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{{minidesambiguação|pela peça de teatro|D. Maria, a Louca}} | {{minidesambiguação|pela peça de teatro|D. Maria, a Louca}} | ||
{{Mais notas|data=julho de 2019}} | |||
{{Info/Nobre | {{Info/Nobre | ||
| nome | | nome = Maria I | ||
| título | | título = A Piedosa, A Louca | ||
| imagem | | imagem = Maria I, Queen of Portugal - Giuseppe Troni, atribuído (Turim, 1739-Lisboa, 1810) - Google Cultural Institute.jpg | ||
| imgw | | legenda = Retrato por [[Giuseppe Troni]] (1783) | ||
| sucessão | | imgw = 250px | ||
| reinado | | sucessão = [[Lista de monarcas de Portugal|Rainha de Portugal e dos Algarves]] | ||
| coroação | | reinado = {{dtlink|24|2|1777}}<br/>a {{dtlink|20|3|1816}} | ||
| tipo-cor | | coroação = {{dtlink|13|5|1777}} | ||
| predecessor | | tipo-cor = Aclamação | ||
| tipo-pre | | predecessor = [[José I de Portugal|José I]] | ||
| sucessor | | tipo-pre = Predecessor | ||
| tipo-suc | | sucessor = [[João VI de Portugal|João VI]] | ||
| regente | | tipo-suc = Sucessor | ||
| regente = [[João VI de Portugal|João, Príncipe Regente]]<br/>{{small|(1792–1816)}} | |||
| sucessão2 = [[Lista de monarcas do Brasil|Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves]] | |||
| sucessão2 | | reinado2 = {{dtlink|16|12|1815}}<br/>a {{dtlink|20|3|1816}} | ||
| reinado2 | | sucessor2 = [[João VI de Portugal|João VI]] | ||
| sucessor2 | | regente2 = [[João VI de Portugal|João, Príncipe Regente]] | ||
| regente2 | | cônjuge = [[Pedro III de Portugal]] | ||
| cônjuge | | tipo-cônjuge = Marido | ||
| tipo-cônjuge | | descendência = [[José, Príncipe do Brasil]]<br/>[[João VI de Portugal]]<br/>[[Maria Ana Vitória Josefa de Bragança|Maria Ana Vitória de Portugal]] | ||
| descendência | | nome completo = Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana | ||
| nome completo | | casa = [[Dinastia de Bragança|Bragança]] | ||
| casa | | pai = [[José I de Portugal]] | ||
| pai | | mãe = [[Mariana Vitória de Bourbon|Mariana Vitória da Espanha]] | ||
| mãe | | data de nascimento = {{dni|17|12|1734|lang=br|si}} | ||
| data de nascimento | | local de nascimento = [[Paço da Ribeira]], [[Lisboa]], [[Estremadura]], [[Reino de Portugal|Portugal]] | ||
| local de nascimento | | data da morte = {{nowrap|{{morte|20|3|1816|17|12|1734}}}} | ||
| data da morte | | local da morte = [[Convento do Carmo (Rio de Janeiro)|Convento do Carmo]], [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], [[Capitania do Rio de Janeiro|Rio de Janeiro]], [[Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves|Brasil]] | ||
| local da morte | | local de enterro = [[Basílica da Estrela]], [[Lisboa]], [[Portugal]] | ||
| local de enterro | | religião = [[Igreja Católica|Catolicismo]] | ||
| religião | | assinatura = Assinatura D. Maria Primeira.svg | ||
| assinatura | | brasão = Coat of Arms of the Kingdom of Portugal 1640-1910 (3).svg | ||
}} | }} | ||
'''Maria I''' ([[Lisboa]], {{dtlink|17|12|1734}} – [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], {{dtlink|20|3|1816}}), apelidada de "a Piedosa" e "a Louca", foi a [[Lista de monarcas de Portugal|Rainha de Portugal e Algarves]] de 1777 até 1815, e também Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves a partir do final de 1815 até sua morte. De 1792 até sua morte, seu filho mais | '''D. Maria I''' ([[Lisboa]], {{dtlink|17|12|1734}} – [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], {{dtlink|20|3|1816}}), apelidada de "a Piedosa" e "a Louca", foi a [[Lista de monarcas de Portugal|Rainha de Portugal e Algarves]] de 1777 até 1815, e também Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves a partir do final de 1815 até sua morte. De 1792 até sua morte, seu filho mais novo [[João VI de Portugal|João]] atuou como regente do reino em seu nome devido à sua doença mental. Era a filha mais velha do rei [[José I de Portugal|José I]] e sua esposa a infanta [[Mariana Vitória de Bourbon|Mariana Vitória da Espanha]]. | ||
== Biografia == | == Biografia == | ||
[[File:D.Mara.II - A Pia.png|thumb|left|180px|''Dona Maria I, Rainha de Portugal'', por | [[File:D.Mara.II - A Pia.png|thumb|left|180px|''Dona Maria I, Rainha de Portugal'', por José Leandro de Carvalho, 1808.]] | ||
[[File:Retrato da Infanta D. Maria Francisca Isabel Josefa.jpg|thumb|esquerda|180px|''Maria Francisca, Princesa da Beira, Duquesa de Barcelos'' (1739), Francesco Pavona.]] | [[File:Retrato da Infanta D. Maria Francisca Isabel Josefa.jpg|thumb|esquerda|180px|''D. Maria Francisca, Princesa da Beira, Duquesa de Barcelos'' (1739), Francesco Pavona.]] | ||
===Nascimento=== | ===Nascimento=== | ||
Maria nasceu a {{dtlink|17|12|1734}} no [[Paço da Ribeira]], em [[Lisboa]], [[Reino de Portugal|Portugal]]. Seu nome completo era ''Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança''. Foi a | D. Maria nasceu a {{dtlink|17|12|1734}} no [[Paço da Ribeira]], em [[Lisboa]], [[Reino de Portugal|Portugal]]. Seu nome completo era ''Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança''. Foi a primeira filha de D. [[José I de Portugal|José de Bragança]], então [[Príncipe do Brasil]], e sua esposa [[Mariana Vitória de Bourbon]], Infanta de Espanha. | ||
Quando o seu pai subiu ao trono em [[1750]] como D. José I, Maria tornou-se sua [[herdeira presuntiva]] e recebeu os títulos tradicionais de [[Princesa do Brasil]] e [[Duquesa de Bragança]]. | Quando o seu pai subiu ao trono em [[1750]] como D. José I, D. Maria tornou-se sua [[herdeira presuntiva]] e recebeu os títulos tradicionais de [[Princesa do Brasil]] e [[Duquesa de Bragança]]. | ||
=== Casamento === | === Casamento === | ||
A continuidade dinástica da [[Casa de Bragança]] ficou assegurada com o seu casamento com o tio [[Pedro III de Portugal|Pedro de Bragança]], que subiria ao trono como Pedro III de Portugal. O casamento foi realizado na [[Real Barraca]] da Ajuda a 6 de junho de 1760.<ref>Lusitania Sacra - 2a Série - Tomo 5 (1993) - Página 179</ref> | A continuidade dinástica da [[Casa de Bragança]] ficou assegurada com o seu casamento com o tio [[Pedro III de Portugal|Pedro de Bragança]], que subiria ao trono como Pedro III de Portugal. O casamento foi realizado na [[Real Barraca]] da Ajuda a 6 de junho de 1760.<ref>Lusitania Sacra - 2a Série - Tomo 5 (1993) - Página 179</ref> Anteriormente, pensara-se em casá-la com o seu tio, o [[Luís, Conde de Chinchón|Infante Luís de Espanha]],<ref>{{citar livro|título=A Rainha Discreta: Mariana Vitória de Bourbon|ultimo=BRAGA|primeiro=Paulo Drumond|editora=Círculo de Leitores|ano=2014|local=|página=153|páginas=}}</ref> e com [[José II do Sacro Império Romano-Germânico|José II, Imperador do Sacro Império Romano]]. | ||
=== Reinado === | === Reinado === | ||
Embora D.Maria I seja tradicionalmente reconhecida como a primeira [[Rainha (título)#Rainha reinante|Rainha reinante]] em Portugal, isso é questionável, visto que à luz de uma nova perspectiva da história,[[Teresa de Leão]] já havia sido reconhecida como tal pelo [[papa]], em [[1112]]. Seu primeiro acto como rainha, iniciando um período que ficou conhecido como a [[Viradeira]], foi a demissão e exílio da corte do [[Sebastião José de Carvalho e Melo|marquês de Pombal]], a quem nunca perdoara a forma brutal como tratou a família '''Távora''' durante o [[Processo dos Távoras]]. Rainha amante da paz, dedicada a obras sociais, concedeu [[Direito de asilo|asilo]] a numerosos aristocratas franceses fugidos ao [[Terror (Revolução Francesa)|Terror]] da [[Revolução Francesa]] ([[1789]]-[[1799]]). Era, no entanto, dada a [[melancolia]] e fervor religioso de natureza tão impressionável que quando ladrões entraram em uma igreja e espalharam hóstias pelo chão, decretou nove dias de luto, adiou os negócios públicos e acompanhou a pé, com uma vela, a procissão de penitência que percorreu Lisboa. | |||
A [[5 de janeiro]] de [[1785]] promulgou um [[ | O seu reinado foi de grande actividade legislativa, comercial e diplomática, na qual se pode destacar o tratado de comércio que assinou com a [[Prússia]] em [[1789]]. Desenvolveu a cultura e as ciências, com o envio de missões científicas a [[Angola]], [[Brasil]], [[Cabo Verde]] e [[Moçambique]], e a fundação de várias instituições, entre elas a [[Academia Real das Ciências de Lisboa]] e a [[Biblioteca Nacional de Portugal|Real Biblioteca Pública da Corte]]. No âmbito da assistência, fundou a [[Casa Pia de Lisboa]]. Fundou ainda a [[Academia Real de Marinha]] para formação de oficiais da Armada. | ||
A [[5 de janeiro]] de [[1785]] promulgou um [[Alvará de 1785|alvará impondo pesadas restrições]]<ref>[http://pt.wikisource.org/wiki/Alvar%C3%A1_de_D._Maria_I_sobre_a_ind%C3%BAstria_no_Brasil Alvará de D. Maria I sobre a indústria no Brasil]</ref> à atividade [[História da industrialização no Brasil|industrial]] no Brasil; como por exemplo proibia a fabricação de tecidos e outros produtos. Durante seu reinado ocorreu o processo, condenação e execução do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o [[Tiradentes]]. | |||
=== Regência do filho === | === Regência do filho === | ||
Mentalmente instável, desde 10 de fevereiro de [[1792]] foi obrigada a aceitar que o filho tomasse conta dos assuntos de Estado. Obcecada com as penas eternas que o pai estaria sofrendo no inferno, por ter permitido a [[Sebastião José de Carvalho e Melo|Pombal]] perseguir os [[Companhia de Jesus|jesuítas]], o via como "um monte de carvão calcinado". | Mentalmente instável, desde 10 de fevereiro de [[1792]] foi obrigada a aceitar que o filho tomasse conta dos assuntos de Estado. Obcecada com as penas eternas que o pai estaria sofrendo no inferno, por ter permitido a [[Sebastião José de Carvalho e Melo|Pombal]] perseguir os [[Companhia de Jesus|jesuítas]], o via como "um monte de carvão calcinado". | ||
Para tratá-la veio de Londres o Dr. Willis, [[psiquiatra]] e médico real de [[Jorge III do Reino Unido|Jorge III]], enlouquecido em 1788, mas de nada adiantaram seus "remédios evacuantes". [[File:4 escudos en or à l'effigie de Marie I et Pierre III, 1785.jpg|thumb|right|Moeda com as efígies de Maria I e Pedro III| | Para tratá-la veio de Londres o Dr. Willis, [[psiquiatra]] e médico real de [[Jorge III do Reino Unido|Jorge III]], enlouquecido em 1788, mas de nada adiantaram seus "remédios evacuantes". [[File:4 escudos en or à l'effigie de Marie I et Pierre III, 1785.jpg|thumb|right|Moeda com as efígies de D. Maria I e Pedro III|272x272px]]Em [[1799]], sua instabilidade mental se agravou com os lutos pelo seu marido [[Pedro III de Portugal|Pedro III]] (1786) e seu filho, o príncipe herdeiro [[José, Duque de Bragança|José]], [[Duque de Bragança]], [[Príncipe da Beira]], [[Príncipe do Brasil]], morto aos 27 anos (1788), a marcha da [[Revolução Francesa]], e execução do Rei [[Luís XVI de França]] na [[guilhotina]]. Por isso, João, seu segundo filho e herdeiro, que futuramente se tornaria [[João VI de Portugal|João VI]] de Portugal, assumiu a regência. | ||
=== Ida para o Brasil === | === Ida para o Brasil === | ||
[[File:Painting of Dona Maria I held at the Instituto Histórico Geográfico da Bahia.jpg|thumb|''Retrato da Rainha | [[File:Painting of Dona Maria I held at the Instituto Histórico Geográfico da Bahia.jpg|thumb|''Retrato da Rainha D. Maria I'', {{circa|1777}}.|332x332px]] | ||
{{AP|Transferência da corte portuguesa para o Brasil}} | {{AP|Transferência da corte portuguesa para o Brasil}} | ||
A Família Real Portuguesa transfere-se para o [[Brasil]] devido ao receio de ser deposta, à semelhança do que ocorrera nos países recentemente invadidos pelas tropas [[Primeiro Império Francês|francesas]]: [[Napoleão]] acumula o título de rei de [[Itália]], dando o título de rei de Nápoles ao seu irmão [[José Bonaparte]], a quem posteriormente situou no trono da Espanha; nos [[Países Baixos]] a coroa é dada a seu irmão Luís Bonaparte ([[Luís I da Holanda]]). Em 1801, o primeiro-ministro de Espanha, [[Manuel Godoy]] apoiado por [[Napoleão]] invadiu Portugal por breves meses e, no subsequente [[Tratado de Badajoz (1801)|Tratado de Badajoz]], [[Olivença]] passou para a coroa de [[Espanha]], mais tarde também ocupada pelos franceses. Portugal continuou a fazer frente à França e, ao recusar-se a cumprir o bloqueio naval às Ilhas Britânicas, foi | A Família Real Portuguesa transfere-se para o [[Brasil]] devido ao receio de ser deposta, à semelhança do que ocorrera nos países recentemente invadidos pelas tropas [[Primeiro Império Francês|francesas]]: [[Napoleão]] acumula o título de rei de [[Itália]], dando o título de rei de Nápoles ao seu irmão [[José Bonaparte]], a quem posteriormente situou no trono da Espanha; nos [[Países Baixos]] a coroa é dada a seu irmão Luís Bonaparte ([[Luís I da Holanda]]). Em 1801, o primeiro-ministro de Espanha, [[Manuel Godoy]] apoiado por [[Napoleão]] invadiu Portugal por breves meses e, no subsequente [[Tratado de Badajoz (1801)|Tratado de Badajoz]], [[Olivença]] passou para a coroa de [[Espanha]], mais tarde também ocupada pelos franceses. Portugal continuou a fazer frente à França e, ao recusar-se a cumprir o bloqueio naval às Ilhas Britânicas, foi iniciada a [[Primeira invasão francesa de Portugal]], pela coligação franco-espanhola liderada pelo [[Jean-Andoche Junot|Marechal Junot]]. A família real transfere-se para o [[Brasil]] a [[29 de Novembro]] de [[1807]] deixando [[Portugal]] a mercê do invasor. Junot invade Lisboa sendo nomeado governador de Portugal. A [[1 de Agosto]] de [[1808]], o [[Duque de Wellington]] desembarca em Portugal e tem início a [[Guerra Peninsular]]. Entre 1809 e 1810, o exército luso-britânico lutou contra as forças invasoras de Napoleão, nomeadamente na [[Batalha do Buçaco]]. Quando Napoleão foi derrotado em [[1815]], Maria e a família real encontravam-se ainda no Brasil. Dos membros da realeza, porém, foi a que se manteve mais calma, chegando a declarar: ''Não corram tanto, vão pensar que estamos a fugir''. | ||
=== Morte === | === Morte === | ||
[[Ficheiro:Tomb of Maria I - Basílica da Estrela - Lisbon.JPG|thumb|left|Túmulo de Maria I na [[Basílica da Estrela]], em [[Lisboa]]]] | [[Ficheiro:Tomb of Maria I - Basílica da Estrela - Lisbon.JPG|thumb|left|Túmulo de D. Maria I na [[Basílica da Estrela]], em [[Lisboa]]|182x182px]] | ||
D. Maria viveu no Brasil por oito anos, sempre em estado de incapacitação. Ela morreu no [[Convento do Carmo (Rio de Janeiro)|Convento do Carmo]], na cidade do [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], em {{dtlink|20|03|1816}}, aos 81 anos de idade. Após as cerimónias fúnebres, seu corpo foi sepultado no [[Convento da Ajuda]], também no Rio. Com sua morte, o Príncipe Regente D. João foi [[Aclamação real|aclamado]] Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. | |||
Em [[1821]], após o retorno da Família Real para Portugal, seus restos mortais foram transladados para [[Lisboa]] e sepultados em um mausoléu na [[Basílica da Estrela]], igreja que ela mesma mandou erguer. | Em [[1821]], após o retorno da Família Real para Portugal, seus restos mortais foram transladados para [[Lisboa]] e sepultados em um mausoléu na [[Basílica da Estrela]], igreja que ela mesma mandou erguer. | ||
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{{Info/Estilos reais | {{Info/Estilos reais | ||
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| imagem = [[Ficheiro: | | imagem = [[Ficheiro:Full arms of the United Kingdom Portugal Brazil and Algarves.svg|100px]] | ||
| legenda = Brasão de armas do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815-1822) | | legenda = Brasão de armas do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815-1822) | ||
| estilo = ''[[Sua Majestade Fidelíssima]]'' | | estilo = ''[[Sua Majestade Fidelíssima]]'' | ||
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{{Artigo principal|Lista de títulos e honrarias da Coroa Portuguesa}} | {{Artigo principal|Lista de títulos e honrarias da Coroa Portuguesa}} | ||
=== Títulos e estilos === | === Títulos e estilos === | ||
* 17 de Dezembro de 1734 – 31 de Julho de 1750: "[[Sua Alteza Real]], a Princesa da Beira, Duquesa de Barcelos" | * 17 de Dezembro de 1734 – 31 de Julho de 1750: "[[Sua Alteza Real]], a Princesa da Beira, Duquesa de Barcelos"; | ||
* 31 de Julho de 1750 – 24 de Fevereiro de 1777: "Sua Alteza Real, a Princesa do Brasil, Duquesa de Bragança, etc." | * 31 de Julho de 1750 – 24 de Fevereiro de 1777: "Sua Alteza Real, a Princesa do Brasil, Duquesa de Bragança, etc."; | ||
* 24 de Fevereiro de 1777 – 20 de Março de 1816: "[[Sua Majestade Fidelíssima]], a Rainha" | * 24 de Fevereiro de 1777 – 20 de Março de 1816: "[[Sua Majestade Fidelíssima]], a Rainha". | ||
O estilo oficial de D. Maria I, desde a sua Aclamação até 1815 foi: "D. Maria, pela Graça de Deus, Rainha de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhora da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc." Com a criação do [[Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves]], em 1815, o seu estilo evoluiu para: "D. Maria, pela Graça de Deus, Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhora da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc." | O estilo oficial de D. Maria I, desde a sua [[Aclamação de Maria I de Portugal|Aclamação]] até 1815 foi: "D. Maria, pela Graça de Deus, Rainha de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhora da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc." Com a criação do [[Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves]], em 1815, o seu estilo evoluiu para: "D. Maria, pela Graça de Deus, Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhora da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.". | ||
=== Honrarias === | === Honrarias === | ||
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| [[File:Retrato do Príncipe José do Brasil.jpg|100px|alt=Retrato de uma jovem de peruca empoada e vestindo um casaco verde, e um colete dourado sob uma couraça de armadura. Com a Cruz de Cristo ao peito, apoia a mão esquerda num elmo sobre uma mesa e a esquerda na anca. Veste um manto de veludo vermelho, com forro de arminho.]] | | [[File:Retrato do Príncipe José do Brasil.jpg|100px|alt=Retrato de uma jovem de peruca empoada e vestindo um casaco verde, e um colete dourado sob uma couraça de armadura. Com a Cruz de Cristo ao peito, apoia a mão esquerda num elmo sobre uma mesa e a esquerda na anca. Veste um manto de veludo vermelho, com forro de arminho.]] | ||
| 21 de Agosto de 1761 – <br /> 11 de Setembro de 1788 | | 21 de Agosto de 1761 – <br /> 11 de Setembro de 1788 | ||
| Recebeu o título de [[Príncipe da Beira]] ao nascer, título criado pelo [[José I de Portugal|seu avô materno]] especialmente para si. Desposou a tia materna, a [[Maria Francisca Benedita de Bragança|Infanta Maria Francisca Benedita]], de quem tinha quinze anos de diferença de idade; do casamento não houve descendência. Tornando-se [[Príncipe do Brasil]] e [[herdeiro aparente]] ao trono com a Aclamação da sua mãe, D. José faleceu prematuramente de [[varíola]]. | | Recebeu o título de [[Príncipe da Beira]] ao nascer, título criado pelo [[José I de Portugal|seu avô materno]] especialmente para si. Desposou a tia materna, a [[Maria Francisca Benedita de Bragança|Infanta Maria Francisca Benedita]], de quem tinha quinze anos de diferença de idade; do casamento não houve descendência, tirando dois abortos: um em 1781 e outro em em 1786. Tornando-se [[Príncipe do Brasil]] e [[herdeiro aparente]] ao trono com a [[Aclamação da rainha]] sua mãe, D. José faleceu prematuramente de [[varíola]]. | ||
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! scope="row" | D. João Francisco de Paula Domingos António Carlos Cipriano de Bragança | ! scope="row" | D. João Francisco de Paula Domingos António Carlos Cipriano de Bragança | ||
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| Tornou-se [[Príncipe do Brasil]] e [[herdeiro aparente]] do trono, com a morte precoce dos irmãos mais velhos. Governou como Príncipe Regente, desde a declaração de incapacidade mental da Rainha D. Maria I em 1792, e tornou-se [[Lista de reis de Portugal|Rei de Portugal]] entre 1816 e 1826. | | Tornou-se [[Príncipe do Brasil]] e [[herdeiro aparente]] do trono, com a morte precoce dos irmãos mais velhos. Governou como Príncipe Regente, desde a declaração de incapacidade mental da Rainha D. Maria I em 1792, e tornou-se [[Lista de reis de Portugal|Rei de Portugal]] entre 1816 e 1826. | ||
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! scope="row" | [[ | ! scope="row" | [[Mariana Vitória de Bragança|Infanta D. Mariana Vitória]] | ||
|[[ | |[[File:Mariana Vitória de Bragança, infanta de Portugal e Espanha.jpg|100px|]] | ||
| 15 de Dezembro de 1768 – <br /> 2 de Novembro de 1788 | | 15 de Dezembro de 1768 – <br /> 2 de Novembro de 1788 | ||
| Nascida no [[Palácio Real de Queluz|Palácio de Queluz]] a [[15 de Dezembro]] de [[1768]], morta em [[San Lorenzo de El Escorial]] em [[2 de Novembro]] de [[1788]], tendo tido dois filhos e uma filha. Casou-se com [[Gabriel de Bourbon|Gabriel António Francisco Xavier João Nepomuceno José Serafim Pascoal Salvador de Bourbon e Saxe]], [[Infante de Espanha]], nascido em [[Portici]] a [[12 de maio]] de [[1752]] e morreu no Escorial a [[23 de Novembro]] de [[1788]], quarto filho de [[Carlos III de Espanha|Carlos III]], [[Lista de reis de Espanha|rei da Espanha]] e de sua esposa [[Maria Amália da Saxônia|Maria Amália de Saxe]]. | | Nascida no [[Palácio Real de Queluz|Palácio de Queluz]] a [[15 de Dezembro]] de [[1768]], morta em [[San Lorenzo de El Escorial]] em [[2 de Novembro]] de [[1788]], tendo tido dois filhos e uma filha. Casou-se com [[Gabriel de Bourbon|Gabriel António Francisco Xavier João Nepomuceno José Serafim Pascoal Salvador de Bourbon e Saxe]], [[Infante de Espanha]], nascido em [[Portici]] a [[12 de maio]] de [[1752]] e morreu no Escorial a [[23 de Novembro]] de [[1788]], quarto filho de [[Carlos III de Espanha|Carlos III]], [[Lista de reis de Espanha|rei da Espanha]] e de sua esposa [[Maria Amália da Saxônia|Maria Amália de Saxe]]. | ||
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|1= '''Maria I de Portugal''' | |1= '''D. Maria I de Portugal''' | ||
|2= [[José I de Portugal]] | |2= [[José I de Portugal]] | ||
|3= [[Mariana Vitória de Bourbon|Mariana Vitória da Espanha]] | |3= [[Mariana Vitória de Bourbon|Mariana Vitória da Espanha]] | ||
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== Na cultura popular == | == Na cultura popular == | ||
A Rainha Maria I já foi retratada como [[personagem]] no [[cinema]], [[televisão]] e no [[teatro]], interpretada por [[Rita Cléos]] na [[novela]] ''[[Dez Vidas]]'' (1969), [[Maria Fernanda (atriz)|Maria Fernanda]] no [[filme]] ''[[Carlota Joaquina, Princesa do Brasil]]'' (1995), [[Eva Wilma]] na [[minissérie]] ''[[O Quinto dos Infernos]]'' (2002) e [[Maria Emília Correia]] na minissérie ''[[Bocage Bocage]]'' (2006). No [[Resultados do Carnaval do Rio de Janeiro em 2008|carnaval do Rio de Janeiro em 2008]], foi representada no desfile da escola de samba [[São Clemente (escola de samba)|São Clemente]] | A Rainha D. Maria I já foi retratada como [[personagem]] no [[cinema]], [[televisão]] e no [[teatro]], interpretada por [[Rita Cléos]] na [[novela]] ''[[Dez Vidas]]'' (1969), [[Maria Fernanda (atriz)|Maria Fernanda]] no [[filme]] ''[[Carlota Joaquina, Princesa do Brasil]]'' (1995), [[Eva Wilma]] na [[minissérie]] ''[[O Quinto dos Infernos]]'' (2002) e [[Maria Emília Correia]] na minissérie ''[[Bocage Bocage]]'' (2006). No [[Resultados do Carnaval do Rio de Janeiro em 2008|carnaval do Rio de Janeiro em 2008]], foi representada no desfile da escola de samba [[São Clemente (escola de samba)|São Clemente]] pela atriz [[Rogéria]], em enredo sobre o rei [[João VI de Portugal|João VI]]. Em 2011, no teatro, a atriz [[Maria do Céu Guerra]] é ''[[D. Maria, A Louca]]'' de um texto do autor brasileiro [[Antônio Cunha]], apresentado pela companhia portuguesa [[A Barraca]]. | ||
Uma versão altamente ficcionalizada da rainha Maria I é a protagonista da ''[[opéra-comique]]'' ''Les diamants de la couronne'' (1841), pelo compositor [[Daniel Auber]], com ''[[libretto]]'' de [[Eugène Scribe]] e Jules-Henri Vernoy de Saint-Georges; figurando igualmente na adaptação a [[zarzuela]] de Francisco Asenjo Barbieri, ''Los diamantes de la corona'' (1854), esta com ''libretto'' de Francisco Camprodón. Na ópera, Maria é menor aquando da morte do seu pai, sendo o país governado por um Conselho de Regência liderado pelo Conde de Campo Mayor. Maria toma o nome de "Catalina" e, sem ninguém o saber, lidera um grupo de bandidos com o intuito de vender as jóias da coroa, substituindo-as por falsificações, para trazer solvência fiscal ao Estado. No final, durante a sua coroação, Maria usa a sua astúcia para evitar a determinação do Conselho de Regência que a obrigaria a casar com um filho de rei de Espanha e, ao invés, casa com o Marquês de Sandoval, que havia sido assaltado pelos bandidos e se havia enamorado pela beleza de "Catalina", chefe da quadrilha.<ref>Francisco Asenjo Barbieri. Los diamantes de la corona. Ed de Emilio Casares. Ediciones y publicaciones de Autor SRL. Teatro de la Zarzuela. Madrid. 2010</ref> | Uma versão altamente ficcionalizada da rainha D. Maria I é a protagonista da ''[[opéra-comique]]'' ''Les diamants de la couronne'' (1841), pelo compositor [[Daniel Auber]], com ''[[libretto]]'' de [[Eugène Scribe]] e Jules-Henri Vernoy de Saint-Georges; figurando igualmente na adaptação a [[zarzuela]] de Francisco Asenjo Barbieri, ''Los diamantes de la corona'' (1854), esta com ''libretto'' de Francisco Camprodón. Na ópera, D. Maria é menor aquando da morte do seu pai, sendo o país governado por um Conselho de Regência liderado pelo Conde de Campo Mayor. D. Maria toma o nome de "Catalina" e, sem ninguém o saber, lidera um grupo de bandidos com o intuito de vender as jóias da coroa, substituindo-as por falsificações, para trazer solvência fiscal ao Estado. No final, durante a sua coroação, D. Maria usa a sua astúcia para evitar a determinação do Conselho de Regência que a obrigaria a casar com um filho de rei de Espanha e, ao invés, casa com o Marquês de Sandoval, que havia sido assaltado pelos bandidos e se havia enamorado pela beleza de "Catalina", chefe da quadrilha.<ref>Francisco Asenjo Barbieri. Los diamantes de la corona. Ed de Emilio Casares. Ediciones y publicaciones de Autor SRL. Teatro de la Zarzuela. Madrid. 2010</ref> | ||
===Maria-vai-com-as-outras=== | ===Maria-vai-com-as-outras=== | ||
O termo "maria-vai-com-as-outras" é muito popular na lusofonia, onde é usado para designar uma pessoa fraca, sem opinião própria, que se deixa levar pelos outros. Segundo o pesquisador [[Brasil Gerson]], autor do livro ''Histórias das Ruas do Rio'', o termo foi cunhado a partir da figura da rainha Maria I, que viveu seus últimos anos no [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]]. Declarada mentalmente incapaz desde [[1792]], Maria vivia reclusa e só saía na companhia de suas damas, que costumavam levá-la para passear às margens do [[rio Carioca]], no antigo bairro de Águas Férreas (atual [[Cosme Velho]]). Ao ver a monarca sendo conduzida pelas mãos por suas damas, a população exclamava: ''Maria Vai-com-as-Outras''.<ref>{{Citar web |url=http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/maria-vai-com-as-outras-434364.shtml |titulo=Cópia arquivada |acessodata=2011-09-04 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20120119023115/http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/maria-vai-com-as-outras-434364.shtml |arquivodata=2012-01-19 |urlmorta=yes }}</ref> | O termo "maria-vai-com-as-outras" é muito popular na lusofonia, onde é usado para designar uma pessoa fraca, sem opinião própria, que se deixa levar pelos outros. Segundo o pesquisador [[Brasil Gerson]], autor do livro ''Histórias das Ruas do Rio'', o termo foi cunhado a partir da figura da rainha D. Maria I, que viveu seus últimos anos no [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]]. Declarada mentalmente incapaz desde [[1792]], D. Maria vivia reclusa e só saía na companhia de suas damas, que costumavam levá-la para passear às margens do [[rio Carioca]], no antigo bairro de Águas Férreas (atual [[Cosme Velho]]). Ao ver a monarca sendo conduzida pelas mãos por suas damas, a população exclamava: ''Maria Vai-com-as-Outras''.<ref>{{Citar web |url=http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/maria-vai-com-as-outras-434364.shtml |titulo=Cópia arquivada |acessodata=2011-09-04 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20120119023115/http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/maria-vai-com-as-outras-434364.shtml |arquivodata=2012-01-19 |urlmorta=yes }}</ref> | ||
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* [https://www.academia.edu/25914120/_Chorar_uma_Rainha_em_Portugal_e_no_Brasil_os_Serm%C3%B5es_por_Ocasi%C3%A3o_da_Morte_de_D._Maria_I_Anais_do_I_Congresso_Lus%C3%B3fono_de_Ci%C3%AAncia_das_Religi%C3%B5es_vol._3_Lisboa_Edi%C3%A7%C3%B5es_Universit%C3%A1rias_Lus%C3%B3fonas_2015_pp._38-59 “Chorar uma Rainha em Portugal e no Brasil: os Sermões por Ocasião da Morte de D. Maria I”, por Isabel Drumond Braga, Anais do I Congresso Lusófono de Ciência das Religiões, vol. 3, Lisboa, Edições Universitárias Lusófonas, 2015, pp. 38-59.] | |||
* [https://www.academia.edu/1442993/O_Mecenato_da_Infanta_D_Maria_de_Portugal_1521_1577_MA_Disserta%C3%A7%C3%A3o_mestrado_ O Mecenato da Infanta D. Maria de Portugal, 1521-1577 (MA / Dissertação mestrado), por Carla Alferes Pinto, 1996] | |||
* [https://ensina.rtp.pt/artigo/d-maria-1/ D. Maria I, a primeira rainha, Diário do Tempo (Extrato de Programa), Serenella de Andrade, RTP, 2012] | |||
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Predefinição:Info/Nobre D. Maria I (Lisboa, 17 de dezembro de 1734 – Rio de Janeiro, 20 de março de 1816), apelidada de "a Piedosa" e "a Louca", foi a Rainha de Portugal e Algarves de 1777 até 1815, e também Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves a partir do final de 1815 até sua morte. De 1792 até sua morte, seu filho mais novo João atuou como regente do reino em seu nome devido à sua doença mental. Era a filha mais velha do rei José I e sua esposa a infanta Mariana Vitória da Espanha.
Biografia
Nascimento
D. Maria nasceu a 17 de dezembro de 1734 no Paço da Ribeira, em Lisboa, Portugal. Seu nome completo era Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança. Foi a primeira filha de D. José de Bragança, então Príncipe do Brasil, e sua esposa Mariana Vitória de Bourbon, Infanta de Espanha.
Quando o seu pai subiu ao trono em 1750 como D. José I, D. Maria tornou-se sua herdeira presuntiva e recebeu os títulos tradicionais de Princesa do Brasil e Duquesa de Bragança.
Casamento
A continuidade dinástica da Casa de Bragança ficou assegurada com o seu casamento com o tio Pedro de Bragança, que subiria ao trono como Pedro III de Portugal. O casamento foi realizado na Real Barraca da Ajuda a 6 de junho de 1760.[1] Anteriormente, pensara-se em casá-la com o seu tio, o Infante Luís de Espanha,[2] e com José II, Imperador do Sacro Império Romano.
Reinado
Embora D.Maria I seja tradicionalmente reconhecida como a primeira Rainha reinante em Portugal, isso é questionável, visto que à luz de uma nova perspectiva da história,Teresa de Leão já havia sido reconhecida como tal pelo papa, em 1112. Seu primeiro acto como rainha, iniciando um período que ficou conhecido como a Viradeira, foi a demissão e exílio da corte do marquês de Pombal, a quem nunca perdoara a forma brutal como tratou a família Távora durante o Processo dos Távoras. Rainha amante da paz, dedicada a obras sociais, concedeu asilo a numerosos aristocratas franceses fugidos ao Terror da Revolução Francesa (1789-1799). Era, no entanto, dada a melancolia e fervor religioso de natureza tão impressionável que quando ladrões entraram em uma igreja e espalharam hóstias pelo chão, decretou nove dias de luto, adiou os negócios públicos e acompanhou a pé, com uma vela, a procissão de penitência que percorreu Lisboa.
O seu reinado foi de grande actividade legislativa, comercial e diplomática, na qual se pode destacar o tratado de comércio que assinou com a Prússia em 1789. Desenvolveu a cultura e as ciências, com o envio de missões científicas a Angola, Brasil, Cabo Verde e Moçambique, e a fundação de várias instituições, entre elas a Academia Real das Ciências de Lisboa e a Real Biblioteca Pública da Corte. No âmbito da assistência, fundou a Casa Pia de Lisboa. Fundou ainda a Academia Real de Marinha para formação de oficiais da Armada.
A 5 de janeiro de 1785 promulgou um alvará impondo pesadas restrições[3] à atividade industrial no Brasil; como por exemplo proibia a fabricação de tecidos e outros produtos. Durante seu reinado ocorreu o processo, condenação e execução do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
Regência do filho
Mentalmente instável, desde 10 de fevereiro de 1792 foi obrigada a aceitar que o filho tomasse conta dos assuntos de Estado. Obcecada com as penas eternas que o pai estaria sofrendo no inferno, por ter permitido a Pombal perseguir os jesuítas, o via como "um monte de carvão calcinado".
Para tratá-la veio de Londres o Dr. Willis, psiquiatra e médico real de Jorge III, enlouquecido em 1788, mas de nada adiantaram seus "remédios evacuantes".
Em 1799, sua instabilidade mental se agravou com os lutos pelo seu marido Pedro III (1786) e seu filho, o príncipe herdeiro José, Duque de Bragança, Príncipe da Beira, Príncipe do Brasil, morto aos 27 anos (1788), a marcha da Revolução Francesa, e execução do Rei Luís XVI de França na guilhotina. Por isso, João, seu segundo filho e herdeiro, que futuramente se tornaria João VI de Portugal, assumiu a regência.
Ida para o Brasil
A Família Real Portuguesa transfere-se para o Brasil devido ao receio de ser deposta, à semelhança do que ocorrera nos países recentemente invadidos pelas tropas francesas: Napoleão acumula o título de rei de Itália, dando o título de rei de Nápoles ao seu irmão José Bonaparte, a quem posteriormente situou no trono da Espanha; nos Países Baixos a coroa é dada a seu irmão Luís Bonaparte (Luís I da Holanda). Em 1801, o primeiro-ministro de Espanha, Manuel Godoy apoiado por Napoleão invadiu Portugal por breves meses e, no subsequente Tratado de Badajoz, Olivença passou para a coroa de Espanha, mais tarde também ocupada pelos franceses. Portugal continuou a fazer frente à França e, ao recusar-se a cumprir o bloqueio naval às Ilhas Britânicas, foi iniciada a Primeira invasão francesa de Portugal, pela coligação franco-espanhola liderada pelo Marechal Junot. A família real transfere-se para o Brasil a 29 de Novembro de 1807 deixando Portugal a mercê do invasor. Junot invade Lisboa sendo nomeado governador de Portugal. A 1 de Agosto de 1808, o Duque de Wellington desembarca em Portugal e tem início a Guerra Peninsular. Entre 1809 e 1810, o exército luso-britânico lutou contra as forças invasoras de Napoleão, nomeadamente na Batalha do Buçaco. Quando Napoleão foi derrotado em 1815, Maria e a família real encontravam-se ainda no Brasil. Dos membros da realeza, porém, foi a que se manteve mais calma, chegando a declarar: Não corram tanto, vão pensar que estamos a fugir.
Morte
D. Maria viveu no Brasil por oito anos, sempre em estado de incapacitação. Ela morreu no Convento do Carmo, na cidade do Rio de Janeiro, em 20 de março de 1816, aos 81 anos de idade. Após as cerimónias fúnebres, seu corpo foi sepultado no Convento da Ajuda, também no Rio. Com sua morte, o Príncipe Regente D. João foi aclamado Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Em 1821, após o retorno da Família Real para Portugal, seus restos mortais foram transladados para Lisboa e sepultados em um mausoléu na Basílica da Estrela, igreja que ela mesma mandou erguer.
Títulos, estilos, e honrarias
Predefinição:Info/Estilos reais
Títulos e estilos
- 17 de Dezembro de 1734 – 31 de Julho de 1750: "Sua Alteza Real, a Princesa da Beira, Duquesa de Barcelos";
- 31 de Julho de 1750 – 24 de Fevereiro de 1777: "Sua Alteza Real, a Princesa do Brasil, Duquesa de Bragança, etc.";
- 24 de Fevereiro de 1777 – 20 de Março de 1816: "Sua Majestade Fidelíssima, a Rainha".
O estilo oficial de D. Maria I, desde a sua Aclamação até 1815 foi: "D. Maria, pela Graça de Deus, Rainha de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhora da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc." Com a criação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em 1815, o seu estilo evoluiu para: "D. Maria, pela Graça de Deus, Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhora da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.".
Honrarias
Enquanto monarca de Portugal, D. Maria I foi Grã-Mestre das seguintes Ordens:
- Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo
- Ordem de São Bento de Avis
- Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem de Sant'Iago da Espada
- Antiga e Muito Nobre Ordem da Torre e Espada
Genealogia
Descendência
Nome | Retrato | Longevidade | Notas |
---|---|---|---|
Havidos de D. Pedro III de Portugal (5 de Julho de 1717 – 25 de Maio de 1786; casados a 6 de Junho de 1760) | |||
José, Príncipe do Brasil | 21 de Agosto de 1761 – 11 de Setembro de 1788 |
Recebeu o título de Príncipe da Beira ao nascer, título criado pelo seu avô materno especialmente para si. Desposou a tia materna, a Infanta Maria Francisca Benedita, de quem tinha quinze anos de diferença de idade; do casamento não houve descendência, tirando dois abortos: um em 1781 e outro em em 1786. Tornando-se Príncipe do Brasil e herdeiro aparente ao trono com a Aclamação da rainha sua mãe, D. José faleceu prematuramente de varíola. | |
D. João Francisco de Paula Domingos António Carlos Cipriano de Bragança | 16 de Setembro de 1763 – 10 de Outubro de 1763 |
Morreu menos de um mês depois de nascer. | |
João VI de Portugal | 13 de Maio de 1767 – 10 de Março de 1826 |
Tornou-se Príncipe do Brasil e herdeiro aparente do trono, com a morte precoce dos irmãos mais velhos. Governou como Príncipe Regente, desde a declaração de incapacidade mental da Rainha D. Maria I em 1792, e tornou-se Rei de Portugal entre 1816 e 1826. | |
Infanta D. Mariana Vitória | 15 de Dezembro de 1768 – 2 de Novembro de 1788 |
Nascida no Palácio de Queluz a 15 de Dezembro de 1768, morta em San Lorenzo de El Escorial em 2 de Novembro de 1788, tendo tido dois filhos e uma filha. Casou-se com Gabriel António Francisco Xavier João Nepomuceno José Serafim Pascoal Salvador de Bourbon e Saxe, Infante de Espanha, nascido em Portici a 12 de maio de 1752 e morreu no Escorial a 23 de Novembro de 1788, quarto filho de Carlos III, rei da Espanha e de sua esposa Maria Amália de Saxe. | |
D. Maria Clementina Francisca Xavier de Paula Ana Josefa Antónia Domingas Feliciana Joana Michaela Julia de Bragança | 9 de Junho de 1774 – 27 de Junho de 1776 |
||
D. Maria Isabel de Bragança | 12 de Dezembro de 1776 – 14 de Janeiro de 1777 |
Ancestrais
Predefinição:Ahnentafel bottom
Na cultura popular
A Rainha D. Maria I já foi retratada como personagem no cinema, televisão e no teatro, interpretada por Rita Cléos na novela Dez Vidas (1969), Maria Fernanda no filme Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (1995), Eva Wilma na minissérie O Quinto dos Infernos (2002) e Maria Emília Correia na minissérie Bocage Bocage (2006). No carnaval do Rio de Janeiro em 2008, foi representada no desfile da escola de samba São Clemente pela atriz Rogéria, em enredo sobre o rei João VI. Em 2011, no teatro, a atriz Maria do Céu Guerra é D. Maria, A Louca de um texto do autor brasileiro Antônio Cunha, apresentado pela companhia portuguesa A Barraca.
Uma versão altamente ficcionalizada da rainha D. Maria I é a protagonista da opéra-comique Les diamants de la couronne (1841), pelo compositor Daniel Auber, com libretto de Eugène Scribe e Jules-Henri Vernoy de Saint-Georges; figurando igualmente na adaptação a zarzuela de Francisco Asenjo Barbieri, Los diamantes de la corona (1854), esta com libretto de Francisco Camprodón. Na ópera, D. Maria é menor aquando da morte do seu pai, sendo o país governado por um Conselho de Regência liderado pelo Conde de Campo Mayor. D. Maria toma o nome de "Catalina" e, sem ninguém o saber, lidera um grupo de bandidos com o intuito de vender as jóias da coroa, substituindo-as por falsificações, para trazer solvência fiscal ao Estado. No final, durante a sua coroação, D. Maria usa a sua astúcia para evitar a determinação do Conselho de Regência que a obrigaria a casar com um filho de rei de Espanha e, ao invés, casa com o Marquês de Sandoval, que havia sido assaltado pelos bandidos e se havia enamorado pela beleza de "Catalina", chefe da quadrilha.[4]
Maria-vai-com-as-outras
O termo "maria-vai-com-as-outras" é muito popular na lusofonia, onde é usado para designar uma pessoa fraca, sem opinião própria, que se deixa levar pelos outros. Segundo o pesquisador Brasil Gerson, autor do livro Histórias das Ruas do Rio, o termo foi cunhado a partir da figura da rainha D. Maria I, que viveu seus últimos anos no Rio de Janeiro. Declarada mentalmente incapaz desde 1792, D. Maria vivia reclusa e só saía na companhia de suas damas, que costumavam levá-la para passear às margens do rio Carioca, no antigo bairro de Águas Férreas (atual Cosme Velho). Ao ver a monarca sendo conduzida pelas mãos por suas damas, a população exclamava: Maria Vai-com-as-Outras.[5]
Referências
- ↑ Lusitania Sacra - 2a Série - Tomo 5 (1993) - Página 179
- ↑ BRAGA, Paulo Drumond (2014). A Rainha Discreta: Mariana Vitória de Bourbon. [S.l.]: Círculo de Leitores. p. 153
- ↑ Alvará de D. Maria I sobre a indústria no Brasil
- ↑ Francisco Asenjo Barbieri. Los diamantes de la corona. Ed de Emilio Casares. Ediciones y publicaciones de Autor SRL. Teatro de la Zarzuela. Madrid. 2010
- ↑ «Cópia arquivada». Consultado em 4 de setembro de 2011. Arquivado do original em 19 de janeiro de 2012
Bibliografia
- Defesa Militar, Princípios dos dois irmãos Jorge e Julio Stumpf Vasconcellos Editora Biblioteca do Exército e Marinha do Brasil, 1939.
Ver também
Ligações externas
- “Chorar uma Rainha em Portugal e no Brasil: os Sermões por Ocasião da Morte de D. Maria I”, por Isabel Drumond Braga, Anais do I Congresso Lusófono de Ciência das Religiões, vol. 3, Lisboa, Edições Universitárias Lusófonas, 2015, pp. 38-59.
- O Mecenato da Infanta D. Maria de Portugal, 1521-1577 (MA / Dissertação mestrado), por Carla Alferes Pinto, 1996
- D. Maria I, a primeira rainha, Diário do Tempo (Extrato de Programa), Serenella de Andrade, RTP, 2012
Maria I de Portugal Casa de Bragança Ramo da Casa de Avis 17 de dezembro de 1734 – 20 de março de 1816 | ||
---|---|---|
Precedida por José I |
Princesa do Brasil 31 de julho de 1750 – 24 de fevereiro de 1777 |
Sucedida por José |
Rainha de Portugal e Algarves 24 de fevereiro de 1777 – 16 de dezembro de 1815 com Pedro III (1777–1786) |
Sucedida por João VI | |
Título criado | Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves 16 de dezembro de 1815 – 20 de março de 1816 |