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Gestalt

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Cubo de Necker e o Vaso de Rubin, dois exemplos utilizados na gestalt.

A gestalt (guès) (do alemão Gestalt, "forma"), também conhecida como gestaltismo (gues), teoria da forma, psicologia da gestalt, psicologia da boa forma e leis da gestalt, é uma doutrina que defende que, para se compreender as partes, é preciso, antes, compreender o todo.[1][2] Refere-se a um processo de dar forma, de configurar "o que é colocado diante dos olhos, exposto ao olhar". A palavra gestalt tem o significado "de uma entidade concreta, individual e característica, que existe como algo destacado e que tem uma forma ou configuração como um de seus atributos".[3]

A gestalt, ou psicologia da forma, surgiu no início do século XX e, diferente da gestalt-terapia, criada pelo psicanalista berlinense Fritz Perls (1893-1970), trabalha com dois conceitos: super-soma e transponibilidade. O filósofo austríaco Cristian von Ehrenfels apresentou esses critérios pela primeira vez em 1890, na Universidade de Graz.

Um dos principais temas trazido por ela é tornar mais explícito o que está implícito, projetando na cena exterior aquilo que ocorre na cena interior, permitindo assim que todos tenham mais consciência da maneira como se comportam aqui e agora, na fronteira de contato com seu meio. Trata-se de seguir o processo em curso, observando atentamente os “fenômenos de superfície” e não mergulhando nas profundezas obscuras e hipotéticas do inconsciente – que só podem ser exploradas com a ajuda da iluminação artificial da interpretação.

De acordo com a teoria gestáltica, não se pode ter conhecimento do "todo" por meio de suas partes, pois o todo é outro, que não a soma de suas partes: "(...) 'A+B' não é simplesmente '(A+B)', mas sim, um terceiro elemento 'C', que possui características próprias". Segundo o critério da transponibilidade, independentemente dos elementos que compõem determinado objeto, a forma é que sobressai: as letras r, o, s, a não constituem apenas uma palavra em nossas mentes: "(...) evocam a imagem da flor, seu cheiro e simbolismo - propriedades não exatamente relacionadas às letras."

Um dos seus principais representantes foi Max Wertheimer (1880-1943). Wertheimer demonstrou que quando a representação de determinada frequência não é transposta se tem a impressão de continuidade e chamou o movimento percebido em sequência mais rápida de "fenômeno phi". A tentativa de visualização do movimento marca o início da escola mais conhecida da psicologia da gestalt e seus pioneiros, além de Wertheimer, foram Kurt Koffka (1886-1941), Kurt Lewin (1890-1947); e Wolfgang Köhler (1887-1967).

Em 1913, a Academia Prussiana de Ciências instalou, na ilha de Tenerife, nas Canárias, uma estação para estudo do comportamento do macaco. Wolfgang Köhler foi nomeado, então, diretor da estação - ainda muito jovem e com quase nenhuma experiência em biologia e psicologia de animais. Suas pesquisas, pioneiras com antropoides, enfatizaram que "não só a percepção humana, mas também nossas formas de pensar e agir funcionam, com frequência, de acordo com os pressupostos da Gestalt. Os seus experimentos comprovaram que os chimpanzés têm condições de resolver problemas complexos, como conseguir alimentos que estão fora do seu alcance.

Paralelamente às pesquisas contemporânea da biologia celular, que atribuem uma importância capital às funções da membrana de qualquer célula viva, concomitantemente barreira de proteção e lugar privilegiado de trocas, os trabalhos dos gestaltistas têm enfatizado o papel real e metafórico da pele, que nos protege, nos delimita e nos caracteriza, mas constitui, ao mesmo tempo, um órgão privilegiado de contato e de trocas com nosso meio, através das terminações nervosas sensoriais e de suas miríades de poros.

O gestalt-terapeuta procede da superfície para o fundo - isso não significa que ele permaneça na superfície. Na realidade, a experiência confirma que a Gestalt atinge, mais facilmente do que as abordagens de suporte essencialmente verbal, as camadas profundas arcaicas da personalidade - aliás, constituídas no período pré-verbal do desenvolvimento da pessoa.

O gestaltista está atento aos diversos indícios comuns de reações emocionais subjacentes, tais como discretos fenômenos de vasodilatação no rosto ou no pescoço (traduzidos em ligeiras e efêmeras modificações da cor da pele), minicontrações do maxilar, mudanças no ritmo da respiração ou da deglutição, mudanças bruscas no tom da voz, mudanças na direção do olhar e os "microgestos" involuntários das mãos, pés ou dedos.

Em geral, o Gestalt–terapeuta sugere amplificar esses gestos inconscientes, considerados, de certa forma, como "lapso do corpo", reveladores do processo em curso, imperceptíveis para o cliente.

História

Origens

Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1940) foram os criadores das leis da gestalt. Wertheimer pôde provar experimentalmente que diferentes formas de organização perceptiva são percebidas de forma organizada e com significado distinto por cada pessoa. Como pode ser visto nas figuras do Cubo de Necker e do Vaso de Rubin. O todo é maior do que a soma das partes que o constituem. Por exemplo: uma cadeira é mais do que quatro pernas, um assento e um encosto. Uma cadeira é tudo isso, mas é mais que isso: está presente na nossa mente como um símbolo de algo distinto de seus elementos particulares.

Em uma série de testes, Wertheimer demonstrou que pode ser realizada uma ilusão visual de movimento de um determinado objeto estacionário se este for mostrado em uma sucessão rápida de imagens. Assim, se consegue uma impressão de continuidade. Ele chamou este movimento percebido em sequência mais rápida de "fenômeno phi" (o cinema é baseado nessa ilusão de movimento: a imagem percebida em movimento, na realidade, são conjuntos de imagens fixas (frames) projetadas na tela durante 1 segundo. Devem existir ao menos 24 fotogramas por segundo, ou 24 quadros por segundo).

Escola "dualista" de Graz

A tentativa de visualização do movimento marca o início de outra escola da psicologia da Gestalt: a Escola de Graz ou "corrente dualista" (Áustria). Esta identificou dois processos distintos na percepção sensorial: um, a sensação, a percepção física pura dos elementos de uma configuração (o formato de uma imagem ou as notas de uma música), próprio ao objeto percebido; e o outro, a representação, que seria um processo "extrassensorial" através do qual os elementos, agrupados, excitam a percepção e adquirem sentido (a forma visual ou a melodia da música), que já é particular do trabalho mental do homem.

A outra concepção, divergente do "dualismo", era a chamada "corrente monista" (de "mono", "único"), defendida pelos alemães. Pelo ponto de vista monista, tanto sensação como representação se dariam simultaneamente, e não em separado. A forma, ou seja, a compreensão que os dualistas chamaram de "extrassensorial", não pode ser dissociada da sensação do objeto material. Por ocorrerem ao mesmo tempo, percepção sensorial e representativa vão se completando até finalizarem o processo de percepção visual. Só quando uma é concluída que a outra pode ser concluída também.

Laboratório de 1913

Em 1913, a Academia Prussiana de Ciências instalou, na ilha de Tenerife, nas Canárias, uma estação para estudo do comportamento do macaco. Wolfgang Köhler foi nomeado, então, diretor da estação - ainda muito jovem e com quase nenhuma experiência em biologia e psicologia de animais. Suas pesquisas pioneiras com antropoides enfatizaram que não só a percepção humana, mas também nossas formas de pensar e agir funcionam, com frequência, de acordo com os pressupostos da Gestalt da reorganização perceptiva.

Observou-se que ato cognitivo corresponde a uma reestruturação do conhecimento anterior (informações disponíveis na memória) tal como posteriormente estudada pelos construtivistas a exemplo de Piaget. Medidas da estimulação elétrica cortical em gatos e os seus clássicos experimentos com chimpanzés (empilhando caixotes para alcançar alimentos) comprovaram que estes têm condições de resolver problemas relativamente mais complexos do que os experimentos de contornar um obstáculo e abrir fechaduras para fuga, aproximando-se da inteligência humana.

A Gestalt-terapia na França e na Europa

A história da gestalt na França começou no início dos anos 1970, quando, mais ou menos simultaneamente, vários psicólogos franceses trouxeram, de uma estadia nos Estados Unidos, experiências, técnicas, métodos e perguntas. Podemos citar, em 1970: Jacques Durand-Dassier, Serge e Anne Ginger; depois, em 1972: Jean-Michel Fourcade; em 1974, Claude e Christine Allais, Jean-Claude See, Jean Ambrosi e o americano Max Furlaud.

A gestalt francesa já tinha um retrospecto antes de 1975, mas cada um desses terapeutas trabalhava isoladamente, em geral até ignorando a existência de seus colegas. Seria preciso esperar o ano de 1981 e a criação da Societé Française de Gestalt (S.F.G.) - iniciativa de Serge Ginger – para que essas diversas pessoas, e outras recém-chegadas, se encontrassem, em geral pela primeira vez, e trocassem suas experiências. Este ano, 1981, marcou uma virada na história da gestalt na França, que saiu então da sombra e da "semiclandestinidade": várias formações profissionais de Gestalt-clínicos ou Gestalt-terapeutas foram instaladas quase simultaneamente, vindo somar-se aos cursos oferecidos há pouco na França por uma equipe de profissionais do Centro Internacional de Gestalt de Quebec, dirigido por Ernest Godin (formação depois paralisada). A École Parisiènne de Gestalt (E.P.G.) do I.F.E.P.P., com Serge e Anne Ginger, foi primeira formação promovida por franceses. A E.P.G. formou, nesse tempo, cerca de 300 clínicos em gestalt, de 12 nacionalidades.

Foi criado o Centre de Croissance et d'Humanisme Appliqué, em Nantes, com Janine Corbeil, de Montreal (formação depois paralisada).

Depois, no ano seguinte, uma formação em Paris, com Marie Petit e Hubert Bidault, no Centre d'Evolution (formação depois paralisada). E uma outra, associando o Instituto de Gestalt de Bordeaux (Jean-Marie Robine) e o de Grenoble (Jean-Marie e Agnès Delacroix). Todos esses institutos asseguraram uma formação teórica e prática de 500 a 600 horas, distribuídas geralmente por três ou quatro anos.

Em 1980, Marie-Petit publicou o primeiro livro francês sobre gestalt: La Gestalt, thérapie de l'ici et maintenant ("A gestalt, terapia do aqui e agora"). Embora as publicações francesas sobre este método não ultrapassassem 25 no momento da criação da S.F.G., elas, hoje, são mais de 400. A S.F.G. edita um Bulletin reservado aos seus membros, assim como uma revista anual, divulgada através das grandes livrarias.

Várias manifestações públicas têm sido organizadas anualmente: colóquios, jornadas nacionais de estudos, seguidas de um Congresso Internacional francófono, que reuniu 300 participantes de 12 países em Paris, em 1987. Uma série de conferências acontece na maioria das cidades da França e laboratórios de sensibilização ou grupos regulares de terapias são propostos por todas as partes em cerca de 40 diferentes cidades da França, isso sem falar das terapias individuais, atualmente promovidas por mais de uma centena de gestaltistas franceses qualificados. Paralelamente, a gestalt foi incluída no currículo de algumas universidades (Toulouse, Paris, Bordeaux) e é objeto de dissertações de 2º e 3º ciclo e de teses de doutorado.

Esta consolidação da gestalt não deixou indiferentes os países vizinhos: a Bélgica – que precedera a França – logo se associou ativamente ao movimento, e vários Gestalt–terapeutas belgas foram eleitos para o Conselho de Administração da S.F.G. – que, na realidade, é mais uma associação francófona do que francesa. Uma Associação Espanhola da Gestalt-terapia foi criada em 1982 e uma Sociedade Italiana de Gestalt, em janeiro de 1985. Enfim, uma Associação Europeia foi fundada, por iniciativa de Hilarion Petzold, em maio de 1985, assim como uma Associação Quebequense de Gestalt. A Federação Internacional dos Órgãos de formação em Gestalt (FORGE), presidida por S. Ginger, reúne vários institutos de formação da França, Bélgica, Itália, Canadá etc., e possibilita profícuas trocas de ideias, professores e estudantes.

Fundamentos teóricos

Segundo a Gestalt, existem quatro princípios a ter em conta para a percepção de objetos e formas: a tendência à estruturação, a segregação figura-fundo, a pregnância ou boa forma e a constância perceptiva.

Outros conceitos dessa teoria são super-soma e transponibilidade.[nota 1] Super-soma refere-se à ideia de que não se pode ter conhecimento de um todo por meio de suas partes, pois o todo é maior que a soma de suas partes: "'A + B' não é simplesmente '(A + B)', mas sim um terceiro elemento 'C', que possui características próprias".[4] Já segundo o conceito da transponibilidade, independentemente dos elementos que compõem determinado objeto, a forma se sobressai. "Uma cadeira é uma cadeira, seja ela feita de plástico, metal, madeira ou qualquer outra matéria-prima."[carece de fontes?]

Sete fundamentos básicos

Os sete elementos básicos

Os sete fundamentos básicos da Gestalt - muito usado hoje em dia em profissões como design, arquitetura etc. - são:

  • Segregação: desigualdade de estímulo; gera hierarquia: importância e ordem de leitura.
  • Semelhança: elementos da mesma cor e forma tendem a ser agrupados e constituir unidades. E estímulos mais próximos e semelhantes, possuem a tendência de serem mais agrupados.
  • Unidade: um elemento se encerra nele mesmo; vários elementos podem ser percebidos como um todo.
  • Proximidade: elementos próximos tendem a ser agrupados visualmente: unidade de dentro do todo.
  • Pregnância: é a lei básica da percepção da gestalt.
  • Simplicidade: tendência à harmonia e ao equilíbrio visual.
  • Fechamento: formas interrompidas; preenchimento visual de lacunas.

Aplicações

Enquanto isso, cada um diligencia, em seu setor de pesquisa, "espaço" disponível em que a gestalt possa se implantar legitimamente e contribuir com uma nova perspectiva. Podemos vê-la tentar conquistar seu espaço em contextos muitos variados: gestalt junto a crianças e adolescentes, casais em processos de divórcio e divorciados, celibatários ou solitários, expansão da sexualidade, grupos de mulheres, homossexuais etc. Preparação para a aposentadoria, acompanhamento dos últimos momentos da vida. Grupos especiais para: psicóticos, doenças psicossomáticas, cancerosos, alcoólicos, toxicômanos, bulímicos ou obesos, desempregados, imigrados etc.

Além disso, vemos tentativas de associar a gestalt a outras abordagens, como: análise transacional, rebirthing, bioenergética, programação neurolinguística, psicodrama, ioga, rolfing, massagem, heptonomia, eutonia, astrologia, tarô, tudo isso com maior ou menor sucesso, conforme o caso. Registramos experiências de aplicação da gestalt em domínios variados: hospitais psiquiátricos, prisões, escolas, infância, pessoas desajustadas, serviços sociais, conselhos conjugais, terapia familiar, empresas, publicidade, agricultores, dentistas etc.

Aplicações na arte

De acordo com a gestalt, a arte se funda no princípio da pregnância da forma. O importante é perceber a forma por ela mesma; vê-la como "todos" estruturados, resultados de relações. A Gestalt, após sistemáticas pesquisas, apresenta uma teoria nova sobre o fenômeno da percepção. Segundo esta teoria, o que acontece no cérebro não é idêntico ao que acontece na retina. A excitação cerebral não se dá por pontos isolados, mas por extensão. A primeira sensação já é de forma, já é global e unificada. O postulado da gestalt no que se refere às relações psicofisiológicas pode ser definido como: todo processo consciente, toda forma psicologicamente percebida, está estreitamente relacionada com as forças integradoras do processo fisiológico cerebral.

A hipótese da gestalt para explicar a origem dessas forças integradoras, é atribuir, ao sistema nervoso central, um dinamismo autorregulador que, à procura de sua própria estabilidade, tende a organizar as formas em todos coerentes e unificados. Essas organizações, originárias da estrutura cerebral, são espontâneas, independente da nossa vontade. Na realidade, a "psicologia da gestalt" não tentou integrar os fatos da motivação com os fatos da percepção e esta foi a grande contribuição de Frederick Perls que deu origem à gestalt-terapia.

A tendência à estruturação, por exemplo, explica como os diferentes povos distinguem grupos de estrelas e reconhecem constelações no céu; a configuração ideal mais conhecida é a proporção áurea dos arquitetos e geômetras gregos, o que explica muitas das formas que se tornam agradáveis aos olhos humanos. As empresas de publicidade e os criadores de signos visuais (marcas) são grandes usuários da descoberta dos símbolos e de seu poder de atração (pregnância). Vários artistas se utilizaram das ilusões de óptica. Muitas delas são explicadas pela lei da segregação da figura e fundo, a exemplo das obras de Escher e Salvador Dalí ou dos discos ópticos de Marcel Duchamp. A ilusão de perspectiva e a proposição cubista de criação de uma cena com (sob) múltiplos pontos de vista também são explicados pela teoria da gestalt.

Através dos estudos das teorias elaboradas pela gestalt no início do século XX referentes à psicologia das imagens, foi possível criar condições favoráveis para a racionalização na construção de projetos gráficos. Reforça-se a ideia de que o todo, é mais que a soma das suas partes, existindo um envolvimento psicológico e cultural. Compreender a construção de imagens é imprescindível para a elaboração e desenvolvimento de objetos visuais, viabilizando a ampliação do acervo de soluções gráficas.

Gestalt-terapia

Ver artigo principal: Gestalt-terapia

A partir da teoria da gestalt e da psicanálise, o médico alemão Fritz Perls (1893-1970) desenvolveu uma forma de psicoterapia de orientação gestáltica. A gestaltoterapia ou terapia gestalt orienta-se segundo o conceito que o desenvolvimento psicológico e biológico de um organismo se processa de acordo com as tendências inatas desse organismo, que tentam adaptá-lo harmoniosamente ao ambiente. A prática psicoterapêutica é, normalmente, realizada em grupo e, ao longo das suas sessões, destaca-se a realização de um conjunto de exercícios sensório-motores (que trabalham as áreas sensoriais e motoras do nosso corpo) e meditativos (de relaxamento). Estes exercícios pretendem, principalmente, que os indivíduos descubram novas forças existentes em si, para poderem ultrapassar as suas dificuldades.

A gestalt-terapia, apesar da coincidência de nome, não está diretamente ligada à psicologia da gestalt. Ela foi criada pelo médico alemão Frederick Perls (1893-1970) em 1951. Perls atuou como psicanalista até 1941, mas sua formação é muito eclética e passou por importantes psicanalistas como Otto Fenichel e Karen Horney. Passou também por Wilhelm Reich e foi assistente de Kurt Goldestein, que pertencia ao grupo da psicologia da gestalt, e foi muito influenciado pela filosofia fenomenológica. Provavelmente, dessa relação, veio a inspiração para o nome da corrente.

Com a aproximação da Segunda Guerra Mundial, Perls foi obrigado a se exilar e escolheu a África do Sul para morar, onde fundou o Instituto Sul-Africano de Psicanálise. No final da década de 1940, imigrou para os Estados Unidos e, lá, lançou a primeira publicação em gestalt-terapia.[5] Apesar da experiência psicanalítica de Perls, a gestalt-terapia está muito mais próxima da fenomenologia que dos princípios de psicanálise. Em primeiro lugar, a gestalt-terapia não trabalha com o conceito de inconsciente, que é central na psicanálise.

O que importa para essa corrente é o aqui-agora. A centralidade no presente, ao contrário da psicanálise, que busca no passado a elucidação do trauma, é a pedra de toque da gestalt-terapia. De acordo com Naranjo (1980), são três os princípios gerais da gestalt-terapia: "valorização da realidade: temporal (presente versus passado ou futuro); valorização da tomada de consciência e aceitação da experiência; valorização do todo ou responsabilidade".

Aplicações na gestão de empresas

A análise gestalt é passível de incorporação na gestão das empresas. No seminário realizado a 20 de junho de 2012 no Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais sobre o tema "Pós-Capitalismo – Sociedade do Conhecimento", o doutor Amândio Silva transmite a ideia de que as empresas são mais do que uma simples adição dos seus diferentes sectores. Importa, ao gestor, ser capaz de olhar, avaliar e gerir de acordo com os padrões e configurações que detecta. A visão do todo, da forma que sobressai, é o elemento chave para a condução de uma gestão empresarial de sucesso, pois só assim é possível identificar a completa dimensão física, cultural e emocional da organização. Algo que a análise individualizada a cada sector se mostra incapaz de percepcionar.

Críticas sobre a Gestalt

Embora a Gestalt seja considerada por muitos como um consenso alguns cientistas apontam fraquezas nessa teoria. Segundo o autor Johan Wagemans e seus colegas cientistas[6], a Gestalt possui alguns aspectos que poderiam ser esclarecidos.

A Gestalt defende que as leis da percepção nascem com o ser humano ao invés de serem aprendidas com o passar dos anos. No entanto, estudos recentes com observadores adultos mostraram que a experiência passada pode influenciar a forma como percebemos a diferença entre a figura e o seu fundo. Peterson & Skow-Grant (2003)[7] também compartilham dessa crítica. Wertheimer, um dos fundadores da teoria Gestalt, também falou sobre a influência da "experiência passada", mas o que ele disse não tem o mesmo sentido utilizado por outras correntes da psicologia. Para ele, a experiência prévia da pessoa não consegue alterar os princípios gerais da percepção (Luccio, 2011),[8] mas não é isso que vemos acontecer na prática, quando mostramos uma imagem ambígua (com mais de uma interpretação) para diferentes pessoas.

A teoria gestaltista nem sempre se verifica na prática.[6]

Um dos pilares da Gestalt é a teoria do campo elétrico, teoria que foi considerada morta e enterrada em 1950.[6]

A Gestalt oferece meras demonstrações, usando estímulos muito simples ou confusos, formulando leis com pouca precisão, ou adicionando "leis" para cada fator que parecesse ter alguma influência na percepção. Para evitar criar leis demais, foi proposta uma lei principal, chamada de Lei da Concisão (Prägnanz), mas sua explicação foi deixada "confusa" de propósito: "a organização psicológica será sempre tão boa quanto as condições permitirem". Sobre esse assunto, Bruce & Green (1990)[9] escreveram: "algumas das suas 'leis' de organização perceptiva hoje parecem vagas e inadequadas. O que significa uma 'boa' ou 'simples' forma, por exemplo?". Os próprios gestaltistas admitem que este conceito é subjetivo (Koffka, 1975).[10] Se observarmos a natureza, poucos objetos naturais têm uma estrutura regular. A maioria não tem forma ou tem uma forma imperfeita, de modo que poucos objetos têm uma "boa forma" de modo a serem "melhores" do que outros (Luccio, 2011).[8]

Todorovic (2008)[11] explica ainda que, embora a Gestalt seja coberta de alguma forma na literatura científica como em Kubovy & van der Berg (2008), ainda resta detalhar como é que diferentes princípios gestaltistas interagem entre si e quais irão ser mais fortes em quais situações.

Além dessas críticas, o psicólogo Skinner (1972)[12] também questiona a base filosófica da Gestalt, chamada de teoria representacional ou "teoria da cópia" (a ideia de que nossa mente faz cópias do mundo), afirmando que fazer isso seria um desperdício de tempo para o cérebro.

Somando a essas discussões, Dewey (2004)[13] faz, ainda, uma declaração bastante séria: o conceito principal repetido nas aulas de Gestalt está errado ("o todo é maior do que a soma das partes"). Foi traduzido incorretamente do alemão para o inglês, algo que Kurt Koffa, um dos fundadores da Gestalt, criticou severamente. No seu texto original, estava dito que "o todo é diferente (ou independente) da soma das partes", no sentido de que o todo tem uma existência própria, que não depende das partes. Koffka não gostou da tradução e corrigia os alunos que usavam a palavra "maior" ao invés de "diferente" (Heider, 1977)[14] . Segundo Koffa, não se trata de um princípio de "soma". O que o texto original da Gestalt queria dizer é que o todo tem uma existência independente no sistema perceptivo.

Além disso, os fundamentos propostos pela Gestalt se baseiam em conceitos relativamente óbvios. Rock (1975) afirma que os princípios da Gestalt são baseados na nossa experiência com coisas e suas propriedades: objetos no mundo, geralmente, estão localizados na frente de algum fundo (figura fundo), têm uma textura diferente da textura desse fundo (similaridade), são feitos de partes que estão perto umas das outras (proximidade), se movem como um todo (destino comum), têm contornos fechados (fechamento) e esses são contínuos (continuidade) (Todorovic, 2008)[11] .

O livro "História do Design Gráfico", de Philip Meggs, não cita a palavra Gestalt e faz menção a estudos de percepção apenas na história de Peter Behrens e da Nova Objetividade (Meggs, 2009).[15]

Commons
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Ver também

Predefinição:Notas

Referências

  1. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 848, 849.
  2. Infoescola. Disponível em http://www.infoescola.com/psicologia/gestalt/. Acesso em 16 de fevereiro de 2016.
  3. Revista Scientific American "Primórdios da Psicologia da Forma - por Helmut E. Lück
  4. Revista Mente e Cérebro, 179, pgs. 88-93. Editora Duetto. São Paulo (dezembro de 2007)
  5. TELLEGEN, A.T. In: PERLS, F.S. Gestalt Terapia aplicada. São Paulo: Summus, 1977.
  6. 6,0 6,1 6,2  Wagemans, J; Elder, J; Kubovy, M; Palmer, S; Peterson, M; Singh, M e Heydt, R. (2012) A Century of Gestalt Psychology in Visual Perception I. Perceptual Grouping and Figure-Ground Organization. Psychology Bulletin November 138 (6): 1172-1217
  7. Peterson, M & Skow-Grant, E. (2003). Memory and learning in figure-ground perception. Em B. Ross & D. Irwin (Eds.) Cognitive Vision: Psychology of Learning and Motivation, 42, 1-34.
  8. 8,0 8,1 Luccio, R. (2011) Gestalt Psychology and Cognitive Psychology. Humana.Mente Journal of Philosophical Studies. Vol. 17, 95-128.
  9. Bruce, V. e Green, P. (1990). Visual Perception – Physiology, Psychology and Ecology. Lawrence Erlbaum Associates: UK.
  10. Koffka, K. (1975) Princípios de psicologia da Gestalt. São Paulo: Cultrix.
  11. Todorovic, D. (2008) Gestalt Principles. Scholarpedia, 3(12):5345.
  12. Skinner, B. (1972). Tecnologia do ensino. São Paulo: Herder.
  13. Dewey, R. (2004) Psychology, an introduction. Wadsworth Publishing Company, Boston, MA.
  14. Heider, G. (1977). More about Hull and Koffka. American Psychologist, Vol. 32 (5), 383.
  15. Meggs, P. e Purvis, A. (2009) História do Design Gráfico. São Paulo: Cosac Naify.

Bibliografia

  • ARHHEIM, Rudolf. Arte e Percepção Visual - Uma Psicologia Da Visão Criadora. Editora: Thomson Pioneira.
  • ENGELMANN (Org.) Psicologia (coleção grandes cientistas sociais). SP, Ática, 1978.
  • KOFFKA, W. Princípios da Psicologia da Gestalt. Cultrix, SP.
  • KOHLER, W. Psicologia da Gestalt. Itatiaia. Belo Horizonte, 1980.
  • MARX, M & HILLIX, W. Sistemas e Teorias em Psicologia. SP, Cultrix.
  • PIAGET, Jean. Psicologia da inteligência. SP, Forense.
  • Bock, Ana Mercês Bahia. Furtado, Odair. Teixeira, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia 14ª edição – São Paulo: Saraiva, 2008.
  • Ginger, Serge; Ginger, Anne; Gestalt: uma terapia do contato (tradução Sonia Rangel). 5ª ed. – São Paulo: Summus, 1995.

Ligações externas


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