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Pucobié-gavião

Pucobié-gavião
(Gavião Pykopjê, Gavião do Maranhão, Gavião Pukobiê, Gavião do Leste, Timbira, Pykopcatejê)
População total

769

Regiões com população significativa
 Brasil (MA) 769 Siasi/Sesai, 2014[1]
Línguas
timbira
Religiões

Os Pucobié-gavião, também conhecidos como "Pykopcatejê", "Pukobiê" e "Gavião do Maranhão" são um povo indígena do grupo dos timbiras. Seu dialeto é o Timbira, da família , os Pucobié se localizam no sudoeste do estado do Maranhão.

Denominação

Os Pukobyê utilizam a autodenominação Pykopcatejê quando fazem referência a si mesmos.[2]

Os demais povos Timbira os chamam também de Pukobyê. Os seus vizinhos Krikati se referem a eles como Iromcatejê, que significa “os da mata”, indicando o meio ambiente dominado pelos Gaviões, termo mais utilizado pela população regional.[2]

Os Pukobyê fazem parte do tronco linguístico macro-jê e do grupo dos timbiras. [3]

Os timbiras, por sua vez, se dividem entre os ocidentais na margem esquerda do rio Tocantins (Apinajé, no Tocantins) e orientais na margem direita do rio Tocantins (Gavião Parakateyê no Pará; Gavião Pukobyê, Krikati, Canela, Krenyê, Krepumkateyê, no Maranhão; Krahô, no Tocantins).[3][4]

Língua

O dialeto pukobyê faz parte do conjunto de dialetos da língua timbira, da família Jê, no tronco Macro-Jê.[5]

História

O etnólogo Nimuendaju menciona que os Pukopyê como um dos povos timbiras que viviam até além do alto rio Grajaú e na margem esquerda do Rio Santana a sua margem esquerda em cerca de cinco aldeias por volta de 1819.[2]

A expansão da pecuária na região, entre o final do século XVIII até meados do século XIX, é marcada por grandes conflitos com os indígenas da região, sendo os Pukobyê mencionados como os mais aguerridos dos grupos Timbira, impedindo a ocupação da região pelos criadores de gado.[2]

Após muitas lutas, por volta de 1850, os Pykopjê foram enfim dominados. A região foi definitivamente ocupada com a fundação da cidade de Imperatriz em 1852.[2]

Nimuendaju relata que os Gavião do Pará (ou Paracatejê, Gaviões do Oeste) faziam parte do grupo Pykopjê (ou Gaviões do Leste) e se constituíram como um grupo autônomo em razão de discordância do processo de paz com os colonizadores, separando-se em dois grupos.[2]

A partir da década de 1950, com o início das obras de construção da rodovia Belém-Brasília, ocorre uma valorização das terras da região e uma nova onda de ocupação por uma frente agrícola por fazendeiros de outros estados, o que provocou tensões e conflitos com pequenos lavradores regionais e indígenas.[2]

Em 1976, há um ataque de um fazendeiro contra a aldeia Rubiácea, incendiando todas as casas, levando os moradores a abandoná-la e a buscar refúgio na aldeia Governador.[2]

Após esse episódio, a FUNAI iniciou o processo de demarcação da Terra Indígena Governador, cujos limites foram definidos em 1977 e a área homologada em 1982.[2]

Mitologia e cultura

Para os Pykopjê, como para os demais povos Timbira, o tempo é visto como uma sequência de verão ("amcró") e inverno ("ta’ti"), ou seja, da estação da seca (que compreende os meses de abril até setembro, aproximadamente) e da estação das chuvas (de outubro a março, aproximadamente). Estas duas estações regulam os dois períodos cerimoniais da vida social e o conjunto das atividades produtivas.

As festas ("amji kin"", que significa "alegrar-se") Pykopjê são relativas ao ciclo anual (festa do milho ou Cyjxut, da batata-doce, da mudança da estação do ano), à iniciação dos jovens, à regulamentação das relações de parentesco e interpessoais (como a festa do peixe, do papa-mel, das máscaras), as festas relativas à assunção ou à entrega da dignidade de "vyty" (menino ou menina ritualmente associado aos indivíduos do sexo oposto da aldeia) ou ainda as festas e pequenas cerimônias relativas ao ciclo vital de um indivíduo (como o fim de resguardo do casal pelo nascimento de filhos e ritos de reintrodução de alguém que ficou afastado por muito tempo do convívio na aldeia, por doença ou luto).

Há também a Cohcuj, festa onde grupos fazem papel de crianças, onde choram, gritam, pulam e pedem; Pôhyh’pry, uma festa onde acontece o jogo de peteca, que é feita com palha de milho; Ruurut, relacionada com a reclusão de jovens. [6]

As máscaras elaboradas feitas de palha de buriti são essenciais em vários rituais.[7]

Criação da humanidade

No começo, Pyhtry (Sol) e Pyht (Lua) viviam sozinhos na terra. Foi plantada uma semente de cabaçada e germinaram duas cabaças. Uma das cabaças cresceu e se tornou moça. Pyhtry a pegou, levou para casa e depois saiu para caçar, para que pudessem se deitar à noite. Ao meio-dia, Pyht foi até a casa de Pyhtry e viu a linda moça. Atormentou-a até que lhe tirou a virgindade. Pyhtry voltou para casa após caçar um caititu e a moça lhe contou o que houve, mas ele não se zangou. Pyhtry pensou então que deveria fazer uma esposa para Pyht. Assim o fez, mas advertiu Pyht que ele só deveria ter relações sexuais com sua esposa depois de caçar e trazer um pedaço de carne para a moça. Na ausência de Pyht, Pyhtry foi até a moça e lhe tirou a virgindade. [8]

No dia seguinte, Pyht retornou trazendo jabutis para esposa e ela lhe contou o que houve. Ele ficou com muita raiva e começou a bater nela. A irmã veio em sua defesa, brigaram e arranharam o rosto de Pyht. Pyhtry então apareceu e acabou com a briga. No dia seguinte, fizeram as pazes e ficaram ali morando, até que decidiram fazer suas roças.[8]

Na roça de Pyhtry, não era ele que trabalhava, pois colocava as ferramentas para trabalharem sozinhas. Pyht ouviu o barulho das ferramentas trabalhando e foi espiar. Ao chegar lá, as ferramentas pararam de trabalhar e Pyhtordenou que trabalhassem mais. Como não lhe obedeceram, Pyht pegou o machado e bateu na madeira, porque ele não trabalhava mais. Desde então, as ferramentas passaram a não trabalhar mais sozinhas e por isso as pessoas precisam se esforçar para trabalhar.[8]

Há várias narrativas entre os Pukobyê sobre o Sol e Lua. Em uma delas Pyhtry e Pyht estavam chupando laranja. Pyhtry jogou o bagaço no riacho e ele afundou e subiu de volta. Sol explicou para a Lua que, quando as pessoas morressem, seria assimː afundando e depois voltando para fora. Lua discordou, pegou uma pedra e jogou no riacho. Disse que quando as pessoas morressem, elas simplesmente afundariam.[8]

Caxiicwyj

No passado, as pessoas tinham de comer cupim, lagarta de pau e pau podre. Um homem ainda não tinha se casado e vivia sozinho no pátio da aldeia, gritando e chamando os companheiros, que não vinham e já tinham se casado. Caxiicwyj, a mulher estrela, teve pena e desceu do céu na forma de um sapo. Ela tentava subir na barriga do homem, que estava deitado no pátio, mas ele a empurrava. Caxiicwyj então resolveu revelar que tinha descido do céu e o tinha escolhido para ser seu marido porque ele vivia sozinho.[8]

Caxiicwyj pediu que o homem construísse um jirau alto e pegasse um mocó para que pudesse se esconder. A irmã do homem sempre ouvia as conversas dois durante à noite e, num dia em que todos tinha saído para uma corrida de toras, contou à sua mãe que estava desconfiada da situação, pois nunca via com quem o irmão estava conversando. A irmã então subiu no jirau e abriu o mocó, descobrindo Caxiicwyj, que era bem branca e colocou o mocó para fora de casa. Quando o homem voltou da corrida de toras, Caxiicwyj estava envergonhada e lhe contou tudo, dizendo que deviam partir para outro lugar.[8]

Quando partiram, ela revelou o que tinha para dizer a ele, mostrando a bacaba, o milho, o arroz, a abóbora, e outros alimentos que o Pukobyê não comiam. Ela preparou os alimentos e deu para o homem comer. Ela disse que o homem deveria reunir seus parentes para derrubar os pés de milho. Ele assim o fez e eles passaram a comer todos os tipos alimentos. Depois Caxiicwyj ensinou como colher e preparar o milho, e mostrou os outros alimentos, pois tinha pena do que eles comiam.[8]

Vingança contra o gavião

Havia uma gavião gigante (Hýc teh) que atacava as pessoas de uma aldeia. Um dia, um ser celestial chamado Caxýtprep desce a terra e leva os membros da aldeia que estavam cuidando da roça e da caça para morar no céu, pelo sofrimento causado pelo gavião. Dois irmãos e seus avós, que estavam na aldeia, acabaram não sendo levados e ficaram na terra.[8]

Os dois jovens se submetem a um regime recluso no ehjcreere, sob os cuidados do avós, onde crescem rapidamente e ficam fortes, aprimorando suas habilidades. Um dia, avó os libertou do ehjcreere, pintou seus corpos, levou-os para uma corrida de toras e cantaram ao redor da aldeia.[8]

Movidos pelo sentimento de vingança, vão em busca dos animais que matavam seus parentes. Mataram a cobra gigante com várias flechadas e queimam seu corpo; matam o cohtap'teh, que pulava da água para pegar seus parentes e voltara para ela para comê-los. Armaram um plano e vão até o ninho do grande gavião Hýc teh. Ao conseguir matá-lo, tiram suas penas e diversas espécies de pássaros surgem através delas, queimam seu corpo e voltam para aldeia. Depois, tentam matar Cooh cýx, a grande rasga-mortalha, mas o irmão mais novo acaba sendo morto por ela.[8]

Abalado com a morte, o irmão mais velho decide deixar sua família e parte da aldeia. Andou até que encontrou a aldeia de cohpe cup (mosca que senta em coisa podre), onde conhece uma moça que depois se tornaria sua esposa.[8]

Essa narrativa explica a participação dos hycre em um dos ritos de iniciação dos Pukobyê, o wyty.[8]

Festa Wyty

A Festa Wyty (ou Festa do Gavião) é um ritual de escolha de uma menina que recebe a dignidade de wyty, a qual lhe confere respeito e algumas restrições. A festa marca uma nova fase na vida da menina, que recebe um sobrenome especial.[9]

Além da menina, dois jovens são escolhidos como gavião (hycre) e um menino é escolhido como pintinho (ehntoo). Os meninos ficam reclusos na casa materna da wyty por cerca de cinco meses e aprimoram atividades exclusivas dos homens (caça, pesca, corrida de toras). Penas de gavião são coladas em seus corpos com resina, além de serem pintados com urucum. A menina também é enfeitada com plumas e adereços.[8]

O ritual de Wyty possui uma organização complexa, envolvendo grande distribuição de alimentos, expedições de caça e pesca, danças, disputas, corrida de toras.[8]

No final das festividades, os gaviões e a menina são apresentados à aldeia.[8]

Corrida de toras

Entre os Pukobiê, a corrida de toras é realizada em diversos rituais, sendo feitas de diversos modelos, como a tora conhecida como Pỳrpej, que é feita da árvore Barriguda.[7]

É realizada uma disputa que consiste em uma corrida entre dois grupos de homens ou mulheres, onde a tora vai sendo revezada entre os participantes.[7][10]

As toras também personificam os mortos homenageados no ritual que celebra o fim do luto, sendo depositadas no pátio após a corrida.[7]

Referências

  1. Instituto Socioambiental. «Quadro Geral dos Povos». Enciclopédia dos Povos Indígenas no Brasil. Consultado em 17 de setembro de 2017 
  2. 2,0 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5 2,6 2,7 2,8 «Gavião Pykopjê - Povos Indígenas no Brasil». pib.socioambiental.org. Consultado em 22 de novembro de 2021 
  3. 3,0 3,1 Valeria Moreira Garcia Vilar Veiga; Alberto Pedrosa Dantas Filho. «UFMA». UM RITUAL NA VIDA DO POVO RAMKOKAMEKRÁ CANELA: CORRIDA COM TORA 
  4. Carlos Eduardo Penha Everton; Marinete Moura da Silva Lobo. «INSTITUTO FEDERAL DO MARANHÃO». Temas Indígenas: Diálogos Interculturais no IFMA Campus Barra do Corda 
  5. «Canela Ramkokamekrá - Povos Indígenas no Brasil». pib.socioambiental.org. Consultado em 16 de novembro de 2021 
  6. Maycon Melo –. «A inconstância da superfície: notas da expressão visual entre os Gavião Pyhcopcatiji (Timbira Orientais\MA)1» (PDF) 
  7. 7,0 7,1 7,2 7,3 Centro Trabalhista Indígena. «Cultura Timbiraː nossas cores e saberes» (PDF) 
  8. 8,00 8,01 8,02 8,03 8,04 8,05 8,06 8,07 8,08 8,09 8,10 8,11 8,12 8,13 8,14 Maycon Henrique Franzoi de Melo. «O Nome e a Peleː nominação e decoração corporal Gavião (Amazônia Maranhense)». UFMA (2017). Universidade Federal do Maranhão 
  9. «Gavião de Maranhão — Pykopcatejê (Pykopjê) – Indigenas do Brasil» (em English). Consultado em 23 de novembro de 2021 
  10. Centro de Trabalho Indigenista. «Cultura Viva Timbiraː Nossas Corridas de Tora» (PDF) 

Ligações externas

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