O enfermeiro é um conto do escritor brasileiro Machado de Assis, e que faz parte do livro Várias Histórias, publicado no ano de 1896.
O conto narra a história de Procópio José Gomes Valongo, que encontrara um meio de estudar copiando documentos latinos e as fórmulas eclesiásticas de um padre. Esse padre recebe uma carta de um vigário do interior, perguntando se ele conhecia alguma pessoa discreta, inteligente e paciente que servisse como enfermeiro do coronel Felisberto. O padre mostra a carta a Procópio, que aceita imediatamente a oferta, sem imaginar o que viria pela frente. Com o passar do tempo, maltratado pelo coronel, o enfermeiro esgana-o num acesso de raiva.
O conto o enfermeiro de Machado de Assis, foi narrado na primeira pessoa, com foco narrativo no próprio personagem principal e protagonista Procópio. Ele trabalhava como copista de documentos latinos e fórmulas eclesiásticas em uma paróquia de sua região, e via nessa função um meio para estudar. Um dia, o vigário da paróquia lhe pediu que prestasse serviços de enfermeiro a um Coronel, pois estava muito doente e precisava de uma companhia. Procópio soube que o homem, apesar de precisar deste tipo de serviço, tratava mal a todos que lá iam e com isso ninguém ficava no emprego, mesmo sendo tão bem pago. Como Procópio estava cansado do trabalho de copista resolveu aceitar o emprego. Quando lá chegou não demorou mais que sete dias para que Procópio ficasse tão chateado como os seus colegas que por lá passaram. O homem o xingava, falava palavrões o tempo todo, o que o deixou bastante constrangido. Pediu demissão mas o Coronel negou e pela primeira vez pediu desculpas, confessando que esperava do enfermeiro paciência para o seu jeito de rabugento. Fizeram as pazes, mas por pouco tempo. A tortura retoma, até o momento em que o Coronel Felisberto atira uma vasilha d’água que acerta a cabeça do enfermeiro. Ele então, cego com a dor, voa sobre o velho, esganando-o; o aneurisma que o coronel possuia acabou por romper, nesse exato momento, resultando em sua morte . Não esperava o enfermeiro que quando saiu o testamento do Coronel, toda a sua riqueza agora seria dele. Com um sério peso na consciência, resolveu doar todo o dinheiro para amenizar sua culpa, mas não fez isso, recebeu inúmeros elogios de pessoas por todos os lados da cidade pela sua grande paciência, e com isso esqueceu qualquer coisa relacionada ao seu crime.
Após uma semana de desassossego, aflição e medo de que alguém desconfiasse que Felisberto não morrera de causas naturais, o enfermeiro recebe uma carta do vigário com o testamento do coronel, anunciando que ele era seu herdeiro universal. Procópio, que a princípio decidiu doar todo o dinheiro, logo desiste. Resolve converter todos os bens em títulos e dinheiro, guarda a maior parte para si, e distribui algo aos pobres. Deu à igreja matriz uns paramentos novos e construiu em homenagem ao coronel um túmulo de mármore. Tempos depois, Procópio, conversando com vários médicos, chega à conclusão de que a morte do coronel era certa mesmo se ele não o tivesse esganado. Aos poucos, vai fixando essa e outras ideias que amenizam sua culpa, até que a esquece por completo, confessando que a herança teve parte em seu consolo.
Contexto histórico
Há um trecho desse conto que não pode passar despercebido:
"Valongo? Achou que não era nome de gente, e propôs chamar-me tão somente Procópio, ao que respondi que estaria pelo que fosse do seu agrado."[1]
Havia no Rio de janeiro um local chamado Cais do Valongo no qual, acontecia o desembarque e o comércio de escravos.[1]Por causa disso, o coronel desprezou o nome completo de Procópio.Entre 1850 e 1920, a área em torno do antigo cais tornou-se um espaço ocupado por negros escravizados ou libertos de diversas nações - área que Heitor dos Prazeres chamou de Pequena África[2]