Mia Couto | |
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Nome completo | António Emílio Leite Couto |
Pseudónimo(s) | Mia Couto |
Nascimento | 5 de julho de 1955 (69 anos)[[Categoria:Predefinição:Categorizar-ano-século-milénio/1]] Beira, Moçambique Português (agora República de Moçambique) |
Nacionalidade | moçambicana |
Prémios | Prémio Nacional de Jornalismo Areosa Pena (1989) Grande Prémio da Ficção Narrativa (1990) |
Género literário | realismo animista, ficção histórica |
Magnum opus | Terra Sonâmbula |
Mia Couto, pseudónimo de António Emílio Leite Couto ComSE (Beira, 5 de julho de 1955), é um escritor e biólogo moçambicano.[2]
Dentre os muitos prémios literários com os quais foi galardoado está o Prémio Neustadt, tido como o Nobel Americano. Couto e João Cabral de Melo Neto são os únicos escritores de língua portuguesa que receberam esta honraria.[3]
Biografia
Mia Couto nasceu e estudou na Beira, cidade capital da província de Sofala, em Moçambique. Adotou o pseudónimo de Mia Couto porque tinha uma paixão por gatos. Com 14 anos de idade, teve alguns poemas publicados no jornal "Notícias da Beira" e três anos depois, em 1971, mudou-se para a cidade capital de Lourenço Marques, Moçambique (agora Maputo). Iniciou os estudos universitários em medicina, mas abandonou esta área no princípio do terceiro ano, passando a exercer a profissão de jornalista depois do 25 de Abril de 1974. Trabalhou na Tribuna até à destruição das suas instalações em Setembro de 1975, por colonos que se opunham à independência. Foi nomeado diretor da Agência de Informação de Moçambique (AIM) e formou ligações de correspondentes entre as províncias moçambicanas durante o tempo da guerra de libertação. A seguir trabalhou como diretor da revista Tempo até 1981 e continuou a carreira no jornal Notícias até 1985. Em 1983, publicou o seu primeiro livro de poesia, Raiz de Orvalho, que, segundo algumas interpretações, inclui poemas contra a propaganda marxista militante.[4] Dois anos depois, demitiu-se da posição de diretor para continuar os estudos universitários na área de biologia.
Além de considerado um dos escritores mais importantes de Moçambique, é o escritor moçambicano mais traduzido. Em muitas das suas obras, Mia Couto tenta recriar a língua portuguesa com uma influência moçambicana, utilizando o léxico de várias regiões do país e produzindo um novo modelo de narrativa africana. Terra Sonâmbula, o seu primeiro romance, publicado em 1992, ganhou o Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos em 1995 e foi considerado um dos dez melhores livros africanos do século XX por um júri criado pela Feira do Livro do Zimbabué. A 25 de Novembro de 1998 foi feito Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.[5] Em 2007, foi entrevistado pela revista Isto É.[6] Foi fundador de uma empresa de estudos ambientais da qual é colaborador.[7]
Em 2013, foi homenageado com o Prémio Camões, que lhe foi entregue a 10 de Junho no Palácio de Queluz pelas mãos dos então presidentes de Portugal, Cavaco Silva, e do Brasil, Dilma Rousseff.[8]
Biólogo
Como biólogo, dirige as Avaliações de Impacto Ambiental, IMPACTO Lda., empresa que faz estudos de impacto ambiental, em Moçambique. Mia Couto tem realizado pesquisas em diversas áreas, concentrando-se na gestão de zonas costeiras. Além disso, é professor da cadeira de ecologia em diversos cursos da Universidade Eduardo Mondlane (UEM).[2][9]
Obras
Mia Couto tem uma obra literária extensa e diversificada, incluindo poesia, contos, romance e crónicas, e é considerado como um dos escritores mais importantes de Moçambique. As suas obras são publicados em mais de 22 países e traduzidas em alemão, francês, castelhano, catalão, inglês e italiano.
Em muitas obras suas, Couto dá um contributo significativo de recriar a língua portuguesa, incorporando vocabulário e estruturas específicas de Moçambique, portanto produzindo um novo modelo para a narrativa africana. Estilisticamente, a sua escrita é influenciada do realismo mágico, um movimento popular nas literaturas latino-americanas modernas. Contudo, por sua literatura ser africana, o termo "mágico" não aplica, sendo classificada como Realismo Animista. O seu uso de linguagem faz lembrar o escritor brasileiro João Guimarães Rosa, mas também é influenciado pelo escritor Jorge Amado. É conhecido por criar provérbios, às vezes conhecidas como "improvérbios", nas suas obras de ficção, assim como enigmas, lendas, e metáforas, dando uma dimensão poética sobretudo.[10]
Mia Couto escreve tanto para adultos como para crianças.
Poesia
Estreou-se no prelo com um livro de poesia, Raiz de Orvalho, publicado em 1983. Este livro revela o mesmo comportamento literário de estreita relação com a tradição e memória cultural africanas que evidenciam a orientação regionalista, marcante em toda a sua criação literária. A poesia “Sotaque da terra” aborda sentimentos impostos por condições históricas diretamente ligados à realidade do povo africano: a língua, a terra e a tradição.[11]
No entanto, antes tinha sido antologiado por outro dos grandes poetas moçambicanos, Orlando Mendes (outro biólogo), em 1980, numa edição do Instituto Nacional do Livro e do Disco, resultante duma palestra na Organização Nacional dos Jornalistas (actual Sindicato), intitulada "Sobre Literatura Moçambicana".
Em 1999, a Editorial Caminho (que publica as obras de Mia Couto em Portugal) relançou Raiz de Orvalho e outros poemas que teve sua 3ª edição em 2001.
A mesma editora dá ao prelo em 2011 o seu segundo livro de poesia, "Tradutor de Chuvas".
Contos
Nos meados dos anos 80, Mia Couto estreou-se nos contos e numa nova maneira de falar - ou "falinventar" - português, que continua a ser o seu "ex-libris". Nesta categoria de contos publicou:
- Vozes Anoitecidas (1ª ed. da Associação dos Escritores Moçambicanos, em 1986; 1ª ed. Caminho, em 1987; 8ª ed. em 2006; Grande Prémio da Ficção Narrativa em 1990, ex aequo)
- Cada Homem é uma Raça (1ª ed. da Caminho em 1990; 9ª ed., 2005)
- Estórias Abensonhadas (1ª ed. da Caminho, em 1994; 7ª ed. em 2003)
- Contos do Nascer da Terra (1ª ed. da Caminho, em 1997; 5ª ed. em 2002)
- Na Berma de Nenhuma Estrada (1ª ed. da Caminho em 2001; 3ª ed. em 2003)
- O Fio das Missangas (1ª ed. da Caminho em 2004; 4ª ed. em 2004)
Crónicas
Para além disso, publicou em livros algumas das suas crónicas, que continuam a ser coluna num dos semanários publicados em Maputo, capital de Moçambique:
- Cronicando (1ª ed. em 1988; 1ª ed. da Caminho em 1991; 7ª ed. em 2003; Prémio Nacional de Jornalismo Areosa Pena, em 1989)
- O País do Queixa Andar (2003)
- Pensatempos. Textos de Opinião (1ª e 2ª ed. da Caminho em 2005)
- E se Obama fosse Africano? e Outras Interinvenções (1ª ed. da Caminho em 2009)
Romances
E, naturalmente, não deixou de lado o género romance, tendo publicado as obras:
- Terra Sonâmbula (1ª ed. da Caminho em 1992; 8ª ed. em 2004; Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos em 1995; considerado por um juri na Feira Internacional do Zimbabwe um dos doze melhores livros africanos do século XX)
- A Varanda do Frangipani (1ª ed. da Caminho em 1996; 7ª ed. em 2003)
- Mar Me Quer (1ª ed. Parque EXPO/NJIRA em 1998, como contribuição para o pavilhão de Moçambique na Exposição Mundial EXPO '98 em Lisboa; 1ª ed. da Caminho em 2000; 8ª ed. em 2004)
- Vinte e Zinco (1ª ed. da Caminho em 1999; 2ª ed. em 2004)
- O Último Voo do Flamingo (1ª ed. da Caminho em 2000; 4ª ed. em 2004; Prémio Mário António de Ficção em 2001)
- O Gato e o Escuro, com ilustrações de Danuta Wojciechowska (1ª ed. da Caminho em 2001; 2ª ed. em 2003), com ilustrações de Marilda Castanha (1ª ed. brasileira, da Cia. das Letrinhas, em 2008)
- Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra (1ª ed. da Caminho em 2002; 3ª ed. em 2004; rodado em filme pelo português José Carlos Oliveira)
- A Chuva Pasmada, com ilustrações de Danuta Wojciechowska (1ª ed. da Njira em 2004)
- O Outro Pé da Sereia (1ª ed. da Caminho em 2006)
- O beijo da palavrinha, com ilustrações de Malangatana (1ª ed. da Língua Geral em 2006)Editora Caminho.
- Venenos de Deus, Remédios do Diabo (2008)
- Jesusalém [no Brasil, o livro tem como título Antes de nascer o mundo] (2009)
- Pensageiro frequente (2010)
- A Confissão da Leoa (2012)
- Mulheres de cinzas (primeiro volume da trilogia As Areias do Imperador) (2015)
- A Espada e a Azagaia (segundo volume da trilogia As Areias do Imperador") (2016)
- O Bebedor de Horizontes (terceiro volume da trilogia "As Areias do Imperador") (2017)
- O Mapeador de Ausências (2020)
Prémios
- 1995 - Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos
- 1999 - Prémio Vergílio Ferreira, pelo conjunto da sua obra
- 2001 - Prémio Mário António, pelo livro "O último voo do flamingo"
- 2007 - Prémio União Latina de Literaturas Românicas
- 2007 - Prémio Passo Fundo Zaffari e Bourbon de Literatura, na Jornada Nacional de Literatura
- 2008 - Prémio Rosalía de Castro do Centro PEN Galiza.[12]
- 2012 - Prémio Eduardo Lourenço 2012[13]
- 2013 - Prémio Camões 2013[14][15][16]
- 2014 - Neustadt International Prize for Literature[1]
- 2021 - França: prémio Albert Bernard com base na trilogia As areias do Imperador.[17]
- 2022 - Recebeu o Prémio José Craveirinha de Literatura [18]
Academia Brasileira de Letras
É sócio correspondente, eleito em 1998, da Academia Brasileira de Letras, sendo sexto ocupante da cadeira 5, que tem por patrono Dom Francisco de Sousa.
Referências
- ↑ 1,0 1,1 «Mia Couto distinguido com prémio internacional de literatura Neustadt». Público.pt. Consultado em 24 de agosto de 2014
- ↑ 2,0 2,1 «Título ainda não informado (favor adicionar)». www.cienciahoje.pt
- ↑ «Mia Couto distinguido com prémio internacional de literatura Neustadt». Público.pt. Consultado em 8 de agosto de 2017
- ↑ Chabal, Patrick. ‘’Vozes Moçambicanas’’. Vega: Lisboa, 1994. (274-291)
- ↑ «Cidadãos Estrangeiros Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "António Emílio Leite Couto". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 2 de dezembro de 2014
- ↑ Furtado, Jonas (26 de setembro de 2007). «Entrevista a Mia Couto». Revista Isto É. Editora Três. Consultado em 1 de dezembro de 2009
- ↑ «Mia Couto Biografia». editora-ndjira6.blogspot.com[ligação inativa]
- ↑ «Mia Couto partilha Prémio Camões com a gente anónima de Moçambique Ler mais: expresso.sapo.pt/mia-couto-partilha-premio-camoes-com-a-gente-anonima-de-mocambique=f813155#ixzz2VrYKGyuo». Expresso. Consultado em 11 de junho de 2013
- ↑ «Título ainda não informado (favor adicionar)». www.ionline.pt
- ↑ Coutinho, Maria João. 2008. "The heart is a beach: proverbs and improverbs in Mia Couto's stories". Proceedings of the First Interdisciplinary Colloquium on Proverbs, eds Rui. J. B. Soares and Outi Lauhakangas, 484–489.
- ↑ «Dissertação: Mia Couto - Luandino Vieira - "Uma Leitura em Travessia pela Escrita Criativa ao Serviço das Identidades", página 22» (PDF). repositorium.sdum.uminho.pt
- ↑ «O reitor da USC preside o acto de entrega dos Premios Rosalía de Castro 2008 do PEN Club Galicia». Universidade de Santiago de Compostela (em galego). Consultado em 12 de dezembro de 2020
- ↑ «Informação» na página do Centro de Estudos Ibéricos.
- ↑ «Escritor Mia Couto ganha Prémio Camões». Consultado em 27 de maio de 2013
- ↑ rtp.pt (27 de maio de 2013). «Mia Couto distinguido com o Prémio Camões». Consultado em 28 de maio de 2013
- ↑ Folha de S. Paulo (27 de maio de 2013). «Escritor moçambicano Mia Couto vence o Prêmio Camões». Consultado em 28 de maio de 2013
- ↑ «MIA COUTO VENCE PRÉMIO LITERÁRIO FRANCÊS ALBERT BERNARD COM A TRILOGIA "AS AREIAS DO IMPERADOR"». CONTOS achados. Consultado em 29 de janeiro de 2021
- ↑ «Prémio de Literatura José Craveirinha distingue Mia Couto». Notícias ao Minuto (em português). 24 de maio de 2022. Consultado em 24 de maio de 2022
Ver também
Ligações externas
- Caracterização do idioleto miacoutiano e leitura orientada de “Mar me quer”.
- Artigo: "As páginas de terra de Mia Couto"
- "Exílio e identidade: uma leitura de Antes de nascer o mundo, de Mia Couto"
- "O outro pé da sereia: o diálogo entre história e ficção na figuração da África contemporânea
- Artigo: Mia Couto homenageado no Festlip
- Folheto: 12th International Writers Festival: Mia Couto[ligação inativa]
- Site: "textos e intervenções de Mia Couto"
- RedirecionamentoPredefinição:fim
Predefinição:Sócios Correspondentes da Academia Brasileira de Letras Predefinição:Prémio Camões Predefinição:Ordem do Mérito Cultural Predefinição:NF
Precedido por David Mourão-Ferreira |
ABL Sócio Correspondente - cadeira 5 1998 — atualidade |
Sucedido por — |
Precedido por Dalton Trevisan |
Prémio Camões 2013 |
Sucedido por Alberto da Costa e Silva |