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| imagem = Sebastião de Portugal, c. 1571-1574 - Cristóvão de Morais. | | imagem = Sebastião de Portugal, c. 1571-1574 - Cristóvão de Morais (Google Art Project).jpg | ||
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'''Sebastião''' ([[Lisboa]], 20 de janeiro de 1554 – [[Alcácer-Quibir]], 4 de agosto de 1578), apelidado de "o Desejado" e "o Adormecido", foi o [[Lista de monarcas de Portugal|Rei de Portugal e dos Algarves]] de 1557 até | '''Sebastião I''' ([[Lisboa]], 20 de janeiro de 1554 – [[Alcácer Quibir|Alcácer-Quibir]], 4 de agosto de 1578), apelidado de "o Desejado" e "o Adormecido", foi o [[Lista de monarcas de Portugal|Rei de Portugal e dos Algarves]] de 1557 até 1578. Era filho de [[João Manuel, Príncipe de Portugal]] e [[Joana de Áustria, Princesa de Portugal|Joana da Áustria]]. Ascendeu ao trono muito jovem, aos três anos, após a morte de seu avô o rei [[João III de Portugal|João III]], sendo instaurada uma regência durante a sua menoridade, primeiro por sua avó a rainha [[Catarina de Áustria|Catarina da Áustria]] e depois por seu tio-avô o cardeal [[Henrique I de Portugal|Henrique de Portugal]]. | ||
Sebastião assumiu o governo aos catorze anos de idade no ano de | Muitas teorias da conspiração surgem á volta de D. Sebastião I em relação á sua morte, algumas teorias mais controversas acreditam que o mesmo não morreu durante a batalha, mas foi raptado por uma tribo e apenas veio a falecer 3 anos após a batalha a 22 de setembro de 1581 em [[Alcácer Quibir|Alcácer-Quibir]]. | ||
Sebastião assumiu o governo aos catorze anos de idade no ano de 1568, manifestando grande fervor religioso e militar. Solicitado a cessar as ameaças às costas portuguesas e motivado a reviver as glórias da chamada [[Reconquista]], decidiu montar um esforço militar em Marrocos, planeando uma [[cruzadas|cruzada]], após [[Mulei Mohammed]] ter solicitado a sua ajuda para recuperar o trono. A derrota na [[Batalha de Alcácer-Quibir]] em 1578 levou à morte de Sebastião em combate e da nata da nobreza, iniciando a [[crise dinástica de 1580|crise ao trono de 1580]] que levou à perda da independência para a [[Império Espanhol|Espanha]] com a União Ibérica, e ao nascimento da lenda de que numa manhã de nevoeiro [[Sebastianismo|D. Sebastião]] voltaria à pátria.<ref>[http://www.arqnet.pt/portal/portugal/temashistoria/sebastiao.html D. Sebastião] em [http://www.arqnet.pt/ O Portal da História]</ref><ref>[http://biblioteca.esec.pt/cdi/ebooks/docentes/A_Luis_SILVA/Imagens%20de%20D%20Sebasti%C3%A3o%20no%20Portugal%20Contempor%C3%A2neo.pdf IMAGENS DE D. SEBASTIÃO NO PORTUGAL CONTEMPORÂNEO] - ebook de António Coelho e Silva in [http://biblioteca.esec.pt/Opac/Pages/Help/Start.aspx Biblo.net]</ref><ref>[https://arquivos.rtp.pt/conteudos/sebastianismo/#sthash.9s05mHZS.dpbs Sebastianismo] – programa da [[RTP]] de [[José Hermano Saraiva]] sobre o sebastianismo</ref> | |||
== Nascimento == | == Nascimento == | ||
[[Imagem:D. Sebastião recém-nascido, in Sentenças para a Ensinança e Doutrina do Príncipe (1554) - possivelmente por António ou Francisco de Holanda.png|left|thumb|225px|Iluminura de D. Sebastião recém-nascido, na obra ''Sentenças para a Ensinança e Doutrina do Príncipe'', datada de 1554.]] | [[Imagem:D. Sebastião recém-nascido, in Sentenças para a Ensinança e Doutrina do Príncipe (1554) - possivelmente por António ou Francisco de Holanda.png|left|thumb|225px|Iluminura de D. Sebastião recém-nascido, na obra ''Sentenças para a Ensinança e Doutrina do Príncipe'', datada de 1554.]] | ||
D. Sebastião era filho de | D. Sebastião era filho de [[João Manuel, Príncipe de Portugal|D. João Manuel, Príncipe de Portugal]] e de [[Joana de Áustria, Princesa de Portugal|Joana de Áustria]], Seus avós paternos eram o rei de Portugal D. [[João III de Portugal|João III]] e a rainha D. [[Catarina de Áustria|Catarina]]. Seus avós maternos eram o imperador [[Carlos I de Espanha|Carlos V]] e a [[Isabel de Portugal, imperatriz do Sacro Império Romano-Germânico|Isabel de Portugal]]. Isabel era irmã de João III, e Carlos V era irmão de Catarina.<ref name="bayam.p.1">[[José P. Bayam]], ''Portugal cuidadoso, e lastimado com a Vida, e Perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria'' (1737), ''Livro I'', ''De Sua Infância'', ''Capítulo Primeiro'', ''Do nascimento, batismo, e aclamação del Rey D. Sebastião, de outros sucessos notáveis deste tempo'', p.1 [http://books.google.com.br/books?id=xWZJAAAAcAAJ&pg=PA1&f=false <nowiki>[google books]</nowiki>]</ref> | ||
João Manuel morreu em 2 de janeiro de 1554, deixando todo o reino em sobressalto, pois Sebastião ainda estava no ventre da sua mãe. João Manuel foi o único filho sobrevivente dos nove que João III havia tido, e a sucessão do reino passou a depender do sucesso do parto.<ref name="bayam.p.1" /> | João Manuel morreu em 2 de janeiro de 1554, deixando todo o reino em sobressalto, pois Sebastião ainda estava no ventre da sua mãe. João Manuel foi o único filho sobrevivente dos nove que João III havia tido, e a sucessão do reino passou a depender do sucesso do parto.<ref name="bayam.p.1" /> | ||
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O problema que ocorria em Portugal não era a falta de herdeiros, mas por causa do contrato de casamento de D. [[Maria Manuela de Portugal|Maria Manuela]], irmã do príncipe defunto, com D. [[Filipe II da Espanha]],<ref group="Nota">Felipe II de Castela era filho do imperador Carlos V e Dona Isabel.</ref> pelo qual, caso não houvesse sucessores, o reino passaria ao filho desta união, [[Carlos de Espanha, Príncipe das Astúrias|Carlos]], ocorrendo a união com Castela, que os portugueses sempre abominaram.<ref name="bayam.p.2">[[José P. Bayam]], ''Portugal cuidadoso, e lastimado com a Vida, e Perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria'' (1737), ''Livro I'', ''De Sua Infância'', ''Capítulo Primeiro'', ''Do nascimento, batismo, e aclamação del Rey D. Sebastião, de outros sucessos notáveis deste tempo'', p.2</ref> | O problema que ocorria em Portugal não era a falta de herdeiros, mas por causa do contrato de casamento de D. [[Maria Manuela de Portugal|Maria Manuela]], irmã do príncipe defunto, com D. [[Filipe II da Espanha]],<ref group="Nota">Felipe II de Castela era filho do imperador Carlos V e Dona Isabel.</ref> pelo qual, caso não houvesse sucessores, o reino passaria ao filho desta união, [[Carlos de Espanha, Príncipe das Astúrias|Carlos]], ocorrendo a união com Castela, que os portugueses sempre abominaram.<ref name="bayam.p.2">[[José P. Bayam]], ''Portugal cuidadoso, e lastimado com a Vida, e Perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria'' (1737), ''Livro I'', ''De Sua Infância'', ''Capítulo Primeiro'', ''Do nascimento, batismo, e aclamação del Rey D. Sebastião, de outros sucessos notáveis deste tempo'', p.2</ref> | ||
O [[arcebispo de Lisboa]], D. [[Fernando de Meneses Coutinho e Vasconcelos]], ordenou que, assim que começassem as dores de [[parto]], avisassem a [[Sé de Lisboa|Sé]], para que fosse feita uma procissão de fé. | O [[arcebispo de Lisboa]], D. [[Fernando de Meneses Coutinho e Vasconcelos]], ordenou que, assim que começassem as dores de [[parto]], avisassem a [[Sé de Lisboa|Sé]], para que fosse feita uma procissão de fé. Dezoito dias depois da morte do príncipe, a princesa começou a sentir as dores, na noite do dia 19 para o dia 20 de janeiro. De madrugada chegou o aviso, e o povo que afluiu à [[Igreja de São Domingos (Santa Justa)|Igreja de São Domingos]] foi tamanho que várias pessoas ficaram de fora, indo padres a pregar do lado de dentro e outros a pregar do lado de fora.<ref name="bayam.p.2" /> | ||
Na manhã do sábado, dia 20 de janeiro de 1554, nasceu o príncipe, e foi dada a notícia do nascimento, recebida com orações de agradecimento a Deus.<ref name="bayam.p.2s">[[José P. Bayam]], ''Portugal cuidadoso, e lastimado com a Vida, e Perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria'' (1737), ''Livro I'', ''De Sua Infância'', ''Capítulo Primeiro'', ''Do nascimento, batismo, e aclamação del Rey D. Sebastião, de outros sucessos notáveis deste tempo'', p.2s</ref> | Na manhã do sábado, dia 20 de janeiro de 1554, nasceu o príncipe, e foi dada a notícia do nascimento, recebida com orações de agradecimento a Deus.<ref name="bayam.p.2s">[[José P. Bayam]], ''Portugal cuidadoso, e lastimado com a Vida, e Perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria'' (1737), ''Livro I'', ''De Sua Infância'', ''Capítulo Primeiro'', ''Do nascimento, batismo, e aclamação del Rey D. Sebastião, de outros sucessos notáveis deste tempo'', p.2s</ref> | ||
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== Regência == | == Regência == | ||
Com dois anos de idade, seu avô, o rei, enfermo, chamou-o à sua presença, para brincar. Quando o rei pediu água, trouxeram dois copos, um, fechado, para o rei e outro aberto para Sebastião. Vendo isto, o menino começou a chorar, querendo um copo como o do avô, que comentou:<ref name="bayam.p.4">[[José P. Bayam]], ''Portugal cuidadoso, e lastimado com a Vida, e Perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria'' (1737), ''Livro I'', ''De Sua Infância'', ''Capítulo Primeiro'', ''Do nascimento, batismo, e aclamação del Rey D. Sebastião, de outros sucessos notáveis deste tempo'', p.4</ref> [[File:D sebastiao 1562.jpg|thumb|Retrato | Com dois anos de idade, seu avô, o rei, enfermo, chamou-o à sua presença, para brincar. Quando o rei pediu água, trouxeram dois copos, um, fechado, para o rei e outro aberto para Sebastião. Vendo isto, o menino começou a chorar, querendo um copo como o do avô, que comentou:<ref name="bayam.p.4">[[José P. Bayam]], ''Portugal cuidadoso, e lastimado com a Vida, e Perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria'' (1737), ''Livro I'', ''De Sua Infância'', ''Capítulo Primeiro'', ''Do nascimento, batismo, e aclamação del Rey D. Sebastião, de outros sucessos notáveis deste tempo'', p.4</ref> [[File:D sebastiao 1562.jpg|thumb|Retrato de D. Sebastião I, por [[Alonso Sánchez Coello]], 1562. Descoberto em 2010, estava no castelo Schönberg, na Áustria, mas era erradamente identificado com um nobre austríaco.]] "Cedo quereis reinar". No ano seguinte de 11 de junho de 1557, morre D. João III. Sebastião tornou-se rei com três anos, quatro meses e vinte e dois dias de idade.<ref name="bayam.p.4" /> | ||
Durante a sua menoridade, a [[regência (governo)|regência]] foi assegurada primeiro pela sua avó, a rainha [[Catarina de Áustria]], viúva de D. João III,<ref name="bayam.p.6">[[José P. Bayam]], ''Portugal cuidadoso, e lastimado com a Vida, e Perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria'' (1737), ''Livro I'', ''De Sua Infância'', ''Capítulo II'', ''Como o governo do Reyno foy entregue à Rainha Dona Catharina. Vistas Reays, Embaixadas, e outros successos notaveis deste tempo'', p.6</ref> e depois pelo tio-avô, o [[Henrique I de Portugal|Cardeal D. Henrique de Évora]], (23 de Dezembro de 1562<ref name="bayam.p.34">[[José P. Bayam]], ''Portugal cuidadoso, e lastimado com a Vida, e Perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria'' (1737), ''Livro I'', ''De Sua Infância'', ''Capítulo VI'', ''De como a Rainha largou o governo do Reyno, e foy entregue ao Cardeal Infante. Notícias memoraveis do tempo, que ella governou.'', p.34</ref>-1568). Neste período, depois da aquisição de [[Macau]] no ano de | Durante a sua menoridade, a [[regência (governo)|regência]] foi assegurada primeiro pela sua avó, a rainha [[Catarina de Áustria]], viúva de D. João III,<ref name="bayam.p.6">[[José P. Bayam]], ''Portugal cuidadoso, e lastimado com a Vida, e Perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria'' (1737), ''Livro I'', ''De Sua Infância'', ''Capítulo II'', ''Como o governo do Reyno foy entregue à Rainha Dona Catharina. Vistas Reays, Embaixadas, e outros successos notaveis deste tempo'', p.6</ref> e depois pelo tio-avô, o [[Henrique I de Portugal|Cardeal D. Henrique de Évora]], (23 de Dezembro de 1562<ref name="bayam.p.34">[[José P. Bayam]], ''Portugal cuidadoso, e lastimado com a Vida, e Perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria'' (1737), ''Livro I'', ''De Sua Infância'', ''Capítulo VI'', ''De como a Rainha largou o governo do Reyno, e foy entregue ao Cardeal Infante. Notícias memoraveis do tempo, que ella governou.'', p.34</ref>-1568). Neste período, depois da aquisição de [[Macau]] no ano de 1557 e [[Damão]] em 1559, a expansão colonial foi interrompida. A premência era a conjugação de esforços para preservar, fortalecer e defender os territórios conquistados. | ||
Durante a regência de D. Catarina, e do cardeal D. Henrique e o curto reinado de D. Sebastião, a Igreja continuou a sua ascensão ao poder. A actividade legislativa centrou-se em assuntos do foro religioso, como por exemplo a consolidação da Inquisição e sua expansão até à Índia, a criação de novos bispados na metrópole e nas colónias. A única realização cultural importante foi o estabelecimento de uma nova universidade em Évora – e também aqui a influência religiosa na corte se fez sentir, pois foi entregue aos Jesuítas. | Durante a regência de D. Catarina, e do cardeal D. Henrique e o curto reinado de D. Sebastião, a Igreja continuou a sua ascensão ao poder. A actividade legislativa centrou-se em assuntos do foro religioso, como por exemplo a consolidação da Inquisição e sua expansão até à Índia, a criação de novos bispados na metrópole e nas colónias. A única realização cultural importante foi o estabelecimento de uma nova universidade em Évora – e também aqui a influência religiosa na corte se fez sentir, pois foi entregue aos Jesuítas. | ||
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Investiu-se muito na defesa militar dos territórios. Na rota para o Brasil e a Índia, os ataques dos piratas eram constantes e os muçulmanos ameaçavam as possessões em Marrocos, atacando, por exemplo, [[Mazagão (Marrocos)|Mazagão]] em 1562. Procurou-se assim proteger a marinha mercante e construir ou restaurar fortalezas ao longo do litoral. | Investiu-se muito na defesa militar dos territórios. Na rota para o Brasil e a Índia, os ataques dos piratas eram constantes e os muçulmanos ameaçavam as possessões em Marrocos, atacando, por exemplo, [[Mazagão (Marrocos)|Mazagão]] em 1562. Procurou-se assim proteger a marinha mercante e construir ou restaurar fortalezas ao longo do litoral. | ||
Em 1567, autorizou a fundação da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em sua homenagem (atual cidade do [[Rio de Janeiro|Rio]]). Em 1573, fez desta mesma cidade capital da Repartição Sul das colônias portuguesas. | Em 1567, autorizou a fundação da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em sua homenagem (atual cidade do [[Rio de Janeiro|Rio]]). Em 1573, fez desta mesma cidade capital da Repartição Sul das colônias portuguesas. | ||
Os bastiões no Norte de África, pouco interessantes em termos comerciais e estratégicos, eram autênticos sorvedouros de dinheiro, sendo necessário importar quase tudo, além de que, sujeitos a constantes ataques, custavam muito em armamento e homens. Assim, [[Filipe II de Espanha|Filipe II]] em 1589 viria prudentemente a devolver aos mouros [[Arzila (Marrocos)|Arzila]], oferecida a D. Sebastião em 1577 por [[Mulei Mohammed]]. | Os bastiões no Norte de África, pouco interessantes em termos comerciais e estratégicos, eram autênticos sorvedouros de dinheiro, sendo necessário importar quase tudo, além de que, sujeitos a constantes ataques, custavam muito em armamento e homens. Assim, [[Filipe II de Espanha|Filipe II]] em 1589 viria prudentemente a devolver aos mouros [[Arzila (Marrocos)|Arzila]], oferecida a D. Sebastião em 1577 por [[Mulei Mohammed]]. | ||
De facto, a preservação das praças em | De facto, a preservação das praças em [[Marrocos]] devia-se sobretudo à questão de prestígio e tradição. O jovem rei cresceu educado por [[Companhia de Jesus|Jesuítas]] e tornou-se num adolescente de grande fervor religioso, embora a sua falta de experiência militar e política viesse a conduzir o exército português ao desastre de Alcácer-Quibir e à própria morte ou desaparecimento do rei. | ||
== Motivos da Intervenção em Marrocos == | == Motivos da Intervenção em Marrocos == | ||
[[Imagem:OttomanEmpireIn1683-pt.svg|thumb|Com a conquista de [[Tunes]] pelos turcos, em 1574, faltaria apenas Marrocos para dominarem por completo o | [[Imagem:OttomanEmpireIn1683-pt.svg|thumb|Com a conquista de [[Tunes]] pelos turcos, em 1574, faltaria apenas [[Marrocos]] para dominarem por completo o [[norte de África]], ameaçando depois uma entrada na [[Península Ibérica]]]] | ||
D. Sebastião começou a preparar a "Jornada de África", onde [[Filipe II de Espanha]], seu tio, recusou participar, enviando apenas uma pequena força que fez parte do ''Terço de Espanhóis e Italianos''. | D. Sebastião começou a preparar a "Jornada de África", onde [[Filipe II de Espanha]], seu tio, recusou participar, enviando apenas uma pequena força que fez parte do ''Terço de Espanhóis e Italianos''. | ||
O nexo da intervenção em Alcácer-Quibir é claramente explicado na carta do próprio D. Sebastião a [[João de Mendonça Furtado|D. João de Mendonça]] no ano de 1576, onde manifestava preocupação crescente sobre a ameaça dos turcos que fariam [[Abu Marwan Abd al-Malik I Saadi|Mulei Moluco]] seu vassalo, ameaçando as praças portuguesas em Marrocos e o próprio regresso dos andaluzes do [[Reino nasrida de Granada|Reino de Granada]] a Espanha:<blockquote>''Não é somente para dar a posse daquele Reino ao tio do Xarife, mas principalmente com o fundamento de o fazerem tributário e vassalo do Turco, e o Turco se fazer Senhor de toda África, e de todos os portos de mar dela, tendo em cada uma delas muitas galés que lhes será fácil de pôr em efeito. Assim, pela natureza da mesma terra, como por seu grande poder, que quando assim acontecesse, o que Deus não permita, visto é quantos males sem remédio poderiam recrescer a toda Espanha, que da Cristandade se pode dizer que é hoje a melhor e maior parte, e com este intento queria que não somente cuidareis nesta matéria e a discorrereis para me nela dardes parecer e conselho no que farei e devo fazer (...)''<ref>{{citar livro|nome = |sobrenome = |título = Documentos de várias tipologias, relativos à história portuguesa, sobretudo do reinado de D. Sebastião|ano = | O nexo da intervenção em Alcácer-Quibir é claramente explicado na carta do próprio D. Sebastião a [[João de Mendonça Furtado|D. João de Mendonça]] no ano de 1576, onde manifestava preocupação crescente sobre a ameaça dos turcos que fariam [[Abu Marwan Abd al-Malik I Saadi|Mulei Moluco]] seu vassalo, ameaçando as praças portuguesas em Marrocos e o próprio regresso dos andaluzes do [[Reino nasrida de Granada|Reino de Granada]] a Espanha:<blockquote>''Não é somente para dar a posse daquele Reino ao tio do Xarife, mas principalmente com o fundamento de o fazerem tributário e vassalo do Turco, e o Turco se fazer Senhor de toda África, e de todos os portos de mar dela, tendo em cada uma delas muitas galés que lhes será fácil de pôr em efeito. Assim, pela natureza da mesma terra, como por seu grande poder, que quando assim acontecesse, o que Deus não permita, visto é quantos males sem remédio poderiam recrescer a toda Espanha, que da Cristandade se pode dizer que é hoje a melhor e maior parte, e com este intento queria que não somente cuidareis nesta matéria e a discorrereis para me nela dardes parecer e conselho no que farei e devo fazer (...)''<ref>{{citar livro|nome = |sobrenome = |título = Documentos de várias tipologias, relativos à história portuguesa, sobretudo do reinado de D. Sebastião|ano = 1501–1650|isbn = |url = http://purl.pt/26880|página = 97 (197 do PDF)|notas = Cópia da carta original d'el Rey D. Sebastião a João de Mendonça sobre a Jornada de África.}}</ref></blockquote>Dois anos antes, no de 1574, os turcos tinham reconquistado Tunes (atualmente capital da [[Tunísia]]), e eram senhores de todo o norte de África, exceptuando Marrocos, cujo controlo do reino se decidia na disputa entre [[Mulei Mohammed]] (o Xarife deposto), e o seu tio Mulei Moluco, que contava com o apoio turco. O Xarife pediu o apoio a D. Sebastião, e o rei partiu para a "Jornada de África", que se decidiria na Batalha de Alcácer Quibir. | ||
== Desaparecimento/Morte e Lenda == | == Desaparecimento/Morte e Lenda == | ||
Em 4 de agosto de 1578, ocorreu a [[batalha de Alcácer-Quibir]], no | Em 4 de agosto de 1578, ocorreu a [[batalha de Alcácer-Quibir]], no campo dos três reis, onde os portugueses sofreram uma derrota às mãos do sultão [[Abu Marwan Abd al-Malik I Saadi|Abd al-Malik (Mulei Moluco)]], na qual perderam uma boa parte do seu [[exército]]. Quanto a D. Sebastião, morreu na batalha ou foi morto depois desta terminar. | ||
[[Imagem:Lagos46 kopie.jpg|thumb|left|Batalha de Alcácer-Quibir, 1578. in: Miscellanea ([[Miguel Leitão de Andrade]], 1629.).]] | Conta-se que, ao ser aconselhado a render-se, e a entregar a sua espada aos vencedores, o rei se tenha recusado com altivez, dizendo: "''A liberdade real só há de perder-se com a vida.''".<ref>''Historia de Portugal nos seculos XVII e XVIII'', por Luiz Augusto Rebello da Silva, Volume I (Imprensa Nacional, 1860), p. 237.</ref> Foram as suas últimas palavras, e é-nos dito que ao ouvi-las, "os cavaleiros arremeteram contra os infiéis; D. Sebastião seguiu-os e desapareceu aos olhos de todos envolto na multidão, deixando ... a posteridade duvidosa acerca do seu verdadeiro fim.".<ref>''Ibidem.''</ref> Há quem defenda, por outro lado, que o seu corpo terá sido enterrado logo em Ceuta, "com toda a solemnidade".<ref>[[José Agostinho de Macedo]], ''Inventario da refutação analytica'' (1810) – "''O cadaver del Rei D. Sebastião foi enterrado em Ceuta com toda a solemnidade, e sinaes para se não equivocar com outros cadáveres.''"</ref> Mas para o povo português de então, o rei havia apenas desaparecido. Este desastre teria as piores consequências para o país, colocando em perigo a sua independência. O resgate dos sobreviventes ainda mais agravou as dificuldades financeiras do país. | ||
Em 1582, [[Filipe II de Espanha|Filipe I de Portugal]] mandou trasladar para o [[Mosteiro dos Jerónimos]], em Lisboa, um corpo que se alegava ser o do rei desaparecido, na esperança de acabar com o ''[[sebastianismo]]'', o que não resultou, nem se pôde comprovar ser o corpo realmente o de Sebastião I. O Túmulo de Mármore, que repousa sobre dois elefantes, pode ainda hoje ser observado em Lisboa. | |||
[[Imagem:Lagos46 kopie.jpg|thumb|left|Batalha de Alcácer-Quibir, 1578. in: Miscellanea ([[Miguel Leitão de Andrade]], 1629.).|306x306px]] | |||
Em 1582, [[Filipe II de Espanha|Filipe I de Portugal]] mandou trasladar para o [[Mosteiro dos Jerónimos]], em Lisboa, um corpo que se alegava ser o do rei desaparecido, na esperança de acabar com o ''[[sebastianismo]]'', o que não resultou, nem se pôde comprovar ser o corpo realmente o de Sebastião I. Ele terá chegado de barco ao porto de [[Faro]] e a restante jornada até Lisboa sido transportado por terra na companhia de oito [[nobres]] portugueses, que tinham sido seus companheiros d´armas em Alcácer, convocados para o efeito.<ref> Código Alcobacense n.º 459 (ant.º) e 126 (mod), na Biblioteca Nacional de Lisboa, refere o Conde de Almada, em Relação dos Feitos de D. Antão Dalmada, edição de 1940</ref><ref> O préstito fúnebre teve a direcção do vedor [[Francisco Barreto de Lima]], era composto pelos seguintes fidalgos: D. [[Francisco de Castelo Branco]], [[Jerónimo Moniz de Luzinhano]], D. [[João de Castro (desambiguação)|João de Castro]], [[Rui Lourenço de Távora, neto|Ruy Lourenço de Távora]], [[Henrique Correia da Silva]], D. [[Lucas de Portugal]], D. [[Lourenço Soares de Almada|Lourenço de Almada]] e [[Diogo da Silva, 8.º Senhor de Vagos|Diogo da Silva]]. - [http://elosclubedelisboa.blogs.sapo.pt/36164.html Coisas Que Poucos Sabem, Henrique Salles da Fonseca, Elos Clube de Lisboa, 19 de Julho de 2011]</ref> O Túmulo de Mármore, que repousa sobre dois elefantes, pode ainda hoje ser observado em Lisboa. | |||
Tornou-se então numa [[lenda]] do grande patriota português – o "rei dormente" (ou um [[Messias]]) que iria regressar para ajudar Portugal nas suas horas mais sombrias, uma imagem semelhante à que o [[Rei Artur]] tem em [[Inglaterra]] ou [[Frederico I da Germânia|Frederico Barbarossa]] na [[Alemanha]]. | Tornou-se então numa [[lenda]] do grande patriota português – o "rei dormente" (ou um [[Messias]]) que iria regressar para ajudar Portugal nas suas horas mais sombrias, uma imagem semelhante à que o [[Rei Artur]] tem em [[Inglaterra]] ou [[Frederico I da Germânia|Frederico Barbarossa]] na [[Alemanha]]. | ||
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=== Teorias e dados sobre o desaparecimento === | === Teorias e dados sobre o desaparecimento === | ||
Dentre incontáveis especulações e investigações de vários autores, a historiadora Maria Luísa Martins da Cunha defende, em dezembro de 2011, no terceiro volume do livro ‘Grandes Enigmas da História de Portugal', que o rei D. Sebastião sobreviveu à batalha de Alcácer-Quibir e reapareceu no ano de 1598 em Itália, onde foi mais tarde preso em [[Veneza]], [[Florença]] e [[Nápoles]], com a cumplicidade dos espanhóis. Segundo a mesma historiadora, o corpo do rei encontra-se sepultado na capela de São Sebastião, no Convento dos Agostinhos de Limoges.<ref name="Veneza">{{citar web | | Dentre incontáveis especulações e investigações de vários autores, a historiadora Maria Luísa Martins da Cunha defende, em dezembro de 2011, no terceiro volume do livro ‘Grandes Enigmas da História de Portugal', que o rei D. Sebastião sobreviveu à batalha de Alcácer-Quibir e reapareceu no ano de 1598 em Itália, onde foi mais tarde preso em [[Veneza]], [[Florença]] e [[Nápoles]], com a cumplicidade dos espanhóis. Segundo a mesma historiadora, o corpo do rei encontra-se sepultado na capela de São Sebastião, no Convento dos Agostinhos de Limoges.<ref name="Veneza">{{citar web |primeiro= |url=http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/lazer/cultura/d-sebastiao-foi-preso-em-italia |título=D. Sebastião foi preso em Itália |data= |acessodata=14 de Dezembro de 2011 |publicado=[[Correio da Manhã (Portugal)|Correio da manhã]] |autor=Mascarenhas Paulo Pinto, |arquivourl=https://web.archive.org/web/20120107203809/http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/lazer/cultura/d-sebastiao-foi-preso-em-italia |arquivodata=2012-01-07 |urlmorta=yes}}</ref> | ||
Na verdade, já o historiador [[Manuel de Faria e Sousa|Faria e Sousa]] reportara testemunhos, como o de D. Luís de Brito, que afirmavam ter visto no final da batalha o rei à distância sem ser perseguido. Brito encontrou-o posteriormente, em direção ao rio, e segundo o historiador esta foi a última vez que ele foi visto vivo. | Na verdade, já o historiador [[Manuel de Faria e Sousa|Faria e Sousa]] reportara testemunhos, como o de D. Luís de Brito, que afirmavam ter visto no final da batalha o rei à distância sem ser perseguido. Brito encontrou-o posteriormente, em direção ao rio, e segundo o historiador esta foi a última vez que ele foi visto vivo. | ||
O documento | O documento "''Relação da Batalha de Alcácer que mandou um cativo ao Dr. Paulo Afonso"'',<ref>{{citar livro|título = Documentos de várias tipologias, relativos à história portuguesa, sobretudo do reinado de D. Sebastião|ano = 1501–1650|isbn = |url = http://purl.pt/26880|página = 68-69 do Manuscrito (p. 144-147, do PDF)}}</ref> termina informando que o Rei se retirou, e que a batalha terminou sem nenhum lado declarar vitória:<blockquote href="Frederico I da Germânia">''Neste tempo vendo El Rei que estava na vanguarda o seu campo desbaratado, se veio recolhendo pela banda do Duque de Aveiro, e o seguiu alguma gente de cavalo e a pé, cuidando que ia fazendo uma ponta para volver sobre os mouros, viu o campo já tão desbaratado que se retirou. Durou a batalha quatro horas sem se declarar a vitória.''</blockquote> | ||
==== Prisioneiro de Veneza ==== | ==== Prisioneiro de Veneza ==== | ||
O caso do estranho em Veneza, mencionado acima, que vinte anos depois aparecera declarando-se Sebastião, rei de Portugal, é o de maior interesse. Ele chegou a ser aceite pelos portugueses da cidade como seu senhor soberano, por se parecer tão perfeitamente com Sebastião. João de Castro, neto do [[João de Castro|homónimo vice-rei da Índia]] e filho do diretor de finanças no reinado de D. Sebastião, defendeu e apoiou este estranho de Veneza, anunciando ao mundo que o rei não morrera, no seu ''Discurso da vida do sempre bem-vindo e aparecido Dom Sebastião'',<ref>''História de Portugal: Governo dos reis espanhóis (1580-1640)'', por Joaquim Veríssimo Serrão, Editorial Verbo, 1977.</ref> publicado em 1598; enquanto Sebastião Figueira, uma das várias testemunhas que atestaram terem visto D. Sebastião sair vivo da batalha – afirmando mesmo ter saído dela com o rei – também diz tê-lo reconhecido em Veneza.<ref name="Veneza" /> O [[Papa Clemente VIII]] mandara, por conselho de cardeais em conclave, que o pretendido rei aparecesse em Roma, onde a sua pretensão seria examinada. Chegando-se em conclave à conclusão, após cuidadas investigações, que era ele o verdadeiro D. Sebastião, escreve o Papa a [[Filipe III de Espanha]], o então senhor da coroa e do Reino de Portugal, exigindo a devolução do ''dito Reyno'' ao ''Rey D. Sebastião'', "''sob pena de excommunhão mayor''".<ref>Escrito a 23 de Dezembro de 1598. Vide [[Camilo Castelo Branco|Branco, Camilo Castelo]], ''Noites de insomnia offerecidas a quem nao pode dormir'' (1874), p. 77.</ref> Filipe responde acusando o pretendente "impostor" de vários crimes e, por intermédio do seu embaixador em Veneza, manda-o prender. Foi formado um comité de nobres, que o examinaram 28 vezes, mas ele conseguiu ilibar-se de todas as acusações.<ref>Em resposta à objecção de o corpo de D. Sebastião ter já sido enviado para Portugal, como fora atestado pela nobreza portuguesa que sobrevivera à batalha, ele dizia que o corpo tinha sido produzido para facilitar a sua fuga, e que a nobreza o atestara por esse motivo. Posteriormente, alguns membros da nobreza admitiram que o corpo estava tão desfigurado com feridas que era impossível sabê-lo.</ref> O pretendente mostrou marcas naturais no seu corpo, que muitos se lembravam serem de D. Sebastião, e revelou segredos de conversas entre embaixadores de Veneza no palácio de Lisboa, o que deixou atónitos os examinadores, e facilitou a sua libertação – sob a condição de ter que abandonar aqueles domínios em três dias. Na sua fuga caiu nas mãos dos Espanhóis, que em Nápoles o maltrataram, humilharam em público, e o embarcaram como escravo. Defendiam os espanhóis, que aquele sofredor era um mágico, mas tal justificação foi vista como um reconhecimento tácito da verdade das suas pretensões. <ref>William Julius Mickle, ''The Lusiad: Or, the Discovery of India'' (1776), Livro I, referência 5.</ref> <ref>[http://ensina.rtp.pt/artigo/d-sebastiao-1554-1578/ D. Sebastião, o rei mito] – artigo na [[RTP]], Grandes quadros portugueses, produção da Companhia das Ideias, extrato de programa, 2012. CIT : «D. Sebastião (1554-1578) transformou-se num mito após o seu desaparecimento na batalha de Alcácer Quibir, no norte de África. A sua morte abriu as portas à crise dinástica que vai colocar os reis de Espanha no trono português. »</ref> | O caso do estranho em Veneza, mencionado acima, que vinte anos depois aparecera declarando-se Sebastião, rei de Portugal, é o de maior interesse. Ele chegou a ser aceite pelos portugueses da cidade como seu senhor soberano, por se parecer tão perfeitamente com Sebastião. João de Castro, neto do [[João de Castro|homónimo vice-rei da Índia]] e filho do diretor de finanças no reinado de D. Sebastião, defendeu e apoiou este estranho de Veneza, anunciando ao mundo que o rei não morrera, no seu ''Discurso da vida do sempre bem-vindo e aparecido Dom Sebastião'',<ref>''História de Portugal: Governo dos reis espanhóis (1580-1640)'', por Joaquim Veríssimo Serrão, Editorial Verbo, 1977.</ref> publicado em 1598; enquanto Sebastião Figueira, uma das várias testemunhas que atestaram terem visto D. Sebastião sair vivo da batalha – afirmando mesmo ter saído dela com o rei – também diz tê-lo reconhecido em Veneza.<ref name="Veneza" /> O [[Papa Clemente VIII]] mandara, por conselho de cardeais em conclave, que o pretendido rei aparecesse em Roma, onde a sua pretensão seria examinada. Chegando-se em conclave à conclusão, após cuidadas investigações, que era ele o verdadeiro D. Sebastião, escreve o Papa a [[Filipe III de Espanha]], o então senhor da coroa e do Reino de Portugal, exigindo a devolução do ''dito Reyno'' ao ''Rey D. Sebastião'', "''sob pena de excommunhão mayor''".<ref>Escrito a 23 de Dezembro de 1598. Vide [[Camilo Castelo Branco|Branco, Camilo Castelo]], ''Noites de insomnia offerecidas a quem nao pode dormir'' (1874), p. 77.</ref> Filipe responde acusando o pretendente "impostor" de vários crimes e, por intermédio do seu embaixador em Veneza, manda-o prender. Foi formado um comité de nobres, que o examinaram 28 vezes, mas ele conseguiu ilibar-se de todas as acusações.<ref>Em resposta à objecção de o corpo de D. Sebastião ter já sido enviado para Portugal, como fora atestado pela nobreza portuguesa que sobrevivera à batalha, ele dizia que o corpo tinha sido produzido para facilitar a sua fuga, e que a nobreza o atestara por esse motivo. Posteriormente, alguns membros da nobreza admitiram que o corpo estava tão desfigurado com feridas que era impossível sabê-lo.</ref> O pretendente mostrou marcas naturais no seu corpo, que muitos se lembravam serem de D. Sebastião, e revelou segredos de conversas entre embaixadores de Veneza no palácio de Lisboa, o que deixou atónitos os examinadores, e facilitou a sua libertação – sob a condição de ter que abandonar aqueles domínios em três dias. Na sua fuga caiu nas mãos dos Espanhóis, que em Nápoles o maltrataram, humilharam em público, e o embarcaram como escravo. Defendiam os espanhóis, que aquele sofredor era um mágico, mas tal justificação foi vista como um reconhecimento tácito da verdade das suas pretensões.<ref>William Julius Mickle, ''The Lusiad: Or, the Discovery of India'' (1776), Livro I, referência 5.</ref><ref>[http://ensina.rtp.pt/artigo/d-sebastiao-1554-1578/ D. Sebastião, o rei mito] – artigo na [[RTP]], Grandes quadros portugueses, produção da Companhia das Ideias, extrato de programa, 2012. CIT : «D. Sebastião (1554-1578) transformou-se num mito após o seu desaparecimento na batalha de Alcácer Quibir, no norte de África. A sua morte abriu as portas à crise dinástica que vai colocar os reis de Espanha no trono português. »</ref> | ||
== Títulos, estilos, e honrarias == | == Títulos, estilos, e honrarias == | ||
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* 11 de Junho de 1557 – 4 de Agosto de 1578: "[[Sua Majestade]], o Rei" | * 11 de Junho de 1557 – 4 de Agosto de 1578: "[[Sua Majestade]], o Rei" | ||
O estilo oficial de D. Sebastião enquanto Rei de Portugal era: "Pela Graça de Deus, Sebastião I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc." | O estilo oficial de D. Sebastião enquanto Rei de Portugal era: "Pela Graça de Deus, Sebastião I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.". | ||
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[[File:Don Sebastian de Portugal.JPG|thumb|Retrato d'El Rei Dom Sebastião por [[Alonso Sánchez Coello]].]] | [[File:Don Sebastian de Portugal.JPG|thumb|Retrato d'El Rei Dom Sebastião por [[Alonso Sánchez Coello]].]] | ||
Em novembro de 2010 foi encontrado na [[Áustria]] um retrato do rei, dado como desaparecido há 400 anos. O quadro estava no [[Palácio de Schönbrunn]], mas o protagonista era identificado como sendo um nobre austríaco. A obra é da autoria de [[Alonso Sánchez Coello]] e foi pintada na corte portuguesa em 1562. <ref>[http://expresso.sapo.pt/actualidade/descoberto-na-austria-quadro-de-d-sebastiao-perdido-ha-400-anos=f617869#gs.iR0M6e4 Descoberto na Áustria quadro de D. Sebastião perdido há 400 anos] – notícia de Valdemar Cruz no semanário Expresso, 26 novembro 2010</ref> | Em novembro de 2010 foi encontrado na [[Áustria]] um retrato do rei, dado como desaparecido há 400 anos. O quadro estava no [[Palácio de Schönbrunn]], mas o protagonista era identificado como sendo um nobre austríaco. A obra é da autoria de [[Alonso Sánchez Coello]] e foi pintada na corte portuguesa em 1562.<ref>[http://expresso.sapo.pt/actualidade/descoberto-na-austria-quadro-de-d-sebastiao-perdido-ha-400-anos=f617869#gs.iR0M6e4 Descoberto na Áustria quadro de D. Sebastião perdido há 400 anos] – notícia de Valdemar Cruz no semanário Expresso, 26 novembro 2010</ref> | ||
[[Imagem:Retrato de D. Sebastião, c. 1600.png|thumb|left|220px|Retrato de D. Sebastião de Portugal (óleo sobre tela datável dos finais do século XVI ou início do século XVII, patente na câmara dos azuis).]] | [[Imagem:Retrato de D. Sebastião, c. 1600.png|thumb|left|220px|Retrato de D. Sebastião de Portugal (óleo sobre tela datável dos finais do século XVI ou início do século XVII, patente na câmara dos azuis).]] | ||
Um outro retrato encontrado | Um outro retrato encontrado em 2011 na Itália,<ref>{{citar web |url=http://ipsilon.publico.pt/artes/texto.aspx?id=297806 |publicado=[[Jornal Público]] |autor= |título=Retrato de D. Sebastião não teve compradores em leilão|data= |acessodata=5 de fevereiro de 2013}}</ref> de autor ainda não identificado, mostra o soberano em idade adulta, com barba e bigode, numa representação de busto a 3/4 envergando armadura de gala com gola de folhos. Da decoração da armadura sobressai a [[Cruz de Cristo]], de que é visível o braço superior, com uma forma mal representada, o que nos leva à conclusão da autoria por um pintor espanhol ou italiano, mais familiarizados com este tipo de cruz do que com as formas rectas da Cruz de Cristo. | ||
O retrato está carregado de simbolismo, não apenas pela inclusão da Cruz de Cristo, como pela legenda que encima o quadro "''Sebastianus I Lusitanor R''" (Sebastião I Rei dos Portugueses), que remete para o início do [[Sebastianismo|mito de D. Sebastião]]. | O retrato está carregado de simbolismo, não apenas pela inclusão da Cruz de Cristo, como pela legenda que encima o quadro "''Sebastianus I Lusitanor R''" (Sebastião I Rei dos Portugueses), que remete para o início do [[Sebastianismo|mito de D. Sebastião]]. | ||
== Ver também == | == Ver também == | ||
* [[Lista de militares portugueses | * [[Lista de participantes na Batalha de Alcácer Quibir|Lista de militares portugueses na Batalha de Álcacer Quibir]] | ||
* [[Arcos do Jardim]] | * [[Arcos do Jardim]] | ||
* [[Árvore genealógica dos reis de Portugal]] | * [[Árvore genealógica dos reis de Portugal]] | ||
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* [[Deana Barroqueiro]]. ''D. Sebastião e o Vidente''. Casa das Letras-Leya.. | * [[Deana Barroqueiro]]. ''D. Sebastião e o Vidente''. Casa das Letras-Leya.. | ||
* [[Fernando Campos]]. ''A Ponte dos Suspiros''. Difel. | * [[Fernando Campos]]. ''A Ponte dos Suspiros''. Difel. | ||
== Ligações externas == | |||
* [https://ensina.rtp.pt/artigo/d-sebastiao-1554-1578/ D. Sebastião, o rei mito, Grandes Quadros Portugueses (Extrato de programa), Companhia das Ideias, 2012] | |||
* [https://accao-integral.blogspot.com/2022/08/noticia-de-alguns-que-fingiram-ser-d.html Notícia de alguns que fingiram ser D. Sebastião, Veratatis, 5 de agosto de 2022, in Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.] | |||
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Edição atual tal como às 10h51min de 9 de agosto de 2022
Predefinição:Info/Nobre Sebastião I (Lisboa, 20 de janeiro de 1554 – Alcácer-Quibir, 4 de agosto de 1578), apelidado de "o Desejado" e "o Adormecido", foi o Rei de Portugal e dos Algarves de 1557 até 1578. Era filho de João Manuel, Príncipe de Portugal e Joana da Áustria. Ascendeu ao trono muito jovem, aos três anos, após a morte de seu avô o rei João III, sendo instaurada uma regência durante a sua menoridade, primeiro por sua avó a rainha Catarina da Áustria e depois por seu tio-avô o cardeal Henrique de Portugal.
Muitas teorias da conspiração surgem á volta de D. Sebastião I em relação á sua morte, algumas teorias mais controversas acreditam que o mesmo não morreu durante a batalha, mas foi raptado por uma tribo e apenas veio a falecer 3 anos após a batalha a 22 de setembro de 1581 em Alcácer-Quibir.
Sebastião assumiu o governo aos catorze anos de idade no ano de 1568, manifestando grande fervor religioso e militar. Solicitado a cessar as ameaças às costas portuguesas e motivado a reviver as glórias da chamada Reconquista, decidiu montar um esforço militar em Marrocos, planeando uma cruzada, após Mulei Mohammed ter solicitado a sua ajuda para recuperar o trono. A derrota na Batalha de Alcácer-Quibir em 1578 levou à morte de Sebastião em combate e da nata da nobreza, iniciando a crise ao trono de 1580 que levou à perda da independência para a Espanha com a União Ibérica, e ao nascimento da lenda de que numa manhã de nevoeiro D. Sebastião voltaria à pátria.[1][2][3]
Nascimento
D. Sebastião era filho de D. João Manuel, Príncipe de Portugal e de Joana de Áustria, Seus avós paternos eram o rei de Portugal D. João III e a rainha D. Catarina. Seus avós maternos eram o imperador Carlos V e a Isabel de Portugal. Isabel era irmã de João III, e Carlos V era irmão de Catarina.[4]
João Manuel morreu em 2 de janeiro de 1554, deixando todo o reino em sobressalto, pois Sebastião ainda estava no ventre da sua mãe. João Manuel foi o único filho sobrevivente dos nove que João III havia tido, e a sucessão do reino passou a depender do sucesso do parto.[4]
O problema que ocorria em Portugal não era a falta de herdeiros, mas por causa do contrato de casamento de D. Maria Manuela, irmã do príncipe defunto, com D. Filipe II da Espanha,[Nota 1] pelo qual, caso não houvesse sucessores, o reino passaria ao filho desta união, Carlos, ocorrendo a união com Castela, que os portugueses sempre abominaram.[5]
O arcebispo de Lisboa, D. Fernando de Meneses Coutinho e Vasconcelos, ordenou que, assim que começassem as dores de parto, avisassem a Sé, para que fosse feita uma procissão de fé. Dezoito dias depois da morte do príncipe, a princesa começou a sentir as dores, na noite do dia 19 para o dia 20 de janeiro. De madrugada chegou o aviso, e o povo que afluiu à Igreja de São Domingos foi tamanho que várias pessoas ficaram de fora, indo padres a pregar do lado de dentro e outros a pregar do lado de fora.[5]
Na manhã do sábado, dia 20 de janeiro de 1554, nasceu o príncipe, e foi dada a notícia do nascimento, recebida com orações de agradecimento a Deus.[6]
Em 27 de janeiro, ao oitavo dia, ele foi batizado pelo Cardeal D. Henrique, irmão do rei Dom João, e recebeu o nome de Sebastião, por causa do dia em que havia nascido, sendo seus padrinhos o rei e a rainha, seus avôs.[7]
Em virtude de ser um herdeiro tão esperado para dar continuidade à Dinastia de Avis, ficou conhecido como O Desejado; alternativamente, é também memorado como "O Encoberto" ou "O Adormecido", devido à lenda que se refere ao seu regresso numa manhã de nevoeiro, para salvar a Nação.
Regência
Com dois anos de idade, seu avô, o rei, enfermo, chamou-o à sua presença, para brincar. Quando o rei pediu água, trouxeram dois copos, um, fechado, para o rei e outro aberto para Sebastião. Vendo isto, o menino começou a chorar, querendo um copo como o do avô, que comentou:[8]
"Cedo quereis reinar". No ano seguinte de 11 de junho de 1557, morre D. João III. Sebastião tornou-se rei com três anos, quatro meses e vinte e dois dias de idade.[8]
Durante a sua menoridade, a regência foi assegurada primeiro pela sua avó, a rainha Catarina de Áustria, viúva de D. João III,[9] e depois pelo tio-avô, o Cardeal D. Henrique de Évora, (23 de Dezembro de 1562[10]-1568). Neste período, depois da aquisição de Macau no ano de 1557 e Damão em 1559, a expansão colonial foi interrompida. A premência era a conjugação de esforços para preservar, fortalecer e defender os territórios conquistados.
Durante a regência de D. Catarina, e do cardeal D. Henrique e o curto reinado de D. Sebastião, a Igreja continuou a sua ascensão ao poder. A actividade legislativa centrou-se em assuntos do foro religioso, como por exemplo a consolidação da Inquisição e sua expansão até à Índia, a criação de novos bispados na metrópole e nas colónias. A única realização cultural importante foi o estabelecimento de uma nova universidade em Évora – e também aqui a influência religiosa na corte se fez sentir, pois foi entregue aos Jesuítas.
Investiu-se muito na defesa militar dos territórios. Na rota para o Brasil e a Índia, os ataques dos piratas eram constantes e os muçulmanos ameaçavam as possessões em Marrocos, atacando, por exemplo, Mazagão em 1562. Procurou-se assim proteger a marinha mercante e construir ou restaurar fortalezas ao longo do litoral.
Em 1567, autorizou a fundação da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em sua homenagem (atual cidade do Rio). Em 1573, fez desta mesma cidade capital da Repartição Sul das colônias portuguesas.
Os bastiões no Norte de África, pouco interessantes em termos comerciais e estratégicos, eram autênticos sorvedouros de dinheiro, sendo necessário importar quase tudo, além de que, sujeitos a constantes ataques, custavam muito em armamento e homens. Assim, Filipe II em 1589 viria prudentemente a devolver aos mouros Arzila, oferecida a D. Sebastião em 1577 por Mulei Mohammed.
De facto, a preservação das praças em Marrocos devia-se sobretudo à questão de prestígio e tradição. O jovem rei cresceu educado por Jesuítas e tornou-se num adolescente de grande fervor religioso, embora a sua falta de experiência militar e política viesse a conduzir o exército português ao desastre de Alcácer-Quibir e à própria morte ou desaparecimento do rei.
Motivos da Intervenção em Marrocos
D. Sebastião começou a preparar a "Jornada de África", onde Filipe II de Espanha, seu tio, recusou participar, enviando apenas uma pequena força que fez parte do Terço de Espanhóis e Italianos.
O nexo da intervenção em Alcácer-Quibir é claramente explicado na carta do próprio D. Sebastião a D. João de Mendonça no ano de 1576, onde manifestava preocupação crescente sobre a ameaça dos turcos que fariam Mulei Moluco seu vassalo, ameaçando as praças portuguesas em Marrocos e o próprio regresso dos andaluzes do Reino de Granada a Espanha:
Não é somente para dar a posse daquele Reino ao tio do Xarife, mas principalmente com o fundamento de o fazerem tributário e vassalo do Turco, e o Turco se fazer Senhor de toda África, e de todos os portos de mar dela, tendo em cada uma delas muitas galés que lhes será fácil de pôr em efeito. Assim, pela natureza da mesma terra, como por seu grande poder, que quando assim acontecesse, o que Deus não permita, visto é quantos males sem remédio poderiam recrescer a toda Espanha, que da Cristandade se pode dizer que é hoje a melhor e maior parte, e com este intento queria que não somente cuidareis nesta matéria e a discorrereis para me nela dardes parecer e conselho no que farei e devo fazer (...)[11]
Dois anos antes, no de 1574, os turcos tinham reconquistado Tunes (atualmente capital da Tunísia), e eram senhores de todo o norte de África, exceptuando Marrocos, cujo controlo do reino se decidia na disputa entre Mulei Mohammed (o Xarife deposto), e o seu tio Mulei Moluco, que contava com o apoio turco. O Xarife pediu o apoio a D. Sebastião, e o rei partiu para a "Jornada de África", que se decidiria na Batalha de Alcácer Quibir.
Desaparecimento/Morte e Lenda
Em 4 de agosto de 1578, ocorreu a batalha de Alcácer-Quibir, no campo dos três reis, onde os portugueses sofreram uma derrota às mãos do sultão Abd al-Malik (Mulei Moluco), na qual perderam uma boa parte do seu exército. Quanto a D. Sebastião, morreu na batalha ou foi morto depois desta terminar.
Conta-se que, ao ser aconselhado a render-se, e a entregar a sua espada aos vencedores, o rei se tenha recusado com altivez, dizendo: "A liberdade real só há de perder-se com a vida.".[12] Foram as suas últimas palavras, e é-nos dito que ao ouvi-las, "os cavaleiros arremeteram contra os infiéis; D. Sebastião seguiu-os e desapareceu aos olhos de todos envolto na multidão, deixando ... a posteridade duvidosa acerca do seu verdadeiro fim.".[13] Há quem defenda, por outro lado, que o seu corpo terá sido enterrado logo em Ceuta, "com toda a solemnidade".[14] Mas para o povo português de então, o rei havia apenas desaparecido. Este desastre teria as piores consequências para o país, colocando em perigo a sua independência. O resgate dos sobreviventes ainda mais agravou as dificuldades financeiras do país.
Em 1582, Filipe I de Portugal mandou trasladar para o Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, um corpo que se alegava ser o do rei desaparecido, na esperança de acabar com o sebastianismo, o que não resultou, nem se pôde comprovar ser o corpo realmente o de Sebastião I. Ele terá chegado de barco ao porto de Faro e a restante jornada até Lisboa sido transportado por terra na companhia de oito nobres portugueses, que tinham sido seus companheiros d´armas em Alcácer, convocados para o efeito.[15][16] O Túmulo de Mármore, que repousa sobre dois elefantes, pode ainda hoje ser observado em Lisboa.
Tornou-se então numa lenda do grande patriota português – o "rei dormente" (ou um Messias) que iria regressar para ajudar Portugal nas suas horas mais sombrias, uma imagem semelhante à que o Rei Artur tem em Inglaterra ou Frederico Barbarossa na Alemanha.
Durante o subsequente domínio espanhol (1580-1640) da coroa portuguesa, quatro pretendentes afirmaram ser o rei D. Sebastião, tendo o último deles – o calabrês Marco Tulio Catizone – sido enforcado em 1603.
Já em fins do século XIX, no sertão da Bahia, no Brasil, camponeses sebastianistas acreditavam que o rei iria regressar para os ajudar na luta contra a "república ateia brasileira", durante a chamada Guerra de Canudos. O mesmo se repetiu no sul do Brasil, no episódio da Guerra do Contestado.
Teorias e dados sobre o desaparecimento
Dentre incontáveis especulações e investigações de vários autores, a historiadora Maria Luísa Martins da Cunha defende, em dezembro de 2011, no terceiro volume do livro ‘Grandes Enigmas da História de Portugal', que o rei D. Sebastião sobreviveu à batalha de Alcácer-Quibir e reapareceu no ano de 1598 em Itália, onde foi mais tarde preso em Veneza, Florença e Nápoles, com a cumplicidade dos espanhóis. Segundo a mesma historiadora, o corpo do rei encontra-se sepultado na capela de São Sebastião, no Convento dos Agostinhos de Limoges.[17]
Na verdade, já o historiador Faria e Sousa reportara testemunhos, como o de D. Luís de Brito, que afirmavam ter visto no final da batalha o rei à distância sem ser perseguido. Brito encontrou-o posteriormente, em direção ao rio, e segundo o historiador esta foi a última vez que ele foi visto vivo.
O documento "Relação da Batalha de Alcácer que mandou um cativo ao Dr. Paulo Afonso",[18] termina informando que o Rei se retirou, e que a batalha terminou sem nenhum lado declarar vitória:
Neste tempo vendo El Rei que estava na vanguarda o seu campo desbaratado, se veio recolhendo pela banda do Duque de Aveiro, e o seguiu alguma gente de cavalo e a pé, cuidando que ia fazendo uma ponta para volver sobre os mouros, viu o campo já tão desbaratado que se retirou. Durou a batalha quatro horas sem se declarar a vitória.
Prisioneiro de Veneza
O caso do estranho em Veneza, mencionado acima, que vinte anos depois aparecera declarando-se Sebastião, rei de Portugal, é o de maior interesse. Ele chegou a ser aceite pelos portugueses da cidade como seu senhor soberano, por se parecer tão perfeitamente com Sebastião. João de Castro, neto do homónimo vice-rei da Índia e filho do diretor de finanças no reinado de D. Sebastião, defendeu e apoiou este estranho de Veneza, anunciando ao mundo que o rei não morrera, no seu Discurso da vida do sempre bem-vindo e aparecido Dom Sebastião,[19] publicado em 1598; enquanto Sebastião Figueira, uma das várias testemunhas que atestaram terem visto D. Sebastião sair vivo da batalha – afirmando mesmo ter saído dela com o rei – também diz tê-lo reconhecido em Veneza.[17] O Papa Clemente VIII mandara, por conselho de cardeais em conclave, que o pretendido rei aparecesse em Roma, onde a sua pretensão seria examinada. Chegando-se em conclave à conclusão, após cuidadas investigações, que era ele o verdadeiro D. Sebastião, escreve o Papa a Filipe III de Espanha, o então senhor da coroa e do Reino de Portugal, exigindo a devolução do dito Reyno ao Rey D. Sebastião, "sob pena de excommunhão mayor".[20] Filipe responde acusando o pretendente "impostor" de vários crimes e, por intermédio do seu embaixador em Veneza, manda-o prender. Foi formado um comité de nobres, que o examinaram 28 vezes, mas ele conseguiu ilibar-se de todas as acusações.[21] O pretendente mostrou marcas naturais no seu corpo, que muitos se lembravam serem de D. Sebastião, e revelou segredos de conversas entre embaixadores de Veneza no palácio de Lisboa, o que deixou atónitos os examinadores, e facilitou a sua libertação – sob a condição de ter que abandonar aqueles domínios em três dias. Na sua fuga caiu nas mãos dos Espanhóis, que em Nápoles o maltrataram, humilharam em público, e o embarcaram como escravo. Defendiam os espanhóis, que aquele sofredor era um mágico, mas tal justificação foi vista como um reconhecimento tácito da verdade das suas pretensões.[22][23]
Títulos, estilos, e honrarias
Predefinição:Info/Estilos reais
Títulos e estilos
- 20 de Janeiro de 1554 – 11 de Junho de 1557: "Sua Alteza Real, o Príncipe Herdeiro de Portugal"
- 11 de Junho de 1557 – 4 de Agosto de 1578: "Sua Majestade, o Rei"
O estilo oficial de D. Sebastião enquanto Rei de Portugal era: "Pela Graça de Deus, Sebastião I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.".
Honrarias
Enquanto monarca de Portugal, D. Sebastião foi Grão-Mestre das seguintes Ordens:
- Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo
- Ordem de São Bento de Avis
- Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem de Sant'Iago da Espada
- Antiga e Muito Nobre Ordem da Torre e Espada
Cultura popular
Em 1689, John Dryden (poeta, dramaturgo e crítico inglês) escreve a peça Don Sebastian, King of Portugal,[24] inspirado pela lenda segundo a qual D. Sebastião sobreviveu à Batalha de Alcácer-Quibir.
Poema "D. Sebastião, Rei de Portugal", em Mensagem (1934), de Fernando Pessoa:
- Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
D. Sebastião é personagem principal nos romances históricos "O Desejado", do escritor brasileiro Aydano Roriz (2002-Brasil; 2003-Portugal), e "D. Sebastião e o Vidente" de Deana Barroqueiro. Também é personagem principal do romance "O Regresso do Desejado" (2018) do autor português Ricardo Correia.
Descoberta de retratos perdidos
Em novembro de 2010 foi encontrado na Áustria um retrato do rei, dado como desaparecido há 400 anos. O quadro estava no Palácio de Schönbrunn, mas o protagonista era identificado como sendo um nobre austríaco. A obra é da autoria de Alonso Sánchez Coello e foi pintada na corte portuguesa em 1562.[25]
Um outro retrato encontrado em 2011 na Itália,[26] de autor ainda não identificado, mostra o soberano em idade adulta, com barba e bigode, numa representação de busto a 3/4 envergando armadura de gala com gola de folhos. Da decoração da armadura sobressai a Cruz de Cristo, de que é visível o braço superior, com uma forma mal representada, o que nos leva à conclusão da autoria por um pintor espanhol ou italiano, mais familiarizados com este tipo de cruz do que com as formas rectas da Cruz de Cristo.
O retrato está carregado de simbolismo, não apenas pela inclusão da Cruz de Cristo, como pela legenda que encima o quadro "Sebastianus I Lusitanor R" (Sebastião I Rei dos Portugueses), que remete para o início do mito de D. Sebastião.
Ver também
- Lista de militares portugueses na Batalha de Álcacer Quibir
- Arcos do Jardim
- Árvore genealógica dos reis de Portugal
- Sebastianismo
- História de Portugal
- Crise de sucessão de 1580
- "Puestos están, frente a frente"
Predefinição:Notas e referências
Bibliografia
- Antonio Villacorta Baños-García. D. Sebastião Rei de Portugal. A Esfera dos Livros.
- Maria Augusta Lima Cruz. D.Sebastião. Temas e Debates.
- Bernardo da Gama Lobo Xavier. Retratos Ignorados de D. Sebastião. Principia.
- Deana Barroqueiro. D. Sebastião e o Vidente. Casa das Letras-Leya..
- Fernando Campos. A Ponte dos Suspiros. Difel.
Ligações externas
- D. Sebastião, o rei mito, Grandes Quadros Portugueses (Extrato de programa), Companhia das Ideias, 2012
- Notícia de alguns que fingiram ser D. Sebastião, Veratatis, 5 de agosto de 2022, in Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
Sebastião de Portugal Casa de Avis Ramo da Casa de Borgonha 20 de janeiro de 1554 – 4 de agosto de 1578 | ||
---|---|---|
Precedido por João III |
Rei de Portugal e Algarves 11 de junho de 1557 – 4 de agosto de 1578 |
Sucedido por Henrique I |
Precedido por João Manuel |
Príncipe Herdeiro de Portugal 20 de janeiro de 1554 – 11 de junho de 1557 |
Sucedido por Manuel |
- ↑ D. Sebastião em O Portal da História
- ↑ IMAGENS DE D. SEBASTIÃO NO PORTUGAL CONTEMPORÂNEO - ebook de António Coelho e Silva in Biblo.net
- ↑ Sebastianismo – programa da RTP de José Hermano Saraiva sobre o sebastianismo
- ↑ 4,0 4,1 José P. Bayam, Portugal cuidadoso, e lastimado com a Vida, e Perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria (1737), Livro I, De Sua Infância, Capítulo Primeiro, Do nascimento, batismo, e aclamação del Rey D. Sebastião, de outros sucessos notáveis deste tempo, p.1 [google books]
- ↑ 5,0 5,1 José P. Bayam, Portugal cuidadoso, e lastimado com a Vida, e Perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria (1737), Livro I, De Sua Infância, Capítulo Primeiro, Do nascimento, batismo, e aclamação del Rey D. Sebastião, de outros sucessos notáveis deste tempo, p.2
- ↑ José P. Bayam, Portugal cuidadoso, e lastimado com a Vida, e Perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria (1737), Livro I, De Sua Infância, Capítulo Primeiro, Do nascimento, batismo, e aclamação del Rey D. Sebastião, de outros sucessos notáveis deste tempo, p.2s
- ↑ José P. Bayam, Portugal cuidadoso, e lastimado com a Vida, e Perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria (1737), Livro I, De Sua Infância, Capítulo Primeiro, Do nascimento, batismo, e aclamação del Rey D. Sebastião, de outros sucessos notáveis deste tempo, p.3
- ↑ 8,0 8,1 José P. Bayam, Portugal cuidadoso, e lastimado com a Vida, e Perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria (1737), Livro I, De Sua Infância, Capítulo Primeiro, Do nascimento, batismo, e aclamação del Rey D. Sebastião, de outros sucessos notáveis deste tempo, p.4
- ↑ José P. Bayam, Portugal cuidadoso, e lastimado com a Vida, e Perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria (1737), Livro I, De Sua Infância, Capítulo II, Como o governo do Reyno foy entregue à Rainha Dona Catharina. Vistas Reays, Embaixadas, e outros successos notaveis deste tempo, p.6
- ↑ José P. Bayam, Portugal cuidadoso, e lastimado com a Vida, e Perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria (1737), Livro I, De Sua Infância, Capítulo VI, De como a Rainha largou o governo do Reyno, e foy entregue ao Cardeal Infante. Notícias memoraveis do tempo, que ella governou., p.34
- ↑ Documentos de várias tipologias, relativos à história portuguesa, sobretudo do reinado de D. Sebastião. Cópia da carta original d'el Rey D. Sebastião a João de Mendonça sobre a Jornada de África. [S.l.: s.n.] 1501–1650. p. 97 (197 do PDF)
- ↑ Historia de Portugal nos seculos XVII e XVIII, por Luiz Augusto Rebello da Silva, Volume I (Imprensa Nacional, 1860), p. 237.
- ↑ Ibidem.
- ↑ José Agostinho de Macedo, Inventario da refutação analytica (1810) – "O cadaver del Rei D. Sebastião foi enterrado em Ceuta com toda a solemnidade, e sinaes para se não equivocar com outros cadáveres."
- ↑ Código Alcobacense n.º 459 (ant.º) e 126 (mod), na Biblioteca Nacional de Lisboa, refere o Conde de Almada, em Relação dos Feitos de D. Antão Dalmada, edição de 1940
- ↑ O préstito fúnebre teve a direcção do vedor Francisco Barreto de Lima, era composto pelos seguintes fidalgos: D. Francisco de Castelo Branco, Jerónimo Moniz de Luzinhano, D. João de Castro, Ruy Lourenço de Távora, Henrique Correia da Silva, D. Lucas de Portugal, D. Lourenço de Almada e Diogo da Silva. - Coisas Que Poucos Sabem, Henrique Salles da Fonseca, Elos Clube de Lisboa, 19 de Julho de 2011
- ↑ 17,0 17,1 Mascarenhas Paulo Pinto,. «D. Sebastião foi preso em Itália». Correio da manhã. Consultado em 14 de Dezembro de 2011. Arquivado do original em 7 de janeiro de 2012
- ↑ Documentos de várias tipologias, relativos à história portuguesa, sobretudo do reinado de D. Sebastião. [S.l.: s.n.] 1501–1650. p. 68-69 do Manuscrito (p. 144-147, do PDF)
- ↑ História de Portugal: Governo dos reis espanhóis (1580-1640), por Joaquim Veríssimo Serrão, Editorial Verbo, 1977.
- ↑ Escrito a 23 de Dezembro de 1598. Vide Branco, Camilo Castelo, Noites de insomnia offerecidas a quem nao pode dormir (1874), p. 77.
- ↑ Em resposta à objecção de o corpo de D. Sebastião ter já sido enviado para Portugal, como fora atestado pela nobreza portuguesa que sobrevivera à batalha, ele dizia que o corpo tinha sido produzido para facilitar a sua fuga, e que a nobreza o atestara por esse motivo. Posteriormente, alguns membros da nobreza admitiram que o corpo estava tão desfigurado com feridas que era impossível sabê-lo.
- ↑ William Julius Mickle, The Lusiad: Or, the Discovery of India (1776), Livro I, referência 5.
- ↑ D. Sebastião, o rei mito – artigo na RTP, Grandes quadros portugueses, produção da Companhia das Ideias, extrato de programa, 2012. CIT : «D. Sebastião (1554-1578) transformou-se num mito após o seu desaparecimento na batalha de Alcácer Quibir, no norte de África. A sua morte abriu as portas à crise dinástica que vai colocar os reis de Espanha no trono português. »
- ↑ John Dryden. «Don Sebastian, King of Portugal: a tragedy acted at the Theatre Royal, London, 1690». Biblioteca Nacional de Portugal. Consultado em 6 de abril de 2017
- ↑ Descoberto na Áustria quadro de D. Sebastião perdido há 400 anos – notícia de Valdemar Cruz no semanário Expresso, 26 novembro 2010
- ↑ «Retrato de D. Sebastião não teve compradores em leilão». Jornal Público. Consultado em 5 de fevereiro de 2013
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