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A '''bossa nova ''' é | A '''bossa nova '''é um gênero musical surgido no Brasil no fim da [[década de 1950]]. Considerado uma nova forma de tocar [[samba]] — sob influência do ''[[jazz]]'' —, foi concebido por [[João Gilberto]], [[Tom Jobim]], [[Vinicius de Moraes]] e jovens cantores e compositores de classe média da [[Zona Sul (Rio de Janeiro)|Zona Sul]] da cidade do [[Rio de Janeiro]]. Tem seu marco inicial em [[1959]] com o lançamento do [[Chega de Saudade (álbum)|disco]] e [[Chega de Saudade|canção homônima]] ''Chega de Saudade'', no qual João Gilberto cria uma nova batida de [[violão]] e canta de modo particular a música composta por Antônio Carlos "Tom" Jobim e Vinicius de Moraes (Tom Jobim, cantor e instrumentista de renome, viria a se tornar o compositor e arranjador dos maiores sucessos do gênero).<ref name="Cravo Albin">{{citar web|url=http://dicionariompb.com.br/bossa-nova/dados-artisticos|título=Bossa Nova|publicado=Dicionário Cravo Albin|acessodata=7-7-2019}}</ref> O jeito suave de cantar foi influenciado pelo jazzista [[Chet Baker]].<ref>{{citar web|url=https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2016/01/18/interna_diversao_arte,514330/estilo-suave-de-chet-baker-expressar-tormento-pode-ter-influenciado-a.shtml|título=Estilo suave de Chet Baker expressar tormento pode ter influenciado a bossa|publicado=Correio Braziliense|acessodata=17-7-2019}}</ref><ref>{{citar web|url=https://jornalggn.com.br/cultura/videos-do-dia/chet-baker-a-atuacao-que-mudou-a-vida-de-joao-gilberto/|título=Chet Baker, a atuação que mudou a vida de João Gilberto|publicado=GGN|acessodata=17-7-2019}}</ref> | ||
De início, o termo era apenas relativo a um novo modo de cantar e tocar samba na época, ou seja, a uma reformulação estética dentro do moderno samba carioca urbano. No final do ano de [[1957]], um show realizado por [[Carlos Lyra]], [[Ronaldo Bôscoli]], [[Sylvia Telles]], [[Roberto Menescal]] e [[Luiz Eça]] no Clube Hebraica (Rio de Janeiro) já era anunciado como "... grupo bossa nova apresentando sambas modernos".<ref name="Cravo Albin"/> | |||
Com o passar dos anos, a bossa nova tornou-se um dos movimentos mais influentes da história da [[música popular brasileira]], conhecido em todo o mundo. Um grande exemplo disso é a canção "[[Garota de Ipanema]]", composta em 1962 por Vinicius de Moraes e Tom Jobim.<ref name="Cravo Albin"/> | |||
== Origens == | == Origens == | ||
A palavra "bossa" apareceu pela primeira vez na [[década de 1930]], em ''São Coisas Nossas'', samba do popular cantor [[Noel Rosa]]: ''O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas (...)''.<ref name=origens>{{Citar web |url=http://radios.ebc.com.br/caderno-de-musica/2019/07/conheca-principais-caracteristicas-da-bossa-nova-no-caderno-de-musica |titulo=Conheça as principais características da Bossa nova, no Caderno de Música |data=2019-07-11 |acessodata=2020-01-20 |obra=EBC Rádios |lingua=pt-br}}</ref> A expressão "bossa nova" passou a ser utilizada também na [[década de 1940|década seguinte]] para aqueles [[samba de breque|sambas de breque]], baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas.<ref name=origens/> | A palavra "bossa" apareceu pela primeira vez na [[década de 1930]], em ''São Coisas Nossas'', samba do popular cantor [[Noel Rosa]]: ''O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas (...)''.<ref name=origens>{{Citar web |url=http://radios.ebc.com.br/caderno-de-musica/2019/07/conheca-principais-caracteristicas-da-bossa-nova-no-caderno-de-musica |titulo=Conheça as principais características da Bossa nova, no Caderno de Música |data=2019-07-11 |acessodata=2020-01-20 |obra=EBC Rádios |lingua=pt-br}}</ref> A expressão "bossa nova" passou a ser utilizada também na [[década de 1940|década seguinte]] para aqueles [[samba de breque|sambas de breque]], baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas.<ref name=origens/> | ||
Alguns críticos musicais destacam uma certa influência que a cultura [[Estados Unidos|americana]] do pós-guerra, | Alguns críticos musicais destacam uma certa influência que a cultura [[Estados Unidos|americana]] do pós-guerra,<ref group="nota">De acordo com o sambista e pesquisador [[Nei Lopes]], desde o final da [[Segunda Guerra Mundial]], elementos de ''[[bebop]]'' e ''[[boogie-woogie]]'' já vinham sendo incorporados ao samba, texto está disponível no [[Internet Archive]]: [https://web.archive.org/web/20070220205707/http://www.neilopes.blogger.com.br/2006_12_01_archive.html#39227421 O sambalanço saúda o dia do samba].</ref> de músicos como [[Stan Kenton]], combinada ao [[impressionismo]] erudito, de [[Debussy]] e [[Ravel]], teve na bossa nova, Uma especialmente do [[cool jazz]] e [[bebop]]. Embora tenha forte influência da música estrangeira, particularmente do ''jazz'', a bossa nova possui elementos de [[samba sincopado]].<ref>{{Ref-livro|autor=Neusa Meirelles Costa|título=De amor, cotidiano e outras falas: o discurso da música brasileira e a arqueologia de Foucault|editor=Arte & Ciência |publicação=[[2004]]|páginas=144|id= 9788574731414}}</ref> Além disso, havia um fundamental inconformismo com o formato musical de época. Os cantores [[Dick Farney]] e [[Lúcio Alves]], que fizeram sucesso nos anos da década de 1950 com um jeito suave e minimalista (em oposição a cantores de grande potência sonora) também são considerados influências positivas sobre os garotos que fizeram a bossa nova.<ref>{{Citar web |url=http://radios.ebc.com.br/todas-vozes/edicao/2016-03/no-radio-lucio-alves-e-o-sucesso-da-rivalidade-com-dick-farney |titulo=No rádio, Lúcio Alves e o sucesso da 'rivalidade' com Dick Farney |data=2016-03-29 |acessodata=2020-01-20 |obra=EBC Rádios |lingua=pt-br}}</ref> | ||
Um embrião do movimento, já na [[década de 1950]], eram as reuniões casuais, frutos de encontros de um grupo de músicos da classe média [[carioca]] em apartamentos da zona sul, como o de [[Nara Leão]], na Avenida Atlântica, em [[Copacabana]]. Nestes encontros, cada vez mais frequentes, a partir de [[1957]], um grupo se reunia para fazer e ouvir música. Dentre os participantes estavam novos compositores da música brasileira, como [[Billy Blanco]], [[Carlos Lyra]], [[Roberto Menescal]] e [[Sérgio Ricardo]], entre outros. O grupo foi aumentando, abraçando também Chico Feitosa, [[João Gilberto]], [[Luiz Carlos Vinhas]], [[Ronaldo Bôscoli]], entre outros.<ref>{{Citar web |url=https://copacabana.com/historia-de-copacabana-1 |titulo=História de Copacabana 1 |acessodata=2020-01-20 |obra=copacabana.com |lingua=pt-BR}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0020-38742017000100172&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |titulo=Nara Leão: entre a bossa nova e a canção engajada |data=2017 |acessodata=2020-01-20 |obra=Revista do Instituto de Estudos Brasileiros |ultimo=Gerolamo |primeiro=Ismael de Oliveira |ultimo2=Gerolamo |primeiro2=Ismael de Oliveira |paginas=172–198 |lingua=pt |doi=10.11606/issn.2316-901x.vo166p172-198}}</ref> | Um embrião do movimento, já na [[década de 1950]], eram as reuniões casuais, frutos de encontros de um grupo de músicos da classe média [[carioca]] em apartamentos da zona sul, como o de [[Nara Leão]], na Avenida Atlântica, em [[Copacabana]]. Nestes encontros, cada vez mais frequentes, a partir de [[1957]], um grupo se reunia para fazer e ouvir música. Dentre os participantes estavam novos compositores da música brasileira, como [[Billy Blanco]], [[Carlos Lyra]], [[Roberto Menescal]] e [[Sérgio Ricardo]], entre outros. O grupo foi aumentando, abraçando também Chico Feitosa, [[João Gilberto]], [[Luiz Carlos Vinhas]], [[Ronaldo Bôscoli]], entre outros.<ref>{{Citar web |url=https://copacabana.com/historia-de-copacabana-1 |titulo=História de Copacabana 1 |acessodata=2020-01-20 |obra=copacabana.com |lingua=pt-BR}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0020-38742017000100172&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |titulo=Nara Leão: entre a bossa nova e a canção engajada |data=2017 |acessodata=2020-01-20 |obra=Revista do Instituto de Estudos Brasileiros |ultimo=Gerolamo |primeiro=Ismael de Oliveira |ultimo2=Gerolamo |primeiro2=Ismael de Oliveira |paginas=172–198 |lingua=pt |doi=10.11606/issn.2316-901x.vo166p172-198}}</ref> | ||
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{{double image|right|Vinicius.jpg|220|Tom19.jpg|189|[[Vinicius de Moraes]], principal letrista de canções da bossa nova a partir de "Chega de Saudade", composição feita com [[Tom Jobim]] em 1958 e que consagrou o estilo.}} | {{double image|right|Vinicius.jpg|220|Tom19.jpg|189|[[Vinicius de Moraes]], principal letrista de canções da bossa nova a partir de "Chega de Saudade", composição feita com [[Tom Jobim]] em 1958 e que consagrou o estilo.}} | ||
Movimento que ficou associado ao crescimento urbano brasileiro - impulsionado pela fase desenvolvimentista da presidência de [[Juscelino Kubitschek]] ([[1955]]-[[1960]]) -,<ref>{{Citar web |url=http://www.senado.gov.br/noticias/especiais/brasilia50anos/not04.asp |titulo=.: Senado Federal - 50 anos de Brasíia :. |acessodata=2020-01-19 |obra=www.senado.gov.br}}</ref> a bossa nova iniciou-se para muitos críticos quando foi lançado, em agosto de [[1958]], um [[compacto simples]] do violonista [[Bahia|baiano]] [[João Gilberto]] (considerado o ''papa'' do movimento),<ref name="papa">{{Citar web |url=https://books.google.com.br/books?id=VHscqI3exmoC&pg=PT53&dq=jo%25C3%25A3o+gilberto+papa+bossa+nova&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwivgr7A2ZDnAhWyHbkGHSPkALYQ6AEIMTAB#v=onepage&q=jo%25C3%25A3o%2520gilberto%2520papa%2520bossa%2520nova&f=false |titulo=Chão de meninos |data=2011-05-23 |acessodata=2020-01-19 |publicado=Companhia das Letras |ultimo=Gattai |primeiro=Zélia}}</ref><ref name="papa2">{{Citar web |url=https://www.dw.com/pt-br/morre-aos-88-anos-jo%C3%A3o-gilberto-um-dos-papas-da-bossa-nova/a-49501017 |titulo=Morre aos 88 anos João Gilberto, um dos papas da bossa nova - 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Meses antes, João participara de ''Canção do Amor Demais'', um álbum lançado em maio daquele mesmo ano e exclusivamente dedicado às canções da iniciante dupla Tom/Vinicius, interpretado pela cantora carioca [[Elizeth Cardoso]].<ref name=gazeta/><ref name=jb/> De acordo com o escritor [[Ruy Castro]] (em seu livro ''Chega de saudade'', de [[1990]]), este LP não foi um sucesso imediato ao ser lançado, mas o disco pode ser considerado um dos marcos da bossa nova, não só por ter trazido algumas das mais clássicas composições do gênero - entre as quais, ''Luciana'', ''Estrada Branca'', ''Outra Vez'' e ''Chega de Saudade''-, como também pela célebre batida do violão de João Gilberto, com seus acordes dissonantes e inspirados no ''[[jazz]]'' norte-americano - influência esta que daria argumentos aos críticos da bossa nova.<ref name=cds>{{Citar livro |url=https://books.google.com.br/books?id=wGtsDAAAQBAJ&printsec=frontcover&dq=chega+de+saudade+ruy+castro&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwi9puOl3JDnAhVHCrkGHeX1DCsQ6AEIKTAA#v=onepage&q=Can%25C3%25A7%25C3%25A3o%2520do%2520Amor%2520Demais&f=false |título=Chega de saudade: A história e as histórias da Bossa Nova - Edição revista e ampliada |ultimo=Castro |primeiro=Ruy |data=2016-06-15 |editora=Companhia das Letras |lingua=pt-BR |isbn=978-85-438-0634-1}}</ref> | Meses antes, João participara de ''Canção do Amor Demais'', um álbum lançado em maio daquele mesmo ano e exclusivamente dedicado às canções da iniciante dupla Tom/Vinicius, interpretado pela cantora carioca [[Elizeth Cardoso]].<ref name=gazeta/><ref name=jb/> De acordo com o escritor [[Ruy Castro]] (em seu livro ''Chega de saudade'', de [[1990]]), este LP não foi um sucesso imediato ao ser lançado, mas o disco pode ser considerado um dos marcos da bossa nova, não só por ter trazido algumas das mais clássicas composições do gênero - entre as quais, ''Luciana'', ''Estrada Branca'', ''Outra Vez'' e ''Chega de Saudade''-, como também pela célebre batida do violão de João Gilberto, com seus acordes dissonantes e inspirados no ''[[jazz]]'' norte-americano - influência esta que daria argumentos aos críticos da bossa nova.<ref name=cds>{{Citar livro |url=https://books.google.com.br/books?id=wGtsDAAAQBAJ&printsec=frontcover&dq=chega+de+saudade+ruy+castro&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwi9puOl3JDnAhVHCrkGHeX1DCsQ6AEIKTAA#v=onepage&q=Can%25C3%25A7%25C3%25A3o%2520do%2520Amor%2520Demais&f=false |título=Chega de saudade: A história e as histórias da Bossa Nova - Edição revista e ampliada |ultimo=Castro |primeiro=Ruy |data=2016-06-15 |editora=Companhia das Letras |lingua=pt-BR |isbn=978-85-438-0634-1}}</ref> | ||
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* ALBIN, Ricardo Cravo (Criação e Supervisão Geral). ''Dicionário Houaiss Ilustrado da Música Popular Brasileira''. Rio de Janeiro: Paracatu, 2006. | * ALBIN, Ricardo Cravo (Criação e Supervisão Geral). ''Dicionário Houaiss Ilustrado da Música Popular Brasileira''. Rio de Janeiro: Paracatu, 2006. |
Edição das 15h36min de 28 de fevereiro de 2020
Predefinição:Info/Gênero musical A bossa nova é um gênero musical surgido no Brasil no fim da década de 1950. Considerado uma nova forma de tocar samba — sob influência do jazz —, foi concebido por João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e jovens cantores e compositores de classe média da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. Tem seu marco inicial em 1959 com o lançamento do disco e canção homônima Chega de Saudade, no qual João Gilberto cria uma nova batida de violão e canta de modo particular a música composta por Antônio Carlos "Tom" Jobim e Vinicius de Moraes (Tom Jobim, cantor e instrumentista de renome, viria a se tornar o compositor e arranjador dos maiores sucessos do gênero).[1] O jeito suave de cantar foi influenciado pelo jazzista Chet Baker.[2][3]
De início, o termo era apenas relativo a um novo modo de cantar e tocar samba na época, ou seja, a uma reformulação estética dentro do moderno samba carioca urbano. No final do ano de 1957, um show realizado por Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Sylvia Telles, Roberto Menescal e Luiz Eça no Clube Hebraica (Rio de Janeiro) já era anunciado como "... grupo bossa nova apresentando sambas modernos".[1]
Com o passar dos anos, a bossa nova tornou-se um dos movimentos mais influentes da história da música popular brasileira, conhecido em todo o mundo. Um grande exemplo disso é a canção "Garota de Ipanema", composta em 1962 por Vinicius de Moraes e Tom Jobim.[1]
Origens
A palavra "bossa" apareceu pela primeira vez na década de 1930, em São Coisas Nossas, samba do popular cantor Noel Rosa: O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas (...).[4] A expressão "bossa nova" passou a ser utilizada também na década seguinte para aqueles sambas de breque, baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas.[4]
Alguns críticos musicais destacam uma certa influência que a cultura americana do pós-guerra,[nota 1] de músicos como Stan Kenton, combinada ao impressionismo erudito, de Debussy e Ravel, teve na bossa nova, Uma especialmente do cool jazz e bebop. Embora tenha forte influência da música estrangeira, particularmente do jazz, a bossa nova possui elementos de samba sincopado.[5] Além disso, havia um fundamental inconformismo com o formato musical de época. Os cantores Dick Farney e Lúcio Alves, que fizeram sucesso nos anos da década de 1950 com um jeito suave e minimalista (em oposição a cantores de grande potência sonora) também são considerados influências positivas sobre os garotos que fizeram a bossa nova.[6]
Um embrião do movimento, já na década de 1950, eram as reuniões casuais, frutos de encontros de um grupo de músicos da classe média carioca em apartamentos da zona sul, como o de Nara Leão, na Avenida Atlântica, em Copacabana. Nestes encontros, cada vez mais frequentes, a partir de 1957, um grupo se reunia para fazer e ouvir música. Dentre os participantes estavam novos compositores da música brasileira, como Billy Blanco, Carlos Lyra, Roberto Menescal e Sérgio Ricardo, entre outros. O grupo foi aumentando, abraçando também Chico Feitosa, João Gilberto, Luiz Carlos Vinhas, Ronaldo Bôscoli, entre outros.[7][8]
Primeiro movimento musical brasileiro egresso das faculdades, já que os primeiros concertos foram realizados em âmbito universitário, pouco a pouco aquilo que se tornaria a bossa nova foi ocupando bares do circuito de Copacabana, no chamado Beco das Garrafas.[9]
No final de 1957, numa destas apresentações, no Colégio Israelita-Brasileiro, teria havido a ideia de chamar o novo gênero - então apenas denominado de samba sessions, numa alusão à fusão entre samba e jazz - devido a um recado escrito num quadro-negro, provavelmente escrito por uma secretária do colégio, chamando as pessoas para uma apresentação de samba-sessions por uma turma "bossa-nova". No evento participaram Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Sylvia Telles, Roberto Menescal e Luiz Eça, onde foram anunciados como "(...) grupo bossa nova apresentando sambas modernos".[10]
Início oficial
Predefinição:Double image Movimento que ficou associado ao crescimento urbano brasileiro - impulsionado pela fase desenvolvimentista da presidência de Juscelino Kubitschek (1955-1960) -,[11] a bossa nova iniciou-se para muitos críticos quando foi lançado, em agosto de 1958, um compacto simples do violonista baiano João Gilberto (considerado o papa do movimento),[12][13][14] contendo as canções Chega de Saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e Bim Bom (do próprio cantor).[15][16][17]
Meses antes, João participara de Canção do Amor Demais, um álbum lançado em maio daquele mesmo ano e exclusivamente dedicado às canções da iniciante dupla Tom/Vinicius, interpretado pela cantora carioca Elizeth Cardoso.[16][17] De acordo com o escritor Ruy Castro (em seu livro Chega de saudade, de 1990), este LP não foi um sucesso imediato ao ser lançado, mas o disco pode ser considerado um dos marcos da bossa nova, não só por ter trazido algumas das mais clássicas composições do gênero - entre as quais, Luciana, Estrada Branca, Outra Vez e Chega de Saudade-, como também pela célebre batida do violão de João Gilberto, com seus acordes dissonantes e inspirados no jazz norte-americano - influência esta que daria argumentos aos críticos da bossa nova.[18]
Outras das características do movimento eram suas letras que, contrastando com os sucessos de até então, abordavam temáticas leves e descompromissadas - exemplo disto, Meditação, de Tom Jobim e Newton Mendonça. A forma de cantar também se diferenciava da que se tinha na época. Segundo o maestro Júlio Medaglia, "desenvolver-se-ia a prática do canto-falado ou do cantar baixinho, do texto bem pronunciado, do tom coloquial da narrativa musical, do acompanhamento e canto integrando-se mutuamente, em lugar da valorização da 'grande voz'".[19]
Em 1959, era lançado o primeiro LP de João Gilberto, Chega de saudade, contendo a faixa-título - canção com cerca de 100 regravações feitas por artistas brasileiros e estrangeiros. A partir dali, a bossa nova era uma realidade.[20] Além de João, parte do repertório clássico do movimento deve-se as parcerias de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.[16][17] Consta-se, segundo muitos afirmam, que o espírito bossa-novista já se encontrava na música que Jobim e Moraes fizeram, em 1956, para a peça Orfeu da Conceição, primeira parceria da dupla, que esteve perto de não acontecer, uma vez que Vinícius primeiro entrou em contato com Vadico, o famoso parceiro de Noel Rosa e ex-membro do Bando da Lua, para fazer a trilha sonora. É dessa peça, baseada na tragédia Grega Orfeu, uma das belas composições de Tom e Vinícius, "Se todos fossem iguais a você", já prenunciando os elementos melódicos da bossa nova.[21]
Além de Chega de saudade, os dois compuseram Garota de Ipanema, outra representativa canção da bossa nova, que se tornou a canção brasileira mais conhecida em todo o mundo, depois de Aquarela do Brasil (Ary Barroso), com mais de 169 gravações, entre as quais de Sarah Vaughan, Stan Getz, Frank Sinatra (com Tom Jobim), Ella Fitzgerald entre outros.[22] É de Tom Jobim também, junto com Newton Mendonça, as canções Desafinado e Samba de uma Nota Só, dois dos primeiros clássicos do novo gênero musical brasileiro a serem gravados no mercado norte-americano a partir de 1960.[16][23][24]
Mudanças
Em meados da década de 1960, o movimento apresentaria uma espécie de cisão ideológica, formada por Marcos Valle, Dori Caymmi, Edu Lobo e Francis Hime e estimulada pelo Centro Popular de Cultura da UNE. Inspirada em uma visão popular e nacionalista,[25] este grupo fez uma crítica das influências do jazz norte-americano na bossa nova e propôs sua reaproximação com compositores de morro, como o sambista Zé Keti.[25][26] Um dos pilares da bossa, Carlos Lyra, aderiu a esta corrente, assim como Nara Leão, que promoveu parcerias com artistas do samba como Cartola e Nelson Cavaquinho e baião e xote nordestinos como João do Vale.[25] Nesta fase de releituras da bossa nova, foi lançado em 1966 o antológico LP "Os Afro-sambas", de Vinicius de Moraes e Baden Powell.
Entre os artistas que se destacaram nesta segunda geração (1962-1966) da bossa nova estão Paulo Sérgio Valle, Edu Lobo, Marcos Vasconcelos, Dori Caymmi, Nelson Motta, Francis Hime, Wilson Simonal, entre outros...
Fim do movimento, da bossa nova à MPB
Um dos maiores expoentes da bossa nova comporia um dos marcos do fim do movimento. Em 1965, Vinícius de Moraes compôs, com Edu Lobo, Arrastão. A canção seria defendida por Elis Regina no I Festival de Música Popular Brasileira (da extinta TV Excelsior), realizado no Guarujá naquele mesmo ano.[27][28] Era o fim da bossa nova e o início do que se rotularia MPB, gênero difuso que abarcaria diversas tendências da música brasileira até o início da década de 1980 - época em que surgiu um pop rock nacional renovado.[29][30][31]
A MPB nascia com artistas novatos, da segunda geração da bossa nova, como Geraldo Vandré, Edu Lobo e Chico Buarque de Holanda, que apareciam com frequência em festivais de música popular. Bem-sucedidos como artistas, eles tinham pouco ou quase nada de bossa nova. Vencedoras do II Festival de Música Popular Brasileira, realizado em São Paulo em 1966, Disparada, de Geraldo, e A Banda, de Chico, podem ser consideradas marcos desta ruptura e mutação da bossa em MPB.
Legado
O fim cronológico da bossa não significou a extinção estética do estilo. O movimento foi uma grande referência que para gerações posteriores de artistas, do jazz (a partir do sucesso estrondoso da versão instrumental de Desafinado pela dupla Stan Getz e Charlie Byrd) a uma corrente pós-punk britânica (de artistas como Style Council, Matt Bianco e Everything but the Girl). Hoje tem uma nova geração de artistas que revivem o estilo. Entre eles destacam-se Bogdan Plech, Eliane Elias, Irene Miranda Quartet, Rosa Passos, Shelley Dunstone e Lisa Ono, entre outros.
No rock brasileiro, há de se destacar tanto a regravação da composição de Lobão, Me chama, pelo músico bossa-novista João Gilberto, em 1986, além da famosa música do cantor Cazuza composta por ele e outros músicos, Faz parte do meu show, gravada em 1988, com arranjos fortemente inspirados na bossa nova.
Seu legado é valioso, deixando várias joias da música nacional, dentre as quais Chega de Saudade, Garota de Ipanema, Desafinado, O barquinho, Eu Sei Que Vou Te Amar, Se Todos Fossem Iguais A Você, Águas de março, Outra Vez, Coisa mais linda, Corcovado, Insensatez, Maria Ninguém, Samba de uma nota só, O pato, Lobo Bobo, Saudade fez um Samba
Ver também
Referências
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- DE STEFANO, Gildo. Saudade Bossa Nova: musiche, contaminazioni e ritmi del Brasile, Prefazione di Chico Buarque, Introduzione di Gianni Minà, Logisma Editore, Firenze 2017, ISBN 978-88-97530-88-6
- MORAIS JUNIOR, Luis Carlos de. O Sol nasceu pra todos:a História Secreta do Samba. Rio de Janeiro: Litteris, 2011.
Ligações externas
- «Especial Estadão - 50 Anos de Bossa» (em português)
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