Caso Liana Friedenbach e Felipe Caffé | |
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Felipe Caffé e Liana Friedenbach | |
Local do crime | Embu-Guaçu, SP Brasil |
Data | 1 a 5 de novembro de 2003 |
Vítimas | Liana Friedenbach e Felipe Caffé |
Réu(s) | Paulo César da Silva Marques ("Pernambuco") Roberto Aparecido Alves Cardoso ("Champinha") Antônio Caetano Antônio Matias Agnaldo Pires |
O Caso Liana Friedenbach e Felipe Caffé foi um crime ocorrido na zona rural de Embu-Guaçu, na Grande São Paulo, entre 1 e 5 de novembro de 2003, que causou profunda indignação na sociedade brasileira e reacendeu o debate a respeito da maioridade penal no Brasil.
O crime consistiu na tortura e assassinato do jovem Felipe Silva Caffé (19 anos) e da menor Liana Bei Friedenbach (16 anos) por quatro homens e um adolescente.[1] Liana Bei Friedenbach nasceu em São Paulo, no dia 6 de maio de 1987, e foi assassinada em Juquitiba, no dia 5 de novembro de 2003. Felipe Silva Caffé nasceu em 1 de julho de 1984 e foi assassinado no dia 2 de novembro de 2003. Liana era filha do advogado Ari Friedenbach.
Os assassinos foram presos alguns dias depois dos crimes. Em julho de 2006, Antonio Caetano da Silva, Agnaldo Pires e Antônio Mathias de Barros foram condenados pela Justiça a 124, 47 e 6 anos de prisão, respectivamente. Em novembro de 2007, Paulo César da Silva Marques, o "Pernambuco", foi condenado a 110 anos e 18 dias de prisão pelo assassinato. Roberto Aparecido Alves Cardoso, o "Champinha", considerado o líder do bando, era menor de idade na época da morte do casal e foi internado na Unidade Experimental de Saúde da Unidade Tietê da Fundação CASA (antiga Febem), na Vila Maria, Zona Norte de São Paulo, onde permanece desde então.[2] Após completar 18 anos ele foi novamente avaliado e transferido ao Manicômio Casa de Custódia de Taubaté, por tempo indeterminado, visto seu alto grau de periculosidade junto à sociedade.
O crime
Os estudantes Liana Friedenbach, 16 anos, e Felipe Silva Caffé, 19, foram rendidos pelos criminosos enquanto acampavam em um sítio abandonado no município de Embu-Guaçu, na Grande São Paulo. O casal mentiu sobre a viagem para os pais. Liana havia dito que iria para Ilhabela com um grupo de jovens da comunidade israelita. A família de Felipe disse que sabia que o rapaz iria acampar, mas acreditava que ele estava com amigos.[3]
Os namorados teriam passado a madrugada do dia 31 de outubro de 2003 sob o vão livre do MASP, na Avenida Paulista, em São Paulo, onde teriam ficado até as 5h do dia 1º, quando chegaram ao Terminal Rodoviário Tietê. Liana e Felipe desembarcaram em Embu-Guaçu por volta das 9h e pegaram um outro ônibus para Santa Rita, um lugarejo perto do sítio abandonado. Os estudantes ainda andaram 4,5 km a pé até o local em que acamparam, sob um telhado caindo aos pedaços.[3]
"Champinha" e "Pernambuco" seguiam para pescar na região quando viram o casal pela manhã e tiveram então a ideia de roubar os estudantes. O casal foi abordado à tarde. No entanto, ao perceberem que os jovens estavam sem dinheiro, os criminosos teriam optado pelo sequestro. Os estudantes foram levados para um sítio da região, que serviria como cativeiro. Sem a presença do caseiro, os criminosos decidiram levar os estudantes para a casa de um amigo, na mesma região, que também estava vazia.[3]
Liana disse pertencer a uma família rica e propôs a solicitação de um resgate em troca da libertação. À noite, Pernambuco estuprou Liana, enquanto Felipe permaneceu em outro quarto. No segundo dia, os estudantes foram obrigados a caminhar por uma trilha. Enquanto Felipe seguiu com "Pernambuco", o adolescente ficou com Liana na mata. Felipe foi assassinado nas proximidades de um barranco, com um tiro na nuca. Liana, segundo "Champinha", não viu o namorado ser morto, apesar de ter ouvido o tiro. Ela perguntou pelo namorado, mas "Pernambuco" disse que ele havia sido libertado e fugiu após o crime.[3]
Liana permaneceu em poder de "Champinha", mas nenhum pedido de resgate foi feito à família. No terceiro dia, o pai dela descobriu que ela havia viajado com o namorado e, sob suspeita de que os jovens haviam se perdido na mata, acionou Comando de Operações Especiais (COE), que iniciou as buscas. O local do acampamento foi descoberto e, além da barraca, as roupas dos estudantes, a carteira e o celular de Liana foram localizados. Antônio Caitano Silva, dono da casa onde o adolescente permanecia com Liana, chegou com um amigo, Agnaldo Pires. O adolescente apresentou Liana como sua namorada e ofereceu a menina para os colegas, quando então ela foi violentada por Agnaldo Pires. Silva, Pires, o adolescente e Liana seguiram para a casa de Antonio Matias de Barros (dono da primeira casa que serviria de cativeiro) e foram pescar.[3]
No fim da tarde, um irmão de "Champinha" foi até a casa de Barros para procurar o irmão, visto que a mãe estava preocupada com seu desaparecimento. Liana foi, mais uma vez, apresentada como namorada do adolescente. Com a aproximação da polícia, "Champinha" decidiu matar Liana, apesar de ter dito aos amigos que levaria a garota até a rodoviária. Liana foi assassinada a facadas no dia 5 de novembro em uma área de mata fechada durante a madrugada. Os corpos foram encontrados no dia 10 de novembro.[3]
Prisão e condenação dos responsáveis
"Champinha" e seus comparsas foram presos dias depois dos crimes. Em julho de 2006, Antonio Caetano da Silva, Agnaldo Pires e Antônio Mathias de Barros foram condenados, respectivamente, a 124, 47 e 6 anos de prisão. Em novembro de 2007, Paulo César da Silva Marques, o "Pernambuco", foi condenado a 110 anos e 18 dias de prisão pelo assassinato. Ele estava preso desde a época do crime e foi o último dos cinco envolvidos a ser julgado.[2]
Champinha
Considerado o líder do bando, Roberto Aparecido Alves Cardoso, o "Champinha", tinha 16 anos de idade na época do assassinato do casal e foi internado na Unidade 1 da Fundação CASA (antiga Febem), do Complexo Vila Maria, Zona Norte de São Paulo.[2] De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ele poderia ter ficado internado na entidade por até três anos ou no máximo até completar 21 anos (artigo 121, parágrafo 5º). Ao completar 21 anos, no entanto, o Ministério Público requereu sua interdição civil com base na Lei 10.216/2001.[4] Um laudo psiquiátrico apontou que ele tem doenças mentais graves, como transtorno de personalidade antissocial e leve retardo mental, sendo que pode apresentar riscos à sociedade.[5][6]
Champinha foi transferido para uma Unidade Experimental de Saúde (UES), destinada à recuperação de jovens infratores com distúrbios mentais, onde permanece até hoje. Desde então, a custódia dele se tornou responsabilidade do governo paulista. Champinha já teve pedidos de liberdade negados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP).[4]
No dia 2 de maio de 2007, ele chegou a fugir da Fundação Casa. A fuga ocorreu por volta das 18h, quando ele escapou com pelo menos um comparsa. Ambos escalaram o muro de sete metros de altura utilizando-se de uma escada. Recapturado 11 horas depois, foi novamente internado.[7][8]
Em 17 de dezembro de 2007, uma emissora de TV filmou "Champinha" numa casa confortável, decorada em alto padrão, com sofá, TV de 29 polegadas e cinco refeições diárias feitas por nutricionistas. O vídeo gerou grande revolta e críticas ao governo. O então governador José Serra defendeu a situação dele, dizendo que ele estaria melhor ali do que nas ruas cometendo delitos. O secretário da Justiça de São Paulo também repudiou a imprensa, dizendo que queriam linchar moralmente o Estado. "Champinha" custaria ao Estado cerca de 12 mil reais mensais.[9]
Ver também
Referências
- ↑ Léo Arcoverde (28 de março de 2011). «Estou preparado para sair, afirma Champinha». Agora São Paulo. Consultado em 29 de dezembro de 2020
- ↑ 2,0 2,1 2,2 Estado de S. Paulo, ed. (8 de novembro de 2007). «Pernambuco pega 110 anos por morte de Liana e Felipe». Consultado em 20 de março de 2018
- ↑ 3,0 3,1 3,2 3,3 3,4 3,5 Folha de S. Paulo, ed. (2 de maio de 2003). «Saiba mais sobre o assassinato de Liana e Felipe». Consultado em 20 de março de 2018
- ↑ 4,0 4,1 Gazeta do Povo, ed. (24 de junho de 2018). «"15 anos após crimes, prisão de Champinha ainda divide especialistas». Consultado em 31 de agosto de 2018
- ↑ R7, ed. (9 de novembro de 2013). «Caso Liana Friedenbach, um dos mais bárbaros da história do País, completa dez anos. Relembre». Consultado em 20 de março de 2018
- ↑ Lucas Baranyi (30 de agosto de 2017). «O matador adolescente Champinha e o crime que chocou o Brasil». Mundo Estranho. Consultado em 29 de dezembro de 2020
- ↑ Folha de S. Paulo, ed. (3 de maio de 2007). «Jovem envolvido na morte de Liana e Felipe foge da Fundação Casa». Consultado em 20 de março de 2018
- ↑ Sérgio Lorena (3 de maio de 2007). G1, ed. «Polícia recaptura Champinha em SP». Consultado em 20 de março de 2018
- ↑ «Champinha vai custar R$ 12 mil mensais». G1. 5 de maio de 2007. Consultado em 29 de dezembro de 2020