Predefinição:Info/Gênero musical A bossa nova é um gênero musical surgido no Brasil no fim da década de 1950. Considerado uma nova forma de tocar samba — sob influência do jazz —, foi concebido por João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e jovens cantores e compositores de classe média da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. Tem seu marco inicial em 1959 com o lançamento do disco e canção homônima Chega de Saudade, no qual João Gilberto cria uma nova batida de violão e canta de modo particular a música composta por Antônio Carlos "Tom" Jobim e Vinicius de Moraes (Tom Jobim, cantor e instrumentista de renome, viria a se tornar o compositor e arranjador dos maiores sucessos do gênero).[1] O jeito suave de cantar foi influenciado pelo jazzista Chet Baker.[2][3]
De início, o termo era apenas relativo a um novo modo de cantar e tocar samba na época, ou seja, a uma reformulação estética dentro do moderno samba carioca urbano. No final do ano de 1957, um show realizado por Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Sylvia Telles, Roberto Menescal e Luiz Eça no Clube Hebraica (Rio de Janeiro) já era anunciado como "... grupo bossa nova apresentando sambas modernos".[1]
Com o passar dos anos, a bossa nova tornou-se um dos movimentos mais influentes da história da música popular brasileira, conhecido em todo o mundo. Um grande exemplo disso é a canção "Garota de Ipanema", composta em 1962 por Vinicius de Moraes e Tom Jobim.[1]
Origens
A palavra "bossa" apareceu pela primeira vez na década de 1930, em São Coisas Nossas, samba do popular cantor Noel Rosa: O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas (...).[4] A expressão "bossa nova" passou a ser utilizada também na década seguinte para aqueles sambas de breque, baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas.[4]
Alguns críticos musicais destacam uma certa influência que a cultura americana do Pós-Guerra,[nota 1] de músicos como Stan Kenton, combinada ao impressionismo erudito, de Debussy e Ravel, teve na bossa nova, Uma especialmente do cool jazz e bebop. Embora tenha forte influência da música estrangeira, particularmente do jazz, a bossa nova possui elementos de samba sincopado.[5] Além disso, havia um fundamental inconformismo com o formato musical de época. Os cantores Dick Farney e Lúcio Alves, que fizeram sucesso nos anos da década de 1950 com um jeito suave e minimalista (em oposição a cantores de grande potência sonora) também são considerados influências positivas sobre os garotos que fizeram a bossa nova.[6]
Um embrião do movimento, já na década de 1950, eram as reuniões casuais, frutos de encontros de um grupo de músicos da classe média carioca em apartamentos da zona sul, como o de Nara Leão, na Avenida Atlântica, em Copacabana. Nestes encontros, cada vez mais frequentes, a partir de 1957, um grupo se reunia para fazer e ouvir música. Dentre os participantes estavam novos compositores da música brasileira, como Billy Blanco, Carlos Lyra, Roberto Menescal e Sérgio Ricardo, entre outros. O grupo foi aumentando, abraçando também Chico Feitosa, João Gilberto, Luiz Carlos Vinhas, Ronaldo Bôscoli, entre outros.[7][8]
Primeiro movimento musical brasileiro egresso das faculdades, já que os primeiros concertos foram realizados em âmbito universitário, pouco a pouco aquilo que se tornaria a bossa nova foi ocupando bares do circuito de Copacabana, no chamado Beco das Garrafas.[9]
No final de 1957, numa destas apresentações, no Colégio Israelita-Brasileiro, teria havido a ideia de chamar o novo gênero - então apenas denominado de samba sessions, numa alusão à fusão entre samba e jazz - devido a um recado escrito num quadro-negro, provavelmente escrito por uma secretária do colégio, chamando as pessoas para uma apresentação de samba-sessions por uma turma "bossa-nova". No evento participaram Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Sylvia Telles, Roberto Menescal e Luiz Eça, onde foram anunciados como "(...) grupo bossa nova apresentando sambas modernos".[10]
Início oficial
Predefinição:Double image Movimento que ficou associado ao crescimento urbano brasileiro - impulsionado pela fase desenvolvimentista da presidência de Juscelino Kubitschek (1955-1960) -,[11] a bossa nova iniciou-se para muitos críticos quando foi lançado, em agosto de 1958, um compacto simples do violonista baiano João Gilberto (considerado o papa do movimento),[12][13][14] contendo as canções Chega de Saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e Bim Bom (do próprio cantor).[15][16][17]
Meses antes, João participara de Canção do Amor Demais, um álbum lançado em maio daquele mesmo ano e exclusivamente dedicado às canções da iniciante dupla Tom/Vinicius, interpretado pela cantora carioca Elizeth Cardoso.[16][17] De acordo com o escritor Ruy Castro (em seu livro Chega de saudade, de 1990), este LP não foi um sucesso imediato ao ser lançado, mas o disco pode ser considerado um dos marcos da bossa nova, não só por ter trazido algumas das mais clássicas composições do gênero - entre as quais, Luciana, Estrada Branca, Outra Vez e Chega de Saudade-, como também pela célebre batida do violão de João Gilberto, com seus acordes dissonantes e inspirados no jazz norte-americano - influência esta que daria argumentos aos críticos da bossa nova.[18]
Outras das características do movimento eram suas letras que, contrastando com os sucessos de até então, abordavam temáticas leves e descompromissadas - exemplo disto, Meditação, de Tom Jobim e Newton Mendonça. A forma de cantar também se diferenciava da que se tinha na época. Segundo o maestro Júlio Medaglia, "desenvolver-se-ia a prática do canto-falado ou do cantar baixinho, do texto bem pronunciado, do tom coloquial da narrativa musical, do acompanhamento e canto integrando-se mutuamente, em lugar da valorização da 'grande voz'".[19]
Em 1959, era lançado o primeiro LP de João Gilberto, Chega de saudade, contendo a faixa-título - canção com cerca de 100 regravações feitas por artistas brasileiros e estrangeiros. A partir dali, a bossa nova era uma realidade.[20] Além de João, parte do repertório clássico do movimento deve-se as parcerias de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.[16][17] Consta-se, segundo muitos afirmam, que o espírito bossa-novista já se encontrava na música que Jobim e Moraes fizeram, em 1956, para a peça Orfeu da Conceição, primeira parceria da dupla, que esteve perto de não acontecer, uma vez que Vinícius primeiro entrou em contato com Vadico, o famoso parceiro de Noel Rosa e ex-membro do Bando da Lua, para fazer a trilha sonora. É dessa peça, baseada na tragédia Grega Orfeu, uma das belas composições de Tom e Vinícius, "Se todos fossem iguais a você", já prenunciando os elementos melódicos da bossa nova.[21]
Além de Chega de saudade, os dois compuseram Garota de Ipanema, outra representativa canção da bossa nova, que se tornou a canção brasileira mais conhecida em todo o mundo, depois de Aquarela do Brasil (Ary Barroso), com mais de 169 gravações, entre as quais de Sarah Vaughan, Stan Getz, Frank Sinatra (com Tom Jobim), Ella Fitzgerald entre outros.[22] É de Tom Jobim também, junto com Newton Mendonça, as canções Desafinado e Samba de uma Nota Só, dois dos primeiros clássicos do novo gênero musical brasileiro a serem gravados no mercado norte-americano a partir de 1960.[16][23][24]
Mudanças
Em meados da década de 1960, o movimento apresentaria uma espécie de cisão ideológica, formada por Marcos Valle, Dori Caymmi, Edu Lobo e Francis Hime e estimulada pelo Centro Popular de Cultura da UNE. Inspirada em uma visão popular e nacionalista, este grupo fez uma crítica das influências do jazz norte-americano na bossa nova e propôs sua reaproximação com compositores de morro, como o sambista Zé Ketti. Um dos pilares da bossa, Carlos Lyra, aderiu a esta corrente, assim como Nara Leão, que promoveu parcerias com artistas do samba como Cartola e Nelson Cavaquinho e baião e xote nordestinos como João do Vale. Nesta fase de releituras da bossa nova, foi lançado em 1966 o antológico LP "Os Afro-sambas", de Vinicius de Moraes e Baden Powell.
Entre os artistas que se destacaram nesta segunda geração (1962-1966) da bossa nova estão Paulo Sérgio Valle, Edu Lobo, Marcos Vasconcelos, Dori Caymmi, Nelson Motta, Francis Hime, Wilson Simonal, entre outros...
Fim do movimento, da bossa nova à MPB
Um dos maiores expoentes da bossa nova comporia um dos marcos do fim do movimento. Em 1965, Vinícius de Moraes compôs, com Edu Lobo, Arrastão. A canção seria defendida por Elis Regina no I Festival de Música Popular Brasileira (da extinta TV Excelsior), realizado no Guarujá naquele mesmo ano. Era o fim da bossa nova e o início do que se rotularia MPB, gênero difuso que abarcaria diversas tendências da música brasileira até o início da década de 1980 - época em que surgiu um pop rock nacional renovado.
A MPB nascia com artistas novatos, da segunda geração da bossa nova, como Geraldo Vandré, Edu Lobo e Chico Buarque de Holanda, que apareciam com frequência em festivais de música popular. Bem-sucedidos como artistas, eles tinham pouco ou quase nada de bossa nova. Vencedoras do II Festival de Música Popular Brasileira, realizado em São Paulo em 1966, Disparada, de Geraldo, e A Banda, de Chico, podem ser consideradas marcos desta ruptura e mutação da bossa em MPB.
Legado
O fim cronológico da bossa não significou a extinção estética do estilo. O movimento foi uma grande referência que para gerações posteriores de artistas, do jazz (a partir do sucesso estrondoso da versão instrumental de Desafinado pela dupla Stan Getz e Charlie Byrd) a uma corrente pós-punk britânica (de artistas como Style Council, Matt Bianco e Everything but the Girl).
No rock brasileiro, há de se destacar tanto a regravação da composição de Lobão, Me chama, pelo músico bossa-novista João Gilberto, em 1986, além da famosa música do cantor Cazuza composta por ele e outros músicos, Faz parte do meu show, gravada em 1988, com arranjos fortemente inspirados na bossa nova.
Seu legado é valioso, deixando várias joias da música nacional, dentre as quais Chega de Saudade, Garota de Ipanema, Desafinado, O barquinho, Eu Sei Que Vou Te Amar, Se Todos Fossem Iguais A Você, Águas de março, Outra Vez, Coisa mais linda, Corcovado, Insensatez, Maria Ninguém, Samba de uma nota só, O pato, Lobo Bobo, Saudade fez um Samba
Ver também
Referências
- ↑ 1,0 1,1 1,2 «Bossa Nova». Dicionário Cravo Albin. Consultado em 7 de julho de 2019
- ↑ «Estilo suave de Chet Baker expressar tormento pode ter influenciado a bossa». Correio Braziliense. Consultado em 17 de julho de 2019
- ↑ «Chet Baker, a atuação que mudou a vida de João Gilberto». GGN. Consultado em 17 de julho de 2019
- ↑ 4,0 4,1 «Conheça as principais características da Bossa nova, no Caderno de Música». EBC Rádios (em português). 11 de julho de 2019. Consultado em 20 de janeiro de 2020
- ↑ Neusa Meirelles Costa. Arte & Ciência, ed. De amor, cotidiano e outras falas: o discurso da música brasileira e a arqueologia de Foucault. 2004. [S.l.: s.n.] 144 páginas. 9788574731414
- ↑ «No rádio, Lúcio Alves e o sucesso da 'rivalidade' com Dick Farney». EBC Rádios (em português). 29 de março de 2016. Consultado em 20 de janeiro de 2020
- ↑ «História de Copacabana 1». copacabana.com (em português). Consultado em 20 de janeiro de 2020
- ↑ Gerolamo, Ismael de Oliveira; Gerolamo, Ismael de Oliveira (2017). «Nara Leão: entre a bossa nova e a canção engajada». Revista do Instituto de Estudos Brasileiros (em português). pp. 172–198. doi:10.11606/issn.2316-901x.vo166p172-198. Consultado em 20 de janeiro de 2020
- ↑ «A Bossa Nova e Beco das Garrafas em Copacabana». www.riodejaneiroaqui.com. Consultado em 20 de janeiro de 2020
- ↑ , Citação encontrada no portal All About Art
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- ↑ «Folha de S.Paulo - Publifolha - Entenda Tom Jobim da bossa nova e do jazz, do Rio e dos EUA, do popular e do erudito - 06/02/2009». Folha online. Consultado em 19 de janeiro de 2020
- ↑ Cultural, Instituto Itaú. «Tom Jobim». Enciclopédia Itaú Cultural (em português). Consultado em 19 de janeiro de 2020
Bibliografia
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- CASTRO, Ruy. Chega de saudade. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
- CASTRO, Ruy. A onda que se ergueu no mar; novos mergulhos na Bossa Nova. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
- DE STEFANO, Gildo. Il popolo del samba. La vicenda e i protagonisti della storia della [[musica popolare brasiliana]], Prefazione di Chico Buarque de Hollanda, Introduzione di Gianni Minà, RAI-ERI, 2005, ISBN 88-397-1348-4
- DE STEFANO, Gildo. Saudade Bossa Nova: musiche, contaminazioni e ritmi del Brasile, Prefazione di Chico Buarque, Introduzione di Gianni Minà, Logisma Editore, Firenze 2017, ISBN 978-88-97530-88-6
- MORAIS JUNIOR, Luis Carlos de. O Sol nasceu pra todos:a História Secreta do Samba. Rio de Janeiro: Litteris, 2011.
Ligações externas
- «Especial Estadão - 50 Anos de Bossa» (em português)
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