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Pinacoteca do Estado de São Paulo

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Fachada da Pinacoteca do Estado, projetada por Ramos de Azevedo e restaurada por projeto de Paulo Mendes da Rocha.

A Pinacoteca do Estado de São Paulo é uma instituição cultural brasileira subordinada à Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. Sua sede principal encontra-se localizada no Jardim da Luz, em São Paulo. Além desta, ocupa ainda o espaço chamado Estação Pinacoteca, antigo prédio do DOPS, e um edifício no Parque do Ibirapuera.

Um dos mais importantes museus de arte do país, a Pinacoteca do Estado reúne em seu acervo mais de seis mil obras, entre pinturas, esculturas, colagens, desenhos, tapeçarias, porcelanas e louças. A coleção abrange, majoritariamente, a história da pintura brasileira entre os séculos XIX e XX.

História

Antecedentes

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Cândido Portinari. Mestiço, 1934. óleo sobre tela, 81 x 65 cm

A história da Pinacoteca do Estado de São Paulo se confunde com a do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, criado em 1873 por Leôncio de Carvalho como Sociedade Propagadora da Instrução Popular, associação educacional privada fundada com apoio da maçonaria, destinada às classes trabalhadoras do campo e da cidade. Após uma reforma curricular e sucessivos apoios estatais, a Sociedade passa a se chamar Liceu de Artes e Ofícios em 1882, com o objetivo de ministrar gratuitamente conhecimentos necessários ao comércio, à agricultura, às indústrias, formando profissionais para trabalhar nas construções que se erguiam em ritmo acelerado na cidade de São Paulo.

Mas é em 1895, quando dirigida pelo engenheiro Ramos de Azevedo, que a escola conhece uma reforma mais ampla, com a inclusão das "artes e ofícios", de acordo com o plano do engenheiro de criar as bases de uma futura Escola de Belas Artes de São Paulo. Nessa fase também se inicia a construção de um novo edifício para servir de sede à instituição, parcialmente concluído em 1900, quando começam a funcionar alguns cursos de instrução primária e artística. O prédio, projetado por Ramos de Azevedo e Domiciano Rossi, seu principal colaborador, tem estilo monumental em forte consonância com os princípios do neo-renascentismo italiano.

Histórico do Museu

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Interior do edifício-sede da Pinacoteca do Estado, com as passarelas metálicas de Paulo Mendes da Rocha

Em 14 de novembro de 1905, com o apoio do poeta e mecenas Freitas Valle, do político Sampaio Vianna, do engenheiro Adolpho Pinto e do próprio Ramos de Azevedo, é inaugurada a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o primeiro museu de artes plásticas da capital paulista. A recém-fundada instituição, a princípio concebida para ser uma galeria, passa a operar no terceiro andar do edifício do Liceu de Artes e Ofícios. Ambas as instituições dividiriam o espaço ainda com o Ginásio do Estado, que lá operou entre 1901 e 1910. Ramos de Azevedo acumularia as funções de diretor da Pinacoteca e do Liceu entre 1905 a 1921.

Em 1911, a Pinacoteca adquire status de órgão autônomo, graças à Lei nº 1.271 que a definiu como museu estatal. Em seus primeiros anos, são organizadas a 1ª e a 2ª Exposições Brasileiras de Belas Artes (1911 e 1912), a Exposição de Arte Espanhola (1911) e a Exposição de Arte Francesa (1913), além de algumas mostras individuais (como, por exemplo, as de Aurélio de Figueiredo e de Pedro Alexandrino, em 1912). O acervo inicial do museu conta com 59 obras de artistas consagrados do Rio e de São Paulo - entre os quais Antônio Parreiras, Benedito Calixto, João Baptista da Costa, Pedro Alexandrino, Oscar Pereira da Silva e Almeida Júnior - parte delas pertencentes ao acervo do Museu Paulista e transferidas à Pinacoteca. Até os anos 1930, esse acervo é ampliado em função de doações privadas e aquisições do Estado. Obras dos artistas pensionistas no exterior - como Victor Brecheret, Anita Malfatti, Wasth Rodrigues, Túlio Mugnaini, entre outros -, passam a integrar a coleção do museu, de acordo com as regras do Pensionato Artístico de São Paulo. Com a criação do Salão Paulista de Belas Artes, em 1934, por sua vez, as obras contempladas com o "prêmio aquisição" passam à Pinacoteca. Quando das exposições de arte espanhola e francesa, as primeiras obras internacionais se integram ao acervo.

Um incêndio ocorrido em 1930, bem como as revoltas políticas desse período (a Revolução de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932) obrigam o museu a fazer as vezes de quartel improvisado, causando o fechamento da Pinacoteca por dois anos. Sua reabertura se dá na sede da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, onde permanece até 1947, quando retorna à sua antiga sede. Por sua vez, o Liceu de Artes e Ofícios, que havia se transferido para um prédio na Avenida Tiradentes por conta dos motins, não mais retornaria ao edifício do Jardim da Luz.

Entre os anos de 1932 e 1935, a Pinacoteca funciona sob o controle da Escola Paulista de Belas Artes, que passa a se responsabilizar pelo museu. A vinculação com a Escola de Belas Artes e as sucessivas gestões de Paulo Vergueiro Leão (de 1932 a 1944) e a de Túlio Mugnaini (de 1944 a 1965) mantêm a Pinacoteca relativamente distante dos movimentos de renovação artística do início do século XX e dos demais museus de artes criados na década de 1940 (Museu de Arte de São Paulo e Museu de Arte Moderna de São Paulo). Em todo esse período ela segue sua vocação inicial de formação de um acervo com obras acadêmicas.

É nos anos 1970, nas gestões de Delmiro Gonçalves, Clóvis Graciano e Walter Wey, que tem início uma série de reformas do prédio e é quando mudam também os critérios de escolha das obras, definidos, a partir de 1970, pelo Conselho de Orientação Artística da Pinacoteca. O espaço do edifício da Praça da Luz é compartilhado pela Pinacoteca e pela Escola de Belas Artes até os anos 1980. Na década de 1960, o prédio abriga também a Escola de Arte Dramática. Somente na década de 1980 - quando o prédio é tombado pelo Condephaat em 1982, e com a transferência da Escola de Belas Artes (já então denominada Faculdade de Belas Artes) para o Morumbi, em 1989 - é que o museu passa a contar com um espaço exclusivo para suas atividades.

De meados de 1993 até fevereiro de 1998, a Pinacoteca do Estado passou por uma grande reforma, orçada em aproximadamente R$ 10 milhões, para adaptar-se aos padrões museológicos internacionais. O projeto da reforma é de autoria de Paulo Mendes da Rocha, com o qual o arquiteto ganhou o prêmio internacional Mies van der Rohe em junho de 2000. Em 1992, Emanoel Araújo, escultor baiano, assumiu a direção da Pinacoteca com o projeto de reascender a atenção voltada para o Centro. Por isso, durante a reforma do prédio, mudou-se a entrada do museu, a princípio localizada na Avenida Tiradentes, para ter sua face voltada para a Estação da Luz. Com a nova estrutura, transformou-se em um dos melhores locais para grandes exposições no Brasil e passou a receber mega-exposições, dentre as quais merece destaque a do escultor francês Auguste Rodin, que levou ao museu mais de 150.000 pessoas.

Mais recentemente, o antigo prédio do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), também projetado por Ramos de Azevedo, no início do século XX, para servir como armazém da Cia. Sorocabana, foi totalmente restaurado e funciona como anexo da Pinacoteca do Estado. Na Estação Pinacoteca, como é denominado o espaço, funcionam um Centro de Memória, destinado à pesquisa e preservação de um acervo documental sobre a história da instituição, além de exposições e outras atividades, como a capacitação de professores. Também abriga e expõe ao público a rica coleção José e Paulina Nemirovsky, doada ao museu em regime de comodato em 2004 pela Fundação Nemirovsky.

O Edifício-Sede

Após a criação do Liceu de Artes e Ofícios em 1873, os mantenedores da instituição negociam com o governo provincial a doação de um terreno para a escola, ao lado do Jardim Público da Luz – o que ocorre em 1896 -, além da concessão de recursos para a edificação da sede, cujas obras se iniciam em 1897.

O prédio, projetado por Ramos de Azevedo e Domiciano Rossi, seu principal colaborador, tem estilo monumental em forte consonância com os princípios do ecletismo italiano, formado por três pavimentos, com dois pátios internos de modo a garantir ventilação e iluminação. No centro, primeiro piso, localiza-se o saguão central, com altíssimo pé-direito e janelas voltadas para o interior, que prevê uma cúpula, nunca concluída. Na construção foram empregados materiais importados como pinho-de-riga e cerâmica francesa. No projeto, os engenheiros idealizaram a integração entre o edifício e o Jardim da Luz, pelo recurso às varandas laterais e às janelas que dão para o parque. O prédio foi parcialmente inaugurado em 1900, quando começaram a funcionar alguns cursos de instrução primária e artística. O edifício, no entanto, nunca foi concluído, como atestam os tijolos expostos na fachada e nos pátios internos e na ausência da já referida cúpula, que constava do projeto original.

O tombamento do prédio foi oficializado em 1982, visando à preservação de um dos componentes do conjunto arquitetônico do bairro da Luz, característico da passagem do século XIX para o XX em São Paulo, onde se inserem ainda a Estação da Luz, A Estação Júlio Prestes, o Museu de Arte Sacra de São Paulo, entre outros.

Entre 1993 e 1998, o edifício-sede sofreu uma ampla reforma conduzida pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, em conjunto com os arquitetos Weliton Ricoy Torres e Eduardo Argenton Colonelli, da qual resultou um museu adaptado às necessidades de exposições internacionais, tornando a Pinacoteca do Estado um destino certo para grande parte das mostras que chegam a São Paulo. O projeto de reforma foi laureado com o Prêmio Mies van der Rohe para a América Latina aos três arquitetos.

Em 2003, a Pinacoteca do Estado passou a administrar também prédio onde funcionou, por mais de meio século, o Dops (Delegacia de Ordem e Política Social), no centro de São Paulo. Inaugurado em 1914, e projetado por Ramos de Azevedo para servir de armazém da Cia. Sorocabana, o prédio foi totalmente restaurado de acordo com projeto do arquiteto Haron Cohen. Hoje, denominado Estação Pinacoteca, o espaço de 8.000m2 apresenta condições técnicas ideais para as atividades museológicas que comporta.

A Coleção

A Pinacoteca do Estado mantém um expressivo e variado acervo de arte brasileira, principalmente dos séculos XIX e XX. Entre as mais de seis mil obras mantidas pela instituição, estão pinturas, esculturas, desenhos, gravuras, fotografias, tapeçarias, objetos de arte decorativa e um seleto conjunto de imaginária do período colonial, capazes de fornecer um amplo panorama da arte nacional.

No segmento referente ao século XIX, certamente o núcleo mais consistente e importante da instituição, é possível entrar em contato com a maior coleção de obras de Almeida Júnior. Entre paisagens, retratos e cenas de interior, sobressaem as célebres obras Caipira Picando Fumo, Saudade e Leitura. As naturezas-mortas de Pedro Alexandrino ocupam uma sala inteira, onde se destacam Cozinha na Roça, Peru Depenado e Aspargos. Há ainda paisagens de Antônio Parreiras e Benedito Calixto, como a Baía de São Vicente; pinturas históricas e cenas de gênero de Oscar Pereira da Silva (Hora de Música e Infância de Giotto), retratos de Bertha Worms e Henrique Bernardelli, entre muitos outros. A coleção tem especial importância ainda pelo destacado número de artistas acadêmicos paulistas, tais como Castagneto, João Baptista da Costa e Pedro Weingartner.

A despeito de sua ênfase na arte acadêmica, o acervo conta com diversas obras de artistas modernistas, como Victor Brecheret, Tarsila do Amaral, Lasar Segall, Anita Mafaltti, Cândido Portinari, Di Cavalcanti, Clóvis Graciano, Francisco Rebolo e Túlio Mugnaini. Ao longo do século XX, incorporou também obras abstracionistas de distintas extrações - Waldemar Cordeiro, Samson Flexor, Arcângelo Ianelli -, além de trabalhos contemporâneos, como os de Nuno Ramos, Paulo Monteiro e Paulo Pasta.

Complementam a coleção um significativo núcleo de pinturas oitocentistas européias e de esculturas francesas, com destaque para o conjunto de nove bronzes de Auguste Rodin (Torso da Sombra, Bacanal, Gênio do Repouso Eterno) e outras obras de Medardo Rosso, Antoine Bourdelle e Niki de Saint Phalle.

Recentemente, o museu recebeu em regime de comodato uma importante doação: a coleção José e Paulina Nemirovsky. Trata-se de uma das mais importantes coleções de arte moderna brasileira, reunindo obras-primas de alguns dos mais destacados artistas nacionais, como Tarsila do Amaral (cinco telas, entre elas Antropofagia), Anita Malfatti, Victor Brecheret, Lasar Segall, Ismael Nery, Flávio de Carvalho e Vicente do Rego Monteiro. A coleção pode ser vista em exposição permanente na Estação Pinacoteca.

O museu também é depositário da Coleção Brasiliana da Fundação Estudar. São aproximadamente trezentas peças de brasiliana (estudos científicos, artísticos e etnográficos feitos por artistas estrangeiros), produzidas a partir do século XVII, que podem ser vistas em exposições rotativas na Pinacoteca.

Referências

Bibliográficas

  • vários autores; A Pinacoteca do Estado de São Paulo; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2003.

Ligações externas

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