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Métrica (poesia)

Métrica é a medida do verso. O estudo da métrica chama-se metrificação e escansão é a contagem dos sons dos versos.[1] As sílabas métricas, ou poéticas, diferem das sílabas gramaticais em alguns aspectos.

Tipos de canções, versos e poesias

Para contar corretamente as sílabas poéticas, deve-se seguir os seguintes preceitos:

  • Não se contam as sílabas poéticas que estejam após a última sílaba tônica do verso;
  • Ditongos têm valor de uma só sílaba poética;
  • Duas ou mais vogais, átonas ou até mesmo tônicas, podem fundir-se entre uma palavra e outra, formando uma só sílaba poética.

Às várias orações dividindo as sílabas métricas em determinado verso podem ser atribuídos nomes:

Monossílabo

Verso com uma sílaba métrica, como na balada Gentil Sofia, de Bernardo Guimarães:[2]

1
Ma (nha),

Dissílabo

Verso com duas sílabas métricas, como os presentes em A valsa, de Casimiro de Abreu:[3]

1 2
Na dan (ça)

Trissílabo

Verso com três sílabas métricas, tendo como exemplo o presente no poema Trem de Ferro, de Manuel Bandeira:[4]

1 2 3
Voa, fu ma (ça)

Tetrassílabo

Verso com quatro sílabas métricas, como em um poema de Almanaque das Musas, de Caldas Barbosa:[5]

1 2 3 4
Ou ço_al to can (to)

Pentassílabo

Verso com cinco sílabas métricas, também conhecido como redondilha menor, presente na quarta parte de I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias:[6]

1 2 3 4 5
Dei xa- me vi ver!

Hexassílabo

Verso com seis sílabas métricas, também conhecido como heroico quebrado, encontrado no poema A Canção de Romeu, de Olavo Bilac:[7]

1 2 3 4 5 6
A bre_a ja ne la ... a cor (da!)

Heptassílabo

Verso com sete sílabas métricas, também conhecido como redondilha maior, como em Cantiga sua partindo-se, de João Roiz de Castel-Branco:[8]

1 2 3 4 5 6 7
Se nho ra, par tem tão tris (tes)

Octossílabo

Verso com oito sílabas métricas, presente em O bestiário ou cortejo de Orfeu, de Guillaume Apollinaire:[9]

1 2 3 4 5 6 7 8
Ad mi rem o po der no (vel)

Eneassílabo

Verso com nove sílabas métricas, presente ao longo do Hino ao Senhor do Bonfim, de Arthur de Salles e João Antônio Wanderley:[10]

1 2 3 4 5 6 7 8 9
Nos sos pais con du zis te_à vi (ria)

Decassílabo

Verso com 10 sílabas métricas, como em Alma minha gentil, que te partiste, de Luís de Camões:[11]

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Não te_es que ças da que le_a mor ar den (te)

Heroico

Decassílabo com sílabas tônicas nas posições 6 e 10, como ao longo d'Os Lusíadas, também de Luís de Camões:[12]

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
As ar mas e_os ba rões as si na la (dos)

Sáfico

Decassílabo com sílabas tônicas nas posições 4, 8 e 10, tendo como exemplo este verso de O Uraguai, de Basílio da Gama:[13]

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Po rém o des tro Cai tu tu que tre (me)

Martelo

Decassílabo heroico com tônicas nas posições 3, 6 e 10, como em versos da canção Procissão, de Gilberto Gil:[14]

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Mas se_e xis te Je sus no fir ma men (to)

Gaita Galega

Decassílabo com tônicas nas posições 4, 7 e 10, que recebe esse nome em função das muinheiras galegas, cantadas com acompanhamento de gaita de foles, cuja metrificação era ritmada com o instrumento, como em um dos cantares de Dom Fernão Rodrigues de Calheiros:[15]

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Ma car m'el viu, sol non quis fa lar mi (go)

Hendecassílabo

Verso com 11 sílabas métricas, presente na guarânia Índia.[16]

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Ín dia teus ca be los nos om bros ca í (dos)

Galope à beira-mar

Hendecassílabo com tônicas nas posições 2, 5, 8 e 11, que recebeu esse nome em função da parecença de seu ritmo com o galope e as ondas do mar, tendo seu nome sido inspirado no poema Galope à beira-mar para a mulher amada, de Artur Eduardo Benevides:[17]

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Can tan do_um ga lo pe na bei ra do mar!

Dodecassílabo

Verso com 12 sílabas métricas, como os do poema Domínio Régio, de Jorge de Lima:[18]

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Ins pi ra do_a pen sar em teu per fil di vi (no)

Alexandrino

Verso dodecassílabo que possui tônicas na sexta e na décima segunda sílaba, formando dois hemistíquios, como no poema Spleen, de Baudelaire.[19]

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Do bu fão fa vo ri to_a gro tes ca ba la (da)

Bárbaro

Verso com mais de 12 sílabas métricas[20], como vários versos da canção Back in Bahia, de Gilberto Gil:[21]

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
Di go num ba ú de pra ta por que pra ta_é_a luz do lu ar

Note-se que, no exemplo acima, o verso com 16 sílabas métricas também admite a nomenclatura hexadecassílabo.[22][23]

Métrica antiga e clássica

Na poesia grega e latina[24], a métrica conta-se em função da quantidade das sílabas, consoante sejam breves ou longas. Ao conjunto de sílabas chama-se pé. Entre os mais divulgados contam-se o iambo, com uma sílaba breve seguida de uma longa (U—); o espondeu, com duas sílabas longas (— —); o dáctilo com uma sílaba longa e duas breves (—UU).

Dos diversos tipos de verso usados, destacam-se o hexâmetro, com seis pés, e o pentâmetro, com cinco pés. O hexâmetro classifica-se segundo o tipo do penúltimo pé: hexâmetro dactílico com o quinto pé dáctilo, e hexâmetro espondaico com o quinto pé espondeu.

Um par formado por um hexâmetro e um pentâmetro designa-se dístico elegíaco.

Métrica medieval

Na Idade Média continuou a usar-se o pé como unidade métrica. Mas nessa época a noção de quantidade já não era aplicável às sílabas na generalidade das línguas. Assim, o pé passou a contar-se em função das sílabas tônicas.[25]

Tipos de pé:
  • Troqueu - Uma sílaba tônica e uma átona;
  • Jambo - Uma sílaba átona e uma tônica;
  • Dáctilo - Uma sílaba tônica e duas átonas;
  • Anapesto - Duas sílabas átonas e uma tônica.

Na prosa também se contava a métrica, com base igualmente nas sílabas tónicas, contadas a partir do final do verso:

  1. O "cursus planus" era acentuado na 2.ª e na 5.ª (a contar do fim);
  2. O "cursus dispondaicus" tinha acentos na 2.ª e 6.ª;
  3. O "cursus velox" contava as tónicas na 2.ª e 7.ª;
  4. O "cursus tardus" era acentuado na 3.ª e na 6.ª sílabas.

Esta técnica, embora já fosse de uso corrente, foi explicitada no século XII por Alberto Morra, que viria a ser o Papa Gregório VIII, numa obra intitulada "Forma dictandi quam Rome notarios instituit magister Albertus qui et Gregorius VIII, papa".

Referências

  1. DUARTE, Vânia Maria do Nascimento. «Recursos da linguagem poética». Português (R7). Consultado em 17 de setembro de 2015 
  2. «Sobre versificação em língua portuguesa (2)». Curso Gratuito de Português. Consultado em 14 de setembro de 2015. Arquivado do original em 3 de março de 2016 
  3. FIORIN, José Luiz (2003). «Três questões sobre a relação entre expressão e conteúdo». Revista Itinerários, n. especial (Universidade Estadual de São Paulo). Consultado em 14 de setembro de 2015. Arquivado do original em 8 de dezembro de 2015 
  4. OLIVEIRA, Isa Maria Marques de (2013). «Percepções da Performance da Linguagem na Ciberpoesia» (PDF). CEFET - MG. Consultado em 14 de setembro de 2015 
  5. RENNÓ, Adriana de Campos (2005). Caldas Barbosa e o pecado das orelhas. [S.l.]: Arte e Ciência. 464 páginas. página 112 
  6. SILVA, Arnós Coelho da. «A agonística em Gonçalves Dias». Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos. Consultado em 13 de setembro de 2015 
  7. «Sobre versificação em língua portuguesa (5)». Curso Gratuito de Português. Consultado em 17 de setembro de 2015. Arquivado do original em 3 de março de 2016 
  8. «Humanismo Renascentista». Jornal das Tribos. 7 de agosto de 2013. Consultado em 13 de setembro de 2015. Arquivado do original em 3 de março de 2016 
  9. GUILLAUME, Apollinaire (trad. Álvaro Faleiros) (1997). Bestiário ou Cortejo de Orfeu. [S.l.]: Iluminuras. 125 páginas. páginas 15 e 27 
  10. ANDRADE, Enzio Gercione Soares de (2011). «"Essas pessoas na sala de jantar": espaços históricos em canções tropicalistas» (PDF). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. p. 167. Consultado em 12 de setembro de 2015 
  11. «Camões, Dinamene e Os Lusíadas - Escolhas». Homo literatus. Consultado em 14 de setembro de 2015 
  12. MOISÉS, Massaud (1968). A literatura portuguesa através dos textos. [S.l.]: Cultrix. 682 páginas. página 98 
  13. LIMA, Renira Lisboa de Moura; MOREIRA, Fernando Otávio Fiúza; SILVA, Valéria Ribeiro (s/d). A anteposição do adjetivo em A morte de Lindoia, fragmento de O Uraguai. [S.l.]: Editora UFAL. páginas 53-54  Verifique data em: |ano= (ajuda)
  14. TAVARES, Bráulio. «Os martelos de Trupizupe». Jornal de Poesia. Consultado em 16 de setembro de 2015 
  15. SPINA, Segismundo (2003). Manual de Versificação Românica Medieval. [S.l.]: Ateliê Editorial. 231 páginas. página 54 
  16. GUTEMBERG, Jaqueline Souza (2013). «Entre modas e guarânias: a produção musical de José Fortuna e seu tempo (1950-1980)» (PDF). Universidade Federal de Uberlândia. Consultado em 12 de setembro de 2015. Arquivado do original (PDF) em 8 de dezembro de 2015 
  17. MARTINS, Oswaldo Evandro Carneiro (2005). «Parecer sobre Patativa do Assaré» (PDF). Revista do Instituto do Ceará. Consultado em 15 de setembro de 2015 
  18. «Domínio Régio - Jorge de Lima». Jornal da Besta Fubana. Consultado em 12 de setembro de 2015. Arquivado do original em 3 de março de 2016 
  19. ROSENFIELD, Kathrin H.(org.);PEREIRA, Lawrence Flores (trad.) (1996). Poesia em tempo de prosa. [S.l.]: Iluminuras/FAPERGS. página 114 
  20. BERNARDI, Francisco (1999). As Bases da Literatura Brasileira - histórias, autores, textos e testes. [S.l.]: AGE. 217 páginas. página 22 
  21. GIL, Gilberto. «Back in Bahia». Gilberto Gil. Consultado em 30 de abril de 2016 
  22. «POEMA EM LINHA RETA». prezi.com (em português). Consultado em 7 de março de 2018 
  23. «Hexadecasílabo (Octonario) (verso) - Escribir Canciones». Escribir Canciones (em español). 16 de maio de 2015 
  24. MOURA, Fernanda (s/d). «Para uma tradução em verso do dístico elegíaco: Propércio, I, 14». Universidade de São Paulo. Consultado em 17 de setembro de 2015 
  25. MONTAGNER, Airto Ceolin. «Carmina Arundelliana: enquanto resplandescente brilha». Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos. Consultado em 17 de setembro de 2015. Arquivado do original em 3 de março de 2016 

Ver também

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