imported>Juniorpetjua m (Desfeita(s) uma ou mais edições de XICO, com Reversão e avisos) |
imported>Juniorpetjua m (Desfeita(s) uma ou mais edições de Juniorpetjua, com Reversão e avisos) |
||
Linha 8: | Linha 8: | ||
|origens estilísticas ={{Lista horizontal| *[[Samba]] | |origens estilísticas ={{Lista horizontal| *[[Samba]] | ||
*[[samba-canção]] | *[[samba-canção]] | ||
*''[[jazz]]'' | *''[[jazz]]'' | ||
*''[[cool jazz]]'' | *''[[cool jazz]]'' | ||
*[[música erudita]] | *[[música erudita]] | ||
*[[moda de viola]] | *[[moda de viola]] | ||
*[[choro]] | *[[choro]] | ||
Linha 27: | Linha 27: | ||
|gêneros fusão = | |gêneros fusão = | ||
|cenas regionais = | |cenas regionais = | ||
|outros tópicos = | |outros tópicos = | ||
}} | }} | ||
A '''bossa nova '''é um | A '''bossa nova ''' é o termo pelo qual ficou conhecido um movimento de renovação do [[samba]] irradiado a partir da [[Zona Sul (Rio de Janeiro)|Zona Sul]] da cidade do [[Rio de Janeiro]] no final da [[década de 1950]] e que, por conseguinte, passou a dar nome ao estilo de interpretação e acompanhamento rítmico dele surgido, que ficou conhecido como “batida diferente”.{{nota de rodapé|"Ressalte-se que o acompanhamento rítmico do samba em estilo bossa nova caracteriza-se pela “batida diferente” expressa em um tipo de sincopação não ortodoxo, o que levou, por exemplo, o compositor [[Cartola (compositor)|Cartola]] a assim se expressar sobre um de seus encontros musicais com o jovem colega [[Carlos Lyra]]: “Há um pouco de dificuldade tanto pra ele no antigo quanto para mim no moderno” (cf. Carvalho, 1986: 39). '''A “batida” da bossa-nova, então, é característica de um estilo e não de um gênero autônomo.'''"<ref name=DICIONARIO-HISTORIA-SAMBA>{{citar livro |ultimo1=Lopes |primeiro1=Nei |ultimo2=Simas |primeiro2=Luiz Antonio |data=2015 |title=Dicionário da Historia Social do Samba |local=Rio de Janeiro |editora=Civilização Brasileira |isbn= 9788520012581 }}</ref>}} De acordo com o musicólogo [[Gilberto Mendes]], a vertente era uma das “três fases rítmicas do samba”, na qual a "batida" da bossa havia sido extraída a partir do "[[samba de raiz]]".{{nota de rodapé|"A primeira foi aquela, herdeira da habanera, que deu os “tanguinhos” de Ernesto Nazareth; a segunda, a do “samba de morro carioca”; e a terceira, a potencialização extraída por [[João Gilberto]] do samba de morro e do samba folclórico, para criar a “batida” de violão característica da bossa-nova."<ref name=DICIONARIO-HISTORIA-SAMBA/>}} Segundo o jornalista [[Ruy Castro]], era ''“uma simplificação extrema da batida da escola de samba”'', como se dela tivessem sido retirados todos os instrumentos e conservado apenas o [[tamborim]].{{nota de rodapé|"Segundo Ruy Castro (2008: 9), a batida da bossa-nova foi lançada nacionalmente em 1958 pelo baterista [[Milton Banana]]."<ref name=DICIONARIO-HISTORIA-SAMBA/>}} | ||
O marco inicial da Bossa nova é o samba "[[Chega de Saudade]]" (de autoria de [[Tom Jobim]] e [[Vinicius de Moraes]]), lançado originalmente por [[Elizeth Cardoso]] em 1958 e, pouco depois, por [[João Gilberto]], que tocou [[violão]] em ambas as gravações.<ref name="Cravo Albin">{{citar web|url=http://dicionariompb.com.br/bossa-nova/dados-artisticos|título=Bossa Nova|publicado=Dicionário Cravo Albin|acessodata=7-7-2019}}</ref> Paralelamente a isso, o pianista e vocalista [[Johnny Alf]], desde a gravação de “Rapaz de bem”, canção marcada pela influência do [[jazz]], também se tornava um dos pioneiros da renovação do samba naquele momento.<ref name=DICIONARIO-HISTORIA-SAMBA/> Em 1959, com o LP "[[Chega de Saudade (álbum)|Chega de Saudade]]", Gilberto consolidaria esse novo estilo de tocar que alterava as [[Harmonia (música)|harmonias]] com a introdução de acordes não convencionais - como antes já realizavam violonistas como [[Garoto (músico)|Garoto]], [[Vadico]], [[Oscar Bellandi]], entre outros - e uma sincopação do samba inovadora a partir de uma divisão única realizada sobre sambas tradicionais como “Rosa morena” (de [[Dorival Caymmi]]), “Morena boca de ouro”, de [[Ary Barroso]], “Aos pés da cruz” (de [[Marino Pinto]] e [[Zé da Zilda]]) e “É luxo só” (de Ary Barroso e [[Luís Peixoto]]).<ref name=DICIONARIO-HISTORIA-SAMBA/> A partir e em torno de João Gilberto, um grupo de músicos, quase todos oriundos de [[classe média]] e com [[Universidade|formação universitária]] ajudariam a transformar as experiências formais do violonista baiano. | |||
A partir da [[década de 1960]], o samba de bossa nova consolidou-se definitivamente no cenário musical do Brasil, onde se destacaram, além de Gilberto e da dupla Tom e Vinícius, nomes como [[Newton Mendonça]], [[Billy Blanco]], [[Aloysio de Oliveira]], [[Baden Powell]], [[Oscar Castro Neves]], [[Carlos Lyra]], [[Ronaldo Bôscoli]], [[Roberto Menescal]], [[Sérgio Mendes]], [[César Camargo Mariano]], [[Airto Moreira]], [[Eumir Deodato]], [[Milton Banana]], [[João Donato]], entre vários, além do surgimento de inúmeros conjuntos vocais, como [[Os Cariocas]], ou instrumentais, como [[Bossa Três]], [[Tamba Trio]], [[Bossa Rio]], [[Copa 5]], [[Sambalanço Trio]], [[Eumir Deodato|Os Catedráticos]], entre outros.<ref name="Cravo Albin"/> Foi nesse mesmo momento que o estilo experimentou uma projeção internacional em escala jamais vista com outra vertente da [[música popular brasileira]].<ref name=DICIONARIO-HISTORIA-SAMBA/> Em 1962, o saxofonista [[Stan Getz]] em conjunto com o guitarrista [[Charlie Byrd]] lançaram o LP "[[Jazz Samba]]", o que chamou a atenção do meio musical nos [[Estados Unidos]] para a bossa nova. Naquele mesmo ano, um concerto no [[Carnegie Hall]] de [[Nova York]], que reuniu Tom Jobim e João Gilberto, entre outros, abriu de vez as portas do mundo para o estilo.<ref name="Cravo Albin"/><ref>{{citar jornal |autor=Thales de Menezes |titulo=Concerto no Carnegie Hall, que lançou bossa nova nos EUA, será recriado |url=https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/04/1873022-concerto-no-carnegie-hall-que-lancou-bossa-nova-nos-eua-sera-recriado.shtml |jornal=Folha de S.Paulo |data=6 de abril de 2017 |acessodata=27 de fevereiro de 2020 }}</ref> No ano seguinte, com o lançamento do LP [[Getz/Gilberto]], parceira entre o violinista brasileiro e o saxofonista americano, tornou a vertente conhecida mundialmente, além de arrebatar o [[Grammy Award para álbum do ano]] de 1965. Dois anos depois, sob o título “The girl from Ipanema”, versão em inglês para o famoso samba [[Garota de Ipanema]], de Tom e Vinicius, foi gravado por [[Frank Sinatra]]. | |||
No entanto, já em meados dos anos sessenta, o movimento bossa-novista passava por uma cisão. De um lado, um grupo manteve-se fiel a estética leve, caracterizada por letras de temas amenos e descompromissados com a realidade brasileira ou qualquer espécie de participação social, pelo tom suave e intimista (personalizado na voz de João Gilberto) e a forte influência do jazz. De outro lado, outro grupo formado por compositores como Baden Powell, Sergio Ricardo e Carlos Lyra e por letristas como Vinicius de Moraes e Nelson Lins e Barros associou-se ao movimento geral da cultura brasileira no sentido de buscar uma base popular folclórica nas músicas e uma temática de realismo e participação social nas letras.<ref name=DICIONARIO-HISTORIA-SAMBA/> Foi essa dissidência que veio estabelecer uma conexão importante entre o samba da bossa nova e o samba das camadas populares, geralmente conhecido como “do morro” ou "de raiz", fazendo com que nomes como [[Cartola (compositor)|Cartola]], [[Nelson Cavaquinho]], [[Zé Keti]] e [[Elton Medeiros]] — sambistas de prestígio no meio do "samba de raiz", mas alijados do mercado fonográfico de época — passassem a ser conhecidos por uma fatia do público jovem e universitário. É nesse novo contexto que o o cenário artístico brasileiro viu surgir uma nova geração de compositores, como [[Paulinho da Viola]], tido ali como um sucessor de [[Noel Rosa]] ou de [[Ismael Silva]], e [[Chico Buarque]], autor de composições que logo se tornariam sambas antológicos.<ref name=DICIONARIO-HISTORIA-SAMBA/> | |||
== Origens == | == Origens == | ||
A palavra "bossa" apareceu pela primeira vez na [[década de 1930]], em ''São Coisas Nossas'', samba do popular cantor [[Noel Rosa]]: ''O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas (...)''.<ref name=origens>{{Citar web |url=http://radios.ebc.com.br/caderno-de-musica/2019/07/conheca-principais-caracteristicas-da-bossa-nova-no-caderno-de-musica |titulo=Conheça as principais características da Bossa nova, no Caderno de Música |data=2019-07-11 |acessodata=2020-01-20 |obra=EBC Rádios |lingua=pt-br}}</ref> A expressão "bossa nova" passou a ser utilizada também na [[década de 1940|década seguinte]] para aqueles [[samba de breque|sambas de breque]], baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas.<ref name=origens/> | A palavra "bossa" apareceu pela primeira vez na [[década de 1930]], em ''São Coisas Nossas'', samba do popular cantor [[Noel Rosa]]: ''O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas (...)''.<ref name=origens>{{Citar web |url=http://radios.ebc.com.br/caderno-de-musica/2019/07/conheca-principais-caracteristicas-da-bossa-nova-no-caderno-de-musica |titulo=Conheça as principais características da Bossa nova, no Caderno de Música |data=2019-07-11 |acessodata=2020-01-20 |obra=EBC Rádios |lingua=pt-br}}</ref> A expressão "bossa nova" passou a ser utilizada também na [[década de 1940|década seguinte]] para aqueles [[samba de breque|sambas de breque]], baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas.<ref name=origens/> | ||
Alguns críticos musicais destacam uma certa influência que a cultura [[Estados Unidos|americana]] do pós-guerra, | Alguns críticos musicais destacam uma certa influência que a cultura [[Estados Unidos|americana]] do pós-guerra,{{nota de rodapé|De acordo com o sambista e pesquisador [[Nei Lopes]], desde o final da [[Segunda Guerra Mundial]], elementos de ''[[bebop]]'' e ''[[boogie-woogie]]'' já vinham sendo incorporados ao samba<ref>{{Citar web |url=https://web.archive.org/web/20070220205707/http://www.neilopes.blogger.com.br/2006_12_01_archive.html#39227421 |titulo=O sambalanço saúda o dia do samba |data=2006-12-06 |acessodata=2020-02-27 |obra=Internet Archive |lingua=pt-br}}</ref>}} de músicos como [[Stan Kenton]], combinada ao [[impressionismo]] erudito, de [[Debussy]] e [[Ravel]], teve na bossa nova, Uma especialmente do [[cool jazz]] e [[bebop]]. Embora tenha forte influência da música estrangeira, particularmente do ''jazz'', a bossa nova possui elementos de [[samba sincopado]].<ref>{{Ref-livro|autor=Neusa Meirelles Costa|título=De amor, cotidiano e outras falas: o discurso da música brasileira e a arqueologia de Foucault|editor=Arte & Ciência |publicação=[[2004]]|páginas=144|id= 9788574731414}}</ref> Além disso, havia um fundamental inconformismo com o formato musical de época. Os cantores [[Dick Farney]] e [[Lúcio Alves]], que fizeram sucesso nos anos da década de 1950 com um jeito suave e minimalista (em oposição a cantores de grande potência sonora) também são considerados influências positivas sobre os garotos que fizeram a bossa nova.<ref>{{Citar web |url=http://radios.ebc.com.br/todas-vozes/edicao/2016-03/no-radio-lucio-alves-e-o-sucesso-da-rivalidade-com-dick-farney |titulo=No rádio, Lúcio Alves e o sucesso da 'rivalidade' com Dick Farney |data=2016-03-29 |acessodata=2020-01-20 |obra=EBC Rádios |lingua=pt-br}}</ref> | ||
Um embrião do movimento, já na [[década de 1950]], eram as reuniões casuais, frutos de encontros de um grupo de músicos da classe média [[carioca]] em apartamentos da zona sul, como o de [[Nara Leão]], na Avenida Atlântica, em [[Copacabana]]. Nestes encontros, cada vez mais frequentes, a partir de [[1957]], um grupo se reunia para fazer e ouvir música. Dentre os participantes estavam novos compositores da música brasileira, como [[Billy Blanco]], [[Carlos Lyra]], [[Roberto Menescal]] e [[Sérgio Ricardo]], entre outros. O grupo foi aumentando, abraçando também Chico Feitosa, [[João Gilberto]], [[Luiz Carlos Vinhas]], [[Ronaldo Bôscoli]], entre outros.<ref>{{Citar web |url=https://copacabana.com/historia-de-copacabana-1 |titulo=História de Copacabana 1 |acessodata=2020-01-20 |obra=copacabana.com |lingua=pt-BR}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0020-38742017000100172&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |titulo=Nara Leão: entre a bossa nova e a canção engajada |data=2017 |acessodata=2020-01-20 |obra=Revista do Instituto de Estudos Brasileiros |ultimo=Gerolamo |primeiro=Ismael de Oliveira |ultimo2=Gerolamo |primeiro2=Ismael de Oliveira |paginas=172–198 |lingua=pt |doi=10.11606/issn.2316-901x.vo166p172-198}}</ref> | Um embrião do movimento, já na [[década de 1950]], eram as reuniões casuais, frutos de encontros de um grupo de músicos da classe média [[carioca]] em apartamentos da zona sul, como o de [[Nara Leão]], na Avenida Atlântica, em [[Copacabana]]. Nestes encontros, cada vez mais frequentes, a partir de [[1957]], um grupo se reunia para fazer e ouvir música. Dentre os participantes estavam novos compositores da música brasileira, como [[Billy Blanco]], [[Carlos Lyra]], [[Roberto Menescal]] e [[Sérgio Ricardo]], entre outros. O grupo foi aumentando, abraçando também Chico Feitosa, [[João Gilberto]], [[Luiz Carlos Vinhas]], [[Ronaldo Bôscoli]], entre outros.<ref>{{Citar web |url=https://copacabana.com/historia-de-copacabana-1 |titulo=História de Copacabana 1 |acessodata=2020-01-20 |obra=copacabana.com |lingua=pt-BR}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0020-38742017000100172&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |titulo=Nara Leão: entre a bossa nova e a canção engajada |data=2017 |acessodata=2020-01-20 |obra=Revista do Instituto de Estudos Brasileiros |ultimo=Gerolamo |primeiro=Ismael de Oliveira |ultimo2=Gerolamo |primeiro2=Ismael de Oliveira |paginas=172–198 |lingua=pt |doi=10.11606/issn.2316-901x.vo166p172-198}}</ref> | ||
Linha 48: | Linha 50: | ||
== Início oficial == | == Início oficial == | ||
{{double image|right|Vinicius.jpg|220|Tom19.jpg|189|[[Vinicius de Moraes]], principal letrista de canções da bossa nova a partir de "Chega de Saudade", composição feita com [[Tom Jobim]] em 1958 e que consagrou o estilo.}} | {{double image|right|Vinicius.jpg|220|Tom19.jpg|189|[[Vinicius de Moraes]], principal letrista de canções da bossa nova a partir de "Chega de Saudade", composição feita com [[Tom Jobim]] em 1958 e que consagrou o estilo.}} | ||
Movimento que ficou associado ao crescimento urbano brasileiro - impulsionado pela fase desenvolvimentista da presidência de [[Juscelino Kubitschek]] ([[1955]]-[[1960]]) -,<ref>{{Citar web |url=http://www.senado.gov.br/noticias/especiais/brasilia50anos/not04.asp |titulo=.: Senado Federal - 50 anos de Brasíia :. |acessodata=2020-01-19 |obra=www.senado.gov.br}}</ref> a bossa nova iniciou-se para muitos críticos quando foi lançado, em agosto de [[1958]], um [[compacto simples]] do violonista [[Bahia|baiano]] [[João Gilberto]] (considerado o ''papa'' do movimento),<ref name="papa">{{Citar web |url=https://books.google.com.br/books?id=VHscqI3exmoC&pg=PT53&dq=jo%25C3%25A3o+gilberto+papa+bossa+nova&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwivgr7A2ZDnAhWyHbkGHSPkALYQ6AEIMTAB#v=onepage&q=jo%25C3%25A3o%2520gilberto%2520papa%2520bossa%2520nova&f=false |titulo=Chão de meninos |data=2011-05-23 |acessodata=2020-01-19 |publicado=Companhia das Letras |ultimo=Gattai |primeiro=Zélia}}</ref><ref name="papa2">{{Citar web |url=https://www.dw.com/pt-br/morre-aos-88-anos-jo%C3%A3o-gilberto-um-dos-papas-da-bossa-nova/a-49501017 |titulo=Morre aos 88 anos João Gilberto, um dos papas da bossa nova - DW |acessodata=2020-01-19 |obra=DW |ultimo=Welle (www.dw.com) |primeiro=Deutsche |lingua=pt-BR}}</ref><ref name="papa3">{{Citar web |url=https://books.google.com.br/books?id=JUztAgAAQBAJ&pg=PA159&dq=jo%25C3%25A3o+gilberto+papa+bossa+nova&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjHuKXz2JDnAhX_EbkGHcPODKUQ6AEIKTAA#v=onepage&q=jo%25C3%25A3o%2520gilberto%2520papa%2520bossa%2520nova&f=false |titulo=Ninguém faz sucesso sozinho |data=2014-02-26 |acessodata=2020-01-19 |publicado=Escrituras |ultimo=Tuta |primeiro=Carvalho |lingua=pt}}</ref> contendo as canções ''Chega de Saudade'' ([[Tom Jobim]] e [[Vinicius de Moraes]]) e ''Bim Bom'' (do próprio cantor).<ref>{{Citar web |url=https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/07/morte-de-joao-gilberto-encerra-a-utopia-de-um-pais-do-futuro.shtml |titulo=Opinião: Morte de João Gilberto encerra a utopia de um país do futuro |data=2019-07-07 |acessodata=2020-01-19 |obra=Folha de S.Paulo |lingua=pt-BR}}</ref><ref name=gazeta>{{Citar web |url=https://www.agazeta.com.br/entretenimento/cultura/ha-60-anos-joao-gilberto-revolucionava-o-mundo-com-a-bossa-nova-0718 |titulo=Há 60 anos, João Gilberto revolucionava o mundo com a Bossa Nova |acessodata=2020-01-19 |obra=[[A Gazeta (Espírito Santo)|A Gazeta]] |lingua=pt-br}}</ref><ref name=jb>{{Citar web |url=http://www.jb.com.br/cadernob/2019/09/1015573-artigo---a-bossa-nova-e-joao-gilberto.html |titulo=ARTIGO - A bossa nova e João Gilberto |data=2019-09-03 |acessodata=2020-01-19 |obra=[[Jornal do Brasil]] |lingua=pt-br}}</ref> | Movimento que ficou associado ao crescimento urbano brasileiro - impulsionado pela fase desenvolvimentista da presidência de [[Juscelino Kubitschek]] ([[1955]]-[[1960]]) -,<ref>{{Citar web |url=http://www.senado.gov.br/noticias/especiais/brasilia50anos/not04.asp |titulo=.: Senado Federal - 50 anos de Brasíia :. |acessodata=2020-01-19 |obra=www.senado.gov.br}}</ref> a bossa nova iniciou-se para muitos críticos quando foi lançado, em agosto de [[1958]], um [[compacto simples]] do violonista [[Bahia|baiano]] [[João Gilberto]] (considerado o ''papa'' do movimento),<ref name="papa">{{Citar web |url=https://books.google.com.br/books?id=VHscqI3exmoC&pg=PT53&dq=jo%25C3%25A3o+gilberto+papa+bossa+nova&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwivgr7A2ZDnAhWyHbkGHSPkALYQ6AEIMTAB#v=onepage&q=jo%25C3%25A3o%2520gilberto%2520papa%2520bossa%2520nova&f=false |titulo=Chão de meninos |data=2011-05-23 |acessodata=2020-01-19 |publicado=Companhia das Letras |ultimo=Gattai |primeiro=Zélia}}</ref><ref name="papa2">{{Citar web |url=https://www.dw.com/pt-br/morre-aos-88-anos-jo%C3%A3o-gilberto-um-dos-papas-da-bossa-nova/a-49501017 |titulo=Morre aos 88 anos João Gilberto, um dos papas da bossa nova - DW |acessodata=2020-01-19 |obra=DW |ultimo=Welle (www.dw.com) |primeiro=Deutsche |lingua=pt-BR}}</ref><ref name="papa3">{{Citar web |url=https://books.google.com.br/books?id=JUztAgAAQBAJ&pg=PA159&dq=jo%25C3%25A3o+gilberto+papa+bossa+nova&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjHuKXz2JDnAhX_EbkGHcPODKUQ6AEIKTAA#v=onepage&q=jo%25C3%25A3o%2520gilberto%2520papa%2520bossa%2520nova&f=false |titulo=Ninguém faz sucesso sozinho |data=2014-02-26 |acessodata=2020-01-19 |publicado=Escrituras |ultimo=Tuta |primeiro=Carvalho |lingua=pt}}</ref> contendo as canções ''Chega de Saudade'' ([[Tom Jobim]] e [[Vinicius de Moraes]]) e ''Bim Bom'' (do próprio cantor).<ref>{{Citar web |url=https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/07/morte-de-joao-gilberto-encerra-a-utopia-de-um-pais-do-futuro.shtml |titulo=Opinião: Morte de João Gilberto encerra a utopia de um país do futuro |data=2019-07-07 |acessodata=2020-01-19 |obra=Folha de S.Paulo |lingua=pt-BR}}</ref><ref name=gazeta>{{Citar web |url=https://www.agazeta.com.br/entretenimento/cultura/ha-60-anos-joao-gilberto-revolucionava-o-mundo-com-a-bossa-nova-0718 |titulo=Há 60 anos, João Gilberto revolucionava o mundo com a Bossa Nova |acessodata=2020-01-19 |obra=[[A Gazeta (Espírito Santo)|A Gazeta]] |lingua=pt-br}}</ref><ref name=jb>{{Citar web |url=http://www.jb.com.br/cadernob/2019/09/1015573-artigo---a-bossa-nova-e-joao-gilberto.html |titulo=ARTIGO - A bossa nova e João Gilberto |data=2019-09-03 |acessodata=2020-01-19 |obra=[[Jornal do Brasil]] |lingua=pt-br}}</ref> O jeito suave de cantar foi influenciado pelo jazzista [[Chet Baker]].<ref>{{citar web|url=https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2016/01/18/interna_diversao_arte,514330/estilo-suave-de-chet-baker-expressar-tormento-pode-ter-influenciado-a.shtml|título=Estilo suave de Chet Baker expressar tormento pode ter influenciado a bossa|publicado=Correio Braziliense|acessodata=17-7-2019}}</ref><ref>{{citar web|url=https://jornalggn.com.br/cultura/videos-do-dia/chet-baker-a-atuacao-que-mudou-a-vida-de-joao-gilberto/|título=Chet Baker, a atuação que mudou a vida de João Gilberto|publicado=GGN|acessodata=17-7-2019}}</ref> | ||
Meses antes, João participara de ''Canção do Amor Demais'', um álbum lançado em maio daquele mesmo ano e exclusivamente dedicado às canções da iniciante dupla Tom/Vinicius, interpretado pela cantora carioca [[Elizeth Cardoso]].<ref name=gazeta/><ref name=jb/> De acordo com o escritor [[Ruy Castro]] (em seu livro ''Chega de saudade'', de [[1990]]), este LP não foi um sucesso imediato ao ser lançado, mas o disco pode ser considerado um dos marcos da bossa nova, não só por ter trazido algumas das mais clássicas composições do gênero - entre as quais, ''Luciana'', ''Estrada Branca'', ''Outra Vez'' e ''Chega de Saudade''-, como também pela célebre batida do violão de João Gilberto, com seus acordes dissonantes e inspirados no ''[[jazz]]'' norte-americano - influência esta que daria argumentos aos críticos da bossa nova.<ref name=cds>{{Citar livro |url=https://books.google.com.br/books?id=wGtsDAAAQBAJ&printsec=frontcover&dq=chega+de+saudade+ruy+castro&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwi9puOl3JDnAhVHCrkGHeX1DCsQ6AEIKTAA#v=onepage&q=Can%25C3%25A7%25C3%25A3o%2520do%2520Amor%2520Demais&f=false |título=Chega de saudade: A história e as histórias da Bossa Nova - Edição revista e ampliada |ultimo=Castro |primeiro=Ruy |data=2016-06-15 |editora=Companhia das Letras |lingua=pt-BR |isbn=978-85-438-0634-1}}</ref> | Meses antes, João participara de ''Canção do Amor Demais'', um álbum lançado em maio daquele mesmo ano e exclusivamente dedicado às canções da iniciante dupla Tom/Vinicius, interpretado pela cantora carioca [[Elizeth Cardoso]].<ref name=gazeta/><ref name=jb/> De acordo com o escritor [[Ruy Castro]] (em seu livro ''Chega de saudade'', de [[1990]]), este LP não foi um sucesso imediato ao ser lançado, mas o disco pode ser considerado um dos marcos da bossa nova, não só por ter trazido algumas das mais clássicas composições do gênero - entre as quais, ''Luciana'', ''Estrada Branca'', ''Outra Vez'' e ''Chega de Saudade''-, como também pela célebre batida do violão de João Gilberto, com seus acordes dissonantes e inspirados no ''[[jazz]]'' norte-americano - influência esta que daria argumentos aos críticos da bossa nova.<ref name=cds>{{Citar livro |url=https://books.google.com.br/books?id=wGtsDAAAQBAJ&printsec=frontcover&dq=chega+de+saudade+ruy+castro&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwi9puOl3JDnAhVHCrkGHeX1DCsQ6AEIKTAA#v=onepage&q=Can%25C3%25A7%25C3%25A3o%2520do%2520Amor%2520Demais&f=false |título=Chega de saudade: A história e as histórias da Bossa Nova - Edição revista e ampliada |ultimo=Castro |primeiro=Ruy |data=2016-06-15 |editora=Companhia das Letras |lingua=pt-BR |isbn=978-85-438-0634-1}}</ref> | ||
Linha 81: | Linha 83: | ||
*''[[Blues]]'' | *''[[Blues]]'' | ||
{{Notas}} | {{Notas}} | ||
{{referências}} | {{referências}} | ||
== Bibliografia == | == Bibliografia == | ||
* ALBIN, Ricardo Cravo (Criação e Supervisão Geral). ''Dicionário Houaiss Ilustrado da Música Popular Brasileira''. Rio de Janeiro: Paracatu, 2006. | * ALBIN, Ricardo Cravo (Criação e Supervisão Geral). ''Dicionário Houaiss Ilustrado da Música Popular Brasileira''. Rio de Janeiro: Paracatu, 2006. |
Edição das 15h39min de 28 de fevereiro de 2020
Predefinição:Info/Gênero musical A bossa nova é o termo pelo qual ficou conhecido um movimento de renovação do samba irradiado a partir da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro no final da década de 1950 e que, por conseguinte, passou a dar nome ao estilo de interpretação e acompanhamento rítmico dele surgido, que ficou conhecido como “batida diferente”.Predefinição:Nota de rodapé De acordo com o musicólogo Gilberto Mendes, a vertente era uma das “três fases rítmicas do samba”, na qual a "batida" da bossa havia sido extraída a partir do "samba de raiz".Predefinição:Nota de rodapé Segundo o jornalista Ruy Castro, era “uma simplificação extrema da batida da escola de samba”, como se dela tivessem sido retirados todos os instrumentos e conservado apenas o tamborim.Predefinição:Nota de rodapé
O marco inicial da Bossa nova é o samba "Chega de Saudade" (de autoria de Tom Jobim e Vinicius de Moraes), lançado originalmente por Elizeth Cardoso em 1958 e, pouco depois, por João Gilberto, que tocou violão em ambas as gravações.[1] Paralelamente a isso, o pianista e vocalista Johnny Alf, desde a gravação de “Rapaz de bem”, canção marcada pela influência do jazz, também se tornava um dos pioneiros da renovação do samba naquele momento.[2] Em 1959, com o LP "Chega de Saudade", Gilberto consolidaria esse novo estilo de tocar que alterava as harmonias com a introdução de acordes não convencionais - como antes já realizavam violonistas como Garoto, Vadico, Oscar Bellandi, entre outros - e uma sincopação do samba inovadora a partir de uma divisão única realizada sobre sambas tradicionais como “Rosa morena” (de Dorival Caymmi), “Morena boca de ouro”, de Ary Barroso, “Aos pés da cruz” (de Marino Pinto e Zé da Zilda) e “É luxo só” (de Ary Barroso e Luís Peixoto).[2] A partir e em torno de João Gilberto, um grupo de músicos, quase todos oriundos de classe média e com formação universitária ajudariam a transformar as experiências formais do violonista baiano.
A partir da década de 1960, o samba de bossa nova consolidou-se definitivamente no cenário musical do Brasil, onde se destacaram, além de Gilberto e da dupla Tom e Vinícius, nomes como Newton Mendonça, Billy Blanco, Aloysio de Oliveira, Baden Powell, Oscar Castro Neves, Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Roberto Menescal, Sérgio Mendes, César Camargo Mariano, Airto Moreira, Eumir Deodato, Milton Banana, João Donato, entre vários, além do surgimento de inúmeros conjuntos vocais, como Os Cariocas, ou instrumentais, como Bossa Três, Tamba Trio, Bossa Rio, Copa 5, Sambalanço Trio, Os Catedráticos, entre outros.[1] Foi nesse mesmo momento que o estilo experimentou uma projeção internacional em escala jamais vista com outra vertente da música popular brasileira.[2] Em 1962, o saxofonista Stan Getz em conjunto com o guitarrista Charlie Byrd lançaram o LP "Jazz Samba", o que chamou a atenção do meio musical nos Estados Unidos para a bossa nova. Naquele mesmo ano, um concerto no Carnegie Hall de Nova York, que reuniu Tom Jobim e João Gilberto, entre outros, abriu de vez as portas do mundo para o estilo.[1][3] No ano seguinte, com o lançamento do LP Getz/Gilberto, parceira entre o violinista brasileiro e o saxofonista americano, tornou a vertente conhecida mundialmente, além de arrebatar o Grammy Award para álbum do ano de 1965. Dois anos depois, sob o título “The girl from Ipanema”, versão em inglês para o famoso samba Garota de Ipanema, de Tom e Vinicius, foi gravado por Frank Sinatra.
No entanto, já em meados dos anos sessenta, o movimento bossa-novista passava por uma cisão. De um lado, um grupo manteve-se fiel a estética leve, caracterizada por letras de temas amenos e descompromissados com a realidade brasileira ou qualquer espécie de participação social, pelo tom suave e intimista (personalizado na voz de João Gilberto) e a forte influência do jazz. De outro lado, outro grupo formado por compositores como Baden Powell, Sergio Ricardo e Carlos Lyra e por letristas como Vinicius de Moraes e Nelson Lins e Barros associou-se ao movimento geral da cultura brasileira no sentido de buscar uma base popular folclórica nas músicas e uma temática de realismo e participação social nas letras.[2] Foi essa dissidência que veio estabelecer uma conexão importante entre o samba da bossa nova e o samba das camadas populares, geralmente conhecido como “do morro” ou "de raiz", fazendo com que nomes como Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Keti e Elton Medeiros — sambistas de prestígio no meio do "samba de raiz", mas alijados do mercado fonográfico de época — passassem a ser conhecidos por uma fatia do público jovem e universitário. É nesse novo contexto que o o cenário artístico brasileiro viu surgir uma nova geração de compositores, como Paulinho da Viola, tido ali como um sucessor de Noel Rosa ou de Ismael Silva, e Chico Buarque, autor de composições que logo se tornariam sambas antológicos.[2]
Origens
A palavra "bossa" apareceu pela primeira vez na década de 1930, em São Coisas Nossas, samba do popular cantor Noel Rosa: O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas (...).[4] A expressão "bossa nova" passou a ser utilizada também na década seguinte para aqueles sambas de breque, baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas.[4]
Alguns críticos musicais destacam uma certa influência que a cultura americana do pós-guerra,Predefinição:Nota de rodapé de músicos como Stan Kenton, combinada ao impressionismo erudito, de Debussy e Ravel, teve na bossa nova, Uma especialmente do cool jazz e bebop. Embora tenha forte influência da música estrangeira, particularmente do jazz, a bossa nova possui elementos de samba sincopado.[5] Além disso, havia um fundamental inconformismo com o formato musical de época. Os cantores Dick Farney e Lúcio Alves, que fizeram sucesso nos anos da década de 1950 com um jeito suave e minimalista (em oposição a cantores de grande potência sonora) também são considerados influências positivas sobre os garotos que fizeram a bossa nova.[6]
Um embrião do movimento, já na década de 1950, eram as reuniões casuais, frutos de encontros de um grupo de músicos da classe média carioca em apartamentos da zona sul, como o de Nara Leão, na Avenida Atlântica, em Copacabana. Nestes encontros, cada vez mais frequentes, a partir de 1957, um grupo se reunia para fazer e ouvir música. Dentre os participantes estavam novos compositores da música brasileira, como Billy Blanco, Carlos Lyra, Roberto Menescal e Sérgio Ricardo, entre outros. O grupo foi aumentando, abraçando também Chico Feitosa, João Gilberto, Luiz Carlos Vinhas, Ronaldo Bôscoli, entre outros.[7][8]
Primeiro movimento musical brasileiro egresso das faculdades, já que os primeiros concertos foram realizados em âmbito universitário, pouco a pouco aquilo que se tornaria a bossa nova foi ocupando bares do circuito de Copacabana, no chamado Beco das Garrafas.[9]
No final de 1957, numa destas apresentações, no Colégio Israelita-Brasileiro, teria havido a ideia de chamar o novo gênero - então apenas denominado de samba sessions, numa alusão à fusão entre samba e jazz - devido a um recado escrito num quadro-negro, provavelmente escrito por uma secretária do colégio, chamando as pessoas para uma apresentação de samba-sessions por uma turma "bossa-nova". No evento participaram Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Sylvia Telles, Roberto Menescal e Luiz Eça, onde foram anunciados como "(...) grupo bossa nova apresentando sambas modernos".[10]
Início oficial
Predefinição:Double image Movimento que ficou associado ao crescimento urbano brasileiro - impulsionado pela fase desenvolvimentista da presidência de Juscelino Kubitschek (1955-1960) -,[11] a bossa nova iniciou-se para muitos críticos quando foi lançado, em agosto de 1958, um compacto simples do violonista baiano João Gilberto (considerado o papa do movimento),[12][13][14] contendo as canções Chega de Saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e Bim Bom (do próprio cantor).[15][16][17] O jeito suave de cantar foi influenciado pelo jazzista Chet Baker.[18][19]
Meses antes, João participara de Canção do Amor Demais, um álbum lançado em maio daquele mesmo ano e exclusivamente dedicado às canções da iniciante dupla Tom/Vinicius, interpretado pela cantora carioca Elizeth Cardoso.[16][17] De acordo com o escritor Ruy Castro (em seu livro Chega de saudade, de 1990), este LP não foi um sucesso imediato ao ser lançado, mas o disco pode ser considerado um dos marcos da bossa nova, não só por ter trazido algumas das mais clássicas composições do gênero - entre as quais, Luciana, Estrada Branca, Outra Vez e Chega de Saudade-, como também pela célebre batida do violão de João Gilberto, com seus acordes dissonantes e inspirados no jazz norte-americano - influência esta que daria argumentos aos críticos da bossa nova.[20]
Outras das características do movimento eram suas letras que, contrastando com os sucessos de até então, abordavam temáticas leves e descompromissadas - exemplo disto, Meditação, de Tom Jobim e Newton Mendonça. A forma de cantar também se diferenciava da que se tinha na época. Segundo o maestro Júlio Medaglia, "desenvolver-se-ia a prática do canto-falado ou do cantar baixinho, do texto bem pronunciado, do tom coloquial da narrativa musical, do acompanhamento e canto integrando-se mutuamente, em lugar da valorização da 'grande voz'".[21]
Em 1959, era lançado o primeiro LP de João Gilberto, Chega de saudade, contendo a faixa-título - canção com cerca de 100 regravações feitas por artistas brasileiros e estrangeiros. A partir dali, a bossa nova era uma realidade.[22] Além de João, parte do repertório clássico do movimento deve-se as parcerias de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.[16][17] Consta-se, segundo muitos afirmam, que o espírito bossa-novista já se encontrava na música que Jobim e Moraes fizeram, em 1956, para a peça Orfeu da Conceição, primeira parceria da dupla, que esteve perto de não acontecer, uma vez que Vinícius primeiro entrou em contato com Vadico, o famoso parceiro de Noel Rosa e ex-membro do Bando da Lua, para fazer a trilha sonora. É dessa peça, baseada na tragédia Grega Orfeu, uma das belas composições de Tom e Vinícius, "Se todos fossem iguais a você", já prenunciando os elementos melódicos da bossa nova.[23]
Além de Chega de saudade, os dois compuseram Garota de Ipanema, outra representativa canção da bossa nova, que se tornou a canção brasileira mais conhecida em todo o mundo, depois de Aquarela do Brasil (Ary Barroso), com mais de 169 gravações, entre as quais de Sarah Vaughan, Stan Getz, Frank Sinatra (com Tom Jobim), Ella Fitzgerald entre outros.[24] É de Tom Jobim também, junto com Newton Mendonça, as canções Desafinado e Samba de uma Nota Só, dois dos primeiros clássicos do novo gênero musical brasileiro a serem gravados no mercado norte-americano a partir de 1960.[16][25][26]
Mudanças
Em meados da década de 1960, o movimento apresentaria uma espécie de cisão ideológica, formada por Marcos Valle, Dori Caymmi, Edu Lobo e Francis Hime e estimulada pelo Centro Popular de Cultura da UNE. Inspirada em uma visão popular e nacionalista,[27] este grupo fez uma crítica das influências do jazz norte-americano na bossa nova e propôs sua reaproximação com compositores de morro, como o sambista Zé Keti.[27][28] Um dos pilares da bossa, Carlos Lyra, aderiu a esta corrente, assim como Nara Leão, que promoveu parcerias com artistas do samba como Cartola e Nelson Cavaquinho e baião e xote nordestinos como João do Vale.[27] Nesta fase de releituras da bossa nova, foi lançado em 1966 o antológico LP "Os Afro-sambas", de Vinicius de Moraes e Baden Powell.
Entre os artistas que se destacaram nesta segunda geração (1962-1966) da bossa nova estão Paulo Sérgio Valle, Edu Lobo, Marcos Vasconcelos, Dori Caymmi, Nelson Motta, Francis Hime, Wilson Simonal, entre outros...
Fim do movimento, da bossa nova à MPB
Um dos maiores expoentes da bossa nova comporia um dos marcos do fim do movimento. Em 1965, Vinícius de Moraes compôs, com Edu Lobo, Arrastão. A canção seria defendida por Elis Regina no I Festival de Música Popular Brasileira (da extinta TV Excelsior), realizado no Guarujá naquele mesmo ano.[29][30] Era o fim da bossa nova e o início do que se rotularia MPB, gênero difuso que abarcaria diversas tendências da música brasileira até o início da década de 1980 - época em que surgiu um pop rock nacional renovado.[31][32][33]
A MPB nascia com artistas novatos, da segunda geração da bossa nova, como Geraldo Vandré, Edu Lobo e Chico Buarque de Holanda, que apareciam com frequência em festivais de música popular. Bem-sucedidos como artistas, eles tinham pouco ou quase nada de bossa nova. Vencedoras do II Festival de Música Popular Brasileira, realizado em São Paulo em 1966, Disparada, de Geraldo, e A Banda, de Chico, podem ser consideradas marcos desta ruptura e mutação da bossa em MPB.
Legado
O fim cronológico da bossa não significou a extinção estética do estilo. O movimento foi uma grande referência que para gerações posteriores de artistas, do jazz (a partir do sucesso estrondoso da versão instrumental de Desafinado pela dupla Stan Getz e Charlie Byrd) a uma corrente pós-punk britânica (de artistas como Style Council, Matt Bianco e Everything but the Girl). Hoje tem uma nova geração de artistas que revivem o estilo. Entre eles destacam-se Bogdan Plech, Eliane Elias, Irene Miranda Quartet, Rosa Passos, Shelley Dunstone e Lisa Ono, entre outros.
No rock brasileiro, há de se destacar tanto a regravação da composição de Lobão, Me chama, pelo músico bossa-novista João Gilberto, em 1986, além da famosa música do cantor Cazuza composta por ele e outros músicos, Faz parte do meu show, gravada em 1988, com arranjos fortemente inspirados na bossa nova.
Seu legado é valioso, deixando várias joias da música nacional, dentre as quais Chega de Saudade, Garota de Ipanema, Desafinado, O barquinho, Eu Sei Que Vou Te Amar, Se Todos Fossem Iguais A Você, Águas de março, Outra Vez, Coisa mais linda, Corcovado, Insensatez, Maria Ninguém, Samba de uma nota só, O pato, Lobo Bobo, Saudade fez um Samba
Ver também
Referências
- ↑ 1,0 1,1 1,2 «Bossa Nova». Dicionário Cravo Albin. Consultado em 7 de julho de 2019
- ↑ 2,0 2,1 2,2 2,3 2,4 Erro de citação: Marca
<ref>
inválida; não foi fornecido texto para as refs chamadasDICIONARIO-HISTORIA-SAMBA
- ↑ Thales de Menezes (6 de abril de 2017). «Concerto no Carnegie Hall, que lançou bossa nova nos EUA, será recriado». Folha de S.Paulo. Consultado em 27 de fevereiro de 2020
- ↑ 4,0 4,1 «Conheça as principais características da Bossa nova, no Caderno de Música». EBC Rádios (em português). 11 de julho de 2019. Consultado em 20 de janeiro de 2020
- ↑ Neusa Meirelles Costa. Arte & Ciência, ed. De amor, cotidiano e outras falas: o discurso da música brasileira e a arqueologia de Foucault. 2004. [S.l.: s.n.] 144 páginas. 9788574731414
- ↑ «No rádio, Lúcio Alves e o sucesso da 'rivalidade' com Dick Farney». EBC Rádios (em português). 29 de março de 2016. Consultado em 20 de janeiro de 2020
- ↑ «História de Copacabana 1». copacabana.com (em português). Consultado em 20 de janeiro de 2020
- ↑ Gerolamo, Ismael de Oliveira; Gerolamo, Ismael de Oliveira (2017). «Nara Leão: entre a bossa nova e a canção engajada». Revista do Instituto de Estudos Brasileiros (em português). pp. 172–198. doi:10.11606/issn.2316-901x.vo166p172-198. Consultado em 20 de janeiro de 2020
- ↑ «A Bossa Nova e Beco das Garrafas em Copacabana». www.riodejaneiroaqui.com. Consultado em 20 de janeiro de 2020
- ↑ , Citação encontrada no portal All About Art
- ↑ «.: Senado Federal - 50 anos de Brasíia :.». www.senado.gov.br. Consultado em 19 de janeiro de 2020
- ↑ Gattai, Zélia (23 de maio de 2011). «Chão de meninos». Companhia das Letras. Consultado em 19 de janeiro de 2020
- ↑ Welle (www.dw.com), Deutsche. «Morre aos 88 anos João Gilberto, um dos papas da bossa nova - DW». DW (em português). Consultado em 19 de janeiro de 2020
- ↑ Tuta, Carvalho (26 de fevereiro de 2014). «Ninguém faz sucesso sozinho» (em português). Escrituras. Consultado em 19 de janeiro de 2020
- ↑ «Opinião: Morte de João Gilberto encerra a utopia de um país do futuro». Folha de S.Paulo (em português). 7 de julho de 2019. Consultado em 19 de janeiro de 2020
- ↑ 16,0 16,1 16,2 16,3 «Há 60 anos, João Gilberto revolucionava o mundo com a Bossa Nova». A Gazeta (em português). Consultado em 19 de janeiro de 2020
- ↑ 17,0 17,1 17,2 «ARTIGO - A bossa nova e João Gilberto». Jornal do Brasil (em português). 3 de setembro de 2019. Consultado em 19 de janeiro de 2020
- ↑ «Estilo suave de Chet Baker expressar tormento pode ter influenciado a bossa». Correio Braziliense. Consultado em 17 de julho de 2019
- ↑ «Chet Baker, a atuação que mudou a vida de João Gilberto». GGN. Consultado em 17 de julho de 2019
- ↑ Castro, Ruy (15 de junho de 2016). Chega de saudade: A história e as histórias da Bossa Nova - Edição revista e ampliada (em português). [S.l.]: Companhia das Letras. ISBN 978-85-438-0634-1
- ↑ Amaral, Euclides (2008). «Dicionário da Música Popular Brasileira - Bossa Nova». Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Dicionário da Música Popular Brasileira. Consultado em 19 de janeiro de 2020
- ↑ «Os 60 anos de Chega de Saudade». www12.senado.leg.br (em português). Consultado em 19 de janeiro de 2020
- ↑ Ferreira, Mauro. «Musical que juntou Tom com Vinicius, 'Orfeu da Conceição' faz 60 anos». Mauro Ferreira (em português). G1. Consultado em 19 de janeiro de 2020
- ↑ Jornal da Globo (30 de agosto de 2013). «Música Aquarela do Brasil se tornou uma das joias da MPB». Rede Globo. Consultado em 26 de junho de 2014
- ↑ «Folha de S.Paulo - Publifolha - Entenda Tom Jobim da bossa nova e do jazz, do Rio e dos EUA, do popular e do erudito - 06/02/2009». Folha online. Consultado em 19 de janeiro de 2020
- ↑ Cultural, Instituto Itaú. «Tom Jobim». Enciclopédia Itaú Cultural (em português). Consultado em 19 de janeiro de 2020
- ↑ 27,0 27,1 27,2 Cultural, Instituto Itaú. «Centro Popular de Cultura (CPC)». Enciclopédia Itaú Cultural (em português). Consultado em 7 de fevereiro de 2020
- ↑ Kassab, Álvaro. «No peito dos bossanovistas também batem outros ritmos». www.unicamp.br. Jornal da Unicamp. Consultado em 7 de fevereiro de 2020
- ↑ Máximo, 2002, p.4.
- ↑ Vidal e Aguiar, 2002, p.133.
- ↑ Echeverria, 2007, p.41.
- ↑ Zappa, Regina (9 de janeiro de 2012). Chico Buarque - Para seguir minha jornada (em português). [S.l.]: HarperCollins Brasil. ISBN 978-85-209-2968-1
- ↑ Mello, 2003, p.67.
Bibliografia
- ALBIN, Ricardo Cravo (Criação e Supervisão Geral). Dicionário Houaiss Ilustrado da Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro: Paracatu, 2006.
- CASTRO, Ruy. Chega de saudade. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
- CASTRO, Ruy. A onda que se ergueu no mar; novos mergulhos na Bossa Nova. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
- DE STEFANO, Gildo. Il popolo del samba. La vicenda e i protagonisti della storia della [[musica popolare brasiliana]], Prefazione di Chico Buarque de Hollanda, Introduzione di Gianni Minà, RAI-ERI, 2005, ISBN 88-397-1348-4
- DE STEFANO, Gildo. Saudade Bossa Nova: musiche, contaminazioni e ritmi del Brasile, Prefazione di Chico Buarque, Introduzione di Gianni Minà, Logisma Editore, Firenze 2017, ISBN 978-88-97530-88-6
- MORAIS JUNIOR, Luis Carlos de. O Sol nasceu pra todos:a História Secreta do Samba. Rio de Janeiro: Litteris, 2011.
Ligações externas
- «Especial Estadão - 50 Anos de Bossa» (em português)