𝖂𝖎ƙ𝖎𝖊

Mandioca: mudanças entre as edições

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| nome = Mandioca
| nome = Mandioca
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| imagem = Manihot_esculenta_-_Köhler–s_Medizinal-Pflanzen-090.jpg
| imagem_legenda = Raízes de mandioca após a colheita
| imagem_legenda = Folhas da planta de mandioca/macaxeira
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| imagem2_legenda = Tubérculos (raízes) da mandioca/macaxeira após a colheita
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'''Mandioca''', '''macaxeira, aipim, castelinha''', '''uaipi''', '''mandioca-doce''', '''mandioca-mansa''', '''maniva''', '''maniveira''', '''pão-de-pobre''',<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo dicionário da língua portuguesa''. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 077.</ref>''' mandioca-brava''' e '''mandioca-amarga,''' são termos [[brasil]]eiros para designar a [[Espécie (biologia)|espécie]] '''''Manihot esculenta''''' (sinônimo ''M. utilissima'').<ref name="MandiocaEM">{{citar web | url=https://www.embrapa.br/mandioca-e-fruticultura/cultivos/mandioca|título=Mandioca|acessodata=27/7/2014|autor=Embrapa|data= |publicado= Embrapa Mandioca e Fruticultura}}</ref> Descrita por [[Heinrich Johann Nepomuk von Crantz|Crantz]], é uma espécie de planta [[tubérculo|tuberosa]] da família das ''[[Euphorbiaceae]]''.<ref name="Tropicos">{{citar web | url=http://www.tropicos.org/Name/12800237|título=''Mandioca''|editor=Tropico|acessodata=25/7/2014|autor=Missouri Botanical Garden|data= 2014|publicado= |língua=inglês}}</ref> O nome dado ao caule do pé de mandioca é maniva, o qual, cortado em pedaços, é usado no plantio. Trata-se de um arbusto que teria tido sua origem mais remota no oeste do Brasil (sudoeste da Amazônia) e que, antes da chegada dos europeus à América, já estaria disseminado, como cultivo alimentar, até a [[Mesoamérica]] ([[Guatemala]], [[México]]).
'''''Manihot esculenta''''', conhecida como '''mandioca''', '''macaxeira, aipim, castelinha''', '''uaipi''', '''mandioca-doce''', '''mandioca-mansa''', '''maniva''', '''maniveira''', '''pão-de-pobre''',<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo dicionário da língua portuguesa''. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 077.</ref>''' mandioca-brava''' e '''mandioca-amarga,''' é uma planta [[tubérculo|tuberosa]] da família das ''[[Euphorbiaceae]]''.<ref name="Tropicos">{{citar web | url=http://www.tropicos.org/Name/12800237|título=''Mandioca''|editor=Tropico|acessodata=25-7-2014|autor=Missouri Botanical Garden|data= 2014|publicado= |língua=inglês}}</ref> Esta planta é nativa da América do Sul, no entanto está presente em muitas regiões do mundo.


É a terceira maior fonte de carboidratos nos trópicos, depois de [[arroz]] e [[milho]],<ref>{{citar web|título=Cassava|editor=Food and Agriculture Organization of the United Nations|url=http://www.fao.org/ag/agp/agpc/gcds/}}</ref><ref>{{citar periódico| autor = Fauquet Claude, Fargette Denis | ano= 1990 | título= African Cassava Mosaic Virus: Etiology, Epidemiology, and Control | url = http://www.apsnet.org/publications/PlantDisease/BackIssues/Documents/1990Articles/PlantDisease74n06_404.pdf |  journal = Plant Disease | volume = 74 | issue = 6| páginas= 404–11 }}</ref> e um dos principais alimentos básicos no [[mundo em desenvolvimento]], existindo na dieta básica de mais de meio bilhão de pessoas.<ref>{{citar web|título=Dimensions of Need: An atlas of food and agriculture |editor=Food and Agriculture Organization of the United Nations|ano=1995|url=http://www.fao.org/docrep/u8480e/U8480E01.htm}}</ref> Espalhada para diversas partes do mundo, tem hoje a [[Nigéria]] como seu maior produtor.<ref>{{citar web|url=http://www.inova.unicamp.br/inventabrasil/mandioc.htm|título=Variedade Híbrida de Mandioca}} por Antônio Abrantes, artigo sobre [[Nagib Nassar]] (acessado em fevereiro de 2009)</ref>
O seu consumo só pode ocorrer depois de uma etapa de cozimento que reduza o conteúdo de HCN ([[cianeto de hidrogênio]]) para níveis muito baixos. Como o cianeto de hidrogénio é muito volátil, a sua redução ocorre devido à temperatura de cozimento, o que ocasiona a evaporação do composto.
 
É a terceira maior fonte de carboidratos nos trópicos, depois do [[arroz]] e do [[milho]]<ref>{{citar web|título=Cassava|editor=Food and Agriculture Organization of the United Nations|url=http://www.fao.org/ag/agp/agpc/gcds/}}</ref><ref>{{citar periódico| autor = Fauquet Claude, Fargette Denis | ano= 1990 | título= African Cassava Mosaic Virus: Etiology, Epidemiology, and Control | url = http://www.apsnet.org/publications/PlantDisease/BackIssues/Documents/1990Articles/PlantDisease74n06_404.pdf |  periódico = Plant Disease | volume = 74 | número = 6| páginas= 404–11 }}</ref>, e é um dos principais alimentos básicos no [[mundo em desenvolvimento]], existindo na dieta básica de mais de meio bilhão de pessoas.<ref>{{citar web|título=Dimensions of Need: An atlas of food and agriculture |editor=Food and Agriculture Organization of the United Nations|ano=1995|url=http://www.fao.org/docrep/u8480e/U8480E01.htm}}</ref> Espalhada para diversas partes do mundo, tem hoje a [[Nigéria]] como seu maior produtor.<ref>{{citar web|url=http://www.inova.unicamp.br/inventabrasil/mandioc.htm|título=Variedade Híbrida de Mandioca}} por Antônio Abrantes, artigo sobre [[Nagib Nassar]] (acessado em fevereiro de 2009)</ref>


== Etimologia ==
== Etimologia ==
"Mandioca" origina-se do termo [[Língua tupi|tupi]] ''mãdi'og'',<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo Dicionário da Língua Portuguesa''. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 077</ref> ''mandi-ó'' ou ''mani-oca'', que significa "casa de Mani",<ref>[[Luís Caldas Tibiriçá|CALDAS TIBIRIÇÁ, L.]], Dicionário Guarani Português. Editora Traço, ISBN 85-7119-017-8, 174 páginas, 1989.</ref> sendo Mani a deusa benfazeja dos [[guaranis]] que se transforma em mani-oca. "Aipim" origina-se do termo tupi ''ai'pi''.<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo Dicionário da Língua Portuguesa''. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.71</ref> "Maniva" origina-se do termo tupi ''mani'iwa''.<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo Dicionário da Língua Portuguesa''. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 081</ref>
"Mandioca" origina-se do termo [[Língua tupi|tupi]] ''mãdi'og'',<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo Dicionário da Língua Portuguesa''. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 077</ref> ''mandi-ó'' ou ''mani-oca'', que significa "casa de Mani",<ref>[[Luís Caldas Tibiriçá|CALDAS TIBIRIÇÁ, L.]], Dicionário Guarani Português. Editora Traço, ISBN 85-7119-017-8, 174 páginas, 1989.</ref> sendo Mani a deusa benfazeja dos [[guaranis]] que se transforma em mani-oca. "Aipim" origina-se do termo tupi ''ai'pi''.<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo Dicionário da Língua Portuguesa''. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.71</ref> "Maniva" origina-se do termo tupi ''mani'iwa''.<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo Dicionário da Língua Portuguesa''. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 081</ref>
No [[Brasil]], o termo ''mandioca'' ou ''mandioca brava'' é utilizado para as plantas com HCN superior a 100&nbsp;mg/Kg de produto; enquanto que o termo ''macaxeira, mandioca mansa'' ou ''aipim'', é utilizado nas plantas que possuem menos de 50&nbsp;mg de HCN por kg de raiz fresca sem casca<ref name="portalamazonia.com">{{Citar web |url=https://portalamazonia.com/noticias/cidades/mandioca-ou-macaxeira-pesquisadora-do-para-explica-as-diferencas |titulo=Mandioca ou macaxeira? pesquisadora paraense explica as diferenças |acessodata=2021-03-27 |website=Portal Amazônia |lingua=pt-br}}</ref>.
== Doenças fitossatárias ==
As doenças estão entre as principais causas da queda de produção e produtividade da cultura da mandioca. No estado do Pará, a exemplo, as podridões radiculares são responsáveis pelas maiores perdas.<ref name="Embrapa">Embrapa, 2014</ref>
'''Podridão Radicular –''' Afeta principalmente os cultivos da região norte. Estima-se que na região amazônica em áreas de várzea a perda chegue a mais de 50% e, em áreas de terra firme, 30%. Já em áreas que detêm solos com má drenagem da água da chuva observa-se que estas perdas são, na maioria dos casos, totais.<ref name="Embrapa"/>
A sintomatologia observada nas raízes permite distinguir em dois grupos de podridões:
'''a) Podridão mole:''' Os agentes etiológicos são espécies de ''[[Phytophthora]]'' e ''[[Pythium]]'', atualmente classificados no reino [[Chromista]] ([[Stramenopila]]). Tais organismos fitopatogênicos infectam as plantas, causando podridão-mole, decorrente de características necróticas dos patógenos que atuam na maceração dos tecidos de reserva, levando a desintegração das raízes, que liberam um odor forte e característico. O amarelecimento e murcha da parte aérea da planta são sintomas reflexos do apodrecimento das raízes, geralmente observado a partir do 2 ou 3 meses de intensa ocorrência de chuvas.<ref name="Embrapa"/>
'''b) Podridão Seca:''' Especies de ''[[Fusarium]], [[Scytalidium]], [[Lasiodiplodia]]'' e ''[[Diplodia]]'' são os principais agentes etiológicos da podridão-seca, a qual se caracteriza pela ocorrência de áreas necróticas secas e/ou pontuações enegrecidas nos tecidos internos das raízes e também na casca.<ref name="Embrapa"/>


== Sinônimos ==
== Sinônimos ==
Sinônimos e nomes arcaicos:<ref name="Plantlist">{{citar web | url=http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-119804|título=''Mandioca''|acessodata=25/7/2014|data= 2010|publicado= The Plant List|língua=inglês}}</ref>
Sinônimos e nomes arcaicos:<ref name="Plantlist">{{citar web | url=http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-119804|título=''Mandioca''|acessodata=25-7-2014|data= 2010|publicado= The Plant List|língua=inglês}}</ref>
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* ''Janipha aipi'' <small>(Pohl) J.Presl</small>
* ''Janipha aipi'' <small>(Pohl) J.Presl</small>
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== Cultivares (variedades) ==
== Cultivares (variedades) ==
A cultura da mandioca<ref name=Embrapa500>[http://mais500p500r.sct.embrapa.br/view/pdfs/90000012-ebook-pdf.pdf EMBRAPA, ''Mandioca'', Coleção 500 Perguntas, 500 Respostas, Brasília, Embrapa Informação Tecnológica, 2006]</ref> apresenta ampla variabilidade [[genética]], representada pelo grande número de [[cultivares]] disponíveis no Brasil, seu local de origem. Até 2006 já haviam sido catalogadas apenas no Brasil mais de 4 mil delas, mantidas em coleções e bancos de [[germoplasma]] de várias instituições de pesquisa. A maioria dessas cultivares é fruto do trabalho de seleção e conservação dos agricultores em suas lavouras, durante anos seguidos, as chamadas variedades crioulas.<ref>[http://www.mda.gov.br/sitemda/noticias/voc%C3%AA-sabe-qual-import%C3%A2ncia-das-sementes-crioulas GOVERNO FEDERAL, Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário, ''Você sabe qual a importância das sementes crioulas?''], consultado em 2017-11-15</ref>
A cultura da mandioca<ref name=Embrapa500>[http://mais500p500r.sct.embrapa.br/view/pdfs/90000012-ebook-pdf.pdf EMBRAPA, ''Mandioca'', Coleção 500 Perguntas, 500 Respostas, Brasília, Embrapa Informação Tecnológica, 2006]</ref> apresenta ampla variabilidade [[genética]] representada pelo grande número de [[cultivares]] disponíveis no Brasil, seu local de origem. Até 2006 já haviam sido catalogadas, apenas no Brasil, mais de 4 mil delas mantidas em coleções e bancos de [[germoplasma]] de várias instituições de pesquisa. A maioria dessas cultivares é fruto do trabalho de seleção e conservação dos agricultores em suas lavouras durante anos seguidos. São as chamadas variedades crioulas.<ref>[http://www.mda.gov.br/sitemda/noticias/voc%C3%AA-sabe-qual-import%C3%A2ncia-das-sementes-crioulas GOVERNO FEDERAL, Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário, ''Você sabe qual a importância das sementes crioulas?''], consultado em 2017-11-15</ref>


O ciclo cultural da mandioca é o período que vai do plantio à colheita. As cultivares de mandioca têm ciclos que variam de 6 a 36 meses, e com base neles são classificadas em:
O ciclo cultural da mandioca é o período que vai do plantio à colheita. As cultivares de mandioca têm ciclos que variam de 6 a 36 meses e, com base neles, são classificadas em:
* Precoces (ciclo de 10 a 14 meses).
* Precoces (ciclo de 10 a 14 meses);
* Semiprecoces (ciclo de 14 a 16 meses).
* Semiprecoces (ciclo de 14 a 16 meses);
* Tardias (ciclo maior que 18 meses).
* Tardias (ciclo maior que 18 meses).


A mesma cultivar dificilmente se comporta de forma semelhante em todos os locais, pois por apresentar alta interação do [[genótipo]] com o ambiente caracteriza-se por adaptação localizada, podendo o comportamento de uma mesma cultivar variar até entre lavouras de agricultores da mesma região, em decorrência de diferenças de [[solo]] ou de manejo do cultivo.
A mesma cultivar dificilmente se comporta de forma semelhante em todos os locais pois, por apresentar alta interação do [[genótipo]] com o ambiente, caracteriza-se por adaptação localizada, podendo o comportamento de uma mesma cultivar variar até entre lavouras de agricultores da mesma região, em decorrência de diferenças de [[solo]] ou de manejo do cultivo.


É considerada planta rústica e com ampla capacidade de adaptação, sendo cultivada em todas as [[regiões tropicais]], adaptando-se às mais variadas condições de [[clima]] e [[solo]]. Independentemente de sua ampla variabilidade genética e de sua interação com o ambiente, os principais parâmetros [[Ecologia|ecológicos]] da mandioca são constituídos por [[temperatura]], [[radiação solar]], [[fotoperíodo]], [[regime hídrico]] e [[solo]].
É considerada planta rústica e com ampla capacidade de adaptação, sendo cultivada em todas as [[regiões tropicais]], adaptando-se às mais variadas condições de [[clima]] e [[solo]]. Independentemente de sua ampla variabilidade genética e de sua interação com o ambiente, os principais parâmetros [[Ecologia|ecológicos]] da mandioca são constituídos por [[temperatura]], [[radiação solar]], [[fotoperíodo]], [[regime hídrico]] e [[solo]].


O principal critério utilizado na seleção de cultivares para consumo humano é a existência de baixo teor de [[ácido cianídrico]] nas raízes. Características como tempo de cozimento das raízes, palatabilidade e ausência de fibras na massa cozida e resistência à deterioração após a colheita também devem ser consideradas.
O principal critério utilizado na seleção de cultivares para consumo humano é a existência de baixo teor de [[ácido cianídrico]] nas raízes. Características como tempo de cozimento das raízes, palatabilidade, ausência de fibras na massa cozida e resistência à deterioração após a colheita também devem ser consideradas.


As cultivares recomendadas para a alimentação animal devem apresentar alto rendimento de raízes e da parte aérea, boa retenção foliar, alto teor de [[proteína]] nas folhas e teor mínimo de ácido cianídrico, tanto nas folhas como nas raízes.
As cultivares recomendadas para a alimentação animal devem apresentar alto rendimento de raízes e da parte aérea, boa retenção foliar, alto teor de [[proteína]] nas folhas e teor mínimo de ácido cianídrico, tanto nas folhas como nas raízes.


== Composição nutricional ==
== Composição nutricional ==
A mandioca é rica em fibras, isenta de glúten e possui 3 vezes mais calorias que a batata.Possui dois tipos de carboidrato, a amilopectina e a amilose.
A mandioca é rica em fibras, isenta de glúten e possui 3 vezes mais calorias que a batata. Possui dois tipos de carboidrato: a amilopectina e a amilose.


Valor nutricional por 100 g de mandioca<ref>https://saude.abril.com.br/alimentacao/o-que-e-que-a-mandioca-tem-as-vantagens-do-consumo-da-raiz/</ref>
Valor nutricional por 100 g de mandioca<ref>https://saude.abril.com.br/alimentacao/o-que-e-que-a-mandioca-tem-as-vantagens-do-consumo-da-raiz/</ref>
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== Toxicidade ==
== Toxicidade ==
A mandioca difere das outras plantas produtoras de [[amido]] por seu teor de '''linamarina''' (beta-[[glicosídeo cianogénico|glicosídeo]] de [[acetona]] cianidrina), que pode gerar [[cianeto]] livre ([[ânion]] CN<sup>−</sup>), o qual, em água, forma [[ácido cianídrico]], cianeto de hidrogênio ou cianureto de hidrogênio, (HCN),<ref name=ABQ-RN-mandioca>[http://www.abq.org.br/cbq/2007/trabalhos/10/10-319-64.htm FURTUNATO, D.M.N. (UFBA); ALMEIDA, D.T. (UFBA); CARDOSO, L.A. (UFBA), ''Determinação do teor de ácido cianídrico em folhas de mandioca (Manihot esculenta Crantz) desidratadas'', Natal, Associação Brasileira de Química - Seção Regional do Rio Grande do Norte (ABQ-RN), 2007], consultado em 2017-11-15</ref> composto extremamente [[volátil]] mas capaz de provocar intoxicações em um animal e até sua morte, em algumas situações.<ref name=Embrapa500 />
A mandioca se difere das outras plantas produtoras de [[amido]] por seu teor de '''linamarina''' (beta-[[glicosídeo cianogénico|glicosídeo]] de [[acetona]] cianidrina), que pode gerar [[cianeto]] livre ([[ânion]] CN<sup>−</sup>) o qual, em água, forma [[ácido cianídrico]], cianeto de hidrogênio ou cianureto de hidrogênio, (HCN),.<ref name=ABQ-RN-mandioca>[http://www.abq.org.br/cbq/2007/trabalhos/10/10-319-64.htm FURTUNATO, D.M.N. (UFBA); ALMEIDA, D.T. (UFBA); CARDOSO, L.A. (UFBA), ''Determinação do teor de ácido cianídrico em folhas de mandioca (Manihot esculenta Crantz) desidratadas'', Natal, Associação Brasileira de Química - Seção Regional do Rio Grande do Norte (ABQ-RN), 2007], consultado em 2017-11-15</ref> composto extremamente [[volátil]], porém, altamente tóxico podendo em pequenas quantidades provocar ataxia e morte<ref name=Embrapa500 /> Isto deve-se ao fato de que os cianetos iónicos se combinam com o [[ferro]] da [[hemoglobina]], bloqueando a recepção do [[oxigênio]] pelo sangue, matando a pessoa exposta por sufocamento. Por esta razão é necessário o cozimento da ''Mandioca'' antes do seu consumo para que diminua o conteúdo de HCN para valores abaixo de 0,5&nbsp;mg/Kg de produto <ref name=":0">{{citar periódico |titulo=Diário Oficial do Estado do Pará Nº33.123 de 9 de Maior de 2016 Protocolo 959681 (Instrução Normativa Nº 001 de 6 de Maio de 2016 da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (ADEPARA)) |acessodata=|jornal=Diário Oficial do Estado do Pará |publicado=República Federativa do Brasil - Estado do Pará |pagina=https://www.ioepa.com.br/pages/2016/2016.05.09.DOE.pdf}}</ref> A dose letal de HCN para o ser humano oscila entre 50 a 60&nbsp;mg/kg de peso-vivo.<ref name="ABQ-RN-mandioca" />


Em relação à quantidade de HCN/Kg na raiz fresca sem casca, as cultivares são classificadas em:
Em relação à quantidade de HCN/Kg na raiz fresca sem casca, as cultivares são classificadas em:
* mansas - aipim ou macaxeira (<50&nbsp;mg), não têm sabor amargo, usadas para consumo humano, cozidas, fritas ou assadas, processamentos suficientes para torná-las seguras;  
* mansas - aipim ou macaxeira (<50&nbsp;mg), não têm sabor amargo e são usadas para consumo humano. O cozimento, fritura ou assamento são processamentos suficientes para torná-las seguras;
* moderadamente venenosas (entre 50 a 100&nbsp;mg);
* moderadamente venenosas (entre 50 a 100&nbsp;mg);
* bravas ou venenosas (> 100&nbsp;mg), têm sabor amargo, usadas somente para fins industriais, só podendo ser consumidas após processadas, na forma de farinha, fécula e outros produtos.  
* bravas ou venenosas (> 100&nbsp;mg), têm sabor amargo, são usadas somente para fins industriais e, só podem ser consumidas após processadas, na forma de farinha, fécula e outros produtos.
A dose letal de ingestão de HCN oscila entre 50 a 60&nbsp;mg/kg de peso-vivo.<ref name=ABQ-RN-mandioca />
A macaxeira (mandioca mansa, de mesa ou aipim) por apresentar baixos teores de ácido cianídrico (<50&nbsp;mg/kg) pode ser consumida após pouco processamento culinário (cozer em água, ou leve cozedura seguido de fritura etc)<ref name="portalamazonia.com"/>.


A forma mais utilizada para reduzir o teor de HCN é pelo [[Fabricação de farinha de mandioca|processamento tradicional]]: moagem, retirada da manipuera (ou manipueira, líquido liberado), que pode ser usada para a produção de goma e [[tucupi]], e [[torrefação]]. Outros métodos:
No entanto para a mandioca (mandioca brava), por apresentar altos teores de ácido cianídrico (>50&nbsp;mg/kg), é necessário cozimento por um tempo mínimo de 50 horas a uma temperatura de 100&nbsp;°C.<ref name=":0" />. A forma mais utilizada para alcançar isto é o [[Fabricação de farinha de mandioca|processamento tradicional]] que consiste na moagem seguida da retirada da manipuera (ou manipueira, líquido libertado que pode ser usado para a produzir goma e [[tucupi]]) e por fim, a [[torrefação]]<ref name="Embrapa500" />
* fervura (perde de 25% a 75%);
* secagem ao sol (perde de 40% a 50%);
* esmagamento e secagem ao sol (perde de 95% a 98%).<ref name=Embrapa500 />


== Produção agrícola ==
== Produção agrícola ==
[[File:NP Cassava Starch Processing (5867152719).jpg|left|250px|thumb|Processamento de mandioca em [[Hanói]], no [[Vietnã]]]]
[[File:NP Cassava Starch Processing (5867152719).jpg|left|250px|thumb|Processamento de mandioca em [[Cauca]], na [[Colômbia]]]]
Segundo a [[FAO]], a mandioca é plantada em mais de 100 países, sendo os maiores produtores<ref name="FAO">[[FAO]]. '''[http://faostat.fao.org/site/567/DesktopDefault.aspx?PageID=567#ancor estatística da FAO de 2008]'''. Visitada em 18 de abril de 2010</ref> a [[Nigéria]], a [[Tailândia]], o [[Brasil]], a [[Indonésia]], [[Angola]], [[Gana]] e a [[República Democrática do Congo]], respectivamente.<ref>{{Citar periódico|titulo=Top Cassava Producing Countries In The World|url=https://www.worldatlas.com/articles/top-cassava-producing-countries-in-the-world.html|jornal=WorldAtlas|lingua=en}}</ref> Segundo a [[FAO]],<ref name="FAO"/> em 2008, foram produzidas aproximadamente  25,9 milhões de [[tonelada]]s,  no Brasil; 8,9 milhões, em [[Angola]]; 5 milhões, em [[Moçambique]]; 50 mil, em [[Timor-Leste]]; 48 mil, em [[Guiné-Bissau]] e 6,3 mil toneladas, em [[São Tomé e Príncipe]].
Segundo a [[FAO]], a mandioca é plantada em mais de 100 países, sendo os maiores produtores<ref name="FAO">[[FAO]]. '''[http://faostat.fao.org/site/567/DesktopDefault.aspx?PageID=567#ancor estatística da FAO de 2008]'''. Visitada em 18 de abril de 2010</ref> a [[Nigéria]], a [[Tailândia]], o [[Brasil]], a [[Indonésia]], [[Angola]], [[Gana]] e a [[República Democrática do Congo]], respectivamente.<ref>{{Citar periódico|titulo=Top Cassava Producing Countries In The World|url=https://www.worldatlas.com/articles/top-cassava-producing-countries-in-the-world.html|jornal=WorldAtlas|lingua=en}}</ref> Segundo a [[FAO]],<ref name="FAO"/> em 2008, foram produzidas aproximadamente  25,9 milhões de [[tonelada]]s,  no Brasil; 8,9 milhões, em [[Angola]]; 5 milhões, em [[Moçambique]]; 50 mil, em [[Timor-Leste]]; 48 mil, em [[Guiné-Bissau]] e 6,3 mil toneladas, em [[São Tomé e Príncipe]].


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!style="background-color:#E9E9E9" align=left |País
!style="background-color:#E9E9E9" align=left |País
!style="background-color:#E9E9E9" align=right|Produção em 2018 <br><small>(milhões de toneladas anuais)</small>
!style="background-color:#E9E9E9" align=right|Produção em 2018 <br><small>(toneladas anuais)</small>
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| {{NGR}} || style="text-align:right;"| 59,5
| {{NGR}} || style="text-align:right;"| 59.475.202
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| {{THA}} || style="text-align:right;"| 31,7
| {{THA}} || style="text-align:right;"| 31.678.017
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| {{CGO}} || style="text-align:right;"| 30,0
| {{CGO}} || style="text-align:right;"| 29.952.479
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| {{BRA}} || style="text-align:right;"| 17,6
| {{GHA}} || style="text-align:right;"| 20.845.960
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| {{INA}} || style="text-align:right;"| 16,1
| {{BRA}} || style="text-align:right;"| 17.644.733
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|'''Total mundial''' || align="right" | '''278'''
| {{INA}} || style="text-align:right;"| 16.119.020
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| {{VIE}} || style="text-align:right;"| 9.847.074
|-
| {{ANG}} || style="text-align:right;"| 8.659.552
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| {{MOZ}} || style="text-align:right;"| 8.525.451
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| {{CAM}} || style="text-align:right;"| 7.646.022
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|'''Total mundial''' || align="right" | '''277.808.759'''
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|colspan=2|''Fonte: Food and Agriculture Organization''<ref>{{citar web| url=http://www.fao.org/faostat/en/#data/QC/|título=Cassava production in 2018, Crops/World regions/Production quantity (from pick lists)|último =fao.org (FAOSTAT)|acessodata=29 de agosto de 2020}}</ref>
|colspan=2|''Fonte: Food and Agriculture Organization''<ref>{{citar web| url=http://www.fao.org/faostat/en/#data/QC/|título=Cassava production in 2018, Crops/World regions/Production quantity (from pick lists)|último =fao.org (FAOSTAT)|acessodata=29 de agosto de 2020}}</ref>
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O folclorista [[Câmara Cascudo]] registra alguns mitos sobre a mandioca. São eles:
O folclorista [[Câmara Cascudo]] registra alguns mitos sobre a mandioca. São eles:


Entre os [[parecis (grupo indígena)|parecis]], povo de [[Mato Grosso]], no [[Brasil]], a história é a seguinte: Zatiamare e sua esposa Kôkôtêrô tiveram um par de filhos — o menino Zôkôôiê e uma menina, Atiolô — que era desprezada pelo pai, que a ela nunca falava senão por assobios. Amargurada pelo desprezo paterno, a menina pediu à mãe que a enterrasse viva; esta resistiu ao estranho apelo, mas ao fim de certo tempo, atendeu-a: a menina foi enterrada no cerrado, onde o calor a desagradou, e depois no campo, também lugar que a incomodara. Finalmente, foi enterrada na mata onde foi do seu agrado; recomendou à mãe para que não olhasse quando desse um grito, o que ocorreu após algum tempo. A mãe acorreu ao lugar, onde encontrou um belo e alto arbusto que ficou rasteiro quando ela se aproximou; a índia Kôkôtêrô, porém, cuidou da planta que mais tarde colheu do solo, descobrindo que era a mandioca.<ref>CASCUDO, [[Dicionário do Folclore Brasileiro]], verbete ''mandioca'': este mito foi registrado por Clemente Brandenburger, in: ''Lendas dos nossos índios''</ref>
Entre os [[parecis (grupo indígena)|parecis]], povo de [[Mato Grosso]], no [[Brasil]], a história é a seguinte: Zatiamare e sua esposa Kôkôtêrô tiveram um par de filhos — o menino Zôkôôiê e uma menina, Atiolô — desprezada pelo pai, que a ela nunca falava senão por assobios. Amargurada pelo desprezo paterno, a menina pediu à mãe que a enterrasse viva; esta resistiu ao estranho apelo mas, ao fim de certo tempo, atendeu-a: a menina foi enterrada no cerrado, onde o calor a desagradou e, depois no campo, também lugar que a incomodara. Finalmente foi enterrada na mata, onde foi do seu agrado; recomendou à mãe para que não olhasse quando desse um grito, o que ocorreu após algum tempo. A mãe acorreu ao lugar, onde encontrou um belo e alto arbusto que ficou rasteiro quando ela se aproximou; a índia Kôkôtêrô, porém, cuidou da planta que mais tarde colheu do solo, descobrindo que era a mandioca.<ref>CASCUDO, [[Dicionário do Folclore Brasileiro]], verbete ''mandioca'': este mito foi registrado por Clemente Brandenburger, in: ''Lendas dos nossos índios''</ref>


Entre os [[bacairis]], a lenda conta de um veado que salvara o [[bagadu]] (peixe da família ''Practocephalus'') que, para recompensá-lo, deu-lhe mudas da mandioca que tinha ocultas sob o leito do rio. O veado conservou a planta para alimentação de sua família, mas o herói dos bacairis, Keri, conseguiu pegar, do animal, a semente, que distribuiu entre as mulheres da tribo.<ref>CASCUDO, op. cit., id., este mito foi registado por [[Karl von den Steinen]], in: ''Entre os Aborígenes do Brasil Central''</ref>
Entre os [[bacairis]], conta-se a lenda de um veado que salvara o [[bagadu]] (peixe da família ''Practocephalus'') que, para recompensá-lo, deu-lhe mudas da mandioca que tinha ocultas sob o leito do rio. O veado conservou a planta para alimentação de sua família mas o herói dos bacairis, Keri, conseguiu pegar do animal a semente, que distribuiu entre as mulheres da tribo.<ref>CASCUDO, op. cit., id., este mito foi registado por [[Karl von den Steinen]], in: ''Entre os Aborígenes do Brasil Central''</ref>


A lenda de Mani foi registrada em 1876, por [[José Vieira Couto de Magalhães|Couto de Magalhães]]. Em [[domínio público]], este foi o registro do folclorista:
A lenda de Mani foi registrada em 1876, por [[José Vieira Couto de Magalhães|Couto de Magalhães]]. Em [[domínio público]], este foi o registro do folclorista:
:"Em tempos idos, apareceu grávida a filha dum chefe selvagem, que residia nas imediações do lugar em que está hoje a cidade Santarém. O chefe quis punir no autor da desonra de sua filha a ofensa que sofrera seu orgulho e, para saber quem ele era, empregou debalde rogos, ameaças e por fim castigos severos. Tanto diante dos rogos como diante dos castigos a moça permaneceu inflexível, dizendo que nunca tinha tido relação com homem algum. O chefe tinha deliberado matá-la, quando lhe apareceu em sonho um homem branco que lhe disse que não matasse a moça, porque ela efetivamente era inocente, e não tinha tido relação com homem. Passados os nove meses, ela deu à luz uma menina lindíssima e branca, causando este último fato a surpresa não só da tribo como das nações vizinhas, que vieram visitar a criança, para ver aquela nova e desconhecida raça. A criança, que teve o nome de Mani e que andava e falava precocemente, morreu ao cabo de um ano, sem ter adoecido e sem dar mostras de dor. Foi ela enterrada dentro da própria casa, descobrindo-se e regando-se diariamente a sepultura, segundo o costume do povo. Ao cabo de algum tempo, brotou da cova uma planta que, por ser inteiramente desconhecida, deixaram de arrancar. Cresceu, floresceu e deu frutos. Os pássaros que comeram os frutos se embriagaram, e este fenômeno, desconhecido dos índios, aumentou-lhes a superstição pela planta. A terra afinal fendeu-se, cavaram-na e julgaram reconhecer no fruto que encontraram o corpo de Mani. Comeram-no e assim aprenderam a usar da mandioca."<ref>COUTO DE MAGALHÃES, José Vieira. ''O Selvagem'', pp. 134-135 - transcrito por CASCUDO, op. cit, verbete ''Mani''.</ref>
:"Em tempos idos, apareceu grávida a filha dum chefe selvagem, que residia nas imediações do lugar em que está hoje a cidade Santarém. O chefe quis punir no autor da desonra de sua filha a ofensa que sofrera seu orgulho e, para saber quem ele era, empregou debalde rogos, ameaças e por fim castigos severos. Tanto diante dos rogos como diante dos castigos a moça permaneceu inflexível, dizendo que nunca tinha tido relação com homem algum. O chefe tinha deliberado matá-la, quando lhe apareceu em sonho um homem branco que lhe disse que não matasse a moça, porque ela efetivamente era inocente, e não tinha tido relação com homem. Passados os nove meses, ela deu à luz uma menina lindíssima e branca, causando este último fato a surpresa não só da tribo como das nações vizinhas, que vieram visitar a criança, para ver aquela nova e desconhecida raça. A criança, que teve o nome de Mani e que andava e falava precocemente, morreu ao cabo de um ano, sem ter adoecido e sem dar mostras de dor. Foi ela enterrada dentro da própria casa, descobrindo-se e regando-se diariamente a sepultura, segundo o costume do povo. Ao cabo de algum tempo, brotou da cova uma planta que, por ser inteiramente desconhecida, deixaram de arrancar. Cresceu, floresceu e deu frutos. Os pássaros que comeram os frutos se embriagaram, e este fenômeno, desconhecido dos índios, aumentou-lhes a superstição pela planta. A terra afinal fendeu-se, cavaram-na e julgaram reconhecer no fruto que encontraram o corpo de Mani. Comeram-no e assim aprenderam a usar da mandioca."<ref>COUTO DE MAGALHÃES, José Vieira. ''O Selvagem'', pp. 134-135 - transcrito por CASCUDO, op. cit, verbete ''Mani''.</ref>


Câmara Cascudo acrescenta que o nome mandioca advém de ''Mani + oca'', significando "casa de Mani". É, segundo este autor, um mito [[tupis|tupi]], recontado em obras posteriores, como ''Lendas dos Índios do Brasil'', de [[Herbert Baldus]] (1946), e ''Antologia de Lendas dos Índios Brasileiros'', de [[Alberto da Costa e Silva]] (1956).<ref>CASCUDO, op. cit., verbete ''Mani''</ref>
Câmara Cascudo acrescenta que o nome "mandioca" advém de ''Mani + oca'', significando "casa de Mani". É, segundo este autor, um mito [[tupis|tupi]], recontado em obras posteriores, como ''Lendas dos Índios do Brasil'', de [[Herbert Baldus]] (1946), e ''Antologia de Lendas dos Índios Brasileiros'', de [[Alberto da Costa e Silva]] (1956).<ref>CASCUDO, op. cit., verbete ''Mani''</ref>


== Utilização ==
== Utilização ==
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[[Imagem:Belizean Cassava Pone.jpg|250px|thumb||right|[[Pudim]] de mandioca em [[Belize]]]]
[[Imagem:Belizean Cassava Pone.jpg|250px|thumb||right|[[Pudim]] de mandioca em [[Belize]]]]
[[Imagem:Broa brasileira, um pão da culinária brasileira..JPG|miniaturadaimagem|Broa de polvilho]]
[[Imagem:Broa brasileira, um pão da culinária brasileira..JPG|miniaturadaimagem|Broa de polvilho]]
Como encontra-se na clássica obra ''[[Casa-Grande & Senzala]]'', ao chegarem ao Brasil, os primeiros europeus se espantaram com a fartura da farinha de mandioca, muito mais abundante e fácil de ser obtida que a farinha de trigo europeia. No [[Brasil Colônia]], foi um dos principais alimentos utilizados pelos colonos.<ref>{{citar livro|sobrenome=Cascudo|nome=Luís da Câmara|título=Civilização e Cultura|ano=2004|editora=[[Global Editora]]|local=São Paulo|isbn=85-260-0873-0|edição=1|autorlink=Luís da Câmara Cascudo|acessodata=1 de julho de 2017|página=368|capítulo=Capítulo 9}}</ref> Em forma de farinha, integrava vários pratos, como bolo, [[beiju]], sopa, [[angu]] e, às vezes, misturada apenas com água ou com feijão e carne, quando havia.<ref name="múltipla">Lima, Cláudia. Tachos e panelas: historiografia da alimentação brasileira. Recife: Ed. da autora, 1999. 2ª Ed. 310p. ISBN 8590103218</ref> O amido da mandioca também pode ser processado em forma de bolinhas para formar o [[sagu]].<ref>{{Citar web|titulo=Folha de S.Paulo - Ingrediente: Sagu pode ser feito com mandioca ou feijão - 28/02/2008|url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq2802200803.htm|obra=www1.folha.uol.com.br|acessodata=2019-03-08}}</ref>
Como encontra-se na clássica obra ''[[Casa-Grande & Senzala]]'', ao chegarem ao Brasil, os primeiros europeus se espantaram com a fartura da farinha de mandioca, muito mais abundante e fácil de ser obtida que a farinha de trigo europeia. No [[Brasil Colônia]], foi um dos principais alimentos utilizados pelos colonos.<ref>{{citar livro|sobrenome=Cascudo|nome=Luís da Câmara|título=Civilização e Cultura|ano=2004|editora=[[Global Editora]]|local=São Paulo|isbn=85-260-0873-0|edição=1|autorlink=Luís da Câmara Cascudo|acessodata=|página=368|capítulo=Capítulo 9}}</ref> Em forma de farinha, integrava vários pratos como bolo, [[beiju]], sopa, [[angu]] e, às vezes, misturada apenas com água ou com feijão e carne, quando havia.<ref name="múltipla">Lima, Cláudia. Tachos e panelas: historiografia da alimentação brasileira. Recife: Ed. da autora, 1999. 2ª Ed. 310p. ISBN 8590103218</ref> O amido da mandioca também pode ser processado em forma de bolinhas para formar o [[sagu]].<ref>{{Citar web|titulo=Folha de S.Paulo - Ingrediente: Sagu pode ser feito com mandioca ou feijão - 28/02/2008|url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq2802200803.htm|obra=www1.folha.uol.com.br|acessodata=2019-03-08}}</ref>


Os tipos de farinhas comuns na região Norte do Brasil:<ref name="Trevisani">Bruna Trevisani. [http://books.google.com/books?id=dZVWAO8HVUcC&pg=PA6 ''A Cozinha Amazônica'']. Editora Melhoramentos. p. 6. ISBN 85-06-06224-1.</ref>
Os tipos de farinhas comuns na região Norte do Brasil:<ref name="Trevisani">Bruna Trevisani. [http://books.google.com/books?id=dZVWAO8HVUcC&pg=PA6 ''A Cozinha Amazônica'']. Editora Melhoramentos. p. 6. ISBN 85-06-06224-1.</ref>
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Nas [[Filipinas]], o bolo de mandioca ou ''Kakanin'' é uma das sobremesas caseiras mais populares e apreciadas. É feito a partir de mandioca ralada (''Kamoteng Kahoy''), misturado com leite de coco, ovos e manteiga e coberto com uma mistura de leite cremoso. É também chamado de ''cassava bibingka''.<ref name="Shaw2014">Emily Shaw (2014). [http://books.google.com/books?id=HK5lAwAAQBAJ&pg=PT324 ''Recipes from Around the World''], Volume 2. Bookpubber. p. 324. GGKEY:G7YNB0CUAZ4.</ref>
Nas [[Filipinas]], o bolo de mandioca ou ''Kakanin'' é uma das sobremesas caseiras mais populares e apreciadas. É feito a partir de mandioca ralada (''Kamoteng Kahoy''), misturado com leite de coco, ovos e manteiga e coberto com uma mistura de leite cremoso. É também chamado de ''cassava bibingka''.<ref name="Shaw2014">Emily Shaw (2014). [http://books.google.com/books?id=HK5lAwAAQBAJ&pg=PT324 ''Recipes from Around the World''], Volume 2. Bookpubber. p. 324. GGKEY:G7YNB0CUAZ4.</ref>


[[Ficheiro:Farofa brazil.jpg|thumb|250px|right|<center>[[Farofa]]<center>]]No [[Brasil]], a [[Raiz#Raízes subterrâneas|raiz tuberosa]] da mandioca é consumida de várias formas. Há muitos tipos de [[farinha de mandioca]], que são resultantes da ralagem, prensagem e secamento da raiz da mandioca, e a farinha de [[tapioca]] ou [[polvilho]], que é feita com o fino amido proveniente da decantação do caldo prensado da massa de mandioca. Da mandioca fermentada é produzida a [[puba]].
[[Ficheiro:Farofa brazil.jpg|thumb|250px|right|<center>[[Farofa]]<center>]]No [[Brasil]], a [[Raiz#Raízes subterrâneas|raiz tuberosa]] da mandioca é consumida de várias formas. Há muitos tipos de [[farinha de mandioca]], que são resultantes da ralagem, prensagem e secagem da raiz da mandioca, e a farinha de [[tapioca]] ou [[polvilho]], que é feita com o fino amido proveniente da decantação do caldo prensado da massa de mandioca. Da mandioca fermentada é produzida a [[puba]].


[[Ficheiro:Fazendo Farinha.jpg|180px|thumb|esquerda|Fabricação de farinha de mandioca de modo artesanal, no interior do município de [[São Miguel do Tocantins]], em [[Tocantins]], no [[Brasil]].]]
[[Ficheiro:Fazendo Farinha.jpg|180px|thumb|esquerda|Fabricação de farinha de mandioca de modo artesanal, no interior do município de [[São Miguel do Tocantins]], em [[Tocantins]], no [[Brasil]].]]
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A mandioca tinha uma enorme importância para a alimentação dos índios e dos primeiros colonizadores do Brasil e, como se vê acima no trecho de carta do Padre [[José de Anchieta]] de 1554, foi o motivo para a fundação da cidade de São Paulo.<ref name="msc">CAVALCANTE, Messias S. ''Comidas dos Nativos do Novo Mundo''. Barueri, SP. Sá Editora. 2014, 403p.ISBN 9788582020364</ref>
A mandioca tinha uma enorme importância para a alimentação dos índios e dos primeiros colonizadores do Brasil e, como se vê acima no trecho de carta do Padre [[José de Anchieta]] de 1554, foi o motivo para a fundação da cidade de São Paulo.<ref name="msc">CAVALCANTE, Messias S. ''Comidas dos Nativos do Novo Mundo''. Barueri, SP. Sá Editora. 2014, 403p.ISBN 9788582020364</ref>


Os [[cintas-largas]] do [[Mato Grosso]] e [[Rondônia]] obtinham a [[raiz]] de maneira peculiar: ao invés de arrancar o pé inteiro, como quase todos os outros índios faziam, suas mulheres cavavam o solo e removiam apenas as raízes grandes, deixando as menores se desenvolverem.<ref>POVOS INDÍGENAS DO BRASIL (S/DATA). '''Cinta Larga'''. Ciclos de produção e produção de ciclos. Disponível em http://pib.socioambiental.org/pt/povo/cinta-larga/425 Consulta em 07/09/2012</ref>
Os [[cintas-largas]] de [[Mato Grosso]] e [[Rondônia]] obtinham a [[raiz]] de maneira peculiar: ao invés de arrancar o pé inteiro, como quase todos os outros índios faziam, suas mulheres cavavam o solo e removiam apenas as raízes grandes, deixando as menores se desenvolverem.<ref>POVOS INDÍGENAS DO BRASIL (S/DATA). '''Cinta Larga'''. Ciclos de produção e produção de ciclos. Disponível em http://pib.socioambiental.org/pt/povo/cinta-larga/425 Consulta em 07/09/2012</ref>


Os [[tupinambás]] da [[Bahia]] faziam a ''giroba'', um tipo de [[cauim]], que também servia como alimento. A mandioca era descascada, cortada em pedaços, cozida, socada em [[pilão]], cozida novamente com mais água e colocada em vasilhame para fermentar. A massa cozida não era mastigada como na maioria dos cauins, sendo amassada no [[pilão]] e mesmo assim ocorria o processo de [[fermentação]]. As mães alimentavam crianças pequenas com a ''giroba'', que, segundo a crença, permitia-lhes que se desenvolvessem em adultos fortes e saudáveis.<ref>VIEGAS, Susana de Matos (2006). ''Nojo, prazer e persistência: Beber fermentado entre os Tupinambá de Olivença (Bahia)''. In: Revista de História 154 (1º - 2006), 151-188. Disponível em http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/rh/n154/a07n154.pdf Consulta em 26/10/2012</ref>
Os [[tupinambás]] da [[Bahia]] faziam a ''giroba'', um tipo de [[cauim]], que também servia como alimento. A mandioca era descascada, cortada em pedaços, cozida, socada em [[pilão]], cozida novamente com mais água e colocada em vasilhame para fermentar. A massa cozida não era mastigada como na maioria dos cauins, sendo amassada no [[pilão]] e mesmo assim ocorria o processo de [[fermentação]]. As mães alimentavam crianças pequenas com a ''giroba'', que, segundo a crença, permitia-lhes que se desenvolvessem em adultos fortes e saudáveis.<ref>VIEGAS, Susana de Matos (2006). ''Nojo, prazer e persistência: Beber fermentado entre os Tupinambá de Olivença (Bahia)''. In: Revista de História 154 (1º - 2006), 151-188. Disponível em http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/rh/n154/a07n154.pdf Consulta em 26/10/2012</ref>
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Nos estados do [[Maranhão]], [[Piauí]] <ref>''Piauí.com.br''. Disponível em http://www.piaui.com.br/txt.asp?ID=2343. Acesso em 4 de Abril de 2016.</ref> e [[Ceará]], é produzida a [[tiquira]], bebida resultante da [[destilação]] da mandioca.
Nos estados do [[Maranhão]], [[Piauí]] <ref>''Piauí.com.br''. Disponível em http://www.piaui.com.br/txt.asp?ID=2343. Acesso em 4 de Abril de 2016.</ref> e [[Ceará]], é produzida a [[tiquira]], bebida resultante da [[destilação]] da mandioca.


Os [[araras]] do [[Pará]], que eram [[nômade]]s não cultivavam mandioca.<ref>BATES, Henry Walter (1825-1892). '''Um naturalista no rio Amazonas'''. Belo Horizonte, Edit. Itatiaia; São Paulo, Edit. da Universidade de São Paulo. 1979, 300p.</ref> Os [[omáguas]] do Alto [[Amazonas]] colhiam a mandioca e a enterravam deixando apodrecer parcialmente e assim a consumiam. Os [[camaiurás]] do [[Mato Grosso]], para virar [[beiju]], talhavam na [[madeira]] a [[pá]], que apresentava a extremidade semi circular.<ref name="msc"/>
Os [[Araras (São Paulo)|araras]] do [[Pará]], que eram [[nômade]]s não cultivavam mandioca.<ref>BATES, Henry Walter (1825-1892). '''Um naturalista no rio Amazonas'''. Belo Horizonte, Edit. Itatiaia; São Paulo, Edit. da Universidade de São Paulo. 1979, 300p.</ref> Os [[omáguas]] do Alto [[Amazonas]] colhiam a mandioca e a enterravam deixando apodrecer parcialmente e assim a consumiam. Os [[camaiurás]] de [[Mato Grosso]], para virar [[beiju]], talhavam na [[madeira]] a [[pá]], que apresentava a extremidade semi circular.<ref name="msc"/>


Os [[caiabis]] do [[Mato Grosso]] assavam a mandioca com casca na brasa, descartavam a casca e deixavam-na de [[molho]] na água. No outro dia, a mandioca era amassada e comida fria.<ref name="ribeiro"/> Algumas tribos não conheciam o [[tipiti]], como os [[paracanãs]], do Pará. Faziam a farinha cortando a mandioca, cozendo-a e espremendo-a em uma esteira para remover a parte líquida. As bolas de mandioca eram secas em um jirau, desfeitas, peneiradas e torradas<ref>REVISTA DE ATUALIDADE INDÍGENA. ''Comportamento social dos Parakanã''. P. 26-33. In: Revista de Atualidade Indígena. Brasília, Fundação Nacional do Índio. 1979, ano III, nº 19, 64p.</ref>
Os [[caiabis]] de [[Mato Grosso]] assavam a mandioca com casca na brasa, descartavam a casca e deixavam-na de [[molho]] na água. No outro dia, a mandioca era amassada e comida fria.<ref name="ribeiro"/> Algumas tribos não conheciam o [[tipiti]], como os [[paracanãs]], do Pará. Faziam a farinha cortando a mandioca, cozendo-a e espremendo-a em uma esteira para remover a parte líquida. As bolas de mandioca eram secas em um jirau, desfeitas, peneiradas e torradas<ref>REVISTA DE ATUALIDADE INDÍGENA. ''Comportamento social dos Parakanã''. P. 26-33. In: Revista de Atualidade Indígena. Brasília, Fundação Nacional do Índio. 1979, ano III, nº 19, 64p.</ref>


Da mandioca, os ameríndios obtinham uma grande variedade de derivados:
Da mandioca, os ameríndios obtinham uma grande variedade de derivados:
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Beiju: o [[pão]] de mandioca é feito em farelos e aspergido com água, resultando em uma [[massa]] grudenta que é espalhada sobre uma chapa quente, sendo continuamente virada de um lado e do outro.<ref name="galvão">GALVÃO, Eduardo (1921-1976). '''Encontro de sociedades: Índios e brancos do Brasil'''. Prefácio de Darci Ribeiro. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1979, 300 p.</ref>
Beiju: o [[pão]] de mandioca é feito em farelos e aspergido com água, resultando em uma [[massa]] grudenta que é espalhada sobre uma chapa quente, sendo continuamente virada de um lado e do outro.<ref name="galvão">GALVÃO, Eduardo (1921-1976). '''Encontro de sociedades: Índios e brancos do Brasil'''. Prefácio de Darci Ribeiro. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1979, 300 p.</ref>


Os caiabis do [[Mato Grosso]] faziam o [[beiju]] deixando a mandioca brava de molho por uns dias. Depois ela era descascada e bem seca ao sol. Ela era socada no [[pilão]], umedecida e assada de um só lado. Os [[Txukahamãe]]  ou Megaron da mesma região envolviam a massa de mandioca em forma de quadrado em [[folha]] de [[bananeira]] e a colocavam entre [[pedra]]s aquecidas, cobriam-na com mais [[folha]]s e [[terra]] e a deixavam assar por horas. Os [[Uaicás|xirianás]] de [[Roraima]] assavam não só o [[beiju]] nos largos discos de [[argila]], como também carnes de caça.<ref name="perei">PEREIRA, Nunes (1892-1985). ''Panorama da alimentação indígena: Comidas, bebidas & tóxicos na amazônia brasileira''. Rio de Janeiro, Livraria São José. 1974, 412 p.</ref>
Os caiabis de [[Mato Grosso]] faziam o [[beiju]] deixando a mandioca brava de molho por uns dias. Depois ela era descascada e bem seca ao sol. Ela era socada no [[pilão]], umedecida e assada de um só lado. Os [[Txukahamãe]]  ou Megaron da mesma região envolviam a massa de mandioca em forma de quadrado em [[folha]] de [[bananeira]] e a colocavam entre [[pedra]]s aquecidas, cobriam-na com mais [[folha]]s e [[terra]] e a deixavam assar por horas. Os [[Uaicás|xirianás]] de [[Roraima]] assavam não só o [[beiju]] nos largos discos de [[argila]], como também carnes de caça.<ref name="perei">PEREIRA, Nunes (1892-1985). ''Panorama da alimentação indígena: Comidas, bebidas & tóxicos na amazônia brasileira''. Rio de Janeiro, Livraria São José. 1974, 412 p.</ref>


Um modo diferente de preparar o [[beiju]] era praticado pelos [[Haló’ T´é Sú]] do [[Mato Grosso]]. Removiam as [[cinza]]s e [[brasa]]s do [[fogo]] e no local colocavam a [[farinha]], que era comprimida até formar os [[beiju]]s. As [[cinza]]s e [[brasa]]s eram sobre eles colocadas, que ficavam assados em quinze minutos. As [[brasa]]s eram removidas com uma [[vareta]] e os [[beiju]]s batidos para a remoção das [[cinzas]].<ref>REVISTA DE ATUALIDADE INDÍGENA. ''Haló’ Té Sú. A difícil transição cultural''. p. 41-48 In: Revista de Atualidade Indígena. Brasília, Fundação Nacional do Índio. 1979, ano III, nº 16, 64p.</ref>
Um modo diferente de preparar o [[beiju]] era praticado pelos [[Haló’ T´é Sú]] de [[Mato Grosso]]. Removiam as [[cinza]]s e [[brasa]]s do [[fogo]] e no local colocavam a [[farinha]], que era comprimida até formar os [[beiju]]s. As [[cinza]]s e [[brasa]]s eram sobre eles colocadas, que ficavam assados em quinze minutos. As [[brasa]]s eram removidas com uma [[vareta]] e os [[beiju]]s batidos para a remoção das [[cinzas]].<ref>REVISTA DE ATUALIDADE INDÍGENA. ''Haló’ Té Sú. A difícil transição cultural''. p. 41-48 In: Revista de Atualidade Indígena. Brasília, Fundação Nacional do Índio. 1979, ano III, nº 16, 64p.</ref>


Os nativos das [[América]]s preparavam vários tipos de [[beiju]]s e outros pratos derivados da mandioca:
Os nativos das [[América]]s preparavam vários tipos de [[beiju]]s e outros pratos derivados da mandioca:


*Aaru — beiju de massa de mandioca com tatu moqueado e moído.<ref name="bastos">BASTOS, Abguar (1987).''  A pantofagia ou as estranhas práticas alimentares da selva: Estudo na região amazônica''. São Paulo, Editora Nacional; Brasília DF, INL. 1987, 153 p</ref>
*Aaru — beiju de massa de mandioca com tatu moqueado e moído.<ref name="bastos">BASTOS, Abguar (1987).''  A pantofagia ou as estranhas práticas alimentares da selva: Estudo na região amazônica''. São Paulo, Editora Nacional; Brasília DF, INL. 1987, 153 p</ref>
*Beiju-açu — beiju de massa de mandioca peneirada e torrada.<ref name="pereira">PEREIRA, Manuel Nunes (1892-1985). ''Moronguêtá: um Decameron indígena''.  2ª Ed.; vol. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira. 1980, 2ª Ed.; vol. 1.  P. 1-434</ref>
*Beiju-açu — beiju de massa de mandioca peneirada e torrada.<ref name="pereira">PEREIRA, Manuel Nunes (1892-1985). ''Moronguêtá: um Decameron indígena''.  2ª Ed.; vol. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira. 1980, 2ª Ed.; vol. 1.  P. 1-434</ref>
*Beiju-cambraia — feito com massa de tapioca, alvo, tenro e quase transparente.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-cambraia — feito com massa de tapioca, alvo, tenro e quase transparente.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-carimã — beiju utilizado para se fazer caxiri na festa da [[puberdade]] das moças.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-carimã — beiju utilizado para se fazer caxiri na festa da [[puberdade]] das moças.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-cica — de massa de mandioca fresca, cortado e torrado, com aparência de um folhado.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-cica — de massa de mandioca fresca, cortado e torrado, com aparência de um folhado.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-curua — de massa de mandioca, sal e castanha ralada, envolto em folha de bananeira e assado.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-curua — de massa de mandioca, sal e castanha ralada, envolto em folha de bananeira e assado.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-curuba — semelhante ao beiju curucaua, mas a castanha de caju ou a castanha-do-pará são adicionadas em pedaços e não raladas.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-curuba — semelhante ao beiju curucaua, mas a castanha de caju ou a castanha-do-pará são adicionadas em pedaços e não raladas.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-curucaua — grande e chato, feito de tapioca granulada com castanha de caju ou castanha-do-pará ralada.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-curucaua — grande e chato, feito de tapioca granulada com castanha de caju ou castanha-do-pará ralada.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-enrodilhado — beiju normal, mas que é enrolado ao invés de dobrado em dois.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-enrodilhado — beiju normal, mas que é enrolado ao invés de dobrado em dois.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-mambeca — um tipo de beiju mole, que não era torrado, apenas aquecido para a massa aglutinar.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-mambeca — um tipo de beiju mole, que não era torrado, apenas aquecido para a massa aglutinar.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-marapatá — envolto em folhas de bananeira e assado sobre cinzas.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-marapatá — envolto em folhas de bananeira e assado sobre cinzas.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-peteca — pequeno beiju comprido de massa de mandioca puba, castanha e gordura.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-peteca — pequeno beiju comprido de massa de mandioca puba, castanha e gordura.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-pixuna — usado em viagens, é grande e escuro.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-pixuna — usado em viagens, é grande e escuro.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>


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*Beiju-poqueca — assado envolto em folha de [[bananeira]], contendo apenas massa de mandioca e sal.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-poqueca — assado envolto em folha de [[bananeira]], contendo apenas massa de mandioca e sal.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-teica — de polvilho fresco de mandioca com farinha d’água.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-teica — de polvilho fresco de mandioca com farinha d’água.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-ticã — de massa de mandioca puba seca e socada.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-ticã — de massa de mandioca puba seca e socada.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-tinin — seco ao sol até endurecer.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-tinin — seco ao sol até endurecer.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-tininga — muito durável e feito de polvilho de mandioca puba, que é pilada depois de torrada.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-tininga — muito durável e feito de polvilho de mandioca puba, que é pilada depois de torrada.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-tipioca — de polvilho peneirado e torrado; outro tipo de beiju sem nome específico era feito com massa de mandioca com carne de caça previamente torrada e pilada.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beiju-tipioca — de polvilho peneirado e torrado; outro tipo de beiju sem nome específico era feito com massa de mandioca com carne de caça previamente torrada e pilada.<ref name="perei"/><ref name="pereira"/>
*Beijusicica — mingau de polvilho feito pelos Crichaná de Roraima.<ref name="rodrigues">RODRIGUES, João Barbosa (1885). '''Rio Jauapery, pacificação dos crichanás'''. 286p. Rio de Janeiro: Impr. Nac. Disponível em http://archive.org/stream/riojauaperypaci00rodrgoog#page/n10/mode/1up. Consulta em 23/02/2012</ref>
*Beijusicica — mingau de polvilho feito pelos Crichaná de Roraima.<ref name="rodrigues">RODRIGUES, João Barbosa (1885). '''Rio Jauapery, pacificação dos crichanás'''. 286p. Rio de Janeiro: Impr. Nac. Disponível em http://archive.org/stream/riojauaperypaci00rodrgoog#page/n10/mode/1up. Consulta em 23/02/2012</ref>
*Caxiri — a massa de mandioca é cozida com bastante água e a fermentação é causada pela adição de sobras de beiju velho ou pela mastigação da massa.<ref>GALVÃO, Eduardo (1921-1976). '''Encontro de sociedades: Índios e brancos do Brasil'''. Prefácio de Darci Ribeiro. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1979, 300p.</ref>
*Caxiri — a massa de mandioca é cozida com bastante água e a fermentação é causada pela adição de sobras de beiju velho ou pela mastigação da massa.<ref>GALVÃO, Eduardo (1921-1976). '''Encontro de sociedades: Índios e brancos do Brasil'''. Prefácio de Darci Ribeiro. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1979, 300p.</ref>
*Cauim de amendoim — Um tipo de mingau feito com farinha de mandioca, amendoim torrado e moído e, às vezes, farinha de milho.<ref name="ribeiro">RIBEIRO, Berta G. (1924-1997). '''Diário do Xingu'''. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1979, 265 p.</ref>
*Cauim de amendoim — Um tipo de mingau feito com farinha de mandioca, amendoim torrado e moído e, às vezes, farinha de milho.<ref name="ribeiro">RIBEIRO, Berta G. (1924-1997). '''Diário do Xingu'''. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1979, 265 p.</ref>
*Chibé — bebida não alcoólica feita pela mistura de farinha de mandioca com água.<ref name="silva"/><ref name="galvão"/>
*Chibé — bebida não alcoólica feita pela mistura de farinha de mandioca com água.<ref name="silva"/><ref name="galvão"/>
*Curada — semelhante ao beiju, porém mais rico em polvilho e mais espesso.<ref name="msc"/>
*Curada — semelhante ao beiju, porém mais rico em polvilho e mais espesso.<ref name="msc"/>


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*[[Fabricação de farinha de mandioca|Farinha de mandioca]] — misturava-se a [[massa]] ralada da mandioca fresca com a da puba. Mandioca puba é a deixada por alguns dias de molho na água. A massa era espremida com a mão e depois com o auxílio do [[tipiti]], para liberar a maior parte do seu líquido, que era aproveitado para se fazer o [[tucupi]]. A massa era torrada em recipiente circular de borda rasa e feita de barro.<ref name="galvão"/><ref name="perei"/> Algumas tribos faziam a [[farinha]] apenas com a mandioca fresca.<ref name="léry">LÉRY, Jean de (1534-1611). ''Viagem à terra do Brasil''. Belo Horizonte, Edit. Itatiaia; São Paulo, Edit. da Universidade de São Paulo.1980, 303 p.</ref> Produziam mais dois tipos de [[farinha]], a de guerra que continha apenas mandioca fresca e era muito cozida e a farinha mole feita de mandioca puba.<ref name="léry"/> A primeira era também chamada de farinha seca e a segunda farinha d’água.<ref name="daniel">DANIEL, João (1722-1776). ''Tesouro descoberto no máximo rio Amazonas''. Rio de Janeiro, Contraponto. 2004, Vol. 1, 600 p.</ref> Tanto missionários como militares necessitados de farinha induziram os indígenas a produzir para eles, de certa forma obrigando-os a fazer cada vez roças maiores de mandioca.<ref name="msc"/>
*[[Fabricação de farinha de mandioca|Farinha de mandioca]] — misturava-se a [[massa]] ralada da mandioca fresca com a da puba. Mandioca puba é a deixada por alguns dias de molho na água. A massa era espremida com a mão e depois com o auxílio do [[tipiti]], para liberar a maior parte do seu líquido, que era aproveitado para se fazer o [[tucupi]]. A massa era torrada em recipiente circular de borda rasa e feita de barro.<ref name="galvão"/><ref name="perei"/> Algumas tribos faziam a [[farinha]] apenas com a mandioca fresca.<ref name="léry">LÉRY, Jean de (1534-1611). ''Viagem à terra do Brasil''. Belo Horizonte, Edit. Itatiaia; São Paulo, Edit. da Universidade de São Paulo.1980, 303 p.</ref> Produziam mais dois tipos de [[farinha]], a de guerra que continha apenas mandioca fresca e era muito cozida e a farinha mole feita de mandioca puba.<ref name="léry"/> A primeira era também chamada de farinha seca e a segunda farinha d’água.<ref name="daniel">DANIEL, João (1722-1776). ''Tesouro descoberto no máximo rio Amazonas''. Rio de Janeiro, Contraponto. 2004, Vol. 1, 600 p.</ref> Tanto missionários como militares necessitados de farinha induziram os indígenas a produzir para eles, de certa forma obrigando-os a fazer cada vez roças maiores de mandioca.<ref name="msc"/>
 
*Idizinho — [[mingau]] de mandioca dos [[Kalapalo]] de [[Mato Grosso]].<ref name="bastos"/>
*Idizinho — [[mingau]] de mandioca dos [[Kalapalo]] do [[Mato Grosso]].<ref name="bastos"/>
*Kanapé — Os caiabis de [[Mato Grosso]] faziam um tipo de [[pão]] redondo recheado de [[amendoim]], por eles chamado de kanapé.  Para fazê-lo, socava-se mandioca ralada no [[pilão]], passava-a pela peneira e a cozinhava com [[amendoim]] torrado inteiro e um pouco de mandioca doce. Quando atingia o ponto certo, a [[massa]] era deixada para esfriar e com ela eram feitos pães redondos que eram assados no moqueador. Na hora de comê-los, os pães eram esquentados no borralho, ficando torrados.<ref name="ribeiro"/>
 
*Kanapé — Os caiabis do [[Mato Grosso]] faziam um tipo de [[pão]] redondo recheado de [[amendoim]], por eles chamado de kanapé.  Para fazê-lo, socava-se mandioca ralada no [[pilão]], passava-a pela peneira e a cozinhava com [[amendoim]] torrado inteiro e um pouco de mandioca doce. Quando atingia o ponto certo, a [[massa]] era deixada para esfriar e com ela eram feitos pães redondos que eram assados no moqueador. Na hora de comê-los, os pães eram esquentados no borralho, ficando torrados.<ref name="ribeiro"/>
 
*Ki-pú — líquido preparado com folhas de mandioca que eram deixadas para envelhecer por três ou quatro dias, sendo depois fervidas.<ref name="msc"/>
*Ki-pú — líquido preparado com folhas de mandioca que eram deixadas para envelhecer por três ou quatro dias, sendo depois fervidas.<ref name="msc"/>
*Mandioca assada — os índios também assavam a mandioca mansa inteira para comer.<ref name="léry"/>
*Mandioca assada — os índios também assavam a mandioca mansa inteira para comer.<ref name="léry"/>
*Maniaca — caldo venenoso que sai da mandioca espremida. Depois de fervido, vira o tucupi.<ref name="bastos"/>
*Maniaca — caldo venenoso que sai da mandioca espremida. Depois de fervido, vira o tucupi.<ref name="bastos"/>
*Manicuera ou manipuera — era o líquido obtido quando se espremia a mandioca ralada e deixado em repouso por alguns dias ou esquentado para eliminar substâncias tóxicas. Era muito apreciado puro ou no caxiri. Com a adição de [[cará]], [[batata-doce]] ou frutas, fazia-se uma sopa rala.<ref name="silva"/>
*Manicuera ou manipuera — era o líquido obtido quando se espremia a mandioca ralada e deixado em repouso por alguns dias ou esquentado para eliminar substâncias tóxicas. Era muito apreciado puro ou no caxiri. Com a adição de [[cará]], [[batata-doce]] ou frutas, fazia-se uma sopa rala.<ref name="silva"/>
 
*Mingau — os caiabis de [[Mato Grosso]] preparavam o [[mingau]] cortando a mandioca-doce em dois ou três pedaços sem descascar, ralando-a, espremendo-a e cozendo o [[suco]] por um longo período. Depois [[polvilho]] era acrescentado para engrossar. Outra maneira de o fazerem era ralando a mandioca doce e cozinhando-a em seu próprio líquido, onde era acrescentada [[farinha de milho]] ou de mandioca, além de  [[batata-doce]] e [[cará]] cozidos e amassados.<ref name="ribeiro"/>
*Mingau — os caiabis do [[Mato Grosso]] preparavam o [[mingau]] cortando a mandioca-doce em dois ou três pedaços sem descascar, ralando-a, espremendo-a e cozendo o [[suco]] por um longo período. Depois [[polvilho]] era acrescentado para engrossar. Outra maneira de o fazerem era ralando a mandioca doce e cozinhando-a em seu próprio líquido, onde era acrescentada [[farinha de milho]] ou de mandioca, além de  [[batata-doce]] e [[cará]] cozidos e amassados.<ref name="ribeiro"/>
 
*Mingau pitinga — mandioca ralada misturada com leite (de vaca ou de coco) e levada ao fogo, para engrossar.<ref>[https://www.panelinha.com.br/receita/Creme-de-mandioca Creme de mandioca]</ref>
*Mingau pitinga — mandioca ralada misturada com leite (de vaca ou de coco) e levada ao fogo, para engrossar.<ref>[https://www.panelinha.com.br/receita/Creme-de-mandioca Creme de mandioca]</ref>
*Mingau de tapioca — a [[tapioca]] era cozida em água até formar uma substância gomosa, onde era acrescentado [[sal]], [[açúcar]] ou [[suco]] de frutas. Os [[tucanos]] da [[Amazônia]] ingeriam este mingau pela manhã.<ref name="silva"/>
*Mingau de tapioca — a [[tapioca]] era cozida em água até formar uma substância gomosa, onde era acrescentado [[sal]], [[açúcar]] ou [[suco]] de frutas. Os [[tucanos]] da [[Amazônia]] ingeriam este mingau pela manhã.<ref name="silva"/>
*Pão de mandioca — os [[Uaimiris-atroaris|crixanás]] de [[Roraima]] faziam um [[pão]] de mandioca que era assado no moqueador e depois comido dissolvido na água.<ref name="rodrigues"/>
*Pão de mandioca — os [[Uaimiris-atroaris|crixanás]] de [[Roraima]] faziam um [[pão]] de mandioca que era assado no moqueador e depois comido dissolvido na água.<ref name="rodrigues"/>
*Pão de guerra — feito por índios de [[Itacoatiara]], no [[Amazonas]], o pão de guerra, cuja [[matéria-prima]] era a [[farinha]] de mandioca, apresentava a superfície esverdeada devido aos [[fungo]]s e [[alga]]s que nela se desenvolviam quando era armazenado.<ref name="perei"/>
*Pão de guerra — feito por índios de [[Itacoatiara]], no [[Amazonas]], o pão de guerra, cuja [[matéria-prima]] era a [[farinha]] de mandioca, apresentava a superfície esverdeada devido aos [[fungo]]s e [[alga]]s que nela se desenvolviam quando era armazenado.<ref name="perei"/>
*Paparuto — [[bolo]] salgado feito de [[macaxeira]] (mandioca-doce) e carne de caça dos [[timbiras]] do [[Maranhão]], [[Pará]] e [[Tocantins]]. Sobre o centro de [[folha]]s de [[bananeira]] brava dispostas em cruz espalha-se a [[macaxeira]] ralada. Sobre esta, pedaços de carne de caça com cerca de duzentas gramas são colocados e cobertos com [[macaxeira]] ralada. Os braços da cruz são dobrados sobre a [[massa]], formando um quadrado de um metro de lado e alguns centímetros de espessura, que é amarrado com embira. [[Pedregulho]]s bem quentes, por terem ficado sobre a [[lenha]] de uma [[fogueira]], são espalhados pelo chão e o [[pacote]] com a [[massa]] é colocado sobre eles. O [[pacote]] recebe outros [[pedregulho]]s quentes por cima e tudo é recoberto com [[folha]]s de [[bananeira]] brava e acima delas são depositadas [[folha]]s de [[palmeira]]. Por fim, tudo é recoberto com terra, assim permanecendo toda a noite. O paparuto pode ser feito com outro tipo de carne ou com peixe e a massa pode ser de [[milho]] ou [[fava]]s.<ref>REVISTA DE ATUALIDADE INDÍGENA. '''Paparuto – Bolo que alimenta uma aldeia'''. P. 33-36 In: Revista de Atualidade Indígena. Brasília, Fundação Nacional do Índio. 1977, ano I, nº 6, 64p.</ref>
*Paparuto — [[bolo]] salgado feito de [[macaxeira]] (mandioca-doce) e carne de caça dos [[timbiras]] do [[Maranhão]], [[Pará]] e [[Tocantins]]. Sobre o centro de [[folha]]s de [[bananeira]] brava dispostas em cruz espalha-se a [[macaxeira]] ralada. Sobre esta, pedaços de carne de caça com cerca de duzentas gramas são colocados e cobertos com [[macaxeira]] ralada. Os braços da cruz são dobrados sobre a [[massa]], formando um quadrado de um metro de lado e alguns centímetros de espessura, que é amarrado com embira. [[Pedregulho]]s bem quentes, por terem ficado sobre a [[lenha]] de uma [[fogueira]], são espalhados pelo chão e o [[pacote]] com a [[massa]] é colocado sobre eles. O [[pacote]] recebe outros [[pedregulho]]s quentes por cima e tudo é recoberto com [[folha]]s de [[bananeira]] brava e acima delas são depositadas [[folha]]s de [[palmeira]]. Por fim, tudo é recoberto com terra, assim permanecendo toda a noite. O paparuto pode ser feito com outro tipo de carne ou com peixe e a massa pode ser de [[milho]] ou [[fava]]s.<ref>REVISTA DE ATUALIDADE INDÍGENA. '''Paparuto – Bolo que alimenta uma aldeia'''. P. 33-36 In: Revista de Atualidade Indígena. Brasília, Fundação Nacional do Índio. 1977, ano I, nº 6, 64p.</ref>
 
*Pisaregue — pão de mandioca dos [[calapalos]] de [[Mato Grosso]].<ref name="bastos"/>
*Pisaregue — pão de mandioca dos [[calapalos]] do [[Mato Grosso]].<ref name="bastos"/>
 
*Polvilho — o líquido que escorre da [[massa]] da mandioca é deixado decantar, formando um [[pó]] fino no fundo do recipiente.<ref name="galvão"/> Quando o [[pó]] era cozido, tornava-se um alimento semelhante ao beiju.<ref name="galvão"/>
*Polvilho — o líquido que escorre da [[massa]] da mandioca é deixado decantar, formando um [[pó]] fino no fundo do recipiente.<ref name="galvão"/> Quando o [[pó]] era cozido, tornava-se um alimento semelhante ao beiju.<ref name="galvão"/>
*Tapioca — o [[polvilho]] é lavado, decantado várias vezes, em seguida é secado e passado em chapa quente, quando forma grânulo.<ref name="ribeiro"/><ref name="galvão"/>
*Tapioca — o [[polvilho]] é lavado, decantado várias vezes, em seguida é secado e passado em chapa quente, quando forma grânulo.<ref name="ribeiro"/><ref name="galvão"/>
*Tucupi — líquido que escorria da [[massa]] prensada da mandioca puba, que depois era fervido até tornar-se uma substância xaroposa e escura, sendo chamado de tucupi preto. Quando o líquido era temperado com [[sal]], [[pimenta]] e [[alho]] e exposto ao sol, era chamado tucupi simples, e, quando fervido moderadamente, de tucupi cozido. Servia de molho para todo tipo de carne.<ref name="silva"/><ref name="galvão"/><ref name="pereira"/>
*Tucupi — líquido que escorria da [[massa]] prensada da mandioca puba, que depois era fervido até tornar-se uma substância xaroposa e escura, sendo chamado de tucupi preto. Quando o líquido era temperado com [[sal]], [[pimenta]] e [[alho]] e exposto ao sol, era chamado tucupi simples, e, quando fervido moderadamente, de tucupi cozido. Servia de molho para todo tipo de carne.<ref name="silva"/><ref name="galvão"/><ref name="pereira"/>


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*[[Farinha múltipla]] ou Farinha multimistura
*[[Farinha múltipla]] ou Farinha multimistura


{{Referências|col=2}}
{{Referências|col=2}}<ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.34188/bjaerv4n1-102 |titulo=Sistema semimecanizado de produção de mandioca e rentabilidade de fabricação de farinha de bijú no município de Curvelândia – MT / Semimechanized production system of cassava and profitability biju flour manufacturing in Curvelândia-MT |data=2021 |acessodata=2021-07-23 |jornal=Brazilian Journal of Animal and Environmental Research |número=1 |ultimo=Alves |primeiro=Raimundo Nonato Brabo |ultimo2=Júnior |primeiro2=Moisés de Souza Modesto |paginas=1258–1270 |doi=10.34188/bjaerv4n1-102 |issn=2595-573X}}</ref>


== Bibliografia ==
== Bibliografia ==
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{{Wikilivros|Mandioca}}
{{Wikilivros|Mandioca}}
*[http://www.cnpmf.embrapa.br Página da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical]
*[http://www.cnpmf.embrapa.br Página da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical]
{{Portal3|Alimentos|América do Sul}}
{{Controle de autoridade}}


[[Categoria:Flora da Amazônia]]
[[Categoria:Flora da Amazônia]]

Edição atual tal como às 22h06min de 16 de julho de 2022

Nota: Este artigo é sobre a espécie Manihot esculenta. Para outras espécies, veja Manihot.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaMandioca
Folhas da planta de mandioca/macaxeira
Folhas da planta de mandioca/macaxeira
Tubérculos (raízes) da mandioca/macaxeira após a colheita
Tubérculos (raízes) da mandioca/macaxeira após a colheita
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Malpighiales
Família: Euphorbiaceae
Género: Manihot
Espécie: M. esculenta
Nome binomial
Manihot esculenta
Crantz
Sinónimos
Ver texto

Manihot esculenta, conhecida como mandioca, macaxeira, aipim, castelinha, uaipi, mandioca-doce, mandioca-mansa, maniva, maniveira, pão-de-pobre,[1] mandioca-brava e mandioca-amarga, é uma planta tuberosa da família das Euphorbiaceae.[2] Esta planta é nativa da América do Sul, no entanto está presente em muitas regiões do mundo.

O seu consumo só pode ocorrer depois de uma etapa de cozimento que reduza o conteúdo de HCN (cianeto de hidrogênio) para níveis muito baixos. Como o cianeto de hidrogénio é muito volátil, a sua redução ocorre devido à temperatura de cozimento, o que ocasiona a evaporação do composto.

É a terceira maior fonte de carboidratos nos trópicos, depois do arroz e do milho[3][4], e é um dos principais alimentos básicos no mundo em desenvolvimento, existindo na dieta básica de mais de meio bilhão de pessoas.[5] Espalhada para diversas partes do mundo, tem hoje a Nigéria como seu maior produtor.[6]

Etimologia

"Mandioca" origina-se do termo tupi mãdi'og,[7] mandi-ó ou mani-oca, que significa "casa de Mani",[8] sendo Mani a deusa benfazeja dos guaranis que se transforma em mani-oca. "Aipim" origina-se do termo tupi ai'pi.[9] "Maniva" origina-se do termo tupi mani'iwa.[10]

No Brasil, o termo mandioca ou mandioca brava é utilizado para as plantas com HCN superior a 100 mg/Kg de produto; enquanto que o termo macaxeira, mandioca mansa ou aipim, é utilizado nas plantas que possuem menos de 50 mg de HCN por kg de raiz fresca sem casca[11].

Doenças fitossatárias

As doenças estão entre as principais causas da queda de produção e produtividade da cultura da mandioca. No estado do Pará, a exemplo, as podridões radiculares são responsáveis pelas maiores perdas.[12]

Podridão Radicular – Afeta principalmente os cultivos da região norte. Estima-se que na região amazônica em áreas de várzea a perda chegue a mais de 50% e, em áreas de terra firme, 30%. Já em áreas que detêm solos com má drenagem da água da chuva observa-se que estas perdas são, na maioria dos casos, totais.[12]

A sintomatologia observada nas raízes permite distinguir em dois grupos de podridões:

a) Podridão mole: Os agentes etiológicos são espécies de Phytophthora e Pythium, atualmente classificados no reino Chromista (Stramenopila). Tais organismos fitopatogênicos infectam as plantas, causando podridão-mole, decorrente de características necróticas dos patógenos que atuam na maceração dos tecidos de reserva, levando a desintegração das raízes, que liberam um odor forte e característico. O amarelecimento e murcha da parte aérea da planta são sintomas reflexos do apodrecimento das raízes, geralmente observado a partir do 2 ou 3 meses de intensa ocorrência de chuvas.[12]

b) Podridão Seca: Especies de Fusarium, Scytalidium, Lasiodiplodia e Diplodia são os principais agentes etiológicos da podridão-seca, a qual se caracteriza pela ocorrência de áreas necróticas secas e/ou pontuações enegrecidas nos tecidos internos das raízes e também na casca.[12]

Sinônimos

Sinônimos e nomes arcaicos:[13] Predefinição:Colunas-lista

Cultivares (variedades)

A cultura da mandioca[14] apresenta ampla variabilidade genética representada pelo grande número de cultivares disponíveis no Brasil, seu local de origem. Até 2006 já haviam sido catalogadas, apenas no Brasil, mais de 4 mil delas mantidas em coleções e bancos de germoplasma de várias instituições de pesquisa. A maioria dessas cultivares é fruto do trabalho de seleção e conservação dos agricultores em suas lavouras durante anos seguidos. São as chamadas variedades crioulas.[15]

O ciclo cultural da mandioca é o período que vai do plantio à colheita. As cultivares de mandioca têm ciclos que variam de 6 a 36 meses e, com base neles, são classificadas em:

  • Precoces (ciclo de 10 a 14 meses);
  • Semiprecoces (ciclo de 14 a 16 meses);
  • Tardias (ciclo maior que 18 meses).

A mesma cultivar dificilmente se comporta de forma semelhante em todos os locais pois, por apresentar alta interação do genótipo com o ambiente, caracteriza-se por adaptação localizada, podendo o comportamento de uma mesma cultivar variar até entre lavouras de agricultores da mesma região, em decorrência de diferenças de solo ou de manejo do cultivo.

É considerada planta rústica e com ampla capacidade de adaptação, sendo cultivada em todas as regiões tropicais, adaptando-se às mais variadas condições de clima e solo. Independentemente de sua ampla variabilidade genética e de sua interação com o ambiente, os principais parâmetros ecológicos da mandioca são constituídos por temperatura, radiação solar, fotoperíodo, regime hídrico e solo.

O principal critério utilizado na seleção de cultivares para consumo humano é a existência de baixo teor de ácido cianídrico nas raízes. Características como tempo de cozimento das raízes, palatabilidade, ausência de fibras na massa cozida e resistência à deterioração após a colheita também devem ser consideradas.

As cultivares recomendadas para a alimentação animal devem apresentar alto rendimento de raízes e da parte aérea, boa retenção foliar, alto teor de proteína nas folhas e teor mínimo de ácido cianídrico, tanto nas folhas como nas raízes.

Composição nutricional

A mandioca é rica em fibras, isenta de glúten e possui 3 vezes mais calorias que a batata. Possui dois tipos de carboidrato: a amilopectina e a amilose.

Valor nutricional por 100 g de mandioca[16]

  • Calorias (Kcal)……………………160
  • Proteínas (g)……………………..1,36
  • Lipídeos (g)……………………….0,28
  • Carboidratos (g)……………….38,06
  • Fibras (g)……………………………1,8
  • Cálcio (mg)………………………….19
  • Vitamina C (mg)…………………20,6

Toxicidade

A mandioca se difere das outras plantas produtoras de amido por seu teor de linamarina (beta-glicosídeo de acetona cianidrina), que pode gerar cianeto livre (ânion CN) o qual, em água, forma ácido cianídrico, cianeto de hidrogênio ou cianureto de hidrogênio, (HCN),.[17] composto extremamente volátil, porém, altamente tóxico podendo em pequenas quantidades provocar ataxia e morte[14] Isto deve-se ao fato de que os cianetos iónicos se combinam com o ferro da hemoglobina, bloqueando a recepção do oxigênio pelo sangue, matando a pessoa exposta por sufocamento. Por esta razão é necessário o cozimento da Mandioca antes do seu consumo para que diminua o conteúdo de HCN para valores abaixo de 0,5 mg/Kg de produto [18] A dose letal de HCN para o ser humano oscila entre 50 a 60 mg/kg de peso-vivo.[17]

Em relação à quantidade de HCN/Kg na raiz fresca sem casca, as cultivares são classificadas em:

  • mansas - aipim ou macaxeira (<50 mg), não têm sabor amargo e são usadas para consumo humano. O cozimento, fritura ou assamento são processamentos suficientes para torná-las seguras;
  • moderadamente venenosas (entre 50 a 100 mg);
  • bravas ou venenosas (> 100 mg), têm sabor amargo, são usadas somente para fins industriais e, só podem ser consumidas após processadas, na forma de farinha, fécula e outros produtos.

A macaxeira (mandioca mansa, de mesa ou aipim) por apresentar baixos teores de ácido cianídrico (<50 mg/kg) pode ser consumida após pouco processamento culinário (cozer em água, ou leve cozedura seguido de fritura etc)[11].

No entanto para a mandioca (mandioca brava), por apresentar altos teores de ácido cianídrico (>50 mg/kg), é necessário cozimento por um tempo mínimo de 50 horas a uma temperatura de 100 °C.[18]. A forma mais utilizada para alcançar isto é o processamento tradicional que consiste na moagem seguida da retirada da manipuera (ou manipueira, líquido libertado que pode ser usado para a produzir goma e tucupi) e por fim, a torrefação[14]

Produção agrícola

Processamento de mandioca em Cauca, na Colômbia

Segundo a FAO, a mandioca é plantada em mais de 100 países, sendo os maiores produtores[19] a Nigéria, a Tailândia, o Brasil, a Indonésia, Angola, Gana e a República Democrática do Congo, respectivamente.[20] Segundo a FAO,[19] em 2008, foram produzidas aproximadamente 25,9 milhões de toneladas, no Brasil; 8,9 milhões, em Angola; 5 milhões, em Moçambique; 50 mil, em Timor-Leste; 48 mil, em Guiné-Bissau e 6,3 mil toneladas, em São Tomé e Príncipe.

Em 2016, a Nigéria liderava a produção de mandioca em raiz com 20%, seguida pela Tailândia (11%), Indonésia (9%) e Brasil (8%).[21]

Em 2010, o rendimento médio foi de 12,5 toneladas por hectare de cultura da mandioca em todo o mundo. As fazendas de mandioca mais produtivas em todo o mundo estavam na Índia, com uma produtividade média nacional de 34,8 toneladas por hectare em 2010.[22]

Os maiores produtores no Brasil são: Pará, Paraná, Bahia e Maranhão.[23]

A mandioca desempenha um papel vital na segurança alimentar das economias rurais dos países da África subsariana devido à sua resistência à seca, baixa fertilidade do solo e pragas.[24]

Produção mundial

País Produção em 2018
(toneladas anuais)
Nigéria 59.475.202
 Tailândia 31.678.017
República do Congo 29.952.479
Gana 20.845.960
 Brasil 17.644.733
Indonésia 16.119.020
 Vietnã 9.847.074
Predefinição:Country data Angola 8.659.552
Predefinição:Country data Moçambique 8.525.451
Camboja Camboja 7.646.022
Total mundial 277.808.759
Fonte: Food and Agriculture Organization[25]

Lendas

O folclorista Câmara Cascudo registra alguns mitos sobre a mandioca. São eles:

Entre os parecis, povo de Mato Grosso, no Brasil, a história é a seguinte: Zatiamare e sua esposa Kôkôtêrô tiveram um par de filhos — o menino Zôkôôiê e uma menina, Atiolô — desprezada pelo pai, que a ela nunca falava senão por assobios. Amargurada pelo desprezo paterno, a menina pediu à mãe que a enterrasse viva; esta resistiu ao estranho apelo mas, ao fim de certo tempo, atendeu-a: a menina foi enterrada no cerrado, onde o calor a desagradou e, depois no campo, também lugar que a incomodara. Finalmente foi enterrada na mata, onde foi do seu agrado; recomendou à mãe para que não olhasse quando desse um grito, o que ocorreu após algum tempo. A mãe acorreu ao lugar, onde encontrou um belo e alto arbusto que ficou rasteiro quando ela se aproximou; a índia Kôkôtêrô, porém, cuidou da planta que mais tarde colheu do solo, descobrindo que era a mandioca.[26]

Entre os bacairis, conta-se a lenda de um veado que salvara o bagadu (peixe da família Practocephalus) que, para recompensá-lo, deu-lhe mudas da mandioca que tinha ocultas sob o leito do rio. O veado conservou a planta para alimentação de sua família mas o herói dos bacairis, Keri, conseguiu pegar do animal a semente, que distribuiu entre as mulheres da tribo.[27]

A lenda de Mani foi registrada em 1876, por Couto de Magalhães. Em domínio público, este foi o registro do folclorista:

"Em tempos idos, apareceu grávida a filha dum chefe selvagem, que residia nas imediações do lugar em que está hoje a cidade Santarém. O chefe quis punir no autor da desonra de sua filha a ofensa que sofrera seu orgulho e, para saber quem ele era, empregou debalde rogos, ameaças e por fim castigos severos. Tanto diante dos rogos como diante dos castigos a moça permaneceu inflexível, dizendo que nunca tinha tido relação com homem algum. O chefe tinha deliberado matá-la, quando lhe apareceu em sonho um homem branco que lhe disse que não matasse a moça, porque ela efetivamente era inocente, e não tinha tido relação com homem. Passados os nove meses, ela deu à luz uma menina lindíssima e branca, causando este último fato a surpresa não só da tribo como das nações vizinhas, que vieram visitar a criança, para ver aquela nova e desconhecida raça. A criança, que teve o nome de Mani e que andava e falava precocemente, morreu ao cabo de um ano, sem ter adoecido e sem dar mostras de dor. Foi ela enterrada dentro da própria casa, descobrindo-se e regando-se diariamente a sepultura, segundo o costume do povo. Ao cabo de algum tempo, brotou da cova uma planta que, por ser inteiramente desconhecida, deixaram de arrancar. Cresceu, floresceu e deu frutos. Os pássaros que comeram os frutos se embriagaram, e este fenômeno, desconhecido dos índios, aumentou-lhes a superstição pela planta. A terra afinal fendeu-se, cavaram-na e julgaram reconhecer no fruto que encontraram o corpo de Mani. Comeram-no e assim aprenderam a usar da mandioca."[28]

Câmara Cascudo acrescenta que o nome "mandioca" advém de Mani + oca, significando "casa de Mani". É, segundo este autor, um mito tupi, recontado em obras posteriores, como Lendas dos Índios do Brasil, de Herbert Baldus (1946), e Antologia de Lendas dos Índios Brasileiros, de Alberto da Costa e Silva (1956).[29]

Utilização

Culinária do Brasil

Mandioca frita na Guiana
Pudim de mandioca em Belize
Broa de polvilho

Como encontra-se na clássica obra Casa-Grande & Senzala, ao chegarem ao Brasil, os primeiros europeus se espantaram com a fartura da farinha de mandioca, muito mais abundante e fácil de ser obtida que a farinha de trigo europeia. No Brasil Colônia, foi um dos principais alimentos utilizados pelos colonos.[30] Em forma de farinha, integrava vários pratos como bolo, beiju, sopa, angu e, às vezes, misturada apenas com água ou com feijão e carne, quando havia.[31] O amido da mandioca também pode ser processado em forma de bolinhas para formar o sagu.[32]

Os tipos de farinhas comuns na região Norte do Brasil:[33]

  • Farinha-d'água
  • Farinha de tapioca
  • Farinha do uarini
  • Farinha suruí

Culinária da Colômbia

A carimañola é um prato típico colombiano e consiste em um tipo de bolinho de mandioca em forma de torta. Mandioca Breda foi preparado por membros do povo de Saliva na província de Casanare, Colômbia, no início de 1856.[34]

Culinária das Filipinas

Nas Filipinas, o bolo de mandioca ou Kakanin é uma das sobremesas caseiras mais populares e apreciadas. É feito a partir de mandioca ralada (Kamoteng Kahoy), misturado com leite de coco, ovos e manteiga e coberto com uma mistura de leite cremoso. É também chamado de cassava bibingka.[35]

No Brasil, a raiz tuberosa da mandioca é consumida de várias formas. Há muitos tipos de farinha de mandioca, que são resultantes da ralagem, prensagem e secagem da raiz da mandioca, e a farinha de tapioca ou polvilho, que é feita com o fino amido proveniente da decantação do caldo prensado da massa de mandioca. Da mandioca fermentada é produzida a puba.

Fabricação de farinha de mandioca de modo artesanal, no interior do município de São Miguel do Tocantins, em Tocantins, no Brasil.

Dela, também são feitas bebidas como o cauim (indígena), feito através de fermentação. Por meio de um processo de destilação, também é produzida uma cachaça ou aguardente de mandioca: a tiquira.[36] Possui elevado teor alcoólico. É comum no estado do Maranhão mas é pouco conhecida no restante do Brasil.[37]

Dela, também se faz outra farinha: o polvilho (fécula de mandioca), doce ou azedo, que serve para a preparação de diversas comidas típicas brasileiras, como o pão de queijo. Apesar de frequente em países da África e da Ásia, para onde foram levadas pelos colonizadores ibéricos, o hábito de se utilizar as folhas da planta para alimentação, no Brasil, só ocorre na Região Norte.

Na África, é comum consumir-se, além da raiz, também as folhas jovens em forma de esparregado. Em Moçambique, estas são piladas (moídas no pilão), juntamente com alho e a própria farinha seca da raiz e, depois, cozinhada normalmente com um marisco (caranguejo ou camarão); esta comida se chama matapa e é uma das mais populares da culinária moçambicana. Em Angola, este esparregado é conhecido como kissaca.

Diferentes tipos de farinha de mandioca à venda em Imperatriz, no Maranhão, no Brasil

A farinha de mandioca comumente é preparada a partir da mandioca-brava. Para se extrair a manipuera, é necessário o uso do tipiti ou outro tipo de prensa. Dela, retira-se a caiarema ou carimã. No linguajar popular, polvilho.

"Manipuera" se origina dos termos tupis:

  • Mani = o nome da menina,
  • puera (guera) = tem o significado de ruim (a parte ruim da mani), o que já foi, velho.

Uso pelos nativos americanos

[38]

Mandioca - Muito utilizada como alimento pelos nativos do Brasil até o México

A mandioca tinha uma enorme importância para a alimentação dos índios e dos primeiros colonizadores do Brasil e, como se vê acima no trecho de carta do Padre José de Anchieta de 1554, foi o motivo para a fundação da cidade de São Paulo.[39]

Os cintas-largas de Mato Grosso e Rondônia obtinham a raiz de maneira peculiar: ao invés de arrancar o pé inteiro, como quase todos os outros índios faziam, suas mulheres cavavam o solo e removiam apenas as raízes grandes, deixando as menores se desenvolverem.[40]

Os tupinambás da Bahia faziam a giroba, um tipo de cauim, que também servia como alimento. A mandioca era descascada, cortada em pedaços, cozida, socada em pilão, cozida novamente com mais água e colocada em vasilhame para fermentar. A massa cozida não era mastigada como na maioria dos cauins, sendo amassada no pilão e mesmo assim ocorria o processo de fermentação. As mães alimentavam crianças pequenas com a giroba, que, segundo a crença, permitia-lhes que se desenvolvessem em adultos fortes e saudáveis.[41]

Nos estados do Maranhão, Piauí [42] e Ceará, é produzida a tiquira, bebida resultante da destilação da mandioca.

Os araras do Pará, que eram nômades não cultivavam mandioca.[43] Os omáguas do Alto Amazonas colhiam a mandioca e a enterravam deixando apodrecer parcialmente e assim a consumiam. Os camaiurás de Mato Grosso, para virar beiju, talhavam na madeira a , que apresentava a extremidade semi circular.[39]

Os caiabis de Mato Grosso assavam a mandioca com casca na brasa, descartavam a casca e deixavam-na de molho na água. No outro dia, a mandioca era amassada e comida fria.[44] Algumas tribos não conheciam o tipiti, como os paracanãs, do Pará. Faziam a farinha cortando a mandioca, cozendo-a e espremendo-a em uma esteira para remover a parte líquida. As bolas de mandioca eram secas em um jirau, desfeitas, peneiradas e torradas[45]

Da mandioca, os ameríndios obtinham uma grande variedade de derivados:

Arumbé: massa de mandioca com pimenta.[46]

Beiju: o pão de mandioca é feito em farelos e aspergido com água, resultando em uma massa grudenta que é espalhada sobre uma chapa quente, sendo continuamente virada de um lado e do outro.[47]

Os caiabis de Mato Grosso faziam o beiju deixando a mandioca brava de molho por uns dias. Depois ela era descascada e bem seca ao sol. Ela era socada no pilão, umedecida e assada de um só lado. Os Txukahamãe ou Megaron da mesma região envolviam a massa de mandioca em forma de quadrado em folha de bananeira e a colocavam entre pedras aquecidas, cobriam-na com mais folhas e terra e a deixavam assar por horas. Os xirianás de Roraima assavam não só o beiju nos largos discos de argila, como também carnes de caça.[48]

Um modo diferente de preparar o beiju era praticado pelos Haló’ T´é Sú de Mato Grosso. Removiam as cinzas e brasas do fogo e no local colocavam a farinha, que era comprimida até formar os beijus. As cinzas e brasas eram sobre eles colocadas, que ficavam assados em quinze minutos. As brasas eram removidas com uma vareta e os beijus batidos para a remoção das cinzas.[49]

Os nativos das Américas preparavam vários tipos de beijus e outros pratos derivados da mandioca:

  • Aaru — beiju de massa de mandioca com tatu moqueado e moído.[50]
  • Beiju-açu — beiju de massa de mandioca peneirada e torrada.[51]
  • Beiju-cambraia — feito com massa de tapioca, alvo, tenro e quase transparente.[48][51]
  • Beiju-carimã — beiju utilizado para se fazer caxiri na festa da puberdade das moças.[48][51]
  • Beiju-cica — de massa de mandioca fresca, cortado e torrado, com aparência de um folhado.[48][51]
  • Beiju-curua — de massa de mandioca, sal e castanha ralada, envolto em folha de bananeira e assado.[48][51]
  • Beiju-curuba — semelhante ao beiju curucaua, mas a castanha de caju ou a castanha-do-pará são adicionadas em pedaços e não raladas.[48][51]
  • Beiju-curucaua — grande e chato, feito de tapioca granulada com castanha de caju ou castanha-do-pará ralada.[48][51]
  • Beiju-enrodilhado — beiju normal, mas que é enrolado ao invés de dobrado em dois.[48][51]
  • Beiju-mambeca — um tipo de beiju mole, que não era torrado, apenas aquecido para a massa aglutinar.[48][51]
  • Beiju-marapatá — envolto em folhas de bananeira e assado sobre cinzas.[48][51]
  • Beiju-peteca — pequeno beiju comprido de massa de mandioca puba, castanha e gordura.[48][51]
  • Beiju-pixuna — usado em viagens, é grande e escuro.[48][51]
Nativa do Novo Mundo fazendo beiju
  • Beiju-poqueca — assado envolto em folha de bananeira, contendo apenas massa de mandioca e sal.[48][51]
  • Beiju-teica — de polvilho fresco de mandioca com farinha d’água.[48][51]
  • Beiju-ticã — de massa de mandioca puba seca e socada.[48][51]
  • Beiju-tinin — seco ao sol até endurecer.[48][51]
  • Beiju-tininga — muito durável e feito de polvilho de mandioca puba, que é pilada depois de torrada.[48][51]
  • Beiju-tipioca — de polvilho peneirado e torrado; outro tipo de beiju sem nome específico era feito com massa de mandioca com carne de caça previamente torrada e pilada.[48][51]
  • Beijusicica — mingau de polvilho feito pelos Crichaná de Roraima.[52]
  • Caxiri — a massa de mandioca é cozida com bastante água e a fermentação é causada pela adição de sobras de beiju velho ou pela mastigação da massa.[53]
  • Cauim de amendoim — Um tipo de mingau feito com farinha de mandioca, amendoim torrado e moído e, às vezes, farinha de milho.[44]
  • Chibé — bebida não alcoólica feita pela mistura de farinha de mandioca com água.[46][47]
  • Curada — semelhante ao beiju, porém mais rico em polvilho e mais espesso.[39]
Colheita de mandioca, mostrando raízes e maniva.
  • Farinha de mandioca — misturava-se a massa ralada da mandioca fresca com a da puba. Mandioca puba é a deixada por alguns dias de molho na água. A massa era espremida com a mão e depois com o auxílio do tipiti, para liberar a maior parte do seu líquido, que era aproveitado para se fazer o tucupi. A massa era torrada em recipiente circular de borda rasa e feita de barro.[47][48] Algumas tribos faziam a farinha apenas com a mandioca fresca.[54] Produziam mais dois tipos de farinha, a de guerra que continha apenas mandioca fresca e era muito cozida e a farinha mole feita de mandioca puba.[54] A primeira era também chamada de farinha seca e a segunda farinha d’água.[55] Tanto missionários como militares necessitados de farinha induziram os indígenas a produzir para eles, de certa forma obrigando-os a fazer cada vez roças maiores de mandioca.[39]
  • Idizinho — mingau de mandioca dos Kalapalo de Mato Grosso.[50]
  • Kanapé — Os caiabis de Mato Grosso faziam um tipo de pão redondo recheado de amendoim, por eles chamado de kanapé. Para fazê-lo, socava-se mandioca ralada no pilão, passava-a pela peneira e a cozinhava com amendoim torrado inteiro e um pouco de mandioca doce. Quando atingia o ponto certo, a massa era deixada para esfriar e com ela eram feitos pães redondos que eram assados no moqueador. Na hora de comê-los, os pães eram esquentados no borralho, ficando torrados.[44]
  • Ki-pú — líquido preparado com folhas de mandioca que eram deixadas para envelhecer por três ou quatro dias, sendo depois fervidas.[39]
  • Mandioca assada — os índios também assavam a mandioca mansa inteira para comer.[54]
  • Maniaca — caldo venenoso que sai da mandioca espremida. Depois de fervido, vira o tucupi.[50]
  • Manicuera ou manipuera — era o líquido obtido quando se espremia a mandioca ralada e deixado em repouso por alguns dias ou esquentado para eliminar substâncias tóxicas. Era muito apreciado puro ou no caxiri. Com a adição de cará, batata-doce ou frutas, fazia-se uma sopa rala.[46]
  • Mingau — os caiabis de Mato Grosso preparavam o mingau cortando a mandioca-doce em dois ou três pedaços sem descascar, ralando-a, espremendo-a e cozendo o suco por um longo período. Depois polvilho era acrescentado para engrossar. Outra maneira de o fazerem era ralando a mandioca doce e cozinhando-a em seu próprio líquido, onde era acrescentada farinha de milho ou de mandioca, além de batata-doce e cará cozidos e amassados.[44]
  • Mingau pitinga — mandioca ralada misturada com leite (de vaca ou de coco) e levada ao fogo, para engrossar.[56]
  • Mingau de tapioca — a tapioca era cozida em água até formar uma substância gomosa, onde era acrescentado sal, açúcar ou suco de frutas. Os tucanos da Amazônia ingeriam este mingau pela manhã.[46]
  • Pão de mandioca — os crixanás de Roraima faziam um pão de mandioca que era assado no moqueador e depois comido dissolvido na água.[52]
  • Pão de guerra — feito por índios de Itacoatiara, no Amazonas, o pão de guerra, cuja matéria-prima era a farinha de mandioca, apresentava a superfície esverdeada devido aos fungos e algas que nela se desenvolviam quando era armazenado.[48]
  • Paparuto — bolo salgado feito de macaxeira (mandioca-doce) e carne de caça dos timbiras do Maranhão, Pará e Tocantins. Sobre o centro de folhas de bananeira brava dispostas em cruz espalha-se a macaxeira ralada. Sobre esta, pedaços de carne de caça com cerca de duzentas gramas são colocados e cobertos com macaxeira ralada. Os braços da cruz são dobrados sobre a massa, formando um quadrado de um metro de lado e alguns centímetros de espessura, que é amarrado com embira. Pedregulhos bem quentes, por terem ficado sobre a lenha de uma fogueira, são espalhados pelo chão e o pacote com a massa é colocado sobre eles. O pacote recebe outros pedregulhos quentes por cima e tudo é recoberto com folhas de bananeira brava e acima delas são depositadas folhas de palmeira. Por fim, tudo é recoberto com terra, assim permanecendo toda a noite. O paparuto pode ser feito com outro tipo de carne ou com peixe e a massa pode ser de milho ou favas.[57]
  • Pisaregue — pão de mandioca dos calapalos de Mato Grosso.[50]
  • Polvilho — o líquido que escorre da massa da mandioca é deixado decantar, formando um fino no fundo do recipiente.[47] Quando o era cozido, tornava-se um alimento semelhante ao beiju.[47]
  • Tapioca — o polvilho é lavado, decantado várias vezes, em seguida é secado e passado em chapa quente, quando forma grânulo.[44][47]
  • Tucupi — líquido que escorria da massa prensada da mandioca puba, que depois era fervido até tornar-se uma substância xaroposa e escura, sendo chamado de tucupi preto. Quando o líquido era temperado com sal, pimenta e alho e exposto ao sol, era chamado tucupi simples, e, quando fervido moderadamente, de tucupi cozido. Servia de molho para todo tipo de carne.[46][47][51]

Ver também

Referências

  1. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 077.
  2. Missouri Botanical Garden (2014). Tropico, ed. «Mandioca» (em inglês). Consultado em 25 de julho de 2014 
  3. Food and Agriculture Organization of the United Nations (ed.). «Cassava» 
  4. Fauquet Claude, Fargette Denis (1990). «African Cassava Mosaic Virus: Etiology, Epidemiology, and Control» (PDF). Plant Disease. 74 (6): 404–11 
  5. Food and Agriculture Organization of the United Nations, ed. (1995). «Dimensions of Need: An atlas of food and agriculture» 
  6. «Variedade Híbrida de Mandioca»  por Antônio Abrantes, artigo sobre Nagib Nassar (acessado em fevereiro de 2009)
  7. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 077
  8. CALDAS TIBIRIÇÁ, L., Dicionário Guarani Português. Editora Traço, ISBN 85-7119-017-8, 174 páginas, 1989.
  9. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.71
  10. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 081
  11. 11,0 11,1 «Mandioca ou macaxeira? pesquisadora paraense explica as diferenças». Portal Amazônia (em português). Consultado em 27 de março de 2021 
  12. 12,0 12,1 12,2 12,3 Embrapa, 2014
  13. «Mandioca» (em inglês). The Plant List. 2010. Consultado em 25 de julho de 2014 
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  19. 19,0 19,1 FAO. estatística da FAO de 2008. Visitada em 18 de abril de 2010
  20. «Top Cassava Producing Countries In The World». WorldAtlas (em English) 
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  23. «Paraná comemora dia da mandioca como segundo maior produtor do país». Agronegócio | Gazeta do Povo (em português) 
  24. Dziedzoave, N.T.; Abass, A.B.; Amoa-Awua, W.K.A.; Sablah, M. Quality management manual for production of high quality cassava flour. IITA. pp. 2–. ISBN 978-978-131-282-3.
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  26. CASCUDO, Dicionário do Folclore Brasileiro, verbete mandioca: este mito foi registrado por Clemente Brandenburger, in: Lendas dos nossos índios
  27. CASCUDO, op. cit., id., este mito foi registado por Karl von den Steinen, in: Entre os Aborígenes do Brasil Central
  28. COUTO DE MAGALHÃES, José Vieira. O Selvagem, pp. 134-135 - transcrito por CASCUDO, op. cit, verbete Mani.
  29. CASCUDO, op. cit., verbete Mani
  30. Cascudo, Luís da Câmara (2004). «Capítulo 9». Civilização e Cultura 1 ed. São Paulo: Global Editora. p. 368. ISBN 85-260-0873-0 
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  51. 51,00 51,01 51,02 51,03 51,04 51,05 51,06 51,07 51,08 51,09 51,10 51,11 51,12 51,13 51,14 51,15 51,16 51,17 51,18 PEREIRA, Manuel Nunes (1892-1985). Moronguêtá: um Decameron indígena. 2ª Ed.; vol. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira. 1980, 2ª Ed.; vol. 1. P. 1-434
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[1]

Bibliografia

  • LOPES, Sônia (1999). Bio Introdução ao estudo dos seres vivos. Editora Saraiva 4 ed. [S.l.: s.n.] p. 200 

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