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Francisco Raimundo Ewerton Quadros

Francisco Raimundo Ewerton Quadros

Francisco Raimundo Ewerton Quadros (São Luís do Maranhão, 17 de outubro de 1841Rio de Janeiro, 20 de novembro de 1919) foi um militar e espírita brasileiro.

Biografia

Carreira militar

Filho do capitão honorário Francisco Raimundo Quadros, ficou órfão de mãe em tenra idade, vindo a ser criado por sua tia e madrinha, que viria a falecer em 1868. O seu pai, por sua vez, veio a falecer em 1874, tendo criado outros filhos, entre eles um futuro oficial da Armada, falecido em Montevidéu coincidentemente no mesmo ano.

Ainda na então Província do Maranhão cursou com brilhantismo Humanidades e, em princípios de 1860, veio para o Rio de Janeiro, então capital do Império. Aqui concluiu os seus estudos na Escola Militar em 1864, de onde saiu como Alfares-aluno adido ao 1° Batalhão de Artilharia a Pé, indo reunir-se às tropas do Exército Brasileiro na Guerra contra Aguirre, no Uruguai, o que lhe valeu medalha na ocasião.

Terminada essa campanha, combateu na Guerra da Tríplice Aliança, de 1864 a 1870, de onde retornou com a patente de Capitão e com as condecorações de cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa, da Imperial Ordem de Cristo e da Ordem de São Bento de Avis, fazendo jus à Medalha Geral da Campanha do Paraguai com o passador de prata e o número 5 (P-5), bem como à Medalha Argentina, concedida pelo governo daquela República, e à Medalha de Paiçandu (oval).

Desempenhou até 1872 e após, várias funções nos Comandos Militares do Pará e do Amazonas, sempre louvado em ordens regimentais "pelas nobres qualidades que o distinguem como militar disciplinado e severo cumpridor de seus deveres, pelos bons serviços que prestou com dedicação, zelo, inteligência e sisudez que o caracterizam".

Formou-se em Engenharia pela Escola Central da Corte (depois Escola Politécnica), obtendo o grau de Bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas em 3 de julho de 1874, indo trabalhar por cinco anos como Ajudante da Comissão de Engenharia Militar na então Província do Rio Grande do Sul.

De 1880 a 1887 participou de diversas missões para o Exército brasileiro, inclusive o projeto de uma estrada que ligasse a Corte às então Províncias do Paraná, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, assim como a confecção de plantas de dezenas de cidades do Rio Grande do Sul, com planos defensivos e memórias descritivas.

Em 1884 era Major do Estado-Maior de Artilharia do Exército Brasileiro.

Em 1889 foi comissionado pelo governo central nos sertões de Goiás, razão pela qual não pode ser reeleito para a presidência da FEB. Depois disso, percorreu várias regiões brasileiras, em comissões científicas e militares, tendo servido, por exemplo, junto à comissão militar (que também chefiou) encarregada da linha telegráfica entre Uberaba (Minas Gerais) e Cuiabá (Mato Grosso), cujos trabalhos de observação e exploração veio a publicar sob a firma de uma Memória, que encerrava com um vocabulário comparado, da língua portuguesa com as línguas indígenas: guarani, caiuá, coroado e xavante.

Foi agraciado por serviços prestados pelo governo do Marechal Deodoro da Fonseca com a Ordem de Avis, no grau de Oficial.

No contexto da Revolução Federalista (1892-1895), assumiu o Distrito Militar correspondente hoje à cidade de Curitiba, no Paraná, tendo promovido demissões de funcionários públicos, buscas e capturas de pessoas acusadas de colaborar com os "maragatos" (conotação pejorativa dada aos sulistas por Gaspar da Silveira Martins). As prisões ficaram tão cheias que o Teatro São Teodoro foi transformado em prisão. À época várias pessoas foram fuziladas, dentre elas Ildefonso Pereira Correia, barão do Serro Azul, detido em 9 de novembro de 1893, sob a acusação de colaboracionismo com os federalistas e fuzilado sumariamente, com outros, a 20 de maio de 1894, no quilômetro 65 da Estrada de Ferro Paranaguá-Curitiba.[1] Amigo dileto de Floriano Peixoto não respondeu aos crimes perpetrados contra a humanidade: execuções sumárias, permitiu apropriações indébitas sobre falsas acusações.

Constituiu-se num dos mais esforçados auxiliares do Marechal Floriano Peixoto durante a Segunda Revolta da Armada (1893-1894), tendo sido Comandante do 5° Distrito Militar, Comandante-em-Chefe das forças em operações no Estado do Paraná, e Comandante das Fortalezas de São João e da Laje, que lhe era subordinada. O general Ewerton Quadros foi o responsável pelo assassinato a sangue frio do barão de Serro Azul em 1894 no Paraná.

Foi ainda diretor do Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro, Comandante da Escola Militar do Rio de Janeiro (1894-1895), então localizada na Praia Vermelha, e lente da Escola Politécnica. Tomou parte nas conferências escolares que, em fins do século XIX, se realizavam anualmente no Liceu de São Cristóvão. Discorria, então, para os alunos daquela conceituada instituição, sobre assuntos ligados à Astronomia.

Sucedeu ao General Franklin do Rego Cavalcanti de Albuquerque Barros na presidência do Clube Militar, durante o governo de Prudente de Morais[2].

Foi reformado no posto de Marechal, por Decreto de 4 de julho de 1895.

Militância espírita ou Roustanguista?

Ewerton Quadros foi atraído pela Doutrina Espírita desde 1872, tornando-se um dos seus mais insignes divulgadores em sua época, para o que concorriam os diversos tipos de mediunidade que possuía, entre as quais a vidência. Ele próprio deixou registradas, nas páginas do Reformador, a descrição de diversos fenômenos que se manifestavam por seu intermédio desde os oito anos de idade. A partir de março de 1873, desenvolveu-se-lhe a psicografia.

Foi um dos fundadores, em 7 de junho de 1881, do Grupo Espírita Humildade e Fraternidade, na cidade do Rio de Janeiro. Este Grupo, desdobramento do Grupo Espírita Fraternidade, que se instalara a 21 de março de 1880, compunha-se de "algumas pessoas ilustradas que se consagravam ao estudo sério da doutrina espírita".

Os seus primeiros escritos espíritas (que claramente divergiam da proposta Kardequiana) foram publicados na revista da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, periódico fundado em janeiro de 1881, segundo órgão da imprensa espírita surgido no Rio de Janeiro:

  • nos meses de agosto e setembro de 1881, um estudo erudito com o título "O Magnetismo na Criação";
  • em fevereiro de 1882, uma bela poesia, em dezesseis estrofes de quatro versos, intitulada "O Redivivo";.
  • em julho do mesmo ano, primorosa e edificante página poética, recebida através da sua mediunidade a 18 de junho de 1880, com o título "Morrer é deixar a ilusão pela verdade", assinada com as iniciais A.A..

Ao ser fundada, no início de 1884, a Federação Espírita Brasileira, foi eleito seu primeiro presidente, cargo que ocupou até 1888, quando foi substituído pelo Dr. Bezerra de Menezes. Ao término de sua gestão, em 1888, deu à FEB sede independente, no sobrado à Rua Clube Ginástico Português n° 17 (depois Rua Silva Jardim), pois que até então funcionara na residência de Augusto Elias da Silva.

Realizou, além de outras, duas eruditas conferências em 1886, no salão da Guarda Velha, na Rua Guarda Velha (atual Av. 13 de Maio), enfileirando-se entre os que abrilhantaram aquele memorável ciclo de conferências públicas, de larga repercussão, patrocinadas pela FEB.

Colaborou no Reformador e em outros órgãos da imprensa espírita até os derradeiros meses de sua vida terrena. Alguns meses antes de falecer, doou à FEB, da qual era presidente honorário desde 1891, muitos exemplares do seu livro "Os Astros", para com o produto de sua venda socorrer os pobres do Departamento de Assistência aos Necessitados.

Possuía Ewerton Quadros incontestável cultura e vasta erudição, sendo amplos os seus conhecimentos de Astronomia, História Natural e História Universal. Seus artigos em prosa eram às vezes assinados com o pseudônimo "Freq". Revelou-se igualmente como poeta, publicando de vez em quando suas produções nos periódicos espíritas. Deixou ainda diversos trabalhos de cunho filosófico. Entre a sua produção destacam-se:

  • História dos Povos da Antiguidade, redigida sob o ponto de vista roustanguista, até a vinda do Messias;
  • Os Astros, estudos sobre a Criação;
  • Conferência sobre O Espiritismo, seu lugar na classificação das ciências, e outras;
  • As manifestações do sentimento religioso através dos tempos;
  • Catecismo Espírita, dedicado às meninas;

Assim que veio à luz a sua História dos Povos da Antiguidade, a Revista da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, de fevereiro de 1882, informou:

"O Sr. Dr. Quadros é mais um trabalhador incansável e corajoso que se apresenta na arena da propaganda, como demonstra o importante volume que acaba de publicar, cujo assunto só por si é recomendação para os estudiosos, abona o autor, e dá testemunho da perseverança com que se dedica aos trabalhos espiríticos."

Traduziu muitos artigos, assim como obras, do francês e do inglês, sobressaindo-se, entre estas últimas:

Compreendendo a necessidade de vulgarizar a obra mediúnica coordenada e publicada na França por Jean-Baptiste RoustaingOs Quatro Evangelhos - em 1883 terminava a sua tradução, a primeira em língua portuguesa. O Reformador iniciou a sua publicação em 15 de janeiro de 1898, embora não tenha vindo a concluí-la.

Em 1900 veio a público, editada pela FEB, a 1a. edição da referida obra, em três volumes[3]. Posteriormente, em fins de 1918, a FEB cogitou em reeditar a referida obra, agora na tradução do Dr. Guillon Ribeiro, para isso tendo encetado uma campanha da qual Ewerton Quadros foi um dos primeiros subscritores. Essa edição, saiu em 1920, após a sua morte.

Por volta de 1908, dirigiu, com outros diretores, a Liga de Propaganda das Ciências Psico-Físicas, que se ocupava dos fenômenos regidos por forças supranormais.

Notas

  1. Embora como Comandante daquele Distrito Militar fosse inequívocamente o oficial responsável, os prisioneiros estavam a ser transferidos para Paranaguá, onde embarcariam num navio a vapor que os conduziria ao Rio de Janeiro para serem julgados. São citados os nomes de dois dos ajudantes-de-ordem do general, os alferes Joaquim Augusto Freire e Ataliba Lepage, como suspeitos no episódio do assalto à composição ferroviária, chacina dos seus ocupantes e disposição dos seus cadáveres no abismo. Sobre o episódio ver: Túlio Vargas. A Última Viagem do Barão do Serro Azul; Eduardo Carvalho Monteiro. Marechal Ewerton Quadros; Leôncio Correia. Barão do Serro Azul; e ainda David Carneiro. Revolução Federalista no Paraná. Nesse sentido será indevido qualquer paralelo com os atos do coronel Antônio Moreira César, no mesmo contexto à época.
  2. Embora a Revista do Clube Militar o compute como o sétimo presidente (abr, 1940. p. 22), na realidade foi o sexto, na gestão de 1895 a 1896. conforme o períódico O Paiz, de 30 de abril de 1895, onde se relacionam os membros da nova diretoria do Clube Militar, eleitos no dia anterior.
  3. Em tradução de Henrique Vieira de Castro, cf. Reformador, 1921, p. 443.

Ver também

Ligações externas


  1. REDIRECIONAMENTO Predefinição:Espiritismo

Predefinição:Controlo de autoria

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