Guarani Avañe'ẽ | ||
---|---|---|
Outros nomes: | Guaraniñe'ẽ | |
Falado(a) em: | Argentina Bolívia Brasil Paraguai | |
Total de falantes: | 4,85 milhões (1995)[1] | |
Família: | Tupi Tupi-guarani Subgrupo I Guarani | |
Escrita: | Alfabeto latino (variante guarani) | |
Estatuto oficial | ||
Língua oficial de: | Bolívia (cooficial)[2] Paraguai (cooficial)[3] Corrientes (província da Argentina, cooficial)[4] Tacuru (município do Brasil, cooficial)[5] Mercosul | |
Regulado por: | Academia da Língua Guarani | |
Códigos de língua | ||
ISO 639-1: | gn
| |
ISO 639-2: | grn | |
ISO 639-3: | vários: grn — Macrolíngua gnw — Guaraní boliviano ocidental gug — Guarani paraguaio gui — Guarani boliviano oriental gun — Dialeto mbiá nhd — Guarani chiripá | |
O guarani é um idioma, originalmente uma língua indígena do sul da América do Sul, falada pelos povos da etnia tupi-guarani na Argentina, na Bolívia, no Brasil e no Paraguai (onde é a segunda língua oficial).
Surgiu a partir do guarani antigo. Não se trata apenas de uma língua, já que nos grupos de línguas tupi-guaranis da América do Sul, no subgrupo I, pode-se constatar que, quando falamos do "guarani", falamos de nove línguas guaranis inteligíveis uma com a outra. Mas a designação "guarani" é conhecida como o "padrão" ou "Avañe'ẽ", que é falado no Paraguai, no litoral argentino e na fronteira com o Brasil.
O idioma legou alguns vocábulos ao português brasileiro na toponímia ("Cambaquara" [um bairro de Ilhabela]),[6] nos nomes de animais ("ximango")[7] e em termos de uso diário (como "caraminguá",[8] "mixe", "mixa", "mixo"[9]).
Primeiros estudos
O jesuíta Antônio Ruiz de Montoya foi um dos primeiros estudiosos da língua guarani. Desse autor foram publicadas as obras: "Tesoro de la lengua guaraní " (1639), "Catecismo de la lengua guaraní " (1639) e "Arte y Bocabulario de la lengua guaraní " (1640), que durante muitos anos foram utilizadas por jesuítas e hispanofalantes para conhecer a língua guarani[10].
A língua viva
A variante mais regional do sul e oeste, denominada "língua guarani" (também chamada avañe'ẽ, que quer dizer "A língua do homem"), mantém-se viva e é falada por mais de sete milhões[carece de fontes] de pessoas, notadamente no Paraguai, onde é língua oficial juntamente com o castelhano. O guarani, dessa forma, tornou-se uma das únicas línguas indígenas americanas a obter um reconhecimento nacional e literário e a ser falada por um número significativo de não indígenas.[11]
Além disso, a língua guarani é a língua cooficial da Bolívia, da província de Corrientes, na Argentina, da cidade de Tacuru (Mato Grosso do Sul) e do Mercosul.
No Paraguai, a língua guarani foi mantida principalmente porque os padres jesuítas a usaram como instrumento de conversão religiosa numa empreitada colonizadora desvinculada das potências católicas ibéricas que, efemeramente, os jesuítas constituiram um estado indígena cristão: as chamadas missões (ou reduções) jesuíticas.[carece de fontes]
Entretanto, a língua guarani que, antes de ser sistematizada pelos jesuítas, não era escrita, assimilou uma enorme variedade de vocábulos da língua castelhana (gerando no Paraguai o chamado "Jopará", que quer dizer "mistura") advinda com a invasão cultural em face da colonização espanhola.[11] Há uma tendência entre as pessoas com um maior grau de escolarização a falar o castelhano com sotaque peculiar, com algumas frases curtas e expressões em guarani. Este modo de expressar-se também é muito comum nos jornais, revistas e mesmo livros didáticos.
Já as pessoas menos escolarizadas, notadamente no meio rural, tendem a expressar-se em guarani, embora emprestem uma grande variedade de vocábulos do espanhol. Os falantes dessa mistura mais ou menos equilibrada das duas línguas chamam-na de jopará. No Paraguai, os documentos judiciais e textos legais normalmente são editados em duas versões castiças de espanhol e guarani, pelo fato de as duas línguas serem oficiais no país.
Em agosto de 1995, o guarani recebeu o status de "língua histórica" pelos países membros da comunidade econômica do Mercosul. Em janeiro de 2006, o guarani também recebeu o status de língua oficial do Mercosul.
Em 2005, foi lançada uma versão da Wikipédia em guarani[12], chamada de "Vikipetã".
Em 24 de maio de 2010, a cidade de Tacuru, no estado brasileiro do Mato Grosso do Sul, adotou o guarani como língua oficial, além do português. A lei sancionada na data determinou que ninguém poderá sofrer discriminação pela língua de que faça uso e destaca o respeito e a valorização devidos às variedades do guarani, como o caiouá, o nhandeva e o embiá. A lei determina, ainda, que a prefeitura de Tacuru deverá apoiar e incentivar o ensino da língua guarani nas escolas e nos meios de comunicação.[13]
Fonologia
O "Achegety" (alfabeto guarani) possui 33 letras: dos quais 12 são vogais e 21 são consoantes.
As suas vogais consistem em:
Vogais
"A" [a], "e" [ɛ] ou [e], "i " [i], "o" [ɔ] ou [o], "u" [u], "y" [ɨ]. Os "a","e", "i", "o" e "u" são pronunciados da mesma forma que no português. Já o "y" é pronunciado com a língua no céu da boca [ɨ].
As vogais também têm sua forma nasal:
"Ã", "ẽ ", "ĩ ", "õ ", "ũ ", "ỹ ".
Consoantes
Das 21 consoantes (pundie), 8 são oclusivas, 5 fricativas, uma africada, uma aproximante, 2 vibrantes e uma sibilante.
Expressões curtas da língua guarani
- Aju je'ymã = "Já voltei"
- Che aime ko'ape = "Eu estou aqui"
- Che amenda va'e = "Eu sou casado"
- Moõgui nde reju ? = "De onde você vem?"
- Jaha jake = "Vamos dormir"
- Jaha jakaru = "Vamos comer"
- Eju ko'ápe = "Vem aqui!"
- Ahata aju = "Voltarei"
- Mba'e rejapo? = "Que está fazendo?"
- Ñande jaha / Ore roha mbo'ehaope = "Nós vamos à escola"
Dialetos
- Guarani paraguaio
- Guarani nhandeva
- Dialeto embiá
- Guarani correntino
- Kaiwá
- Chiripá
- Paí tavyterá
- Tapieté
- Nota: algumas línguas, consideradas pelos leigos como "dialetos do guarani" (tais como Xetá, Aché, dentre outras), não são dialetos da língua guarani, mas sim línguas da mesma família linguística, com grande inteligibilidade entre elas (Rodrigues[14], 1986).
Ver também
- Língua geral paulista
- Wikipédia em Língua Guarani
- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)
- Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística (IPOL)
Referências
- ↑ Ethnologue.com. Página acessada em 11 de outubro de 2019.
- ↑ «Nueva Constitución Política del Estado» (PDF) (em espanhol). Bolívia. Outubro de 2008. Consultado em 24 de setembro de 2011. Arquivado do original (PDF) em 21 de maio de 2009.
Art. 5°
- ↑ «Constitución Nacional de la República del Paraguay» (em espanhol). Assunção, Paraguai. 20 de junho de 1992. Consultado em 24 de setembro de 2011.
Art. 140°
- ↑ «Ley Provincial Nº 5.598» (PDF) (em espanhol). Província de Corrientes. 28 de setembro de 2004. Consultado em 24 de setembro de 2011. Arquivado do original (PDF) em 29 de fevereiro de 2012.
Art. 1º
- ↑ «Lei Municipal Nº 848/2010». Tacuta, Mato Grosso do Sul. 24 de maio de 2010. Consultado em 24 de setembro de 2011.
Art. 1º §
- ↑ NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 552.
- ↑ FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 799.
- ↑ FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 347.
- ↑ FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 144.
- ↑ Antonio Ruiz de Montoya: promotor y defensor de lenguas y pueblos indígenas, em espanhol, acesso em 10 de agosto de 2017.
- ↑ 11,0 11,1 «American Indian Languages». www.history.com
- ↑ Ape, em guarani, acesso em 4 de outubro de 2016.
- ↑ «Cidade de Mato Grosso do Sul adota o guarani como segundo idioma oficial». R7. Grupo Record . 31 de maio de 2010. Consultado em 27 de fevereiro 2017. Arquivado do original em 16 de janeiro de 2014
- ↑ RODRIGUES, Aryon Dall'Igna (1986). Línguas Brasileiras: Para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Edições Loyola. pp. 29–39
Ligações externas
- «Dicionário online em espanhol, alemão e guarani»
- «Léxico Guarani - Dialeto Mbyá: Guarani-Português (2006)» (PDF)
- «Sobre a língua guarani»
- «Línguas Indígenas Brasileiras, de Renato Nicolai - Projeto Indios.Info - www.indios.info»
- Vocabulário guarani por Maria Herminia Corrado
- Vocabulário guarani por GUDSCHINSKY, Sarah C. e AARON, Waldo M. (ILV).
- Vocabulário guarani por Wolf Lustig (1995)
- Vocabulário mbyá de Robert A. Dooley
Predefinição:Povos indígenas do Brasil Predefinição:Línguas tupi