Predefinição:Info/Monumento/Wikidata A Capela Nosso Senhor dos Passos é um templo Católico localizado na cidade brasileira de Porto Alegre, parte do complexo edificado da Santa Casa de Misericórdia. Foi incluída no patrimônio histórico da cidade.
História
A Santa Casa foi fundada em 1803, e tardou em edificar um templo para atendimento dos doentes internos. O 1º Livro de Resoluções da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, em seu primeiro registro, de 24 de janeiro de 1814, dá conta da existência de uma imagem do Senhor dos Passos de propriedade da Devoção de mesmo nome administrada pela Irmandade do Santíssimo Sacramento, e da necessidade de estabelecer uma capela ou igreja no Hospital Público da Misericórdia, onde se conservasse o Santíssimo Sacramento para dali ser ministrado aos enfermos pelos Irmãos da Misericórdia, e solicitava recursos para esse estabelecimento e para o traslado da imagem.[1]
O assentamento seguinte, de 11 de julho de 1814, acusa a necessidade de se eleger um novo Provedor e ampliar a corporação a fim de angariar esmolas. Igualmente aconselha a fusão da Irmandade com a Devoção, cuja imagem a esta altura se achava na Sacristia da Matriz de Porto Alegre, declarando que ela poderia servir como Padroeira para o Hospital, uma vez que a dita imagem já atraía um rendimento de esmolas suficiente para a construção da capela.[1]
O deferimento do pedido veio em 26 de julho do mesmo ano, assinado por Dom Diogo de Souza, governador da Capitania de São Pedro do Rio Grande, sendo registrado no Livro dos Registros Ordinários da Câmara da Capital em 14 de dezembro de 1814. A construção parece ter sofrido algum impedimento, pois um novo pedido para construção foi feito ao governador em 1818, iniciando enfim em 1819, durante a Provedoria do desembargador Luiz Corrêa Teixeira de Bragança.[2][3] Em 1825 a nave e o altar da capela foram inaugurados,[3] e foi entronizada a imagem do Senhor dos Passos que estava na Matriz desde 1808.[4]
A primeira capela perdurou até 1858, quando foi demolida para dar lugar a um novo edifício. Foi criado um altar-mor mais amplo e uma decoração de talha em madeira, realizados entre 1866 e 1868 pelo mestre carpinteiro João do Couto e Silva. Ele elaborou também um consistório, uma balaustrada e um guarda-respeito. Nesta época a capela recebeu novas alfaias e as imagens do Senhor Crucificado, Nossa Senhora da Soledade e Santa Maria Magdalena, compradas na Bahia por Lopo Gonçalves Bastos. Entre 1873 e 1881, durante a Provedoria de José Antônio Coelho Júnior, a capela passou por obras de conservação e reparos que incluíram a renovação da capela-mor, ornamentação dos altares, assoalhamento da nave, substituição de portas, instalação de duas tribunas, proteção do coro com gradis de ferro e compra de um pequeno carrilhão de três campainhas. Também foi instalado um órgão.[3]
No fim da década de 1880 novas intervenções incluíram uma nova pintura, instalação de um pára-raios na torre, douramento de banquetas e tocheiros, encanamento de gás, mudança da iluminação, encarnação e retoque de imagens, revestimento com papel de parede do altar de Nossa Senhora da Soledade e das duas sacristias, reforma de alfaias, aquisição de paramentos e atapetamento do arco do cruzeiro. As reformas continuaram no início da década seguinte, com encarnação e ornamentação das imagens de Nosso Senhor dos Passos e Nossa Senhora da Misericórdia e entronização de relíquias de quatro mártires. Em 1897 foi encomendada na Europa uma Via Sacra pintada, instalada em 1903.[3]
Em 29 de junho de 1909 o Jornal do Commercio anunciava "para breve uma arquitetura moderna vir entoar o cântico quase secular da salmodia do frei Joaquim do Livramento", numa referência ao fundador da Santa Casa e à transformação no estilo do prédio.[2] Uma placa comemorativa no interior da Santa Casa, com data de 1911, quando foi reinaugurada, narra que o Provedor, tenente-coronel Antônio Soares de Barcelos, havia mandando entre 1909 e 1910 reconstruir quase por completo o templo, tendo como arquiteto e contramestre respectivamente Victor Ferlini e Hugo Ferlini. Mesmo não havendo registros sobre o caráter e extensão exatos desta reforma no que diz respeito ao interior, com certeza produziram uma importante mudança na fachada, que foi remodelada em estilo neogótico.
Entre as décadas de 1930 e 1940 foi adicionado mobiliário e em 1936 foram instalados sinos nas torres, dedicados a Nossa Senhora da Gloria e a São Francisco de Assis.[3] Na década de 1940 uma nova reforma de grande vulto removeu a escadaria de acesso em virtude de uma mudança na urbanização da rua em frente, sua entrada foi deslocada para a lateral do prédio, sendo então fechada a porta de entrada e substituída por um grande vitral produzido pela artista plástica Judith Fortes em parceria com a Casa Genta. No início da década de 1960 uma nova revitalização no interior introduziu uma ornamentação pintada por Emilio Sessa.[4]
Em 1977 a capela foi incluída pela Prefeitura no Inventário dos Bens Imóveis de Valor Histórico e Cultural e de Expressiva Tradição.[5] Em 2004 a capela recebeu restauro. Em 2019 comemorou-se seus 200 anos de fundação com missa em latim, um recital de música sacra e uma visita guiada.[4] No mesmo ano foi lançado um projeto de restauro dos vitrais.[6]
Características
A fachada tem um estilo neogótico, com um corpo central e duas torres sineiras laterais com pilastras em destaque nas quinas, se desenvolve em quatro níveis: o primeiro é um embasamento elevado, sem aberturas. O segundo nível mostra uma grande janela ogival ao centro, fechada por um vitral e emoldurada por uma balaustrada abaixo e um frontão acima, e nas torres há pequenas aberturas de contorno semelhante, mas cegas. Segue um friso saliente decorado com motivo floral, e logo acima três janelas, também de ogiva e com vitrais, ladeadas, já no corpo das torres, por aberturas similares mas com mainel e óculo. Imediatamente aparece uma cornija decorada com arcos ogivais pequenos, servindo como base para o frontão principal, um triângulo rebaixado de empenas retas, óculo redondo e uma cruz metálica no vértice superior. Dos lados as torres abrem grandes vãos ogivais, com pináculos nos cantos e coruchéus em cúpula de quatro águas e lanterna de arremate.
A entrada se dá por dentro do edifício da Santa Casa. O interior da capela tem planta em L, com uma nave única com coro, janelas só à esquerda, e um espaço anexo, com bancadas, à esquerda da capela-mor, que fica ao fundo da nave, sendo delimitada por um grande arco redondo e um gradil. O teto é plano, encurvado junto às paredes, sendo dividido em áreas quadradas com medalhões ao centro, de onde pendem lustres contemporâneos. Motivos geométricos e outros medalhões com imagens diversas completam a decoração do teto.
As paredes são quase nuas, salvo por uma imagem em relevo da Virgem da Misericórdia à esquerda, e uma Via Sacra ao longo da parede direita, em telas pequenas mas de concepção refinada. As duas portas de entrada e a que leva à sacristia são revestidas de almofadões com rica talha de um barroco colonial tardio.
Ao todo sete aberturas são decoradas com vitrais, produzidos pela Casa Genta de Porto Alegre, com desenhos de Maximilian Dobmeier e Judith Fortes. Cinco deles são figurativos, com cenas de Nosso Senhor dos Passos, Crucificação, Deposição da cruz, as Três Mulheres junto ao túmulo e a Ascensão de Cristo.[6]
A capela-mor tem um altar-mor neoclássico, singelo na decoração, com três nichos para estatuária. O nicho central, bastante profundo, ladeado por duas elegantes colunas coríntias, abriga uma grande imagem do Senhor dos Passos, um exemplar significativo das tradicionais estátuas de roca da devoção colonial de herança barroca, cujo impacto dramático é aumentado por jogo de iluminação.
Os nichos laterais abrigam outras imagens, sendo que o da direita mostra uma Nossa Senhora da Misericórdia, também de talhe barroco, e o da direita, um São José com o Menino nos braços. Sobre o altar, um florão em motivo de concha inserido em um arco redondo, e como arremate, acima do conjunto, uma pintura mural representando o Divino Espírito Santo. O teto é uma abóbada de berço com decoração semelhante à da nave.
O espaço à esquerda da capela-mor possui igualmente significativa estatuária, incluindo uma Imaculada Conceição neogótica, um Sagrado Coração de Jesus, ambos do início do século XX, e sobretudo uma majestosa Nossa Senhora do Rosário, realizada no século XIX, com o Menino Jesus nos braços e um grupo de anjos a seus pés.
Ver também
Referências
- ↑ 1,0 1,1 Castro, Lourenço Junior de. 1º (Livro de) Rezoluç(õe)s da Irm(anda)de da Santa Caza da Mizericordia. Porto Alegre, 1814
- ↑ 2,0 2,1 Franco, Sérgio da Costa. Guia Histórico de Porto Alegre. Porto Alegre: Editora da Universidade (UFRGS), 2006. 4ª edição.
- ↑ 3,0 3,1 3,2 3,3 3,4 Eltz, Amanda Mensch. Entre a Gratidão e o Poder: uma coleção de retratos pintados da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2019, pp. 29-36
- ↑ 4,0 4,1 4,2 Seibt, Taís. "Capela da Santa Casa celebra 200 anos com missa em latim e visita guiada". Zero Hora, 15/10/2019
- ↑ "Lei nº 4317 de 16 de setembro de 1977". Prefeitura de Porto Alegre
- ↑ 6,0 6,1 Wertheimer, Mariana & Rodrigues, Fernanda da Silva. "Pesquisa e Tratamento dos Vitrais da Capela da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil". C. H.C. Santa Casa / Apoy, 2019