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Maria I de Portugal: mudanças entre as edições

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[[Imagem:MariaIPortugal.jpg|right]]
{{minidesambiguação|pela peça de teatro|D. Maria, a Louca}}
{{Mais notas|data=julho de 2019}}
{{Info/Nobre
| nome = Maria I
| título = A Piedosa, A Louca
| imagem = Maria I, Queen of Portugal - Giuseppe Troni, atribuído (Turim, 1739-Lisboa, 1810) - Google Cultural Institute.jpg
| legenda = Retrato por [[Giuseppe Troni]] (1783)
| imgw = 250px
| sucessão = [[Lista de monarcas de Portugal|Rainha de Portugal e dos Algarves]]
| reinado = {{dtlink|24|2|1777}}<br/>a {{dtlink|20|3|1816}}
| coroação = {{dtlink|13|5|1777}}
| tipo-cor = Aclamação
| predecessor = [[José I de Portugal|José I]]
| tipo-pre = Predecessor
| sucessor = [[João VI de Portugal|João VI]]
| tipo-suc = Sucessor
| regente = [[João VI de Portugal|João, Príncipe Regente]]<br/>{{small|(1792–1816)}}
| sucessão2 = [[Lista de monarcas do Brasil|Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves]]
| reinado2 = {{dtlink|16|12|1815}}<br/>a {{dtlink|20|3|1816}}
| sucessor2 = [[João VI de Portugal|João VI]]
| regente2 = [[João VI de Portugal|João, Príncipe Regente]]
| cônjuge = [[Pedro III de Portugal]]
| tipo-cônjuge = Marido
| descendência = [[José, Príncipe do Brasil]]<br/>[[João VI de Portugal]]<br/>[[Maria Ana Vitória Josefa de Bragança|Maria Ana Vitória de Portugal]]
| nome completo = Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana
| casa = [[Dinastia de Bragança|Bragança]]
| pai = [[José I de Portugal]]
| mãe = [[Mariana Vitória de Bourbon|Mariana Vitória da Espanha]]
| data de nascimento = {{dni|17|12|1734|lang=br|si}}
| local de nascimento = [[Paço da Ribeira]], [[Lisboa]], [[Estremadura]], [[Reino de Portugal|Portugal]]
| data da morte = {{nowrap|{{morte|20|3|1816|17|12|1734}}}}
| local da morte = [[Convento do Carmo (Rio de Janeiro)|Convento do Carmo]], [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], [[Capitania do Rio de Janeiro|Rio de Janeiro]], [[Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves|Brasil]]
| local de enterro = [[Basílica da Estrela]], [[Lisboa]], [[Portugal]]
| religião = [[Igreja Católica|Catolicismo]]
| assinatura = Assinatura D. Maria Primeira.svg
| brasão = Coat of Arms of the Kingdom of Portugal 1640-1910 (3).svg
}}
'''D. Maria I''' ([[Lisboa]], {{dtlink|17|12|1734}} – [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], {{dtlink|20|3|1816}}), apelidada de "a Piedosa" e "a Louca", foi a [[Lista de monarcas de Portugal|Rainha de Portugal e Algarves]] de 1777 até 1815, e também Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves a partir do final de 1815 até sua morte. De 1792 até sua morte, seu filho mais novo [[João VI de Portugal|João]] atuou como regente do reino em seu nome devido à sua doença mental. Era a filha mais velha do rei [[José I de Portugal|José I]] e sua esposa a infanta [[Mariana Vitória de Bourbon|Mariana Vitória da Espanha]].
 
== Biografia ==
[[File:D.Mara.II - A Pia.png|thumb|left|180px|''Dona Maria I, Rainha de Portugal'', por José Leandro de Carvalho, 1808.]]
[[File:Retrato da Infanta D. Maria Francisca Isabel Josefa.jpg|thumb|esquerda|180px|''D. Maria Francisca, Princesa da Beira, Duquesa de Barcelos'' (1739), Francesco Pavona.]]
===Nascimento===
D. Maria nasceu a {{dtlink|17|12|1734}} no [[Paço da Ribeira]], em [[Lisboa]], [[Reino de Portugal|Portugal]]. Seu nome completo era ''Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança''. Foi a primeira filha de D. [[José I de Portugal|José de Bragança]], então [[Príncipe do Brasil]], e sua esposa [[Mariana Vitória de Bourbon]], Infanta de Espanha.
 
Quando o seu pai subiu ao trono em [[1750]] como D. José I, D. Maria tornou-se sua [[herdeira presuntiva]] e recebeu os títulos tradicionais de [[Princesa do Brasil]] e [[Duquesa de Bragança]].
 
=== Casamento ===
A continuidade dinástica da [[Casa de Bragança]] ficou assegurada com o seu casamento com o tio [[Pedro III de Portugal|Pedro de Bragança]], que subiria ao trono como Pedro III de Portugal. O casamento foi realizado na [[Real Barraca]] da Ajuda a 6 de junho de 1760.<ref>Lusitania Sacra - 2a Série - Tomo 5 (1993) - Página 179</ref> Anteriormente, pensara-se em casá-la com o seu tio, o [[Luís, Conde de Chinchón|Infante Luís de Espanha]],<ref>{{citar livro|título=A Rainha Discreta: Mariana Vitória de Bourbon|ultimo=BRAGA|primeiro=Paulo Drumond|editora=Círculo de Leitores|ano=2014|local=|página=153|páginas=}}</ref> e com [[José II do Sacro Império Romano-Germânico|José II, Imperador do Sacro Império Romano]].
 
=== Reinado ===
 
Embora D.Maria I seja tradicionalmente reconhecida como a primeira [[Rainha (título)#Rainha reinante|Rainha reinante]] em Portugal, isso é questionável, visto que à luz de uma nova perspectiva da história,[[Teresa de Leão]] já havia sido reconhecida como tal pelo [[papa]], em [[1112]]. Seu primeiro acto como rainha, iniciando um período que ficou conhecido como a [[Viradeira]], foi a demissão e exílio da corte do [[Sebastião José de Carvalho e Melo|marquês de Pombal]], a quem nunca perdoara a forma brutal como tratou a família '''Távora''' durante o [[Processo dos Távoras]]. Rainha amante da paz, dedicada a obras sociais, concedeu [[Direito de asilo|asilo]] a numerosos aristocratas franceses fugidos ao [[Terror (Revolução Francesa)|Terror]] da [[Revolução Francesa]] ([[1789]]-[[1799]]). Era, no entanto, dada a [[melancolia]] e fervor religioso de natureza tão impressionável que quando ladrões entraram em uma igreja e espalharam hóstias pelo chão, decretou nove dias de luto, adiou os negócios públicos e acompanhou a pé, com uma vela, a procissão de penitência que percorreu Lisboa.
 
O seu reinado foi de grande actividade legislativa, comercial e diplomática, na qual se pode destacar o tratado de comércio que assinou com a [[Prússia]] em [[1789]]. Desenvolveu a cultura e as ciências, com o envio de missões científicas a [[Angola]], [[Brasil]], [[Cabo Verde]] e [[Moçambique]], e a fundação de várias instituições, entre elas a [[Academia Real das Ciências de Lisboa]] e a [[Biblioteca Nacional de Portugal|Real Biblioteca Pública da Corte]]. No âmbito da assistência, fundou a [[Casa Pia de Lisboa]]. Fundou ainda a [[Academia Real de Marinha]] para formação de oficiais da Armada.
 
A [[5 de janeiro]] de [[1785]] promulgou um [[Alvará de 1785|alvará impondo pesadas restrições]]<ref>[http://pt.wikisource.org/wiki/Alvar%C3%A1_de_D._Maria_I_sobre_a_ind%C3%BAstria_no_Brasil Alvará de D. Maria I sobre a indústria no Brasil]</ref> à atividade [[História da industrialização no Brasil|industrial]] no Brasil; como por exemplo proibia a fabricação de tecidos e outros produtos. Durante seu reinado ocorreu o processo, condenação e execução do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o [[Tiradentes]].
 
=== Regência do filho ===
Mentalmente instável, desde 10 de fevereiro de [[1792]] foi obrigada a aceitar que o filho tomasse conta dos assuntos de Estado. Obcecada com as penas eternas que o pai estaria sofrendo no inferno, por ter permitido a [[Sebastião José de Carvalho e Melo|Pombal]] perseguir os [[Companhia de Jesus|jesuítas]], o via como "um monte de carvão calcinado".


'''D. Maria I''' ([[17 de Dezembro]] de [[1734]] - [[20 de Março]] de [[1816]]), de seu nome completo '''Maria da Glória Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana''', foi [[lista de reis de Portugal|Rainha de Portugal]] entre [[1777]] e 1816, sucedendo ao seu pai, o rei [[José I de Portugal|José I]]. Maria foi ainda [[duque de Bragança|duquesa de Bragança]] e [[Príncipe da Beira|princesa da Beira]]. Em [[1760]] a continuidade dinástica da [[dinastia de Bragança|casa de Bragança]] ficou assegurada com o seu casamento com o tio [[Pedro III de Portugal|Pedro de Bragança]]. Foi a primeira rainha em Portugal a exercer o poder efectivo. Ficou conhecida para a história pelo cognome de ''A Piedosa'', devido à sua extrema devoção religiosa (foi ela, por exemplo, que mandou construir a Basílica da Estrela em [[Lisboa]]), ou alternativamente como ''A Louca'', devido à doença mental que se manifestou com veemência nos últimos vinte e quatro anos da sua vida.
Para tratá-la veio de Londres o Dr. Willis, [[psiquiatra]] e médico real de [[Jorge III do Reino Unido|Jorge III]], enlouquecido em 1788, mas de nada adiantaram seus "remédios evacuantes". [[File:4 escudos en or à l'effigie de Marie I et Pierre III, 1785.jpg|thumb|right|Moeda com as efígies de D. Maria I e Pedro III|272x272px]]Em [[1799]], sua instabilidade mental se agravou com os lutos pelo seu marido [[Pedro III de Portugal|Pedro III]] (1786) e seu filho, o príncipe herdeiro [[José, Duque de Bragança|José]], [[Duque de Bragança]], [[Príncipe da Beira]], [[Príncipe do Brasil]], morto aos 27 anos (1788), a marcha da [[Revolução Francesa]], e execução do Rei [[Luís XVI de França]] na [[guilhotina]]. Por isso, João, seu segundo filho e herdeiro, que futuramente se tornaria [[João VI de Portugal|João VI]] de Portugal, assumiu a regência.


O seu primeiro acto como rainha foi a demissão e exílio da corte do [[Sebastião José de Carvalho e Melo|Marquês de Pombal]], a quem nunca perdoara a forma brutal como tratou a família Távora durante o [[Processo dos Távoras]]. Maria foi uma rainha amante da paz, dedicada a obras sociais. Concedeu ainda asilo a inúmeros aristocratas franceses fugidos ao Terror da [[Revolução Francesa]] ([[1789]]). Era no entanto dada a melancolia e fervor religioso. Em [[1799]], a sua instabilidade mental levou a que o seu filho e herdeiro [[João VI de Portugal|João]] assumisse a regência.
=== Ida para o Brasil ===
[[File:Painting of Dona Maria I held at the Instituto Histórico Geográfico da Bahia.jpg|thumb|''Retrato da Rainha D. Maria I'', {{circa|1777}}.|332x332px]]
{{AP|Transferência da corte portuguesa para o Brasil}}


Em [[1801]], o primeiro ministro de Espanha, [[Manuel Godoy]] apoiado por [[Napoleão]] invadiu Portugal por breves meses e, no subsequente [[Tratado de Badajoz]], [[Olivença]] passou para a coroa de [[Espanha]]. Portugal continuou a fazer frente a França e, ao recusar-se a cumprir o Bloqueio naval às Ilhas Britânicas, foi invadido pela coligação franco-espanhola liderada pelo [[Jean-Andoche Junot|Marechal Junot]]. A família real fugiu para o [[Brasil]] a [[13 de Novembro]] de [[1807]] e Junot foi nomeado governador de Portugal. A [[1 de Agosto]] de [[1808]], o [[Duque de Wellington]] desembarcou em Portugal e iniciou-se a [[Guerra Peninsular]]. Entre 1809 e 1810, o exército luso-britânico lutou contra as forças invasoras de Napoleão, nomeadamente na batalha das [[Linhas de Torres]]. Quando Napoleão foi finalmente derrotado em [[1815]], Maria e a família real encontravam-se ainda no Brasil e foi no [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]] que a rainha faleceu em [[1816]].
A Família Real Portuguesa transfere-se para o [[Brasil]] devido ao receio de ser deposta, à semelhança do que ocorrera nos países recentemente invadidos pelas tropas [[Primeiro Império Francês|francesas]]: [[Napoleão]] acumula o título de rei de [[Itália]], dando o título de rei de Nápoles ao seu irmão [[José Bonaparte]], a quem posteriormente situou no trono da Espanha; nos [[Países Baixos]] a coroa é dada a seu irmão Luís Bonaparte ([[Luís I da Holanda]]). Em 1801, o primeiro-ministro de Espanha, [[Manuel Godoy]] apoiado por [[Napoleão]] invadiu Portugal por breves meses e, no subsequente [[Tratado de Badajoz (1801)|Tratado de Badajoz]], [[Olivença]] passou para a coroa de [[Espanha]], mais tarde também ocupada pelos franceses. Portugal continuou a fazer frente à França e, ao recusar-se a cumprir o bloqueio naval às Ilhas Britânicas, foi iniciada a [[Primeira invasão francesa de Portugal]], pela coligação franco-espanhola liderada pelo [[Jean-Andoche Junot|Marechal Junot]]. A família real transfere-se para o [[Brasil]] a [[29 de Novembro]] de [[1807]] deixando [[Portugal]] a mercê do invasor. Junot invade Lisboa sendo nomeado governador de Portugal. A [[1 de Agosto]] de [[1808]], o [[Duque de Wellington]] desembarca em Portugal e tem início a [[Guerra Peninsular]]. Entre 1809 e 1810, o exército luso-britânico lutou contra as forças invasoras de Napoleão, nomeadamente na [[Batalha do Buçaco]]. Quando Napoleão foi derrotado em [[1815]], Maria e a família real encontravam-se ainda no Brasil. Dos membros da realeza, porém, foi a que se manteve mais calma, chegando a declarar: ''Não corram tanto, vão pensar que estamos a fugir''.


==Seu decreto ao Brasil==
=== Morte ===
Em [[5 de janeiro]] de [[1785]], promulgou o seguinte alvará sobre indústrias no Brasil:
[[Ficheiro:Tomb of Maria I - Basílica da Estrela - Lisbon.JPG|thumb|left|Túmulo de D. Maria I na [[Basílica da Estrela]], em [[Lisboa]]|182x182px]]
:''Eu a rainha faço saber aos que este alvará virem: 
D. Maria viveu no Brasil por oito anos, sempre em estado de incapacitação. Ela morreu no [[Convento do Carmo (Rio de Janeiro)|Convento do Carmo]], na cidade do [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], em {{dtlink|20|03|1816}}, aos 81 anos de idade. Após as cerimónias fúnebres, seu corpo foi sepultado no [[Convento da Ajuda]], também no Rio. Com sua morte, o Príncipe Regente D. João foi [[Aclamação real|aclamado]] Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
::''que sendo-me presente o grande número de fábricas e manufaturas que de alguns anos por esta parte se têm difundido em diferentes capitanias do Brasil, com grave prejuízo da cultura, e da lavoura, e da exploração de terras minerais daquele vasto continente;  porque havendo nele uma grande, e conhecida, falta de população, é evidente que, quanto mais se multiplicar o número dos fabricantes, mais diminuirá o dos cultivadores; e menos braços haverá que se possam empregar no descobrimento, e rompimento de uma grande parte daqueles extensos domínios que ainda se acha inculta, e desconhecida. 
::''Nem as sesmarias, que formam outra considerável parte desses mesmos domínios, poderão prosperar, nem florescer, por falta do benefício da cultura, não obstante ser esta a essencialíssima condição com que foram dadas aos proprietários delas. E até nas terras minerais ficará cessando de todo, como já tem consideravelmente diminuído, a extração de ouro, e diamantes, tudo procedido da falta de braços, que devendo-se empregar nestes úteis e vantajosos trabalhos, ao contrário os deixam, e abandonam, ocupando-se de outros totalmente diferentes, como são as referidas fábricas e manufaturas. E consistindo a verdadeira e sólida riqueza nos frutos e produções da terra, os quais somente se conseguem por meio de colonos e cultivadores, e não de artistas e fabricantes. E sendo além disso as produções do Brasil as que fazem todo fundo e base, não só das permutações mercantis, mas da navegação e comércio entre meus leais vassalos habitantes destes reinos, e daqueles domínios, que devo animar, sustentar em benefício comum de uns e outros, removendo na sua origem os obstáculos que lhes são prejudiciais e nocivos. Em consideração de todo o referido, hei por bem ordenar que todas as fábricas, manufaturas ou teares de galões, de tecidos, de bordados de ouro e prata, de veludos, brilhantes, cetins, tafetás, ou qualquer outra espécie de seda; de belbuts, chitas, bombazinas, fustões, ou de qualquer outra fazenda de linho, branca ou de cores; e de panos, droguetes, baetas, ou de qualquer outra espécie de tecido de lã; ou que os ditos tecidos sejam fabricados de um só dos referidos gêneros ou misturados, e tecidos uns com os outros; excetuando-se tão somente aqueles ditos teares ou manufaturas em que se tecem, ou manufaturam, fazendas grossas de algodão, que servem para o uso e vestuário de negros, para enfardar, para empacotar, e para outros ministérios semelhantes; todas as mais sejam extintas e abolidas por qualquer parte em que se acharem em meus domínios do Brasil, debaixo de pena de perdimento, em tresdobro, do valor de cada uma das ditas manufaturas, ou teares, e das fazendas que nelas houver e que se acharem existentes dois meses depois da publicação deste; repartindo-se a dita condenação metade a favor do denunciante, se houver, e outra metade pelos oficiais que fizerem a diligência; e não havendo denunciante, tudo pertencerá aos mesmos oficiais.
==Descendência==
* [[José, Duque de Bragança|José]], [[Duque de Bragança]] e [[príncipe do Brasil]] (1761-1788), casou com a tia a princesa Maria Benedita de Portugal
* João (1763)
* [[João VI de Portugal|João VI, rei de Portugal]] (1767-1826)
* Maria Clementina (1774-1776)
* Maria Isabel (1766-1777)
* Maria Ana de Bragança (1768-1788), casou com Gabriel de Bourbon, príncipe de Espanha


==Ver também==
Em [[1821]], após o retorno da Família Real para Portugal, seus restos mortais foram transladados para [[Lisboa]] e sepultados em um mausoléu na [[Basílica da Estrela]], igreja que ela mesma mandou erguer.
*[[Árvore genealógica dos reis de Portugal]]


{{Começa caixa}}
== Títulos, estilos, e honrarias ==
{{Caixa de sucessão|
{{Info/Estilos reais
|antes  = [[José I de Portugal|José I]]
| nome              = {{PAGENAME}}
|título = [[Lista de reis de Portugal|Reis de Portugal e dos Algarves<br>daquém e dalém-mar em África]]<br />(com [[Pedro III de Portugal|Pedro III]])
| imagem            = [[Ficheiro:Full arms of the United Kingdom Portugal Brazil and Algarves.svg|100px]]
|depois = [[João VI de Portugal|João VI]]
| legenda            = Brasão de armas do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815-1822)
|anos  = [[1777]] &mdash; [[1816]]
| estilo            = ''[[Sua Majestade Fidelíssima]]''
| directo            = ''Vossa Majestade Fidelíssima''
| alternativo        = Senhora
}}
}}
{{Caixa de sucessão|
{{Artigo principal|Lista de títulos e honrarias da Coroa Portuguesa}}
|antes  = '''N/A'''
=== Títulos e estilos ===
|título = [[Rei do Brasil]]
* 17 de Dezembro de 1734 – 31 de Julho de 1750: "[[Sua Alteza Real]], a Princesa da Beira, Duquesa de Barcelos";
|depois = [[João VI de Portugal]]
* 31 de Julho de 1750 – 24 de Fevereiro de 1777: "Sua Alteza Real, a Princesa do Brasil, Duquesa de Bragança, etc.";
|anos  = [[1815]] &mdash; [[1816]]
* 24 de Fevereiro de 1777 – 20 de Março de 1816: "[[Sua Majestade Fidelíssima]], a Rainha".
}}
 
{{Caixa de sucessão|
O estilo oficial de D. Maria I, desde a sua [[Aclamação de Maria I de Portugal|Aclamação]] até 1815 foi: "D. Maria, pela Graça de Deus, Rainha de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhora da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc." Com a criação do [[Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves]], em 1815, o seu estilo evoluiu para: "D. Maria, pela Graça de Deus, Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhora da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.".
|antes  = [[Mariana de Espanha]]
 
|título = [[Lista de rainhas de Portugal|Rainha de Portugal]]
=== Honrarias ===
|depois = [[Carlota Joaquina de Espanha|Carlota Joaquina]]
Enquanto monarca de Portugal, D. Maria I foi Grã-Mestre das seguintes Ordens:
|anos  = [[1777]] &mdash; [[1816]]
* [[Ordem de Cristo|Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo]]
}}
* [[Ordem de São Bento de Avis]]
{{Caixa de sucessão|
* [[Ordem de Santiago|Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem de Sant'Iago da Espada]]
|antes  = [[José I de Portugal|José I de Bragança]]
* [[Ordem da Torre e Espada|Antiga e Muito Nobre Ordem da Torre e Espada]]
|título = [[Duque de Bragança]]
 
|depois = [[José, Duque de Bragança|José II de Bragança]]
== Genealogia ==
|anos  = [[1777]] &mdash; [[1816]]
=== Descendência ===
}}
{| class="wikitable plainrowheaders"
{{Caixa de sucessão|
|-
|antes  = '''N/A'''
! scope="col" style="width:  20%;"  | Nome
|título = [[Príncipe da Beira]]
! scope="col" style="width: 100px;" | Retrato
|depois = [[José, Duque de Bragança|José II de Bragança]]
! scope="col" style="width:  10em;" | Longevidade
|anos  =  
! scope="col"                      | Notas
}}
|-
{{Termina caixa}}
! scope="col" colspan="4" |Havidos de [[Pedro III de Portugal|D. Pedro III de Portugal]]<br>(5 de Julho de 1717&nbsp;– 25 de Maio de 1786; casados a 6 de Junho de 1760)
|-
! scope="row" | [[José, Príncipe do Brasil]]
| [[File:Retrato do Príncipe José do Brasil.jpg|100px|alt=Retrato de uma jovem de peruca empoada e vestindo um casaco verde, e um colete dourado sob uma couraça de armadura. Com a Cruz de Cristo ao peito, apoia a mão esquerda num elmo sobre uma mesa e a esquerda na anca. Veste um manto de veludo vermelho, com forro de arminho.]]
| 21 de Agosto de 1761&nbsp;– <br /> 11 de Setembro de 1788
| Recebeu o título de [[Príncipe da Beira]] ao nascer, título criado pelo [[José I de Portugal|seu avô materno]] especialmente para si. Desposou a tia materna, a [[Maria Francisca Benedita de Bragança|Infanta Maria Francisca Benedita]], de quem tinha quinze anos de diferença de idade; do casamento não houve descendência, tirando dois abortos: um em 1781 e outro em em 1786. Tornando-se [[Príncipe do Brasil]] e [[herdeiro aparente]] ao trono com a [[Aclamação da rainha]] sua mãe, D. José faleceu prematuramente de [[varíola]].
|-
! scope="row" | D. João Francisco de Paula Domingos António Carlos Cipriano de Bragança
|  
| 16 de Setembro de 1763&nbsp;– <br /> 10 de Outubro de 1763
| Morreu menos de um mês depois de nascer.
|-
! scope="row" | [[João VI de Portugal]]
| [[File:Retrato de D. Joao VI - Gregorius, Albertus Jacob Frans 2.jpg|100px|alt=Retrato de uma homem de cabelos brancos e patilhas, com um casaco preto com bordados a fio de ouro, e calças brancas.]]
| 13 de Maio de 1767&nbsp;– <br /> 10 de Março de 1826
| Tornou-se [[Príncipe do Brasil]] e [[herdeiro aparente]] do trono, com a morte precoce dos irmãos mais velhos. Governou como Príncipe Regente, desde a declaração de incapacidade mental da Rainha D. Maria I em 1792, e tornou-se [[Lista de reis de Portugal|Rei de Portugal]] entre 1816 e 1826.
|-
! scope="row" | [[Mariana Vitória de Bragança|Infanta D. Mariana Vitória]]
|[[File:Mariana Vitória de Bragança, infanta de Portugal e Espanha.jpg|100px|]]
| 15 de Dezembro de 1768&nbsp;– <br /> 2 de Novembro de 1788
| Nascida no [[Palácio Real de Queluz|Palácio de Queluz]] a [[15 de Dezembro]] de [[1768]], morta em [[San Lorenzo de El Escorial]] em [[2 de Novembro]] de [[1788]], tendo tido dois filhos e uma filha. Casou-se com [[Gabriel de Bourbon|Gabriel António Francisco Xavier João Nepomuceno José Serafim Pascoal Salvador de Bourbon e Saxe]], [[Infante de Espanha]], nascido em [[Portici]] a [[12 de maio]] de [[1752]] e morreu no Escorial a [[23 de Novembro]] de [[1788]], quarto filho de [[Carlos III de Espanha|Carlos III]], [[Lista de reis de Espanha|rei da Espanha]] e de sua esposa [[Maria Amália da Saxônia|Maria Amália de Saxe]].
|-
! scope="row" | D. Maria Clementina Francisca Xavier de Paula Ana Josefa Antónia Domingas Feliciana Joana Michaela Julia de Bragança
|
| 9 de Junho de 1774&nbsp;– <br /> 27 de Junho de 1776
|
|-
! scope="row" | D. Maria Isabel de Bragança
|
| 12 de Dezembro de 1776&nbsp;– <br /> 14 de Janeiro de 1777
|
|}
 
=== Ancestrais ===
{{ahnentafel top|width=100%}}
<center>{{ahnentafel-compact5
|style=font-size: 90%; line-height: 110%;
|border=1
|boxstyle=padding-top: 0; padding-bottom: 0;
|boxstyle_1=background-color: #fcc;
|boxstyle_2=background-color: #fb9;
|boxstyle_3=background-color: #ffc;
|boxstyle_4=background-color: #bfc;
|boxstyle_5=background-color: #9fe;
|1= '''D. Maria I de Portugal'''
|2= [[José I de Portugal]]
|3= [[Mariana Vitória de Bourbon|Mariana Vitória da Espanha]]
|4= [[João V de Portugal]]
|5= [[Maria Ana de Áustria, Rainha de Portugal|Maria Ana da Áustria]]
|6= [[Filipe V de Espanha|Filipe V da Espanha]]
|7= [[Isabel Farnésio]]
|8= [[Pedro II de Portugal]]
|9= [[Maria Sofia Isabel de Neuburgo|Maria Sofia de Neuburgo]]
|10= [[Leopoldo I da Áustria|Leopoldo I do Sacro Império Romano-Germânico]]
|11= [[Leonor Madalena de Neuburgo]]
|12= [[Luís, Grande Delfim de França|Luís, Delfim da França]]
|13= [[Maria Ana Vitória de Baviera]]
|14= [[Eduardo, Príncipe herdeiro de Parma|Eduardo Farnésio, Príncipe Hereditário de Parma]]
|15= [[Doroteia Sofia de Neuburgo]]
|16= [[João IV de Portugal]]
|17= [[Luísa de Gusmão]]
|18= [[Filipe Guilherme de Neuburgo|Filipe Guilherme, Eleitor Palatino]]
|19= [[Isabel Amália de Hesse-Darmstadt]]
|20= [[Fernando III da Germânia|Fernando III do Sacro Império Romano-Germânico]]
|21= [[Maria Ana de Espanha|Maria Ana da Espanha]]
|22= [[Filipe Guilherme de Neuburgo|Filipe Guilherme, Eleitor Palatino]]
|23= [[Isabel Amália de Hesse-Darmstadt]]
|24= [[Luís XIV de França|Luís XIV da França]]
|25= [[Maria Teresa de Áustria (1638-1683)|Maria Teresa da Espanha]]
|26= Fernando Maria, Eleitor da Baviera
|27= Henriqueta Adelaide de Saboia
|28= [[Rainúncio II Farnésio|Rainúncio II Farnésio, Duque de Parma e Placência]]
|29= Isabel d'Este
|30= [[Filipe Guilherme de Neuburgo|Filipe Guilherme, Eleitor Palatino]]
|31= [[Isabel Amália de Hesse-Darmstadt]]
}}</center>
{{ahnentafel bottom}}
 
== Na cultura popular ==
A Rainha D. Maria I já foi retratada como [[personagem]] no [[cinema]], [[televisão]] e no [[teatro]], interpretada por [[Rita Cléos]] na [[novela]] ''[[Dez Vidas]]'' (1969), [[Maria Fernanda (atriz)|Maria Fernanda]] no [[filme]] ''[[Carlota Joaquina, Princesa do Brasil]]'' (1995), [[Eva Wilma]] na [[minissérie]] ''[[O Quinto dos Infernos]]'' (2002) e [[Maria Emília Correia]] na minissérie ''[[Bocage Bocage]]'' (2006). No [[Resultados do Carnaval do Rio de Janeiro em 2008|carnaval do Rio de Janeiro em 2008]], foi representada no desfile da escola de samba [[São Clemente (escola de samba)|São Clemente]] pela atriz [[Rogéria]], em enredo sobre o rei [[João VI de Portugal|João VI]]. Em 2011, no teatro, a atriz [[Maria do Céu Guerra]] é ''[[D. Maria, A Louca]]'' de um texto do autor brasileiro [[Antônio Cunha]], apresentado pela companhia portuguesa [[A Barraca]].
 
Uma versão altamente ficcionalizada da rainha D. Maria I é a protagonista da ''[[opéra-comique]]'' ''Les diamants de la couronne'' (1841), pelo compositor [[Daniel Auber]], com ''[[libretto]]'' de [[Eugène Scribe]] e Jules-Henri Vernoy de Saint-Georges; figurando igualmente na adaptação a [[zarzuela]] de Francisco Asenjo Barbieri, ''Los diamantes de la corona'' (1854), esta com ''libretto'' de Francisco Camprodón. Na ópera, D. Maria é menor aquando da morte do seu pai, sendo o país governado por um Conselho de Regência liderado pelo Conde de Campo Mayor. D. Maria toma o nome de "Catalina" e, sem ninguém o saber, lidera um grupo de bandidos com o intuito de vender as jóias da coroa, substituindo-as por falsificações, para trazer solvência fiscal ao Estado. No final, durante a sua coroação, D. Maria usa a sua astúcia para evitar a determinação do Conselho de Regência que a obrigaria a casar com um filho de rei de Espanha e, ao invés, casa com o Marquês de Sandoval, que havia sido assaltado pelos bandidos e se havia enamorado pela beleza de "Catalina", chefe da quadrilha.<ref>Francisco Asenjo Barbieri. Los diamantes de la corona. Ed de  Emilio Casares. Ediciones y publicaciones de Autor SRL. Teatro de la Zarzuela. Madrid. 2010</ref>
 
===Maria-vai-com-as-outras===
O termo "maria-vai-com-as-outras" é muito popular na lusofonia, onde é usado para designar uma pessoa fraca, sem opinião própria, que se deixa levar pelos outros. Segundo o pesquisador [[Brasil Gerson]], autor do livro ''Histórias das Ruas do Rio'', o termo foi cunhado a partir da figura da rainha D. Maria I, que viveu seus últimos anos no [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]]. Declarada mentalmente incapaz desde [[1792]], D. Maria vivia reclusa e só saía na companhia de suas damas, que costumavam levá-la para passear às margens do [[rio Carioca]], no antigo bairro de Águas Férreas (atual [[Cosme Velho]]). Ao ver a monarca sendo conduzida pelas mãos por suas damas, a população exclamava: ''Maria Vai-com-as-Outras''.<ref>{{Citar web |url=http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/maria-vai-com-as-outras-434364.shtml |titulo=Cópia arquivada |acessodata=2011-09-04 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20120119023115/http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/maria-vai-com-as-outras-434364.shtml |arquivodata=2012-01-19 |urlmorta=yes }}</ref>
 
{{referências}}
 
== Bibliografia ==
*'''Defesa Militar, Princípios''' dos dois irmãos Jorge e Julio Stumpf Vasconcellos Editora Biblioteca do Exército e Marinha do Brasil, 1939.
 
== Ver também ==
* [[Árvore genealógica dos reis de Portugal]]
* [[Aclamação de Maria I de Portugal]]
 
== Ligações externas ==
* [https://www.academia.edu/25914120/_Chorar_uma_Rainha_em_Portugal_e_no_Brasil_os_Serm%C3%B5es_por_Ocasi%C3%A3o_da_Morte_de_D._Maria_I_Anais_do_I_Congresso_Lus%C3%B3fono_de_Ci%C3%AAncia_das_Religi%C3%B5es_vol._3_Lisboa_Edi%C3%A7%C3%B5es_Universit%C3%A1rias_Lus%C3%B3fonas_2015_pp._38-59 “Chorar uma Rainha em Portugal e no Brasil: os Sermões por Ocasião da Morte de D. Maria I”, por Isabel Drumond Braga, Anais do I Congresso Lusófono de Ciência das Religiões, vol. 3, Lisboa, Edições Universitárias Lusófonas, 2015, pp. 38-59.]
* [https://www.academia.edu/1442993/O_Mecenato_da_Infanta_D_Maria_de_Portugal_1521_1577_MA_Disserta%C3%A7%C3%A3o_mestrado_ O Mecenato da Infanta D. Maria de Portugal, 1521-1577 (MA / Dissertação mestrado), por Carla Alferes Pinto, 1996]
* [https://ensina.rtp.pt/artigo/d-maria-1/ D. Maria I, a primeira rainha, Diário do Tempo (Extrato de Programa), Serenella de Andrade, RTP, 2012]


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Disambig grey.svg Nota: Se procura pela peça de teatro, veja D. Maria, a Louca.

Predefinição:Info/Nobre D. Maria I (Lisboa, 17 de dezembro de 1734Rio de Janeiro, 20 de março de 1816), apelidada de "a Piedosa" e "a Louca", foi a Rainha de Portugal e Algarves de 1777 até 1815, e também Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves a partir do final de 1815 até sua morte. De 1792 até sua morte, seu filho mais novo João atuou como regente do reino em seu nome devido à sua doença mental. Era a filha mais velha do rei José I e sua esposa a infanta Mariana Vitória da Espanha.

Biografia

Dona Maria I, Rainha de Portugal, por José Leandro de Carvalho, 1808.
D. Maria Francisca, Princesa da Beira, Duquesa de Barcelos (1739), Francesco Pavona.

Nascimento

D. Maria nasceu a 17 de dezembro de 1734 no Paço da Ribeira, em Lisboa, Portugal. Seu nome completo era Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança. Foi a primeira filha de D. José de Bragança, então Príncipe do Brasil, e sua esposa Mariana Vitória de Bourbon, Infanta de Espanha.

Quando o seu pai subiu ao trono em 1750 como D. José I, D. Maria tornou-se sua herdeira presuntiva e recebeu os títulos tradicionais de Princesa do Brasil e Duquesa de Bragança.

Casamento

A continuidade dinástica da Casa de Bragança ficou assegurada com o seu casamento com o tio Pedro de Bragança, que subiria ao trono como Pedro III de Portugal. O casamento foi realizado na Real Barraca da Ajuda a 6 de junho de 1760.[1] Anteriormente, pensara-se em casá-la com o seu tio, o Infante Luís de Espanha,[2] e com José II, Imperador do Sacro Império Romano.

Reinado

Embora D.Maria I seja tradicionalmente reconhecida como a primeira Rainha reinante em Portugal, isso é questionável, visto que à luz de uma nova perspectiva da história,Teresa de Leão já havia sido reconhecida como tal pelo papa, em 1112. Seu primeiro acto como rainha, iniciando um período que ficou conhecido como a Viradeira, foi a demissão e exílio da corte do marquês de Pombal, a quem nunca perdoara a forma brutal como tratou a família Távora durante o Processo dos Távoras. Rainha amante da paz, dedicada a obras sociais, concedeu asilo a numerosos aristocratas franceses fugidos ao Terror da Revolução Francesa (1789-1799). Era, no entanto, dada a melancolia e fervor religioso de natureza tão impressionável que quando ladrões entraram em uma igreja e espalharam hóstias pelo chão, decretou nove dias de luto, adiou os negócios públicos e acompanhou a pé, com uma vela, a procissão de penitência que percorreu Lisboa.

O seu reinado foi de grande actividade legislativa, comercial e diplomática, na qual se pode destacar o tratado de comércio que assinou com a Prússia em 1789. Desenvolveu a cultura e as ciências, com o envio de missões científicas a Angola, Brasil, Cabo Verde e Moçambique, e a fundação de várias instituições, entre elas a Academia Real das Ciências de Lisboa e a Real Biblioteca Pública da Corte. No âmbito da assistência, fundou a Casa Pia de Lisboa. Fundou ainda a Academia Real de Marinha para formação de oficiais da Armada.

A 5 de janeiro de 1785 promulgou um alvará impondo pesadas restrições[3] à atividade industrial no Brasil; como por exemplo proibia a fabricação de tecidos e outros produtos. Durante seu reinado ocorreu o processo, condenação e execução do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

Regência do filho

Mentalmente instável, desde 10 de fevereiro de 1792 foi obrigada a aceitar que o filho tomasse conta dos assuntos de Estado. Obcecada com as penas eternas que o pai estaria sofrendo no inferno, por ter permitido a Pombal perseguir os jesuítas, o via como "um monte de carvão calcinado".

Para tratá-la veio de Londres o Dr. Willis, psiquiatra e médico real de Jorge III, enlouquecido em 1788, mas de nada adiantaram seus "remédios evacuantes".

Moeda com as efígies de D. Maria I e Pedro III

Em 1799, sua instabilidade mental se agravou com os lutos pelo seu marido Pedro III (1786) e seu filho, o príncipe herdeiro José, Duque de Bragança, Príncipe da Beira, Príncipe do Brasil, morto aos 27 anos (1788), a marcha da Revolução Francesa, e execução do Rei Luís XVI de França na guilhotina. Por isso, João, seu segundo filho e herdeiro, que futuramente se tornaria João VI de Portugal, assumiu a regência.

Ida para o Brasil

Retrato da Rainha D. Maria I, Predefinição:Circa.

A Família Real Portuguesa transfere-se para o Brasil devido ao receio de ser deposta, à semelhança do que ocorrera nos países recentemente invadidos pelas tropas francesas: Napoleão acumula o título de rei de Itália, dando o título de rei de Nápoles ao seu irmão José Bonaparte, a quem posteriormente situou no trono da Espanha; nos Países Baixos a coroa é dada a seu irmão Luís Bonaparte (Luís I da Holanda). Em 1801, o primeiro-ministro de Espanha, Manuel Godoy apoiado por Napoleão invadiu Portugal por breves meses e, no subsequente Tratado de Badajoz, Olivença passou para a coroa de Espanha, mais tarde também ocupada pelos franceses. Portugal continuou a fazer frente à França e, ao recusar-se a cumprir o bloqueio naval às Ilhas Britânicas, foi iniciada a Primeira invasão francesa de Portugal, pela coligação franco-espanhola liderada pelo Marechal Junot. A família real transfere-se para o Brasil a 29 de Novembro de 1807 deixando Portugal a mercê do invasor. Junot invade Lisboa sendo nomeado governador de Portugal. A 1 de Agosto de 1808, o Duque de Wellington desembarca em Portugal e tem início a Guerra Peninsular. Entre 1809 e 1810, o exército luso-britânico lutou contra as forças invasoras de Napoleão, nomeadamente na Batalha do Buçaco. Quando Napoleão foi derrotado em 1815, Maria e a família real encontravam-se ainda no Brasil. Dos membros da realeza, porém, foi a que se manteve mais calma, chegando a declarar: Não corram tanto, vão pensar que estamos a fugir.

Morte

Túmulo de D. Maria I na Basílica da Estrela, em Lisboa

D. Maria viveu no Brasil por oito anos, sempre em estado de incapacitação. Ela morreu no Convento do Carmo, na cidade do Rio de Janeiro, em 20 de março de 1816, aos 81 anos de idade. Após as cerimónias fúnebres, seu corpo foi sepultado no Convento da Ajuda, também no Rio. Com sua morte, o Príncipe Regente D. João foi aclamado Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

Em 1821, após o retorno da Família Real para Portugal, seus restos mortais foram transladados para Lisboa e sepultados em um mausoléu na Basílica da Estrela, igreja que ela mesma mandou erguer.

Títulos, estilos, e honrarias

Predefinição:Info/Estilos reais

Títulos e estilos

  • 17 de Dezembro de 1734 – 31 de Julho de 1750: "Sua Alteza Real, a Princesa da Beira, Duquesa de Barcelos";
  • 31 de Julho de 1750 – 24 de Fevereiro de 1777: "Sua Alteza Real, a Princesa do Brasil, Duquesa de Bragança, etc.";
  • 24 de Fevereiro de 1777 – 20 de Março de 1816: "Sua Majestade Fidelíssima, a Rainha".

O estilo oficial de D. Maria I, desde a sua Aclamação até 1815 foi: "D. Maria, pela Graça de Deus, Rainha de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhora da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc." Com a criação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em 1815, o seu estilo evoluiu para: "D. Maria, pela Graça de Deus, Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhora da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.".

Honrarias

Enquanto monarca de Portugal, D. Maria I foi Grã-Mestre das seguintes Ordens:

Genealogia

Descendência

Nome Retrato Longevidade Notas
Havidos de D. Pedro III de Portugal
(5 de Julho de 1717 – 25 de Maio de 1786; casados a 6 de Junho de 1760)
José, Príncipe do Brasil Retrato de uma jovem de peruca empoada e vestindo um casaco verde, e um colete dourado sob uma couraça de armadura. Com a Cruz de Cristo ao peito, apoia a mão esquerda num elmo sobre uma mesa e a esquerda na anca. Veste um manto de veludo vermelho, com forro de arminho. 21 de Agosto de 1761 –
11 de Setembro de 1788
Recebeu o título de Príncipe da Beira ao nascer, título criado pelo seu avô materno especialmente para si. Desposou a tia materna, a Infanta Maria Francisca Benedita, de quem tinha quinze anos de diferença de idade; do casamento não houve descendência, tirando dois abortos: um em 1781 e outro em em 1786. Tornando-se Príncipe do Brasil e herdeiro aparente ao trono com a Aclamação da rainha sua mãe, D. José faleceu prematuramente de varíola.
D. João Francisco de Paula Domingos António Carlos Cipriano de Bragança 16 de Setembro de 1763 –
10 de Outubro de 1763
Morreu menos de um mês depois de nascer.
João VI de Portugal Retrato de uma homem de cabelos brancos e patilhas, com um casaco preto com bordados a fio de ouro, e calças brancas. 13 de Maio de 1767 –
10 de Março de 1826
Tornou-se Príncipe do Brasil e herdeiro aparente do trono, com a morte precoce dos irmãos mais velhos. Governou como Príncipe Regente, desde a declaração de incapacidade mental da Rainha D. Maria I em 1792, e tornou-se Rei de Portugal entre 1816 e 1826.
Infanta D. Mariana Vitória Mariana Vitória de Bragança, infanta de Portugal e Espanha.jpg 15 de Dezembro de 1768 –
2 de Novembro de 1788
Nascida no Palácio de Queluz a 15 de Dezembro de 1768, morta em San Lorenzo de El Escorial em 2 de Novembro de 1788, tendo tido dois filhos e uma filha. Casou-se com Gabriel António Francisco Xavier João Nepomuceno José Serafim Pascoal Salvador de Bourbon e Saxe, Infante de Espanha, nascido em Portici a 12 de maio de 1752 e morreu no Escorial a 23 de Novembro de 1788, quarto filho de Carlos III, rei da Espanha e de sua esposa Maria Amália de Saxe.
D. Maria Clementina Francisca Xavier de Paula Ana Josefa Antónia Domingas Feliciana Joana Michaela Julia de Bragança 9 de Junho de 1774 –
27 de Junho de 1776
D. Maria Isabel de Bragança 12 de Dezembro de 1776 –
14 de Janeiro de 1777

Ancestrais

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João IV de Portugal
 
 
 
 
 
 
 
Pedro II de Portugal
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Luísa de Gusmão
 
 
 
 
 
 
 
João V de Portugal
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Filipe Guilherme, Eleitor Palatino
 
 
 
 
 
 
 
Maria Sofia de Neuburgo
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Isabel Amália de Hesse-Darmstadt
 
 
 
 
 
 
 
José I de Portugal
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fernando III do Sacro Império Romano-Germânico
 
 
 
 
 
 
 
Leopoldo I do Sacro Império Romano-Germânico
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Maria Ana da Espanha
 
 
 
 
 
 
 
Maria Ana da Áustria
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Filipe Guilherme, Eleitor Palatino
 
 
 
 
 
 
 
Leonor Madalena de Neuburgo
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Isabel Amália de Hesse-Darmstadt
 
 
 
 
 
 
 
D. Maria I de Portugal
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Luís XIV da França
 
 
 
 
 
 
 
Luís, Delfim da França
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Maria Teresa da Espanha
 
 
 
 
 
 
 
Filipe V da Espanha
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fernando Maria, Eleitor da Baviera
 
 
 
 
 
 
 
Maria Ana Vitória de Baviera
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Henriqueta Adelaide de Saboia
 
 
 
 
 
 
 
Mariana Vitória da Espanha
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rainúncio II Farnésio, Duque de Parma e Placência
 
 
 
 
 
 
 
Eduardo Farnésio, Príncipe Hereditário de Parma
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Isabel d'Este
 
 
 
 
 
 
 
Isabel Farnésio
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Filipe Guilherme, Eleitor Palatino
 
 
 
 
 
 
 
Doroteia Sofia de Neuburgo
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Isabel Amália de Hesse-Darmstadt
 
 
 
 
 
 

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Na cultura popular

A Rainha D. Maria I já foi retratada como personagem no cinema, televisão e no teatro, interpretada por Rita Cléos na novela Dez Vidas (1969), Maria Fernanda no filme Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (1995), Eva Wilma na minissérie O Quinto dos Infernos (2002) e Maria Emília Correia na minissérie Bocage Bocage (2006). No carnaval do Rio de Janeiro em 2008, foi representada no desfile da escola de samba São Clemente pela atriz Rogéria, em enredo sobre o rei João VI. Em 2011, no teatro, a atriz Maria do Céu Guerra é D. Maria, A Louca de um texto do autor brasileiro Antônio Cunha, apresentado pela companhia portuguesa A Barraca.

Uma versão altamente ficcionalizada da rainha D. Maria I é a protagonista da opéra-comique Les diamants de la couronne (1841), pelo compositor Daniel Auber, com libretto de Eugène Scribe e Jules-Henri Vernoy de Saint-Georges; figurando igualmente na adaptação a zarzuela de Francisco Asenjo Barbieri, Los diamantes de la corona (1854), esta com libretto de Francisco Camprodón. Na ópera, D. Maria é menor aquando da morte do seu pai, sendo o país governado por um Conselho de Regência liderado pelo Conde de Campo Mayor. D. Maria toma o nome de "Catalina" e, sem ninguém o saber, lidera um grupo de bandidos com o intuito de vender as jóias da coroa, substituindo-as por falsificações, para trazer solvência fiscal ao Estado. No final, durante a sua coroação, D. Maria usa a sua astúcia para evitar a determinação do Conselho de Regência que a obrigaria a casar com um filho de rei de Espanha e, ao invés, casa com o Marquês de Sandoval, que havia sido assaltado pelos bandidos e se havia enamorado pela beleza de "Catalina", chefe da quadrilha.[4]

Maria-vai-com-as-outras

O termo "maria-vai-com-as-outras" é muito popular na lusofonia, onde é usado para designar uma pessoa fraca, sem opinião própria, que se deixa levar pelos outros. Segundo o pesquisador Brasil Gerson, autor do livro Histórias das Ruas do Rio, o termo foi cunhado a partir da figura da rainha D. Maria I, que viveu seus últimos anos no Rio de Janeiro. Declarada mentalmente incapaz desde 1792, D. Maria vivia reclusa e só saía na companhia de suas damas, que costumavam levá-la para passear às margens do rio Carioca, no antigo bairro de Águas Férreas (atual Cosme Velho). Ao ver a monarca sendo conduzida pelas mãos por suas damas, a população exclamava: Maria Vai-com-as-Outras.[5]

Referências

  1. Lusitania Sacra - 2a Série - Tomo 5 (1993) - Página 179
  2. BRAGA, Paulo Drumond (2014). A Rainha Discreta: Mariana Vitória de Bourbon. [S.l.]: Círculo de Leitores. p. 153 
  3. Alvará de D. Maria I sobre a indústria no Brasil
  4. Francisco Asenjo Barbieri. Los diamantes de la corona. Ed de Emilio Casares. Ediciones y publicaciones de Autor SRL. Teatro de la Zarzuela. Madrid. 2010
  5. «Cópia arquivada». Consultado em 4 de setembro de 2011. Arquivado do original em 19 de janeiro de 2012 

Bibliografia

  • Defesa Militar, Princípios dos dois irmãos Jorge e Julio Stumpf Vasconcellos Editora Biblioteca do Exército e Marinha do Brasil, 1939.

Ver também

Ligações externas


Maria I de Portugal
Casa de Bragança
Ramo da Casa de Avis
17 de dezembro de 1734 – 20 de março de 1816
Precedida por
José I
Coat of Arms of the Prince of Portugal (1481-1910).png
Princesa do Brasil
31 de julho de 1750 – 24 de fevereiro de 1777
Sucedida por
José
Coat of Arms of the Kingdom of Portugal 1640-1910 (3).svg
Rainha de Portugal e Algarves
24 de fevereiro de 1777 – 16 de dezembro de 1815
com Pedro III (1777–1786)
Sucedida por
João VI
Título criado Full arms of the United Kingdom Portugal Brazil and Algarves.svg
Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves
16 de dezembro de 1815 – 20 de março de 1816


Predefinição:Duques de Bragança

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