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Prémio Camões: mudanças entre as edições

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Edição das 21h38min de 25 de novembro de 2021

Disambig grey.svg Nota: Para outros significados, veja Camões (desambiguação).

Predefinição:Info/Prémios O Prémio Camões (português europeu) ou Prêmio Camões (português brasileiro) é um prémio literário instituído pelos Governos de Portugal e do Brasil em 1988. Atribuído anualmente desde 1989, é o maior galardão outorgado no âmbito da Literatura em Língua Portuguesa. É atribuído aos autores, pelo conjunto da obra, que contribuíram para o enriquecimento do património literário e cultural da Língua Portuguesa. O nome do prémio é igualmente uma homenagem a Luís Vaz de Camões, o maior escritor da História da Língua Portuguesa. O valor monetário do prémio é presentemente de 100.000€, um dos mais elevados a nível mundial entre os prémios literários.Predefinição:Ref infopedia

O Instituto Camões, em Lisboa, é responsável pelo registo de candidaturas e organização do processo. O prémio é anualmente atribuído por um júri internacional, constituído por personalidades de diversos países lusófonos. O diploma entregue aos laureados contém o nome de todos os países lusófonos e é assinado pelos Chefes de Estado de Portugal e do Brasil.

Entre os 34 laureados encontram-se autores de 5 países lusófonos. A presente detentora do prémio é Paulina Chiziane, escritora moçambicana.

História

Instituição

Luís Vaz de Camões

Este prémio é considerado o mais importante da Literatura a premiar um autor de Língua Portuguesa pelo conjunto da sua obra.

O Prémio Camões é atribuído anualmente por um júri especialmente constituído para o efeito. O prémio consiste numa quantia pecuniária resultante das contribuições dos dois Estados, fixada anualmente de comum acordo. Presentemente o valor monetário do prémio é de 100.000€.

O Prémio Camões foi instituído inicialmente pelo Protocolo Adicional ao Acordo Cultural entre o Governo da República Portuguesa e o Governo da República Federativa do Brasil, de 7 de Setembro de 1966, que cria o Prémio Camões, assinado em Brasília, em 22 de Junho de 1988, aprovado por Portugal através do Decreto n.º 43/88, de 30 de Novembro.[1]

Este protocolo foi substituído pelo Protocolo Modificativo do Protocolo Que Institui o Prémio Camões, celebrado entre a República Portuguesa e a República Federativa do Brasil, assinado em Lisboa, em 17 de abril de 1999, aprovado por Portugal, através do Decreto n.º 47/99, de 5 de Novembro.[2]

O prémio não pode ser atribuído a mais do que uma personalidade em cada ano.

Júri

O júri é constituído por 6 membros, cujo mandato é de 2 anos. Os Governos de Portugal e do Brasil designam 2 membros cada, sendo os restantes 2 membros designados de comum acordo de entre personalidades dos restantes países lusófonos.

País Júri
Portugal Portugal 2 membros
Brasil Brasil 2 membros
Angola Angola
Cabo Verde Cabo Verde
Guiné-Bissau Guiné-Bissau
Moçambique Moçambique
São Tomé e Príncipe São Tomé e Príncipe
Timor-Leste Timor-Leste		 2 membros

Laureados

Ano Retrato Laureado Vida País Obra Ref
1989 Miguel Torga escritor.png Miguel Torga 1907–1995 Portugal Portugal poesia, conto, romance, teatro, novela, memórias, ensaio [3]
1990 Arquivo:JoaoCabral.JPG João Cabral de Melo Neto 1920–1999 Brasil Brasil poesia, ensaio [4]
1991 José Craveirinha 1922–2003 Predefinição:Country data Moçambique poesia [5]
1992 Vergílio Ferreira 1916–1996 Portugal Portugal romance, conto, memórias, ensaio [5]
1993 Rachel de Queiroz - Não me deixes.png Rachel de Queiroz 1910–2003  Brasil romance, crónica, tradução, teatro, memórias [5]
1994 Jorge Amado, 1935.jpg Jorge Amado 1912–2001  Brasil romance, crónica, novela, poesia, biografia, memórias [5]
1995 Saramago, José (1922)-2.jpg José Saramago 1922–2010 Portugal Portugal romance, crónica, conto, novela, poesia, memórias [5]
1996 Eduardo Lourenço 08-07-2015 IMG 6492.JPG Eduardo Lourenço 1923–2020 Portugal Portugal ensaio, filosofia, crítica literária, estudos literários [5]
1997 Arthur Pestana (Pepetela).jpg Pepetela
Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos 		1941 (83 anos) Predefinição:Country data Angola romance, teatro [5]
1998 AntonioCandido (cropped).jpg Antonio Candido 1918–2017  Brasil crítica literária, estudos literários, ensaio, sociologia [5]
1999 Sophia Mello Breyner Andersen.png Sophia de Mello Breyner Andresen 1919–2004 Portugal Portugal poesia, conto, teatro, tradução, ensaio [5]
2000 Autran Dourado 1926–2012  Brasil romance, conto, ensaio, memórias [5]
2001 Eugénio de Andrade.jpg Eugénio de Andrade 1923–2005 Portugal Portugal poesia, tradução, crónica [5]
2002 Maria Velho da Costa.JPG Maria Velho da Costa 1938–2020 Portugal Portugal romance, conto, teatro, ensaio [5]
2003 Rubem Fonseca 1925–2020  Brasil romance, conto, crónica, novela [5]
2004 Agustina Bessa-Luís 1922–2019 Portugal Portugal romance, novela, conto, crónica, teatro, ensaio, biografia, memórias [5]
2005 Lygia Fagundes Telles - MinC (7) cropped.jpg Lygia Fagundes Telles 1923 (101 anos)  Brasil romance, conto [5]
2006 José Luandino Vieira
(recusou) 		1935 (89 anos) Portugal Portugal
Predefinição:Country data Angola 		romance, conto, novela [6]
2007 Antonio Lobo Antunes 20100329 Salon du livre de Paris 2.jpg António Lobo Antunes 1942 (82 anos) Portugal Portugal romance, crónica [5]
2008 Joao Ubaldo Ribeiro.jpg João Ubaldo Ribeiro 1941–2014  Brasil romance, conto, crónica, novela, ensaio [5]
2009 Conde.jpg Arménio Vieira 1941 (83 anos) Cabo Verde Cabo Verde poesia, ensaio [5]
2010 Ferreira Gullar crop.png Ferreira Gullar 1930–2016  Brasil poesia, conto, crónica, ensaio, crítica de arte, biografia [5]
2011 Manuel António Pina 1943–2012 Portugal Portugal poesia [7]
2012 Dalton Trevisan 1925 (99 anos)  Brasil conto, romance, novela [8]
2013 Mia Couto cropped.jpg Mia Couto 1955 (69 anos) Predefinição:Country data Moçambique romance, novela, conto, poesia [9]
2014 Alberto-da-costa-e-silva.jpg Alberto da Costa e Silva 1931 (93 anos)  Brasil história, poesia, memórias, ensaio, biografia [10]
2015 Hélia Correia 1949 (75 anos) Portugal Portugal romance, poesia, teatro, conto [11]
2016 RaduanNassar.jpg Raduan Nassar 1935 (89 anos)  Brasil romance, novela, conto [12]
2017 Manuel Alegre.png Manuel Alegre 1936 (88 anos) Portugal Portugal poesia, romance, novela, conto [13]
2018 Germano Almeida.jpg Germano Almeida 1945 (80 anos) Cabo Verde Cabo Verde romance, conto, crónica [14]
2019 Chico Buarque no BRAVO.jpg Chico Buarque 1944 (80 anos)  Brasil romance, poesia, música, teatro [15]
2020 Vítor Manuel de Aguiar e Silva 1939 (85 anos) Portugal Portugal ensaio, estudos literários [16]
2021 Paulina Chiziane by Otávio de Souza.jpg Paulina Chiziane 1955 (69 anos) Predefinição:Country data Moçambique romance [17]

Palmarés por país

País Laureados 1.ª Outorga
Portugal Portugal 14 1989
Brasil Brasil 13 1990
Moçambique Moçambique 3 1991
Angola Angola 2 1997
Cabo Verde Cabo Verde 2 2009

Reconhecimento e crítica

Em um artigo publicado em 2000, Jorge Henrique Bastos assinalou que, embora o prémio tenha sido concedido a "vários autores incontornáveis" da literatura lusófona, a predominância de vencedores portugueses e brasileiros contrastava com a baixa quantidade de escritores africanos. Referindo-se à produção literária dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, o autor assinalou que a diferença poderia ser explicada "pelo facto destas literatura (sic) serem ainda jovens, e muitas das obras estão ainda em curso para se inserir nos pressupostos que norteiam a atribuição do prémio"[18]. Até então, apenas dois autores africanos haviam sido premiados. Atualmente são seis em 32.

A escolha da escritora brasileira Rachel de Queiroz, em 1993, gerou polémica. Segundo uma reportagem assinada por Norma Couri veiculada no Jornal do Brasil, os membros portugueses do júri ficaram desconfortáveis com o fato de que os representantes brasileiros - Arnaldo Niskier, Oscar Dias Correia e João de Scantimburgo - chegaram a Lisboa com o nome da escritora previamente escolhido. Os portugueses procuraram sugerir outras opções, como Jorge Amado e Haroldo de Campos, porém, não obtiveram sucesso em mudar a opinião dos votantes brasileiros. Ainda segundo a reportagem, Niskier, Correia e Scantimburgo teriam defendido o prémio para Queiroz após a autora ter apoiado o ingresso dos mesmos na Academia Brasileira de Letras[19].

O suposto 'acerto' entre os membros brasileiros do júri e Queiroz repercutiu negativamente na imprensa e na intelectualidade portuguesas. O escritor José Cardoso Pires foi bastante duro com a escolha da romancista brasileira, afirmando que "a sua obra não avaliza a exigência que caracteriza o prémio". Queiroz classificou as acusações como caluniosas, enquanto Jorge Amado e Arnaldo Niskier saíram em defesa da escritora[19]. Amado foi agraciado com o Camões no ano seguinte. Tanto Cardoso Pires, quanto Haroldo de Campos faleceram sem receber a distinção.

Segundo o Jornal do Brasil, em 1998 alguns especialistas em literatura portuguesa acreditavam que o premiado seria José Cardoso Pires, que se encontrava em coma após sofrer um derrame. O premiado, contudo, foi o professor, crítico literário e teórico brasileiro Antonio Candido. Segundo o periódico, a decisão dos jurados não foi unânime, porém, estes evitaram qualquer tipo de comentário a respeito de outros prováveis homenageados[20]. Pires faleceu em outubro daquele mesmo ano.

Premiado em 2006, o escritor José Luandino Vieira recusou o prémio alegando "razões pessoais e íntimas". Mais tarde, Luandino revelou que o facto de não editar qualquer livro há longos anos "pesou muito" na decisão de recusar o prémio. «Teria sido uma grande injustiça para os escritores que estavam a editar regularmente», disse então.[21][22]

Por ocasião da escolha de Arménio Vieira, em 2009, o Ministro da Cultura de Cabo Verde e linguista Manuel Veiga fez o seguinte comentário:«"já era mais que tempo", lamentando, porém, que Manuel Lopes, um dos maiores autores cabo-verdiano, já falecido, nunca tenha sido galardoado com um prémio "mais que merecido". "Mas é uma homenagem a toda a literatura de Cabo Verde. Desde os claridosos até aos jovens autores. Cabo Verde já merecia e Arménio Vieira também", referiu, lembrando que o prémio "conforta" todas os escritores e poetas do Arquipélago.»[23]

Em 2010, o júri escolheu o poeta brasileiro Ferreira Gullar, porém, tornou público que o nome da escritora portuguesa Hélia Correia também fora cogitado. A idade dos concorrentes serviu como critério de desempate: Gullar completaria 80 anos naquele ano, enquanto os votantes consideraram que Correia ainda "teria tempo" para ser premiada [24]. O reconhecimento da autora ocorreu em 2015.

Na cerimónia de entrega do prémio de 2017, o escritor Raduan Nassar criticou duramente o governo do então presidente do Brasil, Michel Temer. O autor também fez críticas ao Supremo Tribunal Federal e ao processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O então ministro da Cultura, Roberto Freire, reagiu atacando a fala de Nassar, de modo que recebeu vaias dos convidados presente.[25]

Em 2019, o artista brasileiro Chico Buarque foi o vencedor do Prémio Camões. Numa atitude muito criticada, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, sugeriu que não iria assinar o diploma de entrega do prémio. "A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo Prémio Camões”, reagiu Chico Buarque à notícia, segundo a coluna de Ancelmo Gois no jornal O Globo.[26]

Apesar das críticas, o Prémio Camões foi saudado por intelectuais como Antônio Carlos Secchin por conferir reconhecimento a autores de renome que transitam por diferentes gêneros e estilos, além de proporcionar uma maior circularidade das obras dos mesmos entre os países lusófonos.[27]

Referências

  1. ↑ «Decreto n.º 43/88» (PDF). Diário da República (277). 30 de novembro de 1988 
  2. ↑ «Decreto n.º 47/99» (PDF). Diário da República (258). 5 de novembro de 1999 
  3. ↑ «É entregue a Miguel Torga o Prémio Camões». Fundação Mário Soares. Consultado em 22 de abril de 2016 
  4. ↑ «João Cabral de Melo Neto, poeta marginal». Antena 1. Rádio e Televisão de Portugal. Consultado em 22 de abril de 2016 
  5. ↑ 5,00 5,01 5,02 5,03 5,04 5,05 5,06 5,07 5,08 5,09 5,10 5,11 5,12 5,13 5,14 5,15 5,16 5,17 5,18 «Prémio Camões. A lista dos vencedores». i. 17 de junho de 2015 
  6. ↑ Lucas, Isabel (25 de maio de 2006). «Luandino Vieira recusa Camões por "razões pessoais"». Diário de Notícias 
  7. ↑ «Prémio Camões para Manuel António Pina». Jornal de Notícias. 12 de maio de 2011 
  8. ↑ Alexandra Lucas Coelho e Isabel Coutinho (21 de maio de 2012). «Dalton Trevisan distinguido com o Prémio Camões». Público 
  9. ↑ «Mia Couto "surpreendido" venceu o Prémio Camões». Jornal de Notícias. 27 de maio de 2013 
  10. ↑ «Alberto da Costa e Silva vence Prémio Camões 2014». Rádio Renascença. 30 de maio de 2014 
  11. ↑ Coelho, Sara Otto (17 de junho de 2015). «Hélia Correia vence Prémio Camões 2015». Observador 
  12. ↑ Ana Cristina Marques (30 de maio de 2016). «Raduan Nassar vence Prémio Camões de 2016». Observador 
  13. ↑ Luís Miguel Queirós (7 de junho de 2017). «Manuel Alegre é o vencedor do Prémio Camões». Público 
  14. ↑ Cipriano, Rita (21 de maio de 2018). «Cabo-verdiano Germano Almeida vence Prémio Camões 2018». Observador 
  15. ↑ Castelo, Ricardo (21 de maio de 2019). «Chico Buarque é o Vencedor do Prémio Camões 2019». Observador 
  16. ↑ Castelo (27 de outubro de 2020). «Vítor Aguiar e Silva, o Prémio Camões que não adota o novo acordo». Observador 
  17. ↑ observador.pt. «Prémio Camões atribuído a Paulina Chiziane, "a primeira romancista de Moçambique"». 20-10-2021. Consultado em 20 de outubro de 2021 
  18. ↑ BASTOS, Jorge Henrique. Prémio Camões. As vias e as vidas de um prémio. Revista Camões n.º 11, 2000
  19. ↑ 19,0 19,1 COURI, Norma. «Prêmio Camões gera polêmica» in Jornal do Brasil. Rio de Janeiro: 7 de julho de 1993, caderno B, p. 7.
  20. ↑ ANONIMO. Consagração de Antonio Candido. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 16 de julho de 1998, p. 24.
  21. ↑ RTP Notícias, em 3 de março de 2007.
  22. ↑ Sapo Notícias, em 1 de outubro de 2009.
  23. ↑ «Prémio Camões atribuído ao poeta Arménio Vieira». Expresso. 6 de junho de 2009 
  24. ↑ «Prémio Camões distingue Ferreira Gullar para quem a poesia é uma aventura». Público. 1 de junho de 2010 
  25. ↑ «Raduan Nassar critica governo ao ganhar prêmio; ministro da Cultura rebate». G1 (em português). G1. 17 de fevereiro de 2017. Consultado em 5 de janeiro de 2021 
  26. ↑ Jornal O Público, em 9 de outubro de 2019. A coluna de Ancelmo Gois só está disponível para assinantes.
  27. ↑ SECCHIN, Antonio Carlos. «Os prêmios e o reconhecimento do escritor», in Jornal do Brasil de 16 de março de 2005, caderno B, p. 2.

Ligações externas

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