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De Olhos Bem Fechados

Predefinição:Cinema/Ficha Técnica

Eyes Wide Shut (De Olhos Bem Fechados no Brasil e em Portugal, embora em Portugal também apareça com o título original), é um filme de 1999, dirigido por Stanley Kubrick e estrelado pelo então casal-na-vida-real Nicole Kidman e Tom Cruise. Ele é baseado no conto Traumnovelle, de Arthur Schnitzler.

Este é o último filme de Kubrick, que morreu pouco depois do fim da edição. Uma das canções do filme é a "Valsa 2" da Suíte Jazz 2 de Shostakovitch.

O livro.

O escritor Arthur Schnitzler foi contemporâneo de Sigmund Freud e trabalhava muito com os temas sexo e sonho. Vivenciou o chamado "caso Redl", em 1913, em que foi descoberto que Alfred Redl - um alto funcionário do Exército austríaco muito admirado e elogiado pelo imperador - era homossexual, o que causou um significante escândalo dentro da sociedade burguesa. Até então, Redl vivia de fingimentos para poder ter o prestígio que teve. O escritor posicionou sua obra na Viena do inicio do século XX, entre uma alta sociedade corrupta e hipócrita, sendo essa o principal alvo de suas críticas.

O enredo de Breve Romance de um Sonho bebe nestas três fontes (Freud, caso Redl e Viena do início do século XX). Ele revela a busca sexual de um médico em crise matrimonial. Este vive duas noites e um dia de experiências estranhas que não se sabe se foram reais ou oníricas.

Sonho e realidade se confundem em uma narrativa que relaciona sexo com morte. No livro o escritor traça um panorama da sociedade vienense e os costumes da época, além de desenvolver idéias esclarecedoras sobre o casamento e sexualidade. Schnitzler faz uma análise mais profunda em sua obra, utilizando de preceitos da psicologia para complementá-la.

Freud foi um grande admirador de Schnitzler e da desenvoltura que o mesmo abordava temas polêmicos à época. Suas obras analisavam a psique humana e o poder da interpretação dos sonhos, objeto de estudo avançado do próprio Freud.

O filme.

Stanley Kubrick dirigiu 12 filmes em sua carreira, dos mais diversos gêneros, com a crônica crítica ao aparente equilíbrio do chamado american way of life, caracterizando um sistema que deixa evidente sua desestruturação numa superfície infundada.

O filme inicia com os preparativos de um casal para uma festa, apresentando-nos os personagens e suas personalidades; a mulher, Alice, interpretada por Nicole Kidman, se olha no espelho, e pergunta ao marido Bill se está bonita, Bill, que procura por sua carteira. O casal demonstra muita intimidade, usando o banheiro para diferentes finalidades simultaneamente, e uma grande preocupação familiar, uma vez que chamam uma baby-sitter para cuidar de sua filha enquanto saem.

Na festa, a aparente estrutura familiar sólida começa a se desmoronar. Bill se entrosa com duas modelos, enquanto Alice se envolve com um sedutor convidado que a corteja. Bill, porém, é interrompido de sua quase traição pelo anfitrião da festa, seu paciente Victor Ziegler, para atende-lo. Descobre que a emergência é, na verdade, uma prostituta desacordada devido a uma overdose de drogas. Neste momento as máscaras da sociedade começam a surgir. Homens casados traem suas mulheres nas festas de fim de ano, em seus próprios banheiros revelando um universo cínico, embasado na podridão da traição, da vingança e da vulgaridade. Em casa, excitados com tudo o que aconteceu (ou não aconteceu), Bill e Alice fazem sexo realizando seus desejos não concretizados.

A manhã seguinte começa com flashes do dia-a-dia do casal, Bill trabalhando em seu consultório e Alice cuidando de sua filha, confirmando seu papel de mulher bibelô. Os flashes do marido e da esposa se contrapôe de maneira interessante: enquanto Bill cuida de um menino, Alice passa desodorante das axilas e verifica que elas não cheiram mal; enquanto Bill faz exame do toque nos seios de uma mulher, Alice toma café-da-manhã com a filha. Mais tarde, antes de dormirem, o casal fuma maconha e começam a discutir a noite anterior. Ambos questionam o comportamento do outro, tentando confirmar qualquer tipo

Ficha Técnica

  • Site Oficial: http://www.eyeswideshut.com
  • Estúdio: Warner Bros. / Hobby Films
  • Distribuição: Warner Bros.
  • Produção: Stanley Kubrick
  • Música: Jocelyn Pook
  • Direção de Fotografia: Larry Smith
  • Desenho de Produção: Leslie Tomkins e Roy Walker
  • Direção de Arte: John Fenner e Jevin Phipps
  • Figurino: Marit Allen
  • Edição: Nigel Galt
  • Efeitos Especiais: The Computer Film Company

Personagens

Bill se revela, aos poucos, bastante conservador. Defende idéias retrógradas em relação ao matrimônio, à sexualidade feminina e ao papel social da mulher. Afirma que nunca sentiu ciúmes de Alice e que a mesma não seria capaz de traí-lo, já que é mãe de sua filha e sua esposa há vários anos. Esse discurso serve como base para a construção da personalidade de Bill, e é um ponto crucial para explicar as ações tomadas pelo mesmo no desenrolar da história. Bill assumiu essa postura (que poderia talvez ser definida como "machista conservadora") e construiu uma família, embasada em uma sólida e duradoura relação conjugal, sustentada financeiramente pelo seu tão árduo trabalho. No entanto, quando sua mulher revela que desejou sexualmente outro homem (podendo não ser essa uma ocasião isolada) Bill se sente devastado. É como se o universo familiar que lhe era tão seguro e confortável tivesse ruído; tudo com uma revelação aparentemente tão banal. Ele se sente surpreso e profundamente magoado;possui a autoconfiança abalada e o narcisismo ferido. Em sua mente, esse desejo tem um peso igual (se não maior) que a traição em si.

Realizando uma análise psicológica, a reação de Bill poderia ser explicada de várias maneiras. Essa grande mágoa e sensação de perda vivenciada por ele poderia remeter a uma ruptura para com a chamada "mulher ideal". A mesma seria casta e romanticamente submissa aos desejos do homem dominante, tendo como única função cuidar de seus herdeiros e servir sexualmente seu marido. Bill aplicou os conceitos dessa mulher idealizada em sua própria esposa, esperando que ela respondesse como tal. Quando confrontado com a natureza libertina e lasciva de Alice (mesmo que reprimida em simples desejos ou sonhos) Bill falha em encaixá-la em seu ideal romântico, razão de seu desejo sexual tê-lo abalado tanto. Esse ideal feminino também poderia remeter, em uma instância um pouco mais profunda, à imagem da figura materna na vida de Bill. A revelação, então, acarretaria uma perda ainda maior para ele, já que implicaria no desenvolvimento de uma visão negativa em relação às mulheres em geral, não ficando restrito a Alice.

Outra característica importante do personagem é seu impressionante desejo pelo consumo. Ele lida com o dinheiro com uma incrível banalidade, gastando uma quantia razoavelmente alta durante somente uma noite. Insiste sempre em pagar acima do que lhe é requisitado e não se constrange em utilizar seu dinheiro a fim de persuadir pessoas quando elas podem lhe oferecer algo que deseja. Exemplos disso no filme não faltam, como quando o mesmo oferece para Milich (o dono da loja de fantasias) quase o dobro do preço habitual a fim de que o mesmo concorde no aluguel de uma roupa; ou quando insiste em pagar pelos serviços da prostituta Domino mesmo que nada tenha ocorrido entre os dois; ou quando rasga sem pudor uma nota de cem dólares para que o taxista o espere "indefinidamente" em frente a mansão que tanto ânsia conhecer. Todas essas situações o colocam na posição de "comprador", um perdulário que não sente a menor inibição em usar de sua influência monetária para conseguir aquilo que deseja. Ou, as vezes, quem deseja.

Alice, em contrapartida, figura no extremo oposto de seu marido. Utilizando de racionalismo e desenvolvendo idéias esclarecedoras em relação ao casamento e sexualidade, possui todas as qualidades inexistentes em Bill, ficando evidente a razão do choque entre eles. Ela não se encaixa na figura feminina idealizada pelo marido, e tem plena consciência disso; no entanto, se sujeita a tal papel. Interpreta fielmente a mãe e dona-de-casa feliz tanto dentro de seu próprio lar (evidente em cenas de rotina diária com a filha) quanto para o resto da sociedade. Possui desejos e anseios sexuais, os quais mantém reprimidos por mera convensão cultural. Não seria socialmente aceitável (no livro principalmente, se considerarmos a época de sua publicação) que uma mulher casada e da alta classe tornasse pública sua vontade de ter contatos íntimos com outros homens . É justamente por isso que até esse momento ela manteve seus pensamentos eróticos ocultos de todos, em especial de seu marido, pessoa com a qual (teoricamente) teria que desenvolver a relação mais honesta e sólida de todas.

Alice poderia ser considerada, por Bill, como mero objeto contemplativo. Teria o valor de uma bela visão, uma linda mulher que o médico gosta de ter ao seu lado quando um de seus pacientes os convida para uma pomposa comemoração natalina. Sua mulher serviria como uma boa maneira de se apresentar à alta sociedade; ajudaria a manter uma falsa identidade criada por ele a fim de ser aceito no restrito círculo das pessoas ricas e influentes, que constituem seus pacientes. Alice ajudaria a sustentar a identidade criada por Bill para melhor sobreviver às relações sociais, uma espécie de máscara.

Quando confrontada com as idéias de Bill em relação à fidelidade e ao papel social feminino, Alice se sente irritada por ele pensar de maneira tão divergente da dela. Decide então relatar seu desejo de natureza sexual para com um jovem oficial da marinha, desconcertando-o. Seu ato pode ser explicado como uma forma de (talvez inconscientemente) se vingar do marido por sua visão retrógrada anteriormente retratada e por sua posição familiar. Alice assume, para Bill, um posto de objeto de valor com função puramente contemplativa, além de ser economicamente sustentada pelo mesmo.

Sonho

Existem vários indícios no decorrer da história que reforçam a teoria de que as experiências de Bill não passaram de um sonho. Pequenos detalhes, insignificantes em uma primeira análise, mas relevantes na compreensão de todas as esferas de análise do filme. Como, por exemplo, a repetição de uma mesma palavra. Durante a festa de Ziegler no início do filme, quando Bill se encontra na companhia de duas lindas garotas, elas dão indícios que desejariam se envolver de forma erótica com ele. A frase que elas usam especificamente é que desejam levá-lo para conhecer onde "termina o arco-íris" (rainbow em inglês). O médico é chamado ao andar de cima, e a possível aventura é interrompida aí. No entanto, durante o trecho ambíguo da história (não que essa passagem possua limites claramente definidos) na qual não se sabe se o que é mostrado foi vivenciado por Bill ou é somente fruto de sua imaginação, a palavra figura novamente. Após tomar conhecimento da existência da festa na mansão, Bill sai a procura de um local para alugar uma fantasia, essencial para admissão no lugar. A loja escolhida, incrivelmente, se chama Rainbow Fashions. A forma que a loja é apresentada não deixa dúvidas que se trata de um detalhe importante; a câmera efetua um recuo para melhor enquadrar o letreiro do lugar, além da duração do plano ser maior que a necessária para um mero reconhecimento espacial.

Recepção do filme pela crítica.

Dez anos depois do lançamento de Nascido para matar, a Warner Bros anuncia o lançamento de De olhos bem fechados no dia da morte de Stanley Kubrick. Essa é uma das várias lendas criadas em torno do filme. De fato, a produção demorou cerca de três anos para se concretizar. O perfeccionista diretor exigiu o máximo de seus atores, cortou seqüências, adicionou personagens. Mesmo não possuindo cenas de sexo explicito, a cena da orgia causou tamanha polemica que recebeu uma censura onde 60 segundos de filme foi alterado digitalmente para amenizar o impacto nas platéias norte-americanas. Essa recepção pode ser considerada uma alegoria do que Kubrick pretendia fazer com o próprio filme. Todas as criticas presentes no filme são direcionadas ao público estadunidense, que ironicamente, foi o único a alterar o material, tamanha a sua "ofensa". No filme, Kubrick afirma, que esta sociedade está de "olhos bem fechados", mais preocupada com tabus e falsos-moralismos do que para a natureza da sexualidade propriamente dita. A recepção do filme comprova isso.

A adaptação literária

O filme possui uma série de variações em relação ao livro de Schnitzler, constituindo escolhas feitas na adaptação Kubrick e que merecem uma análise mais profunda em razão disso. A primeira consiste na escolha do filme se passar durante a época do Natal, enquanto que no livro a ação acontece “um pouco antes do fim do Carnaval”. A escolha não fica restrita a compras natalinas, a diálogos com Helena, a filha do casal (que pede permissão para asssistir o Quebra Nozes na TV) ou a ser o tema do baile oferecido por Ziegler no início da história. O espírito natalino está presente em cada ambiente do filme, seja nas árvores de Natal presentes em quase todas as casas, nas cores características do feriado no interior de bares e consultórios, ou nas luzes decorativas que iluminam cada uma das esquinas de Nova Iorque. A caracterização é tão ostensiva que chega a ser impossível não questionar o porque de sua existência, já que só está presente propositalmente na obra fílmica.

Deixando evidente que a história se desenvolve nessa época do ano, Kubrick talvez queira chamar nossa atenção para um "falso sentimento natalino". Sentimento este ligado ao caráter puramente comercial e consumista do feriado e totalmente desvinculado do aspecto bíblico/cristão de sua origem. O Natal retratado no filme está mais para um culto comercial anual que para uma celebração religiosa. Nesse ponto ele faz uma sutil crítica ao catolicismo e a forma com que ele está atualmente ligado a práticas meramente mercadológicas.

Outra diferença em relação a "Traumnovelle" é a tranposição da Viena na virada do século para a Nova Iorque contemporânea, além da recriação da mesma em um estúdio europeu. Mudar o local e época na qual a história se desenvolveria acarretou mudanças substanciais no sentido da mesma. A escolha de trazer a história de Fridolin para os dias atuais não gerou mudanças muito substancias na narrativa. Somente alguns detalhes tiveram de ser adaptados para uma melhor aceitação do filme pelas platéias de hoje, como a mudança de sífilis por HIV para ser a doença da prostituta Mizzy/Domino.

A escolha de Nova Iorque como sede da história possui um significado maior que as demais, devendo ser melhor explorada. Kubrick escolheu localizar sua narrativa na capital financeira da rica e próspera América pré 11/09. A cidade em si possui uma personalidade no contexto do filme. Ao escolher situar seu filme nos EUA , ao contrário da Viena de fim de século de Traumnovelle, Kubrick centra suas críticas no American way of life, na maneira que submete outras nações tanto econômica quanto culturalmente.

O ponto crucial de divergência nas duas obras é na ambigüidade relacionada ao caráter onírico das experiências de Fridolin/Bill. No livro as experiências do protagonista parecem muito mais desconexas da realidade que na obra de Kubrick, ficando muito mais evidente que poderia se tratar de um sonho.

A crítica central, aliada à já mencionada miopia das relações sexuais, reside na extratificação do poder e hierarquização das classes sociais.

Premiações

  • Indicação ao Globo de Ouro, de Melhor Trilha Sonora.
  • Indicação ao César, como Melhor Filme Estrangeiro.
  • Indicação ao Grande Prêmio Cinema Brasil, como Melhor Filme Estrangeiro.
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