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Sismo de Lisboa de 1755: mudanças entre as edições

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== O terremoto ==
== O terremoto ==
[[File:Alegoria ao Terramoto de 1755, João Glama Strobërle.png|thumb|left|250px|[[Alegoria]] ao terramoto de 1755]]
[[File:Alegoria ao Terramoto de 1755, João Glama Strobërle.png|thumb|left|250px|[[Alegoria]] ao terremoto de 1755]]
O terremoto fez-se sentir na manhã de 1 de Novembro de 1755 às 9:30<ref name="Kozak">{{citar web|url=http://nisee.berkeley.edu/lisbon/|titulo=Historical Depictions of the 1755 Lisbon Earthquake|ultimo=Kozak|primeiro=Jan T.|coautores=Charles D. James|data=12 de novembro de 1998|acessodata=08/09/2008}}</ref> ou 9:40 da manhã,<ref name="Belo">{{citar web|url=http://www.brown.edu/Departments/Portuguese_Brazilian_Studies/ejph/html/issue4/html/belo_main.html|titulo=Between History and Periodicity: Printed and Hand-Written News in 18th-Century Portugal|ultimo=Belo|primeiro=André|data=2004|acessodata=08/09/2008}}</ref> dia que coincide com o feriado do [[Dia de Todos-os-Santos]]. A data contribuiu para um alto número de fatalidades, visto que ruas e igrejas estavam cheias de fiéis.<ref name=em>{{Citar jornal|ultimo=Werneck|primeiro=Gustavo|titulo=The 1755 Lisbon tsunami; evaluation of the tsunami parameters|jornal=[[Estado de Minas]]|issn=0264-3707|url=http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/10/24/interna_gerais,700993/riqueza-de-ouro-preto-reconstruiu-lisboa-apos-terremoto-no-seculo-18.shtml|data=24 de Outubro de 2015|acessadoem=6 de Novembro de 2015}}</ref>
O terremoto fez-se sentir na manhã de 1 de Novembro de 1755 às 9:30<ref name="Kozak">{{citar web|url=http://nisee.berkeley.edu/lisbon/|titulo=Historical Depictions of the 1755 Lisbon Earthquake|ultimo=Kozak|primeiro=Jan T.|coautores=Charles D. James|data=12 de novembro de 1998|acessodata=08/09/2008}}</ref> ou 9:40 da manhã,<ref name="Belo">{{citar web|url=http://www.brown.edu/Departments/Portuguese_Brazilian_Studies/ejph/html/issue4/html/belo_main.html|titulo=Between History and Periodicity: Printed and Hand-Written News in 18th-Century Portugal|ultimo=Belo|primeiro=André|data=2004|acessodata=08/09/2008}}</ref> dia que coincide com o feriado do [[Dia de Todos-os-Santos]]. A data contribuiu para um alto número de fatalidades, visto que ruas e igrejas estavam cheias de fiéis.<ref name=em>{{Citar jornal|ultimo=Werneck|primeiro=Gustavo|titulo=The 1755 Lisbon tsunami; evaluation of the tsunami parameters|jornal=[[Estado de Minas]]|issn=0264-3707|url=http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/10/24/interna_gerais,700993/riqueza-de-ouro-preto-reconstruiu-lisboa-apos-terremoto-no-seculo-18.shtml|data=24 de Outubro de 2015|acessadoem=6 de Novembro de 2015}}</ref>


O [[epicentro]] não é conhecido com precisão, havendo diversos sismólogos que propõem locais distanciados de centenas de quilómetros. No entanto, todos convergem para um [[epicentro]] no mar, entre 150 a 500 quilómetros a sudoeste de Lisboa. Devido a um forte [[sismo de 1969|sismo]], ocorrido em [[1969]] no [[Banco de Gorringe]], este local tem sido apontado como tendo forte probabilidade de aí se ter situado o epicentro em 1755. A magnitude pode ter atingido 9 na escala Richter.<ref name="Kozak"/>
O [[epicentro]] não é conhecido com precisão, havendo diversos sismólogos que propõem locais distanciados de centenas de quilómetros. No entanto, todos convergem para um [[epicentro]] no mar, entre 150 a 500 quilómetros a sudoeste de Lisboa. Devido a um forte [[sismo de 1969|sismo]], ocorrido em [[1969]] no [[Banco de Gorringe]], este local tem sido apontado como tendo forte probabilidade de aí se ter situado o epicentro em 1755. A magnitude pode ter atingido 9 na escala Richter.<ref name="Kozak"/>


Relatos da época afirmam que os abalos foram sentidos, consoante o local, durante entre seis minutos a duas horas e meia, causando fissuras enormes de que ainda hoje há vestígios em Lisboa. O padre [[Manuel Portal]] é a mais rica e completa fonte sobre os efeitos do terramoto, tendo descrito, detalhadamente e na primeira pessoa, o decurso do terramoto e a vida lisboeta nos meses que se seguiram. A intensidade do terramoto em Lisboa e no [[cabo de São Vicente]] estima-se entre X-XI na [[escala de Mercalli]].<ref name="Baptista">{{Citar jornal|ultimo=Baptista|primeiro=M. A.|coautores=S. Heitor, J. M. Miranda, P. Miranda, L. Mendes Victor|data=janeiro–março de 1998|titulo=The 1755 Lisbon tsunami; evaluation of the tsunami parameters|jornal=Journal of Geodynamics|editora=Elsevier Ltd.|volume=25|paginas=143-157|issn=0264-3707|url=http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6V9X-3SX5JRY-B&_user=10&_coverDate=03%2F31%2F1998&_alid=787738268&_rdoc=20&_fmt=high&_orig=search&_cdi=5910&_sort=d&_docanchor=&view=c&_ct=27&_acct=C000050221&_version=1&_urlVersion=0&_userid=10&md5=795c1421039562ef5243a891826fc5b8|acessadoem=8 de Setembro de 2008}}</ref> Com os vários [[desmoronamento]]s os sobreviventes procuraram refúgio na [[Porto (transporte)|zona portuária]] e assistiram ao recuo das águas, revelando o fundo do mar cheio de destroços de navios e cargas perdidas. Poucas dezenas de minutos depois, um ''[[tsunami]]'', que atualmente se supõe ter atingido pelo menos seis metros de altura,<ref name="Kozak"/> havendo relatos de ondas com mais de 10 metros, fez submergir o porto e o centro da cidade, tendo as águas penetrado cerca de 250 m.<ref name="Baptista"/> Nas áreas que não foram afetadas pelo ''tsunami'', o [[fogo]] logo alastrou-se, e os [[incêndio]]s duraram pelo menos cinco dias. Todos tinham fugido e não havia quem o apagasse.{{carece de fontes|data=março de 2013}}
Relatos da época afirmam que os abalos foram sentidos, consoante o local, durante entre seis minutos a duas horas e meia, causando fissuras enormes de que ainda hoje há vestígios em Lisboa. O padre [[Manuel Portal]] é a mais rica e completa fonte sobre os efeitos do terremoto, tendo descrito, detalhadamente e na primeira pessoa, o decurso do terremoto e a vida lisboeta nos meses que se seguiram. A intensidade do terremoto em Lisboa e no [[cabo de São Vicente]] estima-se entre X-XI na [[escala de Mercalli]].<ref name="Baptista">{{Citar jornal|ultimo=Baptista|primeiro=M. A.|coautores=S. Heitor, J. M. Miranda, P. Miranda, L. Mendes Victor|data=janeiro–março de 1998|titulo=The 1755 Lisbon tsunami; evaluation of the tsunami parameters|jornal=Journal of Geodynamics|editora=Elsevier Ltd.|volume=25|paginas=143-157|issn=0264-3707|url=http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6V9X-3SX5JRY-B&_user=10&_coverDate=03%2F31%2F1998&_alid=787738268&_rdoc=20&_fmt=high&_orig=search&_cdi=5910&_sort=d&_docanchor=&view=c&_ct=27&_acct=C000050221&_version=1&_urlVersion=0&_userid=10&md5=795c1421039562ef5243a891826fc5b8|acessadoem=8 de Setembro de 2008}}</ref> Com os vários [[desmoronamento]]s os sobreviventes procuraram refúgio na [[Porto (transporte)|zona portuária]] e assistiram ao recuo das águas, revelando o fundo do mar cheio de destroços de navios e cargas perdidas. Poucas dezenas de minutos depois, um ''[[tsunami]]'', que atualmente se supõe ter atingido pelo menos seis metros de altura,<ref name="Kozak"/> havendo relatos de ondas com mais de 10 metros, fez submergir o porto e o centro da cidade, tendo as águas penetrado cerca de 250 m.<ref name="Baptista"/> Nas áreas que não foram afetadas pelo ''tsunami'', o [[fogo]] logo alastrou-se, e os [[incêndio]]s duraram pelo menos cinco dias. Todos tinham fugido e não havia quem o apagasse.{{carece de fontes|data=março de 2013}}


Acerca do nível de destruição do terramoto, sem menção ao tsunami, e focando os incêndios, no ''Novo atlas para uso da mocidade portuguesa'' (1782), o tradutor corrige em nota o autor francês dizendo:<blockquote>''O Autor, mal informado do que aconteceu a esta capital no referido Terramoto, asseverou que ela ficara inteiramente arrasada, quando é certo que em mais de duas partes ficou em pé, e que somente o incêndio, que lhe sobreveio, abrasou, e consumiu os edifícios, tesouros, móveis, riquezas, preciosidades, alfaias, etc. ficando unicamente as paredes. Porém, de tudo o mais raro, que se perdeu, foi a grande Livraria de Sua Majestade - rara pelos manuscritos e originais da Antiguidade que conservava - perda sem dúvida lamentável para os sábios.''<ref>{{citar livro|nome = |sobrenome = |título = Novo atlas para uso da mocidade portugueza|ano = 1782|isbn = |editora = Typ. Rollandiana|url = http://purl.pt/748|página = 27}}</ref></blockquote>
Acerca do nível de destruição do terremoto, sem menção ao tsunami, e focando os incêndios, no ''Novo atlas para uso da mocidade portuguesa'' (1782), o tradutor corrige em nota o autor francês dizendo:<blockquote>''O Autor, mal informado do que aconteceu a esta capital no referido terremoto, asseverou que ela ficara inteiramente arrasada, quando é certo que em mais de duas partes ficou em pé, e que somente o incêndio, que lhe sobreveio, abrasou, e consumiu os edifícios, tesouros, móveis, riquezas, preciosidades, alfaias, etc. ficando unicamente as paredes. Porém, de tudo o mais raro, que se perdeu, foi a grande Livraria de Sua Majestade - rara pelos manuscritos e originais da Antiguidade que conservava - perda sem dúvida lamentável para os sábios.''<ref>{{citar livro|nome = |sobrenome = |título = Novo atlas para uso da mocidade portugueza|ano = 1782|isbn = |editora = Typ. Rollandiana|url = http://purl.pt/748|página = 27}}</ref></blockquote>


=== O tsunami ===
=== O tsunami ===
{{Ver artigo principal|Maremoto de 1755}}
{{Ver artigo principal|Maremoto de 1755}}
[[Ficheiro:Lisbon 1755 tsunami travel times.jpg|thumb|344x344px|Localização potencial do [[epicentro]] do terramoto de 1755 e tempos de chegada do [[tsunami]], em horas após o sismo]]
[[Ficheiro:Lisbon 1755 tsunami travel times.jpg|thumb|344x344px|Localização potencial do [[epicentro]] do terremoto de 1755 e tempos de chegada do [[tsunami]], em horas após o sismo]]
Lisboa não foi a única cidade portuguesa afectada pela [[catástrofe natural|catástrofe]]. Todo o sul de Portugal, sobretudo o [[Algarve]], foi atingido e a destruição foi generalizada. Além da destruição causada pelo sismo, o ''tsunami'' que se seguiu destruiu no Algarve fortalezas costeiras e habitações, registando-se ondas com até 30 metros de altura.<ref name="Kozak"/> As ondas de choque do sismo foram sentidas por toda a [[Europa]] e norte da [[África]]. As cidades [[marroquina]]s de [[Fez]] e [[Meknès]] sofreram danos e perdas de vida consideráveis.<ref name="Kozak"/> Os [[tsunami|maremotos]] originados pela [[tectónica de placas|movimentação tectónica]] varreram locais desde do norte de África (como [[Safim]] e [[Agadir]]<ref name="Baptista"/>) até ao norte da Europa, nomeadamente até à [[Finlândia]] (através de [[seicha]]s<ref name="Kozak"/>) e através do [[Atlântico]], afectando os [[Açores]] e a [[Ilha da Madeira|Madeira]] e locais tão longínquos como [[Antígua]], [[Martinica]] e [[Barbados]].<ref name="Kozak"/> Diversos locais em torno do [[golfo de Cádis]] foram inundados:<ref name="Baptista"/> o nível das águas subiu repentinamente em [[Gibraltar]] e as ondas chegaram até [[Sevilha]] através do [[rio Guadalquivir]], [[Cádis]], [[Huelva]] e [[Ceuta]].<ref name="Kozak"/>
Lisboa não foi a única cidade portuguesa afectada pela [[catástrofe natural|catástrofe]]. Todo o sul de Portugal, sobretudo o [[Algarve]], foi atingido e a destruição foi generalizada. Além da destruição causada pelo sismo, o ''tsunami'' que se seguiu destruiu no Algarve fortalezas costeiras e habitações, registando-se ondas com até 30 metros de altura.<ref name="Kozak"/> As ondas de choque do sismo foram sentidas por toda a [[Europa]] e norte da [[África]]. As cidades [[marroquina]]s de [[Fez]] e [[Meknès]] sofreram danos e perdas de vida consideráveis.<ref name="Kozak"/> Os [[tsunami|maremotos]] originados pela [[tectónica de placas|movimentação tectónica]] varreram locais desde do norte de África (como [[Safim]] e [[Agadir]]<ref name="Baptista"/>) até ao norte da Europa, nomeadamente até à [[Finlândia]] (através de [[seicha]]s<ref name="Kozak"/>) e através do [[Atlântico]], afectando os [[Açores]] e a [[Ilha da Madeira|Madeira]] e locais tão longínquos como [[Antígua]], [[Martinica]] e [[Barbados]].<ref name="Kozak"/> Diversos locais em torno do [[golfo de Cádis]] foram inundados:<ref name="Baptista"/> o nível das águas subiu repentinamente em [[Gibraltar]] e as ondas chegaram até [[Sevilha]] através do [[rio Guadalquivir]], [[Cádis]], [[Huelva]] e [[Ceuta]].<ref name="Kozak"/>


De uma população de 300 mil habitantes em Lisboa, crê-se que 90 mil morreram{{ref|num_mortos}}, 900 das quais vitimadas directamente pelo ''tsunami''.<ref name="Baptista"/> Outros 10 mil foram vitimados em [[Marrocos]]. Cerca de 85% das construções de Lisboa foram destruídas, incluindo [[palácio]]s famosos e [[biblioteca]]s, [[convento]]s e [[igreja]]s, [[hospital|hospitais]] e todas as estruturas. Várias construções que sofreram poucos danos pelo terramoto foram destruídas pelo fogo que se seguiu ao abalo sísmico, causado por [[lareira]]s de [[cozinha]], [[vela (iluminação)|velas]] e mais tarde por saqueadores em [[pilhagens]] dos destroços.<ref name="Kozak"/>
De uma população de 300 mil habitantes em Lisboa, crê-se que 90 mil morreram{{ref|num_mortos}}, 900 das quais vitimadas directamente pelo ''tsunami''.<ref name="Baptista"/> Outros 10 mil foram vitimados em [[Marrocos]]. Cerca de 85% das construções de Lisboa foram destruídas, incluindo [[palácio]]s famosos e [[biblioteca]]s, [[convento]]s e [[igreja]]s, [[hospital|hospitais]] e todas as estruturas. Várias construções que sofreram poucos danos pelo terremoto foram destruídas pelo fogo que se seguiu ao abalo sísmico, causado por [[lareira]]s de [[cozinha]], [[vela (iluminação)|velas]] e mais tarde por saqueadores em [[pilhagens]] dos destroços.<ref name="Kozak"/>


Na obra ''História Universal dos Terramotos'', de Joaquim José Moreira de Mendonça (1758),<ref name=":0">{{citar livro|nome = José Joaquim|sobrenome = Moreira de Mendonça|título = História Universal dos Terramotos|ano = 1758|isbn = |url = https://archive.org/details/historiauniversa00mend|página = 116-117}}</ref> que apresenta o primeiro balanço sistemático dos efeitos, refere-se que as águas ''alagaram o bairro de S. Paulo'' e que esse "''espanto das águas''" difundiu o perigo de que ''vinha o mar cobrindo tudo'':<blockquote>''Havia muita gente buscado as margens do Tejo, por se livrarem dos edifícios, cheios de horror da vista das suas ruínas. Eis que de repente entra o mar pela barra com uma furiosa inundação de águas, que não fizeram igual estrago em Lisboa que em outras partes, pela distância que há de mais de duas léguas desta Cidade à foz do rio. Contudo, passando os seus antigos limites se lançou por cima de muitos edifícios e alagou o bairro de S. Paulo. Cresceu em todos os que haviam procurado as praias o espanto das águas, e o novo perigo se difundiu por toda a Cidade, e seus subúrbios, com uma voz vaga, que dizia que vinha o mar cobrindo tudo.''</blockquote>A recém-construída [[Ópera do Tejo|Casa da Ópera]], inaugurada apenas seis meses antes, foi totalmente consumida pelo fogo. O Palácio Real, que se situava na margem do [[Rio Tejo|Tejo]], onde hoje existe o [[Terreiro do Paço]], foi destruído pelos abalos sísmicos e pelo ''tsunami''. Dentro, na biblioteca, perderam-se 70 mil volumes e centenas de obras de arte, incluindo pinturas de [[Ticiano]], [[Rubens]] e [[Antonio da Correggio|Correggio]]. O precioso Arquivo Real com documentos relativos à exploração oceânica e outros documentos antigos também foram perdidos. O terramoto causou ainda danos, ou chegou a destruir completamente, as maiores igrejas de Lisboa, especialmente a [[Sé de Lisboa]], e as Basílicas de São Paulo, Santa Catarina, [[Igreja de São Vicente de Fora|São Vicente de Fora]] e a da Misericórdia. As ruínas do [[Convento do Carmo (Lisboa)|Convento do Carmo]] ainda hoje podem ser visitadas no centro da cidade. O túmulo de [[Nuno Álvares Pereira]], nesse convento, perdeu-se também. O Hospital Real de Todos os Santos foi consumido pelos fogos e centenas de pacientes morreram queimados. Registos históricos das viagens de [[Vasco da Gama]] e [[Cristóvão Colombo]] foram perdidos, e incontáveis construções foram arrasadas (incluindo muitos exemplares da arquitectura do período [[Manuelino]] em Portugal).{{carece de fontes|data=março de 2013}}
Na obra ''História Universal dos terremotos'', de Joaquim José Moreira de Mendonça (1758),<ref name=":0">{{citar livro|nome = José Joaquim|sobrenome = Moreira de Mendonça|título = História Universal dos Terramotos|ano = 1758|isbn = |url = https://archive.org/details/historiauniversa00mend|página = 116-117}}</ref> que apresenta o primeiro balanço sistemático dos efeitos, refere-se que as águas ''alagaram o bairro de S. Paulo'' e que esse "''espanto das águas''" difundiu o perigo de que ''vinha o mar cobrindo tudo'':<blockquote>''Havia muita gente buscado as margens do Tejo, por se livrarem dos edifícios, cheios de horror da vista das suas ruínas. Eis que de repente entra o mar pela barra com uma furiosa inundação de águas, que não fizeram igual estrago em Lisboa que em outras partes, pela distância que há de mais de duas léguas desta Cidade à foz do rio. Contudo, passando os seus antigos limites se lançou por cima de muitos edifícios e alagou o bairro de S. Paulo. Cresceu em todos os que haviam procurado as praias o espanto das águas, e o novo perigo se difundiu por toda a Cidade, e seus subúrbios, com uma voz vaga, que dizia que vinha o mar cobrindo tudo.''</blockquote>A recém-construída [[Ópera do Tejo|Casa da Ópera]], inaugurada apenas seis meses antes, foi totalmente consumida pelo fogo. O Palácio Real, que se situava na margem do [[Rio Tejo|Tejo]], onde hoje existe o [[Terreiro do Paço]], foi destruído pelos abalos sísmicos e pelo ''tsunami''. Dentro, na biblioteca, perderam-se 70 mil volumes e centenas de obras de arte, incluindo pinturas de [[Ticiano]], [[Rubens]] e [[Antonio da Correggio|Correggio]]. O precioso Arquivo Real com documentos relativos à exploração oceânica e outros documentos antigos também foram perdidos. O terremoto causou ainda danos, ou chegou a destruir completamente, as maiores igrejas de Lisboa, especialmente a [[Sé de Lisboa]], e as Basílicas de São Paulo, Santa Catarina, [[Igreja de São Vicente de Fora|São Vicente de Fora]] e a da Misericórdia. As ruínas do [[Convento do Carmo (Lisboa)|Convento do Carmo]] ainda hoje podem ser visitadas no centro da cidade. O túmulo de [[Nuno Álvares Pereira]], nesse convento, perdeu-se também. O Hospital Real de Todos os Santos foi consumido pelos fogos e centenas de pacientes morreram queimados. Registos históricos das viagens de [[Vasco da Gama]] e [[Cristóvão Colombo]] foram perdidos, e incontáveis construções foram arrasadas (incluindo muitos exemplares da arquitectura do período [[Manuelino]] em Portugal).{{carece de fontes|data=março de 2013}}


=== Comparação com o Sismo de 1531 ===
=== Comparação com o Sismo de 1531 ===
O Sismo de 1755 tendo apagado da memória o [[Sismo de Lisboa de 1531]], não deixa de merecer que Joaquim José Moreira de Mendonça compare ambos na sua ''História Universal dos Terramotos (1758)'' <ref name=":0">{{citar livro|nome = José Joaquim|sobrenome = Moreira de Mendonça|título = História Universal dos Terramotos|ano = 1758|isbn = |url = https://archive.org/details/historiauniversa00mend|página = 116-117}}</ref>'':''<blockquote>''Nem obsta dizer-se vulgarmente que o Terramoto presente foi maior que o de 1531, por se verem arruinadas a Torre da Basílica de Stª Maria, e muitas igrejas, que naquele não caíram. A isto respondo que também neste ainda ficou sem ruína a outra Torre da mesma antiga Sé; e que as igrejas que caíram agora naquele tempo eram muito novas e ressentiram da mesma forma que ao presente sucedeu às duas Igrejas de S. Bento, à de Nª Srª das Necessidades, à do Menino Deus, à dos Paulistas e outras, com alguns palácios, e casas novas, que não padeceram ruína considerável.'' (páginas 55-56)</blockquote>
O Sismo de 1755 tendo apagado da memória o [[Sismo de Lisboa de 1531]], não deixa de merecer que Joaquim José Moreira de Mendonça compare ambos na sua ''História Universal dos terremotos (1758)'' <ref name=":0">{{citar livro|nome = José Joaquim|sobrenome = Moreira de Mendonça|título = História Universal dos Terramotos|ano = 1758|isbn = |url = https://archive.org/details/historiauniversa00mend|página = 116-117}}</ref>'':''<blockquote>''Nem obsta dizer-se vulgarmente que o terremoto presente foi maior que o de 1531, por se verem arruinadas a Torre da Basílica de Stª Maria, e muitas igrejas, que naquele não caíram. A isto respondo que também neste ainda ficou sem ruína a outra Torre da mesma antiga Sé; e que as igrejas que caíram agora naquele tempo eram muito novas e ressentiram da mesma forma que ao presente sucedeu às duas Igrejas de S. Bento, à de Nª Srª das Necessidades, à do Menino Deus, à dos Paulistas e outras, com alguns palácios, e casas novas, que não padeceram ruína considerável.'' (páginas 55-56)</blockquote>


== O dia seguinte ==
== O dia seguinte ==
[[Imagem:Convento de Lisboa (Carmo).jpg|thumb|left|Ruínas do Convento do Carmo, Lisboa]]
[[Imagem:Convento de Lisboa (Carmo).jpg|thumb|left|Ruínas do Convento do Carmo, Lisboa]]
A família real portuguesa escapou à catástrofe. O Rei [[José I de Portugal|D. José I]] e a corte tinham deixado a cidade depois de assistir a uma [[missa]] ao amanhecer, encontrando-se em [[Santa Maria de Belém]], nos arredores de Lisboa, na altura do terramoto. A ausência do rei na capital deveu-se à vontade das princesas de passar o feriado fora da cidade. Depois da catástrofe, [[José I de Portugal|D. José I]] ganhou uma [[claustrofobia|fobia a recintos fechados]] e viveu o resto da sua vida num complexo luxuoso de [[barraca|tenda]]s no [[Bairro do Alto da Ajuda|Alto da Ajuda]], denominado como Real Barraca da Ajuda, em Lisboa.{{carece de fontes|data=março de 2013}}
A família real portuguesa escapou à catástrofe. O Rei [[José I de Portugal|D. José I]] e a corte tinham deixado a cidade depois de assistir a uma [[missa]] ao amanhecer, encontrando-se em [[Santa Maria de Belém]], nos arredores de Lisboa, na altura do terremoto. A ausência do rei na capital deveu-se à vontade das princesas de passar o feriado fora da cidade. Depois da catástrofe, [[José I de Portugal|D. José I]] ganhou uma [[claustrofobia|fobia a recintos fechados]] e viveu o resto da sua vida num complexo luxuoso de [[barraca|tenda]]s no [[Bairro do Alto da Ajuda|Alto da Ajuda]], denominado como Real Barraca da Ajuda, em Lisboa.{{carece de fontes|data=março de 2013}}


Tal como o rei, o [[Sebastião José de Carvalho e Melo|Marquês de Pombal]], Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra e futuro primeiro-ministro, sobreviveu ao terramoto. Com o [[pragmatismo]] que caracterizou a sua futura governação, ordenou ao exército a imediata reconstrução de [[Lisboa]]. Conta-se que à pergunta "E agora?" respondeu "Enterram-se os mortos e cuidam-se os vivos" mas esse diálogo é provavelmente [[falso|apócrifo]].{{carece de fontes|data=junho de 2017}} A sua rápida resolução levou a organizar equipas de [[bombeiro]]s para combater os incêndios e recolher os milhares de [[cadáver]]es para evitar [[epidemia]]s.{{carece de fontes|data=março de 2013}}
Tal como o rei, o [[Sebastião José de Carvalho e Melo|Marquês de Pombal]], Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra e futuro primeiro-ministro, sobreviveu ao terremoto. Com o [[pragmatismo]] que caracterizou a sua futura governação, ordenou ao exército a imediata reconstrução de [[Lisboa]]. Conta-se que à pergunta "E agora?" respondeu "Enterram-se os mortos e cuidam-se os vivos" mas esse diálogo é provavelmente [[falso|apócrifo]].{{carece de fontes|data=junho de 2017}} A sua rápida resolução levou a organizar equipas de [[bombeiro]]s para combater os incêndios e recolher os milhares de [[cadáver]]es para evitar [[epidemia]]s.{{carece de fontes|data=março de 2013}}


O ministro e o rei encomendaram aos [[arquitecto]]s e [[engenheiro]]s reais, e em menos de um ano depois do terramoto já não se encontravam em Lisboa ruínas e os trabalhos de reconstrução iam adiantados. O rei desejava uma cidade nova e ordenada e grandes [[praça]]s e [[avenida]]s largas e [[recta|rectilíneas]] marcaram a [[Planta (geometria descritiva)|planta]] da nova cidade. Reza a lenda ter sido à época perguntado ao Marquês de Pombal para que serviam ruas tão largas, ao que este respondeu que ''um dia hão-de achá-las estreitas…''. A maior parte da reconstrução foi paga com o ouro retirado da [[Capitania de Minas Gerais]] na [[Estado do Brasil|colónia brasileira]], que viu um aumento em seus impostos. Isso levou a uma alta insatisfação entre os habitantes, que eventualmente expulsaram a [[Companhia de Jesus no Brasil|Companhia de Jesus]] e viram o arraial de [[Curvelo]] realizar [[Conspiração do Curvelo|duas inconfidências]] em protesto à coroa portuguesa.<ref name=em/>
O ministro e o rei encomendaram aos [[arquitecto]]s e [[engenheiro]]s reais, e em menos de um ano depois do terremoto já não se encontravam em Lisboa ruínas e os trabalhos de reconstrução iam adiantados. O rei desejava uma cidade nova e ordenada e grandes [[praça]]s e [[avenida]]s largas e [[recta|rectilíneas]] marcaram a [[Planta (geometria descritiva)|planta]] da nova cidade. Reza a lenda ter sido à época perguntado ao Marquês de Pombal para que serviam ruas tão largas, ao que este respondeu que ''um dia hão-de achá-las estreitas…''. A maior parte da reconstrução foi paga com o ouro retirado da [[Capitania de Minas Gerais]] na [[Estado do Brasil|colónia brasileira]], que viu um aumento em seus impostos. Isso levou a uma alta insatisfação entre os habitantes, que eventualmente expulsaram a [[Companhia de Jesus no Brasil|Companhia de Jesus]] e viram o arraial de [[Curvelo]] realizar [[Conspiração do Curvelo|duas inconfidências]] em protesto à coroa portuguesa.<ref name=em/>


O novo centro da cidade, hoje conhecido por ''[[Baixa Pombalina]]'' é uma das zonas nobres da cidade. Serão dos primeiros edifícios mundiais a serem construídos com protecções à prova de sismos (anti-sísmicas),{{carece de fontes|data=junho de 2017}} que foram testadas em modelos de madeira, utilizando-se tropas a marchar para simular as vibrações sísmicas.{{carece de fontes|data=março de 2013}}
O novo centro da cidade, hoje conhecido por ''[[Baixa Pombalina]]'' é uma das zonas nobres da cidade. Serão dos primeiros edifícios mundiais a serem construídos com protecções à prova de sismos (anti-sísmicas),{{carece de fontes|data=junho de 2017}} que foram testadas em modelos de madeira, utilizando-se tropas a marchar para simular as vibrações sísmicas.{{carece de fontes|data=março de 2013}}
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== Impacto na sociedade ==
== Impacto na sociedade ==
{{Quadrocitação|O dia primeiro do corrente ficará memorável a todos os séculos pelos terramotos e incêndios que arruinaram uma grande parte desta Cidade.|Gazeta de Lisboa, Novembro de 1755.}}
{{Quadrocitação|O dia primeiro do corrente ficará memorável a todos os séculos pelos terramotos e incêndios que arruinaram uma grande parte desta Cidade.|Gazeta de Lisboa, Novembro de 1755.}}
O terramoto de Lisboa abalou muito mais que a cidade e os seus edifícios. Lisboa era a capital de um país [[Catolicismo|católico]], com grande tradição de edificação de conventos e igrejas e empenhado na [[evangelização]] das suas [[colónia]]s. O facto do terramoto ocorrer em dia santo e destruir várias igrejas importantes, dentro das quais muitos fieis reuniam-se para celebrar a data, levantou muitas questões religiosas por toda a Europa.<ref>{{citar livro|sobrenome=Menuhin|nome=Yehudi|título=A música do homem|ano=1981|editora=[[Martins Fontes (editora)|Martins Fontes]]/[[Editora Fundo Educativo Brasileiro]]|local=São Paulo|página=155|páginas=320|edição=1ª|autorlink=Yehudi Menuhin|coautores=Davis, Curtis W.|acessodata=7 de fevereiro de 2018|capítulo=A era do compositor}}</ref> Para a mentalidade religiosa do [[século XVIII]], foi uma manifestação da ira divina de difícil explicação.{{carece de fontes|data=março de 2013}}
O terremoto de Lisboa abalou muito mais que a cidade e os seus edifícios. Lisboa era a capital de um país [[Catolicismo|católico]], com grande tradição de edificação de conventos e igrejas e empenhado na [[evangelização]] das suas [[colónia]]s. O facto do terremoto ocorrer em dia santo e destruir várias igrejas importantes, dentro das quais muitos fieis reuniam-se para celebrar a data, levantou muitas questões religiosas por toda a Europa.<ref>{{citar livro|sobrenome=Menuhin|nome=Yehudi|título=A música do homem|ano=1981|editora=[[Martins Fontes (editora)|Martins Fontes]]/[[Editora Fundo Educativo Brasileiro]]|local=São Paulo|página=155|páginas=320|edição=1ª|autorlink=Yehudi Menuhin|coautores=Davis, Curtis W.|acessodata=7 de fevereiro de 2018|capítulo=A era do compositor}}</ref> Para a mentalidade religiosa do [[século XVIII]], foi uma manifestação da ira divina de difícil explicação.{{carece de fontes|data=março de 2013}}


Na política, o terramoto foi também devastador. O ministro do Rei D.José I, o Marquês de Pombal era favorito do rei, mas não do agrado da alta [[nobreza]], que competia pelo poder e favores do monarca. Depois do 1º de Novembro, a eficácia da resposta do Marquês do Pombal (cujo título lhe é atribuído em [[1770]]) garante-lhe um maior poder e influência perante o rei, que também aproveita para reforçar o seu poder e consolidar o [[Absolutismo]].{{carece de fontes|data=março de 2013}}
Na política, o terremoto foi também devastador. O ministro do Rei D.José I, o Marquês de Pombal era favorito do rei, mas não do agrado da alta [[nobreza]], que competia pelo poder e favores do monarca. Depois do 1º de Novembro, a eficácia da resposta do Marquês do Pombal (cujo título lhe é atribuído em [[1770]]) garante-lhe um maior poder e influência perante o rei, que também aproveita para reforçar o seu poder e consolidar o [[Absolutismo]].{{carece de fontes|data=março de 2013}}


Isto leva a um descontentamento da aristocracia que iria culminar na tentativa de [[regicídio]] e na [[Processo dos Távoras|subsequente eliminação]] dos [[Távoras]]. Para além do agravamento das tensões políticas em Portugal, a destruição da cidade de Lisboa frustrou muitas das ambições coloniais do [[Império Português]] de então.{{carece de fontes|data=março de 2013}}
Isto leva a um descontentamento da aristocracia que iria culminar na tentativa de [[regicídio]] e na [[Processo dos Távoras|subsequente eliminação]] dos [[Távoras]]. Para além do agravamento das tensões políticas em Portugal, a destruição da cidade de Lisboa frustrou muitas das ambições coloniais do [[Império Português]] de então.{{carece de fontes|data=março de 2013}}
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[[Ficheiro:Louis-Michel van Loo 003.jpg|thumb|"[[Marquês de Pombal]]" e a cidade de Lisboa, de Louis-Michel van Loo (1707-1771) e Claude-Joseph Vernet (1714-1789), Museu da Cidade, Lisboa]]
[[Ficheiro:Louis-Michel van Loo 003.jpg|thumb|"[[Marquês de Pombal]]" e a cidade de Lisboa, de Louis-Michel van Loo (1707-1771) e Claude-Joseph Vernet (1714-1789), Museu da Cidade, Lisboa]]


O ano de 1755 insere-se numa era fulcral de uma grande transformação social: a [[Revolução Industrial]], o [[Iluminismo]], o [[Capitalismo]] lançam as bases de uma sociedade moderna em alguns países da Europa Ocidental. O terramoto influenciou de forma determinante muitos pensadores europeus do Iluminismo. Foram muitos os [[filósofo]]s que fizeram menção ou aludiram ao terramoto nos seus escritos, dos quais se destaca [[Voltaire]], no seu ''[[Cândido, ou O Otimismo|Candide]]'' e no ''[[Poème sur le désastre de Lisbonne]]'' ("Poema sobre o desastre de Lisboa"). A arbitrariedade da sobrevivência foi, provavelmente, o que mais marcou o autor, que satirizou a ideia, defendida por autores como [[Gottfried Wilhelm Leibniz]] e [[Alexander Pope]], de que "este é o melhor dos mundos possíveis"; como escreveu [[Theodor Adorno]], o terramoto de Lisboa foi suficiente para Voltaire refutar a teodiceia de Leibniz" (''Negative Dialectics'', 361). Mais tarde, no [[século XX]], também citando Adorno, o terramoto passou a ser comparado ao [[Holocausto]] - uma catástrofe de tais dimensões que só poderia ter um impacto profundo e transformador na cultura e filosofia europeias. Esta interpretação de Theodor Adorno serve de ilustração à sua interpretação da história, que é bastante crítica da sociedade.{{carece de fontes|data=março de 2013}}
O ano de 1755 insere-se numa era fulcral de uma grande transformação social: a [[Revolução Industrial]], o [[Iluminismo]], o [[Capitalismo]] lançam as bases de uma sociedade moderna em alguns países da Europa Ocidental. O terremoto influenciou de forma determinante muitos pensadores europeus do Iluminismo. Foram muitos os [[filósofo]]s que fizeram menção ou aludiram ao terremoto nos seus escritos, dos quais se destaca [[Voltaire]], no seu ''[[Cândido, ou O Otimismo|Candide]]'' e no ''[[Poème sur le désastre de Lisbonne]]'' ("Poema sobre o desastre de Lisboa"). A arbitrariedade da sobrevivência foi, provavelmente, o que mais marcou o autor, que satirizou a ideia, defendida por autores como [[Gottfried Wilhelm Leibniz]] e [[Alexander Pope]], de que "este é o melhor dos mundos possíveis"; como escreveu [[Theodor Adorno]], o terremoto de Lisboa foi suficiente para Voltaire refutar a teodiceia de Leibniz" (''Negative Dialectics'', 361). Mais tarde, no [[século XX]], também citando Adorno, o terremoto passou a ser comparado ao [[Holocausto]] - uma catástrofe de tais dimensões que só poderia ter um impacto profundo e transformador na cultura e filosofia europeias. Esta interpretação de Theodor Adorno serve de ilustração à sua interpretação da história, que é bastante crítica da sociedade.{{carece de fontes|data=março de 2013}}


[[Ficheiro:Lisbon1755hanging.jpg|thumb|left|''Ruínas de Lisboa''. Após o terramoto os sobreviventes viveram em tendas nos arredores da cidade, como ilustra esta gravura alemã de 1755.]]
[[Ficheiro:Lisbon1755hanging.jpg|thumb|left|''Ruínas de Lisboa''. Após o terremoto os sobreviventes viveram em tendas nos arredores da cidade, como ilustra esta gravura alemã de 1755.]]
O conceito do [[sublime (estética)|sublime]], embora já tivesse sido formulado antes de 1755, foi desenvolvido na Filosofia e elevado a tema de maior importância por [[Immanuel Kant]], em parte como resultado das suas tentativas para compreender a enormidade do terramoto de Lisboa e do ''tsunami''. Kant publicou três textos distintos sobre o terramoto. O jovem Kant, fascinado com o fenómeno, reuniu toda a informação que conseguiu sobre o desastre, através de notícias impressas, servindo-se desses dados para formular uma teoria relacionada com a origem dos sismos. A teoria de Kant, que envolvia o deslocamento de enormes [[caverna]]s subterrâneas insufladas por [[gases]] a alta [[temperatura]], foi, ainda que mais tarde se mostrasse falsa, uma das primeiras tentativas sistematizadas a tentar explicar os sismos através de causas naturais, em vez de causas sobrenaturais. De acordo com o filósofo marxista [[Walter Benjamin]], o pequeno caderno de Kant sobre o assunto representa, provavelmente, o início da Geografia científica na [[Alemanha]]. O mesmo autor chega a afirmar: "E foi, certamente, o início da Sismologia" (frase essa que é mais controversa - talvez o início da Sismologia moderna tenha começado mesmo em Portugal com os estudos incentivados pelo Marquês de Pombal).{{carece de fontes|data=março de 2013}}
O conceito do [[sublime (estética)|sublime]], embora já tivesse sido formulado antes de 1755, foi desenvolvido na Filosofia e elevado a tema de maior importância por [[Immanuel Kant]], em parte como resultado das suas tentativas para compreender a enormidade do terremoto de Lisboa e do ''tsunami''. Kant publicou três textos distintos sobre o terremoto. O jovem Kant, fascinado com o fenómeno, reuniu toda a informação que conseguiu sobre o desastre, através de notícias impressas, servindo-se desses dados para formular uma teoria relacionada com a origem dos sismos. A teoria de Kant, que envolvia o deslocamento de enormes [[caverna]]s subterrâneas insufladas por [[gases]] a alta [[temperatura]], foi, ainda que mais tarde se mostrasse falsa, uma das primeiras tentativas sistematizadas a tentar explicar os sismos através de causas naturais, em vez de causas sobrenaturais. De acordo com o filósofo marxista [[Walter Benjamin]], o pequeno caderno de Kant sobre o assunto representa, provavelmente, o início da Geografia científica na [[Alemanha]]. O mesmo autor chega a afirmar: "E foi, certamente, o início da Sismologia" (frase essa que é mais controversa - talvez o início da Sismologia moderna tenha começado mesmo em Portugal com os estudos incentivados pelo Marquês de Pombal).{{carece de fontes|data=março de 2013}}


O pensador [[pós-moderno]] [[Werner Hamacher]] chega a defender a tese de que as consequências do terramoto se estenderam ao vocabulário da Filosofia, transtornando as metáforas da "fundamentação" e dos "fundamentos" das teorias filosóficas, mostrando como estes podem ser facilmente "abalados" pela incerteza: "Sob a impressão exercida pelo terramoto de Lisboa, que tocou a mentalidade europeia numa das suas épocas mais sensíveis, as metáforas da fundamentação ("ground" = chão, em inglês) e dos abalos perderam totalmente a sua inocência aparente; deixavam de ser meras figuras de estilo" (pág. 263). Hamacher defende mesmo que a certeza fundadora da filosofia de [[René Descartes|Descartes]] sofreu um considerável abalo após o terramoto.{{carece de fontes|data=março de 2013}}
O pensador [[pós-moderno]] [[Werner Hamacher]] chega a defender a tese de que as consequências do terremoto se estenderam ao vocabulário da Filosofia, transtornando as metáforas da "fundamentação" e dos "fundamentos" das teorias filosóficas, mostrando como estes podem ser facilmente "abalados" pela incerteza: "Sob a impressão exercida pelo terremoto de Lisboa, que tocou a mentalidade europeia numa das suas épocas mais sensíveis, as metáforas da fundamentação ("ground" = chão, em inglês) e dos abalos perderam totalmente a sua inocência aparente; deixavam de ser meras figuras de estilo" (pág. 263). Hamacher defende mesmo que a certeza fundadora da filosofia de [[René Descartes|Descartes]] sofreu um considerável abalo após o terremoto.{{carece de fontes|data=março de 2013}}


== O nascimento da sismologia ==
== O nascimento da sismologia ==
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As respostas estão ainda arquivadas na [[Torre do Tombo]]. Através das respostas do inquérito foi possível aos cientistas da actualidade recolherem dados fiáveis e reconstituírem o fenómeno numa [[método científico|perspectiva científica]]. O inquérito do Marquês do Pombal foi a primeira iniciativa de descrição objectiva no campo da [[sismologia]], razão pela qual é considerado um precursor da ciência da sismologia.{{carece de fontes|data=março de 2013}}
As respostas estão ainda arquivadas na [[Torre do Tombo]]. Através das respostas do inquérito foi possível aos cientistas da actualidade recolherem dados fiáveis e reconstituírem o fenómeno numa [[método científico|perspectiva científica]]. O inquérito do Marquês do Pombal foi a primeira iniciativa de descrição objectiva no campo da [[sismologia]], razão pela qual é considerado um precursor da ciência da sismologia.{{carece de fontes|data=março de 2013}}


As causas [[Geologia|geológicas]] do terramoto e da atividade sísmica na região de Lisboa são ainda causa de debate científico, existindo indícios geológicos da ocorrência de grandes abalos sísmicos com uma periodicidade de aproximadamente 300 anos. Lisboa encontra-se junto de uma [[falha tectónica]], mas a grande maioria dos sismos tão intensos como o terramoto de 1755 só acontece nas zonas de fronteira entre placas. Alguns geólogos portugueses avançaram a ideia de que o terramoto estaria relacionado com a [[zona de subducção]] do oceano Atlântico, entre as placas tectónicas euro-asiática e africana.{{carece de fontes|data=março de 2013}}
As causas [[Geologia|geológicas]] do terremoto e da atividade sísmica na região de Lisboa são ainda causa de debate científico, existindo indícios geológicos da ocorrência de grandes abalos sísmicos com uma periodicidade de aproximadamente 300 anos. Lisboa encontra-se junto de uma [[falha tectónica]], mas a grande maioria dos sismos tão intensos como o terremoto de 1755 só acontece nas zonas de fronteira entre placas. Alguns geólogos portugueses avançaram a ideia de que o terremoto estaria relacionado com a [[zona de subducção]] do oceano Atlântico, entre as placas tectónicas euro-asiática e africana.{{carece de fontes|data=março de 2013}}


==Na cultura popular==
==Na cultura popular==
O terramoto é um ponto fulcral na história do videojogo ''[[Assassin's Creed Rogue]]'' (2014). No enredo o terramoto é desencadeado quando um Pedaço do Eden está a ser interrompido no [[Convento do Carmo]].{{carece de fontes|data=março de 2013}}
O terremoto é um ponto fulcral na história do videojogo ''[[Assassin's Creed Rogue]]'' (2014). No enredo o terremoto é desencadeado quando um Pedaço do Eden está a ser interrompido no [[Convento do Carmo]].{{carece de fontes|data=março de 2013}}


== Ver também ==
== Ver também ==
* [[Lista de terramotos]]
* [[Lista de terramotos|Lista de terremotos]]
* [[Lista dos maiores desastres naturais]]
* [[Lista dos maiores desastres naturais]]
* [[Maremoto de 1755]]
* [[Maremoto de 1755]]
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{{commonscat|Lisbon earthquake of 1755}}
{{commonscat|Lisbon earthquake of 1755}}
* [http://einstein.fisica.ist.utl.pt/~sismo/Portugues/Tagusnet/sismo_1755.htm O sismo de 1755]
* [http://einstein.fisica.ist.utl.pt/~sismo/Portugues/Tagusnet/sismo_1755.htm O sismo de 1755]
* [http://observador.pt/especiais/terramoto-de-1755-a-tragedia-que-arrasou-lisboa-e-tambem-mudou-o-mundo/ Terramoto de 1755: a tragédia que arrasou Lisboa e também mudou o mundo, Observador, 20 Janeiro 2018]
* [http://observador.pt/especiais/terramoto-de-1755-a-tragedia-que-arrasou-lisboa-e-tambem-mudou-o-mundo/ terremoto de 1755: a tragédia que arrasou Lisboa e também mudou o mundo, Observador, 20 Janeiro 2018]
* [http://homepage.mac.com/ruitavares/.Pictures/aux/2-Lisboaa.gif Mapa da Baixa lisboeta antes e depois de 1755]
* [http://homepage.mac.com/ruitavares/.Pictures/aux/2-Lisboaa.gif Mapa da Baixa lisboeta antes e depois de 1755]
* [http://nisee.berkeley.edu/lisbon/ ''Historical Depictions of the 1755 Lisbon earthquake'']
* [http://nisee.berkeley.edu/lisbon/ ''Historical Depictions of the 1755 Lisbon earthquake'']

Edição das 18h53min de 22 de março de 2018

Predefinição:Info/Sismo

Gravura em cobre de 1755 mostrando Lisboa em chamas e o tsunami varrendo o porto.

O Sismo de 1755, também conhecido por Terremoto de 1755Predefinição:Nota de rodapé, ocorreu no dia 1 de novembro de 1755, resultando na destruição quase completa da cidade de Lisboa, especialmente na zona da Baixa, e atingindo ainda grande parte do litoral do Algarve e Setúbal. O sismo foi seguido de um maremoto - que se crê tenha atingido a altura de 20 metros - e de múltiplos incêndios, tendo feito certamente mais de 10 mil mortos (há quem aponte muitos mais)Predefinição:Nota de rodapé. Foi um dos sismos mais mortíferos da história, marcando o que alguns historiadores chamam a pré-história da Europa Moderna. Os sismólogos estimam que o sismo de 1755 atingiu magnitudes entre 8,7 a 9 na escala de Richter.

O terremoto de Lisboa teve um enorme impacto político e socioeconómico na sociedade portuguesa do século XVIII, dando origem aos primeiros estudos científicos do efeito de um sismo numa área alargada, marcando assim o nascimento da sismologia moderna. O acontecimento foi largamente discutido pelos filósofos iluministas, como Voltaire, inspirando desenvolvimentos significativos no domínio da teodiceia e da filosofia do sublime.

O terremoto

Alegoria ao terremoto de 1755

O terremoto fez-se sentir na manhã de 1 de Novembro de 1755 às 9:30[1] ou 9:40 da manhã,[2] dia que coincide com o feriado do Dia de Todos-os-Santos. A data contribuiu para um alto número de fatalidades, visto que ruas e igrejas estavam cheias de fiéis.[3]

O epicentro não é conhecido com precisão, havendo diversos sismólogos que propõem locais distanciados de centenas de quilómetros. No entanto, todos convergem para um epicentro no mar, entre 150 a 500 quilómetros a sudoeste de Lisboa. Devido a um forte sismo, ocorrido em 1969 no Banco de Gorringe, este local tem sido apontado como tendo forte probabilidade de aí se ter situado o epicentro em 1755. A magnitude pode ter atingido 9 na escala Richter.[1]

Relatos da época afirmam que os abalos foram sentidos, consoante o local, durante entre seis minutos a duas horas e meia, causando fissuras enormes de que ainda hoje há vestígios em Lisboa. O padre Manuel Portal é a mais rica e completa fonte sobre os efeitos do terremoto, tendo descrito, detalhadamente e na primeira pessoa, o decurso do terremoto e a vida lisboeta nos meses que se seguiram. A intensidade do terremoto em Lisboa e no cabo de São Vicente estima-se entre X-XI na escala de Mercalli.[4] Com os vários desmoronamentos os sobreviventes procuraram refúgio na zona portuária e assistiram ao recuo das águas, revelando o fundo do mar cheio de destroços de navios e cargas perdidas. Poucas dezenas de minutos depois, um tsunami, que atualmente se supõe ter atingido pelo menos seis metros de altura,[1] havendo relatos de ondas com mais de 10 metros, fez submergir o porto e o centro da cidade, tendo as águas penetrado cerca de 250 m.[4] Nas áreas que não foram afetadas pelo tsunami, o fogo logo alastrou-se, e os incêndios duraram pelo menos cinco dias. Todos tinham fugido e não havia quem o apagasse.[carece de fontes?]

Acerca do nível de destruição do terremoto, sem menção ao tsunami, e focando os incêndios, no Novo atlas para uso da mocidade portuguesa (1782), o tradutor corrige em nota o autor francês dizendo:

O Autor, mal informado do que aconteceu a esta capital no referido terremoto, asseverou que ela ficara inteiramente arrasada, quando é certo que em mais de duas partes ficou em pé, e que somente o incêndio, que lhe sobreveio, abrasou, e consumiu os edifícios, tesouros, móveis, riquezas, preciosidades, alfaias, etc. ficando unicamente as paredes. Porém, de tudo o mais raro, que se perdeu, foi a grande Livraria de Sua Majestade - rara pelos manuscritos e originais da Antiguidade que conservava - perda sem dúvida lamentável para os sábios.[5]

O tsunami

Ver artigo principal: Maremoto de 1755
Localização potencial do epicentro do terremoto de 1755 e tempos de chegada do tsunami, em horas após o sismo

Lisboa não foi a única cidade portuguesa afectada pela catástrofe. Todo o sul de Portugal, sobretudo o Algarve, foi atingido e a destruição foi generalizada. Além da destruição causada pelo sismo, o tsunami que se seguiu destruiu no Algarve fortalezas costeiras e habitações, registando-se ondas com até 30 metros de altura.[1] As ondas de choque do sismo foram sentidas por toda a Europa e norte da África. As cidades marroquinas de Fez e Meknès sofreram danos e perdas de vida consideráveis.[1] Os maremotos originados pela movimentação tectónica varreram locais desde do norte de África (como Safim e Agadir[4]) até ao norte da Europa, nomeadamente até à Finlândia (através de seichas[1]) e através do Atlântico, afectando os Açores e a Madeira e locais tão longínquos como Antígua, Martinica e Barbados.[1] Diversos locais em torno do golfo de Cádis foram inundados:[4] o nível das águas subiu repentinamente em Gibraltar e as ondas chegaram até Sevilha através do rio Guadalquivir, Cádis, Huelva e Ceuta.[1]

De uma população de 300 mil habitantes em Lisboa, crê-se que 90 mil morreram[1], 900 das quais vitimadas directamente pelo tsunami.[4] Outros 10 mil foram vitimados em Marrocos. Cerca de 85% das construções de Lisboa foram destruídas, incluindo palácios famosos e bibliotecas, conventos e igrejas, hospitais e todas as estruturas. Várias construções que sofreram poucos danos pelo terremoto foram destruídas pelo fogo que se seguiu ao abalo sísmico, causado por lareiras de cozinha, velas e mais tarde por saqueadores em pilhagens dos destroços.[1]

Na obra História Universal dos terremotos, de Joaquim José Moreira de Mendonça (1758),[6] que apresenta o primeiro balanço sistemático dos efeitos, refere-se que as águas alagaram o bairro de S. Paulo e que esse "espanto das águas" difundiu o perigo de que vinha o mar cobrindo tudo:

Havia muita gente buscado as margens do Tejo, por se livrarem dos edifícios, cheios de horror da vista das suas ruínas. Eis que de repente entra o mar pela barra com uma furiosa inundação de águas, que não fizeram igual estrago em Lisboa que em outras partes, pela distância que há de mais de duas léguas desta Cidade à foz do rio. Contudo, passando os seus antigos limites se lançou por cima de muitos edifícios e alagou o bairro de S. Paulo. Cresceu em todos os que haviam procurado as praias o espanto das águas, e o novo perigo se difundiu por toda a Cidade, e seus subúrbios, com uma voz vaga, que dizia que vinha o mar cobrindo tudo.

A recém-construída Casa da Ópera, inaugurada apenas seis meses antes, foi totalmente consumida pelo fogo. O Palácio Real, que se situava na margem do Tejo, onde hoje existe o Terreiro do Paço, foi destruído pelos abalos sísmicos e pelo tsunami. Dentro, na biblioteca, perderam-se 70 mil volumes e centenas de obras de arte, incluindo pinturas de Ticiano, Rubens e Correggio. O precioso Arquivo Real com documentos relativos à exploração oceânica e outros documentos antigos também foram perdidos. O terremoto causou ainda danos, ou chegou a destruir completamente, as maiores igrejas de Lisboa, especialmente a Sé de Lisboa, e as Basílicas de São Paulo, Santa Catarina, São Vicente de Fora e a da Misericórdia. As ruínas do Convento do Carmo ainda hoje podem ser visitadas no centro da cidade. O túmulo de Nuno Álvares Pereira, nesse convento, perdeu-se também. O Hospital Real de Todos os Santos foi consumido pelos fogos e centenas de pacientes morreram queimados. Registos históricos das viagens de Vasco da Gama e Cristóvão Colombo foram perdidos, e incontáveis construções foram arrasadas (incluindo muitos exemplares da arquitectura do período Manuelino em Portugal).[carece de fontes?]

Comparação com o Sismo de 1531

O Sismo de 1755 tendo apagado da memória o Sismo de Lisboa de 1531, não deixa de merecer que Joaquim José Moreira de Mendonça compare ambos na sua História Universal dos terremotos (1758) [6]:

Nem obsta dizer-se vulgarmente que o terremoto presente foi maior que o de 1531, por se verem arruinadas a Torre da Basílica de Stª Maria, e muitas igrejas, que naquele não caíram. A isto respondo que também neste ainda ficou sem ruína a outra Torre da mesma antiga Sé; e que as igrejas que caíram agora naquele tempo eram muito novas e ressentiram da mesma forma que ao presente sucedeu às duas Igrejas de S. Bento, à de Nª Srª das Necessidades, à do Menino Deus, à dos Paulistas e outras, com alguns palácios, e casas novas, que não padeceram ruína considerável. (páginas 55-56)

O dia seguinte

Ruínas do Convento do Carmo, Lisboa

A família real portuguesa escapou à catástrofe. O Rei D. José I e a corte tinham deixado a cidade depois de assistir a uma missa ao amanhecer, encontrando-se em Santa Maria de Belém, nos arredores de Lisboa, na altura do terremoto. A ausência do rei na capital deveu-se à vontade das princesas de passar o feriado fora da cidade. Depois da catástrofe, D. José I ganhou uma fobia a recintos fechados e viveu o resto da sua vida num complexo luxuoso de tendas no Alto da Ajuda, denominado como Real Barraca da Ajuda, em Lisboa.[carece de fontes?]

Tal como o rei, o Marquês de Pombal, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra e futuro primeiro-ministro, sobreviveu ao terremoto. Com o pragmatismo que caracterizou a sua futura governação, ordenou ao exército a imediata reconstrução de Lisboa. Conta-se que à pergunta "E agora?" respondeu "Enterram-se os mortos e cuidam-se os vivos" mas esse diálogo é provavelmente apócrifo.[carece de fontes?] A sua rápida resolução levou a organizar equipas de bombeiros para combater os incêndios e recolher os milhares de cadáveres para evitar epidemias.[carece de fontes?]

O ministro e o rei encomendaram aos arquitectos e engenheiros reais, e em menos de um ano depois do terremoto já não se encontravam em Lisboa ruínas e os trabalhos de reconstrução iam adiantados. O rei desejava uma cidade nova e ordenada e grandes praças e avenidas largas e rectilíneas marcaram a planta da nova cidade. Reza a lenda ter sido à época perguntado ao Marquês de Pombal para que serviam ruas tão largas, ao que este respondeu que um dia hão-de achá-las estreitas…. A maior parte da reconstrução foi paga com o ouro retirado da Capitania de Minas Gerais na colónia brasileira, que viu um aumento em seus impostos. Isso levou a uma alta insatisfação entre os habitantes, que eventualmente expulsaram a Companhia de Jesus e viram o arraial de Curvelo realizar duas inconfidências em protesto à coroa portuguesa.[3]

O novo centro da cidade, hoje conhecido por Baixa Pombalina é uma das zonas nobres da cidade. Serão dos primeiros edifícios mundiais a serem construídos com protecções à prova de sismos (anti-sísmicas),[carece de fontes?] que foram testadas em modelos de madeira, utilizando-se tropas a marchar para simular as vibrações sísmicas.[carece de fontes?]

Impacto na sociedade

“O dia primeiro do corrente ficará memorável a todos os séculos pelos terramotos e incêndios que arruinaram uma grande parte desta Cidade.”

— Gazeta de Lisboa, Novembro de 1755.

O terremoto de Lisboa abalou muito mais que a cidade e os seus edifícios. Lisboa era a capital de um país católico, com grande tradição de edificação de conventos e igrejas e empenhado na evangelização das suas colónias. O facto do terremoto ocorrer em dia santo e destruir várias igrejas importantes, dentro das quais muitos fieis reuniam-se para celebrar a data, levantou muitas questões religiosas por toda a Europa.[7] Para a mentalidade religiosa do século XVIII, foi uma manifestação da ira divina de difícil explicação.[carece de fontes?]

Na política, o terremoto foi também devastador. O ministro do Rei D.José I, o Marquês de Pombal era favorito do rei, mas não do agrado da alta nobreza, que competia pelo poder e favores do monarca. Depois do 1º de Novembro, a eficácia da resposta do Marquês do Pombal (cujo título lhe é atribuído em 1770) garante-lhe um maior poder e influência perante o rei, que também aproveita para reforçar o seu poder e consolidar o Absolutismo.[carece de fontes?]

Isto leva a um descontentamento da aristocracia que iria culminar na tentativa de regicídio e na subsequente eliminação dos Távoras. Para além do agravamento das tensões políticas em Portugal, a destruição da cidade de Lisboa frustrou muitas das ambições coloniais do Império Português de então.[carece de fontes?]

O terremoto e a filosofia iluminista

"Marquês de Pombal" e a cidade de Lisboa, de Louis-Michel van Loo (1707-1771) e Claude-Joseph Vernet (1714-1789), Museu da Cidade, Lisboa

O ano de 1755 insere-se numa era fulcral de uma grande transformação social: a Revolução Industrial, o Iluminismo, o Capitalismo lançam as bases de uma sociedade moderna em alguns países da Europa Ocidental. O terremoto influenciou de forma determinante muitos pensadores europeus do Iluminismo. Foram muitos os filósofos que fizeram menção ou aludiram ao terremoto nos seus escritos, dos quais se destaca Voltaire, no seu Candide e no Poème sur le désastre de Lisbonne ("Poema sobre o desastre de Lisboa"). A arbitrariedade da sobrevivência foi, provavelmente, o que mais marcou o autor, que satirizou a ideia, defendida por autores como Gottfried Wilhelm Leibniz e Alexander Pope, de que "este é o melhor dos mundos possíveis"; como escreveu Theodor Adorno, o terremoto de Lisboa foi suficiente para Voltaire refutar a teodiceia de Leibniz" (Negative Dialectics, 361). Mais tarde, no século XX, também citando Adorno, o terremoto passou a ser comparado ao Holocausto - uma catástrofe de tais dimensões que só poderia ter um impacto profundo e transformador na cultura e filosofia europeias. Esta interpretação de Theodor Adorno serve de ilustração à sua interpretação da história, que é bastante crítica da sociedade.[carece de fontes?]

Ruínas de Lisboa. Após o terremoto os sobreviventes viveram em tendas nos arredores da cidade, como ilustra esta gravura alemã de 1755.

O conceito do sublime, embora já tivesse sido formulado antes de 1755, foi desenvolvido na Filosofia e elevado a tema de maior importância por Immanuel Kant, em parte como resultado das suas tentativas para compreender a enormidade do terremoto de Lisboa e do tsunami. Kant publicou três textos distintos sobre o terremoto. O jovem Kant, fascinado com o fenómeno, reuniu toda a informação que conseguiu sobre o desastre, através de notícias impressas, servindo-se desses dados para formular uma teoria relacionada com a origem dos sismos. A teoria de Kant, que envolvia o deslocamento de enormes cavernas subterrâneas insufladas por gases a alta temperatura, foi, ainda que mais tarde se mostrasse falsa, uma das primeiras tentativas sistematizadas a tentar explicar os sismos através de causas naturais, em vez de causas sobrenaturais. De acordo com o filósofo marxista Walter Benjamin, o pequeno caderno de Kant sobre o assunto representa, provavelmente, o início da Geografia científica na Alemanha. O mesmo autor chega a afirmar: "E foi, certamente, o início da Sismologia" (frase essa que é mais controversa - talvez o início da Sismologia moderna tenha começado mesmo em Portugal com os estudos incentivados pelo Marquês de Pombal).[carece de fontes?]

O pensador pós-moderno Werner Hamacher chega a defender a tese de que as consequências do terremoto se estenderam ao vocabulário da Filosofia, transtornando as metáforas da "fundamentação" e dos "fundamentos" das teorias filosóficas, mostrando como estes podem ser facilmente "abalados" pela incerteza: "Sob a impressão exercida pelo terremoto de Lisboa, que tocou a mentalidade europeia numa das suas épocas mais sensíveis, as metáforas da fundamentação ("ground" = chão, em inglês) e dos abalos perderam totalmente a sua inocência aparente; deixavam de ser meras figuras de estilo" (pág. 263). Hamacher defende mesmo que a certeza fundadora da filosofia de Descartes sofreu um considerável abalo após o terremoto.[carece de fontes?]

O nascimento da sismologia

Gaiola pombalina, modelo da estrutura anti-sísmica desenvolvida na reconstrução da Baixa Pombalina
Ver artigo principal: Memórias Paroquiais de 1758

A competência do ministro não se limitou à acção de reconstrução da cidade. O Marquês do Pombal ordenou um inquérito, enviado a todas as paróquias do país para apurar a ocorrência e efeitos do sismo. O questionário incluía as seguintes questões:[carece de fontes?]

  • Quanto tempo durou o sismo?
  • Quantas réplicas se sentiram?
  • Que tipo de danos causou o sismo?
  • Os animais tiveram comportamento estranho?
  • Que aconteceu nos poços?

As respostas estão ainda arquivadas na Torre do Tombo. Através das respostas do inquérito foi possível aos cientistas da actualidade recolherem dados fiáveis e reconstituírem o fenómeno numa perspectiva científica. O inquérito do Marquês do Pombal foi a primeira iniciativa de descrição objectiva no campo da sismologia, razão pela qual é considerado um precursor da ciência da sismologia.[carece de fontes?]

As causas geológicas do terremoto e da atividade sísmica na região de Lisboa são ainda causa de debate científico, existindo indícios geológicos da ocorrência de grandes abalos sísmicos com uma periodicidade de aproximadamente 300 anos. Lisboa encontra-se junto de uma falha tectónica, mas a grande maioria dos sismos tão intensos como o terremoto de 1755 só acontece nas zonas de fronteira entre placas. Alguns geólogos portugueses avançaram a ideia de que o terremoto estaria relacionado com a zona de subducção do oceano Atlântico, entre as placas tectónicas euro-asiática e africana.[carece de fontes?]

Na cultura popular

O terremoto é um ponto fulcral na história do videojogo Assassin's Creed Rogue (2014). No enredo o terremoto é desencadeado quando um Pedaço do Eden está a ser interrompido no Convento do Carmo.[carece de fontes?]

Ver também

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Ligações externas

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Predefinição:História de Portugal 2

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  7. Menuhin, Yehudi; Davis, Curtis W. (1981). «A era do compositor». A música do homem 1ª ed. São Paulo: Martins Fontes/Editora Fundo Educativo Brasileiro. p. 155. 320 páginas 

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