𝖂𝖎ƙ𝖎𝖊

Sacavém

Sacavém é uma freguesia portuguesa do concelho de Loures, poucos quilómetros a nordeste da capital do País, Lisboa, com 3,81 km² de área e 17 659 habitantes (2001). Densidade demográfica: 4 255,2 h/km².

Sacavém
Brasão de Sacavem Bandeira de Sacavem
Brasão Bandeira
Localização de Sacavém, Loures
Localização
Concelho Loures
Área 3,81 km²
População 17 659
Densidade 4 255,2 h/km²
Oragos Nossa Senhora da Purificação (principal),
Nossa Senhora da Saúde e Santo André (secundários)
Código postal 2685 Sacavém
Endereço da
Junta de Freguesia
Largo do Mercado 1.º de Maio, 1.º Andar
2685-099 Sacavém
Sítio oficial www.jfsacavem.pt/
Endereço de
correio electrónico
jfsacavem-geral@mail.
telepac.pt
Freguesias de Portugal

Geografia

Localizada na parte oriental do concelho, Sacavém confina com as freguesias de Unhos (a noroeste), Camarate (a oeste), Prior Velho (a sudoeste), Portela, (a sul) e Moscavide (a sudeste), sendo ainda banhada pelos rios Tejo (a este) e Trancão, anteriormente chamado rio de Sacavém (a norte, o qual separa esta freguesia da Bobadela).

Outrora uma freguesia urbana de características predominantemente industriais, Sacavém é hoje uma cidade plena de desenvolvimento, vivendo fundamentalmente do comércio e dos serviços (sector terciário); tradicionalmente dividida em Sacavém de Cima (o núcleo histórico situado à roda do terreiro da Capela de Santo André e Nossa Senhora da Saúde, no topo de um cabeço de pouca altitude, sobranceiro a Lisboa), e Sacavém de Baixo (núcleo formado em torno do Convento e Igreja Matriz, contíguo ao rio Trancão), vieram-se-lhe nas últimas décadas juntar alguns bairros e urbanizações que, pelo seu contínuo crescimento, já mal se distinguem do velho casario urbano. São eles os bairros da Courela do Foguete, da Fonte Perra, do Olival Covo, da Quinta Nova, da Quinta do Património, do Real Forte, ou ainda dos Terraços da Ponte (a qual veio substituir a velha e degradada Quinta do Mocho, tristemente célebre ao longo de vários anos por ser a habitação de inúmeros cidadãos originários das antigas colónias africanas, que ali residiam em condições precárias).

Relevo e hidrografia

A superfície da freguesia é relativamente pouco acidentada, variando entre uma altitude miníma de 0 metros junto ao Tejo, e um máximo de 60 metros de altitude à medida que se caminha para o interior, na zona de fronteira com as freguesias de Camarate e Unhos (a fronteira com Unhos é mesmo feita através de um declive significativamente escarpado, que corre paralelo à Estrada Nacional 250). Para além disso, há a notar pequenas elevações junto ao Trancão (onde se ergue o Forte de Sacavém), na zona do centro histórico da cidade (por isso mesmo chamada Sacavém de Cima, registando uma altitude média de cerca de 38 metros acima do nível médio das águas do mar) e na Fonte Perra/Courela do Foguete, nas proximidades da Auto-Estada do Norte.

Como já foi referido, a cidade é banhada pelo rio Trancão a norte, sendo também percorrida pela Ribeira do Prior Velho e pelo Rio Alviela – os quais hoje correm subterrâneos, sob a cidade.

Evolução geográfica

Tanto quanto é possível determinar, ao tempo da fundação da nacionalidade, Sacavém – uma das mais antigas paróquias da zona oriental de Lisboa – teria uma superfície muito superior à actual (rondando talvez os 30 km²), e incluiria diversas povoações que, com o decorrer do tempo, se tornaram autónomas: Bobadela, Camarate, Moscavide, Prior Velho, Portela, São João da Talha e, com forte probabilidade, Santa Maria dos Olivais.

De certo, e na inexistência de mais documentos, sabe-se que fazia fronteira a oeste com as paróquias de São Silvestre de Unhos (freguesia que então incorporava também o actual território da Apelação), São Julião de Frielas e Santa Maria de Loures (mais concretamente, com a Póvoa de Loures, que hoje corresponde à Póvoa de Santo Adrião, mas que à data era apenas um local daquela freguesia).

Admite-se que o limite norte da paróquia fosse sensivelmente o mesmo da actual freguesia de São João da Talha; quanto ao limite sul, é bastante vago e impreciso, sendo de supor que incluiria uma parte significativa da freguesia de Santa Maria dos Olivais (senão mesmo a sua totalidade), e como tal, terá feito fronteira com as paróquias de São Bartolomeu da Charneca, São João Baptista do Lumiar, dos Santos Reis Magos do Campo Grande, de São Jorge de Arroios e do São Bartolomeu do Beato.

Sacavém foi sendo sucessivamente amputada de partes significativas dos seu território, até ficar confinada à sua actual superfície. Assim, em 1388, foi desmembrada a freguesia de São João da Talha, levando também consigo o território da actual Bobadela.

Poucos anos volvidos, em 6 de Maio de 1397, o arcebispo de Lisboa (D. João Anes) criou a paróquia eclesiástica e civil de Santa Maria dos Olivais (incluindo também a actual freguesia de Moscavide), com territórios que fariam (como foi supramencionado), com forte probabilidade, parte da paróquia de Sacavém.

Em 1 de Maio de 1511, é chegada a hora de Camarate ganhar autonomia administrativa, através de um foral concedido por D. Manuel I.

Por fim, já no século XX, verificaram-se as últimas desanexações de território sacavenense, com a criação das freguesias da Portela (surgida oficialmente em 1 de Janeiro de 1986) e Prior Velho (que nasceu como freguesia independente em 1989).

Evolução administrativa

Quanto à evolução administrativa, Sacavém foi integrada, conjuntamente com inúmeras vilas e povoações do redor de Lisboa, numa entidade político-administrativa designada por Termo de Lisboa, e que correspondia, grosso modo, à zona de influência da capital. Embora as suas fronteiras iniciais e a data da sua instituição sejam desconhecidas, certo é que Sacavém aparece referenciada em quatro cartas que D. João I endereçou à Câmara Municipal de Lisboa, logo no início do seu reinado, e nas quais integrava essas várias povoações fronteiriças da capital no seu Termo (entre elas, contam-se as vilas de Alenquer, Colares, Ericeira, Mafra, Sintra ou Torres Vedras, as quais, no entanto, devido à sua distância, acabaram por se tornar independentes).

Por uma lei de 20 de Agosto de 1654 (no reinado de D. João IV), o Termo foi formalmente integrado na cidade de Lisboa para efeitos judiciais, e as freguesias que o integravam foram divididas pelos diversos bairros administrativos da cidade. Já no século XIX, com a reformulação e redução desses mesmos bairros ao actual número de quatro, Sacavém surge referenciada entre as freguesias do Bairro de Alfama – aquele que é hoje o 1.º Bairro de Lisboa, centrado à volta das freguesias do centro histórico da cidade (sendo os outros bairros os do Rocio, Alcântara e Bairro Alto).

Até à sua extinção, em 1852, Sacavém esteve, pois, integrada no Termo. Uma vez abolido este, transitou para o recém-criado concelho de Santa Maria dos Olivais. E, quando, em 26 de Julho de 1886, a sede deste concelho foi transferida para a povoação de Loures e foi instituído o novo concelho de Loures, uma parte de Sacavém, a norte da Estrada da Circunvalação (Sacavém Intra-Muros) passou a fazer parte desta nova entidade político-administrativa; a parte remanescente do seu território, a sul da dita Estrada (Sacavém Extra-Muros) permaneceu afectada à cidade de Lisboa, e só em 26 de Setembro de 1895 as duas partes da povoação se uniram de novo numa única freguesia (idêntica situação se passou com a vizinha Camarate, que só nesta mesma altura foi definitivamente integrada no concelho de Loures).

Código postal

Sacavém usa o seguinte endereço postal: 2685 Sacavém (exceptuados os três últimos dígitos).

Antes da última reforma do código postal, outras oito freguesias da zona oriental do concelho de Loures usavam também o código 2685 Sacavém como seu endereço postal (a única excepção era Moscavide, que usava um código postal da zona da capital).

Religião

Orago maior

A cidade tem por orago maior Nossa Senhora da Purificação (a quem é dedicada a Igreja Matriz, em Sacavém de Baixo, junto ao Trancão). Trata-se, no entanto, de um orago recente, imposto à freguesia, o mais tardar, aquando da elevação da igreja conventual, àquela dedicada, à dignidade de Matriz (em 1863).

Oragos menores

Um dos oragos menores, Nossa Senhora da Saúde (à qual é consagrada, conjuntamente com Santo André, uma pequena capela com o mesmo nome, no centro histórico da cidade, em Sacavém de Cima) é, na verdade, aquele que maior veneração popular tem, realizando-se anualmente grandes festejos em sua honra, no primeiro Domingo de Setembro.

Segundo reza a tradição, em 1599, uma epidemia de peste ter-se-ia abatido sob a povoação com uma tal força, que o número de mortos acabou por ser largamente superior ao espaço disponível na igreja de Nossa Senhora da Vitória para serem sepultados. Os sobreviventes decidiram então enterrá-los nas proximidades da ermida; contudo, logo ao abrir-se a primeira vala, os coveiros depararam-se com a estátua da santa. Logo os populares se reuniram com grande frémito, implorando pela realização de uma procissão em honra da Virgem, a fim de invocarem a sua salvação. De acordo com essa mesma tradição, a peste cessou. A estatueta da Virgem Maria então descoberta passou a ser venerada como Nossa Senhora da Saúde.

Quanto ao culto de Santo André, o outro patrono da capela, parece estar associado ao facto de, nesses mesmos tempos, ter existido junto da actual capela da Senhora da Saúde uma gafaria, cujo protector seria precisamente Santo André (ao invés do normal orago dos leprososSão Lázaro).

Oragos anteriores

Outrora foram também cultuadas nesta freguesia:

Administração eclesiástica

Do ponto de vista da titulatura eclesiástica, o pároco de Sacavém detém a dignidade de Prior (é, aliás, por esse motivo, que freguesia do Prior Velho tem hoje o nome que ostenta, pois numa das quintas desse lugar viveu, em tempos, um idoso prior de Sacavém). E, durante muito tempo, o prior de Sacavém foi em simultâneo pároco das povoações vizinhas (não obstante estas constituirem freguesias civis autónomas); só já no século XX estas ganharam párocos próprios.

A paróquia de Nossa Senhora da Purificação de Sacavém pertence à Vigararia de Sacavém, a qual inclui as demais paróquias da zona oriental do concelho de Loures (Nossa Senhora da Encarnação da Apelação, Nossa Senhora dos Remédios da Bobadela, Santiago Maior de Camarate, Santa Maria do Prior Velho, São João da Talha, Santa Iria de Azóia, São Silvestre de Unhos e, muito naturalmente, Nossa Senhora da Purificação de Sacavém, como sede da mesma), exceptuadas as freguesias eclesiásticas de Santo António de Moscavide e do Cristo-Rei da Portela de Sacavém (que pertencem à Vigararia II de Lisboa).

No ordenamento administrativo da Igreja Católica, a Vigararia de Sacavém inscreve-se por sua vez no quadro da Diocese e Patriarcado de Lisboa.

História

Pela sua posição estratégica, na encruzilhada dos caminhos que, vindos do norte e do este, se dirigiam a Lisboa, Sacavém esteve presente em inúmeros momentos da nossa História.

A Pré-História e os domínios romano, bárbaro e árabe

Está atestada na região de Sacavém a presença humana desde há vários séculos. Parece ter sido ocupada já na Pré-História (períodos do Neolítico e, com maior probabilidade, do Calcolítico), mas de certo só podemos afirmar que no século I da nossa Era passava por aqui um troço comum a duas estradas romanas:

  • a via XV, que ligava Olisipo (Lisboa) a Emerita Augusta (capital provincial da Lusitânia romana, correspondente à actual Mérida, na Espanha);
  • a via XVI, que ligava Lisboa a Bracara Augusta (capital do conventus administrativo de Bracara, na província da Gallaecia, correspondente à actual Braga).

Ainda hoje subsistem vestígios desta rede viária, sob o pavimento das ruas António Ricardo Rodrigues e José Luís de Morais (que mais tarde seriam o eixo fundamental à volta do qual se processou a urbanização da povoação, ligando Sacavém de Cima a Sacavém de Baixo).

Já neste tempo parece de relevo a importância de Sacavém e do seu rio; com efeito, os Romanos teriam construído uma ponte sobre o Trancão que, segundo diversos relatos, existiria ainda no século XVII. Esta ponte era a continuação natural da via que seguia pelas ruas anteriormente mencionadas, ligando Sacavém à margem norte do rio.

Aos Romanos sucederam as ocupações dos Visigodos (que teriam edificado aqui uma capela dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres, sob a qual se encontram hoje as ruínas da capela de Nossa Senhora da Vitória) e dos Árabes. Aliás, parece ser do árabe que o moderno topónimo Sacavém proveio, através de um étimo sagabi (que significa «próximo» ou «vizinho» – entenda-se, da cidade de Lisboa, que já então assumia considerável importância), latinizado na terceira declinação em sacabis, -is (e que formaria no acusativo sacabem, donde o nome moderno «Sacavém»).

A Reconquista Cristã

Arquivo:Img 0486.jpg
Batalha de D. Afonso Henriques junto à Ponte Romana em Sacavém

De acordo com a tradição local, o primeiro recontro entre o rei D. Afonso Henriques e os Mouros, aquando da conquista da capital, em Outubro de 1147, deu-se nas margens do Trancão (batalha do rio de Sacavém). Não obstante a diferença numérica entre ambos os contendores, acabaram por ganhar os Cristãos, atribuindo-se a vitória à miraculosa intervenção da Virgem Maria. Conta-se aliás que o wali (governador árabe) local, perante o sucedido, se teria convertido a fé cristã e sido inclusivamente o primeiro sacristão da ermida dedicada a Nossa Senhora dos Mártires, que D. Afonso Henriques ali mandou erguer passados poucos dias do recontro.

Sobre essa ermida foi mais tarde erguido o Convento de Nossa Senhora da Conceição e dos Mártires (já em finais do século XVII). Embora o convento tenha passado à posse do então Ministério da Guerra (actual Ministério da Defesa Nacional) após a extinção das ordens religiosas, em 1834 (está hoje aí sediado o Batalhão de Adidos do Exército português), a Igreja do mesmo foi mais tarde elevada à dignidade de Matriz, ganhando por orago Nossa Senhora da Purificação. São de destacar os belíssimos exemplares de azulejaria que ainda podemos encontrar no interior do convento.

Idade Média

Após a conquista de D. Afonso Henriques, Sacavém torna-se um reguengo da Coroa portuguesa, conhecendo importante incremento agrícola. A primeira referência escrita que conhecemos relativa a Sacavém data de um documento eclesiástico de 1191. Desta época data a Torre Medieval, situada hoje por trás da Capela de Nossa Senhora da Saúde, no centro histórico da cidade.

Terra de inúmeras quintas saloias, o reguengo de Sacavém viria posteriormente a pertencer à influente Ordem Militar de Santiago, ao Mosteiro de Chelas, e seria ainda comenda da poderosa Casa de Bragança (a Quinta de São José fez inclusivamente parte do património dos Braganças). No século XIV, aliás, já deveria ter uma relativa importância, podendo-se depreender por uma carta de doação do Mosteiro de Chelas, datada de 1347, que já tinha direito a ter tabelião público («Gomez Perez Tabellíom de Sacauẽ»), figurando este entre as testemunhas da dita doação (Maço 17 do espólio do Mosteiro de Chelas).

Ao longo dos séculos séculos XV e XVI, conhecem-se várias referências ao sítio de Sacavém como, por exemplo, na Crónica de D. João I, de Fernão Lopes («Uma barca em que ia Gonçalo Gonçalves Borjas, deferiu por fazer viagem pera o Restelo, e o vento contrairo a levou per força caminho de Sacavém»).

Para além disso, surgem também alusões a Sacavém nas crónicas de Duarte Nunes de Leão e de Rui de Pina, afirmando que no convento desta povoação faleceu a rainha D. Filipa de Lencastre, vitimada pela peste antes do embarque do rei D. João I e dos seus filhos, destinado a tomar Ceuta. No entanto, segundo Gomes Eanes de Zurara, o óbito da rainha teria sido no convento de Odivelas, e não no de Sacavém.

Idade Moderna

Neste período, Sacavém cresceu urbanamente, quer em direcção aos Olivais (através da sua Rua Direita, actual Rua Almirante Reis, orientada no sentido de Lisboa), quer ainda em direcção ao Tejo e ao Trancão, pela Rua dos Mastros (actual Rua José Luís de Morais, que também efectuava a ligação entre Sacavém de Cima e de Baixo, e conduzia à ponte que a ligava à margem do Norte do Trancão). Era por estes rios que passava o grosso da sua actividade comercial; o Trancão era mesmo a principal via de escoamento de produtos da zona saloia do Termo de Lisboa, estando repleto de embarcações até ao Terramoto de 1755; ao longo da segunda metade do século XVIII e início do século XIX, o rio, que até então fora navegável até ao Tojal, começou a ser assoreado, num inexorável fenómeno que desde então impede, até hoje, a navegabilidade no mesmo.

Em 1500, uma nova referência importante a Sacavém, na Carta do Achamento do Brasil, de Pêro Vaz de Caminha («Passou-se então para a outra banda do rio Diogo Dias, que fora almoxarife de Sacavém, o qual é homem gracioso e de prazer»).

Sacavém, que com a perda de Camarate em 1511, se viu amputada de mais uma parte considerável do seu território, não deixou de crescer em termos de população; registaram-se apenas decréscimos pontuais, devidos à peste (1599) e ao Terramoto de 1755, que a deixou muito arruinada. A antiga Igreja de Nossa Senhora da Vitória caiu então em ruínas (estado em que ainda hoje se encontra), e desapareceram igualmente os últimos vestígios da velha ponte romana sobre o Trancão.

O século XIX: industrialização e progresso

Arquivo:Img 0492.jpg
Oleiro da Fábrica de Loiça de Sacavém

No século XIX Sacavém ganha importância acrescida pelo constante crescimento geo-demográfico de Lisboa. Após as invasões francesas, urge fortificar a capital, e é nesse sentido que têm início obras como a Estrada Militar, ligando Benfica a Sacavém, ou a construção do Forte de Sacavém (ou Forte Monte-Sintra, do nome do morro sobranceiro a Sacavém de Baixo onde foi erguido), onde hoje está sediada a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN).

Ao mesmo tempo, esta localização geográfica nos arrabaldes de Lisboa conduz, inevitavelmente, à terciarização da localidade. Instalam-se inúmeras indústrias na região, como a de tinturaria na Quinta das Penicheiras, ou a afamada Fábrica da Loiça de Sacavém, fundada em 1850, e que laborou até 1983. A ela estão associados nomes indissociáveis da história de Sacavém, como John Howorth (barão de Sacavém), James Gilman e Herbert Gilbert. Foi graças a ela e às louças que aí eram produzidas que Sacavém se tornou conhecida em Portugal e no Mundo.

Em 1856, inaugura-se o troço inicial da Linha de Caminhos-de-Ferro do Norte, entre Lisboa e o Carregado, passando por Sacavém e atravessando o seu rio. A marquesa de Rio Maior consagrou, no seu diário, uma referência à inauguração e à passagem do comboio pela localidade. Sacavém, no entanto, merecera já antes uma referência num soneto de Bocage; seria também mencionada por Eça de Queirós no seu Fradique Mendes.

Arquivo:Img 0488.jpg
O incêndio da Ponte do Trancão

O desenvolvimento industrial conduziu a um grande crescimento demográfico e urbano. A população aumentou muito em meio século (trabalhando mais de metade só na Fábrica da Louça), e Sacavém ganhou novos contornos; as velhas quintas arruinadas foram dando lugar a vilas operárias. Muitos dos seus habitantes virão, quer das Beiras, quer do Alentejo, em busca de trabalho, num movimento populacional contínuo que se manteve até meados do século XX – ainda hoje os Sacavenenses têm orgulho nestes seus antepassados, e ainda hoje aqui se encontram sediadas delegações da Liga dos Amigos da Mina de São Domingos, ou da Associação dos Amigos e Naturais de Loriga; destaque também para a Semana Serrana e para a Semana do Alentejo, iniciativas culturais e gastronómicas realizadas anualmente e que atraem um número considerável, quer de habitantes locais, quer das regiões do país em causa (Serra da Estrela e Alentejo).

Num meio essencialmente industrial não é de estranhar a difusão de ideologias defensoras dos interesses das classes trabalhadoras, designadamente o republicanismo. Sacavém tornou-se desde finais do século XIX um baluarte republicano (como aliás muitas localidades industrializadas da cintura envolvente da capital); aquando da Revolução Republicana de 5 de Outubro de 1910, o povo lançou chamas à ponte sobre o Trancão, para evitar a vinda de reforços monárquicos.

O despertar das colectividades

Já antes a força do republicanismo se manifestava pelo surgimento de agremiações e associações de operários, de carácter vincadamente republicano. Um exemplo marcante deste associativismo é o nascimento da Cooperativa de Crédito e Consumo «A Sacavenense», fundada num dia histórico – 31 de Janeiro de 1900, exactamente nove anos decorridos sobre a fracassada intentona republicana no Porto –, e que conheceu particular incremento durante a I República. Embora hoje tenha perdido muita da sua vertente económica, mantém-se como um importante pólo cultural e de convívio entre todos os Sacavenenses.

Entre outras associações destacam-se o Clube Recreativo Sacavenense (fundado em 1909, sob o nome de Clube de Instrução e Beneficiência Sacavenense), o Grupo Desportivo Sacavenense (criado em Março de 1910), o Clube dos Caçadores (surgido em 1921) e a Academia Recreativa e Musical de Sacavém (aparecida em 1927).

A primeira metade do século XX: da instituição do Estado Novo à resistência à ditadura

Arquivo:Img 0489.jpg
A greve dos rapazes

Todo este desenvolvimento sócio-económico deverá ter pesado no pensamento dos dirigentes políticos nacionais, já durante o período da Ditadura Militar. Assim, e seguindo a elevação da própria sede de concelho a vila (em 26 de Outubro de 1926), à povoação de Sacavém foi também atribuído esse estatuto, pelo decreto n.º 14 676 de 7 de Dezembro de 1927 (decreto esse que conferia idêntico valor à povoação de Bucelas, igualmente no concelho de Loures).

Curiosamente, foi em Sacavém, a 3 de Junho de 1926, que os líderes revoltosos do 28 de Maio de 1926 – o general Gomes da Costa (comandante das forças vindas de Braga) e o comandante Mendes Cabeçadas (que fizera soar a revolta em Lisboa) – se encontraram pela primeira vez.

Foi também em Sacavém que, a 17 de Junho desse mesmo ano, o general Gomes da Costa se reuniu com os comandantes das unidades que sitiaram a capital durante o Movimento Nacional de 28 de Maio, tendo deliberado forçar nesse mesmo dia o comandante Mendes Cabeçadas – considerado pela ala mais conservadora do exército como o derradeiro representante da I República – a reunciar à presidência da República e do ministério por si encabeçado, confiando o poder ao próprio Gomes da Costa.

Arquivo:Img 0490.jpg
A marcha da fome das mulheres de Sacavém

Paralelamente, ao longo dos primeiros anos de consolidação da ditadura, o Regimento de Artilharia Pesada 1 (RAP 1), então sediado no Convento dos Mártires, tomou um papel preponderante na defesa do regime vigente – designadamente, na grande Revolta da Marinha Grande (26 de Agosto de 1931), em que elementos do RAP 1 e da G.N.R. local, fiéis a Salazar, bombardearam unidades revoltosas em Alverca do Ribatejo, Lisboa e até Loures, onde inclusivamente se chegou a proclamar a reposição da República democrática deposta em 1926.

No entanto, os trabalhadores de Sacavém (muitos dos quais ligados ao PCP, então na clandestinidade) por inúmeras vezes mostraram a sua revolta contra o regime ditatorial:

  • em 1937, teve lugar a «greve dos rapazes», à qual se seguiu a vigília de suas mães e esposas, e a subsequente repressão da polícia política do regime – a PIDE);
  • em 1944, ocorreu a «marcha da fome», a qual foi encabeçada pelas mulheres sacavenenses, pedindo pão e fazendo frente à G.N.R., tendo marchado até à sede concelhia, em Loures – situada a pelo menos dez quilómetros de distância.

Da segunda metade do século XX à actualidade

Em meados do século XX , obras como o Aeroporto de Lisboa (chamado da Portela de Sacavém), o troço inicial da Auto-Estrada do Norte (A1) ou da Estrada Nacional 10 favoreceram ainda mais a fixação, não só de novas indústrias, como também de novas gentes. Sacavém conheceu uma grande explosão demográfica, e entre 1950 e 1970 a população quadruplicou. A ela associada, a explosão urbanística, que se pautou pela construção desregrada e, muitas vezes, desqualificadora do meio envolvente. A partir dos anos 80 o crescimento demográfico estabiliza, atingindo Sacavém uma população de cerca de 25 mil habitantes.

Assiste-se entretanto, em 1983, ao encerramento da Fábrica da Louça, que laborara ao longo de exactos 133 anos; segue-se a decretação da sua falência, já nos anos 90.

Na segunda metade dos anos 80, indo de encontro à vontade das populações, foram criadas, por desmembramento da freguesia de Sacavém, as freguesias da Portela (1986) e Prior Velho (1989). Isto, de resto, dava sequência a um movimento que então se verificava em todo o concelho de Loures, de criação de novas entidades administrativas, que aproximassem eleitores e eleitos. Por esta época nasceram também, no concelho de Loures, as freguesias da Bobadela (subtraída a São João da Talha), Famões, Pontinha e Ramada (derivadas de Odivelas), Olival Basto (nascida da Póvoa de Santo Adrião), ou Santo António dos Cavaleiros (desmembrada a partir de Loures).

Nos anos 90, Sacavém vê enfim reconhecido todo o seu valor e potencial, tendo sido elevada a cidade em 4 de Junho de 1997, em simultâneo com as até então vilas de Alcácer do Sal, Fátima, Sines e Vila Nova de Foz Côa.

Com a parte oriental do seu território integrada na zona de intervenção da EXPO 98, viu aqui ser instalado o Parque Urbano do Tejo e do Trancão, assim como os acessos à nova travessia sobre o Tejo (a Ponte Vasco da Gama), assim como novos acessos viários, como a CRIL (Circular Regional Interior de Lisboa), ou a Variante à Estrada Nacional 10, que muito contribuíram para um mais fácil escoamento do trânsito desta região.

No entanto, não se pode deixar de referir o encerramento da rodovia que ligava Sacavém directamente à 2.ª Circular, pela chamada Estrada de Sacavém, e que motivou grande contestação por parte dos habitantes de Sacavém.

Em 2000, seria inaugurado o Museu de Cerâmica de Sacavém, destinado a conservar o espólio da antiga Fábrica da Louça (sobretudo o antigo Forno n.º 18); foi já galardoado com um prémio internacional pela sua reconhecida excelência.

Preocupações actuais

Actualmente, entre as preocupações que estão na ordem do dia em Sacavém, destacam-se a criação do município de SACAVÉM (que incluiria as dez freguesias da zona oriental do concelho de Loures – Apelação, Bobadela, Camarate, Moscavide, Portela, Prior Velho, Santa Iria de Azóia, São João da Talha, Unhos, e muito naturalmente, a cidade de Sacavém, que seria a sede da nova edilidade), um propósito já bastante antigo, posto que remonta a 1914 o primeiro abaixo-assinado subscrito pelos eleitores destas povoações no sentido de verem criado este município.

Na altura, o projecto contou com as assinaturas dos eleitores das freguesias da Apelação, Camarate, Charneca, Sacavém (incluindo os actuais territórios da Portela e do Prior Velho), Santa Iria de Azóia (que então abrangia as actuais freguesias da Póvoa de Santa Iria, São João da Talha e Bobadela), Unhos, e ainda da povoação de Moscavide (à data, integrada na freguesia dos Olivais como mero lugar); só a dissolução do Congresso da República impediu de levar a bom porto esta iniciativa.

Nos últimos anos, têm sido levados à Assembleia da República vários projectos de lei, apresentados pelo PCP e pelo PSD, no sentido de viabilizarem este desejo das suas populações (mas que, no entanto, têm esbarrado na oposição demonstrada por algumas Assembleias de Freguesia, designadamente da Portela e de Moscavide).

Outra preocupação prende-se com os desejos autonomistas dos habitantes do vizinho Parque das Nações, que prendem ver criada uma freguesia do Oriente, cujo limite norte seria o rio Trancão – ou seja, amputaria uma parte significativa de território da cidade de Sacavém. Tal vontade não deixa de causar o mais vivo repúdio de todos os Sacavenenses, tendo a Assembleia de Freguesia de Sacavém votado por unanimidade um parecer desfavorável à criação da referida freguesia.

Personagens célebres

De entre os muitos homens e mulheres nascidos nesta terra, ou que tendo nascido fora dela, aqui viveram e se destacaram, sublinham-se as seguintes figuras contemporâneas:

  • Prior Filinto Elísio Ramalho (Fataúnços, 1917 – Sacavém, 2001), pároco de Sacavém durante quase sessenta anos (desde 1942 até ao seu falecimento em circunstâncias trágicas em 1 de Dezembro de 2001), fundador do Centro Social Paroquial de Sacavém, ao qual os Sacavenenses carinhosamente chamam de Obra do Padre.

Acordos de geminação

Sacavém celebrou acordo de geminação com:

Heráldica

Sacavém usa a seguinte bandeira e brasão de armas:

Um escudo de vermelho, uma ponte de três arcos, com os flancos incompletos, de ouro, lavrada de negro. Em chefe, uma cruz em aspa, de prata. Contra-chefe ondado de seis faixas de prata e azul, onde assentam três barcas de ouro vistas de proa. Uma coroa mural de prata de cinco torres. Um listel branco, com a legenda a negro, em maiúsculas: «SACAVÉM». Bandeira gironada de azul e amarelo; cordões e borlas de ouro e vermelho.

Até 1996, data da sua elevação a cidade, a então vila de Sacavém usava um brasão idêntico, excepto no tocante ao número de torres da coroa mural (quatro em vez das actuais cinco); de igual forma, para reflectir o novo estatuto, a partição da bandeira passou de esquartelada para gironada.

Quanto à simbologia do escudo, o vermelho do campo expressa o sangue derramado na batalha que D. Afonso Henriques travou com os Mouros; a ponte de ouro alude à velha ponte romana sobre o Trancão; a aspa representa o orago menor da freguesia, Santo André; as barcas demonstram a importância das actividades económicas que eram realizadas através do rio, recorrendo para isso a embarcações (aludem também a uma antiga festividade de Sacavém, a Festa do Barco, realizada até à década de 1920); por fim, as faixas ondadas de azul e prata estão para os dois rios que banham a freguesia: o Trancão e o Tejo.

Assinale-se ainda, a título de curiosidade, que o decreto que estabelece a heráldica da freguesia propõe a peculiaridade única de o estandarte ter esmaltes diferenciados entre cordões e borlas (ouro e vermelho) e os da bandeira em si (gironada de azul e amarelo)...

Ligações externas

Páginas dedicadas à cidade em geral

  • Sacavém 24 Sítio com inúmeras fotos da cidade de Sacavém.
  • A Cidade de Sacavém Página pessoal dedicada à cidade de Sacavém.(este endereço vem substituir o 7mares.terravista.pt/sacavem )
  • Sacavém Outra página pessoal dedicada à cidade de Sacavém.

Associativismo e cultura em Sacavém

de:Sacavém en:Sacavém es:Sacavém fr:Sacavém la:Sacabis ro:Sacavém

talvez você goste