Te Deum (do seu incipit, Te Deum Laudamus, Latim para "a Vós, ó Deus, louvamos") é um hino cristão cuja redação final é tradicionalmente datada do ano 387 d.C. quando da ocasião do batismo de Santo Agostinho por Santo Ambrósio, mas de origem ancestral, com autoria rastreada ao Papa Santo Aniceto, em 160 d.C. [1].
O hino é usado principalmente na liturgia católica, como parte do Ofício de Leituras da Liturgia das Horas e outros eventos solenes de ações de graças.
No último dia do ano, as leis eclesiásticas concedem aos católicos a indulgência plenária, nas condições usuais, se estes recitarem um Te Deum em público no réveillon como gratidão a Deus pelos benefícios Dele recebidos durante o ano que finda. No cristianismo a gratidão sincera e cordial é considerada a chave para se receber mais dadivosos benefícios da bondade divina, por isso nada mais justo, digno e necessário esta demonstração de ações de graças por parte do fiel.
O hino é encontrado também na hinódia ou práticas litúrgicas de outras igrejas cristãs, incluindo o Livro de Oração Comum da Igreja Anglicana, as matinas luteranas e, de modo menos regular, em outras denominações protestantes e evangélicas.
Denominação
Das duas primeiras palavras do primeiro verso, "Te Deum laudamos" (literalmente 'A ti, Deus, louvamos'), deriva o nome pelo qual o hino ficou conhecido. O nome latino vem sendo usado a designar também suas traduções para os diversos vernáculos, mesmo fora do catolicismo.
O termo Te Deum também pode referir-se a um breve serviço religioso (de bênção ou agradecimento) baseado no hino.
História
Tradicionalmente, a autoria do hino é atribuída a Santo Ambrósio (m. 397) e a Santo Agostinho (m. 430), na ocasião do batismo deste último pelo primeiro na Catedral de Milão, no ano 387.
Estudos levados a cabo no século XIX, atribuíram a composição aos santos Hilário de Poitiers (m. 367) e Nicetas de Remesiana (m. 414). No século XX, a associação com Nicetas foi abandonada, de modo que o hino, embora datando quase certamente do século IV, é considerado de autoria incerta.
A autoria de Nicetas de Remesiana foi sugerida pela associação do nome "Nicetas" com o hino em manuscritos do século X em diante, e foi particularmente defendida na década de 1890 por Germain Morin. Hinologistas do século XX, especialmente Ernst Kähler (1958), mostraram que a associação com "Nicetas" era espúria. Tem semelhanças estruturais com uma oração eucarística e foi proposto que foi originalmente composta como parte de uma. Para algumas correntes historiográficas da hinologia cristã, outros padres da Igreja católica foram propostos como possíveis autores mas todos estudos são por ora considerados inconclusivos.
O hino fazia parte do Hinário Antigo desde que foi introduzido na ordem beneditina no século VI e foi preservado no Hinário franco do século VIII. No entanto, foi removido do Novo Hinário, que se tornou predominante no século X. Foi restaurado no século XII em hinários que tentaram restaurar a intenção louvável do governo de São Bento.
Uso
No ofício tradicional, o Te Deum é cantado no final das Matinas em todos os dias em que o Glória é rezado na Missa; esses dias são todos os domingos que caem fora do tempo do Advento, da Septuagésima, da Quaresma e da Semana Santa; em todas as festas (exceto o Tríduo ) e em todas as férias durante a Páscoa .
Antes das reformas de 1961 do Papa João XXIII, nem a Glória nem o Te Deum eram ditos na festa dos Santos Inocentes, a não ser que caísse no domingo, pois foram martirizados antes da morte de Cristo e, portanto, não puderam alcançar imediatamente a visão beatífica.
Na Liturgia das Horas do Papa Paulo VI, o Te Deum é cantado no final do Ofício das Leituras em todos os domingos, exceto os da Quaresma, em todas as solenidades, nas oitavas da Páscoa e do Natal, e em todas as festas. A indulgência plenária é concedida, nas condições usuais, àqueles que a recitem em público no réveillon.
Também é usado junto com os cânticos padrão na Oração da Manhã, conforme prescrito no Livro Anglicano de Oração Comum , como uma opção na Oração da Manhã ou Matinas para Luteranos, e é mantido por muitas igrejas da tradição Reformada.
O hino é usado regularmente na Igreja Católica, Igreja Luterana, Igreja Anglicana e Igreja Metodista (principalmente antes da Homilia) no Ofício de Leituras encontrado na Liturgia das Horas, e em agradecimento a Deus por uma bênção especial como a eleição de um papa, a consagração de um bispo, a canonização de um santo, uma profissão religiosa, a publicação de um tratado de paz, uma coroação real, etc. É cantada após a missa ou o ofício divino ou como uma cerimônia religiosa. O hino também permanece em uso na Comunhão Anglicana e em algumas igrejas luteranas em ambientes semelhantes.
Texto
As petições no final do hino (começando com Salvum fac populum tuum) são uma seleção de versos do Livro de Salmos, anexados posteriormente ao hino original.
O hino segue o esboço do Credo dos Apóstolos, misturando uma visão poética da liturgia celestial com sua declaração de fé. Invocando imediatamente o nome de Deus, o hino passa a nomear todos aqueles que louvam e veneram a Deus, desde a hierarquia das criaturas celestiais aos fiéis cristãos que já estão no céu e à Igreja espalhada por todo o mundo.
O hino então retorna à sua fórmula de profissão de fé, nomeando Cristo e relembrando seu nascimento, sofrimento e morte, sua ressurreição e glorificação. Neste ponto, o hino se volta para os temas que declaram o louvor, tanto a Igreja universal quanto o cantor em particular, pedindo misericórdia para os pecados passados, proteção contra o pecado futuro e a esperada reunião com os eleitos no Céu.
Música
O texto foi musicado por vários compositores, entre eles Marc-Antoine Charpentier, Henry Purcell, Jean-Baptiste Lully, Wolfgang Amadeus Mozart, Franz Joseph Haydn, Hector Berlioz, Anton Bruckner, Antonín Dvorák, António Francisco Braga, António Teixeira, Kiko Arguello, João de Sousa Carvalho, Lobo de Mesquita, José Maurício Nunes Garcia e Pe. Zezinho. Também o imperador Pedro I do Brasil compôs um Te Deum, bem como o ilustre compositor luso-brasileiro Marcos Portugal.
Notas sobre traduções
A maior parte das traduções para o português usa o plural majestático da segunda pessoa, Vós, ao dirigir-se a Deus, de acordo com o costume católico mais comum em países lusófonos. A versão latina e as traduções literais empregam sempre a segunda pessoa do singular, tu.
A maioria da traduções, não apenas para o português, mas também para outras língua modernas, traz alterações de função sintática em vários versos do hino. No Latim, "Te Deum laudamus" permite a aglutinação de duas ideias distintas na mesma construção: "louvamos-te" e "tu (a quem louvamos) és Deus". Uma tradução quase literal teria de recorrer a coordenação (por exemplo: "Louvamos-Te porque és Deus") ou a locuções adverbiais (por exemplo: "Louvamos-Te como Deus [que és]"). A opção pelo vocativo para a pessoa de Deus seria natural apenas se o verso latino tivesse a forma "Te, Deus, laudamus", que ocorre em outros textos que têm caráter realmente vocativo, mesmo quando o objeto direto é o pronome te (cf., por exemplo, o primeiro versículo do Salmo 42 em Latim).
No segundo bloco do hino, as palavras chorus, numerus, exercitus e ecclesia têm todas o sentido de reunião de pessoas em torno de um objetivo comum. Adicionalmente, as duas primeiras embutem também um sentido de cântico. As traduções diretas dessas quatro palavras são, respectivamente, coro, número, exército e igreja. Nos casos das duas últimas, não há qualquer dificuldades, pois o sentido principal é o mesmo. Também coro não apresenta problema, porque também em Português a palavra tem os sentidos tanto de quem se ajunta para louvar quanto da forma tomada por esse louvor. Mas número não é uma boa tradução porque o sentido de conjunto de pessoas se perdeu no Português moderno, e a dimensão artística, embora ainda seja um dos sentidos possíveis, normalmente vem acompanhada de um qualificativo (por exemplo: "número musical", "número circense", etc.) ou de um contexto que deixe clara a atuação do artista. Uma tradução interessada em preservar os dois sentidos deve procurar uma palavra ou expressão que consiga fazê-lo.
Texto do hino em latim, português e tradução literal
Nota: a tradução abaixo está sendo ajustada; o espaçamento não está correspondendo a estrofes, etc.
Texto em Latim | Texto em Português | Tradução Literal |
---|---|---|
1. Te Deum laudámus: te Dóminum confitémur. |
1. A Vós, ó Deus, louvamos: A Vós, Senhor, glorificamos [2] |
Louvamos-Te [como] Deus: Confessamos-Te [como] Senhor. |
Referências
- ↑ [newadvent.org/cathen/14468c.htm «Te Deum»] Verifique valor
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(ajuda). The Catholic Encyclopedia. 1 de julho de 1912. Consultado em 31 de dezembro de 2021 - ↑ Embora a palavra latina confitémur, primeira pessoa do plural do presente indicativo ativo do verbo confiteor, etimologicamente signifique confessar, reconhecer, e seja neste sentido usada na oração do Confiteor católico (Confesso a Deus Todo Poderoso, a Bem-aventurada sempre Virgem Maria...), no preciso caso do Te Deum, o latim eclesiástico prevê traduzi-lo corretamente por "glorificamos", "louvamos", "damos graças", e não como "confessamos" conforme erroneamente traz algumas traduções de pessoas não familiarizadas com o latim. A título probatório basta ler o incipt do salmo 117 (118 na Vulgata): Confitemini Domino quoniam bonus, quoniam in saeculum misericordia eius. Nenhuma tradução trás Confessai ao Senhor porque Ele é bom pois sua misericórdia é para sempre, mas sim Louvai ao Senhor porque Ele é bom...
- ↑ A tripla repetição do adjetivo "Santo" tem o sentido gramatical do superlativo "Santíssimo".
- ↑ As primeiras traduções mantiveram a noção biblico-litúrgica de Multidões, tal qual as revelações transcritas na Sagrada Escritura.
- ↑ [[:s:Tradução Brasileira da Bíblia/Isaías/
- REDIRECIONAMENTO Predefinição:Números romanos#6:3|Isaías 6:3]].
- ↑ Este Te é objeto direto também dos dois versos anteriores. A versão latina traz o pronome Te em todos os versos, omitindo apenas o verbo do predicado dos dois primeiros, e a distinção entre sujeito e objeto se dá pela diferença de casos (nominativo para o sujeito, acusativo para o objeto direto). Construção semelhante foi usada na estrofe anterior, com a diferença de que ali o objeto era indireto, tanto no latim (caso ablativo) como em português. Como no português não se costuma usar o pronome pessoal oblíquo átono quando se omite o verbo, esta tradução preferiu omitir todo o predicado dos dois primeiros versos e ter o pronome átono como objeto direto somente no terceiro. Esta escolha considerou não apenas mais natural o emprego de "Te louva" do que o objeto direto com preposição "louva a Ti", mas também uma correspondência mais direta à forma latina "Te laudat", além de tentar evitar um possível surpresa ao leitor que, ao ver o pronome átono com a preposição, pudesse esperar o eventual aparecimento de um verbo transitivo indireto. Apesar disso, uma tradução alternativa — e, de certo modo, até mais literal —, que não evita os objetos diretos preposicionados, poderia ser "A Ti dos Apóstolos o glorioso coro,/A Ti dos Profetas de louvor o canto,/A Ti dos Mártires em brancas vestes louva o exército".
- ↑ O útero da Virgem é uma dupla contraposição ao verso anterior, pois traz tanto a ideia de confinamento, que se opõe à libertação, quanto à forma humilde de ser recebido temporal e temporariamente pela humanidade, que contrasta com a acolhida eterna e gloriosa do homem salvo por Deus.
- ↑ Lit. "És crido". Sendo este um hino confessional em primeira pessoa, o agente da passiva implícito é o autor do cântico ou aquele que o entoa.
- ↑ Lit. "Faze salvo".
- ↑ [[:s:Tradução Brasileira da Bíblia/Salmos/
- REDIRECIONAMENTO Predefinição:Números romanos#28:9|Salmos 28:9]]
- ↑ Lit. "Por".
- ↑ Em português, a palavra século comumente significa um período de cem anos; no latim, há vários sentidos possíveis além desse: geração, tempo de vida de uma geração, descendência, era, era corrente, raça (povo), a humanidade numa dada era (ou na era corrente), o mundo, as coisas mundanas. Uma tradução possível para "in saeculum, et in seaculum saeculi" poderia ser "na geração (ou tempo) presente e na descendência da geração (ou tempo) presente" ou, mais simplesmente, "hoje e no porvir".
- ↑ [[:s:Tradução Brasileira da Bíblia/Salmos/
- REDIRECIONAMENTO Predefinição:Números romanos#145:2|Salmos 145:2]].
- ↑ [[:s:Tradução Brasileira da Bíblia/Salmos/
- REDIRECIONAMENTO Predefinição:Números romanos#33:22|Salmos 33:22]].
- ↑ [[:s:Tradução Brasileira da Bíblia/Salmos/
- REDIRECIONAMENTO Predefinição:Números romanos#71:1|Salmos 71:1]].