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Papa Bento XVI

Bento XVI
Papa da Igreja Católica
265.° papa da Igreja Católica
Atividade eclesiástica
Diocese Roma
Eleição 19 de abril de 2005
Entronização 24 de abril de 2005
Fim do pontificado 28 de fevereiro de 2013
(Predefinição:Tempo decorrido)
Predecessor João Paulo II
Sucessor Francisco
Ordenação e nomeação
Ordenação diaconal 29 de outubro de 1950
Freising
por Dom Johannes Baptist Neuhäusler
Ordenação presbiteral 29 de junho de 1951
Catedral de Frisinga
por Dom Michael Cardeal von Faulhaber
Nomeação episcopal 24 de março de 1977
Ordenação episcopal 28 de maio de 1977
Catedral de Munique
por Dom Josef Stangl
Nomeado arcebispo 24 de março de 1977
Cardinalato
Criação 27 de junho de 1977
por Papa Paulo VI
Ordem Cardeal-presbítero (1977-1993)
Cardeal-bispo (1993-2005)
Título Santa Maria Consoladora em Tiburtino (1977-1993)
Velletri-Segni (1993-2005)
Óstia (2002-2005)
Brasão
Coat of arms of Joseph Ratzinger.svg
Papado
Brasão
Coat of Arms of Benedictus XVI.svg
Lema Cooperatores veritatis
(Cooperadores da Verdade)
Consistório Consistórios de Bento XVI
Dados pessoais
Nascimento Marktl, Baviera
16 de abril de 1927 (97 anos)[[Categoria:Predefinição:Categorizar-ano-século-milénio/1]]
Nacionalidade Predefinição:DEUn
Nome nascimento Joseph Aloisius Ratzinger
Progenitores Mãe: Maria Peintner (1884-1963)
Pai: Joseph Ratzinger (1877-1959)
Funções exercidas -Arcebispo de Munique e Frisinga (1977-1982)
-Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (1981-2005)
-Vice-Decano do Colégio dos Cardeais (1998-2002)
-Decano do Colégio dos Cardeais (2002-2005)
Assinatura {{{assinatura_alt}}}
dados em catholic-hierarchy.org
Categoria:Igreja Católica
Categoria:Hierarquia católica
Projeto Catolicismo
Lista de Papas

Predefinição:Família papal do Vaticano Bento XVI (em latim: Benedictus P.P. XVI), nascido Joseph Aloisius Ratzinger (Marktl am Inn, 16 de abril de 1927), é Papa Emérito e Romano Pontífice Emérito da Igreja Católica. Foi papa da Igreja Católica e bispo de Roma de 19 de abril de 2005 a 28 de fevereiro de 2013,[1][2] quando oficializou sua abdicação. Desde sua renúncia é Bispo emérito da Diocese de Roma. Foi eleito, no conclave de 2005, o 265.º Papa, com a idade de 78 anos e três dias, sendo o sucessor de João Paulo II e predecessor de Francisco.

Domina, pelo menos, seis idiomas, entre os quais alemão, italiano, francês, latim, inglês, castelhano e possui conhecimentos de português, ademais lê o grego antigo e o hebraico.[3] É membro de várias academias científicas da Europa como a francesa Académie des sciences morales et politiques e recebeu oito doutorados honoríficos de diferentes universidades, entre elas da Universidade de Navarra, é também cidadão honorário das comunidades de Pentling (1987), Marktl (1997), Traunstein (2006) e Ratisbona (2006). É pianista e tem preferências por Mozart e Bach.[4] É o sexto e talvez o sétimo papa alemão desde Vítor II (segundo a procedência de Estêvão VIII, de quem não se sabe se nasceu em Roma ou na Alemanha). Em abril de 2005 foi incluído pela revista Time como sendo uma das cem pessoas mais influentes do mundo.[5]

O último papa com este nome foi Bento XV, que esteve no cargo de 1914 a 1922 e pontificou durante a Primeira Guerra Mundial. Ratzinger foi o primeiro Decano do Colégio Cardinalício eleito Papa desde Paulo IV, em 1555, o primeiro cardeal-bispo eleito Papa desde Pio VIII, em 1829, e o primeiro superior da Congregação para a Doutrina da Fé a alcançar o Pontificado, desde Paulo V, em 1605. Bento XVI foi o primeiro papa, desde João XXIII, a voltar a usar o camauro[6] e comumente utilizou múleos.[7] Também foi o primeiro pontífice a visitar um museu judaico.[8] Renunciou em 28 de fevereiro de 2013, justificando-se em sua declaração de renúncia que as suas forças, devido à idade avançada, já não lhe permitiam exercer adequadamente o pontificado.

Biografia

Infância e juventude

Casa onde Joseph Ratzinger nasceu em 1927, Marktl am Inn no sudeste da Baviera: Mauthaus

Joseph Ratzinger nasceu no dia 16 de abril de 1927 em Marktl am Inn, uma pequena vila na Baviera, às margens do rio Inn, na Alemanha, filho de Joseph (nascido em 6 de março de 1877, † 25 de agosto de 1959), um comissário de polícia (Gendarmeriekommissar) do Reich, um oficial da polícia rural oriundo da Baixa Baviera e adepto de uma corrente bávaro-austríaca de orientação católica.[9] Seu pai, era de religiosidade profunda e um decidido adversário do regime nacional-socialista, as suas ideias políticas firmes chegaram a trazer sérios perigos para a própria família.[9] Em 1941, um dos primos de Ratzinger, um menino de catorze anos de idade com síndrome de Down, foi morto pelo regime nazi em sua campanha eugênica.[10]

A mãe de Joseph Ratzinger, Maria Peintner (1884–1963), era de origem sul-tirolesa, uma região que hoje pertence à Itália, mas que à época de seu nascimento era parte do Império Austro-Húngaro. A senhora Ratzinger era conhecida por ser boa cozinheira, trabalhou em pequenos hotéis. O casamento dos pais de Joseph Ratzinger ocorreu em 1920, tendo os filhos Maria (1921–1991) e Georg (1924–2020).[11] Joseph nasceu num Sábado de Aleluia e foi batizado no dia seguinte, domingo de Páscoa. A família não era pobre no sentido literal do termo, mas os pais tiveram de fazer muitas renúncias para que os filhos pudessem estudar.[12] Em 1928 a família mudou-se para Tittmoning, na época um lugarejo de cinco mil habitantes, às margens do rio Salzach na fronteira austríaca.[13] Em 1932 a família mudara-se novamente, agora para Aschau, de novo às margens do Inn, um povoado próspero, já que em Tittmoning Ratzinger pai havia se mostrado demasiado contrário aos nazistas.[14][15] Aqueles assumiram o poder em 30 de janeiro de 1933, quando Hindenburg nomeou Adolf Hitler chanceler, nos quatro anos em que a família Ratzinger passou em Aschau o novo regime limitou-se a espionar e a ter sob controle os sacerdotes que se lhe mostravam hostis, Ratzinger pai não só não colaborou com o regime como ajudou e protegeu os sacerdotes que sabia estarem em perigo. Já em 1931 os bispos da Baviera haviam publicado uma instrução dirigida ao clero em que manifestavam a sua oposição às ideias nazistas.[16] A oposição entre a Igreja e o Reich estendia-se ao âmbito escolar: os bispos empreenderam uma dura luta em defesa da escola confessional católica e pela observância da Concordata.[9]

Vocação

Em Aschau começam os primeiros vislumbres da vocação sacerdotal, o jovem Ratzinger se deixa tocar pelos atos litúrgicos do povoado os quais frequenta com piedade, entrementes o avanço do novo sistema político e, com ele, a oposição da Igreja. Em fevereiro de 1937 tem lugar a Kristallnacht em que as juventudes hitleristas apedrejam as vitrines das lojas dos judeus. Pouco tempo depois Predefinição:Lknb promulga a Encíclica Mit brennender Sorge, em que condena as teorias nacional-socialistas. Neste ano seu pai, então sexagenário, aposentou-se e a família mudou-se para Traunstein.[17]

Nos anos de ginásio em Traunstein aprendera o latim que ainda era ensinado com rigor, o que muito lhe valeu como teólogo, pôde ler as fontes em latim e grego e, em Roma, durante o concílio, comenta, foi-lhe possível adaptar-se com rapidez ao latim dos teólogos que lá se falava, embora nunca tivesse ouvido palestras nessa língua. A formação cultural com base na antiguidade greco-latina propiciada naquele ambiente "criava uma atitude espiritual que se opunha às seduções da ideologia totalitária."[18]

Com o Anschluss e a fronteira da Áustria aberta a família pode ir com mais frequência a Salzburgo e em peregrinação a Maria Plain, ali puderam assistir a diversas apresentações musicais: "Foi ali que Mozart entrou até o fundo da minha alma. Não é um simples divertimento: a música de Mozart encerra todo o drama do ser humano", afirma.[19] Pela Páscoa de 1939 ingressa no seminário-menor em Traunstein, por indicação do pároco, para que pudesse iniciar de forma sistemática na vida eclesiástica.

A Guerra

Com a guerra o seminário foi requisitado como hospital militar e o diretor o transferiu para uns alojamentos vazios das Damas Inglesas de Sparz. A incorporação na Juventude Hitlerista das crianças alemãs tornou-se oficialmente obrigatória a partir de 1938 até o fim do Terceiro Reich em 1945. Até 1939 nenhum seminarista havia entrado na organização, mas o regime exigiu que a partir de março a afiliação fosse obrigatória. Até outubro a direção do seminário em que estava se negou a inscrever os seus alunos, mas logo não pôde mais impedir a sua inscrição na organização. Assim sucedeu também com Joseph Ratzinger, aos 14 anos.[20] Uma testemunha relata (segundo o Frankfurter Allgemeine Zeitung) que os seminaristas eram uma "provocação para os nazis: se lhes considerava suspeitos de estar contra o regime".[21] Em um documento do Ministério da Educação se lê que a incorporação compulsória à Juventude Hitlerista "não garantia que os seminaristas realmente se haviam incorporado à comunidade nacional-socialista".[22] Quando fez catorze anos em 1941, portanto, Joseph teve de se incorporar à Juventude Hitlerista[23] e, de acordo com o seu biógrafo John Allen, não era um membro entusiasta.[24] Recebeu gratuidade escolar por pertencer a esse grupo, mesmo não participando de seus encontros, graças à amizade com um professor de matemática filiado ao partido Nacional-Socialista, que lhe deu aulas no seminário. Por causa da mobilização provocada pela guerra os irmãos Ratzinger deixaram o seminário naquele ano de 1941 e retornaram à casa paterna.

Serviço militar

Em 1943, com dezesseis anos, foi incorporado, pelo alistamento obrigatório, no Exército Alemão, numa divisão da Wehrmacht encarregada da bateria de defesa antiaérea da fábrica da BMW nos arredores de Munique. Mais tarde, esteve em Unterförhrin e Gilching, ao norte do lago Ammer. Foi dispensado em 10 de setembro de 1944 do serviço na bateria antiaérea de Gilching e poucos dias depois foi enviado a um campo de trabalho em Burgenland, na fronteira da Áustria com a Hungria e a Checoslováquia para realizar trabalhos forçados, daí sendo enviado ao quartel de infantaria em Traustein, de onde desertou pouco tempo depois.[25]

Com a rendição alemã em 8 de maio de 1945 Ratzinger ficou preso no campo de concentração de prisioneiros das forças aliadas em Bad Aibling, com mais de quarenta mil prisioneiros. Foi libertado em 19 de junho, apenas dois meses depois de ter completado os dezoito anos, chegando em casa em Traunstein na noite da sexta-feira do Sagrado Coração.[26]

Vida religiosa e acadêmica

Com o irmão, Georg Ratzinger, Joseph entrou para um seminário católico. Em 29 de junho de 1951, foram ambos ordenados sacerdotes pelo Cardeal Faulhaber, Arcebispo de Munique.

A partir de 1952 iniciou a sua atividade de professor na Escola Superior de Filosofia e Teologia de Frisinga, lecionando teologia dogmática e fundamental. Em 1953, obteve o doutoramento em teologia com a tese "Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho". Sob a orientação do professor de teologia fundamental Gottlieb Söhngen, obteve a habilitação para a docência apresentando para isto dissertação com título de "A teologia da história em São Boaventura"

Lecionou ainda em Bonn (1959–1963); em Münster (1963–1966) e em Tubinga (1966–1969) onde foi colega de Hans Küng e confirmou uma certa visão tradicionalista como oposição às tendências marxistas dos movimentos estudantis dos anos 1960. A partir de 1969, passou a ser catedrático de dogmática e história do dogma na Universidade de Ratisbona, onde chegou a ser Vice-Reitor.

No Segundo Concílio do Vaticano (1962 – 1965), Ratzinger assistiu como peritus (especialista em teologia) do Cardeal Joseph Frings de Colónia.

Fundou em 1972, junto com os teólogos Hans Urs von Balthasar (1905-1988) e Henri De Lubac (1896-1992), a revista Communio, para dar uma resposta positiva à crise teológica e cultural que despontou após o Segundo Concílio do Vaticano.[27]

Doutorados

O Cardeal Joseph Ratzinger

Ascensão a bispo e cardeal

O Palácio Holnstein, residência do Cardeal Ratzinger enquanto era Arcebispo de Munique e Frisinga
Brasão de Bento XVI quando arcebispo

Genealogia episcopal do Papa Bento XVI”

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Ratzinger foi nomeado Arcebispo de Munique e Frisinga em 25 de março de 1977, pelo Papa Paulo VI, e elevado a Cardeal no consistório de 27 de junho de 1977 com o título presbiteral de "Santa Maria Consoladora em Tiburtino".

Em 1981, foi apontado como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé pelo Papa João Paulo II, cargo que manteve até ao falecimento do seu predecessor. Foi designado cardeal-bispo da Sé Episcopal de Velletri-Segni em 1993, e tornou-se Decano do Colégio dos Cardeais em 2002, tornando-se o bispo titular de Ostia. Participou do Conclave de agosto de 1978 que elegeu o Papa João Paulo I e do conclave de outubro deste mesmo ano que resultou na eleição de João Paulo II.

Era um velho amigo de João Paulo II, compartilhava das posições ortodoxas do Papa e foi um dos mais influentes integrantes da Cúria Romana. A sua posição como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cargo que exerceu durante vinte e três anos, o colocava como um dos mais importantes defensores da ortodoxia católica. O ex-frade Leonardo Boff, brasileiro, um dos expoentes da Teologia da Libertação, teve voto de silêncio imposto por Ratzinger em 1985 devido às suas posições políticas marxistas.

No final de 2016, com a morte do cardeal Paulo Evaristo Arns, Ratzinger passou a ser o único cardeal vivo criado pelo Papa Paulo VI.

Conclaves

Eleição

Segundo o vaticanista Lucio Brunelli,[29] sem querer estabelecer uma verdade absoluta sobre o resultado final do conclave, fato que certamente esbarra no segredo imposto aos cardeais pela Constituição Apostólica Universi Dominici gregis, na primeira votação, de 18 de abril de 2005, ocorrida por volta das 18h00, Joseph Ratzinger obteve 47 votos, contra 10 votos de Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires e 9 votos para Carlo Maria Martini, arcebispo emérito de Milão. Na segunda votação no dia seguinte, ainda segundo Brunelli, Ratzinger teria tido aproximadamente 60 votos. Na terceira votação, na manhã de 19 de abril, Ratzinger obteve 72 votos, contra 40 de Jorge Mario Bergoglio. Na votação encerrada na tarde de 19 de abril, Joseph Ratzinger obteve 84 votos, contra 26 de Jorge Mario Bergoglio. Mas, Brunelli, como dito, em razão do segredo de ofício imposto aos cardeais sob pena de excomunhão, não tem nenhuma fonte fidedigna que ampare essas suas suposições.

Aos 78 anos, o Cardeal Joseph Ratzinger foi eleito papa pelo colégio de cardeais. O conclave findo em 19 de abril de 2005 foi um dos mais rápidos da história, tendo apenas quatro votações e duração de apenas 22 horas. No dia 24 de abril do mesmo ano tomou posse em cerimônia na Basílica de São Pedro em Roma.

A fumaça branca saiu da chaminé da Capela Sistina às 17h50 daquele 19 de Abril (hora do Vaticano). O nome do cardeal alemão foi anunciado cerca das 18h40 locais, da varanda da Basílica de São Pedro, onde o novo Papa surgiu minutos depois usando o solidéu branco, aclamado por milhares de pessoas que preenchiam a Praça de São Pedro, o coração do Vaticano.

O anúncio (Habemus Papam)

Annuntio vobis gaudium magnum; habemus Papam: Anuncio-vos com grande alegria; já temos um Papa:
Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum O Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor
Dominum Josephum, D. Joseph
Sanctæ Romanæ Ecclesiæ, Cardinalem Ratzinger Ratzinger, Cardeal da Santa Igreja Romana,
qui sibi nomen imposuit Benedicti Decimi Sexti. que adotou o nome de Bento XVI.

Primeira declaração

Em resposta a esse anúncio, sua primeira declaração ao público, depois de eleito Papa, segue:

"Queridos irmãos e irmãs:
Depois do grande Papa João Paulo II, os senhores cardeais elegeram a mim, um simples humilde trabalhador na vinha do Senhor. Consola-me o facto de que o Senhor sabe trabalhar e atuar com instrumentos insuficientes e, sobretudo, confio nas vossas orações. Na alegria do Senhor ressuscitado, confiados em sua ajuda permanente, sigamos adiante. O Senhor nos ajudará. Maria, sua santíssima Mãe, está do nosso lado. Obrigado."

O nome "Bento"

Primeira bênção de Natal de Bento XVI, 25 de dezembro de 2005

A escolha do nome Bento (do latim Benedictus: bendito) é uma provável homenagem ao último papa que adoptou o nome Bento, que foi o italiano Giacomo della Chiesa, entre 1914 e 1922. Conhecido como o "Papa da paz", Bento XV tentou, sem sucesso, negociar a paz durante a Primeira Guerra Mundial. O seu pontificado foi marcado por uma reforma administrativa da igreja, possuindo um caráter de abertura e de diálogo. Além disso, Bento XVI sempre foi muito ligado espiritualmente ao mosteiro beneditino de Schotten, perto de Ratisbona, na Baviera.

Alguns analistas, como dom Antônio Celso de Queirós, vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), relacionaram a adoção do nome Bento com a atuação de São Bento de Núrsia (480-547), fundador da Ordem Beneditina e padroeiro da Europa, o que o próprio papa confirmou após a publicação das explicações sobre seu brasão. Após as invasões bárbaras, os mosteiros de São Bento foram responsáveis pela manutenção da cultura latina e grega e pela evangelização da Europa. A escolha do nome deste Santo representaria, portanto, que uma das prioridades do papado de Bento XVI será a "recristianização da Europa".

Brasão e lema

Ver artigo principal: Brasão de Bento XVI

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"O escudo adoptado pelo Papa Bento XVI tem uma composição muito simples: tem a forma de cálice, que é a mais usada na heráldica eclesiástica (outra forma é a cabeça de cavalo, que foi adotada por Paulo VI). No seu interior, variando a composição em relação ao escudo cardinalício, o escudo do Papa Bento XVI tornou-se: vermelho, com ornamentos dourados. De fato, o campo principal, que é vermelho, tem dois relevos laterais nos ângulos superiores em forma de "capa", que são de ouro. A "capa" é um símbolo de religião. Ela indica um ideal inspirado na espiritualidade monástica, e mais tipicamente na beneditina." (Da explicação do brasão pela Santa Sé)[30]
Visita ao campo de Auschwitz-Birkenau, acompanhado do presidente Lech Kaczyński da Polônia

Escolheu como lema episcopal: «Colaborador da verdade»; assim o explicou ele mesmo: «Parecia-me, por um lado, encontrar nele a ligação entre a tarefa anterior de professor e a minha nova missão; o que estava em jogo, e continua a estar – embora com modalidades diferentes –, é seguir a verdade, estar ao seu serviço. E, por outro, escolhi este lema porque, no mundo actual, omite-se quase totalmente o tema da verdade, parecendo algo demasiado grande para o homem; e, todavia, tudo se desmorona se falta a verdade».[31]

Expectativas como Papa

O grande mote de Joseph Cardeal Ratzinger, nos dias que antecederam o conclave, foi a questão do secularismo e do relativismo. Acreditava-se que o papa Bento XVI seria um grande defensor dos valores absolutos, da doutrina e do dogma da Igreja. "A pequena barca com o pensamento dos cristãos sofreu, não pouco, pela agitação das ondas, arrastada de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo até a libertinagem, do coletivismo ao individualismo mais radical, do ateísmo a um vago misticismo, do agnosticismo ao sincretismo",[32] afirmou durante a missa de abertura do conclave que viria elegê-lo. Acreditava-se também, devido ao nome escolhido (São Bento é padroeiro da Europa), que Bento XVI voltar-se-ia para esse continente que, segundo ele, vem caindo no secularismo (abandono dos valores religiosos e redução de tudo ao espectro político de direita e esquerda).

Para Daniel Johnson, poder-se-ia esperar uma cruzada rigorosa contra a eugenia e a eutanásia, graças à convivência do papa com as mazelas do nazismo, mas que haveria uma abertura ao ecumenismo, principalmente em relação às igrejas ortodoxas e protestantes. Também dizia que o papa deveria entusiasmar os fiéis com suas interpretações da teologia, animando, por exemplo, os jovens com a Teologia do Corpo, que vê a sexualidade como uma emanação do amor divino.[33]

Pensamento teológico

Bento XVI numa audiência privada (20 de janeiro de 2006)

Considerando toda a sua obra literária, as suas atitudes como sacerdote e bispo ao longo da sua vida religiosa, e ainda do que se verifica dos anos passados à frente da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, Ratzinger possui um pensamento católico ortodoxo que, para muitos de seus críticos, é tido como sendo conservador. Bento XVI adotou, no seu Pontificado, propostas semelhantes às do seu predecessor relativos à moral e ao dogma católico e reafirmado no seu magistério a doutrina do Catecismo da Igreja Católica.[34]

Na década de 1990 o Cardeal Ratzinger participou da elaboração de documento sobre a concepção humana como sendo o momento da animação. A partir da união do óvulo com o espermatozoide temos uma vida humana perante Deus. Assim, é impossível que a Santa Sé mude sua posição diante das pesquisas com células estaminais (células-tronco) embrionárias ou diante do aborto. Na verdade esperava-se que o Papa reafirmasse o Magistério constante da Igreja sobre estes e outros temas da atualidade relacionados com a Moral, a Ética e a Doutrina Social da Igreja, o que de fato ocorreu.

Em 2011 Bento XVI respondendo a jornalistas fez referência aos graves problemas econômicos que a Europa atravessa, aproveitou para fazer uma defesa da ética na economia. Afirmou que o homem deve ser posto no centro das atenções econômicas: "A Europa tem a sua responsabilidade. A economia não pode ser só lucro, mas também solidariedade", disse.[35]

Durante a 'Jornada Mundial da Alimentação' de 2011, afirmou que "a libertação da submissão da fome é a primeira manifestação concreta do direito à vida", que, apesar de ter sido proclamada solenemente, "está muito longe de ser alcançada". O papa fez esta afirmação direcionada ao diplomata Jacques Diouf, diretor da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).[36]

Em janeiro de 2013 o Papa Bento XVI publicou os seus escritos conciliares, rememorando o Concílio Vaticano II. A comunicação oficial foi feita no dia 28 pelo coordenador da obra: "Como sétimo volume da opera omnia (obras completas), foi publicada agora a coleta, numa síntese de tipo cronológico e organizado, dos escritos de Joseph Ratzinger sobre os ensinamentos do Concílio, que coincide com o cinquentenário do Vaticano II", afirmou D. Gerhard Ludwig Muller, Arcebispo e Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Segundo o Arcebispo, Bento XVI teve participação significativa na génese dos textos mais variados, primeiro ao lado do arcebispo de Colónia, cardeal Joseph Frings, e mais tarde como membro autónomo de diversas comissões do Concílio.[37][38] No dia 11 de Fevereiro de 2013, Bento XVI anunciou que renunciaria ao papado no dia 28 de Fevereiro de 2013.

O Pontificado de Bento XVI

Presença nos meios de comunicação

Em diversas ocasiões o Papa tem dado entrevistas à imprensa, além dos seus pronunciamentos habituais no Vaticano, semanalmente.

  • Durante o voo rumo ao México, em 23 de março de 2012, a bordo do avião, o Papa concedeu entrevista à imprensa,[39] na ocasião denunciou o que chamou de "as falsas promessas e mentiras do narcotráfico".[40]
  • Por ocasião de sua visita ao Líbano, durante o voo em direção a Beirute, em 15 de setembro de 2012, falou a mais de 50 jornalistas, dentre outros temas, sobre o fundamentalismo religioso.[41]
  • Em 15 de outubro de 2012 no final da apresentação do filme Bells of Europe[42] apresentado aos padres sinodais, à pergunta sobre as razões da esperança que muitas vezes manifestou nutrir pela Europa, o Papa respondeu que ela se funda na fé em Cristo.[43]
  • O periódico britânico Financial Times na sua edição do dia 20 de dezembro de 2012 publicou artigo de Bento XVI por ocasião do Natal e da edição do livro sobre a infância de Jesus.[44][45]
  • Em 12 de dezembro de 2012, Papa Bento XVI, inaugurou sua conta na rede social de microblogues, o Twitter. Sua primeira mensagem a mais de 950 mil usuários foi reproduzida em sete idiomas (incluindo o português).[46][47][48] “Queridos amigos, eu estou muito feliz de entrar em contato com vocês pelo Twitter. Obrigada por sua generosa resposta. Eu vos abençoo de todo o meu coração”, diz a mensagem, postada dia 12 de dezembro de 2012.[49][50]

Principais críticas pela imprensa

Predefinição:Sidebar with collapsible lists

O ex-presidente norte-americano George W. Bush e a ex-primeira-dama Laura Bush comemoram o 81.º aniversário do Papa, em Washington D.C.

Uma crítica feita pelos meios de comunicação à escolha de Joseph Ratzinger foi que o papado continua na Europa e mais uma vez a América Latina (região do mundo com mais católicos) continuou sem ter tido nenhum Papa. Outra foi sobre a postura pouco clara em relação aos crimes sexuais contra menores nos EUA[51] e a sua firme negação do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo em todo o mundo.

Ainda quanto aos crimes sexuais, houve um importante documentário feito pela rede BBC de televisão intitulado Sexo, Crimes e Vaticano, que acusa o Papa de liderar o "acobertamento de casos de pedofilia". A reportagem do programa examinou um documento secreto interno da igreja (Crimen Sollicitationis), que instrui bispos como lidar com acusações de abusos sexuais cometidos por padres nas suas paróquias.[51]

Bento XVI, como seus predecessores, é contrário à ordenação de mulheres e defende a necessidade de moralidade sexual. Para ele, "a única forma clinicamente segura de prevenir a SIDA (AIDS) é se comportar de acordo com a lei de Deus", condenando o uso de preservativos, no que é criticado por muitas correntes sociais. No entanto, é apoiado nestas opiniões por vários movimentos da igreja, como o Caminho Neocatecumenal, a Renovação Carismática, os Focolares e a Comunhão e Libertação, por exemplo.[carece de fontes?]

Em setembro de 2006, Bento XVI provocou protestos no mundo muçulmano, devido a uma citação que fez na Universidade de Ratisbona (onde lecionou antes de ser nomeado cardeal) durante visita à Alemanha, em que fez referência à posição do imperador bizantino Manuel II Paleólogo sobre Maomé.[52]

Em agosto-setembro de 2007, em documento da Congregação para a Doutrina da Fé, reafirmou que a Igreja Católica é a "única verdadeira" e a "única que salva", o que provocou muitas críticas de igrejas protestantes.[53]

Por decreto de 21 de janeiro de 2009, o cardeal Giovanni Battista Re, Prefeito da Congregação para os Bispos, usando de faculdade concedida pelo Papa Bento XVI, removeu a censura de excomunhão latae sententiae declarada por esta Congregação no dia 1 de julho de 1988 contra quatro bispos ordenados em 1988 pelo falecido e tradicionalista arcebispo Marcel Lefebvre, com o rito da "bula de Pio X", em desacordo com as regras estabelecidas pelo Concílio Vaticano II, ordenação considerada ilegítima pela Igreja Católica.[54]

A Secretaria de Estado do Vaticano esclareceu que "os quatro bispos, apesar de terem sido liberados da pena de excomunhão, continuam sem um função canônica na Igreja e não exercem licitamente nela qualquer ministério." e que este "foi um ato com que o Santo Padre respondia benignamente às reiteradas petições do Superior Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, na esperança de que os beneficiados manifestassem sua total adesão e obediência ao magistério e disciplina da Igreja." [54]

Dentre os quatro reintegrados com o levantamento da excomunhão está o bispo Richard Williamson, religioso inglês, que dirige um seminário lefebvriano na Argentina e nega o Holocausto. O Vaticano tornou público que o bispo Williamson, para ser admitido nas funções episcopais na Igreja, terá de retratar-se de modo absoluto, inequívoco e público de sua postura sobre a Shoah, desconhecidas pelo Santo Padre no momento da remissão da excomunhão.[54][55][56]

"Ataque a Ratzinger"

Desde o começo do pontificado, as ações e as palavras do Papa Bento XVI teriam sido apresentadas de um modo distorcido que produziu incompreensões na opinião pública. [carece de fontes?]A origem desses alegados preconceitos foi tema do livro Attacco a Ratzinger, escrito por dois vaticanistas italianos, Andrea Tornielli do Il Giornale e Paolo Rodari de Il Foglio. O livro, publicado por Piemme, na Itália, provocou um debate sobre o tratamento midiático que o Papa estava recebendo.[57]

Os autores não têm a intenção de solucionar todos os questionamentos e problemas ocorridos e consideram que o tumulto provocado por vários episódios não pode ser tido como sendo apenas um problema de comunicação ou assessoria de imprensa. Os autores em síntese consideram que os ataques ao Papa decorreriam de três frentes conhecidas:

  • "Lobbies e forças" de fora da Igreja com um interesse claro de desacreditar o Papa, tanto por motivos ideológicos quanto financeiros; este grupo estaria constituído por forças laicistas, grupos feministas e gays, laboratórios farmacêuticos que vendem produtos abortivos, advogados que pedem indenizações milionárias para casos de abusos, dentre outros.
  • Os críticos liberais de dentro da Igreja, que há muito tempo caricaturizaram Ratzinger como o "Panzerkardinal"; e que insistem em fazer uma leitura própria dos textos do Concílio Vaticano II.
  • Os assessores do Papa, que, às vezes, representam os seus próprios piores inimigos em relações públicas, é o fogo amigo de assessores imprudentes ou incompetentes.[58][59][60]

Atentados e incidentes de segurança

Em 2007, um alemão conseguiu saltar sobre uma barricada na Praça de São Pedro quando o veículo do Papa estava a passar durante uma audiência geral.[61]

Durante a missa de Natal de 2009, uma mulher, identificada como Susanna Maiolo, 28 anos[62] ultrapassou as barreiras de segurança no início do corredor central da Basílica de São Pedro, em Roma e puxou o Papa que acabou por cair.[63] A mesma mulher, que sofre de distúrbios mentais teria tentando o mesmo em 2008, mas foi impedida pela segurança do papa. Ela também acabou por derrubar o Cardeal Roger Etchegaray, que quebrou o fêmur e foi levado ao hospital para realização de exames.[64]

Consistórios de Bento XVI

Ver artigo principal: Consistórios de Bento XVI

No seu primeiro consistório, em 24 de março de 2006, Bento XVI criou quinze novos cardeais dos quais doze eleitores, ou seja, purpurados com menos de oitenta anos de idade e que têm direito a voto num futuro Conclave. Chamou a mídia à atenção para o fato de, entre os cardeais nomeados, ter sido elevado ao cardinalato o arcebispo de Hong Kong, Joseph Zen Ze-Kiun, forte opositor do regime comunista chinês.

No Consistório do dia 24 de novembro de 2007, o papa Bento XVI criou 23 novos cardeais, 18 dos quais com menos de oitenta anos e cinco com mais de oitenta anos, sendo dois destes sacerdotes, não bispos. Entre os cardeais criados está o arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer.

No Consistório Ordinário Público do dia 20 de novembro de 2010, o papa Bento XVI criou 24 novos cardeais, 20 dos quais com menos de oitenta anos e quatro com mais de oitenta anos. Entre os cardeais criados está o arcebispo de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno Assis.

Já em 2012 o Papa convocou 2 consistórios. Um Consistório Ordinário Público, no qual sagrou 22 novos cardeais, visto que 18 votantes num futuro Conclave e 4 não-votantes com mais de 80 anos. Dentre os votantes, destacam-se um brasileiro: Dom João Braz de Aviz, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica e um português: Dom Manuel Monteiro de Castro, Penitenciário-Mor da Santa Sé. E num Segundo Consistório Ordinário Público em 2012, o Papa anunciou no dia 24 de outubro para que este aconteça no dia 24 de novembro de 2012 com a criação de 6 novos cardeais.

Ordenações episcopais

O Cardeal Joseph Ratzinger foi o principal sagrante dos seguintes arcebispos e bispos:

Antes do pontificado

Durante o pontificado

2007

Na Basílica de São Pedro, no dia 29 de setembro de 2007:

2009

Na Basílica de São Pedro, no dia 12 de setembro de 2009:

2011

Na Basílica de São Pedro, no dia 5 de fevereiro de 2011:

2012

Na Basílica de São Pedro, no dia 6 de janeiro de 2012:

2013

Na Basílica de São Pedro, no dia 6 de janeiro de 2013:

Viagens

Ver artigo principal: Viagens apostólicas de Bento XVI
O Papa Bento XVI em frente à imagem de Frei Galvão durante sua visita de canonização do frade no Brasil.

O Papa manteve um ritmo de viagens apostólicas surpreendente para a sua idade e, com isto, superou as expectativas do início de seu pontificado. Justamente por causa da sua idade e pelo seu estilo pessoal mais reservado e comedido quando comparado com seu antecessor João Paulo II os mass media consideravam que este seria um papa que ficaria mais restrito ao âmbito do Vaticano e da Cúria Romana o que acabou não se verificando.

Visita ao Brasil

Ver artigo principal: Visita de Bento XVI ao Brasil

A visita de Bento XVI ao Brasil começou em 9 de maio de 2007 e se encerrou no dia 13. Seu objetivo principal foi dar início à Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho que ocorreu de 13 a 31 de maio de 2007, no Santuário de Aparecida no Vale do Paraíba, estado de São Paulo. Além disso, foi também nessa ocasião que se deu a canonização de Santo António de Sant´Anna Galvão, o Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro, em cerimônia realizada no dia 11 de maio de 2007, em São Paulo.

Visita a Portugal

O Papa Bento XVI abençoa os fiéis durante a sua visita a Portugal
Ver artigo principal: Visita de Bento XVI a Portugal

Bento XVI visitou Portugal para presidir às celebrações do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, entre os dias 12 e 13 de maio de 2010. O convite foi feito pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, pelo bispo de Leiria-Fátima, Dom António Marto, e pela Conferência Episcopal Portuguesa.[65][66] O Papa chegou a Lisboa no dia 11 de maio, onde foi recebido pelo Presidente da República, e celebrou uma missa no Terreiro do Paço. No dia 12 de maio partiu para Fátima, onde presidiu às celebrações em honra de Nossa Senhora de Fátima, com a celebração da homilia pelo Papa no dia 13. Já no dia 14, o Papa partiu para o Porto, onde presidiu a uma Santa Missa na Avenida dos Aliados, terminando assim a sua visita oficial. Ao longo da visita, o Santo Padre fez vários discursos, e encontrou-se com várias personalidades portuguesas e membros da Igreja.[67][68]

Abuso sexual na Igreja Católica

Antes de 2001, a responsabilidade principal pela investigação de alegações de abuso sexual e pela disciplina dos perpetradores recaía sobre as dioceses individuais. Em 2001, Ratzinger convenceu João Paulo II — ele próprio alvo de acusações de encobrimento — a colocar a Congregação para a Doutrina da Fé a cargo de todas as investigações de abuso sexual. [69][70] Segundo John L. Allen Jr., Ratzinger nos anos seguintes "adquiriu uma familiaridade com os contornos do problema que praticamente nenhuma outra figura da Igreja Católica pode reivindicar. Impulsionado por esse encontro com aquilo a que mais tarde se referiria como "sujidade" na Igreja, Ratzinger parece ter passado por algo de "experiência de conversão" ao longo de 2003-04. A partir daí, ele e o seu pessoal pareceram impulsionados pelo zelo de um convertido em limpar a sujidade". [71]

O Cardeal Vincent Nichols — ele também visado por encobrimento de casos [72][73]— escreveu que no seu papel de chefe da CDF, Ratzinger liderou importantes mudanças feitas no direito da Igreja: a inclusão na lei canónica de crimes contra crianças na Internet, a extensão dos crimes de abuso de crianças para incluir o abuso sexual de todos os menores de 18 anos, a renúncia caso a caso ao estatuto de limitação e o estabelecimento de uma demissão acelerada do estado clerical para os infractores". [74] De acordo com o bispo Charles J. Scicluna, um antigo procurador que tratava de casos de abuso sexual, "o Cardeal Ratzinger demonstrou grande sabedoria e firmeza no tratamento desses casos, demonstrando também grande coragem ao enfrentar alguns dos casos mais difíceis e espinhosos, sem olhar a pessoas. Portanto, acusar o actual Pontífice de encobrimento é, repito, falso e calunioso." [75] Segundo o Cardeal Christoph Schönborn, Ratzinger "fez esforços absolutamente claros não para encobrir as coisas, mas para as enfrentar e investigar. Isto nem sempre foi aprovado no Vaticano".[69][76] Ratzinger tinha pressionado João Paulo II a investigar Hans Hermann Groër, um cardeal austríaco e amigo de Joao Paulo, acusado de abuso sexual, o que resultou na demissão de Groër.[77]

Documentos pontifícios

Desde a sua posse, Bento XVI fez inúmeros pronunciamentos. Entre os principais documentos que publicou no exercício das funções de Sumo Pontífice, estão as encíclicas Deus Caritas Est, Spe salvi e Caritas in Veritate.

Em 5 de julho de 2013, já depois de sua renúncia, foi publicada a encíclica Lumen Fidei, assinada pelo seu sucessor, o Papa Francisco, mas que foi praticamente escrita só por Bento XVI. Segundo a análise do texto por estudiosos deste assunto, Francisco pode ter contribuído com pelo menos duas passagens na encíclica escritas na primeira pessoa, já que Ratzinger costumava escrever na terceira pessoa, e uma referência a São Francisco de Assis, santo que inspirou o Papa Francisco na escolha do nome papal. O documento foi publicado somente com a assinatura de Francisco.[78]

Renúncia e vida pós-pontificado

Ver artigo principal: Renúncia do papa Bento XVI

O Papa Bento XVI anunciou sua renúncia em Predefinição:DataExt, e deixou o cargo em Predefinição:DataExt[79][80][81][82]

A renúncia foi confirmada oficialmente pelo padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano: "O papa anunciou que renunciará a seu ministério às 20h (hora de Roma) de 28 de fevereiro. Começará assim um período de sede vacante".[83]

Em 2012, o arcebispo italiano aposentado Luigi Betazzi, que conhecia Bento XVI havia cinquenta anos, já havia especulado abertamente sobre a possibilidade de sua renúncia: "Aqueles entre nós que têm mais de 75 anos não são autorizados a comandar nem mesmo uma diocese pequena, e os cardeais com mais de oitenta anos não podem eleger o papa. Eu entenderia se um dia o Papa dissesse ‘mesmo eu não posso mais realizar meu trabalho'. (...) Acho que se chegar o momento em que ele vir que as coisas estão mudando, terá coragem para renunciar.".[84]

Bento XVI comunicou sua renúncia em discurso pronunciado, em latim, durante um consistório convocado para anunciar três canonizações. "No mundo de hoje", disse, "sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida e para a fé, para governar a barca de Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário vigor, tanto do corpo como do espírito, vigor que, nos últimos meses, diminuiu de tal modo em mim que devo reconhecer a minha incapacidade de administrar bem o ministério a mim confiado. (...) Deverá ser convocado, por quem de direito, o Conclave para eleição do novo Sumo Pontífice".[85][86]

Íntegra da Declaração de Renúncia:

Após deixar o cargo em 28 de fevereiro, Bento XVI, acompanhado de Dom Georg e da família pontifícia, retirou-se para Castel Gandolfo e seguiu posteriormente para o Convento Mater Ecclesiae, dentro do Vaticano. Bento XVI passou a usar o título de Papa Emérito.

O último papa a renunciar foi Gregório XII, que abdicou em 1415, no contexto do Grande Cisma do Ocidente,[84] e, antes dele, houve apenas dois casos: Ponciano em 235 e Celestino V em 1294.[87]

O Papa deixou o Vaticano às 17h de Roma (3 horas antes da formalização da Renúncia) de 28 de fevereiro de 2013 e foi para a Residência de Verão de Castel Gandolfo. Depois de eleito o seu sucessor, o Papa retirou-se para um mosteiro de clausura dentro dos muros do Vaticano.[88]

Em junho de 2020, Ratzinger viajou à Baviera, sua terra natal, para visitar o irmão Georg, que morreu no início do mês seguinte aos 96 anos. Depois de seu retorno ao Vaticano, seu biógrafo Peter Seewald revelou que o papa emérito estaria "gravemente doente" e que, aos 93 anos, estaria "bastante frágil e sua voz praticamente inaudível". Depois da renúncia em 2013, foi a primeira viagem de Ratzinger a outro país.[89]

Bibliografia de e sobre Bento XVI

Ver artigo principal: Bibliografia de Bento XVI

As publicações de Ratzinger alcançam os 600 títulos. Muitos são estudos de circulação restrita aos meios eclesiásticos. Várias de suas obras atingiram recordes de venda após a sua eleição como papa.[90][91]

Homenagens

Em 27 de outubro de 2014, foi inaugurado um busto de bronze do Papa Bento XVI na Pontifícia Academia das Ciências de Roma. A solenidade foi presidida pelo Papa Francisco.[92]

Ver também

Referências

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  10. Allen, John (14 de outubro de 2005). «Anti-Nazi Prelate Beatified». The Word from Rome. National Catholic Reporter. Consultado em 15 de abril de 2008 
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  12. O Sal da Terra, pg. 37.
  13. Ratzinger, Joseph. Lembranças da minha vida: autobiografia parcial, pg. 7 e sgts.
  14. Blanco, Pablo. Joseph Ratzinger - uma biografia, pg. 26.
  15. Ratzinger, Joseph. Lembranças da minha vida: autobiografia parcial, pgs. 15 e 16.
  16. Blanco, Pablo. Joseph Ratzinger - uma biografia, pg. 26, 27.
  17. O Sal da Terra, págs.36-37 e 41-42.
  18. Ratzinger, Joseph. Lembranças da minha vida: autobiografia parcial, pg. 25.
  19. O Sal da Terra, pg. 40
  20. Dados tomados do artigo "Zwangs-Hitlerjunge und Flakhelfer" na edição eletrônica de Handelblatt de 5 de setembro de 2006, que se pode consultar aqui Arquivado em 30 de setembro de 2007, no Wayback Machine.. Sobre a incorporação à Juventude Hitlerista se encontram informações interessantes em entrevista ao historiador Hans-Ulrich Wehler na Spiegel
  21. Veja-se artigo "Die Kruzifixe durften bleiben" no Frankfurter Allgemeine Zeitung de 3 de maio de 2005.
  22. A citação se encontra no artigo mencionado do Handelsblatt.
  23. The Third Reich in Power, Richard J Evans, 2005, pg 272
  24. «The New York Times = New Pope Defied Nazis As Teen During WWII». Consultado em 15 de novembro de 2008. Arquivado do original em 6 de fevereiro de 2008 
  25. Blanco, Pablo. Joseph Ratzinger - uma biografia, pgs.34.
  26. Blanco, Pablo. Joseph Ratzinger - uma biografia, pgs.35.
  27. Atualmente a revista Communio, que ainda conta com a colaboração de Bento XVI, é publicada nos seguintes países: Alemanha, Itália, França, Estados Unidos, Bélgica, Países Baixos, Polônia, Espanha, Brasil, República Tcheca, Portugal, Hungria, Argentina, Croácia e Eslovênia.
  28. [https://web.archive.org/web/20110606114435/http://mysite.verizon.net/res7gdmc/aposccs/id1.html Arquivado em 6 de junho de 2011, no Wayback Machine. Linhagem Episcopal (em inglês]
  29. Brunelli, Lucio, "Cosi eleggemmo Papa Ratzinger", Limes - Revista Italiana di Geopolítica nº4, 2005, p294.
  30. Da explicação do brasão pela Santa Sé
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  32. «Ratzinger denuncia "ditadura do relativismo" no início do conclave». Consultado em 24 de abril de 2005. Arquivado do original em 9 de maio de 2005 
  33. «Cópia arquivada». Consultado em 2 de fevereiro de 2010. Arquivado do original em 29 de junho de 2006 
  34. Vaticano apresenta novo livro de catecismo para jovens G1.globo.com. Vis.19.out.2011
  35. Bento XVI defende que o homem seja centro da economia Jornal Nacional, ed. 18.8.2011 - Visitado em 29.8.2011
  36. Bento XVI diz que acabar com a fome é direito à vida G1.Globo.com. Vis. 19.10.2011
  37. Publicados escritos de Bento XVI sobre o Concílio Vaticano II Canção Nova. Vis. 23.jan.2013
  38. Reflexões sobre os escritos conciliares de Joseph Ratzinger por Arcebispo D. Gerhard Ludwig Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Sitio oficial da Santa Sé - Vis. 23.jan.2013
  39. Papa Bento XVI chega ao México G1 - Vis. 22.jan.2013.
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  41. O fundamentalismo é sempre uma falsificação da religião[ligação inativa] Zenit - Vis. 22.jan.2013.
  42. Bipos foram ao cinema News.Va - Vis. 22.jan.2013.
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  44. Artigo do Papa Bento XVI para o jornal inglês "Financial Times" Sítio da Santa Sé. Vis. 22.jan.2013.
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  92. Sessão Plenária da Pontifícia Academia de Ciências e inauguração de um busto de bronze em homenagem ao Papa Bento XVI (27 de outubro de 2014)

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1998 — 2002
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