Metrô Linha 743 | |||||||
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Metro743.jpg | |||||||
Álbum de estúdio de Raul Seixas | |||||||
Lançamento | julho de 1984 | ||||||
Gravação | Janeiro a abril de 1984 | ||||||
Estúdio(s) | Sigla, em São Paulo e no Rio de Janeiro | ||||||
Gênero(s) | Rock | ||||||
Duração | Predefinição:Duração | ||||||
Formato(s) | LP e CD | ||||||
Gravadora(s) | Som Livre | ||||||
Produção | Alexandre Agra e Raul Seixas | ||||||
Cronologia de Álbuns de estúdio por Raul Seixas | |||||||
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Metrô Linha 743 foi o décimo segundo álbum de estúdio do cantor e compositor brasileiro Raul Seixas, lançado em julho de 1984 pela gravadora Som Livre, com gravações realizadas entre janeiro e abril de 1984 na Sigla, em São Paulo e no Rio de Janeiro, e com distribuição pela RCA Victor. O disco representou a volta do cantor baiano a uma grande gravadora, após ter lançado Raul Seixas, no ano anterior, com grande sucesso de público e crítica, pelo pequeno selo paulista Gravadora Eldorado.
O álbum foi bem recebido pela crítica especializada, mas as suas vendagens - por diversas razões - ficaram aquém das expectativas do artista e da gravadora, levando ao término do seu contrato. Com as dificuldades para agenciar shows que Raul passou a experimentar com o agravamento de sua doença e dos seus problemas com álcool e drogas - além da separação de sua mulher, Kika Seixas -, ele pararia completamente de fazer shows em dezembro de 1985, ficando em uma espécie de ostracismo.
Antecedentes
No decorrer de 1983, Raul Seixas acabaria assinando um contrato com a Som Livre, gravadora do grupo dono da Rede Globo, em virtude do sucesso de seu álbum lançado naquele ano - que rendeu o segundo disco de ouro ao cantor[1] - e da proximidade adquirida com o grupo. A divulgação do álbum anterior acabou se beneficiando do lançamento do musical infantil da Globo que trazia "Carimbador Maluco" como uma das principais faixas, além da participação de Raul cantando a música caracterizado como o personagem título. Mais ainda, em dezembro, Raul apresentou-se, no especial de Natal da emissora, no estádio do Maracanã, em companhia da Turma do Balão Mágico e dos Trapalhões, cantando esta canção;[2] e a canção Coração Noturno fez parte da trilha sonora da novela Louco Amor.[3] Assim, essa proximidade tornou natural a assinatura do contrato com a grande gravadora carioca.
Gravação, produção e conceito
As gravações iniciaram-se em janeiro de 1984, dividindo-se nos estúdios paulistas e cariocas da Sigla, e transcorreram com diversas pausas para shows do cantor baiano - como no Festival de Águas Claras daquele ano - e uma viagem à Nova Iorque - "viagem de pesquisa", segundo o artista, que durou cerca de um mês.[4] As canções tinham começado a ser compostas logo após a finalização do trabalho anterior e estavam praticamente prontas quando os trabalhos em estúdio começaram. A demora de 4 meses para realizar o disco foi motivo de cobranças da gravadora, bem como o custo total do álbum (80 milhões de cruzeirosPredefinição:Nota de rodapé). O cantor justificou o valor e a demora dizendo que foi difícil conseguir a simplicidade que ele queria nos arranjos e no disco. Assim, paradoxalmente, o álbum ficou simples e caro. Outro problema que o cantor experimentou e que impactou na demora da produção foi a não liberação da canção "Mamãe Eu Não Queria", vetada pela censura para execução pública (shows e reprodução no rádio ou na TV), mesmo após recurso da gravadora.[5]
Raul assumiu não só a concepção musical, como também a visual. Em entrevistas, o cantor dizia que buscou um álbum conceitual, não só nas faixas musicais, mas também no projeto gráfico do disco - todo em preto e branco -, o que remeteria não só a Alfred Hitchcock, como também aos anos 50.[6] Por isso, a escolha de fotos em preto e branco de diversos momentos da carreira de Raul - cedidas pelo seu fã-clube Raul Rock Club - para adornar o encarte.[7][5] Além do mais, o título remetia ao ano em que Raul sofreu com a censura e foi convidado a sair do país, 1974. E o próprio ano de lançamento do álbum - bem como a letra da canção título - fazia referência à obra de George Orwell, Nineteen Eighty-Four.[8]
Resenha musical
O álbum inicia com o maior sucesso do disco, "Metrô Linha 743", que, com uma letra grande e falada foi comparada à "Ouro de Tolo" - de Raul - e "Highway 61 Revisited" - de Bob Dylan.[7][9] Foi considerada até, por pesquisadores, como uma das precursoras do rap em terras nacionais.[10] Era tida, também, como canção natural a ser trabalhada através de um compacto,[5] mas o álbum acabaria não sendo divulgado pela gravadora.[11] Segue-se "Um Messias Indeciso" que foi tida por Raul como "a sua cara".[9] "Meu Piano" é uma canção derivativa, uma brincadeira com um piano fora de lugar, que ficou conhecida na época por conter "o solo mais caro do Brasil", no qual o músico Clive Stevens recebeu 3 mil dólares para fazer um solo de sax.[7] Depois temos "Quero Ser o Homem que Sou (Dizendo a Verdade)", uma brincadeira com humor inteligente e uma ótima guitarra slide de Rick.[9][7] "Canção do Vento" fala de mudanças: da tradição que deve ser mudada e dos anseios por mudança da juventude.[5]
"Mamãe Eu não Queria" foi considerada um "clássico da insubordinação", indo direto ao ponto "como as grandes criações do pop", com a interpretação correta de Raul, com a "voz rasgada e dilacerada".[7] Esta canção foi inspirada em "I Don't Wanna Be a Soldier Mama", de John Lennon, lançada no disco Imagine, de 1971.[12] Segue-se "Mas I Love You", canção em homenagem a sua mulher, Kika Seixas, e o único momento romântico do disco, tida como uma obra-prima por Escobar.[9][5][7] "Eu Sou Egoísta" é a regravação de uma canção do disco Novo Aeon, de 1975, com mixagem à moda antiga - com instrumentos de um lado e vocal do outro - e citações ao final de Dylan, Caetano Veloso e Lennon.[5] Outra regravação é "O Trem das Sete" - originalmente do álbum Gita - com um coro masculino, considerado como outra referência a Caetano por alguns[5] e como brega por outros.[7] O disco encerra com "A Geração da Luz", única faixa com bastantes instrumentos de sopro e que foi parte da trilha sonora do especial musical da Rede Globo Plunct, Plact, Zuuum... 2, lançado em março do mesmo ano.[13][5]
Recepção
Lançamento
O álbum foi lançado em julho de 1984 pela Som Livre, mas, apesar da quantidade de dinheiro investida e da qualidade do trabalho, as vendas decepcionaram o cantor e a gravadora. O cantor atribuiu as dificuldades à falta de divulgação por parte da gravadora e ao lançamento concomitante de Ao Vivo - Único e Exclusivo por sua antiga gravadora, a Gravadora Eldorado. O artista alegava que a sua gravadora não lançou nenhum compacto para promover o disco e que não quis gravar um clipe musical, segundo as suas intenções. Também, responsabilizava a Eldorado por ter lançado um disco ao vivo no mesmo mês em que saiu o seu álbum de estúdio pela gravadora carioca.[11][14] A canção "A Geração da Luz" fez parte da trilha sonora de Plunct, Plact, Zuuum... 2, sequência do musical de sucesso do ano anterior - que também contava com uma canção de Raul Seixas - sem, entretanto, repetir o sucesso.[13]
Fortuna crítica
Predefinição:Críticas profissionais O álbum foi bem recebido pela crítica especializada na época do seu lançamento, tendo sido considerado um álbum sóbrio e bem realizado, trazendo Raul Seixas mais maduro e, portanto, sem os rompantes da juventude. Continuava a "fase família" do cantor, iniciada no disco anterior: entrevistas realizadas na sua casa, sempre a presença de sua mulher - Kika Seixas - e de sua filha, e sempre a afirmação de que estava vivendo uma nova fase madura e sóbria.[15] Novamente, assim, participou do musical infantil da Rede Globo que ocorreu em março daquele ano.[13] Continuava, também, a apresentar-se como um "roqueiro clássico" em oposição aos artistas do novo rock brasileiro, o BRock. Assim, fazia gozações com o que via como a falsidade de tais grupos e a sua natureza midiática, negando a existência de um verdadeiro "movimento de rock". Raul seria, assim, um representante do "verdadeiro rock" que não se deixava dobrar pelas novas modas, como a new wave.[15][7]
Pepe Escobar, escrevendo para a Folha de S.Paulo, faz uma crítica positiva ao álbum. Compara os esforços de Raul com aqueles de Leonard Cohen, Bob Dylan e Paul Simon, dizendo que Raul "recupera uma certa memória musical e a adequa ao novo contexto da época". Elogia a lucidez do cantor baiano e as suas letras que, segundo ele, contêm angústias existenciais, inteligência política e um misticismo acessível, sem doutrinação.[7] Jamari França também elogiou o disco, especialmente a sua simplicidade. O crítico do Jornal do Brasil diz que a forma musical básica da música popular (guitarra, baixo e bateria) é mais apropriada para Raul, chamando o compositor baiano de "decano dos nossos roqueiros", "lenda viva", "nosso Elvis", "nosso James Dean" e a "encarnação brasileira mais perfeita do espírito da geração beatnik".[9] No Globo, Antônio Mafra, ressaltou a simplicidade do disco, contrastando com seu alto custo.[5]
Relançamentos
O álbum foi alvo de diversos relançamentos em LP, fita cassete e CD nos anos subsequentes.[16] Digno de nota é o relançamento em CD feito em 2003, por ocasião dos 20 anos do lançamento original. Esta versão conta com uma faixa bônus intitulada "Anarkilópolis (Cowboy Fora-da-Lei nº 2)" e que é, na verdade, uma versão embrionária de "Cowboy Fora da Lei", grande sucesso do cantor que seria lançado em 1987, no disco Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!.[17][18]
Faixas
Predefinição:Lista de faixas Predefinição:Lista de faixas Predefinição:Lista de faixas
Créditos
Créditos dados pelo Discogs.[16]
Músicos
- Vocais: Ana Lúcia Heringer, Cecília Spyer, Nina Pancevski, Jairo Lara, Wilson Nunes, Heleno Marques, Marisa Fossa, Pedro Baldanza, Ronaldo Barcellos, Rick Ferreira, Gastão Lamounier e Raul Seixas
- Piano: Chiquinho de Moraes (faixas 3, 4 e 10) e Rick Ferreira (7 e 9)
- Teclados: Ricardo Cristaldi
- Guitarra, pedal steel e violão: Rick Ferreira
- Baixo: Paulo César Barros e Pedro Baldanza (faixas 7 e 9)
- Trompetes: Márcio Montarroyos - Bidinho Spínola - Evaldo Gomes Fonseca
- Trombone: Ed Maciel
- Saxofone: Clive Stevens (faixa 3), Léo Gandelman e Zé Carlos Bigorna
- Bateria: Ivan Conti (Mamão), Teo Lima (faixa 7) e Jurim Moreira (faixa 8)
Referências
- ↑ Rada Neto, 2013, p. 159.
- ↑ Alexandre, 1999, p. 59.
- ↑ Bahiana, 1983.
- ↑ Almeida, 1984-1.
- ↑ 5,0 5,1 5,2 5,3 5,4 5,5 5,6 5,7 5,8 Mafra, 1984.
- ↑ Almeida, 1985.
- ↑ 7,0 7,1 7,2 7,3 7,4 7,5 7,6 7,7 7,8 Escobar, 1984.
- ↑ Jorge, 2012, pp. 85-86.
- ↑ 9,0 9,1 9,2 9,3 9,4 Erro de citação: Marca
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- ↑ Jorge, 2012, p. 81.
- ↑ 11,0 11,1 Soares, 2011, p. 75.
- ↑ Jorge, 2012, p. 86.
- ↑ 13,0 13,1 13,2 Almeida, 1984-2.
- ↑ O Globo, 14 de julho de 1984.
- ↑ 15,0 15,1 Souza, 2011, pp. 185-201.
- ↑ 16,0 16,1 «Raul Seixas - Metrô Linha 743». Discogs. N.d. Consultado em 24 de março de 2017
- ↑ João Pimentel (8 de julho de 2003). «matéria O bom lado B de Raul Seixas, seção Discolândia, Segundo caderno, pg. 2». O Globo. Consultado em 25 de outubro de 2020
- ↑ Soares, 2011, p. 99.
Bibliografia
- Predefinição:Aut. Eu morri há dez mil anos atrás. Publicado em revista Trip, nº 71, julho de 1999, pp. 54-62.
- Predefinição:Aut. Impressões de viagem, ao som de Águas Claras. Publicado em Folha de S.Paulo, Ilustrada, 5 de março de 1984, p. 15.
- Predefinição:Aut. "Plunct" tem ódio à criança. Folha de S.Paulo, Ilustrada, 24 de março de 1984, p. 45.
- Predefinição:Aut. A volta do cowboy Raul Seixas. Publicado em Folha de S.Paulo, Ilustrada, 15 de março de 1985, p. 55.
- Predefinição:Aut. Depois do pesadelo, um novo disco e o recomeço com a "cabeça feita". Publicado em O Globo, 26 de abril de 1983, p. 24.
- Predefinição:Aut. Anarquistas matam srta. Niu Uêive. Publicado em Folha de S.Paulo, Ilustrada, 10 de julho de 1984, p. 34.
- Predefinição:Aut. Raul Seixas: Uma volta no Metrô Linha 743. Publicado em Jornal do Brasil, 24 de julho de 1984, p. 32.
- Predefinição:Aut. Raul Seixas: Um produtor de mestiçagens musicais e midiáticas. Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo: São Paulo, 2012.
- Predefinição:Aut. Raul Seixas: "Continuo jovem, só que estou mais sossegado". Publicado em O Globo, Segundo Caderno, 7 de julho de 1984, p. 1.
- Predefinição:Aut. O velho rock em dose dupla. Publicado em ISTOÉ, 18 de setembro de 1984.
- Predefinição:Aut. O bom lado B de Raul Seixas. Publicado em O Globo, Segundo Caderno, 8 de julho de 2003, p. 2.
- Predefinição:Aut. O Iê-Iê-Iê Realista de Raul Seixas: trajetória artística e relações com a indústria cultural. Monografia de Conclusão de Curso. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2013.
- Predefinição:Aut. Dossiê Raul Seixas. São Paulo: Universo dos Livros, 2011.
- Predefinição:Aut. Eu devia estar contente: a trajetória de Raul Santos Seixas. Dissertação de mestrado. Marília: Unesp, 2011.