de pressão na cabine ativa os [[gerador químico de oxigénio|geradores químicos de oxigênio]] em cada assento, pondo à disposição as [[máscara de oxigênio|máscaras de oxigênio]] . Assim que as máscaras caem, elas ficam presas por um cabo de acionamento. Quando a máscara é puxada, esse cabo aciona o gatilho do gerador de oxigênio , provocando uma [[reação exotérmica]] entre limalha de ferro e sal [[clorato de sódio]], contidos no recipiente armazenador. O calor liberado aquece ainda mais o clorato restante, que se decompõe rapidamente, liberando oxigênio .<ref name="NBB301"/>
Os alpinistas e os que viajam em [[avião|aviões]] não pressurizados normalmente têm um suplemento de O<sub>2</sub>.{{Efn|Isto porque, ao aumentar a proporção de oxigénio no gás de respiração a baixa pressão, aumenta a pressão parcial do O<sub>2</sub> inalado perto da encontrada no nível do mar.}} Os passageiros de aviões comerciais (pressurizados) possuem um fornecimento de O<sub>2</sub> para situações de emergência, que é colocado automaticamente à sua disposição em caso de despressurização da cabine. Uma perda repentina de pressão na cabine ativa os [[gerador químico de oxigénio|geradores químicos de oxigénio]] em cada assento, pondo à disposição as [[máscara de oxigênio|máscaras de oxigénio]]. Assim que as máscaras caem, elas ficam presas por um cabo de acionamento. Quando a máscara é puxada, esse cabo aciona o gatilho do gerador de oxigénio, provocando uma [[reação exotérmica]] entre limalha de ferro e sal [[clorato de sódio]], contidos no recipiente armazenador. O calor liberado aquece ainda mais o clorato restante, que se decompõe rapidamente, liberando oxigénio.<ref name="NBB301"/>


O oxigênio , que provoca uma suave resposta de [[euforia]] quando inalado, tem toda uma história de uso recreativo em [[desporto]]s e [[bar de oxigénio|bares de oxigênio]] . Estes estabelecimentos apareceram no [[Japão]], [[Califórnia]] e [[Las Vegas (Nevada)|Las Vegas]] no final dos anos 1990, e oferecem exposições a níveis de O<sub>2</sub> superiores ao normal em troca de uma determinada tarifa.<ref name="FDA-O2Bars">{{citar web|url=http://www.fda.gov/Fdac/features/2002/602_air.html|título=Oxygen Bars: Is a Breath of Fresh Air Worth It?|sobrenome=Bren|nome=Linda|página=FDA Consumer magazine|editora=U.S. Food and Drug Administration|data=2002|acessadoem=22 de julho de 2012|arquivourl=https://web.archive.org/web/20071018041754/http://www.fda.gov/Fdac/features/2002/602_air.html|arquivodata=2007-10-18|urlmorta=no}}</ref> Aos atletas profissionais, especialmente em [[futebol americano]], em algumas ocasiões, quando saem do campo durante os intervalos, é-lhes colocada uma máscara de oxigênio  com o propósito de aumentar o seu desempenho no jogo. O efeito farmacológico é contudo duvidoso, sendo que a explicação mais viável a haver está normalmente associada ao [[efeito placebo]].<ref name ="FDA-O2Bars"/> Existem estudos que sustentam essa eventual estimulação e aumento do desempenho físico com misturas de O<sub>2</sub> enriquecido, mas só quando inalado durante o exercício aeróbico.<ref>{{citar web|url=http://www.pponline.co.uk/encyc/ergogenic-aids-can-increasing-oxygen-levels-improve-sports-performance-95|título=Ergogenic Aids|acessadoem=22 de julho de 2012|página=Peak Performance Online|arquivourl=https://web.archive.org/web/20070928051412/http://www.pponline.co.uk/encyc/1008.htm|arquivodata=2007-09-28|urlmorta=yes}}</ref>
O oxigénio, que provoca uma suave resposta de [[euforia]] quando inalado, tem toda uma história de uso recreativo em [[desporto]]s e [[bar de oxigénio|bares de oxigénio]]. Estes estabelecimentos apareceram no [[Japão]], [[Califórnia]] e [[Las Vegas (Nevada)|Las Vegas]] no final dos anos 1990, e oferecem exposições a níveis de O<sub>2</sub> superiores ao normal em troca de uma determinada tarifa.<ref name="FDA-O2Bars">{{citar web|url=http://www.fda.gov/Fdac/features/2002/602_air.html|título=Oxygen Bars: Is a Breath of Fresh Air Worth It|sobrenome=Bren|nome=Linda|página=FDA Consumer magazine|editora=U.S. Food and Drug Administration|ano=2002|acessodata=22/7/2012|wayb=20071018041754|urlmorta=sim}}</ref> Aos atletas profissionais, especialmente em [[futebol americano]], em algumas ocasiões, quando saem do campo durante os intervalos, é-lhes colocada uma máscara de oxigénio com o propósito de aumentar o seu desempenho no jogo. O efeito farmacológico é contudo duvidoso, sendo que a explicação mais viável a haver está normalmente associada ao [[efeito placebo]].<ref name ="FDA-O2Bars"/> Existem estudos que sustentam essa eventual estimulação e aumento do desempenho físico com misturas de O<sub>2</sub> enriquecido, mas só quando inalado durante o exercício aeróbico.<ref>{{citar web|url=http://www.pponline.co.uk/encyc/ergogenic-aids-can-increasing-oxygen-levels-improve-sports-performance-95|título=Ergogenic Aids|acessodata=22/7/2012|página=Peak Performance Online|wayb=20070928051412|urlmorta=sim}}</ref>


=== Indústria ===
=== Indústria ===
[[Imagem:Clabecq JPG01.jpg|miniatura|A maior parte do O<sub>2</sub> produzido com propósito comercial é utilizado para a fundição do ferro na produção do aço.]]
[[Imagem:Clabecq JPG01.jpg|miniatura|A maior parte do O<sub>2</sub> produzido com propósito comercial é utilizado para a fundição do ferro na produção do aço.]]
A [[Ferro fundido|fundição]] de minério de [[ferro]] na produção de [[aço]] consome 55% do oxigênio  produzido comercialmente. Neste processo, o O<sub>2</sub> é injetado com uma lança de alta pressão no ferro fundido, que remove as impurezas de [[enxofre]] e o excesso de [[carbono]], na forma dos seus respectivos óxidos, SO<sub>2</sub> e CO<sub>2</sub>. As reações são [[reação exotérmica|exotérmicas]] e a temperatura aumenta até aos 1700 Cº.<ref name="NBB301"/>
A [[Ferro fundido|fundição]] de minério de [[ferro]] na produção de [[aço]] consome 55% do oxigénio produzido comercialmente. Neste processo, o O<sub>2</sub> é injetado com uma lança de alta pressão no ferro fundido, que remove as impurezas de [[enxofre]] e o excesso de [[carbono]], na forma dos seus respectivos óxidos, SO<sub>2</sub> e CO<sub>2</sub>. As reações são [[reação exotérmica|exotérmicas]] e a temperatura aumenta até aos 1700 Cº.<ref name="NBB301"/>


Outros 25% deste oxigênio  são utilizados pela indústria química. O [[etileno]] reage com o O<sub>2</sub> para criar [[óxido de etileno]], que, por sua vez, converte-se em [[etilenoglicol]], o material usado como base para a fabricação de uma grande variedade de produtos, incluindo [[anticongelante]]s e polímeros de [[poliéster]] (os precursores de muitos [[plástico]] e [[têxtil|têxteis]]).<ref name="NBB301"/>
Outros 25% deste oxigénio são utilizados pela indústria química. O [[etileno]] reage com o O<sub>2</sub> para criar [[óxido de etileno]], que, por sua vez, converte-se em [[etilenoglicol]], o material usado como base para a fabricação de uma grande variedade de produtos, incluindo [[anticongelante]]s e polímeros de [[poliéster]] (os precursores de muitos [[plástico]] e [[têxtil|têxteis]]).<ref name="NBB301"/>


Os restantes 20% são em grande parte utilizados em aplicações medicinais, [[oxicorte]], como oxidante em [[Propulsão de foguete|combustível de foguetes]] e no [[tratamento de águas]].<ref name="NBB301"/> O oxigênio  é usado em soldadura oxiacetilénica queimando [[acetileno]] com O<sub>2</sub> para produzir uma chama bastante quente. Neste processo, o metal, que pode ter até 60 centímetros de espessura, é aquecido primeiro com uma pequena chama de oxiacetileno para depois ser rapidamente cortado por um enorme jato de O<sub>2</sub>.<ref name="ECE508">{{Harvnb|Cook|Lauer|1968|p=508}}</ref>
Os restantes 20% são em grande parte utilizados em aplicações medicinais, [[oxicorte]], como oxidante em [[Propulsão de foguete|combustível de foguetes]] e no [[tratamento de águas]].<ref name="NBB301"/> O oxigénio é usado em soldadura oxiacetilénica queimando [[acetileno]] com O<sub>2</sub> para produzir uma chama bastante quente. Neste processo, o metal, que pode ter até 60 centímetros de espessura, é aquecido primeiro com uma pequena chama de oxiacetileno para depois ser rapidamente cortado por um enorme jato de O<sub>2</sub>.<ref name="ECE508">{{Harvnb|Cook|Lauer|1968|p=508}}</ref>


=== Investigação ===
=== Investigação ===
[[Imagem:Phanerozoic Climate Change-pt.svg|miniatura|esquerda|500 milhões de anos de [[alterações climáticas]] comparados com o nível de <sup>18</sup>O.]]
[[Imagem:Phanerozoic Climate Change-pt.svg|miniatura|esquerda|500 milhões de anos de [[alterações climáticas]] comparados com o nível de <sup>18</sup>O.]]


Os [[Paleoclimatologia|paleoclimatólogos]] medem a relação entre o oxigênio [[oxigénio-18|-18]] e o oxigênio [[oxigénio-16|-16]] nos [[esqueleto]]s e [[exoesqueleto]]s dos organismos marinhos para determinar como era o clima há milhões de anos. As moléculas de [[água do mar]] que contêm o [[Isótopos do oxigénio|isótopo]] mais leve, o oxigênio -16, evaporam-se a um ritmo ligeiramente maior do que as moléculas que contêm oxigênio -18 (cerca de 12% mais pesado); esta disparidade aumenta a baixas temperaturas.<ref name="NBB304">{{Harvnb|Emsley|2001|p=304}}</ref> Em períodos com uma temperatura global mais baixa, a neve e a chuva procedentes dessa água evaporada tendem a ser mais ricas em oxigênio -16, enquanto que a água do mar deixada para trás tende a ser mais rica em oxigênio -18. Os organismos marinhos, portanto, incorporam mais oxigênio -18 nos seus esqueletos e exoesqueletos do que o fariam num ambiente mais quente. Os paleoclimatólogos também medem diretamente esta relação nas moléculas de água de amostras de [[núcleo de gelo|núcleos de gelo]] que se conservaram durante várias centenas de milhares de anos.<ref name="NBB304"/>
Os [[Paleoclimatologia|paleoclimatólogos]] medem a relação entre o [[oxigénio-18]] e o [[oxigénio-16]] nos [[esqueleto]]s e [[exoesqueleto]]s dos organismos marinhos para determinar como era o clima há milhões de anos. As moléculas de [[água do mar]] que contêm o [[Isótopos do oxigénio|isótopo]] mais leve, o oxigénio-16, evaporam-se a um ritmo ligeiramente maior do que as moléculas que contêm oxigénio-18 (cerca de 12% mais pesado); esta disparidade aumenta a baixas temperaturas.<ref name="NBB304">{{Harvnb|Emsley|2001|p=304}}</ref> Em períodos com uma temperatura global mais baixa, a neve e a chuva procedentes dessa água evaporada tendem a ser mais ricas em oxigénio-16, enquanto que a água do mar deixada para trás tende a ser mais rica em oxigénio-18. Os organismos marinhos, portanto, incorporam mais oxigénio-18 nos seus esqueletos e exoesqueletos do que o fariam num ambiente mais quente. Os paleoclimatólogos também medem diretamente esta relação nas moléculas de água de amostras de [[núcleo de gelo|núcleos de gelo]] que se conservaram durante várias centenas de milhares de anos.<ref name="NBB304"/>


Os [[Geologia|geólogos]] planetários mediram as diferenças na abundância de isótopos de oxigênio  em amostras da [[Terra]], [[Lua]], [[Marte (planeta)|Marte]] e [[meteorito]]s, mas não foram capazes de obter valores de referência para as relações entre isótopos do [[Sol]], que se acredita serem iguais às da [[nebulosa protosolar|nebulosa protossolar]]. No entanto, a análise duma [[wafer|bolacha]] de [[silício]] exposta ao [[vento solar]] no espaço e devolvida à Terra pela [[Genesis|sonda Genesis]] revelou que o Sol possui uma proporção de oxigênio -16 maior do que o nosso planeta. A medição permite-nos inferir que um processo desconhecido esgotou o oxigênio -16 do [[disco protoplanetário]] do Sol antes da fusão dos grãos de poeira que formaram a Terra.<ref>{{citar periódico|sobrenome = Hand|nome = Eric|título = The Solar System's first breath|revista = Nature|volume = 452|páginas = 259|data = 13 de março de 2008|url = http://www.nature.com/news/2008/080313/full/452259a.html|doi = 10.1038/452259a|pmid = 18354437|número= 7185|bibcode = 2008Natur.452..259H }}</ref>
Os [[Geologia|geólogos]] planetários mediram as diferenças na abundância de isótopos de oxigénio em amostras da [[Terra]], [[Lua]], [[Marte (planeta)|Marte]] e [[meteorito]]s, mas não foram capazes de obter valores de referência para as relações entre isótopos do [[Sol]], que se acredita serem iguais às da [[nebulosa protosolar|nebulosa protossolar]]. No entanto, a análise duma [[wafer|bolacha]] de [[silício]] exposta ao [[vento solar]] no espaço e devolvida à Terra pela [[Genesis|sonda Genesis]] revelou que o Sol possui uma proporção de oxigénio-16 maior do que o nosso planeta. A medição permite-nos inferir que um processo desconhecido esgotou o oxigénio-16 do [[disco protoplanetário]] do Sol antes da fusão dos grãos de poeira que formaram a Terra.<ref>{{Harvnb|Hand|2008|p=259}}</ref>


O oxigênio  apresenta duas [[Banda de absorção|bandas de absorção]] espectrofotométrica com máximos em comprimentos de onda de 687 e 760 nanómetros. Alguns cientistas de [[deteção remota]] propuseram usar a medição da radiação proveniente dos [[Dossel florestal|dosseis de vegetação]] nessas bandas para caracterizar a saúde das plantas a partir de uma plataforma [[Satélite de observação da Terra|satélite]]. Esta aproximação explora o fato de que nessas bandas é possível distinguir a [[reflectividade]] da vegetação da sua [[fluorescência]], que é muito mais fraca. A medição é tecnicamente difícil de se fazer devido à baixa [[relação sinal-ruído]] e à estrutura física da vegetação, mas tem sido encarada como um possível método de monitorização do [[ciclo do carbono]] a partir de satélites à escala global.<ref>{{citar periódico|doi=10.1109/IGARSS.2003.1293855|autores=Miller, J.R.; Berger, M.; Alonso, L.; Cerovic, Z.; Goulas, Y.; Jacquemoud, S.; Louis, J.; Mohammed, G.; Moya, I.; Pedros, R.; Moreno, J.F.; Verhoef, W.; Zarco-Tejada, P.J.|título=Geoscience and Remote Sensing Symposium, 2003. IGARSS '03. Proceedings. 2003 IEEE International}}</ref>
O oxigénio apresenta duas [[Banda de absorção|bandas de absorção]] espectrofotométrica com máximos em comprimentos de onda de 687 e 760 nanómetros. Alguns cientistas de [[deteção remota]] propuseram usar a medição da radiação proveniente dos [[Dossel florestal|dosseis de vegetação]] nessas bandas para caracterizar a saúde das plantas a partir de uma plataforma [[Satélite de observação da Terra|satélite]]. Esta aproximação explora o fato de que nessas bandas é possível distinguir a [[reflectividade]] da vegetação da sua [[fluorescência]], que é muito mais fraca. A medição é tecnicamente difícil de se fazer devido à baixa [[relação sinal-ruído]] e à estrutura física da vegetação, mas tem sido encarada como um possível método de monitorização do [[ciclo do carbono]] a partir de satélites à escala global.<ref>{{Harvnb|Miller|Berger|Alonso|Cerovic|2003}}</ref>


== Segurança e precauções ==
== Segurança e precauções ==
=== Toxicidade ===
=== Toxicidade ===
{{Artigo principal|Efeito de Paul Bert}}
{{Artigo principal|Efeito de Paul Bert}}
[[Imagem:Symptoms of oxygen toxicity-pt.svg|thumb|esquerda|Os principais sintomas da toxicidade do oxigênio .<ref>{{citar periódico|sobrenome1=Dharmeshkumar|nome1=N |sobrenome2=Ashish |nome2=Goel |nome3=SB|sobrenome3=Agarwal|nome4=Praveenkumar|sobrenome4= Garg |nome5=Krishna K|sobrenome5= Lakhani|título=Oxygen Toxicity |revista=Indian Academy of Clinical Medicine|volume=4 |número=3 |páginas=234 |ano=2003 |url=http://medind.nic.in/jac/t03/i3/jact03i3p234.pdf|arquivourl=https://web.archive.org/web/20150922093352/http://medind.nic.in/jac/t03/i3/jact03i3p234.pdf|arquivodata=22 de setembro de 2015}}</ref>]]
[[Imagem:Symptoms of oxygen toxicity-pt.svg|thumb|esquerda|Os principais sintomas da toxicidade do oxigénio.<ref>{{Harvnb|Dharmeshkumar|Goel|Agarwal|Garg|2003|p=234}}</ref>]]
[[Imagem:Scuba-diving.jpg|miniatura|A toxicidade do oxigênio  ocorre quando os pulmões sustêm uma pressão parcial do O<sub>2</sub> maior do que o normal, o que pode acontecer durante o mergulho.]]
[[Imagem:Scuba-diving.jpg|miniatura|A toxicidade do oxigénio ocorre quando os pulmões sustêm uma pressão parcial do O<sub>2</sub> maior do que o normal, o que pode acontecer durante o mergulho.]]


O oxigênio  gasoso pode ser [[toxicidade|tóxico]] a [[pressão parcial|pressões parciais]] elevadas, produzindo [[convulsão|convulsões]] e outros problemas de saúde.<ref name="Acott"/> {{Efn|Dado que a pressão parcial do O<sub>2</sub> é a proporção de O<sub>2</sub> multiplicado pela pressão total, a elevada pressão parcial pode ocorrer quer por uma alta concentração de O<sub>2</sub> no gás respiratório, quer pela alta pressão do gás ou por uma combinação de ambas.}}<ref name="ECE511">{{Harvnb|Cook|Lauer|1968|p=511}}</ref> A toxicidade geralmente começa a aparecer com pressões parciais de mais de 50 k[[Pascal (unidade)|Pa]] ou 2,5 vezes a pressão parcial do O<sub>2</sub> ao nível do mar (21 kPa; igual a cerca de 50% da composição do oxigênio  sob pressão normal). Isto não é um problema, excepto para os doentes com [[ventilação mecânica]], porque o gás administrado através das máscaras de oxigênio  é tipicamente composto por apenas 30%-50% de O<sub>2</sub> por volume (cerca de 30 kPa na pressão normal), embora estes números variem significativamente dependendo do tipo de máscara.<ref name="NBB299"/>
O oxigénio gasoso pode ser [[toxicidade|tóxico]] a [[pressão parcial|pressões parciais]] elevadas, produzindo [[convulsão|convulsões]] e outros problemas de saúde.<ref name=":10" />{{Efn|Dado que a pressão parcial do O<sub>2</sub> é a proporção de O<sub>2</sub> multiplicado pela pressão total, a elevada pressão parcial pode ocorrer quer por uma alta concentração de O<sub>2</sub> no gás respiratório, quer pela alta pressão do gás ou por uma combinação de ambas.}}<ref name="ECE511">{{Harvnb|Cook|Lauer|1968|p=511}}</ref> A toxicidade geralmente começa a aparecer com pressões parciais de mais de 50 k[[Pascal (unidade)|Pa]] ou 2,5 vezes a pressão parcial do O<sub>2</sub> ao nível do mar (21 kPa; igual a cerca de 50% da composição do oxigénio sob pressão normal). Isto não é um problema, excepto para os doentes com [[ventilação mecânica]], porque o gás administrado através das máscaras de oxigénio é tipicamente composto por apenas 30%-50% de O<sub>2</sub> por volume (cerca de 30 kPa na pressão normal), embora estes números variem significativamente dependendo do tipo de máscara.<ref name="NBB299"/>


No passado, os [[Parto pré-termo|bebés prematuros]] eram colocados em incubadoras que continham ar rico em O<sub>2</sub>, mas esta prática foi descontinuada depois de algumas destas crianças terem perdido a visão.<ref name="NBB299"/><ref name="pmid9603802">{{citar periódico|sobrenome=Drack|nome= AV |título=Preventing blindness in premature infants |revista=N. Engl. J. Med. |volume=338 |número=22 |páginas=1620–1 |ano=1998 |pmid=9603802 |doi= 10.1056/NEJM199805283382210}}</ref>
No passado, os [[Parto pré-termo|bebés prematuros]] eram colocados em incubadoras que continham ar rico em O<sub>2</sub>, mas esta prática foi descontinuada depois de algumas destas crianças terem perdido a visão.<ref name="NBB299"/><ref>{{Harvnb|Drack|1998|pp=1620–1}}</ref>


A respiração de O<sub>2</sub> puro em aplicativos espaciais, como nalguns trajes aeroespaciais modernos ou em naves pioneiras como a [[nave Apollo|Apollo]], não é prejudicial devido às baixas pressões totais utilizadas. No caso dos fatos, a pressão parcial do O<sub>2</sub> no gás respiratório encontra-se, geralmente, cerca de 30 kPa (1,4 vez o normal) e a pressão parcial resultante no sangue arterial do astronauta é apenas ligeiramente maior do que a pressão normal ao nível do mar.<ref name="pmid11541018"/><ref>{{citar web|sobrenome = Wade|nome = Mark|ano = 2007|título = Space Suits|página = Encyclopedia Astronautica|acessadoem = 28 de junho de 2015|url = http://www.astronautix.com/craftfam/spasuits.htm|arquivourl = https://web.archive.org/web/20071213122134/http://www.astronautix.com/craftfam/spasuits.htm|arquivodata = 2007-12-13|urlmorta = no}}</ref> (para mais informações vide [[traje espacial]] e [[gasometria arterial]]).
A respiração de O<sub>2</sub> puro em aplicativos espaciais, como nalguns trajes aeroespaciais modernos ou em naves pioneiras como a [[nave Apollo|Apollo]], não é prejudicial devido às baixas pressões totais utilizadas. No caso dos fatos, a pressão parcial do O<sub>2</sub> no gás respiratório encontra-se, geralmente, cerca de 30 kPa (1,4 vez o normal) e a pressão parcial resultante no sangue arterial do astronauta é apenas ligeiramente maior do que a pressão normal ao nível do mar.<ref name=":11" /><ref>{{citar web|sobrenome=Wade|nome=Mark|ano=2007|título=Space Suits|página=Encyclopedia Astronautica|acessodata=28/6/2015|url=http://www.astronautix.com/craftfam/spasuits.htm|wayb=20071213122134|urlmorta=sim}}</ref> (para mais informações vide [[traje espacial]] e [[gasometria arterial]]).


A toxicidade do oxigênio  para os pulmões e [[sistema nervoso central]] também pode ocorrer no mergulho profundo e no [[mergulho profissional]].<ref name="NBB299"/><ref name="Acott"/> A respiração prolongada duma mistura de ar com uma pressão parcial de O<sub>2</sub> superior a 60 kPa pode dar origem a uma [[fibrose pulmonar]] permanente.<ref name="BMJ">{{citar periódico|sobrenome=Wilmshurst|nome= P |título=Diving and oxygen |revista=BMJ |volume=317 |número=7164 |páginas=996–9 |ano=1998 |pmid=9765173 |pmc=1114047 |doi=10.1136/bmj.317.7164.996}}</ref>
A toxicidade do oxigénio para os pulmões e [[sistema nervoso central]] também pode ocorrer no mergulho profundo e no [[mergulho profissional]].<ref name="NBB299"/><ref name=":10" /> A respiração prolongada duma mistura de ar com uma pressão parcial de O<sub>2</sub> superior a 60 kPa pode dar origem a uma [[fibrose pulmonar]] permanente.<ref name=":12">{{Harvnb|Wilmshurst|1998|pp=996–999}}</ref>


A exposição a pressões parciais superiores a 160 kPa (~ 1,6 atmosfera) pode causar convulsões, normalmente fatais para os [[mergulhador]]es. A toxicidade aguda pode ser produzida ao respirar uma mistura de ar com mais de 21% de O<sub>2</sub> a 66 ou mais metros de profundidade; o mesmo pode acontecer ao respirar 100% de O<sub>2</sub> a apenas 6 metros.<ref name="BMJ"/><ref name="Donald">{{citar livro |sobrenome=Donald |nome=Kenneth |título=Oxygen and the Diver |isbn = 1-85421-176-5|ano=1992 |editora=SPA}}</ref><ref name="Donald1">{{citar periódico |sobrenome=Donald|nome=K. W. |título=Oxygen Poisoning in Man: Part I |revista=Br Med J |volume=1 |número=4506 |páginas=667–72 |ano=1947 |pmc=2053251 |doi=10.1136/bmj.1.4506.667 |pmid=20248086}}</ref><ref name="Donald2">{{citar periódico |sobrenome=Donald|nome=K. W. |título=Oxygen Poisoning in Man: Part II |revista=Br Med J |volume=1 |páginas=712–7 |ano=1947 |pmc=2053400|número=4507 |doi=10.1136/bmj.1.4507.712 |pmid=20248096}}</ref>
A exposição a pressões parciais superiores a 160 kPa (~ 1,6 atmosfera) pode causar convulsões, normalmente fatais para os [[mergulhador]]es. A toxicidade aguda pode ser produzida ao respirar uma mistura de ar com mais de 21% de O<sub>2</sub> a 66 ou mais metros de profundidade; o mesmo pode acontecer ao respirar 100% de O<sub>2</sub> a apenas 6 metros.<ref name=":12" /><ref>{{Harvnb|Donald|1992}}</ref><ref>{{Harvnb|Donald|1947-1|pp=667–672}}</ref><ref>{{Harvnb|Donald|1947-2|pp=712–717}}</ref>


=== Combustão e outros riscos ===
=== Combustão e outros riscos ===
[[Imagem:Apollo 1 fire.jpg|thumb|O interior do módulo de comando do [[Apollo 1]]. O O<sub>2</sub> puro a uma pressão maior do que o normal e uma faísca produziram um incêndio e, por conseguinte, a morte da tripulação da nave.]]
[[Imagem:Apollo 1 fire.jpg|thumb|O interior do módulo de comando do [[Apollo 1]]. O O<sub>2</sub> puro a uma pressão maior do que o normal e uma faísca produziram um incêndio e, por conseguinte, a morte da tripulação da nave.]]


As fontes ricas em oxigênio  na presença de materiais combustíveis são altamente susceptíveis de provocar a rápida combustão. Os riscos de [[fogo]] e [[explosão]] dão-se quando os oxidantes concentrados e os combustíveis estão demasiado próximos; no entanto, a ignição, seja pelo calor ou por uma faísca, é necessária para desencadear a combustão.<ref name="Weiss2008" /><ref name="astm-tpt">{{citar periódico|nome=Barry L.|sobrenome=Werley|ano=1991|título=Fire Hazards in Oxygen Systems|jornal=ASTM Technical Professional training|editora=ASTM International Subcommittee G-4.05}}</ref> O mesmo acontece se as fontes de oxigênio  forem cloratos, percloratos, dicromatos etc.; estes compostos com alto poder oxidante podem provocar também [[queimadura]]s químicas. O oxigênio  por si só não é um combustível, mas um oxidante. Os riscos de combustão também se aplicam a compostos de oxigênio  de alto potencial oxidante, como os [[peróxido]]s, [[clorato]]s, [[nitrato]]s, [[perclorato]]s e [[dicromato]]s, porque podem doar oxigênio  ao fogo.<ref name="Weiss2008"/><ref name="Schmidt-Rohr2015"/>
As fontes ricas em oxigénio na presença de materiais combustíveis são altamente susceptíveis de provocar a rápida combustão. Os riscos de [[fogo]] e [[explosão]] dão-se quando os oxidantes concentrados e os combustíveis estão demasiado próximos; no entanto, a ignição, seja pelo calor ou por uma faísca, é necessária para desencadear a combustão.<ref name=":1" /><ref name=":13">{{Harvnb|Werley|1991}}</ref> O mesmo acontece se as fontes de oxigénio forem cloratos, percloratos, dicromatos etc.; estes compostos com alto poder oxidante podem provocar também [[queimadura]]s químicas. O oxigénio por si só não é um combustível, mas um oxidante. Os riscos de combustão também se aplicam a compostos de oxigénio de alto potencial oxidante, como os [[peróxido]]s, [[clorato]]s, [[nitrato]]s, [[perclorato]]s e [[dicromato]]s, porque podem doar oxigénio ao fogo.<ref name=":1" /><ref name=":2" />


O O<sub>2</sub> concentrado permite uma combustão rápida e enérgica.<ref name="astm-tpt" /> Os tubos e os recipientes de aço usados para armazenar e transportar tanto o oxigênio  líquido como o gasoso actuam como combustível; à vista disso, o desenho e fabricação dos sistemas de O<sub>2</sub> requerem uma atenção especial para assegurar que as fontes de ignição sejam minimizadas.<ref name="astm-tpt"/> O incêndio que acabou com a vida da tripulação do [[Apollo 1]] em 1967 num ensaio na plataforma de lançamento alastrou-se tão rapidamente porque a cápsula estava pressurizada com O<sub>2</sub> puro, mas a uma pressão ligeiramente maior do que a pressão atmosférica, em vez duma pressão de 1/3 da normal que deveria ter sido usada na missão.{{Efn|Não se identificou de forma conclusiva nenhuma fonte de ignição no incêndio, no entanto algumas evidências atribuem a causa a um [[arco elétrico|arco]] que produziu um faísca elétrica.<ref>{{Citar periódico|título=Apollo 204 Review Board|editora=NASA Historical Reference Collection|autor=NASA History Office|lugar=Washington, DC}}</ref>}}<ref name="chiles">{{citar livro|sobrenome=Chiles|nome=James R.|ano=2001|título=Inviting Disaster: Lessons from the edge of Technology: An inside look at catastrophes and why they happen|local=Nova York|editora=HarperCollins Publishers Inc.|isbn=0-06-662082-1}}</ref>
O O<sub>2</sub> concentrado permite uma combustão rápida e enérgica.<ref name=":13" /> Os tubos e os recipientes de aço usados para armazenar e transportar tanto o oxigénio líquido como o gasoso actuam como combustível; à vista disso, o desenho e fabricação dos sistemas de O<sub>2</sub> requerem uma atenção especial para assegurar que as fontes de ignição sejam minimizadas.<ref name=":13" /> O incêndio que acabou com a vida da tripulação do [[Apollo 1]] em 1967 num ensaio na plataforma de lançamento alastrou-se tão rapidamente porque a cápsula estava pressurizada com O<sub>2</sub> puro, mas a uma pressão ligeiramente maior do que a pressão atmosférica, em vez duma pressão de 1/3 da normal que deveria ter sido usada na missão.{{Efn|Não se identificou de forma conclusiva nenhuma fonte de ignição no incêndio, no entanto algumas evidências atribuem a causa a um [[arco elétrico|arco]] que produziu um faísca elétrica.<ref>{{Citar periódico|título=Apollo 204 Review Board|editora=NASA Historical Reference Collection|autor=NASA History Office|lugar=Washington, DC}}</ref>}}<ref>{{Harvnb|Chiles|2001}}</ref>


No caso dum derrame de oxigênio  líquido, se este for embebido em matéria orgânica como [[madeira]], produtos [[Petroquímica|petroquímicos]] e [[asfalto]] estes materiais podem [[Detonação|detonar]] imprevisivelmente ao sofrer um subsequente impacto mecânico. Tal como acontece com outros líquidos [[criogenia|criogénicos]], em contacto com o corpo humano pode provocar o [[congelamento]] da pele e dos olhos.<ref name="astm-tpt"/>
No caso dum derrame de oxigénio líquido, se este for embebido em matéria orgânica como [[madeira]], produtos [[Petroquímica|petroquímicos]] e [[asfalto]] estes materiais podem [[Detonação|detonar]] imprevisivelmente ao sofrer um subsequente impacto mecânico. Tal como acontece com outros líquidos [[criogenia|criogénicos]], em contacto com o corpo humano pode provocar o [[congelamento]] da pele e dos olhos.<ref name=":13" />


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== Bibliografia ==
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* {{citar livro| ref=harv |título=The Encyclopedia of the Chemical Elements|último =Cook|primeiro =Gerhard A.|último2 =Lauer|primeiro2 =Carol M.|publicado=Reinhold Book Corporation|local=Nova York|data=1968|páginas=499–512|editor=Clifford A. Hampel|capítulo=Oxygen| lccn=68-29938}}
* {{citar livro| ref=harv |título=Nature's Building Blocks: An A-Z Guide to the Elements|último =Emsley|primeiro =John|publicado=Oxford University Press|data=2001|local=Oxford, Inglaterra|isbn=0-19-850340-7|capítulo=Oxygen|páginas=297–304}}
* {{citar livro| ref=harv |último =Raven|primeiro =Peter H.|primeiro2 =Ray F.|último2 =Evert|primeiro3 =Susan E.|último3 =Eichhorn|título=Biology of Plants|edição=7th|publicado=W.H. Freeman and Company Publishers|data=2005|local= Nova York|páginas=115–27|isbn = 0-7167-1007-2}}
* {{citar livro| ref=harv |título=Fundamentals of Environmental and Toxicological Chemistry: Sustainable Science, Fourth Edition|publicado=CRC Press|ano=2013|primeiro =Stanley E.|último = Manahan|isbn=9781466553163|idioma=en}}
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== Ligações externas ==
== Ligações externas ==

Edição atual tal como às 23h32min de 24 de janeiro de 2022

Predefinição:Outros usos Predefinição:Elemento/Oxigênio

O oxigénio (português europeu) ou oxigênio (português brasileiro) é um elemento químico de número atómico 8 e símbolo O (8 protões e 8 eletrões) representando com massa atómica 16 u. Constitui parte do grupo dos calcogénios e é um não metal reactivo e um forte agente oxidante que facilmente forma compostos com a maioria doutros elementos, principalmente óxidos. Tem a segunda electronegatividade mais elevada de todos os elementos químicos, superado apenas pelo flúor.[1] Medido pela sua massa, o oxigénio é o terceiro elemento mais abundante do universo, atrás do hidrogénio e hélio,[2] e o mais abundante na crosta terrestre como parte de compostos óxidos, formando praticamente metade da sua massa.[3] Em condições normais de pressão e temperatura, dois átomos do elemento ligam-se para formar o dioxigénio, um gás diatómico com fórmula Predefinição:Chem. Este gás diatómico constitui 20,8% da atmosfera e é fundamental para suportar a vida terrestre.[4] Não obstante, vários estudos dos níveis de oxigénio atmosférico indicam uma progressão global descendente na proporção deste elemento, principalmente por causa das emissões procedentes da queima de combustíveis fósseis.[5]

É um gás incolor (azul em estado líquido[6] e sólido), inodoro e Predefinição:Linktext, comburente, não combustível e pouco solúvel em água. O dioxigénio é usado na respiração celular e muitas das principais moléculas orgânicas dos organismos vivos como proteínas, ácidos nucleicos, carboidratos e lípidos contêm oxigénio, além dos principais compostos inorgânicos que formam as conchas, os dentes e os ossos dos animais. A maior parte da massa dos organismos vivos é composta por oxigénio enquanto componente da água, o principal constituinte das formas de vida. Devido à sua reactividade química, o oxigénio não pode permanecer na atmosfera terrestre como elemento livre sem que seja constantemente reabastecido pela acção fotossintética dos organismos que utilizam a energia solar para produzir oxigénio a partir da água. O oxigénio elementar O2 somente começou a acumular-se na atmosfera depois do aparecimento destes organismos, há aproximadamente 2 500 milhões de anos.[7] O alótropo ozono (Predefinição:Chem) é um forte absorvente de radiação ultravioleta, e a camada de ozono da Terra, a grande altitude, ajuda a proteger a biosfera da incidência de radiação procedente do Sol. Porém, o ozono é um agente contaminante perto da superfície terrestre, sendo um produto derivado do smog. A altitudes de órbita terrestre baixa, o oxigénio atómico presente provoca a corrosão das naves espaciais.[8]

O oxigénio foi descoberto autonomamente por Carl Wilhelm Scheele em Uppsala, no ano de 1773, e por Joseph Priestley em Wiltshire no ano de 1774, no entanto é Priestley quem costuma ser designado prioritariamente, uma vez que a sua obra foi a primeira a ser publicada. Em 1777, Antoine Lavoisier cunhou o seu nome[9] e suas experiências com o oxigénio ajudaram a desacreditar a até então popular teoria do flogisto da combustão e corrosão. O nome deriva do grego ὀξύς (oxys) («ácido», literalmente «picante», em alusão ao sabor dos ácidos) e γόνος (-gonos) («produtor», literalmente «gerar»), porque na época em que se lhe deu esta denominação acreditava-se, equivocadamente, que todos os ácidos necessitavam de oxigénio para a sua composição. As aplicações habituais do oxigénio incluem, entre outras, o seu uso em calefações residenciais e motores de combustão interna, a produção de aço, plásticos e têxteis, aplicações de corte industrial e soldadura de aços e outros metais, como propulsor para foguetes, para terapias de oxigénio e sistemas de suporte à vida em aeronaves, submarinos, naves espaciais tripuladas e mergulho.

Características principais

Estrutura molecular e propriedades

Tubo de descarga cheio de oxigénio puro.

Nas Condições Normais de Temperatura e Pressão (PTN), o oxigénio é um gás incolor e inodoro com fórmula molecular O2, em que dois átomos de oxigénio se ligam com uma configuração electrónica em estado tripleto. Esta ligação apresenta uma ordem de ligação de dois e costuma-se simplificar nas descrições como uma ligação dupla[10] ou como uma combinação duma ligação de dois electrões e duas ligações de três electrões.[11]

Um fio de oxigénio líquido é desviado por um campo magnético, ilustrando a sua propriedade paramagnética.

O oxigénio tripletoPredefinição:Efn é o estado fundamental da molécula O2,[12] que apresenta dois electrões desemparelhados que ocupam dois orbitais moleculares degenerados.Predefinição:Efn Estes orbitais são classificados como antiligações - debilitam a ordem de ligação de três para dois-, de forma a que a ligação do dioxigénio é mais fraca do que a tripla ligação do nitrogénio diatómico, em que todos os orbitais das ligações moleculares são preenchidos, mas alguns orbitais de antiligação não.[12][13]

Na sua forma normal de tripleto, as moléculas de O2 são paramagnéticas; ou seja, na presença dum campo magnético formam um íman, devido ao momento magnético do spin dos electrões desemparelhados na molécula e à interação de troca negativa entre moléculas de O2 contíguas.[14] O oxigénio líquido é de tal forma magnético que, em demonstrações laboratoriais, um fio de oxigénio líquido pode suster o seu próprio peso entre os polos dum íman potente.[15]Predefinição:Efn

O oxigénio molecular singlete é um nome dado a várias espécies de O2 de maior energia, em que todos os spins dos electrões se emparelham. É muito mais reactivo com moléculas orgânicas comuns do que o oxigénio molecular propriamente dito. Na natureza, o oxigénio singlete costuma formar-se com a água durante a fotossíntese, utilizando a energia solar.[16] É também produzido na troposfera por meio da fotólise do ozono pela luz de onda curta[17] e pelo sistema imunitário enquanto fonte de oxigénio activo.[18] Nos organismos fotossintéticos - e possivelmente também nos animais - os carotenoides exercem um papel fundamental na absorção de energia do oxigénio singlete e na conversão deste para o seu estado não excitado antes de provocar danos nos tecidos.[19]

Alótropos

Ver artigo principal: Alótropos do oxigénio
Central atom is positively charged and end atoms are negatively charged.
O ozono é um gás pouco comum na Terra e encontra-se em grande parte na estratosfera.

O alótropo comum do oxigénio elementar é o chamado dioxigénio (O2), que possui um comprimento de ligação de 121 pm e uma energia de ligação de 498 kJ•mol−1,[20] menor que a energia das outras ligações duplas ou pares de ligações simples presentes na biosfera, e responsável pela reação exotérmica do O2 com qualquer molécula orgânica.[21][22] Devido ao seu teor de energia, o O2 é utilizado por formas de vida complexas, tal como os animais, na sua respiração celular, desempenhando um papel fundamental na composição da atmosfera terrestre.

O trioxigénio (O3) é habitualmente conhecido como ozono e é um alótropo bastante reactivo, prejudicial para o tecido pulmonar.[23] O ozono é produzido na atmosfera superior quando o O2 se combina com o oxigénio atómico causado pela divisão do O2 por radiação ultravioleta.[9] Uma vez que o ozono é um poderoso absorvente na região ultravioleta do espectro electromagnético, a camada de ozono da atmosfera superior funciona como um escudo protector da radiação que o planeta recebe.[9] Perto da superfície terrestre, todavia, é um contaminante formado como subproduto das emissões de automóveis.[23] A molécula metaestável do tetraoxigénio (O4) só foi descoberta em 2001,[24][25] e assumiu-se que existia numa das seis fases do oxigénio sólido. Em 2006 demonstrou-se que esta fase, criada por meio da pressurização do O2 a 20 GPa, é, de facto, um cluster Predefinição:Efn O8 do sistema trigonal.[26] Este cluster tem potencial para ser um oxidante muito mais potente do que o O2 e o O3 e pode, por conseguinte, ser usado como propulsor de foguetes.[24][25] Em 1990 foi descoberta uma fase metálica quando o oxigénio sólido é submetido a uma pressão superior a 96 GPa[27] e demonstrou-se em 1998 que a temperaturas muito baixas converte-se em supercondutor.[28]

Propriedades físicas

Ver artigos principais: Oxigénio líquido e Oxigénio sólido
O mapamundi assinala que o oxigénio da superfície marinha reduz ao redor do equador e aumenta perto dos pólos
A baixa temperatura da água aumenta a concentração de O2 dissolvido na superfície do mar.[29]

O oxigénio é mais solúvel em água do que o nitrogénio; água em equilíbrio com ar contém aproximadamente uma molécula de O2 por cada duas moléculas de N2, em comparação à proporção atmosférica, de aproximadamente 1:4. A solubilidade do oxigénio na água depende da temperatura, dissolvendo-se em cerca do dobro (14,6 mg•L−1) a 0 °C do que a 20 °C (7,6 mg•L−1).[30][31] A 25 °C e Predefinição:Convert/atmPredefinição:Convert/test/A, a água doce contém cerca de 6,04 mililitros (ml) de oxigénio por litro, enquanto que a água do mar contém cerca de 4,95 ml por litro.[32] A 5 °C a solubilidade aumenta até 9,0 ml (cerca de 50 % mais do que a 25 °C) por litro na água e 7,2 ml (45% mais) na água do mar.[31]

O oxigénio condensa-se a 90,20 K (-182,95 °C, -297,31 °F) e congela a 54,36 K (-218,79 °C, -361,82 °F).[33] Tanto o O2 líquido como o sólido são substâncias claras com uma cor azul céu provocada pela absorção no vermelho, contrastando com a cor azul do céu, que se deve à dispersão de Rayleigh da luz azul. O O2 líquido de grande pureza é obtido através da destilação fracionada do ar liquefeito.[34] O oxigénio líquido também pode ser produzido pela condensação do ar, utilizando nitrogénio líquido como refrigerante. É uma substância altamente reactiva e deve ser separado de materiais inflamáveis.[35]

A espectroscopia do oxigénio molecular associa-se aos processos atmosféricos das auroras e outras emissões de luz na atmosfera.[36] A absorção no contínuo de Herzberg e nas bandas de Schumann–Runge no ultravioleta produz oxigénio atómico, importante na química do meio atmosférico.[37] O oxigénio molecular singlete em estado excitado é responsável pela luminescência química vermelha nas soluções.[38]

Importância da sua existência

Predefinição:VT

A nebulosa Olho de gato possui zonas ricas em oxigénio ionizado, a cor verde na imagem.

O oxigénio é o elemento químico mais abundante, por massa, na biosfera, ar, mar e terra. É o terceiro mais abundante no universo, atrás do hidrogénio e hélio.[2] Cerca de 0,9 % da massa do Sol é oxigénio. Constitui também 49,2 % da massa da crosta terrestre (cerca de 46,7%), e é o principal componente dos oceanos (cerca de 87% como componente da água).[4] O oxigénio gasoso é o segundo componente mais abundante na atmosfera, constituindo 20,8 % do seu volume e 23,1 % da sua massa (cerca de 1015 toneladas).[3][4][39]Predefinição:Efn A Terra é uma excepção entre os planetas do Sistema Solar pela elevada concentração de oxigénio gasoso na sua atmosfera; por exemplo, Marte (com cerca de 0,1 % de O2 do total do seu volume) e Vénus têm concentrações muito inferiores. Contudo, o O2 que circula nestes planetas provém exclusivamente da reação das moléculas que contêm oxigénio, assim como o dióxido de carbono, por efeito da radiação ultravioleta.[40]

Os óxidos de metais, silicatos (SiO44-) e carbonatos (CO32-) encontram-se frequentemente em rochas e no solo. Na atmosfera apresenta-se como oxigénio molecular, O2, dióxido de carbono e em menor proporção como monóxido de carbono (CO), ozono (O3), dióxido de nitrogénio (NO2), monóxido de nitrogénio (NO) ou dióxido de enxofre (SO2). Nos planetas exteriores (mais distantes do Sol) e em cometas encontra-se água congelada e outros compostos de oxigénio; por exemplo, em Marte existe dióxido de carbono congelado.[41] O espectro deste elemento também é com frequência observado nas estrelas.[42]

Os cinco elementos mais comuns
na Via Láctea[43]
Z Elemento Fração de massa
em partes por milhão
1 Hidrogénio 739 000
2 Hélio 240 000
8 Oxigénio 10 400
6 Carbono 4 600
10 Néon 1 340

A concentração anormalmente elevada de oxigénio gasoso na Terra é resultado do ciclo do oxigénio. Este ciclo biogeoquímico descreve o movimento do oxigénio dentro e entre os seus três principais reservatórios no planeta: a atmosfera, a biosfera e a litosfera. O factor de condução mais importante neste ciclo é a fotossíntese, responsável pela atmosfera moderna da Terra, que libera oxigénio na atmosfera, enquanto que os processos de respiração e descomposição o eliminam.[44]

O oxigénio livre ocorre também em soluções nas massas de água do planeta. A maior solubilidade do O2 a baixas temperaturas tem importantes implicações para a vida marinha, uma vez que os oceanos polares sustentam uma densidade de vida muito maior devido ao seu elevado teor de oxigénio.Predefinição:Efn A quantidade de O2 na água pode ser diminuída pela contaminação hídrica, devido à acção da decomposição das algas e outros biomateriais por um processo denominado eutrofização. Os cientistas avaliam este aspecto da qualidade da água através da medição da sua carência biológica de oxigénio, ou quantidade de O2 necessária para restaurá-la para níveis de concentração normais.[45]

Isótopos e origem estelar

Ver artigo principal: Isótopos do oxigénio

O oxigénio possui dezassete isótopos cujo número de massa varia entre 12 e 28. O oxigénio encontrado na natureza é composto por três isótopos estáveis: O16, O17 e O18, sendo o O16 o mais abundante (99,762 % de abundância natural).[46] A maior parte do O16 é sintetizado no final do processo de combustão do hélio no interior de estrelas massivas, mas outra parte é produzida no processo de combustão do néon.[47] O O17 deriva fundamentalmente da fusão do hidrogénio em hélio durante o ciclo CNO, convertendo-o num isótopo comum nas zonas de combustão de hidrogénio nas estrelas.[47] A maioria do O18 é produzido quando o N14 — que abunda devido à combustão CNO — captura um núcleo de He4, tornando o O18 comum nas zonas ricas em hélio das estrelas massivas.[47]

Foram evidenciados quatorze radioisótopos, dos quais os mais estáveis são o O15 com um período de semidesintegração de 70,606 segundos.[46] Todos os restantes isótopos radioactivos têm períodos de semidesintegração inferiores a 27 segundos e a maior parte destes, inferiores a 83 milissegundos.[46] A forma de desintegração dos isótopos mais leves que o O16 é a desintegração β+[48][49][50] para produzir nitrogénio. O tipo de decaimento mais comum para os isótopos mais pesados do que o O18 é a desintegração β que dá origem ao flúor.[46]

Compostos

A água (H2O) é o composto de oxigénio mais familiar.

Predefinição:VT O estado de oxidação do oxigénio é -2 em quase todos os compostos conhecidos do oxigénio. O estado de oxidação -1 encontra-se em alguns compostos, como os peróxidos.[51] Os compostos noutro estado de oxidação são muito raros: -1/2 (superóxidos), -1/3 (ozónidos), 0 (elementar, ácido hipofluoroso), +1/2 (dioxigenil), +1 (difluoreto de dioxigénio) e +2 (difluoreto de oxigénio).[52]

A sua alta eletronegatividade faz com que reaja com muitos elementos químicos, excepto os gases nobres. O composto mais notável do oxigénio é a água (H2O); outros compostos importantes que apresentam o elemento oxigénio na sua composição são: o dióxido de carbono, os álcoois (R-OH), aldeídos, (R-CHO) e ácidos carboxílicos (R-COOH).

Os radicais clorato (ClO3-), perclorato (ClO4-), cromato (CrO42-), dicromato (Cr2O72-), permanganato (MnO4-) e nitrato (NO3-) são fortes agentes oxidantes. Os epóxidos são éteres nos quais o átomo de oxigénio é um hétero-tomo. O ozónio (O3) forma-se mediante descargas elétricas a partir do oxigénio molecular, como por exemplo, durante as tempestades elétricas. Também já foi encontrado no oxigénio líquido, em pequenas quantidades, uma dupla molécula de oxigénio: (O2)2.

Óxidos e outros compostos inorgânicos

A água (H2O) é um óxido de hidrogénio e é o composto de oxigénio mais comum. Os átomos de hidrogénio estão ligados covalentemente ao oxigénio na molécula de água, mas numa massa de água também são atraídos (cerca de 23,3 kJ•mol−1 por átomo de hidrogénio) pelo átomo de oxigénio doutra molécula de água adjacente.[53] Estas ligações de hidrogénio entre moléculas de água mantêm-nas aproximadamente 15 % mais próximas do que seria espectável num líquido simples apenas com as forças de Van der Waals.[54]Predefinição:Efn

Os óxidos, como o óxido de ferro, formam-se quando o oxigénio é combinado com outros elementos.

Devido à sua electronegatividade, o oxigénio forma ligações químicas com quase todos os elementos a altas temperaturas para formar óxidos correspondentes. Contudo, alguns elementos formam óxidos directamente em condições normais de pressão e temperatura, como o óxido formado do ferro. As superfícies de metais como o alumínio e o titânio oxidam-se na presença do ar e são revestidas por uma fina camada de óxido que passiva o metal e abranda a corrosão. Alguns dos óxidos metálicos de transição são encontrados na natureza como compostos não estequiométricos, com um pouco menos de metal do que a fórmula química sugere. Por exemplo, o FeO (wustite), que se forma naturalmente, é escrito como Fex-1O, onde o «x» é normalmente cerca de 0,05.[55]

O oxigénio como composto está presente na atmosfera em pequenas quantidades em forma de dióxido de carbono (CO2). A rocha da crosta terrestre é composta por grandes quantidades de óxidos de silício (dióxido de silício SiO2, como o encontrado no granito e quartzo), alumínio (óxido de alumínio Al2O3, em bauxite e corindo), ferro (óxido férrico Fe2O3, na hematite e ferrugem) e cálcio (carbonato de cálcio CaCO3, no calcário). O restante da crosta terrestre é também constituído por compostos de oxigénio, em particular vários silicatos complexos. No manto terrestre, com uma massa muito maior do que a crosta terrestre, abundam os silicatos de ferro e magnésio.

Os silicatos solúveis em água com as formas Na4SiO4, Na2SiO3 e Na2Si2O5 são utilizados em detergentes e adesivos.[56] O oxigénio também actua como ligação para metais de transição, formando ligações de O2 metálico com átomos de irídio no complexo de Vaska,[57] com platina no PtF6 e com o centro de ferro no grupo hemo da hemoglobina.[58]

Compostos orgânicos e biomoléculas

O oxigénio representa mais de 40 % da massa molecular da molécula da ATP

Entre as classes mais importantes de compostos orgânicos que contêm oxigénio mencione-se (onde «R» é um grupo orgânico): álcoois (R-OH), éteres (R-O-R), cetonas (R-CO-R), aldeídos (R-CO-H), ácidos carboxílicos (R-COOH), ésteres (R-COO-R), anidridos de ácido (R-CO-O-CO-R) e amidas (R-C(O)-NR2).[59] Existem muitos dissolventes orgânicos importantes que contêm oxigénio, entre os quais: acetona, metanol, etanol, álcool isopropílico, furano, tetraidrofurano, éter etílico, dioxano, acetato de etila, dimetilformamida, dimetilsulfóxido, ácido acético e ácido fórmico. A acetona (CH3(CO)CH3) e o fenol (C6H5OH) são usados como matérias na síntese de muitas substâncias diferentes.[60] Outros compostos orgânicos importantes que contêm oxigénio são, o glicerol, formaldeído, glutaraldeído, ácido acético e acetamida.[61] Os epóxidos são éteres nos quais o átomo de oxigénio constitui parte dum anel de três átomos.[62]

O oxigénio reage espontaneamente com muitos compostos orgânicos a temperatura ambiente ou inferior, num processo designado autoxidação.[63] A maior parte dos compostos orgânicos que contêm oxigénio não se produzem por acção directa do O2. Os compostos orgânicos importantes na indústria e comércio produzidos por oxidação directa dum precursor incluem o óxido de etileno e o ácido peracético.[56]

O elemento encontra-se em quase todas as biomoléculas importantes para (ou geradas por) a vida.[64] Apenas algumas biomoléculas complexas comuns, como o esqualeno e o caroteno, não possuem oxigénio. Dos compostos orgânicos com importância biológica, os carboidratos contêm a maior proporção de oxigénio na sua massa. Todas as gorduras, ácidos gordos, aminoácidos e proteínas contêm oxigénio (devido à presença de grupos carbonilos nesses ácidos e nos seus resíduos de éster). O oxigénio também está presente em grupos de fosfato (Predefinição:Chem) nas moléculas biologicamente importantes que transportam energia, ATP e ADP, na coluna vertebral e purinas (à excepção de adenina e pirimidinas de ARN e ADN) e nos ossos como fosfato de cálcio e hidroxiapatita.

História

Desenho de uma vela acesa dentro de um bulbo de vidro.

Uma das primeiras experiências conhecidas sobre a relação entre combustão e o ar foi realizada por Filão de Bizâncio, escritor grego do século II a.C., que tinha como um de seus interesses a mecânica. Na sua obra Pneumatica, Filão observou que invertendo um recipiente sobre uma vela acesa e colocando água em torno do gargalo do vaso, uma parte do líquido subia pelo gargalo.[65] Filão supôs erradamente que partes do ar no recipiente eram convertidas no elemento clássico do fogo e, portanto, eram capazes de escapar através dos poros do vidro. Vários séculos depois, Leonardo da Vinci, com base no trabalho de Filão, observou que uma parte do ar é consumida durante a combustão e respiração.[66]

No final do século XVII, Robert Boyle provou que o ar é necessário para a combustão. O químico inglês John Mayow refinou este trabalho, mostrando que o fogo requer apenas uma parte do ar, que denominou de nitroaereus spiritus ou simplesmente nitroaereus.[67] Num experimento, descobriu que, colocando tanto um rato como uma vela acesa num recipiente fechado sobre água, levava a água a subir e substituir um décimo quarto do volume do ar antes de sufocar os objetos da experiência.[68] A partir disso, supôs-se que o nitroaereus era consumido tanto na respiração como na combustão.

Mayow observou que o antimónio aumentava o seu peso quando aquecido, e inferiu que o nitroaereus deve ter combinado com ele.[67] Também pensava que os pulmões separavam o nitroaereus do ar passando-o para o sangue, e que o calor animal e o movimento dos músculos resultava da reação do nitroaereus com determinadas substâncias no organismo.[67] Relatos dessas e doutras experiências e ideias foram publicados em 1668 na sua obra Tractatus duo no tratado "De respiratione".[68]

Teoria do flogisto

Ver artigo principal: Teoria do flogisto
Georg Stahl ajudou a desenvolver e popularizar a teoria do flogisto.

Robert Hooke, Ole Borch, Mikhail Lomonossov e Pierre Bayen produziram oxigénio durante experimentações entre os séculos XVII e XVIII, mas nenhum deles o reconheceu como um elemento.[30] Isto deveu-se em parte à prevalência da filosofia da combustão e corrosão, denominada teoria do flogisto, que era até então a melhor explicação para esses processos.[69]

Esta teoria, estabelecida em 1667 pelo químico alemão Johann Joachim Becher e modificada pelo também químico Georg Stahl em 1731,[70] postulava que todos os materiais combustíveis eram constituídos por duas partes; uma, chamada flogisto, que era emitida ao queimar a substância em questão, e outra, denominada desflogisticado, que era tida como a sua verdadeira forma, o calx (cinza; greda em latim).[66]

Acreditava-se que os materiais altamente inflamáveis que deixam poucos resíduos, como a madeira ou o carbono, eram constituídos essencialmente por flogisto, enquanto que as substâncias não combustíveis que se corroem, como o ferro, continham muito pouco. O ar não desempenhava nenhum papel na teoria do flogisto nem foram realizadas experiências quantitativas para testar a ideia; em vez disso, a teoria baseava-se em observações sobre o que acontece quando um objeto é queimado: os objectos mais comuns pareciam tornar-se mais leves e perdiam algo no processo de combustão.[66] Para justificar o facto de que uma substância como a madeira realmente ganhava peso no seu conjunto durante a combustão, Stahl afirmava que o flogisto possuía massa negativa. Uma das primeiras evidências sobre a falsidade da teoria do flogisto era que os metais também ganhavam peso na oxidação (quando supostamente perdiam flogisto).[69]

Descoberta

Carl Wilhelm Scheele descobriu primeiro que Priestley, mas só depois deste é que publicou o seu trabalho.

A descoberta se deu pelo farmacêutico sueco Carl Wilhelm Scheele, que produziu oxigénio gasoso aquecendo óxido de mercúrio e vários nitratos por volta de 1772.[4][66] Scheele chamou ao gás "ar do fogo", porque era o único apoio conhecido para a combustão, e escreveu um relatório sobre a sua descoberta em um manuscrito intitulado "Chemische Abhandlung von der Luft und dem Feuer» ( «Tratado químico do ar e do fogo" ) e enviou-o para a sua editora em 1775; no entanto, só em 1777 é que o documento foi publicado.[71]

É costume atribuir a descoberta a Joseph Priestley.

O seu trabalho não teve reconhecimento imediato, sendo a descoberta ocasionalmente atribuída a Joseph Priestley, que elaborou uma experimentação independente a 1 de agosto de 1774. Este realizou uma experiência no qual focou a luz solar sobre óxido de mercúrio (II) (HgO) no interior de um tubo de cristal, que libertou um gás que denominou de «ar desflogisticado".[4] Com isso, observou que as velas ardiam mais intensamente no gás e que o rato estava mais ativo e vivia durante mais tempo enquanto o respirava. Após ele mesmo inalar o gás, escreveu: "A sensação do gás nos meus pulmões não era perceptivelmente diferente à do ar normal, mas senti o meu peito particularmente leve e desafogado durante algum tempo depois".[30] Priestley publicou as suas descobertas em 1775 num artigo intitulado "An Account of Further Discoveries in Air" ("Um relatório de mais descobertas no ar"), que incluiu no segundo volume do seu livro intitulado Experiments and Observation on Different Kinds of Air.[66][72] Uma vez que os seus achados foram publicados primeiro, Priestley é geralmente considerado o autor da descoberta.

O renomado químico francês Antoine Lavoisier afirmou mais tarde ter descoberto a substância autonomamente. No entanto, Priestley visitou Lavoisier em outubro de 1774 e falou-lhe sobre o seu experimento e como libertar o novo gás. Scheele também escreveu uma carta a Lavoisier em 30 de setembro do mesmo ano, na qual descrevia a sua própria descoberta da substância antes desconhecida, mas o francês nunca reconheceu tê-la recebido. Após a morte de Scheele, foi encontrada uma cópia da carta entre os seus pertences.[71]

Contribuição de Lavoisier

Antoine Lavoisier desacreditou a teoria do flogisto.

Embora tenha sido contestada na época, a contribuição de Lavoisier conduziu efectivamente às primeiras experiências quantitativas satisfatórias sobre a oxidação e forneceu a primeira explicação correta a respeito do funcionamento da combustão.[4] Estas e outras experimentações semelhantes, que tiveram início em 1774, iriam levar à desacreditação da teoria do flogisto e à comprovação de que a substância descoberta por Priestley e Scheele era um elemento químico.[70]

Numa experiência, Lavoisier observou que não havia um aumento da massa total quando o estanho e o ar eram aquecidos num recipiente fechado.[4] Notou que, quando o recipiente era aberto, o ar entrava subitamente nele, o que indicava que uma porção do ar retido teria sido consumido. Também observou que o estanho aumentara o seu peso e que o aumento era igual ao peso do ar que retornava para o recipiente quando aberto. Esta e outras experiências sobre a combustão foram documentas no seu livro Sur la combustion en général, publicado em 1777.[4] Nesta obra, provou que o ar é uma mistura de dois gases: o "ar essencial", fundamental para a combustão e respiração, e o azoto (do grego ἄζωτον, sem vida), que não servia para nenhuma das duas, o qual se viria mais tarde a denominar nitrogénio.[4]

Lavoisier renomeou o «ar essencial" como oxigénio em 1777, com base no grego ὀξύς (oxys) (ácido, literalmente "amargo", devido ao sabor dos ácidos) e -γενής (-genēs) (produtor, literalmente "que gera"), porque pensava, erroneamente, que o oxigénio era um constituinte de todos os ácidos.[9] Os químicos — em particular sir Humphry Davy, em 1812 — depois de um tempo comprovaram que Lavoisier estava errado na sua apreciação, pois, na realidade, é o hidrogénio que constitui a base química dos ácidos, entretanto o nome já se popularizara o suficiente para assim permanecer.[73]

Passado recente

Robert Goddard e um foguete de combustível de oxigénio líquido.

A hipótese atómica original de John Dalton assumia que todos os elementos eram monoatómicos e que os átomos dos compostos teriam por norma as relações atômicas mais simples. Por exemplo, Dalton achava que a fórmula da água era HO, apresentando a massa atómica do oxigênio como 8 vezes a do hidrogénio, em vez de 16, o valor que lhe é atribuído hoje em dia.[74] Em 1805, Louis Joseph Gay-Lussac e Alexander von Humboldt mostraram que a água é formada por dois volumes de hidrogénio e um de oxigénio e, em 1811, Amedeo Avogadro chegou à correta interpretação sobre a composição do líquido, com base no que é hoje denominado de Lei de Avogadro e nas moléculas biatómicas elementares desses gases.[75]Predefinição:Efn

No final do século XIX, os pesquisadores deram conta de que o ar podia ser liquefeito e os seus componentes isolados por meio da compressão e arrefecimento. Utilizando um método de cascata, o químico e físico suíço Raoul Pictet evaporou dióxido de enxofre para liquefazer dióxido de carbono, que por sua vez era evaporado para arrefecer o oxigénio gasoso o suficiente para liquefazê-lo. Pictet enviou um telegrama à Academia de Ciências da França em 22 de dezembro de 1877 anunciando a sua descoberta do oxigénio líquido.[76] Apenas dois dias depois, o físico francês Louis Paul Cailletet anunciou o seu próprio método de liquefacção do oxigênio molecular.[76] Nos dois casos foram produzidas apenas algumas gotas do líquido, pelo que não foi possível realizar uma análise conclusiva. O oxigênio foi liquefeito de forma estável pela primeira vez a 29 de março de 1883 pelos cientistas polacos da Universidade Jaguelónica Zygmunt Wroblewski e Karol Olszewski.[77]

Em 1891, o químico escocês James Dewar conseguiu produzir uma quantidade suficiente de oxigênio líquido para poder estudá-lo. O primeiro processo comercialmente viável para a produção de oxigênio líquido foi desenvolvido em 1895 de forma independente pelos engenheiros Carl von Linde, alemão, e William Hampson, britânico. Ambos reduziram a temperatura do ar até que este se liquefizesse e, então, destilaram os componentes gasosos fazendo-os chegar à ebulição um a um e capturando-os. Mais tarde, em 1901, foi demonstrada pela primeira vez a soldadura de oxiacetileno ao queimar uma mistura de acetileno e O2 comprimido. Este método de soldagem e corte do metal veio mais tarde a tornar-se comum.[78] O físico William Thomson, em 1898, calculou que o oxigénio que permanece no planeta tem apenas cerca de 400 ou 500 anos, com base no ritmo de uso dos combustíveis fósseis na combustão.[79][80]

Em 1923, o cientista norte-americano Robert Goddard foi a primeira pessoa a desenvolver um motor de foguete, com uso de gasolina como combustível e oxigênio líquido como oxidante. Em 16 de março, conseguiu fazer voar um pequeno foguete propelido por combustível líquido ao longo de 56 m de altura a 97 km/h, em Auburn, Massachusetts.[78]

Acção biológica

Fotossíntese e respiração

O oxigénio respirado pelos organismos aeróbicos, liberado pelas plantas no processo de fotossíntese, participa na conversão de nutrientes em energia intracelular (ATP). O oxigénio molecular é o aceptor final de electrões da cadeia de transporte de electrões na respiração aeróbica celular. A redução dos níveis de oxigénio provoca hipoxemia, e a falta total dele ocasiona a anoxia, podendo provocar a morte do organismo.[81] Todas as espécies de cianobactérias que vivem hoje podem ser rastreadas até um ancestral comum que evoluiu há cerca de 2,9 bilhões de anos. Os ancestrais das cianobactérias se ramificaram de outras bactérias há cerca de 3,4 bilhões de anos, com a fotossíntese oxigenada provavelmente evoluindo durante meio bilhão de anos intermediários, no Éon Arqueano.[82]

De acordo com algumas estimativas, as algas verdes e as cianobactérias dos ambientes marinhos produzem cerca de 70% do oxigénio produzido na Terra, e as plantas terrestres são responsáveis pelo restante.[83] Outras estimativas apontam para uma contribuição oceânica na produção de oxigénio atmosférico ainda mais significativa, enquanto que outros estudos revelam números mais baixos, em torno dos 45% do oxigénio atmosférico total do planeta a cada ano.[84]

A fotossíntese divide a água para liberar O2 e liga o CO2 ao açúcar.

Uma fórmula genérica simplificada da fotossíntese é:[85]

6 CO2 + 6 H2O + fotões → C6H12O6 + 6 O2
dióxido de carbono + água + luz solar → glucose + dioxigénio

A evolução fotolítica do oxigénio ocorre nas membranas dos tilacoides dos organismos fotossintéticos e requer energia de quatro fotões.Predefinição:Efn Estão implicados muitos processos, mas o resultado é a formação de um gradiente de protões através da membrana tilacoidal, que é usado para a sintetização de adenosina trifosfato (ATP) por meio da fotofosforilação. O O2 remanescente, após a oxidação e rutura da molécula de água, é liberado para a atmosfera.[86]Predefinição:Efn

O dioxigénio molecular é essencial para a respiração celular em todos os organismos aeróbios. O oxigénio é utilizado nas mitocôndrias ​​para gerar adenosina trifosfato durante a fosforilação oxidativa. A equação para a respiração aeróbica é essencialmente o oposto da fotossíntese (embora o processo não seja exactamente o inverso, é muito diferente) e simplifica-se da seguinte forma:

C6H12O6 + 6 O2 → 6 CO2 + 6 H2O + 2880 kJ•mol−1

Nos vertebrados, o O2 difunde-se através das membranas pulmonares para o interior dos glóbulos vermelhos. A hemoglobina liga-se ao O2 alterando a sua cor de um vermelho azulado para um vermelho brilhante[23] (o CO2 libera-se de outra parte da hemoglobina através do efeito de Bohr). Outros animais utilizam a hemocianina (moluscos e alguns artrópodes) ou hemeritrina (aranhas e lagostas).[39] Um litro de sangue pode dissolver 200 cm³ de O2.[39]

As espécies reactivas de oxigénio, como o ião superóxido (O2-) e peróxido de hidrogénio, são subprodutos perigosos no uso de oxigénio em organismos.[39] Algumas partes do sistema imunológico de organismos mais avançados, no entanto, criam peróxido, superóxido e oxigénio singlete para destruir micróbios invasores. As espécies reativas de oxigénio também apresentam um papel importante na resposta de hipersensibilidade das plantas contra o ataque de agentes patogénicos.[86]

Um ser humano adulto em repouso respira em média 13,5 vezes por minuto - 1,8 a 2,4 gramas de oxigénio por minuto.Predefinição:Efn A soma total da quantidade inalada por cada pessoa no planeta produz um total de 6 000 milhões de toneladas de oxigénio por ano.[87]

Organismos vivos

Pressões parciais do oxigénio no corpo humano (PO2)
Unidade Pressão alveolar dos
gases pulmonares
Oxigénio do
sangue arterial
Gás sanguíneo
venoso
kPa Predefinição:Efn 14,2 >11 4,0-5,3
mmHg[88] 107 >79 30-40

O conteúdo de oxigénio livre expresso como pressão parcial no corpo dum organismo vertebrado vivo é normalmente maior no sistema respiratório e diminui ao longo de qualquer sistema arterial, tecidos periféricos e sistema venoso, respectivamente. A pressão parcial é a pressão que o oxigénio teria se ocupasse por si só o volume.[89]

Acumulação na atmosfera

A graph showing time evolution of oxygen pressure on Earth; the pressure increases from zero to 0.2 atmospheres.
Acumulação do O2 na atmosfera terrestre: 1) Sem produção de O2; 2) O2 produzido, mas absorvido em oceanos e rochas no fundo do mar; 3) O O2 começa a sair do oceano, mas é absorvido pela superfície terrestre e devido à formação da camada de ozono; 4-5) O O2 desce e o gás é acumulado.

O oxigénio gasoso não combinado era quase inexistente na atmosfera antes da evolução das bactérias e arqueas fotossintéticas. Surgiu pela primeira vez em quantidades significativas durante o éon Paleoproterozoico (entre 3000 e 2300 milhões de anos atrás).[90] Nos primeiros milhões de anos, o oxigénio combinou-se com ferro dissolvido nos oceanos para criar formações de ferro bandado. Os oceanos começaram a exalar oxigénio não combinado por volta de 3 000 e 2 700 milhões de anos, alcançando 10% do seu nível actual há cerca de 1 700 milhões de anos.[90][91]

A presença de grandes quantidades de oxigénio não combinado dissolvido nos oceanos e na atmosfera pode ter conduzido à extinção a maioria dos organismos anaeróbios que viviam na altura, durante a Grande oxidação (catástrofe do oxigénio) há cerca de 2 400 milhões de anos. Contudo, a utilização de O2 na respiração celular permite que os organismos aeróbios produzam muito mais ATP do que os anaeróbios, contribuindo para que os primeiros dominassem a biosfera da Terra.[92] A fotossíntese e respiração celular do O2 permitiram a evolução das células eucarióticas e, finalmente, o aparecimento de organismos multicelulares complexos como plantas e animais.

Desde o início do período Cambriano, há 540 milhões de anos, os níveis de O2 na atmosfera oscilaram entre 15% e 30% do volume.[93] Para fins do Carbonífero (há cerca de 300 milhões de anos) o nível de O2 na atmosfera atingiu um volume máximo de 35%,[93] o que pode ter contribuído para o desmesurado tamanho dos insetos e anfíbios daquela época.[94] As variações nos níveis de oxigénio ao longo da história foram alterando os diferentes climas. A diminuição dos níveis de oxigénio provocou uma queda na densidade da atmosfera, o que por sua vez aumentou a evaporação de água na superfície, dando lugar a um aumento de precipitações e temperaturas mais quentes.[95] A atividade humana, inclusive a combustão de 7 000 milhões de toneladas de combustível fóssil todos os anos, exerceu um impacto muito pequeno na quantidade de oxigénio combinado na atmosfera.[14] Com os níveis actuais da fotossíntese, demoraria cerca de 2 000 anos a regenerar a quantidade total de O2 na atmosfera atual.[96]

Produção industrial

Predefinição:VT

São utilizados principalmente dois métodos para produzir 100 milhões de toneladas de O2 extraídas do ar para aplicações industriais a cada ano.[71] O mais comum consiste na destilação fracionada do ar liquefeito nos seus diversos componentes, com o N2 destilado como vapor e O2 deixado como líquido.[71]

O outro método principal de obtenção de O2 gasoso consiste em passar uma corrente de ar limpo e seco através de um leito de crivos moleculares de zeólito, que adsorvem o nitrogénio e deixam passar um fluxo de gás que é entre 90 e 93% de O2.[71] Simultaneamente, o outro leito de zeólito saturado de nitrogénio libera este gás ao reduzir a pressão de operação da câmara e introduzir nela, no sentido inverso do fluxo, parte do oxigénio separado no leito produtor. Depois de cada ciclo completo, os leitos são intercambiados, permitindo um fornecimento constante de oxigénio. Isto é conhecido por adsorção por oscilação de pressão e utiliza-se para produzir oxigénio em pequena escala.[97]

O oxigénio também pode ser produzido através da eletrólise da água, decompondo-a em oxigénio e hidrogénio, para o qual deve ser usada uma corrente contínua; se se usasse uma corrente alternada os gases de cada extremidade consistiriam em hidrogénio e oxigénio na explosiva relação de 2:1. Contrariamente à crença popular, a relação 2:1 observada na eletrólise de corrente contínua da água acidificada não demonstra que a fórmula empírica da água seja H2O, a menos que se assumam certas premissas sobre a fórmula molecular do hidrogénio e oxigénio. Um método semelhante é a evolução electrocatalítica do O2 de óxidos e oxiácidos. Também podem ser utilizados catalisadores químicos, como em geradores químicos de oxigénio ou nas velas de oxigénio usadas no equipamento de apoio em submarinos e que ainda são parte do equipamento padrão em companhias aéreas comerciais para situações de despressurização. Outra tecnologia de separação do ar consiste em forçar a dissolução do ar através de membranas de cerâmica com base em dióxido de zircónio, seja por alta pressão ou por corrente elétrica, para produzir O2 gasoso praticamente puro.[45]

Armazenamento

O custo da energia necessária para liquefazer o ar envolve o principal custo de produção, pelo que o preço da produção de oxigeno varia em função do preço da energia. Por motivos económicos, é costume transportar oxigénio em grandes quantidades em estado líquido, armazenado em tanques especialmente isolados, uma vez que um litro de oxigénio líquido equivale a 840 litros de oxigénio gasoso à pressão atmosférica e 20 °C (68 °F).[71] Estas cisternas são usadas para encher os grandes contentores de oxigénio líquido que se encontram no exterior dos hospitais e demais instituições que necessitam de enormes quantidades de oxigénio gasoso puro. O oxigénio líquido é passado por uns permutadores de calor que convertem o líquido criogénico em gás antes de entrar no edifício. O oxigénio também é armazenado e transportado em cilindros que contêm o gás comprimido, sendo muito útil para determinadas aplicações médicas portáteis e oxicorte.[71]

Aplicações

Predefinição:VT

Medicina

Ver artigo principal: Oxigenoterapia
Um concentrador de oxigénio na casa de um paciente com enfisema

O propósito essencial da respiração consiste na absorção de O2 do ar e, em medicina, são utilizados suplementos de oxigénio. O tratamento não só aumenta os níveis de oxigénio no sangue do paciente, como também apresenta um efeito secundário de diminuir a resistência ao fluxo sanguíneo em muitos tipos de pulmões doentes, facilitando o trabalho de bombeamento do coração. A oxigenoterapia é utilizada para tratar o enfisema, a pneumonia, determinadas insuficiências cardíacas, certas desordens que causam uma elevada pressão arterial pulmonar e qualquer doença que afecte a capacidade do corpo para absorver e usar oxigénio gasoso.[98]

Os tratamentos são suficientemente flexíveis para ser usados em hospitais, na casa do paciente ou, cada vez mais comum, por meio de dispositivos portáteis. Assim, as tendas de oxigénio eram antes empregues como suplementos de oxigénio, mas foram substituídas pelas máscaras de oxigénio e cânulas nasais.[99]

A medicina hiperbárica (de alta pressão) utiliza câmaras especiais de oxigénio para aumentar a pressão parcial do O2 no paciente e, quando necessário, no pessoal médico.[100] A intoxicação por monóxido de carbono, a mionecrose (gangrena gasosa) e a síndrome de descompressão são por vezes tratadas com recurso a estes aparelhos.[101] O aumento da concentração de O2 nos pulmões ajuda a deslocar o monóxido de carbono do hemogrupo da hemoglobina.[102][103] O oxigénio é tóxico para a bactéria anaeróbica que provoca gangrena gasosa, de forma que aumentar a sua pressão parcial ajuda a acabar com elas.[104][105] A síndrome de descompressão ocorre em mergulhadores que saem demasiado rápido do mar, o que resulta na formação de bolhas de gás inerte no seu sangue, sobretudo de nitrogénio.[98][106][107]

O oxigénio é também utilizado clinicamente em pacientes que necessitam de ventilação mecânica, normalmente a concentrações superiores a 21% encontradas no ar ambiente. Para além disto, o isótopo 15O foi usado de forma experimental na tomografia por emissão de positrões.[108]

Suporte vital e uso recreativo

Nos trajes espaciais é utilizado O2 a baixa pressão.

Uma aplicação notável do O2 como gás respirável de baixa pressão encontra-se nos trajes espaciais modernos, que envolvem o corpo dos seus ocupantes com ar pressurizado. Estes dispositivos usam oxigénio quase puro a uma pressão de cerca de um terço da normal, resultando numa pressão parcial normal de O2 no sangue. Este intercâmbio de oxigénio de alta concentração para uma baixa pressão é necessária para manter a flexibilidade dos fatos espaciais.[109][110]

Os mergulhadores e os tripulantes de submarinos também utilizam O2 fornecido artificialmente, mas a maioria usa uma pressão normal ou uma mistura de oxigénio e ar. O uso de O2 puro ou quase puro em mergulho a pressões maiores que a atmosférica geralmente restringe-se a intervalos de descanso, descompressão e tratamentos de emergência a relativamente pouca profundidade (~ 6 metros ou menos). O mergulho a uma profundidade mais elevada requer uma diluição significativa de O2 com outros gases, como nitrogénio ou hélio, para ajudar a prevenir a toxicidade do oxigénio.[111][112]

Os alpinistas e os que viajam em aviões não pressurizados normalmente têm um suplemento de O2.Predefinição:Efn Os passageiros de aviões comerciais (pressurizados) possuem um fornecimento de O2 para situações de emergência, que é colocado automaticamente à sua disposição em caso de despressurização da cabine. Uma perda repentina de pressão na cabine ativa os geradores químicos de oxigénio em cada assento, pondo à disposição as máscaras de oxigénio. Assim que as máscaras caem, elas ficam presas por um cabo de acionamento. Quando a máscara é puxada, esse cabo aciona o gatilho do gerador de oxigénio, provocando uma reação exotérmica entre limalha de ferro e sal clorato de sódio, contidos no recipiente armazenador. O calor liberado aquece ainda mais o clorato restante, que se decompõe rapidamente, liberando oxigénio.[45]

O oxigénio, que provoca uma suave resposta de euforia quando inalado, tem toda uma história de uso recreativo em desportos e bares de oxigénio. Estes estabelecimentos apareceram no Japão, Califórnia e Las Vegas no final dos anos 1990, e oferecem exposições a níveis de O2 superiores ao normal em troca de uma determinada tarifa.[113] Aos atletas profissionais, especialmente em futebol americano, em algumas ocasiões, quando saem do campo durante os intervalos, é-lhes colocada uma máscara de oxigénio com o propósito de aumentar o seu desempenho no jogo. O efeito farmacológico é contudo duvidoso, sendo que a explicação mais viável a haver está normalmente associada ao efeito placebo.[113] Existem estudos que sustentam essa eventual estimulação e aumento do desempenho físico com misturas de O2 enriquecido, mas só quando inalado durante o exercício aeróbico.[114]

Indústria

A maior parte do O2 produzido com propósito comercial é utilizado para a fundição do ferro na produção do aço.

A fundição de minério de ferro na produção de aço consome 55% do oxigénio produzido comercialmente. Neste processo, o O2 é injetado com uma lança de alta pressão no ferro fundido, que remove as impurezas de enxofre e o excesso de carbono, na forma dos seus respectivos óxidos, SO2 e CO2. As reações são exotérmicas e a temperatura aumenta até aos 1700 Cº.[45]

Outros 25% deste oxigénio são utilizados pela indústria química. O etileno reage com o O2 para criar óxido de etileno, que, por sua vez, converte-se em etilenoglicol, o material usado como base para a fabricação de uma grande variedade de produtos, incluindo anticongelantes e polímeros de poliéster (os precursores de muitos plástico e têxteis).[45]

Os restantes 20% são em grande parte utilizados em aplicações medicinais, oxicorte, como oxidante em combustível de foguetes e no tratamento de águas.[45] O oxigénio é usado em soldadura oxiacetilénica queimando acetileno com O2 para produzir uma chama bastante quente. Neste processo, o metal, que pode ter até 60 centímetros de espessura, é aquecido primeiro com uma pequena chama de oxiacetileno para depois ser rapidamente cortado por um enorme jato de O2.[115]

Investigação

500 milhões de anos de alterações climáticas comparados com o nível de 18O.

Os paleoclimatólogos medem a relação entre o oxigénio-18 e o oxigénio-16 nos esqueletos e exoesqueletos dos organismos marinhos para determinar como era o clima há milhões de anos. As moléculas de água do mar que contêm o isótopo mais leve, o oxigénio-16, evaporam-se a um ritmo ligeiramente maior do que as moléculas que contêm oxigénio-18 (cerca de 12% mais pesado); esta disparidade aumenta a baixas temperaturas.[116] Em períodos com uma temperatura global mais baixa, a neve e a chuva procedentes dessa água evaporada tendem a ser mais ricas em oxigénio-16, enquanto que a água do mar deixada para trás tende a ser mais rica em oxigénio-18. Os organismos marinhos, portanto, incorporam mais oxigénio-18 nos seus esqueletos e exoesqueletos do que o fariam num ambiente mais quente. Os paleoclimatólogos também medem diretamente esta relação nas moléculas de água de amostras de núcleos de gelo que se conservaram durante várias centenas de milhares de anos.[116]

Os geólogos planetários mediram as diferenças na abundância de isótopos de oxigénio em amostras da Terra, Lua, Marte e meteoritos, mas não foram capazes de obter valores de referência para as relações entre isótopos do Sol, que se acredita serem iguais às da nebulosa protossolar. No entanto, a análise duma bolacha de silício exposta ao vento solar no espaço e devolvida à Terra pela sonda Genesis revelou que o Sol possui uma proporção de oxigénio-16 maior do que o nosso planeta. A medição permite-nos inferir que um processo desconhecido esgotou o oxigénio-16 do disco protoplanetário do Sol antes da fusão dos grãos de poeira que formaram a Terra.[117]

O oxigénio apresenta duas bandas de absorção espectrofotométrica com máximos em comprimentos de onda de 687 e 760 nanómetros. Alguns cientistas de deteção remota propuseram usar a medição da radiação proveniente dos dosseis de vegetação nessas bandas para caracterizar a saúde das plantas a partir de uma plataforma satélite. Esta aproximação explora o fato de que nessas bandas é possível distinguir a reflectividade da vegetação da sua fluorescência, que é muito mais fraca. A medição é tecnicamente difícil de se fazer devido à baixa relação sinal-ruído e à estrutura física da vegetação, mas tem sido encarada como um possível método de monitorização do ciclo do carbono a partir de satélites à escala global.[118]

Segurança e precauções

Toxicidade

Ver artigo principal: Efeito de Paul Bert
Os principais sintomas da toxicidade do oxigénio.[119]
A toxicidade do oxigénio ocorre quando os pulmões sustêm uma pressão parcial do O2 maior do que o normal, o que pode acontecer durante o mergulho.

O oxigénio gasoso pode ser tóxico a pressões parciais elevadas, produzindo convulsões e outros problemas de saúde.[111]Predefinição:Efn[120] A toxicidade geralmente começa a aparecer com pressões parciais de mais de 50 kPa ou 2,5 vezes a pressão parcial do O2 ao nível do mar (21 kPa; igual a cerca de 50% da composição do oxigénio sob pressão normal). Isto não é um problema, excepto para os doentes com ventilação mecânica, porque o gás administrado através das máscaras de oxigénio é tipicamente composto por apenas 30%-50% de O2 por volume (cerca de 30 kPa na pressão normal), embora estes números variem significativamente dependendo do tipo de máscara.[30]

No passado, os bebés prematuros eram colocados em incubadoras que continham ar rico em O2, mas esta prática foi descontinuada depois de algumas destas crianças terem perdido a visão.[30][121]

A respiração de O2 puro em aplicativos espaciais, como nalguns trajes aeroespaciais modernos ou em naves pioneiras como a Apollo, não é prejudicial devido às baixas pressões totais utilizadas. No caso dos fatos, a pressão parcial do O2 no gás respiratório encontra-se, geralmente, cerca de 30 kPa (1,4 vez o normal) e a pressão parcial resultante no sangue arterial do astronauta é apenas ligeiramente maior do que a pressão normal ao nível do mar.[109][122] (para mais informações vide traje espacial e gasometria arterial).

A toxicidade do oxigénio para os pulmões e sistema nervoso central também pode ocorrer no mergulho profundo e no mergulho profissional.[30][111] A respiração prolongada duma mistura de ar com uma pressão parcial de O2 superior a 60 kPa pode dar origem a uma fibrose pulmonar permanente.[123]

A exposição a pressões parciais superiores a 160 kPa (~ 1,6 atmosfera) pode causar convulsões, normalmente fatais para os mergulhadores. A toxicidade aguda pode ser produzida ao respirar uma mistura de ar com mais de 21% de O2 a 66 ou mais metros de profundidade; o mesmo pode acontecer ao respirar 100% de O2 a apenas 6 metros.[123][124][125][126]

Combustão e outros riscos

O interior do módulo de comando do Apollo 1. O O2 puro a uma pressão maior do que o normal e uma faísca produziram um incêndio e, por conseguinte, a morte da tripulação da nave.

As fontes ricas em oxigénio na presença de materiais combustíveis são altamente susceptíveis de provocar a rápida combustão. Os riscos de fogo e explosão dão-se quando os oxidantes concentrados e os combustíveis estão demasiado próximos; no entanto, a ignição, seja pelo calor ou por uma faísca, é necessária para desencadear a combustão.[21][127] O mesmo acontece se as fontes de oxigénio forem cloratos, percloratos, dicromatos etc.; estes compostos com alto poder oxidante podem provocar também queimaduras químicas. O oxigénio por si só não é um combustível, mas um oxidante. Os riscos de combustão também se aplicam a compostos de oxigénio de alto potencial oxidante, como os peróxidos, cloratos, nitratos, percloratos e dicromatos, porque podem doar oxigénio ao fogo.[21][22]

O O2 concentrado permite uma combustão rápida e enérgica.[127] Os tubos e os recipientes de aço usados para armazenar e transportar tanto o oxigénio líquido como o gasoso actuam como combustível; à vista disso, o desenho e fabricação dos sistemas de O2 requerem uma atenção especial para assegurar que as fontes de ignição sejam minimizadas.[127] O incêndio que acabou com a vida da tripulação do Apollo 1 em 1967 num ensaio na plataforma de lançamento alastrou-se tão rapidamente porque a cápsula estava pressurizada com O2 puro, mas a uma pressão ligeiramente maior do que a pressão atmosférica, em vez duma pressão de 1/3 da normal que deveria ter sido usada na missão.Predefinição:Efn[128]

No caso dum derrame de oxigénio líquido, se este for embebido em matéria orgânica como madeira, produtos petroquímicos e asfalto estes materiais podem detonar imprevisivelmente ao sofrer um subsequente impacto mecânico. Tal como acontece com outros líquidos criogénicos, em contacto com o corpo humano pode provocar o congelamento da pele e dos olhos.[127]

Notas

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Referências

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Predefinição:Bibliografia sobre o Oxigénio

Ligações externas

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