O Trabalho é um dos mais antigos jornais da imprensa operária ainda em circulação no Brasil editado sem interrupções desde 1978, em plena ditadura militar no Brasil, é um jornal auto-sustentado que desde sua primeira edição é mantido pela contribuição dos próprios trabalhadores, mantendo o princípio de independência financeira diante da classe capitalista. O Jornal O Trabalho (JOT) é órgão de imprensa da corrente O Trabalho do PT e da Seção Brasileira da Quarta Internacional, formada por militantes trotskistas que rejeitaram a política do "entrismo sui generis" aplicada por Michel Pablo a partir de 1953 nas seções da IV Internacional.[1][2]
Em 2022, seu principal dirigente era o economista Markus Sokol, que na época da luta armada integrou a Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares (VAR – Palmares)[3].
Origem
Em novembro de 1976, ocorreu uma reunião na cidade de Praia Grande/SP na qual foi decidida a fusão entre a Fração Bolchevique-Trotskista, a Organização de Mobilização Operária e o Grupo Outubro. Dessa fusão surgiu a Organização Marxista Brasileira (OMB). Posteriormente a OMB fundiu-se com a Organização Comunista 1° de Maio, o que deu origem à Organização Socialista Internacionalista (OSI)[3].
No final dos anos 70, várias organizações que reivindicavam o legado trotskismo no Brasil uniram-se ao Comitê Internacional pela Reconstrução da Quarta Internacional - CORQUI, que tinha como um de seus principais dirigentes Pierre Lambert. Da unificação desses grupos surgiu a Organização Socialista Internacionalista - OSI, que em 1981 ingressou no Partido dos Trabalhadores. A Organização Socialista Internacionalista - OSI então tornou-se uma corrente interna ao PT, adotando o nome do seu periódico, O Trabalho[2].
O jornal circulou pela primeira vez no dia 1º de maio de 1978, durante o período da ditadura militar brasileira, teve como jornalista e escritor Paulo Moreira Leite[3]. Grande parte de seu relativo prestígio na esquerda brasileira dava-se por suas ligações com a corrente estudantil "Liberdade e Luta", conhecida como "Libelu", que ficou muito conhecida por ser uma das primeiras organizações a levantar a palavra de ordem "Abaixo a Ditadura"[2].
Durante a Ditadura Militar o jornal foi perseguido pelo Serviço Nacional de Informações por seu posicionamento anti-racista[4].
Unificação com a Convergência Socialista
No início dos anos 80, logo depois que a OSI ingressou no PT (após um curto período de vacilação), houve uma tentativa frustrada de unificação com a Convergência Socialista, atualmente PSTU. O fracasso dessa tentativa é até hoje motivo de polêmica entre os dois grupos; os "morenistas" (como se intitulam os membros do PSTU) afirmam que a organização francesa ligada a O Trabalho (OCI), havia "capitulado" ao recém eleito governo de François Mitterrand na França, da coalizão PS/PCF. Já os partidários de Pierre Lambert negam qualquer "capitulação", afirmando que os "morenistas" têm uma compreensão equivocada da política de Frente Única, elaborada por Lênin e Trotsky no terceiro Congresso da Internacional Comunista[5]. Essas diferenças afastaram os dois grupos até os dias de hoje, como expressam a permanência de O Trabalho na Central Única dos Trabalhadores e no Partido dos Trabalhadores e a criação da CONLUTAS pelo PSTU.
Dissolução no Partido dos Trabalhadores
Em 1986 uma forte crise atingiu O Trabalho. A maioria de sua direção à época, que tinha como seu principal expoente Luis Favre (político franco-argentino que permanece no PT), contrariando as orientações internacionais, decidiu se dissolver no interior da tendência Articulação do PT (da qual faziam parte Lula, José Dirceu e as principais lideranças do PT e da CUT) e não mais editar o jornal. Um importante grupo, particularmente em São Paulo, conseguiu manter a continuidade do jornal e da organização, que perdeu muitos militantes[5].
Cisões
Dentre as cisões dessa organização, merecem destaque:
- a de 1980, que deu origem à “Causa Operária”;
- a de 1987, na qual saíram militantes como: Luiz Favre, Glauco Arbix, Clara Ant e Antônio Palocci;
- a liderada por Heitor Cláudio que daria origem ao grupo “Combate Pelo Socialismo” que tem como referência internacional Sthéphane Just;
- de 2006, que deu origem à “Esquerda Marxista”, liderada por Serge Goulart[3].
Arquivo histórico
Parte do arquivo histórico do grupo encontra-se disponível para pesquisa no Centro Sérgio Buarque de Holanda da Fundação Perseu Abramo.
Ver também
- IV Internacional
- IV Internacional (1993)
- Organização Socialista Internacionalista
- Pierre Lambert
- A Verdade (revista)
Referências
- ↑ O Trabalho do PT, seção brasileira da 4ª Internacional - PT-DF
- ↑ 2,0 2,1 2,2 O Trabalho (OT) - Corrente Interna do Partido dos Trabalhadores - Revista Espaço Acadêmico
- ↑ 3,0 3,1 3,2 3,3 Meus Inimigos estão no Poder, autor: Renato Dias, publicado em 2017 pela RD Movimento, págs. 35-36
- ↑ Carlos Madeiro. «Repressão aos negros: Documentos mostram como a ditadura espionou movimento contra o racismo, com agentes infiltrados e perseguições». UOL Notícias. Consultado em 31 de março de 2019
- ↑ 5,0 5,1 DA SILVA, Antônio Ozaí. História das tendéncias no Brasil: origens, cisões e propostas. Proposta Editorial. São Paulo, 1986.