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Edição das 22h46min de 20 de julho de 2021
Jaguatirica | |||||||||||||||||
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Estado de conservação | |||||||||||||||||
Pouco preocupante Predefinição:Cat-artigo (IUCN 3.1) [1] | |||||||||||||||||
Classificação científica | |||||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||||
Leopardus pardalis Lineu, 1758 | |||||||||||||||||
Distribuição geográfica | |||||||||||||||||
Distribuição da jaguatirica
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Subespécies | |||||||||||||||||
Sinónimos[2] | |||||||||||||||||
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A jaguatirica (nome científico: Leopardus pardalis) ou ocelote é um mamífero carnívoro da família dos felídeos (Felidae) e gênero Leopardus. São reconhecidas 10 subespécies, e o gato-maracajá (L. wiedii) é a espécie mais próxima da jaguatirica. Ocorre desde o sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina, mas já foi extinta em algumas regiões de sua distribuição geográfica. Habita todos os tipos de ambiente ao longo de sua distribuição geográfica, até cerca de 1200 m de altitude.
É um felídeo de porte médio, com 72,6 a 100 centímetros de comprimento e peso entre 7 e 15,5 quilos. O padrão de coloração da pelagem é muito semelhante ao do gato-maracajá (L. wiedii), mas a jaguatirica é maior e possui a cauda mais curta. É um animal solitário, noturno, territorial e os machos possuem territórios que se sobrepõem sobre os de várias fêmeas. Alimenta-se principalmente de roedores, mas também de animais de porte maior como ungulados, répteis, aves e peixes. Caça à noite, formando emboscadas. Alcança a maturidade sexual entre 26 e 28 meses de idade, e as fêmeas dão à luz geralmente um filhote por vez, com cerca de 250 gramas. Geralmente, filhotes nascem a cada 2 anos. Em cativeiro, a jaguatirica pode viver até 20 anos, o dobro da sua longevidade no estado selvagem.
A União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais lista a jaguatirica como estado de conservação "pouco preocupante" e ela está incluída no apêndice 1 da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção. É o mais abundante dentre os felídeos sul-americanos, apesar de as populações estarem decaindo. A situação de conservação varia, e é listada como "vulnerável" na Colômbia e Argentina. No Brasil, apenas a subespécie L. p. mitis foi considerada em alguma categoria de ameaça, mas atualmente ela não figura na lista nacional. Já foi muito caçada por conta do comércio ilegal de peles e vendida como animal de estimação, mas a maior ameaça é a destruição e degradação do habitat. A sua beleza e relativa docilidade já fizeram com que a jaguatirica fosse desejada como um animal de estimação exótico. Por ser de porte relativamente menor, a espécie não traz problemas com ataques a seres humanos, mas pode causar problemas com ataques a galinheiros.
Nomes populares e etimologia
Este animal também é conhecido como jacatirica, maracajá e maracajá-açu, ocelote ou simplesmente gato-do-mato.[3][4] Em espanhol ela pode ser chamada por ocelote, manigordo, gato onza, gato tigre, tigrillo e tigre chico.[4] Ocelot é o termo em inglês para a jaguatirica.[4]
O termo "jaguatirica" tem origem na língua tupi-guarani, através da junção dos termos îagûara ("onça") e tyryka ("recuo, afastamento, fuga"), significando, portanto, "onça que se afasta".[5][6] Já o termo "ocelote" provém do náuatle ocelotl, que significa "onça".[7][8] Macarajá-açu, que foi historicamente registrado (1555) como maracajaguaçu, advém do tupi-guarani Marakaîagûasu.[9][10]
O nome científico, Leopardus pardalis, é uma combinação das palavras de origem grega (mas latinizadas) leopardus e pardus. Leopardus pode ser traduzido como "leopardo", que, literalmente, é uma composição das palavras "leão" e "pantera".[11] Já pardus significa "pantera", descrita como um felino de grande porte e malhado.[12] O sufixo -alis significa "relacionado a": logo, pardalis significa "relacionado a pantera".[2]
Taxonomia e evolução
Relações filogenéticas da jaguatirica (gênero Leopardus).[13] |
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Filogenia inferida a partir de estudos citogenéticos e moleculares. |
A jaguatirica foi inicialmente colocada dentro do gênero Felis, que compreende o gato-doméstico, e foi descrita por Carlos Lineu, em 1758, como Felis pardalis.[2] Atualmente está incluída no gênero Leopardus, grupo monofilético da família dos felídeos (Felidae) e subfamília dos felíneos (Felinae).[14] Várias revisões sistemáticas justificaram uma classificação separada dos felídeos sul-americanos daquelas espécies do gênero Felis stricto sensu e desde então ela vem sendo corroborada por diversos estudos de filogenia.[13][15]
Estudos genéticos demonstraram que os felídeos do Novo Mundo divergiram há mais de 5 milhões de anos dos felídeos do Velho Mundo em duas linhagens separadas: uma compreendendo os felídeos do gênero Leopardus (felídeos de porte pequeno a médio, com manchas), que inclui a jaguatirica (L. pardalis), o gato-maracajá (L. wiedii) e o gato-palheiro (L. colocolo); e outra compreendendo as duas espécies do gênero Puma (felídeos de porte médio a grande, sem manchas), que são o gato-mourisco ou jaguarundi (P. yagouaroundi) e a onça-parda ou suçuarana (P. concolor).[16] Dentro do gênero Leopardus, o gato-maracajá (L. wiedii) é a espécie mais próxima da jaguatirica, e as duas divergiram há cerca de 1,58 milhão de anos.[13] A linhagem da jaguatirica e do maracajá divergiu da dos outros felídeos do gênero Leopardus há cerca de 2,91 milhões de anos.[13]
Variação geográfica e subespécies
Estudos com DNA mitocondrial mostraram que as populações da América Central e do sul da América do Sul formam dois grupos monofiléticos separados, mas as populações do norte da América do Sul estão separadas em dois grupos: populações que ocorrem na Guiana Francesa e norte do Brasil e as populações que ocorrem no Panamá, Venezuela, Trindade e norte do Brasil.[17] Nascimento (2010), baseando-se em medidas morfométricas de crânio e padrão de coloração na pelagem, sugeriu que se classifiquem as populações ao norte da Nicarágua como L. pardalis, e as que estão ao sul como L. mitis.[18]
Wozencraft (2005) reconhece cerca de 10 subespécies:[14][16]
- L. p. pardalis Lineu, 1758: ocorre no sul do México e América Central;
- L. p. aequatorialis Mearns, 1902: ocorre no norte dos Andes;
- L. p. albescens Pucheran, 1855: ocorre desde o sudoeste do Texas até o nordeste do México;
- L. p. melanurus Ball, 1844: ocorre desde o leste da Venezuela até as Guianas e na ilha de Trindade;
- L. p. mitis Cuvier, 1820: ocorre no sul do Brasil, Argentina e Paraguai;
- L. p. nelsoni Goldman, 1925: ocorre no oeste do México;
- L. p. pseudopardalis Boitard, 1842: ocorre no norte da Colômbia e leste da Venezuela;
- L. p. puseaus Thomas, 1914: ocorre no litoral do Equador e do Peru;
- L. p. sonoriensis Goldman, 1925: ocorre no noroeste do México e, antigamente, Arizona, nos Estados Unidos;
- L. p. steinbachi Pocock, 1941: ocorre na Bolívia.
Distribuição geográfica e habitat
A jaguatirica possui uma distribuição geográfica histórica ampla, ocorrendo desde Louisiana e Texas, nos Estados Unidos, até o Peru e norte da Argentina. Atualmente, ainda ocorre no Texas, desde o México e América Central até ao norte da Argentina, apesar de não mais ocorrer na província de Entre Ríos. A espécie pode também ser encontrada na ilha de Trindade e na Ilha de Margarita, na Venezuela. Entretanto, não habita as terras altas do Peru e no Chile. Fósseis de jaguatirica encontrados nos Estados Unidos demonstram que ocorria em latitudes mais ao norte das atuais, estendendo-se ao estado de Ohio e na Flórida.[2][19] A confirmação de sua existência no Uruguai estendeu para cerca de 350 quilômetros sua ocorrência para latitudes ao sul.[20] Está praticamente extinta ao norte do rio Grande, com apenas uma pequena população relictual no Texas e desapareceu em grande parte da costa oeste do México.[20]
Ocorre em ampla variedade de habitats ao longo de sua distribuição geográfica, desde florestas tropicais e subtropicais do Peru e Brasil até ao chaparral semi-árido do sul do Texas e áreas periodicamente alagadas do Pantanal. Também ocorre em áreas de mangues no litoral. Apesar de aparentar ser um animal generalista, a jaguatirica ocupa um pequena porção destes habitats, sendo muito dependente da existência de vegetação densa ou cobertura florestal e sua ocorrência é muito mais descontínua e restrita do que sugere sua ampla distribuição geográfica.[16] Apesar disso, é tolerante a perturbações no ambiente geradas pelo homem e pode sobreviver em fragmentos de floresta próximos a habitações humanas.[20] É possível encontrá-la em cultivos agrícolas, como plantações de cana-de-açúcar e Eucalyptus.[21] Há registros da espécie desde o nível do mar até 1 200 m de altitude.[20]
Descrição
A jaguatirica é um felídeo de porte médio, tendo entre 72,6 e 100 centímetros de comprimento, com a cauda tendo cerca de 25,5 a 41 centímetros de comprimento (trata-se de uma cauda relativamente curta). Os machos pesam entre 7 e 15,5 quilos, sendo pouco maiores que as fêmeas, que pesam entre 6,6 e 11,3 quilos.[16] É o terceiro maior felídeo neotropical, sendo menor apenas que a onça-pintada (Panthera onca) e a onça-parda ou suçuarana (Puma concolor).[22] Ao contrário do que é observado com a onça-pintada, as jaguatiricas que habitam ambientes florestais tendem a ter maior massa corporal do que as que vivem em ambiente savânicos: possuem, em média, 11,1 quilos na floresta tropical, enquanto que, em ambientes semiáridos, possuem em média 8,7 quilos.[22]
A pelagem é curta e brilhante, com o fundo variando do amarelo claro ao avermelhado e cinza, com manchas sólidas ou rosetas que podem se unir formando listras horizontais no corpo. As manchas pretas se unem para formar listras horizontais no pescoço. O ventre é mais claro, com manchas escuras, e a cauda possui barras escuras na ponta. Possui a parte posterior das orelhas de cor preta, com uma mancha branca. Esse padrão de coloração é muito semelhante ao do gato-maracajá (Leopardus wiedii), o que pode confundir a identificação das duas espécies: entretanto, a jaguatirica é maior e possui a cauda mais curta.[19] Não existe registro de exemplares melânicos, mas existe com listras vermelhas.[23][24] As patas anteriores são muito maiores que as posteriores, o que conferiu o nome de manigordo ("mãos gordas") em algumas localidades de língua espanhola.[16][19] Possui cinco dedos com garras nas patas anteriores e quatro dedos com garras nas posteriores. Os músculos peitorais e dos membros anteriores são fortes e permitem que a jaguatirica seja uma excelente escaladora.[2]
O crânio é muito semelhante ao do gato-maracajá, mas indivíduos adultos de jaguatirica têm uma proeminente crista sagital. Possui entre 28 e 30 dentes, com fórmula dentária de Predefinição:Fórmuladentária, com caninos elongados e carniceiros bem desenvolvidos. A dentição decídua é substituída pela permanente entre 7 e 8 meses de idade. O báculo no pênis é um dos maiores e mais complexos entre os felídeos. A temperatura corporal média está entre 37,7 e 38,7 °C.[2]
A jaguatirica possui 36 cromossomos, assim como as outras espécies do gênero Leopardus.[25] Visto a semelhança genética, em cativeiro a jaguatirica pode produzir híbridos com o gato-maracajá (L. wiedii), com o gato-do-mato-pequeno (L. tigrinus), L. guigna, e o gato-do-mato-grande (L. geoffroyi), mas isso não ocorre na natureza.[26] Também foi reportada a hibridização com a suçuarana (P. concolor), que possui 38 cromossomos.[25]
Ecologia e comportamento
É um animal ativo de 12 a 14 horas do dia, e geralmente descansa durante o dia. Inicia suas atividades um pouco antes do pôr do sol, alcançando o pico durante a noite. Entretanto, não é incomum estar ativa ao longo do dia, o que acontece principalmente durante a estação chuvosa e dias nublados, fator que está relacionado à caçada de aves e pequenos primatas, que são tipicamente diurnos.[16]
O deslocamento, majoritariamente durante a noite, é lento e realiza-se por meio de caminhadas entre 0,3 a 1,4 quilômetro por hora. Os machos tendem a se deslocar mais do que as fêmeas, percorrendo cerca de 7,6 quilômetros diariamente, enquanto que as fêmeas andam 3,8 quilômetros, como demonstrou um estudo nos llanos da Venezuela. Os deslocamentos tendem a ser mais curtos durante a estação chuvosa.[16]
É uma espécie generalista, altamente adaptável, e considerada um mesopredador: quando os superpredadores são eliminados do ambiente, ocorre um aumento em suas populações.[22] A presença da jaguatirica, dessa forma, influencia na comunidade de pequenos felídeos, diminuindo a densidade destes,[22] provavelmente por conta da predação intraguilda - eventualmente a jaguatirica pode predar os felinos de porte menor.[22] Apesar de compartilhar um modo de vida semelhante com os outros pequenos felinos americanos, não há competição por alimento, visto que a jaguatirica se alimenta de presas significativamente maiores.[22] Apesar de ser de porte menor, a jaguatirica também pode competir por alimentos com a onça-parda (Puma concolor), em regiões em que a onça-pintada (Panthera onca) foi extinta.[27] Entretanto, ela não parece competir com esse felinos na maior parte das vezes e a presença destes também não influencia a densidade de jaguatiricas em um dado ecossistema.[22] Apesar de ser incomum, a onça-pintada pode predar a espécie, como sugerido por um estudo na América Central.[28]
Território e comportamento social
Como todos os felinos americanos, a jaguatirica é um animal solitário. Os adultos tendem a evitar os coespecíficos do mesmo sexo, o que é observado em outros felídeos.[29] Aparentemente, as fêmeas são mais tolerantes entre si, e em algumas localidades elas tendem a ser mais abundantes que os machos.[29] O encontro entre dois machos pode resultar em agressão.[30] Apesar da maior tolerância entre as fêmeas e de os territórios destas serem menores, eles não se cruzam.[30] Entretanto, os territórios das fêmeas se sobrepõem com o território de um macho, que pode se estender sobre o de mais de uma fêmea.[30] Com esse padrão de distribuição dos indivíduos, o sistema de acasalamento das jaguatiricas é poligínico, apesar de ser uma organização social solitária.[30] A marcação de cheiro é uma importante via de comunicação e sinaliza não apenas os territórios, como a atividade reprodutiva.[31]
A área de vida das jaguatiricas varia de 0,8 a 15,6 quilômetros quadrados para as fêmeas e de 3,5 a 17,7 quilômetros quadrados para os machos, em média.[16] No Pantanal, o tamanho da área de vida é o menor dentre os vários locais em que foram estudados. Isto acaba conferindo uma grande densidade desses animais neste bioma brasileiro.[22] Em contrapartida, no Parque Nacional das Emas foram reportadas áreas de vida de até 90 quilômetros quadrados para um macho.[22] Essa diferença pode estar relacionada com a disponibilidade de recursos, visto que, embora tanto o Pantanal quanto o Cerrado do Parque Nacional das Emas sejam áreas abertas, a primeira se caracterizando por ser periodicamente inundada - de fato, parece que os tamanhos de áreas de vida não têm relação com a estrutura do ecossistema em si.[22] Ela parece relacionada à densidade de presas, e aumenta com a quantidade de chuvas na região em que habita.[32] Observa-se, também, uma tendência de massa corporal e tamanho de área de vida serem correlacionadas positivamente.[22]
Dieta, forrageamento e caça
Em termos numéricos, a dieta da jaguatirica é majoritariamente composta por roedores com menos de 600 gramas, mas estes contribuem pouco em termos de biomassa: os itens alimentares mais importantes neste quesito são roedores maiores, como a paca (Cuniculus paca) e a cutia (Dasyprocta sp).[22][27] Em algumas localidades, foi observado que a jaguatirica também pode se alimentar de primatas de porte relativamente grande, como bugios e também preguiças.[27][33] Ungulados, embora mais raramente, podem contribuir significativamente na dieta da jaguatirica, especialmente aqueles do gênero Mazama.[22] De fato, a dieta varia ao longo da área de ocorrência desse felino. O peso das presas pode variar desde 300 gramas em média nos llanos da Venezuela (alimentando-se, principalmente, de roedores, como Zygodontomys brevicauda, Sigmodon alstoni e Holochilus brasiliensis)[34] até 3,3 quilos em média na Reserva Natural Vale, em Linhares, na Mata Atlântica brasileira, onde preda principalmente roedores de porte maior como a cutia e a paca, e até mesmo ungulados, como o caititu (Pecari tajacu).[35] Essa variação na dieta contrasta com a dos outros felídeos do gênero Leopardus, que praticamente só se alimentam de pequenos roedores.[22] Eventualmente, também se alimenta de répteis, como Tupinambis merianae, aves, peixes e até crustáceos.[16][35]
Costuma caçar à noite e, como os outros felinos, caça formando emboscadas, caminhando lentamente em meio à vegetação, sentando-se e esperando a presa. É capaz de ficar muito tempo esperando alguma presa aparecer.[16] A presa é perseguida, provavelmente, pelo cheiro.[2]
A jaguatirica come entre 0,56 e 0,84 quilo de carne por dia, e quando a carcaça não pode ser ingerida totalmente de uma vez, ela é enterrada e ingerida no outro dia.[22]
Ciclo de vida e reprodução
A maturidade sexual é alcançada entre 16 e 18 meses de idade, e os machos podem não produzir esperma viável até os 30 meses de idade. As fêmeas têm a primeira ninhada entre 18 e 45 meses de idade. Geralmente, as fêmeas possuem vários estros por ano, mas exemplares em cativeiro em clima temperado podem ficar sem ovular cerca de 4 meses durante o inverno. O estro dura entre 7 e 10 dias, e quando há fecundação, ele é reduzido para 5 dias. Este período fértil ocorre a cada 4 ou 6 meses, entretanto, em fêmeas nulíparas, ele pode ocorrer a cada 6 semanas.[2]
A gestação é longa (entre 79 e 82 dias), e geralmente as fêmeas dão à luz um filhote por vez (raramente dois, e bem menos frequentemente, três ou quatro).[2] Isso torna a taxa reprodutiva da jaguatirica lenta, quando comparada com outro felino americano de mesmo porte, o Lynx rufus; provavelmente, uma adaptação à baixa aquisição de energia pelas fêmeas.[36] Tal taxa reprodutiva lenta caracteriza o ciclo de vida dos felídeos do gênero Leopardus. O recém-nascido pesa cerca de 250 gramas e cresce lentamente, alcançando o tamanho de um adulto apenas com trinta meses de idade. Quando alcança essa idade, o filhote se dispersa do território natal, podendo ir até a 30 quilômetros longe de onde nasceu.[16] Os nascimentos ocorrem a cada 2 anos em estado selvagem, apesar de terem sido registrado nascimentos todos os anos, no sul do Texas.[36] Embora a reprodução em cativeiro seja difícil, nascimentos podem ocorrer todo ano. A lactação dura entre 3 e 9 meses. Os filhotes abrem os olhos depois de 14 dias, começam a andar depois de 3 semanas e acompanham a mãe nas caçadas entre 4 e 6 semanas de idade.[2] Uma fêmea com oito anos de idade pode ter tido entre 4 e 6 filhotes nesse tempo. Em cativeiro, a jaguatirica pode viver até 20 anos, mas certamente, na natureza, ela vive metade disso.[16]
Conservação
A jaguatirica é listada como "pouco preocupante" pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais, apesar de, por muito tempo, ter sido considerada como "espécie vulnerável". Sua distribuição geográfica é ampla e habita inúmeras áreas inacessíveis, como na Amazônia, onde se calcula possuir a maior população da espécie, o que é usado como justificativa para o atual grau de ameaça.[1] Estudos ecológicos de densidade de carnívoros ainda colocam a jaguatirica como o mais abundante dos felídeos em muitas regiões.[16] Na década de 1990, estimava-se uma população total entre 800 000 e 3 milhões de indivíduos.[20] Esta também ocorre em uma série de unidades de conservação bem consolidadas, muitas delas com área suficiente para manter populações viáveis da espécie a longo prazo.[20] Apesar disso, as populações estão declinando, principalmente por conta da perda do habitat.[1][37]
A situação da jaguatirica na América do Norte é crítica, com apenas uma pequena população estimada entre 80 e 120 indivíduos no sul do Texas.[19] É provável que tenha havido uma diminuição para menos de 50 indivíduos atualmente.[38] Neste estado americano, são conhecidas apenas duas subpopulações isoladas entre si: uma no Condado de Cameron e outra no Condado de Willacy.[39] As maiores ameaças às populações desses felídeos nos Estados Unidos são a perda do habitat e atropelamentos.[40] Nesta região, é preponderante que sejam implantados corredores, restaurando o habitat de forma a manter essas duas populações conectadas.[39] A criação de reservas particulares é a principal estratégia a ser tomada para proteção do habitat restante.[41] Os exemplares observados no estado do Arizona provavelmente fossem indivíduos de passagem, vindos do noroeste do México.[42] Nesta região, a jaguatirica também se encontra ameaçada, sendo encontrada apenas em terras altas e isoladas de Sonora.[42]
No Brasil, a subespécie L. p. mitis, que ocorre fora da Amazônia, foi listada na categoria "vulnerável" na lista de 2003, principalmente pelo fato de ocorrer nas regiões mais alteradas e degradadas pelo homem.[37] Essa mesma subespécie, em Minas Gerais, é listada como "criticamente em perigo", enquanto que em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e Espírito Santo, a espécie é listada como "vulnerável".[37] Entretanto, a última lista, de 2014, elaborado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), não a considera uma espécie ameaçada.[43] Porém, deve-se salientar que a fragmentação e degradação do habitat tem efeito significativo nas populações: na Mata Atlântica do Espírito Santo, a presença da espécie foi confirmada apenas nos dois maiores fragmentos (ambos com mais de 200 quilômetros quadrados), enquanto que em fragmentos menores a presença não foi confirmada ou constatou-se sua ausência.[44] Isso acaba por inferir a ocorrência de extinções locais da jaguatirica em regiões do Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil.[37] As maiores densidades dessa subespécie foram reportadas na região de Missões, que é contínua com o Parque Nacional do Iguaçu e o Parque Estadual do Turvo, no Brasil, o que resulta em uma estimativa populacional de 1 280 indivíduos.[29] Entretanto, a agricultura itinerante na região ameaça essa população e se novas unidades de conservação não forem criadas, ela pode diminuir para 500 a 700 indivíduos em breve.[29] De fato, muitas das unidades de conservação na área de ocorrência de L. p. mitis são insuficientes para viabilizar populações a longo prazo.[37] Porém, apesar desses problemas na conservação da jaguatirica no Brasil, as estimativas populacionais para o país são maiores que 10 000 indivíduos, variando entre 42 298 e 528 732.[4]
Durante a década de 1960, a espécie sofreu com o comércio ilegal de peles, e a importação de peles de jaguatirica pelos Estados Unidos chegou a cerca de 140 000 em 1970, sendo o pequeno felídeo sul-americano mais visado pelos caçadores.[19] A maior parte das peles era exportada pelo Paraguai e Brasil.[19] Dado o declínio das populações por conta desta atividade, o comércio internacional de peles foi proibido e a jaguatirica figura no apêndice I da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção desde 1989.[1] Essas medidas foram importantes para a diminuição da caça, diminuindo a quantidade de peles comercializadas de 30 563 em 1980, para 513, em 1986.[19] Entretanto, o comércio ilegal ainda ocorre em menor proporção e a jaguatirica é caçada em algumas localidades por conta de prejuízos à avicultura.[1] Por fim, a caça é proibida na maioria dos países em que ocorre, sendo regulada apenas em Honduras.[20] Somente no Equador, Guiana e El Salvador, a jaguatirica não possui proteção contra a caça.[20]
Uma ameaça adicional à espécie é a diminuição das presas, que pode ocorrer em decorrência da degradação do habitat ou por conta de serem espécies caçadas pelo homem.[37] A densidade de presas influencia diretamente a densidade populacional dessa espécie.[37] Isto é um problema mesmo em áreas protegidas, como observado no norte do Espírito Santo.[44]
Estratégias para salvar a espécie da ameaça de extinção incluem, principalmente, a proteção do habitat e em áreas mais degradadas, como no Sudeste do Brasil, a recuperação e a conectividade dos fragmentos de vegetação nativa.[37]
Aspectos culturais
A relação com os seres humanos é antiga e a jaguatirica figura na mitologia Asteca e Inca sendo retratada em sua arte.[2] Também foi representada na arte do povo Moche, do Peru, em sua cerâmica.[45] Entretanto, ela é muitas vezes ignorada, já que a onça-pintada é a espécie geralmente representada na mitologia dos povos americanos. Ela acaba tendo papel como substituto em locais que a onça-pintada, de maior porte, estava ausente.[46] Em Ohio, em povos da Cultura Hopewell, foi encontrada uma escultura de jaguatirica junto a ossos humanos.[47] Deve-se salientar que muitas vezes não é possível distinguir a espécie representada na arte desses povos antigos, apenas reconhece-se ser de um felídeo malhado. O próprio termo ocelotl significa "onça" ou "jaguar". Chama a atenção a semelhança com a onça-pintada, como se ela fosse uma versão menor deste grande felídeo, sendo eventualmente confundida com ele. Em guarani, ela é chamada de yaguarete-í, que significa "onça pequena"; no Peru, de tigrillo (que pode se referir a todos os pequenos felídeos malhados) ou tigre (que pode se referir à onça-pintada).[2]
Foi retratada em pinturas do século XIX, como na pintura de Benedito Calixto, "Evangelho nas Selvas", em que é retratado o padre jesuíta José de Anchieta pregando o evangelho a uma jaguatirica.[48] A obra foi inspirada no poema de Castro Alves "Os Jesuítas".[48] A escultura de Antoine-Louis Barye ilustra uma jaguatirica predando uma garça, uma obra intitulada Ocelot emportant un héron ("Jaguatirica carregando uma garça"), de cerca de 1850.[49]
A beleza de sua pelagem a tornou muito visada no comércio de peles, mas somente após a diminuição da oferta de peles de onça-pintada.[16] No século XX, ela foi usada como animal de estimação por Salvador Dalí, o qual inclusive viajava com a jaguatirica apelidada de "Babou".[50][51] Gram Parsons também mantinha uma jaguatirica em sua mansão, nos anos 1960, em Winter Haven, na Flórida.[52]
Por ser de porte menor, a jaguatirica não traz grandes problemas a fazendeiros com ataques ao gado bovino, apesar de eventualmente causar problemas a avicultores, sendo responsável por grande parte dos ataques a galinheiros.[53] Ela também não traz problemas com ataques a seres humanos e, muitas vezes, é considerada um animal dócil.[16]
Referências
- ↑ 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 Paviolo, A.; Crawshaw, P.; Caso, A.; de Oliveira, T.; Lopez-Gonzalez, C.A.; Kelly, M.; De Angelo, C.; Payan, E. (2015). «Jaguarundi - Herpailurus yagouaroundi». Lista Vermelha da IUCN. União Internacional para Conservação da Natureza (UICN). p. e.T11509A97212355. doi:10.2305/IUCN.UK.2015-4.RLTS.T11509A50653476.en. Consultado em 17 de julho de 2021
- ↑ 2,00 2,01 2,02 2,03 2,04 2,05 2,06 2,07 2,08 2,09 2,10 2,11 Murray, J. L., & Gardner, G. L. (1997). «Leopardus pardalis» (PDF). Mammalian Species. 548: 1-10. Consultado em 18 de dezembro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 17 de junho de 2012
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Ligações externas
- ARKive – «imagens e vídeos da jaguatirica.» (em English)
- Animal Diversity Web – «Leopardus pardalis Ocelot - Perfil da espécie» (em English)
- Projeto Gatos do Mato - Brasil – «projeto da ONG Pró-carnívoros que visa estudar as espécies de gatos-do-mato, incluindo a jaguatirica, no Brasil» (em português)
- Projeto Jaguatiricas – «projeto da ONG Pró-Carnívoros que visa estudar a ecologia e comportamento da jaguatirica no Pantanal sul-matogrossense» (em português)