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Bondade

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Bondade é a qualidade correspondente a ser bom (bondoso), ou seja, a qualidade de manifestar satisfatoriamente alguma perfeição, ter ou fazer bem, que se pode aplicar a pessoas, coisas e situações. No comportamento humano, é um atributo marcado por características éticas, uma disposição agradável, uma preocupação e consideração pelos outros; a disposição permanente de uma pessoa em fazer o bem, neste sentido, tem também por sinônimo a benevolência, expressada também como gentileza e amabilidade. É considerada uma virtude e é reconhecido como um valor em muitas culturas e religiões (ver ética na religião).[1] Ela já foi considerada também entre as sete virtudes clássicas na Idade Média ocidental.

Formulações

Platão considera que para se efetivar a bondade, deve-se olhar ao modelo (paradeigma) da Ideia do Bem e dela participar, conforme a teoria das ideias. A filósofa Iris Murdoch, em sua ética das virtudes, considerou válida a proposta platônica de contemplação e visão em direção ao ideal máximo, analisando-a com conceitos da psicanálise em sua obra A Soberania do Bem, em que ela condicionaria o indivíduo e motivaria a sua prática.[2]

No livro II de Retórica, Aristóteles define bondade como "ajuda a alguém necessitado, não em troca de nada, nem da vantagem do próprio ajudante, mas em prol da pessoa ajudada".[1] Em sua Ética a Nicômaco ele elabora:

"Ora, se a função do homem é uma atividade da alma que segue ou implica um princípio racional, e se dizemos que "fulano de tal" e "um bom fulano de tal" possuem uma função que é a mesma em espécie, por exemplo uma lira e um bom tocador de lira, e, portanto, sem qualificação em todos os casos, a eminência em relação à bondade é acrescentada ao nome da função, pois a função de um tocador de lira é tocar a lira e aquela de um bom tocador de lira é fazê-lo bem: se esse é o caso, e afirmamos que a função do homem é um certo tipo de vida, e isso ser uma atividade ou ações da alma que implicam um princípio racional, e a função de um bom homem ser o bom e nobre desempenho destas, e se qualquer ação é bem executada quando é realizada de acordo com a excelência adequada: se for esse o caso, o bem humano passa a ser a atividade da alma de acordo com a virtude, e, se houver mais de uma virtude, de acordo com a melhor e mais completa. Mas a isso devemos acrescentar "em uma vida completa". Pois uma só andorinha não faz verão, nem um dia; e assim também um dia, ou pouco tempo, não faz um homem abençoado e de bom estado de espírito (eudaimon)."[3]

A bondade é uma virtude em muitas culturas e religiões. Representação da parábola do Buda e do elefante Nalagiri. Devadatta, com inveja de Buda e querendo prejudicá-lo, envia um elefante raivoso chamado Nalagiri para uma rua onde Buda e seus discípulos estão andando. Quando Nalagiri irado deles se aproxima, o Buda fazendo o sinal de Abhaya-mudrā, símbolo de paz e bondade, acalma Nalagiri. A parábola sugere que a bondade toca a todos. Os budistas chamam essa virtude de perfeição de bondade como Mettā,[4] enquanto outras literaturas indianas se referem a maitrī (sânscrito: मैत्री).[5][6]

No budismo, o modo de viver pelo Nobre Caminho Óctuplo é pautado por oito condicionamentos e condutas de retidão e bondade, incluindo "conduta correta", "fala correta" e "intenção correta". O termo maitrī (em sânscrito) ou mettā (páli), traduzido como "bondade amorosa", significa desejar a felicidade, a si mesmo e aos outros, e é uma motivação dos bodisatvas.[7] Ela é uma das chamadas quatro "moradas divinas", junto de karuṇā (compaixão), alegria simpática (mudita) e equanimidade (upekkha).[8][7]

Outras proposições notáveis incluem:

Wikiquote
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  • A tábua acadiana chamada Conselhos da Sabedoria (c. 700 a.C.) registra: "Não devolva o mal ao homem que contesta com você, retribua com gentileza o seu malfeitor, mantenha justiça para com seu inimigo (...) Não deixe seu coração ser induzido a fazer o mal (...) Dê comida para comer, cerveja para beber, honre e vista àquele que implora por esmola; nisto o deus de um homem tem prazer, é agradável a Shamash, que o retribuirá com favor. Seja útil, faça o bem.”[9]
  • O Tirukkural, uma antiga obra indiana sobre ética e moralidade, dedica um capítulo separado sobre bondade (capítulo 8, versículos 71 a 80), promovendo o valor em outros capítulos, como hospitalidade (versículos 81 a 90), pronunciar palavras agradáveis (versículos 91–100), compaixão (versículos 241–250), vegetarianismo moral (versículos 251–260), não-violência (versículos 311–320), não matar (versículos 321–330) e benignidade (versículos 571–580), entre outros.[10][11]
  • Nietzsche considerava a bondade e o amor as "ervas e agentes mais curativos da relação humana".[12]
  • Mark Twain, do ponto de vista da compaixão, considerou "a bondade [como] uma linguagem que os surdos podem ouvir e os cegos podem ver".[13]
  • Foi sugerido que "a maior parte da obra de Shakespeare poderia ser considerada um estudo da bondade humana".[14]
  • Robert Louis Stevenson considerou que 'a essência do amor é a bondade; e, de fato, pode ser melhor definida como bondade apaixonada: a bondade, por assim dizer, enlouquece e se torna importunada e violenta'.[15]
  • Em Mateus 19:17 Jesus disse ao ser interrogado: 'Por que me perguntas sobre o que é bom?... Só há Um que é bom. Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos."[16] O apóstolo cristão Paulo lista a bondade como um dos nove traços considerados o "fruto do Espírito"[17] em Gálatas 5:22. Em 1 Coríntios 13:4, ele afirma: "O amor é paciente, o amor é bondoso".[18]

Psicologia

Com base em experimentos na Universidade de Yale, usando jogos com bebês, alguns estudos concluíram que a bondade é inerente aos seres humanos.[19] Existem estudos semelhantes sobre a raiz da empatia na infância[20] – o espelhamento motor se desenvolvendo nos primeiros meses de vida,[21] levando (de maneira ideal) à preocupação fácil demonstrada pelas crianças por seus pares em perigo.[22]

Barbara Taylor e Adam Phillips salientaram o elemento de realismo necessário na bondade adulta, bem como a forma como "a verdadeira bondade muda as pessoas ao se fazê-la, muitas vezes, de forma imprevisível".[23]

Na sociedade

Na escolha humana de parceiros, os estudos sugerem que homens e mulheres valorizam a bondade e a inteligência em seus futuros companheiros, juntamente com aparência física, atratividade, status social e idade.[24][25]

Cara legal

Um "cara legal" é um termo informal e geralmente estereotipado para um homem adulto (geralmente jovem) que se mostra gentil, compassivo, sensível e/ou vulnerável.[26] O termo é usado tanto positiva quanto negativamente.[12] Quando usado de forma positiva, e particularmente quando usado como preferência ou descrição por outra pessoa, pretende-se implicar um homem que coloca as necessidades dos outros antes de si mesmo, evita confrontos, faz favores, dá apoio emocional, tenta ficar longe de problemas e geralmente age bem com os outros.[27] No contexto de um relacionamento, também pode se referir a traços de honestidade, lealdade, romantismo, cortesia e respeito. Quando usado negativamente, um cara legal implica um homem que não é assertivo, não expressa seus verdadeiros sentimentos e, no contexto do namoro (no qual o termo é frequentemente usado[26]), usa atos de amizade ostensiva com o objetivo não declarado de progredir para um relacionamento romântico ou sexual.[28][29]

Ver também

Referências

  1. 1,0 1,1 Khazan, Olga (23 de junho de 2015). «It Pays to Be Nice». The Atlantic. Consultado em 16 de agosto de 2018 
  2. Williges, Flavio (2019). «Platão e Iris Murdoch: o Bem, o Amor e a retomada da ética das virtudes antiga na filosofia moral britânica» (PDF). Revista Archai (26). ISSN 1984-249X. doi:10.14195/1984-249x_26_3 
  3. Aristóteles. Ética a Nicômaco 1139a16 (1098a, bekker). In Polansky, Ronald (23 de junho de 2014). The Cambridge Companion to Aristotle's Nicomachean Ethics (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press
  4. Harvey, Peter (2007). An Introduction to Buddhism: Teachings, History and Practices. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-31333-3
  5. Warder, A. K. (1970; 2004). Indian Buddhism. Motilal Banarsidass: Delhi. ISBN 81-208-1741-9
  6. Gonda, J. (Ed.). (1977), A History of Indian Literature: Epics and Sanskrit religious literature, Medieval religious literature in Sanskrit (Vol. 2), Otto Harrassowitz Verlag; p. 62; nota 43
  7. 7,0 7,1 Jr, Robert E. Buswell; Jr, Donald S. Lopez (24 de novembro de 2013). The Princeton Dictionary of Buddhism (em English). [S.l.]: Princeton University Press 
  8. Gethin, Rupert (1998). The Foundations of Buddhism. Oxford: Oxford University Press. p. 186-187.
  9. Nolland, John. The Gospel of Matthew: a commentary on the Greek text. Wm. B. Eerdmans Publishing, 2005 pg. 267
  10. Tirukkuṛaḷ Arquivado 2014-12-16 no Wayback Machine versos 71-80
  11. Pope, George Uglow (1886). The Sacred Kurral of Tiruvalluva Nayanar (PDF). Asian Educational Services First ed. New Delhi: [s.n.] ISBN 8120600223 
  12. 12,0 12,1 Nietzsche, Friedrich Wilhelm. (1878). "Sobre a História dos Sentimentos Morais". Humano, demasiado humano. Aforismo 48. [Original: Menschliches, Allzumenschiles] Trad. Marion Faber e Stephen Lehman. (1996). University of Nebraska Press: First Printing, Bison Books.
  13. Lorette M. Enochs (21 de novembro de 2016). Seeds of Recovery: A Journal of 101 Mental Health Reflections. AuthorHouse. [S.l.: s.n.] ISBN 978-1-5246-5181-7 
  14. Lenker, Lagrette Tallent. (2001). Fathers and Daughters in Shakespeare and Shaw. p. 107
  15. Stevenson, Robert Louis. (1909). Virginibus Puerisque. Londres. p. 35
  16. «Matthew 19:17. New International Version». biblehub.com 
  17. Gálatas 5:22. New International Version
  18. 1 Coríntios 13:4. New International Version
  19. Can Babies Tell Right From Wrong?, Babies at Yale University's Infant Cognition Center respond to "naughty" and "nice" puppets. New York Times. 5 de maio de 2010.
  20. Researchers Trace Empathy's Roots to Infancy, Daniel Goleman, 1989
  21. Goleman, Daniel. (1996). Emotional Intelligence. Londres. p. 98-9
  22. Philips, A; Taylor, B. (2009). On Kindness. Londres. p. 112
  23. Philips, A; Taylor, B. (2009). On Kindness. Londres. p. 96 e p. 12
  24. Buss, David M.; Larsen, Randy J.; Westen, Drew; Semmelroth, Jennifer (julho de 1992). «Sex Differences in Jealousy: Evolution, Physiology, and Psychology». Psychological Science. 3 (4): 251–256. ISSN 0956-7976. doi:10.1111/j.1467-9280.1992.tb00038.x 
  25. Gleitman, Henry; Gross, James; Reisberg, Daniel. Psychology 8th ed. [S.l.: s.n.] 
  26. 26,0 26,1 A. K., McDaniel (2005). «Young Women's Dating Behavior: Why/Why Not Date a Nice Guy?». Sex Roles. 53 (5-6): 347–359. doi:10.1007/s11199-005-6758-z 
  27. Glover, Dr. Robert, http://nomoremrniceguy.com
  28. Blomquist, Daniel (2 de abril de 2014). «When nice guys are sexist with a smile». Berkeley Beacon. Cópia arquivada em 20 de março de 2015 
  29. Dasgupta, Rivu. «The Friend Zone is Sexist». The Maneater 

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