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Manuel I de Portugal: mudanças entre as edições

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[[Imagem:ManuelI-P.jpg|thumb|200px|right|Manuel I, rei de Portugal]]
{{Ver desambig|redir1=Dom Manuel|redir2=Manuel I|o imperador bizantino|Manuel I Comneno||Manuel de Portugal}}
{{Mais notas|data=janeiro de 2022}}
{{Info/Nobre
| nome = Manuel I
| título =
| imagem = King Manuel I as King David.PNG
| imgw = 245px
| legenda = [[Iluminura]] de Dom Manuel, representado como [[Rei David]], no ''Missal Rico'' ou ''Missal de Santa Cruz de Coimbra'', entre c. 1517-1527
| sucessão = [[Lista de monarcas de Portugal|Rei de Portugal e Algarves]]
| reinado = {{dtlink|25|10|1495}}<br/>a {{dtlink|13|12|1521}}
| coroação = {{dtlink|27|10|1495}}
| tipo-cor = Coroação
| predecessor = [[João II de Portugal|João II]]
| sucessor = [[João III de Portugal|João III]]
| cônjuge = [[Isabel de Aragão e Castela, Rainha de Portugal|Isabel de Aragão e Castela]]<br/>[[Maria de Aragão e Castela, Rainha de Portugal|Maria de Aragão e Castela]] <br>[[Leonor de Áustria, Rainha de Portugal e de França]]
| tipo-cônjuge = Esposas
| descendência = [[Miguel da Paz, Príncipe de Portugal e das Astúrias|Miguel da Paz, Príncipe de Portugal]]<br/>[[João III de Portugal]]<br/>[[Isabel de Portugal, imperatriz do Sacro Império Romano-Germânico|Isabel de Portugal]]<br/>[[Beatriz de Portugal, Duquesa de Saboia|Beatriz de Portugal]]<br/>[[Luís de Portugal, Duque de Beja|Luís, Duque de Beja]]<br/>[[Fernando de Portugal, Duque da Guarda|Fernando, Duque da Guarda]]<br/>[[Afonso de Portugal (1509–1540)|Afonso de Portugal]]<br/>[[Henrique I de Portugal]]<br/>[[Duarte de Portugal, 4.º Duque de Guimarães|Duarte, Duque de Guimarães]]<br/>[[Carlos, Infante de Portugal|Carlos de Portugal]]<br/>[[Maria de Portugal, Duquesa de Viseu|Maria, Duquesa de Viseu]]
| casa = [[Dinastia de Avis|Avis]]
| pai = [[Fernando de Portugal, Duque de Viseu|Fernando, Duque de Viseu]]
| mãe = [[Beatriz de Portugal, Duquesa de Viseu|Beatriz de Portugal]]
| data de nascimento = {{dni|31|5|1469|si}}
| local de nascimento = [[Alcochete]], [[Reino de Portugal|Portugal]]
| data da morte = {{nowrap|{{morte|13|12|1521|31|5|1469}}}}
| local da morte = [[Paço da Ribeira]], [[Lisboa]], [[Reino de Portugal|Portugal]]
| local de enterro = [[Mosteiro dos Jerónimos]], [[Belém (Lisboa)|Belém]], [[Portugal]]
| assinatura = Assinatura de D. Manuel I.svg
| religião = [[Igreja Católica|Catolicismo]]
| brasão = Coat of Arms of Manuel I and John III of Portugal (Order of the Golden Fleece).svg
}}
'''Dom Manuel I''' ([[Alcochete]], {{dtlink|31|5|1469}} – [[Lisboa]], {{dtlink|13|12|1521}}), apelidado de ''O Venturoso'', foi o [[Lista de monarcas de Portugal|Rei de Portugal e Algarves]] de 1495 até à sua morte. Era o filho mais novo do [[infante]] [[Fernando de Portugal, Duque de Viseu|Fernando, Duque de Viseu]] filho do rei {{lknb|Duarte|I|de Portugal}} e de sua esposa, a infanta [[Beatriz de Portugal, Duquesa de Viseu|Beatriz de Portugal]], neta do rei {{lknb|João|I|de Portugal}} e filha do [[João, Infante de Portugal|infante João]]. Manuel ascendeu ao trono após a morte de seu primo, o rei {{lknb|João|II|de Portugal}}, que não tinha herdeiros legítimos e o nomeou como seu sucessor. Na realidade, foi o único a subir ao trono sem ser parente em primeiro grau ou descendente do antecessor. Para a sua coroação beneficiou da morte do filho do rei João II, de nome [[Afonso, Príncipe de Portugal (1475–1491)|Afonso]]. Uma das irmãs de Manuel é a rainha [[Leonor de Avis, Rainha de Portugal|Leonor]], casada com João II.
 
Prosseguiu as [[descobrimentos portugueses|explorações portuguesas]] iniciadas pelos seus antecessores, o que levou à [[descoberta do caminho marítimo para a Índia]], ao [[Descoberta do Brasil|descobrimento do Brasil]], e das ambicionadas "ilhas das especiarias", as [[Ilhas Molucas|Molucas]], determinantes para a expansão do [[império Português|império português]]. Foi o primeiro rei a assumir o título de ''Senhor do Comércio, da Conquista e da Navegação da Arábia, Pérsia e Índia''. Em 1521, promulgou uma revisão da [[codificação jurídica|legislação]] conhecida como [[Ordenações Manuelinas]], que divulgou com ajuda da recente [[prensa móvel|imprensa]]. No seu reinado, apesar da sua resistência inicial, cumprindo as cláusulas do seu casamento com Dona [[Maria de Aragão e Castela, Rainha de Portugal|Maria de Aragão]], viria a solicitar ao papa em [[1515]] a instalação da [[Inquisição portuguesa|inquisição em Portugal]], o que só viria a ser concedido no reinado seguinte, perante novo pedido de [[D. João III de Portugal|D. João III]]. Com a prosperidade resultante do comércio, em particular o de [[especiarias]], realizou numerosas obras cujo estilo arquitectónico ficou conhecido como [[manuelino]].
 
== Vida ==
 
===Infância e juventude===
Constantes surtos de [[peste negra]] em [[Lisboa]], capital do Reino, levaram a corte e a [[nobreza]] dos séculos XIV e XV a instalarem-se em [[Alcochete]], nomeadamente o rei [[João I de Portugal|João I]] e, em meados do século XV, o seu neto [[infante]] Fernando, Duque de Viseu. Aí, na vila de Alcochete, nasceu em 1469 Manuel, filho de [[Fernando, Duque de Viseu]] e de [[Beatriz de Portugal (1430)|Beatriz de Portugal]].
 
[[Ficheiro:Livro do Armeiro-Mor, Rei de Portugal.jpg|thumb|upright|left|Armas de Manuel I de Portugal, <small>''[[Livro do Armeiro-Mor]]'', 1509</small>]]
Durante a infância e a juventude, assistiu à guerra de intriga e conspiração entre a aristocracia e o seu primo direito [[João II de Portugal|João II]], muito cioso do seu poder. Alguns homens do seu círculo próximo foram mortos ou [[exílio|exilados]], incluindo o seu irmão mais velho [[Diogo, Duque de Viseu]], assassinado pelo próprio rei. Sucedeu-lhe como 5.º [[Duque de Viseu]], 5.º Senhor da [[Covilhã]] e 4.º [[Duque de Beja]], 4.º Senhor de [[Moura]]. Portanto, quando em 1493 recebeu uma ordem real de comparência no [[Palácio|paço]], Manuel I deveria estar preocupado. Mas o propósito de João II era nomeá-lo herdeiro da coroa, depois da morte do seu filho [[Afonso de Portugal (1475)|Afonso de Portugal]] e das tentativas frustradas de legitimar o bastardo [[Jorge de Lencastre]].
 
Manuel I ascendeu ao trono em circunstâncias excepcionais, sucedendo  [[João II de Portugal]] em 1495 de quem se tornara uma espécie de «filho adoptivo».<ref name="PPereira">Paulo Pereira, ''Enciclopédia dos Lugares Mágicos de Portugal'', volume IX, página 70</ref>
 
== Política externa e descobrimentos==
[[Ficheiro:Esfera armilar.jpg|thumb|upright|left|[[Esfera armilar]], divisa de Manuel&nbsp;I conferida por João II que, tendo escrito no meridiano ''"Spera Mundi"'' foi, mais tarde, interpretada como sinal de um desígnio divino para o reinado de Manuel, [[Igreja Matriz da Golegã]]]]
[[Ficheiro:Manuel I1.jpg|thumb|250px|D. Manuel I de Portugal, em iluminura do frontispício do "Livro 1 de Além Douro" da Leitura Nova (escrito em 15??-1521).
Date]]
Aclamado em 27 de Outubro de 1495, Manuel I provou ser um sucessor à altura, apoiando os [[descobrimentos portugueses]] e o desenvolvimento dos monopólios comerciais. Durante seu reinado, [[Vasco da Gama]] descobriu o [[Descoberta do caminho marítimo para a Índia|caminho marítimo para a Índia]] (1498) onde encontrou hostilidades e nisso, não conseguiu trazer especiarias de Calecute e por isso chegou a Portugal de mãos a abanar, com isso D. Manuel chama [[Pedro Álvares Cabral]] que descobriu o [[Descoberta do Brasil|Brasil]] (1500) o que pode ter sido uma missão não muito importante para algumas pessoas pois é provável que Duarte Pacheco Pereira lá tenha chegado 2 anos antes, em 1498, também porque D. João II negou o financiamento da viagem de Colombo à América sobre o financiamento dos Reis Católicos de Espanha, mas Colombo dizia chegar à Índia, pode ser provável que o mesmo D. João II já soubesse da existência de terras a Ocidente pois D. João II reclamou ao Papa Alexandre VI no Tratado de Tordesilhas que o limite de exploração fosse 370 léguas a Ocidente de Cabo Verde e tinha razão pois era o Continente Americano que depois da descoberta do Brasil prosseguiu para a Índia e conseguiu o Comércio das Especiarias, no seu reinado também [[Francisco de Almeida]] tornou-se no primeiro [[lista de governadores da Índia Portuguesa|vice-rei da Índia]] (1505) e o almirante [[Afonso de Albuquerque]] assegurou o controlo das rotas comerciais do [[oceano Índico]] e [[golfo Pérsico]] e conquistou para Portugal lugares importantes como [[Malaca]], [[Goa]] e [[Ormuz]].
 
Também no seu reinado organizam-se viagens para [[Oeste|ocidente]], tendo-se chegado à [[Gronelândia]] e à [[Terra Nova]]. O seu reinado decorreu num «contexto expansionista, já preparado por seu antecessor - e marcado pela descoberta do caminho marítimo para a Índia em 1498 e pelas consequências políticas e económicas que advieram deste facto».<ref name="PPereira" />
 
A extensão de seu reinado «permite surpreender nele uma personagem determinada, teimosa, voluntariosa, [[autocracia|autocrática]], detentora de um programa político de potenciação do seu poder dotado de uma assombrosa coerência, posto em prática até ao seu mais ínfimo detalhe.
 
Manuel I opta por uma política de expansão indiana e põe em prática os seus princípios, criando a oportunidade para a realização da [[Descoberta do caminho marítimo para a Índia|viagem de Vasco da Gama]] em 1497, contra, ao que parece, a oposição de parte do seu conselho. Escolhe, ainda, a via da inversão pró-aristocrática, ou seja, de restauração de privilégios e direitos antes postos em causa e isto certamente por opção política de Estado. O rei edifica, igualmente, um Estado que prenuncia em boa medida o [[absolutismo]] régio e o governo [[iluminismo|iluminado]], por contraponto, aliás, ao problemático e agitado centralismo do seu antecessor João II.<ref name="PPereira" />


'''D. Manuel I''', décimo-quarto [[Lista de reis de Portugal|Rei de Portugal]], nasceu em [[Alcochete]] a [[30 de Maio]] de [[1469]] e morreu em [[Lisboa]] a [[13 de Dezembro]] de [[1521]]. Era filho do píncipe [[Fernando, Duque de Viseu|Fernando de Portugal]], [[duque de Viseu]], e de Beatriz de Aveiro, princesa de Portugal. Manuel sucedeu ao primo direito [[João II de Portugal]] em [[1495]]. Foi cognominado de ''O Venturoso'', ''O Bem-Aventurado'' ou ''O Afortunado'', pelos eventos felizes que ocorreram no seu reinado, designadamente a descoberta do caminho marítimo para a [[Índia]] e do [[Brasil]].
Tudo isto contribuiu para a constituição do [[Império Português]], fazendo de Portugal um dos países mais ricos e poderosos da [[Europa]]. Manuel&nbsp;I utilizou a riqueza obtida pelo comércio para construir edifícios reais, no que se chamaria muito posteriormente [[estilo manuelino]], dos que são exemplo o [[Mosteiro dos Jerónimos]] e a [[Torre de Belém]]. Atraiu cientistas para a corte de [[Lisboa]] e estabeleceram-se tratados comerciais e relações diplomáticas com a [[China]] e a [[Pérsia]], além de que, em [[Marrocos]], realizaram-se conquistas como [[Safim]], [[Azamor]] e [[Agadir]].


Durante a sua infância e juventude, Manuel assistiu à guerra de intriga e conspiração entre a aristocracia portuguesa e o rei [[João II de Portugal|João II]] muito cioso do seu poder. Alguns homens do seu círculo próximo foram mortos ou exilados, incluíndo o seu irmão mais velho [[Diogo, Duque de Viseu]], assassinado pelo rei em pessoa. Portanto, quando em [[1493]] recebeu uma ordem real de comparência no paço, Manuel estava no mínimo preocupado. Sem razão, porque o propósito de João II era nomeá-lo herdeiro da coroa, depois da morte do seu filho [[Afonso de Portugal]] e das tentativas frustradas de legitimar o bastardo Jorge de Lencastre.  
A sua completa consagração europeia deu-se com a aparatosa embaixada em 1514, chefiada por [[Tristão da Cunha]], enviando ao [[papa Leão X]] presentes magníficos como pedrarias, tecidos e [[joalharia|jóias]]. Dos animais raros, destacaram-se um cavalo persa e um [[elefante]], chamado [[Hanno (elefante)|Hanno]], doravante [[mascote]] do papa, que executava várias habilidades. Mas uma das inúmeras novidades que encantaram os espíritos curiosos das cortes europeias da época terá sido sem dúvida o [[rinoceronte]] trazido das Índias, que assumiu, então, um papel preponderante na arte italiana.


Manuel provou ser um sucessor à altura de João II, apoiando os [[descobrimentos portugueses]] e o desenvolvimento dos monopólios comerciais. Durante o seu reinado, [[Vasco da Gama]] descobriu o caminho marítimo para a Índia ([[1498]]), [[Pedro Álvares Cabral]] descobre o [[Brasil]] ([[1500]]), [[Francisco de Almeida]] torna-se no primeiro [[vice-rei da Índia]] ([[1505]]) e o almirante [[Afonso de Albuquerque]] assegura o controlo das rotas comerciais do [[Oceano Índico]] e [[Golfo Pérsico]] para Portugal. Tudo isto contribuíu para a constituição do [[Império português]] que fez de Portugal um dos países mais ricos e poderosos do mundo. Manuel utilizou a riqueza obtida pelo comércio para construir edifícios reais no [[estilo manuelino]] (o [[Mosteiro dos Jerónimos]] é um exemplo) e atrair cientistas para a corte de Lisboa. Durante o seu reinado estabeleceram-se tratados comerciais e relações diplomáticas com a [[China]] e a [[Pérsia]] e foi enviada uma monumental embaixada a Roma, para impressionar o Papa com as riquezas acumuladas.  
== Política interna  ==
[[Ficheiro:Mosteiro dos Jerónimos3.JPG|thumb|upright|O [[Mosteiro dos Jerónimos]], em [[Lisboa]], um dos legados mais exuberantes do [[estilo manuelino]].]]
Na vida política interna, Manuel&nbsp;I seguiu as pisadas de João II e tornou-se quase num rei absoluto. As ''[[cortes (política)|cortes]]'' foram reunidas apenas três vezes durante o seu reinado de mais de vinte e cinco anos, e sempre no [[Paço da Ribeira|paço de Lisboa]]. Manuel&nbsp;I dedicou-se à reforma dos [[tribunal|tribunais]] e do [[impostos|sistema tributário]], adaptando-o ao progresso económico que Portugal então vivia.


Na vida política interna, Manuel seguiu as pisadas de João II e tornou-se quase num rei absoluto. As ''[[cortes (política)|cortes]]'' foram reunidas apenas três vezes durante o seu reinado de mais de vinte e cinco anos e sempre no paço de Lisboa. Manuel dedicou-se à reforma dos tribunais e do sistema tributário, adaptando-o ao progresso económico que Portugal então vivia.  
Analisando-se a sua obra, verifica-se que avulta a tentativa de reforma do reino, «através da criação de instrumentos unificadores de carácter estatal, como sejam a publicação dos [[foral|Forais]] Novos, reformando os antigos, a Leitura Nova (1504-1522), a compilação e revisão da [[legislação]], consagrada pelas Ordenações Manuelinas, a reorganização da Fazenda Pública e a estruturação administrativa daí decorrente. Com ele organiza-se o Estado moderno».<ref>Paulo Pereira, ''Enciclopédia dos Lugares Mágicos de Portugal'', volume IX, página 72</ref> Prova de que Manuel foi um rei que se preocupou em preservar a justiça e a boa ordem do Reino, é que durante seu reinado não apenas as Ordenações do Reino foram reformadas, mas também os Forais, a Ordenação e Regimento dos Pesos (1502), o Regimento dos Oficiais das Cidades, Vilas e Lugares destes Reinos (1504), os Artigos das Sisas (1512), o Regimento dos Contadores das Comarcas (1514), o Regimento das Ordenações da Fazenda (1516) e as Ordenações da Índia (1520). Obras de caráter burocrático fundamentais para a administração e organização do Reino português.


Manuel era um homem bastante religioso que investiu uma boa parte da fortuna do país na construção de igrejas e mosteiros, bem como no patrocínio da evangelização das novas colónias através dos missionários católicos. O seu reinado ficará também lembrado pela perseguição feita a judeus e muçulmanos em Portugal, particularmente nos anos de 1496 a 1498. Esta política extremista foi talvez tomada por forma a agradar aos [[reis católicos]] e uma das cláusulas do seu contrato de casamento com a herdeira de Espanha, [[Isabel de Aragão]]. Manuel procurou, no entanto, acabar com a distinção jurídica entre Cristãos Velhos e Cristãos Novos (os convertidos) e pôr fim à perseguição continuada dos que aceitavam o baptismo e conversão. Nada disto porém evitou [[Massacre de Lisboa de 1506|um massacre de judeus em Lisboa]], perpretado em  [[1506]].
=== Absolutismo de direito divino ===
[[Ficheiro:Xilogravura das Ordenações Manuelinas.png|thumb|upright|left|''[[Ordenações Manuelinas]]'', <small>xilogravura da edição de 1514, impressa por João Pedro Buonhomini nas instalações de [[Valentim Fernandes]], em Lisboa</small>]]
Em seis gravuras constantes da edição das Ordenações de 1514 - a única ilustrada - vemos o rei em majestade, portando uma coroa aberta e armadura, ladeado pela sua divisa, a esfera armilar e pelas armas do Reino, representada pelo escudo manuelino. Na sua mão direita está sempre o cetro real, símbolo da justiça, a que se prende uma fita, chamada [[filactério]], onde se lê ''DEO IN CELO TIBI AVTEM IN MVNDO'' («A Deus no céu e a ti na terra»). É evidente a intenção de representar a ligação entre o terreno e o divino, e lembrar a noção de dualidade [[Espelho|especular]] entre uma corte terrena, encabeçada pelo rei e uma corte celestial encabeçada por [[Cristo]].<ref name="gama">GAMA, A. B. ''As Ordenações Manuelinas, a tipografia e os descobrimentos'': a construção de um ideal régio de justiça no governo do Império Ultramarino português. [http://www.revistanavigator.com.br/navig13/dossie/N13_dossie2.pdf Artigo] na Revista Navigator, acessado em 5 de julho de 2012.</ref> Isto reforça a ligação de Manuel com o [[messianismo]] e com a ideia de um rei enviado por [[Deus]], um escolhido para representar a [[cristandade]] ante o novo horizonte que se descortinava com os descobrimentos. E de fato a sua imagem que passou à História foi a de um rei representante de Cristo, Senhor personificado na figura divina da Justiça, do “perfeito monarca” e do “rei arquétipo”.<ref name="magalhaes">MAGALHÃES, Joaquim Romeiro (Coord.). ''História de Portugal'': no alvorecer da modernidade. Lisboa: [[Editorial Estampa]], 1997, p. 61.</ref>


Isabel morreu em 1498, durante um difícil trabalho de parto, pondo fim ao velho sonho de João II de unir as coroas ibéricas em mãos portuguesas. A segunda mulher de Manuel, [[Maria de Aragão]] era outra das filhas dos reis católicos, mas já não a princesa herdeira, que era por morte de Isabel, [[Joana I de Castela|Joana, a Louca]] casada com o herdeiro dos [[Habsburgos]].  
O rei era representado como o centro coordenador e a ele cabia, na mais alta composição, o mais nobre dos ofícios: ministrar a justiça. Essa ligação entre o terreno e o espiritual está também presente no ideal régio que é justificado por João de Barros no Panegírico, “porque sendo Deus perfeita justiça, os reis, que por ele são ordenados e cujo poder representam, a ele só em tudo devem seguir”.<ref>[[João de Barros|BARROS, João de]]. [[Panegírico]]s. Lisboa: [[Sá da Costa]], 1937, p. 3-5; Apud: MAGALHÃES, J. R., op. cit.</ref> Esse tino requerido para a figura real se faz necessário para que o povo tenha em seu governante o “paradigma a seguir em todas as circunstâncias”, sendo para o mesmo, exigido ainda, qualidades que o tornem afamado e digno, dentre elas: “temperança, honestidade, humanidade, comedimento, bondade, fortaleza, lealdade, prudência, magnanimidade, amor às letras (...) e seus pensamentos em Deus”.<ref name="magalhaes" />
{{Limpar}}


Manuel morreu pacificamente em 1521 e encontra-se supultado no [[Mosteiro dos Jerónimos]].  
=== Política religiosa ===
[[Ficheiro:Livro 3 Misticos.jpg|thumb|150px|[[Iluminura]] do período manuelino, "Livro 3 Místicos"]]
Manuel I era um homem bastante religioso que investiu uma boa parte da fortuna do país na construção de [[igreja]]s e [[mosteiro]]s, bem como no patrocínio da evangelização das novas [[Colónia (história)|colónias]] através dos [[missões|missionários]] [[catolicismo|católicos]]. A missão evangelizadora para o mundo inteiro é mesmo, junto com os interesses económicos e militares, uma das linhas fundamentais da expansão portuguesa, tendo, por exemplo, na relação com o Papa e nas consequências culturais da expansão uma marca manuelina muito forte.  


===Descendência===
Na tradição de reis anteriores, D. Manuel iniciou o seu reinado com grande tolerância religiosa, libertando mesmo os judeus que haviam fugido das perseguições em Castela e estavam em situação de escravatura. Esta tolerância era também justificada pela necessidade do capital financeiro e intelectual das comunidades hebraicas, essencial para a sua política expansionista. No entanto a sua ambição de unir os reinos ibéricos, levaram-no a ceder às exigências dos  [[reis católicos]], numa das cláusulas do seu contrato de casamento com a herdeira de Espanha, [[Isabel de Aragão e Castela, Rainha de Portugal|Isabel de Aragão]], assinado em 30 de novembro de 1496<ref>[http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf/st12/Costa,%20Hermisten%20Maia%20Pereira%20da.pdf O MESSIANISMO DO PADRE VIEIRA E A INQUISIÇÃO.], acesso em 22 de outubro de 2016.</ref>, para que fossem expulsos os infiéis (mouros e judeus). Cedendo a idênticas pressões castelhanas, D. Manuel I solicitou em 1515 do papa [[Leão X]], através do seu embaixador em Roma, a introdução em Portugal de um tribunal da Inquisição.<ref>Giuseppe Marcocci, "A fundação da Inquisição em Portugal: um novo olhar", ''Lusitania Sacra'', 23 (Janeiro-Junho 2011), p. 23</ref>


*Primeira mulher, [[Isabel de Aragão]], princesa de Espanha (1470–1498)
Em especial no que respeita à comunidade judaica, a tentativa de D. Manuel de manipular a situação, com avanços e recuos, teve resultados muito violentos. Por exemplo: para evitar a saída em massa pela expulsão exigida por Castela, permitiu período mais alargado de conversão ao cristianismo, isentando os convertidos de qualquer inquérito durante vinte anos, o que na prática lhes permitia continuar os rituais hebraicos, fechou os portos do reino excepto o de Lisboa, ou obrigou à educação por famílias cristãs de filhos de judeus, que os recuperariam caso se convertessem. No entanto, esta tentativa, de si violenta, redundou em fracasso, com conversões forçadas em massa, com o acicatar dos fundamentalistas religiosos e dos populares descontentes e com a criação de uma comunidade de cristãos-novos ou marranos sempre sob suspeita. Pode ser questionado se o seu objectivo de diluição das comunidades e integração religiosa terá sido atingido, quando se considera que duzentos anos depois até os inquisidores tinham ascendência judia, e por outro lado a tradição fundamentalista cristã anti-semita sem ser exclusiva do seu reino, da sua religião, ou do seu reinado, sai deste reforçada.
** Miguel da Paz (1498-1500)
*Segunda mulher [[Maria de Aragão]], princesa de Espanha  (1482-1517)
** [[João III de Portugal|João III, rei de Portugal]] (1502-1554)
** [[Isabel de Portugal]] (1503-1539), casada com [[Carlos V, Imperador da Alemanha]]
** Beatriz de Portugal (1504-1538), casada com [[Carlos III, Duque de Sabóia]]
** Luís, Duque de Beja (1506-1555)
** Fernando, Duque da Guarda (1507-1534), casado com Guiomar Coutinho, Condessa de Marialva
** Afonso de Portugal, Cardeal (1509-1540)
** Maria (1511-1513)
** [[Henrique I de Portugal|Cardeal Henrique, rei de Portugal]] (1512-1580)
** Duarte, Duque de Guimarães (1515-1540), casado com Isabel de Bragança, bisavô de [[João IV de Portugal]]
** António (1516)
*Terceira mulher, Leonor da Áustria, princesa de Espanha (1498-1558)
** Carlos (1520-1521)
** Maria (1521-1577)


== Referências Externas ==
É controverso considerar o [[Massacre de Lisboa de 1506]] como uma das consequências directas da política de Manuel&nbsp;I, dada a situação de seca, fome, epidemia e intolerância que aprofundaram as tensões sociais e que decorrem a nível mundial na época. Será consensual afirmar que foi algo que o horrorizou e enraiveceu, o que se prova na sua reacção de castigo aos culpados pelo massacre (mesmo àqueles instigadores por cuja condição social era normal poupar, como os padres) e de humilhação à cidade de Lisboa, da qual estava ausente, assim como na linguagem dos relatos oficiais.


[http://www.maxpages.com/cobm/A_Inquisicao_em_Portugal Ver o papel de Manuel I na perseguição aos judeus aqui]
=== Ciência, cultura e artes ===
Na cultura, esta época observou das mais importantes revoluções culturais, políticas, económicas, religiosas sociais e científicas pelas quais a [[Humanidade]] já passou. A política de Manuel I não foi indiferente ao desenvolvimento Cultural, promovendo-o activamente, procedeu mesmo à reforma dos Estudos Gerais, criando novos planos educativos e bolsas de estudo.


{{ Reis de Portugal |
O contexto do Renascimento é incontornável para enquadrar e compreender esta dimensão da época manuelina e das Descobertas de cujo apogeu participou. As Descobertas portuguesas tornaram-se tema, questionamento e desafio para a criação artística, científica e filosófica europeias, sendo uma das matrizes fundamentais do [[Humanismo]]. O reinado de D. Manuel insere-se, portanto no [[Renascimento em Portugal]], um período de forte criação e inovação, quer em diálogo com modelos europeus, quer enriquecendo-os, seja nas ciências, como a matemática, astronomia, cartografia, biologia, medicina, farmacêutica, seja na arte literatura, poesia e teatro, música, pintura e arquitectura, seja na filosofia, na religião e na política.
| anterior=[[João II de Portugal|João II]]
 
| seguinte=[[João III de Portugal|João III]]
Para além do óbvio [[estilo manuelino]] com que é marcada a arquitectura desta época para as grandes obras e que se estendeu também a outras artes como a iluminura, pintura e ourivesaria, considerando os Descobrimentos no seu impacto humanista e científico, podemos ainda incluir como tendo impacto nesta época e posterior autores que são nomes de grande relevo na cultura europeia, como [[Pedro Nunes]], [[Abraão Zacuto]], Simão Álvares do [[Renascimento]], [[Damião de Góis]], [[Sá de Miranda]], [[Garcia da Orta]], [[Bernardim Ribeiro]], [[Garcia de Resende]], [[Gil Vicente]], [[Nuno Gonçalves]], [[Grão Vasco]], Duarte Barbosa, [[Gaspar Correia]], [[Duarte Pacheco Pereira]], [[António Galvão]], João de Barros, Tomé Pires e muitos mais.
 
== Morte e exéquias fúnebres ==
No início de dezembro de 1521, altura em que Lisboa era assolada por um surto de pestilência, D. Manuel, que se encontrava com a sua corte no [[Paço da Ribeira]], adoeceu gravemente "''de uma febre espécie de modorra''", segundo relata [[Damião de Góis]]. Manifestando os primeiros sintomas no dia 4, três dias mais tarde já se mostrava incapaz de assinar [[Alvará Régio|alvarás]] e, no dia 11, ordenava um codicilo ao seu testamento. Acabou por morrer no cair da noite do dia 13, altura em que entrou em delírio, recitando em voz alta os versos dos [[Livro de Salmos|Salmos]], que sabia de cor, e após receber a [[Unção dos enfermos|extrema-unção]]. Estavam presentes religiosos e a mais alta nobreza do reino, incluindo [[Jaime I, Duque de Bragança|D. Jaime, Duque de Bragança]], [[Afonso de Portugal, bispo de Évora|D. Afonso, Bispo de Évora]] (com quem D. Manuel ainda trocou breves palavras), [[Fernando de Meneses Coutinho e Vasconcelos|D. Fernando, Bispo de Lamego]] (que era capelão-mor do rei) e o confessor e provincial dominicano Frei Jorge Vogado.<ref name="Buescu2011">{{citar periódico |ultimo=Buescu |primeiro=Ana Isabel |data=2011 |titulo=A morte do rei. Tumulização e cerimónias de trasladação dos reais corpos (1499-1582) |url=http://hdl.handle.net/10362/11190 |periódico=Ler História |volume= |número=60 |páginas=9-33 |acessodata=15 de Agosto de 2017 }}</ref>
 
Morto o rei, o seu corpo foi colocado num ataúde de madeira, após ser arranjado "''como a rei convinha''", que foi carregado por [[Jaime I, Duque de Bragança|D. Jaime, Duque de Bragança]], [[Jorge de Lancastre|D. Jorge, Duque de Coimbra]], [[Fernando de Meneses, 2.º Marquês de Vila Real|D. Fernando, Marquês de Vila Real]], e [[Pedro de Meneses, 3.º Marquês de Vila Real|D. Pedro, Conde de Alcoutim]] para a Sala Grande do Paço, situada no piso inferior. O ataúde foi destapado, e todos os presentes beijaram a sua mão. Depois, D. Jaime e D. Jorge pregaram a tampa do caixão mas, nas palavras do cronista, "''os quais pregos não foram tão pregados com martelos como com as cabeças dos que eram presentes que com elas davam muitas pancadas no ataúde e no chão que era uma mui grave cousa de ver''".<ref name="Buescu2011"/>
 
[[Ficheiro:Livro de Horas dito de D. Manuel (Ofício dos Mortos), atribuído a António de Holanda, 1517-1551.png|300px|thumb|right|Iluminuras do Ofício dos Mortos no ''[[Livro de Horas de D. Manuel]]'', atribuídas a [[António de Holanda]]. Surge representada, ao fundo, a cerimónia da quebra dos escudos durante as exéquias de D. Manuel.]]
O corpo do rei foi levado em procissão para [[Belém (Lisboa)|Belém]] entre as duas e as três horas da manhã do dia 14 de dezembro de 1521. O ataúde, coberto de veludo preto com uma cruz de damasco branco, foi colocado sobre uma azémola. Junto às portas do [[Paço da Ribeira]], aguardava um grande número de clero e grandes e fidalgos do reino com seus criados, com mais de seiscentas tochas que alumiavam a noite. O caminho até Belém foi acompanhado por muitos populares. D. Manuel foi provisoriamente sepultado, em campa rasa, na [[Capela de São Jerónimo|''igreja velha'' do Restelo]], uma vez que o corpo do [[Mosteiro dos Jerónimos]], onde deixara expresso desejar ser sepultado, não estava ainda concluído. O ataúde foi tomado aos ombros por fidalgos, ladeados pelos frades, segurando grandes círios acesos e de capelos sobre os olhos. Dentro da igreja, o Duque de Bragança, o Duque de Coimbra, o Marquês de Vila Real, e o Conde de Alcoutim, pegando em enxadas, enterraram-no numa campa rasa, sem mais cerimónia ou pompa, enquanto os presentes lamentavam e gritavam em altos brados o seu pranto, em vivas manifestações de pesar.<ref name="Buescu2011"/>
 
As exéquias reais tiveram lugar na terça-feira seguinte, na [[Sé de Lisboa]], com cerimónias que só terminaram cerca da uma hora da tarde do dia seguinte. O último ofício público foi a cerimónia da quebra dos escudos: acompanhados por muitos senhores e fidalgos a pé, três juízes da cidade (dois do crime, e um do cível), vestidos de negro, traziam sobre a cabeça três grandes escudos negros; diante deles, num cavalo preto coberto de de paramentos de linho da mesma cor, vinha um alferes, vestindo uma grande loba de pano preto, levando sobre o ombro direito uma bandeira de grandes dimensões, preta e com as armas reais, que, meia tombada, se ia arrastando pelo chão da cidade à medida que o cortejo avançava. Junto à Sé, o bacharel Diogo Vaz da Casa do Cível, subiu a um banco e fez um discurso em memória do monarca falecido; depois, desfez-se o primeiro escudo no chão com uma pancada forte. A multidão seguiu depois até meio da Rua Nova dos Mercadores, onde se fez novo discurso e se quebrou o segundo escudo; o último escudo negro foi quebrado no [[Praça de D. Pedro IV|Rossio]]. Ao longo desse dia, repicaram os sinos em [[Lisboa]].<ref name="Buescu2011"/>
 
Em 1551, trinta anos após a sua morte, [[João III de Portugal|D. João III]] ordenou a trasladação dos restos mortais de D. Manuel, juntamente com os da rainha [[Maria de Aragão e Castela, Rainha de Portugal|D. Maria]] sua esposa, para a ''igreja nova'' do [[Mosteiro dos Jerónimos]]. Contrariando as disposições testamentárias de D. Manuel para que a sua trasladação para os Jerónimos ocorresse "''secretamente e sem cerimónia''", o acontecimento prolongou-se por cinco dias, na presença dos monarcas e de centenas de religiosos.<ref name="Buescu2011"/>
 
== Títulos, estilos, e honrarias ==
{{Artigo principal|Lista de títulos e honrarias da Coroa Portuguesa}}
=== Títulos e estilos ===
* 31 de Maio de 1469 – 21 de Agosto de 1484: "''Sua Mercê'', [[Dom (título)|Dom]] Manuel de Beja"
* 21 de Agosto de 1484 – 13 de Julho de 1491: "''[[Sua Senhoria]]'', o Duque de Viseu"
* 13 de Julho de 1491 – 25 de Outubro de 1495: "''[[Sua Alteza]]'', o Príncipe Herdeiro de Portugal"
* 25 de Outubro de 1495 – 13 de Dezembro de 1521: "''[[Sua Alteza Real]]'', o Rei"
 
O estilo oficial de Manuel enquanto rei era até 1499: "Pela Graça de Deus, Manuel&nbsp;I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, e Senhor da Guiné. Após o regresso de [[Vasco da Gama]] da [[Índia]], em 1499, a titulatura régia foi reformulada: "Pela Graça de Deus, Manuel&nbsp;I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc."
 
=== Honrarias ===
Enquanto monarca de Portugal, {{nowrap|D. Manuel I}} foi Grão-Mestre das seguintes Ordens:
* [[Ordem de Cristo|Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo]]
* [[Ordem da Torre e Espada|Antiga e Muito Nobre Ordem da Torre e Espada]]
 
==Descendência==
Do seu primeiro casamento com [[Isabel de Aragão (1470)|Isabel de Aragão]] (1470–1498) em [[30 de setembro]] de [[1497]], tiveram um único filho:
* [[Miguel da Paz, Príncipe de Portugal e das Astúrias|Miguel da Paz]] ([[23 de agosto]] de [[1498]] - [[19 de julho]] de [[1500]]), herdeiro aparente das Coroas de [[Portugal]], [[Reino de Castela|Castela]] e [[Aragão]] até sua morte prematura com quase dois anos.
Do seu segundo casamento com a sua cunhada [[Maria de Aragão e Castela, Rainha de Portugal|Maria de Aragão]] (1482-1517) em [[30 de Outubro]] de [[1500]], tiveram dez filhos:
* [[João III de Portugal]] ([[7 de junho]] de [[1502]] - [[11 de junho]] de [[1557]]), casou-se com [[Catarina de Áustria]] e tiveram nove filhos;
* [[Isabel de Portugal, imperatriz da Alemanha|Isabel de Portugal]] ([[24 de outubro]] de [[1503]] - [[1 de maio]] de [[1539]]), casou-se com [[Carlos I de Espanha]] e tiveram sete filhos;
* [[Beatriz de Portugal, Duquesa de Saboia]] ([[31 de dezembro]] de [[1504]] - [[8 de janeiro]] de [[1538]]), casou-se com [[Carlos III de Saboia]] e tiveram nove filhos;
* [[Luís, Duque de Beja]] ([[3 de março]] de [[1506]] - [[27 de novembro]] de [[1555]]), nunca se casou, mas foi pai de [[António I de Portugal|Antônio, prior do Crato]];
* [[Fernando, Duque da Guarda]] ([[5 de junho]] de [[1507]] - [[7 de novembro]] de [[1534]]), casou-se com [[Guiomar Coutinho, Duquesa da Guarda|Guiomar Coutinho]], [[Conde de Marialva|Condessa de Marialva]] e tiveram dois filhos que morreram na infância;
* [[Afonso de Portugal (1509)|Afonso de Portugal]], [[Cardeais de Portugal|Cardeal de Portugal]] ([[23 de abril]] de [[1509]] - [[21 de abril]] de [[1540]]), ele era um arcebispo de Évora e de Lisboa;
* Maria de Portugal ([[3 de fevereiro]] de [[1511]] - [[1513]]), morreu com cerca de dois anos de idade;
* [[Henrique I de Portugal|Cardeal Henrique I de Portugal]] ([[31 de janeiro]] de [[1512]] - [[31 de janeiro]] de [[1580]]), rei de Portugal de 1578 a 1580. Foi cardeal, arcebispo de Braga, de Évora e de Lisboa, Inquisidor Geral, regente do reino e o único cardeal da história a reinar como rei;
* [[Duarte, Duque de Guimarães]] ([[7 de outubro]] de [[1515]] - [[20 de setembro]] de [[1540]]), casou-se com [[Isabel de Bragança]] e tiveram três filhos;
* [[António, Infante de Portugal (1516)|Antônio de Portugal]] ([[9 de setembro]] de [[1516]] - [[1531]]), morreu com cerca de quinze anos de idade, na qual nunca se casou e nem teve filhos.
 
Do seu terceiro casamento com [[Leonor da Áustria, Rainha de Portugal e de França|Leonor da Áustria]] (1498-1558) em [[16 de julho]] de [[1518]], tiveram dois filhos:
* [[Carlos, Infante de Portugal|Carlos de Portugal]] ([[18 de fevereiro]] de [[1520]] - [[15 de abril]] de [[1521]]), morreu com um ano de [[febre]];
* [[Maria de Portugal (1521)|Maria de Portugal, Duquesa de Viseu]] ([[18 de junho]] de [[1521]] - [[10 de outubro]] de [[1577]]), nunca se casou. Ela era a mulher mais rica da [[Europa]] do seu tempo e foi a mais culta das infantas.
 
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|1= 1. '''Manuel I de Portugal'''
|2= 2. [[Fernando de Portugal, Duque de Viseu|Infante Fernando, Duque de Viseu]]
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}}
}}
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== Ver também ==
* [[Árvore genealógica dos reis de Portugal]]
{{referências}}
==Bibliografia==
{{Refbegin}}
* [[Damião de Góis]], [http://books.google.com/books?id=0vTmAAAAMAAJ&pg=PP5#v=onepage&q&f=false "Chronica do serenissimo senhor rei d. Manoel"], Na officina de M. Manescal da Costa, 1749
* COSTA, João Paulo Oliveira e - ''D. Manuel I''. Lisboa: Círculo de Leitores, 2005.
{{Refend}}
== Ligações externas ==
* [https://ensina.rtp.pt/artigo/d-manuel-i-1469-1521/ O venturoso D. Manuel I, Aconteceu - Biografia de D. Mnauel I (Extrato de programa), por António Silva, RTP, 2006]
* [https://ensina.rtp.pt/artigo/embaixada-d-manuel-papa/ Embaixada de D. Manuel ao Papa, Diário do Tempo (Extrato de Programa), por Serenella de Andrade, RTP, 2012]
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! colspan="3" style="background: #FBEC5D;" | Manuel I de Portugal<br/>[[Dinastia de Avis|Casa de Avis]]<br/><small>Ramo da [[Dinastia de Borgonha|Casa de Borgonha]]</small><br/>31 de maio de 1469 – 13 de dezembro de 1521
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|width="40%" style="text-align: center;"|[[Ficheiro:Coat of Arms of Manuel I and John III of Portugal (Order of the Golden Fleece).svg|90px]]<br/>'''[[Lista de monarcas de Portugal|Rei de Portugal e Algarves]]'''<br/>25 de outubro de 1495 – 13 de dezembro de 1521
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|width="40%" style="text-align: center;"|[[Ficheiro:Coat of Arms of the Prince of Portugal (1481-1910).png|60px]]<br/>'''[[Príncipe herdeiro de Portugal|Príncipe Herdeiro de Portugal]]'''<br/>13 de julho de 1491 – 25 de outubro de 1495
|width="30%" align="center" | Sucedido por<br/>'''[[Miguel da Paz, Príncipe de Portugal e das Astúrias|Miguel da Paz]]'''
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Edição atual tal como às 04h26min de 27 de julho de 2022

Disambig grey.svg Nota: "Dom Manuel" e "Manuel I" redirecionam para este artigo. Para o imperador bizantino, veja Manuel I Comneno. Para outros significados, veja Manuel de Portugal.

Predefinição:Info/Nobre Dom Manuel I (Alcochete, 31 de maio de 1469Lisboa, 13 de dezembro de 1521), apelidado de O Venturoso, foi o Rei de Portugal e Algarves de 1495 até à sua morte. Era o filho mais novo do infante Fernando, Duque de Viseu filho do rei Predefinição:Lknb e de sua esposa, a infanta Beatriz de Portugal, neta do rei Predefinição:Lknb e filha do infante João. Manuel ascendeu ao trono após a morte de seu primo, o rei Predefinição:Lknb, que não tinha herdeiros legítimos e o nomeou como seu sucessor. Na realidade, foi o único a subir ao trono sem ser parente em primeiro grau ou descendente do antecessor. Para a sua coroação beneficiou da morte do filho do rei João II, de nome Afonso. Uma das irmãs de Manuel é a rainha Leonor, casada com João II.

Prosseguiu as explorações portuguesas iniciadas pelos seus antecessores, o que levou à descoberta do caminho marítimo para a Índia, ao descobrimento do Brasil, e das ambicionadas "ilhas das especiarias", as Molucas, determinantes para a expansão do império português. Foi o primeiro rei a assumir o título de Senhor do Comércio, da Conquista e da Navegação da Arábia, Pérsia e Índia. Em 1521, promulgou uma revisão da legislação conhecida como Ordenações Manuelinas, que divulgou com ajuda da recente imprensa. No seu reinado, apesar da sua resistência inicial, cumprindo as cláusulas do seu casamento com Dona Maria de Aragão, viria a solicitar ao papa em 1515 a instalação da inquisição em Portugal, o que só viria a ser concedido no reinado seguinte, perante novo pedido de D. João III. Com a prosperidade resultante do comércio, em particular o de especiarias, realizou numerosas obras cujo estilo arquitectónico ficou conhecido como manuelino.

Vida

Infância e juventude

Constantes surtos de peste negra em Lisboa, capital do Reino, levaram a corte e a nobreza dos séculos XIV e XV a instalarem-se em Alcochete, nomeadamente o rei João I e, em meados do século XV, o seu neto infante Fernando, Duque de Viseu. Aí, na vila de Alcochete, nasceu em 1469 Manuel, filho de Fernando, Duque de Viseu e de Beatriz de Portugal.

Armas de Manuel I de Portugal, Livro do Armeiro-Mor, 1509

Durante a infância e a juventude, assistiu à guerra de intriga e conspiração entre a aristocracia e o seu primo direito João II, muito cioso do seu poder. Alguns homens do seu círculo próximo foram mortos ou exilados, incluindo o seu irmão mais velho Diogo, Duque de Viseu, assassinado pelo próprio rei. Sucedeu-lhe como 5.º Duque de Viseu, 5.º Senhor da Covilhã e 4.º Duque de Beja, 4.º Senhor de Moura. Portanto, quando em 1493 recebeu uma ordem real de comparência no paço, Manuel I deveria estar preocupado. Mas o propósito de João II era nomeá-lo herdeiro da coroa, depois da morte do seu filho Afonso de Portugal e das tentativas frustradas de legitimar o bastardo Jorge de Lencastre.

Manuel I ascendeu ao trono em circunstâncias excepcionais, sucedendo João II de Portugal em 1495 de quem se tornara uma espécie de «filho adoptivo».[1]

Política externa e descobrimentos

Esfera armilar, divisa de Manuel I conferida por João II que, tendo escrito no meridiano "Spera Mundi" foi, mais tarde, interpretada como sinal de um desígnio divino para o reinado de Manuel, Igreja Matriz da Golegã
D. Manuel I de Portugal, em iluminura do frontispício do "Livro 1 de Além Douro" da Leitura Nova (escrito em 15??-1521). Date

Aclamado em 27 de Outubro de 1495, Manuel I provou ser um sucessor à altura, apoiando os descobrimentos portugueses e o desenvolvimento dos monopólios comerciais. Durante seu reinado, Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia (1498) onde encontrou hostilidades e nisso, não conseguiu trazer especiarias de Calecute e por isso chegou a Portugal de mãos a abanar, com isso D. Manuel chama Pedro Álvares Cabral que descobriu o Brasil (1500) o que pode ter sido uma missão não muito importante para algumas pessoas pois é provável que Duarte Pacheco Pereira lá tenha chegado 2 anos antes, em 1498, também porque D. João II negou o financiamento da viagem de Colombo à América sobre o financiamento dos Reis Católicos de Espanha, mas Colombo dizia chegar à Índia, pode ser provável que o mesmo D. João II já soubesse da existência de terras a Ocidente pois D. João II reclamou ao Papa Alexandre VI no Tratado de Tordesilhas que o limite de exploração fosse 370 léguas a Ocidente de Cabo Verde e tinha razão pois era o Continente Americano que depois da descoberta do Brasil prosseguiu para a Índia e conseguiu o Comércio das Especiarias, no seu reinado também Francisco de Almeida tornou-se no primeiro vice-rei da Índia (1505) e o almirante Afonso de Albuquerque assegurou o controlo das rotas comerciais do oceano Índico e golfo Pérsico e conquistou para Portugal lugares importantes como Malaca, Goa e Ormuz.

Também no seu reinado organizam-se viagens para ocidente, tendo-se chegado à Gronelândia e à Terra Nova. O seu reinado decorreu num «contexto expansionista, já preparado por seu antecessor - e marcado pela descoberta do caminho marítimo para a Índia em 1498 e pelas consequências políticas e económicas que advieram deste facto».[1]

A extensão de seu reinado «permite surpreender nele uma personagem determinada, teimosa, voluntariosa, autocrática, detentora de um programa político de potenciação do seu poder dotado de uma assombrosa coerência, posto em prática até ao seu mais ínfimo detalhe.

Manuel I opta por uma política de expansão indiana e põe em prática os seus princípios, criando a oportunidade para a realização da viagem de Vasco da Gama em 1497, contra, ao que parece, a oposição de parte do seu conselho. Escolhe, ainda, a via da inversão pró-aristocrática, ou seja, de restauração de privilégios e direitos antes postos em causa e isto certamente por opção política de Estado. O rei edifica, igualmente, um Estado que prenuncia em boa medida o absolutismo régio e o governo iluminado, por contraponto, aliás, ao problemático e agitado centralismo do seu antecessor João II.[1]

Tudo isto contribuiu para a constituição do Império Português, fazendo de Portugal um dos países mais ricos e poderosos da Europa. Manuel I utilizou a riqueza obtida pelo comércio para construir edifícios reais, no que se chamaria muito posteriormente estilo manuelino, dos que são exemplo o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém. Atraiu cientistas para a corte de Lisboa e estabeleceram-se tratados comerciais e relações diplomáticas com a China e a Pérsia, além de que, em Marrocos, realizaram-se conquistas como Safim, Azamor e Agadir.

A sua completa consagração europeia deu-se com a aparatosa embaixada em 1514, chefiada por Tristão da Cunha, enviando ao papa Leão X presentes magníficos como pedrarias, tecidos e jóias. Dos animais raros, destacaram-se um cavalo persa e um elefante, chamado Hanno, doravante mascote do papa, que executava várias habilidades. Mas uma das inúmeras novidades que encantaram os espíritos curiosos das cortes europeias da época terá sido sem dúvida o rinoceronte trazido das Índias, que assumiu, então, um papel preponderante na arte italiana.

Política interna

O Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, um dos legados mais exuberantes do estilo manuelino.

Na vida política interna, Manuel I seguiu as pisadas de João II e tornou-se quase num rei absoluto. As cortes foram reunidas apenas três vezes durante o seu reinado de mais de vinte e cinco anos, e sempre no paço de Lisboa. Manuel I dedicou-se à reforma dos tribunais e do sistema tributário, adaptando-o ao progresso económico que Portugal então vivia.

Analisando-se a sua obra, verifica-se que avulta a tentativa de reforma do reino, «através da criação de instrumentos unificadores de carácter estatal, como sejam a publicação dos Forais Novos, reformando os antigos, a Leitura Nova (1504-1522), a compilação e revisão da legislação, consagrada pelas Ordenações Manuelinas, a reorganização da Fazenda Pública e a estruturação administrativa daí decorrente. Com ele organiza-se o Estado moderno».[2] Prova de que Manuel foi um rei que se preocupou em preservar a justiça e a boa ordem do Reino, é que durante seu reinado não apenas as Ordenações do Reino foram reformadas, mas também os Forais, a Ordenação e Regimento dos Pesos (1502), o Regimento dos Oficiais das Cidades, Vilas e Lugares destes Reinos (1504), os Artigos das Sisas (1512), o Regimento dos Contadores das Comarcas (1514), o Regimento das Ordenações da Fazenda (1516) e as Ordenações da Índia (1520). Obras de caráter burocrático fundamentais para a administração e organização do Reino português.

Absolutismo de direito divino

Ordenações Manuelinas, xilogravura da edição de 1514, impressa por João Pedro Buonhomini nas instalações de Valentim Fernandes, em Lisboa

Em seis gravuras constantes da edição das Ordenações de 1514 - a única ilustrada - vemos o rei em majestade, portando uma coroa aberta e armadura, ladeado pela sua divisa, a esfera armilar e pelas armas do Reino, representada pelo escudo manuelino. Na sua mão direita está sempre o cetro real, símbolo da justiça, a que se prende uma fita, chamada filactério, onde se lê DEO IN CELO TIBI AVTEM IN MVNDO («A Deus no céu e a ti na terra»). É evidente a intenção de representar a ligação entre o terreno e o divino, e lembrar a noção de dualidade especular entre uma corte terrena, encabeçada pelo rei e uma corte celestial encabeçada por Cristo.[3] Isto reforça a ligação de Manuel com o messianismo e com a ideia de um rei enviado por Deus, um escolhido para representar a cristandade ante o novo horizonte que se descortinava com os descobrimentos. E de fato a sua imagem que passou à História foi a de um rei representante de Cristo, Senhor personificado na figura divina da Justiça, do “perfeito monarca” e do “rei arquétipo”.[4]

O rei era representado como o centro coordenador e a ele cabia, na mais alta composição, o mais nobre dos ofícios: ministrar a justiça. Essa ligação entre o terreno e o espiritual está também presente no ideal régio que é justificado por João de Barros no Panegírico, “porque sendo Deus perfeita justiça, os reis, que por ele são ordenados e cujo poder representam, a ele só em tudo devem seguir”.[5] Esse tino requerido para a figura real se faz necessário para que o povo tenha em seu governante o “paradigma a seguir em todas as circunstâncias”, sendo para o mesmo, exigido ainda, qualidades que o tornem afamado e digno, dentre elas: “temperança, honestidade, humanidade, comedimento, bondade, fortaleza, lealdade, prudência, magnanimidade, amor às letras (...) e seus pensamentos em Deus”.[4]

Política religiosa

Iluminura do período manuelino, "Livro 3 Místicos"

Manuel I era um homem bastante religioso que investiu uma boa parte da fortuna do país na construção de igrejas e mosteiros, bem como no patrocínio da evangelização das novas colónias através dos missionários católicos. A missão evangelizadora para o mundo inteiro é mesmo, junto com os interesses económicos e militares, uma das linhas fundamentais da expansão portuguesa, tendo, por exemplo, na relação com o Papa e nas consequências culturais da expansão uma marca manuelina muito forte.

Na tradição de reis anteriores, D. Manuel iniciou o seu reinado com grande tolerância religiosa, libertando mesmo os judeus que haviam fugido das perseguições em Castela e estavam em situação de escravatura. Esta tolerância era também justificada pela necessidade do capital financeiro e intelectual das comunidades hebraicas, essencial para a sua política expansionista. No entanto a sua ambição de unir os reinos ibéricos, levaram-no a ceder às exigências dos reis católicos, numa das cláusulas do seu contrato de casamento com a herdeira de Espanha, Isabel de Aragão, assinado em 30 de novembro de 1496[6], para que fossem expulsos os infiéis (mouros e judeus). Cedendo a idênticas pressões castelhanas, D. Manuel I solicitou em 1515 do papa Leão X, através do seu embaixador em Roma, a introdução em Portugal de um tribunal da Inquisição.[7]

Em especial no que respeita à comunidade judaica, a tentativa de D. Manuel de manipular a situação, com avanços e recuos, teve resultados muito violentos. Por exemplo: para evitar a saída em massa pela expulsão exigida por Castela, permitiu período mais alargado de conversão ao cristianismo, isentando os convertidos de qualquer inquérito durante vinte anos, o que na prática lhes permitia continuar os rituais hebraicos, fechou os portos do reino excepto o de Lisboa, ou obrigou à educação por famílias cristãs de filhos de judeus, que os recuperariam caso se convertessem. No entanto, esta tentativa, já de si violenta, redundou em fracasso, com conversões forçadas em massa, com o acicatar dos fundamentalistas religiosos e dos populares descontentes e com a criação de uma comunidade de cristãos-novos ou marranos sempre sob suspeita. Pode ser questionado se o seu objectivo de diluição das comunidades e integração religiosa terá sido atingido, quando se considera que duzentos anos depois até os inquisidores tinham ascendência judia, e por outro lado a tradição fundamentalista cristã anti-semita sem ser exclusiva do seu reino, da sua religião, ou do seu reinado, sai deste reforçada.

É controverso considerar o Massacre de Lisboa de 1506 como uma das consequências directas da política de Manuel I, dada a situação de seca, fome, epidemia e intolerância que aprofundaram as tensões sociais e que decorrem a nível mundial na época. Será consensual afirmar que foi algo que o horrorizou e enraiveceu, o que se prova na sua reacção de castigo aos culpados pelo massacre (mesmo àqueles instigadores por cuja condição social era normal poupar, como os padres) e de humilhação à cidade de Lisboa, da qual estava ausente, assim como na linguagem dos relatos oficiais.

Ciência, cultura e artes

Na cultura, esta época observou das mais importantes revoluções culturais, políticas, económicas, religiosas sociais e científicas pelas quais a Humanidade já passou. A política de Manuel I não foi indiferente ao desenvolvimento Cultural, promovendo-o activamente, procedeu mesmo à reforma dos Estudos Gerais, criando novos planos educativos e bolsas de estudo.

O contexto do Renascimento é incontornável para enquadrar e compreender esta dimensão da época manuelina e das Descobertas de cujo apogeu participou. As Descobertas portuguesas tornaram-se tema, questionamento e desafio para a criação artística, científica e filosófica europeias, sendo uma das matrizes fundamentais do Humanismo. O reinado de D. Manuel insere-se, portanto no Renascimento em Portugal, um período de forte criação e inovação, quer em diálogo com modelos europeus, quer enriquecendo-os, seja nas ciências, como a matemática, astronomia, cartografia, biologia, medicina, farmacêutica, seja na arte literatura, poesia e teatro, música, pintura e arquitectura, seja na filosofia, na religião e na política.

Para além do óbvio estilo manuelino com que é marcada a arquitectura desta época para as grandes obras e que se estendeu também a outras artes como a iluminura, pintura e ourivesaria, considerando os Descobrimentos no seu impacto humanista e científico, podemos ainda incluir como tendo impacto nesta época e posterior autores que são nomes de grande relevo na cultura europeia, como Pedro Nunes, Abraão Zacuto, Simão Álvares do Renascimento, Damião de Góis, Sá de Miranda, Garcia da Orta, Bernardim Ribeiro, Garcia de Resende, Gil Vicente, Nuno Gonçalves, Grão Vasco, Duarte Barbosa, Gaspar Correia, Duarte Pacheco Pereira, António Galvão, João de Barros, Tomé Pires e muitos mais.

Morte e exéquias fúnebres

No início de dezembro de 1521, altura em que Lisboa era assolada por um surto de pestilência, D. Manuel, que se encontrava com a sua corte no Paço da Ribeira, adoeceu gravemente "de uma febre espécie de modorra", segundo relata Damião de Góis. Manifestando os primeiros sintomas no dia 4, três dias mais tarde já se mostrava incapaz de assinar alvarás e, no dia 11, ordenava um codicilo ao seu testamento. Acabou por morrer no cair da noite do dia 13, altura em que entrou em delírio, recitando em voz alta os versos dos Salmos, que sabia de cor, e após receber a extrema-unção. Estavam presentes religiosos e a mais alta nobreza do reino, incluindo D. Jaime, Duque de Bragança, D. Afonso, Bispo de Évora (com quem D. Manuel ainda trocou breves palavras), D. Fernando, Bispo de Lamego (que era capelão-mor do rei) e o confessor e provincial dominicano Frei Jorge Vogado.[8]

Morto o rei, o seu corpo foi colocado num ataúde de madeira, após ser arranjado "como a rei convinha", que foi carregado por D. Jaime, Duque de Bragança, D. Jorge, Duque de Coimbra, D. Fernando, Marquês de Vila Real, e D. Pedro, Conde de Alcoutim para a Sala Grande do Paço, situada no piso inferior. O ataúde foi destapado, e todos os presentes beijaram a sua mão. Depois, D. Jaime e D. Jorge pregaram a tampa do caixão mas, nas palavras do cronista, "os quais pregos não foram tão pregados com martelos como com as cabeças dos que eram presentes que com elas davam muitas pancadas no ataúde e no chão que era uma mui grave cousa de ver".[8]

Iluminuras do Ofício dos Mortos no Livro de Horas de D. Manuel, atribuídas a António de Holanda. Surge representada, ao fundo, a cerimónia da quebra dos escudos durante as exéquias de D. Manuel.

O corpo do rei foi levado em procissão para Belém entre as duas e as três horas da manhã do dia 14 de dezembro de 1521. O ataúde, coberto de veludo preto com uma cruz de damasco branco, foi colocado sobre uma azémola. Junto às portas do Paço da Ribeira, aguardava um grande número de clero e grandes e fidalgos do reino com seus criados, com mais de seiscentas tochas que alumiavam a noite. O caminho até Belém foi acompanhado por muitos populares. D. Manuel foi provisoriamente sepultado, em campa rasa, na igreja velha do Restelo, uma vez que o corpo do Mosteiro dos Jerónimos, onde deixara expresso desejar ser sepultado, não estava ainda concluído. O ataúde foi tomado aos ombros por fidalgos, ladeados pelos frades, segurando grandes círios acesos e de capelos sobre os olhos. Dentro da igreja, o Duque de Bragança, o Duque de Coimbra, o Marquês de Vila Real, e o Conde de Alcoutim, pegando em enxadas, enterraram-no numa campa rasa, sem mais cerimónia ou pompa, enquanto os presentes lamentavam e gritavam em altos brados o seu pranto, em vivas manifestações de pesar.[8]

As exéquias reais tiveram lugar na terça-feira seguinte, na Sé de Lisboa, com cerimónias que só terminaram cerca da uma hora da tarde do dia seguinte. O último ofício público foi a cerimónia da quebra dos escudos: acompanhados por muitos senhores e fidalgos a pé, três juízes da cidade (dois do crime, e um do cível), vestidos de negro, traziam sobre a cabeça três grandes escudos negros; diante deles, num cavalo preto coberto de de paramentos de linho da mesma cor, vinha um alferes, vestindo uma grande loba de pano preto, levando sobre o ombro direito uma bandeira de grandes dimensões, preta e com as armas reais, que, meia tombada, se ia arrastando pelo chão da cidade à medida que o cortejo avançava. Junto à Sé, o bacharel Diogo Vaz da Casa do Cível, subiu a um banco e fez um discurso em memória do monarca falecido; depois, desfez-se o primeiro escudo no chão com uma pancada forte. A multidão seguiu depois até meio da Rua Nova dos Mercadores, onde se fez novo discurso e se quebrou o segundo escudo; o último escudo negro foi quebrado no Rossio. Ao longo desse dia, repicaram os sinos em Lisboa.[8]

Em 1551, trinta anos após a sua morte, D. João III ordenou a trasladação dos restos mortais de D. Manuel, juntamente com os da rainha D. Maria sua esposa, para a igreja nova do Mosteiro dos Jerónimos. Contrariando as disposições testamentárias de D. Manuel para que a sua trasladação para os Jerónimos ocorresse "secretamente e sem cerimónia", o acontecimento prolongou-se por cinco dias, na presença dos monarcas e de centenas de religiosos.[8]

Títulos, estilos, e honrarias

Títulos e estilos

  • 31 de Maio de 1469 – 21 de Agosto de 1484: "Sua Mercê, Dom Manuel de Beja"
  • 21 de Agosto de 1484 – 13 de Julho de 1491: "Sua Senhoria, o Duque de Viseu"
  • 13 de Julho de 1491 – 25 de Outubro de 1495: "Sua Alteza, o Príncipe Herdeiro de Portugal"
  • 25 de Outubro de 1495 – 13 de Dezembro de 1521: "Sua Alteza Real, o Rei"

O estilo oficial de Manuel enquanto rei era até 1499: "Pela Graça de Deus, Manuel I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, e Senhor da Guiné. Após o regresso de Vasco da Gama da Índia, em 1499, a titulatura régia foi reformulada: "Pela Graça de Deus, Manuel I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc."

Honrarias

Enquanto monarca de Portugal, D. Manuel I foi Grão-Mestre das seguintes Ordens:

Descendência

Do seu primeiro casamento com Isabel de Aragão (1470–1498) em 30 de setembro de 1497, tiveram um único filho:

Do seu segundo casamento com a sua cunhada Maria de Aragão (1482-1517) em 30 de Outubro de 1500, tiveram dez filhos:

Do seu terceiro casamento com Leonor da Áustria (1498-1558) em 16 de julho de 1518, tiveram dois filhos:

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8. João I de Portugal
 
 
 
 
 
 
 
4. Duarte I de Portugal
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9. Filipa de Lencastre
 
 
 
 
 
 
 
2. Infante Fernando, Duque de Viseu
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10. Fernando I de Aragão
 
 
 
 
 
 
 
5. Leonor de Aragão
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11. Leonor, Condessa de Alburquerque
 
 
 
 
 
 
 
1. Manuel I de Portugal
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12. João I de Portugal
 
 
 
 
 
 
 
6. João, Infante de Portugal
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13. Filipa de Lencastre
 
 
 
 
 
 
 
3. Beatriz de Portugal, Duquesa de Viseu
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14. Afonso, Duque de Bragança
 
 
 
 
 
 
 
7. Isabel de Barcelos
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15. Beatriz Pereira Alvim
 
 
 
 
 
 
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Ver também

Referências

  1. 1,0 1,1 1,2 Paulo Pereira, Enciclopédia dos Lugares Mágicos de Portugal, volume IX, página 70
  2. Paulo Pereira, Enciclopédia dos Lugares Mágicos de Portugal, volume IX, página 72
  3. GAMA, A. B. As Ordenações Manuelinas, a tipografia e os descobrimentos: a construção de um ideal régio de justiça no governo do Império Ultramarino português. Artigo na Revista Navigator, acessado em 5 de julho de 2012.
  4. 4,0 4,1 MAGALHÃES, Joaquim Romeiro (Coord.). História de Portugal: no alvorecer da modernidade. Lisboa: Editorial Estampa, 1997, p. 61.
  5. BARROS, João de. Panegíricos. Lisboa: Sá da Costa, 1937, p. 3-5; Apud: MAGALHÃES, J. R., op. cit.
  6. O MESSIANISMO DO PADRE VIEIRA E A INQUISIÇÃO., acesso em 22 de outubro de 2016.
  7. Giuseppe Marcocci, "A fundação da Inquisição em Portugal: um novo olhar", Lusitania Sacra, 23 (Janeiro-Junho 2011), p. 23
  8. 8,0 8,1 8,2 8,3 8,4 Buescu, Ana Isabel (2011). «A morte do rei. Tumulização e cerimónias de trasladação dos reais corpos (1499-1582)». Ler História (60): 9-33. Consultado em 15 de Agosto de 2017 

Bibliografia

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Ligações externas

Manuel I de Portugal
Casa de Avis
Ramo da Casa de Borgonha
31 de maio de 1469 – 13 de dezembro de 1521
Precedido por
João II
Coat of Arms of Manuel I and John III of Portugal (Order of the Golden Fleece).svg
Rei de Portugal e Algarves
25 de outubro de 1495 – 13 de dezembro de 1521
Sucedido por
João III
Precedido por
Afonso
Coat of Arms of the Prince of Portugal (1481-1910).png
Príncipe Herdeiro de Portugal
13 de julho de 1491 – 25 de outubro de 1495
Sucedido por
Miguel da Paz
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