Iídiche (ייִדיש) | ||
---|---|---|
Falado(a) em: | Nativo: Ucrânia Bélgica Rússia Polónia Alemanha Moldávia [[Romênia|RomPredefinição:Langvar-switchnia]] Lituânia Letônia Diáspora: Israel Estados Unidos Brasil Canadá Argentina | |
Total de falantes: | 3,2 milhões | |
Família: | Predefinição:Info língua/genética Germânica Ocidental Alto alemão Iídiche (ייִדיש) | |
Estatuto oficial | ||
Língua oficial de: | Predefinição:Country data Bósnia e Herzegovina Moldávia Países Baixos Polónia [[Romênia|RomPredefinição:Langvar-switchnia]] Suécia Ucrânia | |
Códigos de língua | ||
ISO 639-1: | yi
| |
ISO 639-2: | yid | |
ISO 639-3: | yih
|
A língua iídiche (ייִדיש, יידיש ou אידיש yydish ou idish, pronunciado [ˈ (j) ɪdɪʃ], literalmente 'Judeu'; em fontes mais antigas ייִדיש-טײַטש,Yidish-Taytsh, lit. 'Judaico-Alemão') é uma língua derivada do alto alemão, historicamente falada pelos judeus Ashkenazi. O idioma terá tido origem durante o século IX na Europa Central, fornecendo à nascente comunidade Ashkenazi um vernáculo de base alemão fundido com elementos retirados do hebraico e aramaico, bem como - mais tarde - línguas eslavas e vestígios de línguas românicas. A escrita iídiche usa o alfabeto hebraico. Na década de 1990, havia cerca de 1,5 a 2 milhões de falantes de iídiche, principalmente judeus hassídicos e haredi.
As primeiras referências remanescentes datam do século XII e chamam a língua de לשון־אַשכּנז (loshn-ashknaz, "língua de Ashkenaz") ou טײַטש (taytsh), uma variante de tiutsch, o nome contemporâneo do alto alemão médio. Coloquialmente, a língua é às vezes chamada de מאַמע־לשון (mame-loshn, literalmente 'língua materna'), distinguindo-a de לשון־קודש (loshn koydesh, "língua sagrada"), significando hebraico e aramaico. O termo "iídiche", abreviatura de Yidish Taitsh ("Alemão judeu"), não se tornou a designação usada com mais frequência na literatura até ao século XVIII. No final do século XIX e no século XX, a língua era mais comummente chamada de "judaica", especialmente em contextos não judeus, mas "iídiche" é novamente a designação mais comum hoje.
Escrito no alfabeto hebraico, ela tornou-se uma das línguas mais difundidas do mundo, aparecendo na maioria dos países com população judia no século XIX. Junto com o hebraico e o aramaico, é uma das três principais línguas literárias da história judaica.
O iídiche ocidental, a única forma de iídiche usada durante os primeiros tempos da história da língua, permaneceu como o ramo dominante durante o período iídiche antigo (terminando por volta de 1350). Ele compreende o iídiche Texmex (Suíça/Alsácia/alemão do sul), o Centro-Oeste (alemão central), e o Noroeste (neerlandês-norte alemão). O iídiche oriental, aproximadamente igual em importância à sua contraparte ocidental durante o período iídiche médio (c. 1350-1600), superou-o amplamente no período inicial do novo iídiche (a partir de aproximadamente 1600) e inclui todo o iídiche falado atualmente. Os principais dialetos iídiche orientais - Sudeste (falado na Ucrânia e Romênia), Oriente Médio (Polônia e Hungria) e Nordeste (Lituânia e Bielo-Rússia) - formam a base da pronúncia padrão moderna do iídiche, embora a gramática da língua literária seja inspirada em todos três.
Desde o início, o iídiche foi a língua tanto do mercado quanto das academias talmúdicas. A literatura iídiche continuou a crescer ao longo dos séculos, especialmente em gêneros não cobertos pelo hebraico e aramaico tradicionais. O surgimento da impressão em iídiche no século XVI estimulou o desenvolvimento de uma linguagem literária padronizada em um modelo iídiche ocidental. Devido à sua assimilação gradual ao alemão, bem como a uma campanha política para erradicar a língua travada pelos adeptos do movimento germanizante do final do século XVIII, o iídiche ocidental entrou em extinção.
Atualmente, o iídiche é falado especialmente nas comunidades judaicas dos seguintes países: Alemanha, Argentina, Estados Unidos, Bélgica, França, Israel, Lituânia, Rússia, Brasil, Ucrânia, Canadá. Dois grupos principais utilizam atualmente o iídiche: judeus ortodoxos no mundo inteiro, especialmente os ultra-ortodoxos (mesmo os residindo em Israel e Nova York), e judeus seculares, de idade avançada ou não, que valorizam suas raízes.
O iídiche se desenvolveu dentro da cultura asquenazita, a partir do século X na Europa central e oriental, e espalhou-se para outras regiões do planeta com a emigração de seus praticantes. O nome "iídiche" passou a ser usado para designar o idioma somente a partir do século XVIII; antes disso, já era a principal língua falada pelos judeus da cultura asquenazita.
O idioma é fruto de uma compilação linguística diversificada:
- O germânico (dominante do ponto de vista fonético) derivado das variedades urbanas medievais do alto-alemão médio falado nas fronteiras;
- Dialetos modernos, como o eslavo, polonês, ucraniano, bielorrusso e russo;
- O semita, derivado do hebraico e do aramaico pós-clássicos, cujo alfabeto é usado para representação fonética e escrita.
De forma simplificada, pode-se dizer que o iídiche é o idioma germânico escrito com caracteres do alfabeto hebraico moderno e em sentido oposto ao da escrita ocidental (ou seja, escrita e lida da direita para a esquerda). Na prática, os três componentes contribuíram em maior ou menor grau na fonologia, morfologia, sintaxe e semântica da língua.
Origens
A origem do iídiche remonta à época medieval germânica. Por vários séculos, houve uma migração de judeus para várias regiões da Europa. Os judeus miscigenados com a população da Europa Central e da Europa Oriental, de origem nórdica e eslava, formaram um grupo que passou a ser conhecido como asquenazitas. O termo "asquenaze" (ashkenazi) tem sua origem em um vocábulo hebraico que designava o povo que vivia na região onde hoje fica a Alemanha, e foi apropriado pelos judeus que se estabeleceram nesta área. Durante muito tempo, este grupo foi a minoria da população judaica mundial, estando concentrada nas regiões centrais e orientais da Europa; porém, em um período mais recente, a população asquenazita cresceu e se espalhou pelo mundo, tornando assim o idioma iídiche mais difundido. Os judeus asquenazitas são etnicamente diferentes dos chamados judeus sefarditas, de ascendência árabe e originalmente emigrados para a Espanha, Europa Mediterrânea, África, e de outros países mediterrâneos ao redor do paralelo 33. Do ponto de vista religioso, os asquenazitas se estabeleceram simbolicamente como um grupo independente a partir do édito contra a poligamia, de Rabeynu Gershom (aprox. 960-1028); este édito os distanciou da autoridade rabínica oriental tradicional.
Para não perderem sua identidade cultural e religiosa, os asquenazitas adotaram uma forma mista de escrita, usando os caracteres do hebraico para anotar a descrição fonética do idioma da região em que se encontravam. Assim, mesmo com restrições (o hebraico é escrito sem vogais), os imigrantes judeus escreveram textos bíblicos em alemão, espanhol ou francês, usando a forma escrita que lhes era familiar.
Com o tempo, a expansão da população asquenazita em direção ao leste levou a uma diferenciação de dois dialetos iídiches: ocidental (com maior influência germânica) e oriental (com influência de linguagens eslavas). Além da influência fonética, os caracteres escritos do iídiche oriental mostram a influência da escrita de outras tribos locais, como godos e dos visigodos.
Relação com idiomas semíticos
As comunidades judaicas instaladas na Europa adotavam três línguas: hebraico, aramaico e iídiche. Todas as três dispunham de representação escrita, mas somente o iídiche poderia ser considerado um idioma vernacular. Por essa razão, o iídiche foi empregado em princípio para obras laicas e correspondência privada. Para a correspondência comunitária, comentários bíblicos e toda uma série de documentos era utilizado o hebraico. Já o aramaico era utilizado para os textos mais importantes, incluindo os tratados oficiais (especialmente comentários sobre o Talmud) e a Cabala (misticismo judaico).
Desenvolvimento histórico
Ao longo de sua história, os falantes de iídiche quase sempre foram bilíngues, usando o alfabeto aramaico para a escrita, mas com normas ortográficas próprias. Podem-se distinguir três períodos para a língua iídiche:
- Iídiche primitivo (até 1250) e evidenciado por pequenos textos;
- Iídiche antigo (cerca de 1250 a 1500). Desde o século XII ao século XVI os asquenazitas espalharam-se pelos territórios eslavos (atuais Polônia, Ucrânia, Bielorrússia, Rússia e Lituânia) e sua língua adotou elementos eslavos.
- Iídiche médio (1500-1700). Período no qual o centro de gravidade se desloca para o leste.
- Iídiche moderno (a partir de 1700).
Do século XVII em diante a língua diferia suficientemente da dos judeus habitantes das regiões falantes de línguas germânicas, o que justificou a divisão entre iídiche oriental e ocidental. Essa última variante começou a declinar no final do século XVIII e desapareceu quase completamente durante o século XIX. Ao contrário, no leste durante o século XIX, a língua ressurgiu, pois os artistas, socialistas e propagandistas religiosos, em lugar do hebraico, alemão ou eslavo, usavam a língua falada pelo povo judeu: o iídiche. Em 1908 em conferência realizada em Czernowitz (na atual Ucrânia), o iídiche foi aceito como “língua nacional do povo judeu”. O iídiche continuou florescendo na literatura, teatro e imprensa, sendo a língua da educação, com Varsóvia e Vilnius como seus centros intelectuais, desenvolvendo-se uma língua normativa a partir dos dialetos do iídiche polonês e lituano.
O período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial foi caracterizado pela dispersão de seis milhões de judeus que habitavam os países vizinhos à Alemanha, o que permitiu aos sobreviventes a inclusão de mais alguns idiomas, o russo, da antiga União Soviética, o inglês da América do Norte e do aramaico jordaniano.
A exemplo dos mórmons na América do Norte, houve tentativa de criar-se uma região judia dentro da ex-URSS, uma espécie de Comunidade Autônoma situada no extremo oriental da Sibéria, mas o experimento não obteve êxito, embora a região - o Birobidjão (Birobidjan - ainda exista oficialmente como Oblast (Distrito) Autônomo Judaico, dentro da Federação Russa.
Dados
Atualmente calcula-se que cerca de 1 milhão a 3,2 milhões de judeus falam o iídiche, a metade dos quais residente nos Estados Unidos. É mantido especialmente em comunidades ortodoxas, onde é usado entre seus membros como a língua do grupo, o hebraico é reservado para a religião e a língua local para o contato com as pessoas de fora da comunidade. Em 1995 a União Europeia aprovou uma resolução pela qual se garantia apoio à língua e à cultura iídiche.
O iídiche continua sendo mantido como língua vernácula natural entre muitos grupos de judeus "ultra-ortodoxos", hasidi (chasidim) ou não, encarregados de conservar o asquenazi como uma civilização em toda sua totalidade. A forte resistência à assimilação e as altas porcentagens da natalidade têm levado os demógrafos a prever que, em cerca de cem anos, haverá um milhão de chasidim falando iídiche. Atualmente, contam com comunidades numerosas em Antuérpia, Londres e vínculos muito estreitos com os centros mais importantes nos Estados Unidos e em Israel. Já se pensou em trocar os caracteres hebraicos por fontes de outros idiomas como o inglês, que seriam “mais fáceis de memorizar”, e modificar também o sentido da escrita, que passaria a ser da esquerda para a direita (para uso dos destros), no entanto, para alguns instrutores essa mudança incluiria o aspecto saudosista da questão e que procuram transferir do passado, muito importante para endossar a credibilidade nas escrituras.
Dialetos
No seu momento de máxima expansão geográfica (século XVI), o iídiche englobava dos Países Baixos e Itália a oeste até a Rússia a leste. O iídiche ocidental, variante mais antiga, compreendia por sua vez o iídiche norte-ocidental (Países Baixos, norte da Alemanha e Dinamarca) e o iídiche sul-ocidental (Alsácia, Suíça e sul da Alemanha). O iídiche oriental, por sua vez, contava com três dialetos principais: o norte-oriental (Lituânia, Bielorrússia, Letônia) conhecido popularmente como lituano; o centro-oriental (Polônia e Hungria), denominado popularmente polonês e o sul-oriental (Ucrânia e Romênia), conhecido geralmente como ucraniano ou volínio.
Os dialetos atuais são os seguintes:
- central, também denominado polonês ou polaco;
- setentrional ou lituano, mesmo que se estenda por grandes áreas do território bielorrusso;
- meridional ou ucraniano.
Ao critério fonológico adotado no iídiche ao longo dos tempos e dos lugares, abriu-se um leque de variantes para a pronúncia de uma única frase “comprar carne”: em iídiche ocidental kafn flash, no central kojfn flash, no sul-oriental kojfn flejs e no norte-oriental kefjn flejs. Outras diferenças fonológicas e léxicas demonstram também que o dialeto central é diferenciado e distingue-se por um jogo completo de contrastes na duração da vogal, enquanto o segmento sul-oriental sofre os efeitos de trocas vocálicas originando palavras como hont mão, huz casa e rign chuva, e no dialeto norte-oriental houve a perda do gênero neutro, demonstrando em todos esses casos que o idioma, por ser uma criação espontânea do meio, não pode ser criado nem recriado.
O iídiche normativo está inspirado na pronúncia pelos dialetos setentrionais ainda que a gramática tenha influência meridional. O alemão contribuiu também com a normatização do iídiche, especialmente por aqueles que acreditavam ser o iídiche uma corruptela do alemão.
Escrita
O iídiche utiliza como escrita uma adaptação do alfabeto hebraico e escreve-se da direita para a esquerda. Como sua fonologia é estranha ao árabe ou ao hebraico, o iídiche usa o recurso dos dígrafos e outras letras modificadas conforme sua patognomônia, além dos caracteres tradicionais do hebraico. O modo de inscrever as vogais nesse alfabeto variou muito de acordo com o tempo e o lugar, sendo estas atualmente representadas através de caracteres especiais desenvolvidos para uso exclusivo do moderno hebraico.
Gramática
Atualmente, com a criação de Israel, uma das grandes influências do iídiche tem sido o vocabulário hebraico (ou mais exatamente hebraico-aramaico) e não só no que concerne ao uso religioso como também em palavras de uso cotidiano que não têm conexão particular com o modo de vida judeu. As palavras hebraico-aramaicas foram transportadas ao iídiche em sua pronúncia asquenazita, ainda que em Israel a pronúncia seja a dos judeus sefarditas. Quando as palavras hebraico-aramaicas passaram ao iídiche falado em Israel, usou-se a pronúncia do plural segundo as normas hebraicas, não mais segundo as normas alemãs.
A outra grande influência na mutação do iídiche (essa mais antiga), foram as línguas eslavas, devido às migrações judaicas para o leste da Europa, junto com a expansão germânica da Idade Média e aproveitando a boa acolhida do príncipe Principe Boleslaw o Piedoso de Kaliz que concedia ao povo judeu tolerância religiosa e facilidades comerciais com leis diferenciadas aos cristãos da Polônia. Nessas regiões onde habitavam falantes eslavos, o iídiche foi submetido a forte influência léxica, morfológica, fonológica e sintática das línguas eslavas. Muitas palavras de uso cotidiano são eslavas de origem (káchke pato, do polonês kachka; táte pai, do tcheco tata).
As desinências dos casos foram preservadas só no singular e aparecem em modificações dos substantivos mas raramente nos substantivos em si. Os casos dativo e acusativo fundiram-se no masculino, enquanto o nominativo e o acusativo fundem-se no feminino e no neutro. O sistema para formar substantivos plurais, de origem alemã, é enriquecido por elementos de origem hebraica. Com o passar do tempo, nota-se que, gradativamente, tanto no gênero quanto na forma plural, muitos substantivos vão-se diferenciando de seus similares alemães. O iídiche possui um sistema bem desenvolvido de diminutivos de origem alemã mas de base gramatical eslava onde, por tratar-se ainda de uma prótese cultural aplicada num alfabeto sem muitos recursos, os verbos são conjugados apenas no presente do indicativo, expressando-se nos demais tempos e modos mediante palavras auxiliares.
Fonologia
As vogais em iídiche normativo consistem das vogais simples i, e, a, o, u e os ditongos ej, aj, oj. Sob influência eslava surgiu uma série de consoantes palatais. O som correspondente ao dígrafo alemão ch não possui variante palatal e o som /ng/ possui oclusão. As palavras de origem hebraico-aramaicas e eslavas introduziram uma rica variedade de grupos consonânticos que não existem no alemão, apesar de não haver fonemas exclusivos destas.
Literatura iídiche
O iídiche (iídiche: ײִדישיזם) também é um movimento cultural e lingüístico que começou entre os judeus na Europa Oriental durante a última parte do século XIX. Alguns dos principais fundadores deste movimento foram os escritores como Mendele Mocher Sefarim (Mendele Moykher-Sforim (1836–1917), Sholom Aleichem (Sholem Aleichem (1859–1916), I. L. Peretz (IL Peretz (1852–1915) e outros são considerados como os mais importantes na literatura judaica e mundial. Isaac Bashevis Singer ganhou o prêmio Nobel de Literatura pelas suas obras escritas em iídiche.
Teatro iídiche
Atualmente existe em Israel, um teatro iídiche, o Yiddish-Spiel.
Ver também
Referências
Bibliografia
- HARSAHAV, Benjamin. O significado do iídiche. São Paulo: Perspectiva, 1994. 230p.(Coleção Estudos, 134).
- KOGOS, Fred. 1001 provérbios em Iídiche. Sefer, 1999.
Ligações externas
- http://www.proel.org/
- [1]
- «Di Velt fun Yidish: Audio Stories»
- http://www.yivo.org/ Yiddish Institute of Research, em Nova Iorque
- «Teatro ídiche no Brasil» (PDF)
- «Literatura de imigrantes: a literatura iídiche no Brasil» (PDF)