Predefinição:Medicina alternativa
Reflexologia ou zonaterapia é uma prática de terapêutica alternativa pseudocientífica que consiste na aplicação de pressão nos pés e nas mãos de forma a produzir em efeito noutra parte do corpo. A pressão é aplicada com o polegar, dedos e mãos segundo técnicas específicas e sem a utilização de óleos ou loções.[1]
A reflexologia é uma pseudociência que se baseia na crença de que cada órgão ou parte do corpo está representado ou refletido nas plantas das mãos e dos pés, e que exercer pressão nestes locais provoca alterações físicas no resto do corpo.[2][3] Não há evidências científicas de que a reflexologia seja eficaz no tratamento de qualquer doença ou condição médica.[4]
Mecanismo
Não há evidências para a afirmação de seus efeitos, ou de qualquer base científica ou demonstrativa para as suas hipóteses. Assim como outras pseudociências sem qualquer efeito provado além de placebo, se seus pacientes dependerem apenas dela ou até rejeitarem tratamentos médicos efetivos, aumenta o risco de saúde do paciente.
Em 2009, uma revisão sistemática de experimentos aleatórios controlados concluiu que "A melhor evidência existente até o momento não demonstra que a reflexologia é eficaz no tratamento de qualquer condição médica".[5]
A afirmação de que a reflexologia pode manipular energia (qi) sempre foi extremamente controversa, já que não há nenhuma evidência científica mostrando a existência dessa energia (Ki ou "meridianos") no corpo.[2]
Classificação por "áreas reflexas"
As principais áreas reflexas trabalhadas são: as mãos (reflexo palmar); os pés (reflexo podal); as orelhas (reflexo auricular); a coluna (reflexo vertebral); a face (reflexo facial); e o crânio (reflexo cranial); e separadamente reflexos da boca, dentes e nariz.
Na coluna vertebral
A técnica das percussões da coluna vertebral consiste em efetuar suaves golpes (percussões) com o dedo médio fletido, atingindo áreas sobre a apófise espinal de vértebras escolhidas (e/ou nas regiões inter e paravertebrais) com a polpa do dedo médio, estando a unha cortada o mais rente possível. Alguns autores também propõem a estimulação elétrica das mesmas áreas com corrente elétrica sinusoidal.[6]
Nos pés
Os praticantes desta técnica (podorreflexoterapia) acreditam que existem pontos nos pés que refletem a situação da saúde do corpo humano por inteiro. Por isto, estimulam-se estas áreas para aliviar dores, distúrbios orgânicos, emocionais (leves) e de várias partes do corpo, gerando, assim, um grande equilíbrio corporal, da maneira mais simples possível.
Sir William Osler (12 de Julho, 1849 – 29 de Dezembro, 1919), médico canadense, sendo um dos ícones da medicina moderna, chamado por vezes de "pai" dela, era um conhecedor e defensor da reflexologia podal, tendo, um dia, afirmado que: "Quando os nervos dos olhos e dos pés forem corretamente entendidos, haverá menos necessidade de intervenções cirúrgicas".
Nas mãos
O mesmo princípio se aplicaria às mãos. Nas mãos e nos pés, a região mais próxima à ponta dos dedos corresponderia à cabeça e a região mais próxima ao pulso e ao tornozelo à região do quadril. Observe-se que recentemente vem se desenvolvendo um sistema equivalente à acupuntura, com aplicações de agulhas na mão (Korio Soo-Ji-Chim). Atribui-se sua origem ao coreano Tae Woo Yoo em 1975.
Nas orelhas
A auriculopuntura é uma da técnicas de estimulação, de origem chinesa, para a qual se tem testado hipóteses quanto ao seu mecanismo de ação através da reflexologia, especialmente por conexões anatômicas, já identificadas, do pavilhão auricular com o sistema nervoso autônomo - SNA, (ver ilustração). Observe-se porém que somente a presença das referidas conexões nervosas não são condição suficiente para uma explicação de seu efeito terapêutico. Requer-se ainda experimentos do tipo duplo-cego avaliando-se modificações autonômicas e/ou clínicas comparando esta estimulação com outras formas de modificação do SNA, e que também ainda não existe um consenso quanto aos pontos auriculares e seus efeitos. A auriculoacupuntura, portanto é uma possibilidade terapêutica que se fundamenta na medicina tradicional chinesa e experiências empíricas com poucos resultados publicados.
Identidade e diferenças
Não há consenso entre os reflexologistas sobre como a reflexologia deve funcionar. A ideia relativamente generalizada é a de que algumas áreas no pé, ou da mão etc. correspondem a outras áreas do corpo, e que, manipulando-as, pode-se melhorar a saúde através do "chi", como definido nas concepções chinesas. Uma suposta explicação é que a pressão recebida pelo pé (ou outra parte do corpo) pode enviar sinais que "equilibram" o sistema nervoso ou liberam mensagens químicas como a endorfina, que reduz o estresse e dores.[7] Tal hipótese é, sem dúvida, incipiente quanto à abrangência do total de possibilidades de efeitos fisiológicos que podem ser obtidos por um amplo e mal compreendido conjunto de técnicas tanto originado em sistemas etnomédicos como em teorias baseadas em experiência clínica de distintos profissionais.
Esta e outras hipóteses isoladas (sem compor uma sistema teórico) são rejeitadas pela grande maioria da comunidade médica, que incluem a reflexoterapia e mesmo as tradições orientais como pseudociência, a exemplo dos editores da revista "Nature" (2007).[8] Por outro lado, descartando os limites da aplicação da nossa concepção ocidental de ciência a conhecimentos e práticas fundamentadas em sistemas mítico-religiosos de povos ditos primitivos ou não ocidentais, temos que responder à pergunta/hipótese enunciada por Barros [9]: Página Predefinição:Quote/styles.css não tem conteúdo.
Por que médicos com formação na escola médica alopática, que contam com a definição e reconhecimento claros de sua prática pela sociedade, optam por desenvolver alguma técnica ou racionalidades das medicinas não biomédicas?
Naturalmente que não obteremos, como ele mesmo apontou, uma só resposta. Na sua revisão conceitual e investigação empírica, identificou três classes de profissionais de saúdeː
- os exclusivamente fiéis à tradição biomédica;
- profissionais "convertidos" ao sistema explicativo adotado;
- profissionais "híbridos", que tentam conciliar sua especialização à prática de outra racionalidade médica.
Contudo, esta ponderação nos permite compreende o complexo sistema de práticas e teorias que podemos designar por reflexologia(s) e reflexoterapia(s).
História
O termo reflexo, possui uma longa história de aplicações na história da ciência, entre estas a teoria do "ato reflexo" [10] de René Descartes (1596-1650). Este conceito possui ampla aplicação no exame neurológico e intervenções terapêuticas, a exemplo da fisioterapia pediátrica [11] e psicologia, contudo não deve ser confundido com os diversos empregos que o termo possui na atualidade como se fosse uma disciplina científica independente.
Observe-se que a utilização do termo "reflexo" possui vários significados e diferentes usos na história da medicina, além da clássica e conhecida reflexologia pavloviana ou de origem russa. Ivan Pavlov (1849-1936), recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1904, sendo notabilizado pela teoria do reflexo condicionado e por ter evidenciado o padrão básico na regulação reflexa da atividade dos órgãos.[12]
Como referido, identifica-se nas concepções de René Descartes (1596-1650) da fisiologia dos movimentos musculares, uma das mais antigas utilizações deste termo.[13] É comum, e talvez seja esta a origem dos diversos sistemas terapêuticos denominados por reflexologia no ocidente, a citação da utilização deste conceito pelo médico americano William Fitzgerald (1872–1942), que teria iniciado a reflexologia a partir de suas observações no Hospital St. Francis de Connecticut (Estados Unidos), onde ocupou o cargo de chefe do departamento de otorrinolaringologia.[14][15] O doutor Fitzgerald, juntamente com Edwin F. Bowers, são autores do livro "Zone therapy; or, Relieving pain at home" (publicado em 1917 por I. W. Long, Publisher e disponível na California Digital Library), que, como o nome indica, destacava o efeito analgésico de estimulações em determinadas áreas (zonas) do corpo.
Outra atribuição de origem vem do integrante do Hospital Laennec de Paris da década de 50, Louis Van Steen, que praticava a técnica de estimulação direta da coluna vertebral, tanto influenciado pelas concepções de dermátomos como pela medicina chinesa divulgada na França por G. Soulié de Morant (1878-1955). Este autor nos aponta, como origem, o "Traité de reflexothérapie" de Albert Leprince (1924) e as contribuições do doutor Albert Abrams (1863–1924), autor do livro "Spondylotherapy, physio and pharmaco-therapy and diagnostic methods based on a study of clinical physiology" (publicado pela Philopolis Press em 1918 - disponível na Open Library), pelo que consta, inspirado nas técnicas da osteopatia e quiropraxia.[6]
O Do In, de origem japonesa, e o Tui Na, de origem chinesa, são notavelmente semelhantes aos procedimentos de algumas técnicas também conhecidas como reflexoterapia, embora fundamentem-se em concepções das tradições orientais relativamente próximas entre si e distintas das concepções científicas da medicina ocidental.
Referências
- ↑ «Massage, reflexology and other manual methods for managing pain in labour». Cochrane Collaboration. Consultado em 2 de maio de 2015
- ↑ 2,0 2,1 Barrett, Stephen (25 de setembro de 2004). «Reflexology: A close look». Quackwatch. Consultado em 12 de outubro de 2007
- ↑ Kunz, Kevin; Kunz, Barbara (1993). The Complete Guide to Foot Reflexology. [S.l.]: Reflexology Research Project
- ↑ Ernst E (2009). «Is reflexology an effective intervention? A systematic review of randomised controlled trials». Med J Aust. 191 (5): 263–6. PMID 19740047
- ↑ Ernst E (2009). «Is reflexology an effective intervention? A systematic review of randomised controlled trials». Med J Aust. 191 (5): 263–6. PMID 19740047
- ↑ 6,0 6,1 VAN STEEN, L. O reflexo vertebral, técnica das percussões e terapêutica. SP, Andrei, 1983
- ↑ «What is Reflexology?». Consultado em 26 de novembro de 2006 (WOT score is marked as dangerous)
- ↑ Nature (editorial) Hard to swallow, is it possible to gauge the true potential of traditional Chinese medicine? Nature 448, 105-106 (12 July 2007)
- ↑ BARROS, Nelson Felice. Medicina complementar, uma reflexão sobre o outro lado da prática médica. SP, Annablume: FAPESP, 2000
- ↑ MURTA, Claudia; FALABRETTI, Ericson. O autômato: entre o corpo máquina e o corpo próprio. Nat. hum., São Paulo , v. 17, n. 2, p. 75-92, 2015 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302015000200004&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 28 jul. 2019.
- ↑ GRAVE, Magali Teresinha Quevedo; SARTORI, Vanessa. Avaliação de crianças nascidas pré-termo a partir dos reflexos neonatais, frequência respiratória e doenças associadas. Caderno pedagógico, Lajeado, v. 9, n. 2, p. 139-151, 2012 disponível em http://www.univates.br/revistas/index.php/cadped/article/view/862 Aces. jul 2019
- ↑ Ivan Pavlov – Facts. NobelPrize.org. Nobel Media AB 2019. Fri. 26 Jul 2019. <https://www.nobelprize.org/prizes/medicine/1904/pavlov/facts/>
- ↑ PESSOTTI, Isaias. Pré História do condicionamento. SP, Hucitec, 1976
- ↑ Modern Institute of Reflexology. History of Dr. William Fitzgerald MD HTML Acesso, Jan. 2015
- ↑ IIR - International Institute of Reflexology. The History Of Reflexology HTML Acesso, Jan. 2015
Bibliografia adicional
- I Siev-Ner, D Gamus, L Lerner-Geva, A Achiron. Reflexology treatment relieves symptoms of multiple sclerosis: a randomized controlled study. Multiple Sclerosis, Vol. 9, No. 4, 356-361 (2003).
- Hodgson, H. "Does reflexology impact on cancer patients' quality of life?," Nursing Standard, 14, 31, pp. 33-38.
- Ji-Eun Han, Master, RN, Young-Im Moon, PhD, and Ho-Ran Park, PhD. College of Nursing, Catholic University of Korea, Seoul, none, South Korea, "Effect of Hand Massage on Nausea, Vomiting and Anxiety of Childhood Acute Lymphocytic Leukemia with High Dose Chemotherapy," Presented at Back to Evidence-Based Nursing: Strategies for Improving Practice, Sigma Theta Tau International, July 21, 2004.