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Topônimos tupi-guaranis no Brasil

Antes da chegada ao Brasil dos portugueses no ano de 1500, já viviam ali populações de nativos, em grande parte falantes de línguas pertencentes à família linguística tupi-guarani. Estas línguas, em especial a língua tupi, geraram muitos dos atuais topônimos brasileiros. Uns, como Paquetá, Anhangabaú e Paraguaçu, já eram utilizados pelas populações indígenas antigas;[1] outros, como Uberaba, Cuiabá e Piracicaba, foram criados pelos bandeirantes para nomear as terras que eles iam desbravando no interior do país; outros, como Surubiú (atual Alenquer) e Arucará (atual Portel) foram criados com o avanço das missões católicas nos rios amazônicos; alguns são modernos, criados artificialmente, como Toritama e Itobi.[2][3]

Radicais

Alguns dos radicais mais comuns nas línguas tupi-guaranis são:[4]

  • pará (rio grande)
  • 'y ou ty (água ou rio)
  • itá (pedra)
  • yby (terra)
  • ybyrá (madeira, árvore)
  • oka (casa)
  • taba (aldeia)
  • pirá (peixe)
  • gûyrá (pássaro)
  • gûyrátinga (garça)
  • una (preto, escuro)
  • pyranga (vermelho)
  • pytanga (com tom pastel, aclareado)
  • tinga (branco, claro)
  • oby (verde ou azul)
  • gûasu (grande)
  • mirim (pequeno)
  • atã (duro)
  • katu (bom)
  • panema (imprestável, amarelo)
  • berab (brilhante)
  • sununga (que ressoa)
  • tyba (ajuntamento)

Algumas etimologias de municipios brasileiros

Algumas etimologias (Rodrigues 1986):[5]

  • ý-guaçú: rio grande (cf. Iguaçu, BA, MG, PR, RN)
  • ý-tíng-a: rio branco, água branca (cf. Itinga, BA, MG, PA; Utinga, AL, BA, RN)
  • ý-ún-a: rio preto, água preta (cf. Iúna, ES; Una, BA, CE, PA, PE, RJ, SP)
  • ý-piráng-a: rio vermelho (cf. Ipiranga, ES, SP)
  • ybý-péb-a: terra plana (cf. Ibipeba, BA)
  • ybý-poráng-a: terra bonita (cf. Ibiporanga, BA, SP)
  • ybytýr-ún-a-: morro preto, serra negra (cf. Ibituruna, MG; Ibitiruna, SP)
  • ybytý-poráng-a: morro bonito (cf. Ibituporanga, RJ)
  • itá-tíng-a: pedra branca (cf. Itatinga, SP)
  • itá-ún-a: pedra preta (cf. Itaúna, BA, MA, MG; Itaúnas, ES, MG, SE)
  • itá-péb-a: pedra chata, laje (cf. Itapeva, MG, SP)
  • itá-péb-uçú: laje grande (cf. Itapebuçu, CE)
  • itá-pé-mirí: laje pequena (cf. Itapemirim, ES)
  • itá-pé-ting-a: laje branca (cf. Itapetinga, BA, MA, SP)
  • itá-pé-tiníng-a: laje seca (cf. Itapetininga, SP)
  • itá-’ý: rio das pedras (cf. Itaí, BA, SP; Itaú, MG, PA, RN)
  • itá-tíng-ý: rio das pedras brancas (cf. Itatingui, BA)
  • itá-péb-ý: rio das lajes (cf. Itapebi, BA; Itapevi, SP)
  • itá pé-tíng-ý: rio das lajes brancas (cf. Itapetingui BA)
  • jacaré-’ý: rio dos jacarés (cf. Jacareí, PI, SP)
  • jundi’á’ý: rio dos bagres (cf. Jundiaí, RN, SP)
  • jaguár-ý: rio das onças (cf. Jaguari, MG, SP)
  • jaguár-ý-úna: rio preto das onças (cf. Jaguariúna, SP)
  • jaguár-ý-pe: no rio das onças (cf. Jaguaripe, BA; Jaguaribe, CE)
  • tejú-’ý-pe: no rio dos lagartos (cf. Tijuípe, BA)
  • tejú-guaçú: lagarto grande (cf. Tijuaçu, BA)

Lista de topônimos

Nome tupi-guarani Significado
Abaeté (lagoa) terrífico, horroroso[6]
Andaraí rio dos morcegos[7]
Aracaju cajueiro dos arás (aves psitacídeas)[8]
Araçatuba ajuntamento de araçás[8]
Araraquara toca das araras ou dos ararás (variedade de formiga alada branca, semelhante ao cupim)[9]
Araruama lugar de as araras beberem água[10]
Atibaia cabelo crescido que os índios tinham sobre as orelhas[10]
Avaré padre[4]
Bariri coisa que treme, isto é, corrente veloz de rio em trecho de grande desnivelamento[11]
Barueri Flor Vermelha[11]
Bauru cesto de frutas[11]
Botucatu serra boa[12]
Butantã terra muito dura[13]
Caçapava lugar de se atravessar a mata[14]
Caraguatatuba ajuntamento de gravatás[15]
Catanduva ajuntamento de mata dura, isto é, de cerrado[16]
Curitiba ajuntamento de pinheiros[17]
Embu-Guaçu cobra grande[18]
Guararema pau-d'alho[19]
Guaratinguetá muitas garças[19]
Ibirapuera árvores velhas[20]
Iguaçu rio grande[21]
Iguatemi rio das canoas emproadas[22]
Indaiatuba ajuntamento de indaiás[22]
Ipanema rio amarelo, aziago, azarado, sem peixes[23]
Ipiranga rio vermelho[4]
Itabira pedra levantada[24]
Itaboraí rio das pedras brilhantes[24]
Itaim pedregulho[25]
Itaipu rio barulhento das pedras[25]
Itamarati rio das pedras pequenas[26]
Itacoatiara pedra pintada[24]
Itajaí rio das pedras que emergem
Itanhaém bacia de pedra (alusão a um aspecto do relevo fluvial da região)[26]
Itapetinga laje de pedra branca, pedra achatada branca[4]
Itapeva pedra chata (laje)[27]
Itaporanga pedra bonita[28]
Itaquaquecetuba ajuntamento de taquara-faca[28]
Itaquera pedra dormente, asilo de pedra[28]
Itararé bica que corre por cima ou por baixo de uma rocha[28]
Itatiaia pedra cheia de pontas[29]
Itatiba ajuntamento de pedras[30]
Itumbiara caminho da cachoeira, caminho das aguas
Iturama região de cachoeiras[31]
Jericoacoara tocas das tartarugas[32]
Ji-Paraná rio dos machados[33]
Mandaguari espécie de abelha[34]
Manhuaçu algodoeiros grandes[35]
Manhumirim algodoeiros pequenos[35]
M'Boi Mirim cobra pequena[4]
Pará rio grande[36]
Paraíba rio ruim[36]
Paraibuna rio ruim e escuro[36]
Paraitinga rio ruim e claro[36]
Paraná rio[36]
Paranaguá enseada do mar[11]
Paranapanema rio ruim, imprestável, de navegação difícil[37]
Pavuna lagoa escura[38]
Pejuçara caminho comprido[38]
Pindamonhangaba lugar de fazer anzóis[39]
Piracicaba lugar de chegar dos peixes[40]
Pirassununga estrondo de peixes[41]
Ponta Porã ponta bonita
Saquarema caramujos fedorentos[42]
Sorocaba rasgadura (da terra)[43]
Suarão (praia em Itanhaém) estrela Sirius[43]
Tabapuã aldeia redonda[4]
Taguatinga barro amarelo claro[44]
Tatuapé caminho de tatus[45]
Taubaté pedras altas[45]
Tijuca brejo, charco, água podre[45]
Ubatuba ajuntamento de canas-ubás, ou ajuntamento de canoas[46]
Uberaba água brilhante[47]
Uiraúna pássaros pretos[47]
Votorantim morro pontudo[48]
Votuporanga morro bonito[48]

Referências

  1. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 538-606.
  2. M.V. Dick
  3. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 538.
  4. 4,0 4,1 4,2 4,3 4,4 4,5 NAVARRO, E. A. Método moderno de tupi antigo: a língua do Brasil dos primeiros séculos. Terceira edição. São Paulo. Global. 2005. 463 p.
  5. Rodrigues, Aryon Dall'Igna. 1986. Línguas brasileiras: Para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Loyola. (PDF)
  6. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 541.
  7. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 542.
  8. 8,0 8,1 NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 543.
  9. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 544.
  10. 10,0 10,1 NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 545.
  11. 11,0 11,1 11,2 11,3 NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 547.
  12. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 548.
  13. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 549.
  14. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 550.
  15. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 554.
  16. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 556.
  17. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 559.
  18. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 560.
  19. 19,0 19,1 NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 563.
  20. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 566.
  21. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 567.
  22. 22,0 22,1 NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 568.
  23. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 569.
  24. 24,0 24,1 24,2 NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 571.
  25. 25,0 25,1 NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 572.
  26. 26,0 26,1 NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 573.
  27. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 574.
  28. 28,0 28,1 28,2 28,3 NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 575.
  29. ECOMEK Consultoria Empresarial e Meio Ambiente (2013). «Plano de Manejo do Parque Nacional de Itatiaia - Encarte 3» (PDF). ICMBio. Consultado em 11 de fevereiro de 2019 
  30. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 576.
  31. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 577.
  32. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 581.
  33. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 582.
  34. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 076.
  35. 35,0 35,1 NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 585.
  36. 36,0 36,1 36,2 36,3 36,4 NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 590.
  37. Wikicionário: Paranapanema
  38. 38,0 38,1 NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 591.
  39. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 592.
  40. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 593.
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  42. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 597.
  43. 43,0 43,1 NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 598.
  44. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 599.
  45. 45,0 45,1 45,2 NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 602.
  46. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 604.
  47. 47,0 47,1 NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 605.
  48. 48,0 48,1 NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 606.

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