Orígenes | |
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Orígenes | |
Nome completo | Orígenes |
Nascimento | c. 185 Alexandria |
Morte | 253 Tiro |
Orígenes (em grego: Ὠριγένης), cognominado Orígenes de Alexandria ou Orígenes de Cesareia ou ainda Orígenes, o Cristão (Alexandria, Egito, c. 185 – Cesareia, ou, mais provavelmente, Tiro, 253[1]), foi um teólogo, filósofo neoplatônico patrístico e é um dos Padres gregos.
Um dos mais distintos pupilos de Amônio de Alexandria,[2] Orígenes foi um prolífico escritor cristão, de grande erudição, ligado à Escola Catequética de Alexandria, no período pré-niceno.[3]
Inspirados em Orígenes e na Escola de Alexandria, muitos escritores cristãos desenvolveram suas obras: Sexto Júlio Africano, Dionísio de Alexandria, o Grande, Gregório Taumaturgo, Firmiliano, bispo de Cesareia (Capadócia), Teognosto, Pedro de Alexandria, Pânfilo e Hesíquio.
Orígenes de Alexandria não deve ser confundido com o filósofo Orígenes, o Pagão (210-280), mais jovem e também integrante da Escola de Alexandria, porém discípulo de Plotino.
Biografia
O maior erudito da Igreja antiga - segundo J. Quasten - nasceu de uma família cristã egípcia e teve como mestre Clemente de Alexandria. Seu pai, Leónidas, foi morto em 202 durante as purificações do imperador Severo. Orígenes castrou a si mesmo ao tomar literalmente o capítulo 19, versículo 12, do Evangelho de Mateus.[4]
Assumiu, em 203, a direção da escola catequética de Alexandria - fundada por um estoico chamado Panteno, que se havia convertido à mensagem de Jesus - atraindo muitos jovens estudantes pelo seu carisma, conhecimento e virtudes pessoais.
Depois de ter também frequentado, desde 205, a escola de Amônio Sacas, fundador do neo-platonismo e mestre de Plotino, apercebeu-se da necessidade do conhecimento apurado dos grandes filósofos.
No decurso de uma viagem à Grécia, no ano de 230, foi ordenado sacerdote na Palestina pelos bispos Alexandre de Jerusalém e Teoctisto de Cesareia.
Em 231, Orígenes foi forçado a abandonar Alexandria devido à animosidade que o bispo Demétrio lhe devotava pelo facto de se ter castrado e convocou o Concílio de Alexandria (231) com esta finalidade. Também, contribui para esse facto o de Orígenes ter levado ao extremo a apropriação da filosofia platónica, tendo sido considerado herético.
Orígenes, então, passou a morar num lugar onde Jesus havia muitas vezes estado: Cesareia, na Palestina, onde prosseguiu suas actividades com grande sucesso, abrindo a chamada Escola de Cesareia. Na sequência da onda de perseguição aos cristãos, ordenada por Décio, Orígenes foi preso e torturado, o que lhe causou a morte, por volta de 253.
Os seus ensinos foram condenados ainda pelo Concílio de Alexandria de 400 e pelo Segundo Concílio de Constantinopla, em 533, o que demonstra terem perdurado até ao século VI.
A produção teológica
Orígenes escreveu - diz-nos São Jerónimo em De Viris Illustribus[1] - nada menos que 600 obras, entre as quais as mais conhecidas são: De Princippis; Contra Celso e a Héxapla. Entre os seus numerosos comentários bíblicos devem ser realçados: Comentário ao Evangelho de Mateus e Comentário ao Evangelho de João. O número das suas homílias que chegaram até aos dias de hoje ultrapassam largamente a centena.
Traços de um pensamento
“ | A importância do Espírito Santo: O Espírito sopra onde quer (Jo 3, 8). Isto significa que o Espírito é um ser substancial e não, como alguns afirmam, uma simples força ou actividade de Deus sem existência individual. O Apóstolo (São Paulo), depois de enumerar os dons do Espírito, prossegue: "um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um de acordo com a sua vontade" (1 Cor 12, 11). Portanto, se actua e distribui de acordo com a sua vontade, é um ser substancial activo, e não uma mera actividade ou manifestação. |
” |
Orígenes, além dos seus trabalhos teológicos, dedicou-se ao estudo e à discussão da filosofia, em especial Platão e os filósofos estoicos.
No seu pensamento, podemos referir a tese da pré-existência da alma e a doutrina da "Apocatástase", ou seja, da restauração universal (palingenesia), ambas posteriormente condenadas no Segundo Concílio de Constantinopla, realizado em 553, por serem formalmente contrárias ao núcleo irredutível do ensinamento bíblico -, embora estudiosos modernos e contemporâneos reconheçam inequivocamente que a primeira era mais «atribuída a Orígenes (por outros) do que propriamente defendida por ele».
Segundo o renomado livro sobre a História da Filosofia, de Reale e Antiseri,[5] a condenação de algumas doutrinas de Orígenes se deu muito pelos exageros cometidos pelos seus discípulos, os origenistas.
Ao contrário do que afirmam certos teosofistas - como, por exemplo Geddes MacGregor no seu livro de 1978 "Reincarnation in Christianity: A New Vision of the Role of Rebirth in Christian Thought" -, Orígenes era totalmente contrário à doutrina da metempsicose (renascimento do ser humano em animais). Profundo conhecedor deste conceito a partir da filosofia grega, afirma que a metempsicose (transmigração) "é totalmente alheia à Igreja de Deus, não ensinada pelos Apóstolos e não sustentada pela Escritura" ("Comentário ao Evangelho de Mateus" XIII, 1, 46–53). É válido distinguir aqui os conceitos de reencarnação e metempsicose, referindo-se esta ultima ao aprisionamento da alma humana no corpo de animais com fins redentórios.
Orígenes, embora não duvidando de que o texto sagrado seja invariavelmente verdadeiro, insiste na necessidade da sua correcta interpretação. Assim, teve a suficiente percepção para distinguir três níveis de leitura das escrituras: 1- o Literal 2- o Moral; 3- o Espiritual, que é o mais importante e também o mais difícil. Segundo Orígenes, cada um destes níveis indica um estado de consciência e amadureciamento espiritual e psicológico.
Santíssima Trindade
Orígenes como é comum nos escritores cristãos influenciados pelas doutrinas derivadas de Platão coloca as Ideias platônicas na Mente Divina, na Sabedoria de Deus. O Filho de Deus, Segunda pessoa da Trindade, é a Sabedoria bíblica: Mente de Deus, substancialmente subsistente:
“ | […] Deus sempre foi Pai, e sempre teve o Filho unigênito, que, conforme tudo o que expusemos acima, é chamado também de sabedoria (…) nesta sabedoria que sempre estava com o Pai, estava sempre contida, preordenada sob a forma de idéias, a criação, de modo que não houve momento em que a ideia daquilo que teria sido criado não estivesse na sabedoria…(Orígenes. Os princípios, livro I, 4, 4-5.) | ” |
Influenciado pelo medioplatonismo e pelo início do neoplatonismo Orígenes admite certa subordinação do Filho ao Pai, é importante ressaltar que tal subordinação foi exagerada por seus adversários. E que apesar de discordar da perfeita paridade entre o Pai e o Filho, na História da Filosofia de Giovanni Reale afirma que Orígenes defende que o Pai e o Filho possuem a mesma essência.
Ao contrário dos homens que tornaram-se filhos de Deus pela adoção do Espírito: "Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba! Pai!" (Romanos 8,15).
Orígenes afirma que Cristo é Filho por natureza, "o Filho unigênito do Pai". (Orígenes. Os princípios, livro I, 4, 4-5).
O que vai configurar o pensamento do Primeiro Concílio de Niceia, com a ressalva que Cristo Se fez menor do que o Pai quando Se encarnou até a morte na cruz, quando ressuscita ao terceiro dia e Se senta segundo Suas palavras à direita do Poder (Mt 26, 64).
Maria no cristianismo
O pensamento de Orígenes chama bastante atenção no que diz respeito a esse tema, pois além de afirmar a virgindade de Maria, realça os olhos com que naturalidade afirma também a Imaculada Conceição de Maria: "Desposada com José, mas não carnalmente unida. A Mãe deste foi Mãe imaculada, Mãe incorrupta, Mãe intacta. A Mãe deste, de qual este? A Mãe do Senhor, Unigênito de Deus, do Rei universal, do Salvador e Redentor de todos." (Orígenes - Homilia inter collectas ex variis locis).
Primado de Pedro
Conforme fragmento conservado na "História Eclesiástica" de Eusébio, III, 1 Orígenes conta como foi o martírio do apóstolo Pedro em Roma: "Pedro, finalmente tendo ido para Roma, lá foi crucificado de cabeça para baixo".
E professa também o Primado de Pedro: "E Pedro, sobre quem a Igreja de Cristo foi edificada, contra a qual as portas do inferno não prevalecerão. (…)" (In Joan. T.5 n.3).
Batismo
Orígenes também defende que a Igreja deve batizar as crianças: "A Igreja recebeu dos Apóstolos a tradição de dar batismo também aos recém nascidos". (Epist. ad Rom. Livro 5,9).
A Contra Celso e a exegese alegórica
Orígenes dedicou uma de suas obras contra Celso, considerado um dos primeiros críticos da doutrina do cristianismo. Do que sabemos de Celso foi o próprio Orígenes quem nos deu a conhecer, inclusive a sua obra a Alêthês Lógos (O logos verdadeiro) e o livro "Discurso contra os Cristãos", obra em que Celso coloca claramente a forma como o judaísmo e Cristianismo se tornaram cópias de outras religiões, tanto na questão dos mitos da arca de Noé como a circuncisão onde Celso firma que os Judeus receberam essa tradição dos egípcios.
A partir de Orígenes, sabemos ainda apenas que ele é do século II, e que escreveu a sua obra por volta de 178, e, portanto, sob o reinado do imperador Marco Aurélio (que se deu de 161 a 180).
“ | A Alêthês Lógos, de Celso, coloca em questão vários assuntos da crença relacionados à criação e à unidade de Deus, à encarnação e ressurreição de Jesus, aos profetas, aos milagres, etc. Ela questiona também assuntos da vida religiosa, não só sobre a moral, mas também sobre a participação da Igreja e dos cristãos na vida política e social.[6] | ” |
Na sequência, Spinelli analisa esses vários pontos que a Contra Celso de Orígenes se propõe a combater. A obra exegética de Orígenes se concentra sobretudo no tratado que ele desenvolveu Sobre os princípios (Perì archôn). A exegese difundida e aplicada por ele está apoiada no que o judeu Fílon de Alexandria (20 a.C. a Predefinição:DC) concebeu como interpretação alegórica dos textos sagrados do judaísmo.
“ | Filon era de opinião de que o texto bíblico, de um modo geral, carecia de ser interpretado historicamente (no sentido da crítica das fontes, da origem do texto e de seu contexto). Dado que as palavras tinham um sentido escondido, mas admirável e profundo, era necessário adentrar-se nessa profundeza, a fim de trazer à tona, além do sentido magnífico, todo o seu valor… É nessa mesma perspectiva de Fílon (representante da Escola Bíblica Judaica), e no ambiente das escolas exegéticas de Alexandria… que se desenvolveu a exegese de Orígenes.[7] | ” |
Referências
- ↑ 1,0 1,1 "De Viris Illustribus - Origen, surnamed Adamantius", em inglês.
- ↑ Eusébio de Cesareia. «19». História Eclesiástica. Circumstances Related of Origen. (em inglês). VI. [S.l.: s.n.]
- ↑ ORÍGENES de Alexandria ou de Cesareia ou o Cristão. Disponível em: <http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/Origenes.html Arquivado em 25 de março de 2009, no Wayback Machine.>. Acesso em: 7 nov. 2009.
- ↑ KELLY, Stuart (2007). O livro dos livros perdidos. Rio de Janeiro: Record
- ↑ REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Patrística e Escolástica. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2005. v. 2, p. 44-45.
- ↑ SPINELLI, M. Helenização e recriação de sentidos. Porto Alegre: Edipucrs, 2002, p. 84.
- ↑ Ibid., p. 135.
Bibliografia
- REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Patrística e Escolástica. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2005. v. 2, p. 44-45.
- SPINELLI, Miguel. Helenização e recriação de sentidos: A Filosofia na época da expansão do Cristianismo, séculos II, III e IV. Porto Alegre: Edipucrs, 2002, p. 79-144.
Ligações externas
- De Oratione (Trad. William Curtis) (em inglês)
- De Oratione (Trad. Paul Koetschau) (em alemão)
- Philocalia de Orígenes (Trad. George Lewis) (em inglês)
- Prólogo e livro IV do De principiis (em português)