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<small>''e não a tinta do bajulador."''</small><ref>{{citar livro|título=Historia de España en sus documentos: SIGLO XVII|ultimo=PLAJA|primeiro=Fernando Diaz|editora=Cátedra|ano=1987|local=Madrid|página=174-175|páginas=|acessodata=}}</ref> | <small>''e não a tinta do bajulador."''</small><ref>{{citar livro|título=Historia de España en sus documentos: SIGLO XVII|ultimo=PLAJA|primeiro=Fernando Diaz|editora=Cátedra|ano=1987|local=Madrid|página=174-175|páginas=|acessodata=}}</ref> | ||
== Política Externa == | == Política Externa == | ||
[[Ficheiro:Philip IV of Spain SM Maggiore.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|287x287px|'''Estátua de [[Filipe IV de Espanha|Filipe IV da Espanha]]''' [[Filipe IV de Espanha|(1692)]], segundo modelo de [[Gian Lorenzo Bernini|Bernini]]. Pórtico da [[Basílica de Santa Maria Maior|Basílica de Santa Maria Maggiore]] em [[Roma]].]]Filipe IV era | [[Ficheiro:Philip IV of Spain SM Maggiore.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|287x287px|'''Estátua de [[Filipe IV de Espanha|Filipe IV da Espanha]]''' [[Filipe IV de Espanha|(1692)]], segundo modelo de [[Gian Lorenzo Bernini|Bernini]]. Pórtico da [[Basílica de Santa Maria Maior|Basílica de Santa Maria Maggiore]] em [[Roma]].]]Filipe IV era muito comprometido em relação às políticas externas, de modo a transparecer por meio de sua decisões seu caráter como monarca respeitado e honrado. Seu governo externa era como um espelho das percepções, imagens mentais e ideias que prevaleceram durante sua época.<ref>{{citar periódico|ultimo=SCHUMACHER|primeiro=Ib Mark|data=2015|titulo=Felipe IV, su reputación y la política de la Monarquía Hispánica|url=https://www.raco.cat/index.php/Pedralbes/article/view/326444|jornal=Revista d-històrie moderna, Barcelona, v. 35|pagina=p.123|acessodata=29 out. 2019}}</ref> | ||
Tratando de sua reputação, pode-se dizer que foi muito estimado e respeitado por diversos outros monarcas da Europa, visto como uma autoridade digna de prestígio. Como garantia de seu poderio, possuía os elementos principais da honra: boa posição social, linhagem aristocrática de valor e a fé católica. | Tratando de sua reputação, pode-se dizer que foi muito estimado e respeitado por diversos outros monarcas da Europa, visto como uma autoridade digna de prestígio. Como garantia de seu poderio, possuía os elementos principais da honra: boa posição social, linhagem aristocrática de valor e a fé católica. |
Edição das 04h01min de 3 de dezembro de 2019
Filipe IV (Valladoid, 8 de Abril de 1605 – Madrid, 17 de Setembro de 1665), também chamado de “O Grande”, foi rei da Espanha, Portugal e Holanda espanhola (esses dois últimos sob o título de Filipe III). Subiu ao trono em 1621[1] e reinou na Espanha até 1640. É lembrado pelo seu grande patrocínio às artes e pelo seu domínio sobre a Espanha durante a Guerra dos Trinta Anos.
Apesar do Império Espanhol ter alcançado aproximadamente 12,2 milhões de quilômetros quadrados de área na época de seu falecimento, o reino estava em declínio em outros aspectos, reflexo das inúmeras reformas fracassadas das políticas Filipinas.
Vida
FIlipe IV nasceu no Palácio Real de Valladolid em 8 de abril de 1605 como o filho mais velho de Filipe III e sua esposa, Margarida da Áustria. Aos 10 anos, casou-se com Elisabeth da França, de 13 anos, e teve sete filhos com ela. Entretanto, o único homem, Baltasar Carlos, morreu aos 16 anos, em 1646.
Após a morte de sua primeira esposa, casou-se novamente com Marianna da Áustria, a fim de fortalecer as relações com os Habsburgo, na Áustria.[2] Em seu segundo casamento, teve cinco filhos, porém apenas dois deles - Margarita Teresa e o futuro Carlos II da Espanha - atingiram a idade adulta.
Apesar de ter sido retratado durante muito tempo pela História como um monarca fraco, que dominava uma corte barroca debochada e delegava excessivas atribuições a seus ministros[3], os historiadores, a partir do século XX, passaram a considerá-lo mais enérgico - tanto física quanto mentalmente - do que seu pai.[4] Felipe IV era um bom cavaleiro, um caçador afiado e um devoto das touradas.[5] Em particular, parecia ter uma personalidade mais leve. Quando era mais jovem, dizia-se que ele possuía um senso de humor agudo e um "grande senso de diversão".[6] Ele frequentou academias particulares em Madri durante todo o seu reinado - eram salões literários alegres que tinham por objetivo analisar literatura e poesia contemporâneas com um toque humorístico.[7] Apaixonado por teatro, às vezes era criticado pelos contemporâneos por seu amor a esses entretenimentos "frívolos".[8]
Outros contemporâneos capturaram sua personalidade privada como "naturalmente gentil e afável".[9] Aqueles próximos a ele alegaram que era academicamente competente, com uma boa noção de latim e geografia, além de saber falar bem francês, português e italiano.[10] Como muitos na sua época, Felipe IV tinha um grande interesse em astrologia.[11] Sua tradução manuscrita dos textos de Francesco Guicciardini sobre história política ainda existe.
O monarca teve inúmeras amantes, principalmente atrizes.[12] A mais famosa delas foi María Inés Calderón (La Calderona),[13] com quem teve um filho em 1629, João José, criado como príncipe real.[14] No final do reinado e com a saúde de Carlos José em dúvida, havia uma possibilidade real de que seu filho bastardo visse a reivindicar o trono, o que contribuiu para a instabilidade dos anos da regência.
Política Interna
Filipe IV assumiu o trono espanhol aos 16 anos, após o falecimento de seu pai, Filipe III, em 1621. Inicialmente, seu reinado foi celebrado[1] devido à troca de monarcas, uma vez que seu pai havia sido reconhecido por permitir que Francisco de Sandoval, o futuro duque de Lerna, exercesse grande influência sobre o reino por conta da amizade existente entre eles, sendo considerado um favorito do rei.[15]
Essa forma de governar utilizada por Filipe III tornou-o cada vez mais impopular, uma vez que ia contra a crença popular de que um rei não deveria governar através de outros[16] e acarretou no governo espanhol beneficiando inúmeros nobres, servos e familiares de Lerna em detrimento das outras regiões o que indica um certo favoritismo por parte do monarca. Estes tinham enorme prestígio dentro da Corte como conselheiros, o que tornava o rei propenso a fazer política conforme os interesses daqueles que o influenciavam.[17]
Além disso, o governo de Filipe III foi marcado pela corrupção e enriquecimento do duque de Lerna e aqueles que lhe eram próximos e o reino enfrentava uma série de problemas econômicos, já que uma colheita ruim, a fome e a peste bubônica chegaram a matar 10% da população.[18] Dessa forma, foi preciso que as Cortes lhe fornecessem recursos para manter a monarquia.
O governo de Filipe IV, por sua vez, iniciou uma reforma administrativa ao remover os últimos membros da família Lerna Sandoval, reestruturar o Conselho da Fazenda e reduzir o conselho do rei em apenas quatro conselheiros.[19]
Segundo o conde Olivares, primeiro ministro de Filipe IV, embora fosse interessante que o monarca fosse amado por seus vassalos, ele não devia conceder benefícios a eles de modo a desfalcar o Tesouro Real, já que o reino se encontrava em situação financeira delicada por conta de governos anteriores. Além disso, o rei deveria ater-se a conquistar reinos estrangeiros.[20] De acordo com suas palavras, o monarca era o principal apoiador e defensor da Igreja Católica em toda a Europa.[21]
Pouco tempo depois de assumir o trono, as primeiras reformas socioeconômicas de Filipe IV foram postas em prática. Leis contra o luxo foram criadas e a justiça passou a ser regulada.[22] Como o Tesouro espanhol encontrava-se bastante reduzido, em razão da expulsão dos mouros, o conde Olivares passou a buscar novas formas de diminuir custos de modo a promover uma economia de gastos no reino. Sendo assim, Olivares propôs a realização de um inventário dos bens pertencentes à Coroa para que fosse possível conseguir recursos com a disposição deles.[23]
Em 1625, o conde Olivares propôs ao rei a unificação total da Espanha, de modo a aumentar de forma exponencial seu poder econômico e político. Tal manobra tinha a intenção de, nas palavras do autor, “ressuscitar a Monarquia de V. M.”[24]
O estado decadente da monarquia espanhola despertava as palavras dos intelectuais que, em prosa e verso, criticavam a forma de governo de Filipe IV. Um exemplo são os versos de Quevedo, que foram mantidos em San Marcos de León:
"[...] Para cem reis, a Espanha nunca
pagou as quantias que o seu reinado.
E o povo de luto desconfia que lança gabela na respiração.
Embora os imensos frutos do céu o enviem,
ele enfurece nossa fome como estéril.
[...] Veja que os pobres, sozinhos e ocultos,
silenciosamente o invocam com mil gritos.
Um ministro da paz come gajes
mais do que na guerra, pode gastar dez linhagens.
Mas, como existem despesas na Itália e na Flandres,
cessam os supérfluos e os grandes agregados familiares,
e não com o sangue de mim e de meus filhos,
os lagos abundam de alegria.
Quadrados de madeira custam milhões,
removendo vigas e tábuas dos templos.
Os palácios crescem, cem em cada um
e o grande San Isidro, nem eremitério nem enterro.
Quem o escreve com sangue inimigo na lança.
Por mérito próprio, vem o esplendor colina,
para a guerra finge elogios,
e não a tinta do bajulador."[25]
Política Externa
Filipe IV era muito comprometido em relação às políticas externas, de modo a transparecer por meio de sua decisões seu caráter como monarca respeitado e honrado. Seu governo externa era como um espelho das percepções, imagens mentais e ideias que prevaleceram durante sua época.[26]
Tratando de sua reputação, pode-se dizer que foi muito estimado e respeitado por diversos outros monarcas da Europa, visto como uma autoridade digna de prestígio. Como garantia de seu poderio, possuía os elementos principais da honra: boa posição social, linhagem aristocrática de valor e a fé católica.
A própria história ilustra o peso da figura de Filipe IV como um imponente católico e descendente de uma linhagem de importantes reis, uma vez que, os mais destacados são aqueles que são considerados os mais prestigiados, gloriosos e dignos de terem suas vidas documentadas.[27] Filipe IV sabia a importância de sua imagem mais que seus próprios ministros, por isso, em 1661, encomendou ao jurista Francisco Ramos Del Manzano uma história de seu reinado para defender "a reputação das nações e vassalos das minhas coroas[...]"[28]. Desta forma, vale refletir sobre os feitos da Coroa hispânica, que em sua maioria eram intencionados para manter a reputação do reinado.
A Coroa de Madri oferecia às Províncias Unidas apenas o território mais interessante e que mais lucrava das colônias portuguesas, o Brasil. Caso a aliança se consolidasse, a recuperação de Portugal não tinha absolutamente nenhum interesse econômico. Na Coroa de Castela havia um interesse econômico notável em claro conflito com a união castelhano-portuguesa[28]
Guerra dos 30 anos
Filipe IV reinou durante a maior parte da Guerra dos Trinta Anos. O monarca foi convencido por Baltazar de Zúñiga a intervir militarmente na Boêmia junto ao imperador Fernando II. Feito isso, foi convencido, também, a promover uma política externa mais agressiva na Espanha e aliar-se ao Sacro Império Romano de forma a renovar as hostilidades com os holandeses em 1621 e forçá-los à negociação de um acordo de paz que beneficiasse a Espanha.[29]
Apesar dessa mudança na política de Filipe IV, suas atitudes não eram ao todo belicosas. O rei parecia genuinamente entristecido pelo fato de que o povo de Castela teve que pagar em sangue seu apoio às guerras durante os reinados anteriores.[30]
Embora custosa aos bolsos espanhóis, a guerra travada contra os holandeses havia rendido bons frutos, dentre eles a retomada da cidade-chave de Breda em 1624. Entretanto, no fim da década de 1620, Filipe se viu obrigado a priorizar a guerra nos Flandres em detrimento da Guerra de Sucessão de Mantuan (1628-1631) em apoio à França.
O aumento das tensões com a França tornou a guerra contra este aliado cada vez mais inevitável. Apesar de ter se mostrado forte durante os primeiros anos da guerra hispano francesa (1635), a partir de 1640, a Espanha sofreu com conflitos internos relacionados aos custos da guerra contra os franceses.[31]
Para que pudesse haver uma contenção de gastos, Filipe IV cortou os recursos destinados à guerra dos Flandres para que a guerra hispano-francesa tivesse prioridade em seu reinado, e pouco depois, acabou por dar ordens aos seus embaixadores para buscarem um tratado de paz entre as Coroas.[32]
Apesar de ter conseguido um tratado de paz - a Paz de Vestfáslia - para resolver os conflitos com Holanda e Alemanha, a guerra contra a França se arrastou. Filipe manteve-se firme em sua luta ao notar sinais de fraqueza por parte da Coroa francesa por conta das rebeliões de Fronda de 1648, e responsabilizou-se por promover uma ofensiva que lhe garantisse a vitória sobre os franceses.[33]
Todavia, esta vitória nunca surgiu, e em 1658, o monarca espanhol estava pronto para assinar um acordo de paz. Em 1659 foi assinado o Tratado dos Pirenéus, que estabelecia, dentre outras coisas, o casamento da filha de FIlipe IV, Maria Teresa, com o jovem Luís XIV[34], finalmente encerrando este episódio da História.
Guerra da Restauração
Em 1640, uma conspiração liderada pela nobreza proclamou o Duque de Bragança como rei João IV de Portugal, derrubando o governo de Filipe IV em Lisboa e dando início à Guerra de Restauração. O início da guerra foi complicado para D. Filipe, tendo que lidar não só com Portugal, como também com as revoltas na Catalunha.[35]
Em 1659, Filipe IV assinou o Tratado dos Pirinéus, concentrando os recursos da monarquia hispânica em reconquistar o território rebelde. Nesse momento a Espanha estava em paz com a França, Inglaterra e os Países Baixos, restando apenas o conflito com Portugal. Dessa forma, muitas medidas foram tomadas, como o aumento de impostos, a desvalorização da moeda e as transferências de tropas de Flandres e Itália para a fronteira com Portugal. Ainda assim, Portugal conseguiu vencer a Guerra, com cinco grandes vitórias contra os espanhóis: Batalha de Montijo (1644), Batalha das Linhas de Elvas (1659), Batalha de Ameixial (1663), Batalha de Castelo Rodrigo (1664) e Batalha de Montes Claros (1665).[36]
Filipe IV e o Brasil
A ligação entre o Brasil e a Coroa Espanhola, assim como a monarquia de Filipe IV, estabeleceu-se de forma sutil e secundária. A “marginalidade” atribuída à área se expressou nos escritos dos próprios moradores brasileiros entre os séculos XVI e XVII quando mencionaram a falta de ajuda da coroa da Espanha, assim como a ausência de registros das atividades que foram desenvolvidas ali na América e a curta menção do território nos documentos que relacionavam o peso da monarquia de Filipe no resto do mundo.[37] Para além disso, o testamento de seu pai, Filipe III, não contava com as terras brasileiras em seu domínio. Inclusive, era compreendido pela Coroa portuguesa e por aqueles que realizavam a ocupação das terras que, antes e durante o domínio Habsburgo, o Brasil era pouco importante.
O processo de expansão iniciado a partir de 1560 se estendeu até a segunda década do século XVII com a expulsão dos holandeses, em decorrência de inúmeros conflitos como a famosa Batalha de Guararapes e com a derrota dos grupos indígenas que resistiram.[38]
Como herança do governo de Filipe IV, em comparação aos anteriores, obteve-se o domínio de boa parte da faixa litorânea brasileira, ou seja, as terras desde a capitania de São Vicente no Sul até a capitania do Pará no Norte; dobrou-se o número de centros urbanos; houve significativo crescimento dos engenhos de cana-de-açúcar e por fim, a facilidade inicial em obter terras e escravos indígenas, coisa que, posteriormente, se complicara devido a necessidade de substituir a mão de obra indígena pela negra, que era mais lucrativa.
A fase de combate contra os holandeses, a intensificação do tráfico de escravos da África e o acirramento da carga fiscal são exemplos de situações que contribuíram para o fim da prosperidade espanhola vivenciada pouco antes da Guerra dos Trinta Anos.[39]
Filipe IV e a Religião Católica
A religião católica e seus rituais tiveram um papel importante na vida de Filipe, especialmente no final de seu reinado. O monarca fez devoções especiais à uma pintura da Nossa Senhora dos Milagres, também tinha um grande padrão feito com a imagem da pintura de um lado e o brasão real do outro, trazido em procissões todos os anos em 12 de julho. Além de marcar uma forte crença religiosa pessoal, esse vínculo cada vez mais visível entre a Coroa, a Igreja e símbolos nacionais, como a Virgem dos Milagres, representava um pilar fundamental de apoio a Filipe como rei. [40]
Os monarcas católicos durante o período também tiveram um papel fundamental no processo de canonização e puderam utilizá-lo para efeito político. Internacionalmente, era importante que o prestígio espanhol recebesse pelo menos uma parte proporcional e idealmente maior de novos santos do que outros reinos católicos, então Filipe IV patrocinou diversos textos e livros para apoiar os candidatos da Espanha, particularmente em concorrência com a França católica. [41]
Especialmente entre os anos de 1643 e 1665, Filipe voltou-se para uma figura feminina bem estabelecida, a irmã Maria de Ágreda, uma superiora de convento conhecida por seus escritos religiosos. [42], tornando-se, segundo relatos, uma conselheira do rei nos assuntos políticos [43]. Manteve, também, correspondência com outros membros da família real, como Isabel de Borbón, Baltasar Carlos, Mariana de Áustria, João José, bem como membros da elite e da nobreza. [43]
A relação entre o rei e sua conselheira deu origem a mais de seiscentas cartas trocadas entre eles sendo um corpus documental de grande importância para a compreensão da política espanhola durante o século XVII [44]. As cartas contemplavam conteúdos importantes, como a exposição dos pensamentos do monarca sobre a política interna e externa do reino, e expunham uma reflexão das virtudes de um príncipe, e a concepção de governo de Estado, assim, como as relações com seus ministros, conselheiros e mesmo com seus súditos. [44] O monarca relatava o comportamento do reino frente às potências europeias nos tempos de paz e de guerra, bem como sua confiança na vontade divina, que sustentava a monarquia hispânica, conforme o providencialismo. Acredita-se que o monarca esteve envolvido em proteger Maria de Ágreda da investigação da Inquisição de 1650. [45]
Patrono das Artes
Filipe IV é lembrado pelo entusiasmo com o qual colecionou obras de arte [46] e pelo seu amor ao teatro. [8] No meio dramático, o monarca favoreceu dramaturgos ilustres, tendo sido creditado na composição de várias comédias. [47]
Também tornou-se reconhecido pelo seu patrocínio a vários outros pintores de destaque, incluindo Diego Velázquez, Eugenio Cajés, Vicente Carducho, Gonzales e Nardi. O monarca obteve pinturas de toda a Europa, especialmente da Itália, acumulando mais de 4.000 itens na época de sua morte. Alguns denominaram esse conjunto incomparável de 'mega-coleção'. [48]
Filipe IV foi apelidado de "el Rey Planeta" [47] por seus contemporâneos, e grande parte da arte e exibição em sua corte foram interpretadas como uma necessidade do rei de projetar seu poder e autoridade, tanto sobre os espanhóis quanto sobre os estrangeiros.[49] Algumas interpretações historiográficas antigas consideravam a corte de Filipe IV completamente decadente, mas a arte e o simbolismo do período certamente não refletiam a ameaça deste declínio do poder espanhol. [50]
O monarca também investiu em um novo palácio como segunda residência e local de lazer, que foi nomeado como Bom Retiro. Por intermédio de Olivares, as construções foram iniciadas em 1630 em Madri, segundo o projeto do arquiteto Alonso Carbonell. O espaço, concluído em 1640, incluía seu próprio teatro, salão de baile, galerias, praça de touros, jardins e lagos artificiais [47] e tornou-se o centro de artistas e dramaturgos de toda a Europa. Foi construído durante um período difícil do reinado de Filipe IV, pois dado o custo da construção, em um período de severas economias em tempo de guerra, houveram diversos protestos que representavam um público descontente. [51] É considerado uma parte importante da tentativa de comunicar grandeza e autoridade reais.
Velázquez e os retratos do Rei
O século de Ouro espanhol foi assim chamado em função do destaque que as Artes tiveram neste período, em contrapartida com os embates políticos que o reino espanhol enfrentava.[52] Um dos motivos pelo qual Filipe foi retratado foi para ser eternizado na memória e localizado no tempo.[53]
Um importante artista do período foi Diego Velázquez, admitido como pintor oficial da corte através de um concurso realizado em 1624. Destacou-se na elaboração de retratos de Filipe IV ao longo de seu reinado, além de pinturas da família real, bobos da corte, oficiais, etc.[54]
Muitos dos retratos de Filipe IV foram pintados por Velázquez durante o período da Guerra dos 30 Anos e tinham como objetivo exaltar o poder do rei. Essas pinturas eram expostas em locais onde muitas pessoas pudessem vê-las, pois a imagem do rei era importante para os súditos.[55]
A etiqueta e as roupas utilizadas pelo Rei eram de grande importância para a sociedade de corte do século XVII, pois sua imagem possuía um caráter divino e influenciava na forma como o povo o via. A imagem passada pelos retratos de Velázquez podem ser consideradas uma estratégia de manutenção do poder.[56]
Analisar a seqüência cronológica de alguns retratos permite refletir sobre a noção de tempo na sociedade espanhola do século XVII.[57]
Um dos primeiros retratos feitos por Velázquez mostram Filipe de forma imponente, mas não relaciona a imagem do rei à guerra. Apesar de ainda ser jovem e aparentemente discreto, colocá-lo em um ambiente que remete ao conhecimento gerava a ideia de experiência do monarca, pois antes de tudo o rei devia saber governar.[58]
Posteriormente, nota-se a presença de retratos do rei em roupas de guerra, que demonstram um caráter mais ativo de Filipe IV. Em meio a Guerra dos 30 Anos, retratar o monarca de forma imponente servia para disseminar a ideia de que seu reinado ainda era forte, incentivando os demais “espanhóis” e mascarando a crise pela qual a monarquia passava[59].
Nos retratos posteriores, onde o rei já demonstra uma idade mais avançada é possível perceber uma mudança nas feições do rosto, parecendo mais melancólicas, calvo e cansado, até mesmo as cores se tornam mais apagadas e menos vivazes.[60]
Há hipóteses que relacionam sua face cansada as derrotas militares para a França e o fato de que ofereceria sua filha em casamento a um francês, que apesar de seu sobrinho ainda era um rival. Maria Teresa, uma vez casada, dificilmente voltaria a ver o pai. O semblante melancólico do rei pode refletir tanto derrotas políticas e a crise econômica, quanto a apreensão a respeito deste problema “familiar” da perda da filha.[61]
Ancestrais
Os casamentos reais são considerados importantes estratégias políticas por propiciar, por exemplo, a união de coroas, tréguas de paz e alianças comerciais. Por essa razão, é importante conhecermos a ancestralidade de um monarca, assim como seus casamentos e sua descendência devido a possíveis dinâmicas estabelecidas pelos acordos matrimoniais.
Filipe IV da Espanha | Pai: | Avô paterno: | Bisavô paterno: |
Bisavó paterna:
Isabella de Portugal | |||
Avó paterna:
Ana da Áustria |
Bisavô paterno: | ||
Bisavó paterna: | |||
Mãe: | Avô materno: | Avô materno: | |
Bisavó materna:
Anna Jagellone | |||
Avó materna: | Avô materno: | ||
Bisavó materna: |
Casamentos e descendência
Casou em Burgos, em 18 de outubro de 1615, com Isabel de Bourbon, filha da França, irmã de Luís XIII e filha de Henrique de Navarra e Maria de Médicis. Tiveram seis filhas e dois filhos:
- Maria Margarida de Áustria (14 de Agosto de 1621 - 15 de Agosto de 1621)
- Margarida Maria Catarina de Áustria (25 de Novembro de 1623 - 22 de Dezembro de 1623)
- Maria Eugênia de Áustria (21 de Novembro de 1625 - 21 de Julho de 1627)
- Isabel Maria Teresa de Áustria (31 de Outubro de 1627 - 1 de Novembro de 1627)
- Baltasar Carlos de Áustria, Príncipe das Astúrias (17 de Outubro de 1629 - 9 de Março de 1646)
- Francisco Fernando de Áustria (12 de Março de 1634 - 12 de Março de 1634)
- Maria Ana Antônia de Áustria (17 de Janeiro de 1636 - 5 de Dezembro de 1636)
- Maria Teresa de Áustria (20 de Setembro de 1638 - 30 de Julho de 1683), casada com Luís XIV, rei de França
Casou-se pela segunda vez, em Navalcarnero no outono de 1649, com sua sobrinha Mariana de Áustria, filha do Imperador do Sacro Império Fernando III e da Infanta Maria Ana de Áustria, sua irmã. Tinha sido noiva de seu filho o infante Baltasar Carlos. Tiveram cinco filhos dos quais três homens:
- Margarida Teresa de Áustria (12 de julho de 1651 - 12 de março de 1673)
- Maria Ambrósia da Conceição de Áustria (7 de dezembro de 1655 - 21 de dezembro de 1655)
- Filipe Próspero de Áustria, Príncipe das Astúrias (28 de novembro de 1657 - 1 de novembro de 1661)
- Tomás de Áustria (23 de dezembro de 1658 - 22 de outubro de 1659)
- Carlos II de Espanha (6 de novembro de 1661 - 1 de novembro de 1700)
Filhos bastardos:
- Fernando Francisco Isidro de Áustria (1621-1629) com a jovem filha do Conde de Chirel, que o rei enviara à Itália.
- D. Ana Margarida de São José, encerrada em convento agostiniano, o mosteiro da Encarnação, do qual foi superiora e onde morreu aos 22 anos.
- D. João José de Áustria.
- Alonso Antonio de San Martin, Bispo de Oviedo, filho de uma dama da rainha, Tomasa Aldama.
- Juan Cosío, religioso agostiniano;
- Margarida de São José, (morta em 1682), descalça carmelita, superiora do Real Mosteiro da Encarnação .
- D. Alfonso Henriques de Santo Tomás (1633-30 de julho de 1692) dominicano que chegou a Bispo de Malaga e Inquisidor Geral da Espanha;
- D. Hernando Gonzalez Baldez (morto em 6 de fevereiro de 1702) Governador de Novara, General de Artilharia do Estado de Milão.
- Juan del Sacramento, pregador da Ordem de Santo Agostinho.
- D. Carlos Fernando Valdés ou de Áustria, governador da Navarra.
- D. Ana Maria, também filha da atriz Maria Calderón.
Cronologia
Eventos importantes durante o reinado de Filipe IV [62]
1621. Morte de Filipe III e iniciou das reformas administrativas em Março.
Fim da trégua com a Holanda em Agosto.
1622. As reformas continuaram.
Vitória de Wimpfen em Maio e Fleurs em Agosto.
1624. Olivares propõe a unificação política da Espanha.
1625. Os holandeses tomam a Bahia.
1635. Declaração de guerra do rei da França em Junho.
1639. Os franceses invadem a Catalunha em Junho.
1640. Rebelião da Catalunha em Junho.
Rebelião de Portugal em Dezembro.
Aliança do rei da França com os catalães em Dezembro.
1641. Conjuração separatista na Andaluzia.
1643. Queda do Conde Olivares em Janeiro.
1647. Rebelião em Nápoles em Julho.
Nápoles pede ajuda ao rei da França em Outubro.
1648. Paz com a Holanda/Munster em Janeiro.
1657. Grã-Bretanha e França se unem contra a Espanha em Maio.
1659. Paz dos Pirinéus em Novembro.
1660. Casamento de Luís XIV e Maria Teresa da Áustria.
1665. Morte de Filipe IV em Setembro.
Filmografia
Assim como os retratos durante a Idade Moderna, as produções audiovisuais como novelas, séries e filmes são essenciais para reproduzir e projetar a imagem que temos sobre importantes eventos, como Guerras, e figuras públicas, como os reis. A televisão e o cinema espanhóis aproveitam-se da popularidade de Filipe IV para retomar narrativas consagradas ou elaborar novas.
Televisão
Ano | Serie | Canal | Ator | Pais de origem |
---|---|---|---|---|
2004 | Memoria de España | TVE | Espanha | |
2009-2016 | Águila Roja | TVE | Xabier Elorriaga | Espanha |
2015- | Las aventuras del capitán Alatriste | TeleCinco | Daniel Alonso | Espanha |
Cinema
Ano | Filme | Ator | Pais de origem |
---|---|---|---|
1954 | La moza del cántaro | Ismael Merlo | Espanha |
1991 | El rey pasmado | Gabino Diego | Espanha |
2006 | Alatriste | Simón Cohen | Espanha |
2011 | Águila Roja: la película | Xabier Elorriaga |
Espanha |
Referências
- ↑ 1,0 1,1 PLAJA, Fernando Diaz (1987). Historia de España en sus documentos: SIGLO XVII. Madrid: Cátedra. p. p. 83-84
- ↑ ANDERSON, M.S. (1988). War and Society in Europe of the Old Regime, 1618–1789. London: Fontana
- ↑ DARBY, Graham (1994). Spain in the Seventeenth Century. [S.l.]: Longman
- ↑ GARDINER, France (2004). Davenport, European Treaties Bearing on the History of the United States and Its Dependencies. Unieted States: The Lawbook Exchange, Ltd
- ↑ GARDINER, France (2004). Davenport, European Treaties Bearing on the History of the United States and Its Dependencies. United States: The Lawbook Exchange, Ltd
- ↑ ELLIOT, J. H. (1991). Richelieu and Olivares. United Kingdom: Cambridge University Press
- ↑ ARMESTO, Filippe Fernándo (2000). The Improbable Empire, in: Raymond Carr (ed.). Spain: A History. United Kingdom: Oxford University Press
- ↑ 8,0 8,1 GOODMAN, David (2002). Spanish Naval Power, 1589–1665: Reconstruction and Defeat. Cambrige: Cambridge University Press
- ↑ GOODMAN, Eleanor (2005). Conspicuous In Her Absence: Mariana of Austria, Juan José of Austria, and the Representation of Her Power, in: Theresa Earenfight (ed.), Queenship and Political Power in Medieval and Early Modern Spain. Aldershot: Ashgate
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Ver também
- Guerra da Restauração
- Guerra dos 30 anos
- Diego Velázquez
- Conde Olivares
- Árvore genealógica dos reis de Portugal
Filipe IV de Espanha & III de Portugal Casa de Habsburgo 8 de abril de 1605 – 17 de setembro de 1665 | ||
---|---|---|
Precedido por Filipe III & II |
Rei da Espanha, Nápoles, Sardenha e Sicília 31 de março de 1621 – 17 de setembro de 1665 |
Sucedido por Carlos II |
Rei de Portugal e Algarves 31 de março de 1621 – 1 de dezembro de 1640 |
Sucedido por João IV |