Reino do Algarve Reino do Algarve | ||||
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Continente | Europa | |||
Capital | Silves Lagos Tavira depois Faro | |||
Governo | Não especificado | |||
Rei de Portugal e do Algarve | ||||
• 1249 - 1279 | D. Afonso III | |||
• 1908 - 1910 | D. Manuel II | |||
História | ||||
• 1242 | Fundação | |||
• 1249 | Conquista de Silves | |||
• 1406 | Criação da comarca do Algarve: o Algarve aparece, pela primeira vez, como divisão administrativa[1]) | |||
• 16 de dezembro de 1815 | Fundação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves | |||
• 24 de agosto de 1820 | Revolução Liberal | |||
• 23 de setembro de 1822 | Aprovação da Constituição do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves | |||
• 29 de abril de 1826 | Implantação do Reino de Portugal e dos Algarves com a outorga da Carta Constitucional portuguesa de 1826 | |||
• 1836 | Criação do Distrito de Faro | |||
• 5 de outubro de 1910 | Implantação da República Portuguesa | |||
Área | ||||
• 1900[2] | 5 019 km2 | |||
População | ||||
• 1900[2] est. | 257 378 | |||
Dens. pop. | 51,3 hab./km² |
O Reino do Algarve foi um reino nominal (sem instituições próprias nem autonomia) que existiu na região do Algarve, em Portugal.[3]
História
O Algarve (do árabe "Algarbe Alandalus", Algarbe, «o Ocidente»; do "Al-Andalus"), foi considerado, durante séculos e até à proclamação da República Portuguesa em 5 de outubro de 1910, como o segundo reino da Coroa Portuguesa — um reino de direito separado de Portugal, ainda que de facto não dispusesse de instituições, foros ou privilégios próprios, nem sequer autonomia — na prática, era apenas um título honorífico sobre uma região/comarca que em nada se diferenciava do resto de Portugal.[4]
Note-se, porém, que nunca nenhum rei português foi coroado ou saudado como sendo apenas "Rei do Algarve" — no momento da sagração, era aclamado como "Rei de Portugal e do Algarve" (até 1471), e mais tarde como "Rei de Portugal e dos Algarves" (a partir de 1471).
Primeira conquista
O título de "Rei do Algarve" foi pela primeira vez utilizado por Sancho I de Portugal, quando da primeira conquista de Silves, em 1189. Silves era apenas uma cidade do Califado Almóada, posto que nesta altura todo o Al-Andalus se achava unificado sob o seu domínio. Assim, D. Sancho usou alternadamente nos seus diplomas as fórmulas "Rei de Portugal e de Silves", ou "Rei de Portugal e do Algarve"; excepcionalmente, conjugou os três títulos no de "Rei de Portugal, de Silves e do Algarve".
O único motivo que pode justificar esta nova intitulação régia prende-se com a tradição peninsular, de agregar ao título do monarca o das conquistas efectuadas (assim, por exemplo, os Reis de Leão e Castela eram também "Reis de Toledo, de Sevilha, etc.")
Com a reconquista muçulmana de Silves, em 1191, o rei cessou de usar este título.
Reconquista
O Califado Almóada viria a desagregar-se na Hispânia em 1234, dissolvendo-se em vários pequenos emirados, as taifas. O Sul de Portugal ainda em mãos muçulmanas ficou anexado à taifa de Niebla, na moderna Espanha; o seu emir, Muça ibne Maomé ibne Nácer ibne Mafuz, proclamou-se pouco tempo mais tarde "Rei do Algarve" (amir Algarbe), posto que o seu Estado compreendia, de facto, a região mais ocidental do Al-Andalus muçulmano.
Ao mesmo tempo, as conquistas portuguesas e castelhanas para o Sul prosseguiam. No reinado de D. Sancho II conquistaram-se as derradeiras praças alentejanas e ainda a maior parte do Algarve moderno, na margem direita do rio Guadiana; à data da sua deposição e posterior abdicação, restavam do Algarve muçulmano apenas pequenos enclaves em Aljezur, Faro, Loulé e Albufeira, os quais, devido à descontinuidade territorial e à distância que os separava de Niebla, se tornaram independentes do seu domínio.
Assim sendo, de facto, Sancho II de Portugal afigurar-se-ia como o segundo rei português a poder usar o título de Rei do Algarve, na esteira de seu avô — o que provavelmente só não fez devido às suas outras preocupações internas, designadamente a guerra civil que o opôs ao seu irmão, o conde de Bolonha e infante Afonso.
Com efeito, foi este que, subido ao trono em 1248, se encarregou da conquista dos derradeiros enclaves mouriscos no Algarve, assumindo em 1249 o título de "Rei de Portugal e do Algarve", que não mais deixaria de ser utilizado pelos seus sucessores até ao fim da monarquia em Portugal.
O rei de Niebla e emir do Algarve, para obstar às conquistas perpetradas pelos Portugueses nos seus territórios, fez-se vassalo de Afonso X de Castela (o qual passou por isso também a usar o título de Rei do Algarve entre as suas múltiplas conquistas), cedendo-lhe o domínio do Algarve português. Assim, muito provavelmente, a intitulação de Afonso III de Portugal serviria como reacção a esta tomada de posição pelo vizinho castelhano, destinando-se a fortalecer os direitos do monarca português sobre a região em causa (pois que, como já foi dito, à intitulação e ao estatuto de reino não correspondia nem foros nem privilégios nem autonomia própria).
A questão acabou por ser dirimida entre os soberanos de Castela e de Portugal, pelo tratado de Badajoz de 1267; o rei Afonso X desistia das suas pretensões sobre o antigo Algarbe Al-Andalus, fazendo do seu neto D. Dinis o herdeiro do trono do Algarve, o que ditava a sua incorporação a prazo na coroa portuguesa. Reservava, porém, a utilização do título por si e pelos seus descendentes, dado ter adquirido em 1262 os restos do reino de Niebla/ Algarve, situados já além do Odiana – os demais reis de Castela, e depois da Espanha, até à subida ao trono da rainha Isabel II (1833), continuaram a usá-lo entre os seus diversos títulos.
Além-mar
Em Portugal, o nome do reino algarvio (e o título régio, por consequência), sofreram algumas pequenas mudanças oficiais com as conquistas norte-africanas, cujo território era considerado o prolongamento natural do Reino do Algarve. Assim, João I de Portugal acrescentou à sua intitulação de "Rei de Portugal e do Algarve", o nome de "Senhor de Ceuta"; seu neto Afonso V, por sua vez, chamou-se sucessivamente "Senhor de Ceuta e de Alcácer-Ceguer em África" (após 1458), e em 1471, com a conquista de Arzila, Tânger e Larache, reuniu as praças norte-africanas no título de "Algarve d’além-mar em África", ficando o Algarve europeu a ser o "Algarve d’aquém-mar".
Assim, foi só em 1471 que o "Reino do Algarve" deu lugar ao "Reino dos Algarves", devido à elevação dos senhorios norte-africanos da coroa portuguesa à condição de reino. Os reis de Portugal adoptaram por conseguinte o título que viriam a usar até à queda da Monarquia: "Reis de Portugal e dos Algarves d’aquém e d’além-mar em África" — isto mesmo depois do abandono da última praça marroquina em mãos portuguesas (Mazagão, em 1769).
Conflitos oitocentistas
No Século XIX, os graves confrontos entre Liberais e Absolutistas, causaram lutas fraticidas. A invasão dos liberais Portugueses deu-se pela costa Algarvia, tendo sido Cacela o sitio escolhido. Após o fim da guerra civil e feita a convenção de Évora Monte, José Joaquim de Sousa Reis (o Remexido), capitão miguelista tentou entregar as armas à nova autoridade liberal, mas foi perseguido assim como a sua família. Revoltado depois de terem queimado a sua casa e terem assassinado seu filho de apenas 10 anos, fugiu para as serras algarvias com centenas de outros perseguidos iniciou um extraordinário movimento de guerrilha, intensificando-se nos anos entre 1834 e 1838. Em 26 de novembro de 1836, D. Miguel no exílio, nomeia Remexido como "Governador do Reino do Algarve" e "Comandante em Chefe Interino de Todas as Tropas Realistas, Regulares e Irregulares do Exército de Operações do Sul". Foi no entanto capturado e, apesar do indulto da rainha, fuzilaram-no em Faro, no dia 2 de Agosto de 1838.
Apesar de tudo o Reino do Algarve foi formalmente dissolvido em 1834 com a extinção do posto do Governador das Armas do Reino do Algarve, tendo com a criação do distrito de Faro em 1835 sido criado o cargo de governador civil do correspondente distrito.
Apesar de tudo, na titulatura régia os reis de Portugal continuaram a usar o título de Rei dos Algarves até à abolição da Monarquia em 1910. Curiosamente, hoje em dia os Reis de Espanha também mantêm o Algarve nos reinos da sua titulatura régia.
Lista de reis do Algarve
Niebla / Algarve
- 1.º Muça ibne Maomé ibne Nácer ibne Mafuz, emir de Niebla (1234–1262) e emir do Algarve (1242–1262); transferiu o domínio do seu reino para Afonso X de Leão e Castela.
Portugal
- 1.º Dom Sancho I (1189–1191)
- Dom Sancho II (de facto governa a maior parte do Algarve a partir de 1242, mas não faz uso do título)
- 2.º Dom Afonso, III de Portugal e I do Algarve "O Bolonhês" (1249–1279)
- a lista prossegue com a lista de monarcas de Portugal
Castela / Espanha
- 1.º Afonso X de Leão e Castela (1252–1284)
- a lista prossegue com os reis de Castela e depois com os reis de Espanha (até ao reinado de Isabel II de Espanha).
Lista de Governadores do Algarve
Lista em conformidade com vários documentos (Tavira e o seu Termo,[5] Corografia, ou, Memória económica, estatística e topográfica do reino do Algarve[6]). Muitos governadores serviram também como provedores da Misericórdia de Lagos,[7] pelo menos enquanto tinham o seu palácio em Lagos. Predefinição:VT
Brasões de armas municipais do Algarve
Em recordação do antigo estatuto de reino, a maior parte dos actuais brasões municipais (e, igualmente, de algumas freguesias) do Algarve têm como elementos principais a cabeça do rei mouro e do rei cristão que ornamentavam o antigo (e putativo) brasão de armas do reino do Algarve. A par da representação do açor nos brasões dos Açores e de uma estrela nos municípios da Serra da Estrela, esta é uma das poucas regiões naturais do país que faz uso de um símbolo heráldico distintivo, ao qual apenas os municípios de Faro, Lagos e Olhão escapam.
Fontes históricas
- autor desconhecido, Crónica da Conquista do Algarve, editado em 1792[9][10]
- Frei João de São José, Coreografia do Reino do Algarve (1577)[11]
- Henrique Fernandes Sarrão , História do Reino do Algarve (1607)[11]
- João Baptista da Silva Lopes, Corografia; ou, Memoria economica, estadistica, e topografica do Reino do Algarve (1842)[3]
- João Baptista da Silva Lopes, Memorias para a história ecclesiastica para o Bispado do Algarve (1848)[12]
Ver também
Referências
- ↑ História do Ordenamento de 27 a. C. até hoje[ligação inativa], Somos Portugueses
- ↑ 1900 - 1 de Dezembro (IV Recenseamento Geral da População) Instituto Nacional de Estatística
- ↑ 3,0 3,1 Silva Lopes, João Baptista da (1841). Corografia; ou, Memoria economica, estadistica, e topografica do Reino do Algarve. [S.l.]: Lisboa, Typ.da Academia [R.das Sciencias de Lisboa]
- ↑ Nos Censos do tempo da Monarquia há apenas a referência a «Portugal» (1864 e 1878) ou ao «Reino de Portugal» (1890 e 1900), sem qualquer referência à existência ou ao estatuto especial de qualquer Reino do Algarve, que surge simplesmente como mais um distrito de Portugal (distrito de Faro).
- ↑ Anica, Arnaldo Casimiro (1993). Tavira e o seu termo. Tavira: Câmara Municipal de Tavira. pp. 95–100
- ↑ Lopes, João Baptista da Silva (1841). Corografia, ou, Memória económica, estatística e topográfica do reino do Algarve (em português). [S.l.]: Na Typografia da Mesma Academia
- ↑ «Provedores - SCM Lagos». www.scmlagos.com (em português). Consultado em 24 de agosto de 2018
- ↑ Duarte, Maria Inácio (26 de abril de 2016). «Biografia de Dom Rodrigo». Maria Inácio Duarte. Consultado em 24 de agosto de 2018
- ↑ Crónica da conquista do Algarve: (texto de 1792) (em português). [S.l.]: publisher not identified. 1979
- ↑ Pinto, Óscar Caeiro (2013). «"Crónica de como D. Paio Correia, mestre de Santiago de Castela tomou este reino do Algarve aos mouros» (PDF). Arquivo Histórico de Tavira. Consultado em 29 de outubro de 2018
- ↑ 11,0 11,1 Magalhães, Joaquim Romero; Guerreiro, Manuel Viegas (1983). Duas descrições do Algarve do século XVI. Lisboa: Sá da Costa
- ↑ Silva Lopes, João Baptista da (1848). Memorias para a historia ecclesiastica do bispado do Algarve. [S.l.]: Lisboa : [Academia real das sciencias]
Ligações externas