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Livraria Lello

Predefinição:Info/Edifício

A Livraria Lello situa-se no número 144 da Rua das Carmelitas, no Centro Histórico da cidade do Porto, em Portugal. Classificada como Monumento de Interesse Público, e em vias de se tornar Monumento Nacional[1], a Livraria Lello preserva a beleza original do seu edifício.

A fachada neogótica, a icónica escadaria vermelha, o emblemático vitral e as estantes repletas de livros das mais diversas épocas e em diferentes idiomas têm atraído milhares de visitantes[2].  

Sendo uma das mais antigas livrarias portuguesas, e em virtude do seu ímpar valor histórico e artístico, a Livraria Lello tem sido reconhecida como uma das mais bonitas livrarias do mundo por diversas personalidades e entidades, casos como o do escritor espanhol Enrique Vila-Matas, do jornal britânico The Guardian[3] , da estação televisiva CNN[4], e da editora australiana de guias de viagens Lonely Planet[5]. A revista Travel + Leisure[6] colocou, ainda, a Livraria Lello no topo da lista das livrarias mais “cool” do mundo.

História

A empresa remonta à fundação da "Livraria Internacional de Ernesto Chardron", em 1869, na Rua dos Clérigos, n.º 96-98, no Porto. Antigo empregado da Livraria Moré, o cidadão francês Ernesto Chardron alcançou projeção como editor, sendo o primeiro a publicar grande parte das obras de Camilo Castelo Branco e outras de relevo na época, como o Tesouro da Literatura Portuguesa, de Frei Domingos Vieira. Após o falecimento do fundador, aos 45 anos de idade, a casa-editora foi vendida à firma "Lugan & Genelioux, Sucessores" que, pouco depois, ficou com Mathieux Lugan como seu único proprietário. Em 1891, a Livraria Chardron adquiriu os fundos de três casas livreiras do Porto, pertencentes a A. R. da Cruz Coutinho, Francisco Gomes da Fonseca e Paulo Podestá.[7]

Fachada da Livraria Lello, após o restauro de 2016

Entretanto, em 1881 José Pinto de Sousa Lello abriu um estabelecimento, nos números 18-20 da Rua do Almada, dedicando-se ao comércio e edição de livros. A 30 de junho de 1894 Mathieux Lugan vendeu a antiga Livraria Chardron a José Pinto de Sousa Lello que, associado ao seu irmão António Lello, manteve a Chardron com a razão social de "Sociedade José Pinto Sousa Lello & Irmão". Em 1898, entrou para a nova sociedade o fundo bibliográfico da Livraria Lemos & C.ª, fundada pelos irmãos Maximiliano e Manuel de Lemos.[7]

Com projeto do engenheiro Francisco Xavier Esteves, no dia 13 de janeiro de 1906 inaugurou-se o novo edifício da Livraria Lello, no número 144 da Rua das Carmelitas, causando grande impacto no meio cultural da época. De entre as diversas figuras presentes na inauguração, encontrava-se Guerra Junqueiro, Abel Botelho, João Grave, Bento Carqueja, Aurélio da Paz dos Reis, José Leite de Vasconcelos e Afonso Costa.[8]

A 24 de maio de 1919, a razão social do estabelecimento foi alterada para "Livraria Lello e Irmão, Lda.", entrando para a sociedade Raul Reis Lello, filho de António Lello. Em 1924, entraram José Pinto da Silva Lello e Edgar Pinto da Silva Lello. Em 1930, foi a vez de José Pereira da Costa, genro de António Lello, entrar também para a sociedade, simplificando-se então o nome para "Livraria Lello". Cinco anos mais tarde, José da Costa afastou-se, recuperando-se a designação "Lello & Irmão". Raul Reis Lello faleceu em 1949 e António Lello em 1953. À frente da livraria seguiram-se, José Pinto da Silva Lello, falecido em 1971, e Edgar Pinto da Silva Lello, que faleceu em 1989.[7] A partir de 1995, o estabelecimento voltou a designar-se simplesmente "Livraria Lello".

Com o objetivo de se adaptar aos tempos presentes, em 1995, o serviço foi atualizado e informatizado, o interior da livraria foi restaurado, tendo também sido criado um espaço de galeria de arte e de tertúlia que se afirmou como um importante polo cultural da cidade do Porto.[9]

A partir de 23 julho de 2015 a entrada na livraria passou a estar sujeita a um pagamento inicial, descontado na compra de um livro.[10] O pagamento deste valor destinou-se a conter o número elevado de turistas e também a custear obras de conservação e restauro.[11] Em consequência da aplicação desta taxa, em apenas três meses, as vendas da Lello triplicaram.[12]

Em 30 de julho de 2016, foi concluída a primeira fase do restauro que incluiu a fachada, o telhado e o vitral interior. A vidraça de oito metros de comprimento por 3,5 metros de largura, composta por 55 painéis de vidro e da autoria do arquiteto holandês Gerardus Samuel van Krieken, foi desmontada pela primeira vez desde a sua existência. Foi alvo de limpeza, restauro e correção de danos oferecendo agora uma luminosidade há muito esquecida.

Em 2016, a livraria foi visitada por mais de um milhão de pessoas, o que perfaz uma média de quase três mil visitas diárias. Dos visitantes 40% foram espanhóis, 15,9% franceses, 15,2% portugueses. Seguem-se os brasileiros (6,6%), os alemães (4,6%) e os norte-americanos (3,1%).[13]

Características

Interior da Livraria com decoração neogótica e vitrais

Concebido segundo projeto do engenheiro Xavier Esteves, a Livraria Lello é um dos mais emblemáticos edifícios do neogótico portuense, destacando-se fortemente na paisagem urbana envolvente. Trata-se de um conjunto em que a arquitetura e os elementos decorativos deixam transparecer o estilo dominante no início de século XX.

A fachada apresenta um arco abatido de grandes dimensões, com entrada central e duas montras laterais. Acima, três janelas rectangulares ladeadas por duas figuras pintadas por José Bielman, representando a "Arte" e a "Ciência". Uma platibanda rendilhada remata as janelas, terminando a fachada em três pilastras encimadas por coruchéus, com vãos de arcaria de gosto neogótico. A decoração é complementada por motivos vegetais, formas geométricas e a designação "Lello e Irmão", sob as janelas.

No interior, os arcos quebrados apoiam-se nos pilares em que, sob baldaquinos rendilhados, o escultor Romão Júnior esculpiu os bustos dos escritores Antero de Quental, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Teófilo Braga, Tomás Ribeiro e Guerra Junqueiro. Os tetos trabalhados, o grande vitral que ostenta o monograma e a divisa da livraria "Decus in Labore" e a escadaria de grandes dimensões de acesso ao primeiro piso são as marcas mais significativas da livraria.[9]

Durante anos, as escadarias da Lello também foram consideradas localmente a suposta inspiração da livraria onde Harry Potter conheceu Gilderoy Lockhart no livro Harry Potter e a Câmara dos Segredos, já que J. K. Rowling chegou a morar na cidade do Porto. No entanto, em maio de 2020 J. K. Rowling negou esta alegada inspiração, afirmando que nunca entrou na livraria.[14]

Reconhecimento

O caráter único do edifício tem vindo a ser reconhecido por diversas personalidades e entidades:

  • O escritor espanhol Enrique Vila-Matas descreveu-a como "A mais bonita livraria do mundo".[15]
  • O jornal inglês The Guardian, em 2008, considerou-a a terceira mais bela do mundo.[16]
  • A editora australiana de guias de viagens Lonely Planet, no seu guia Lonely Planet's Best in Travel 2011, considerou-a como a terceira melhor livraria do mundo, sendo descrita como "uma pérola de arte nova", destacando as "prateleiras neo-góticas" e a "escadaria vermelha em espiral" semelhante a "uma flor exótica".[17]
  • A revista Travel + Leisure, em janeiro de 2015, colocou a Lello, no Porto, no topo da lista das 15 livrarias mundiais mais estilosas (cool, em inglês), referindo que o átrio coloca o enfoque na escadaria encarnada, "espetacular o suficiente para te fazer parar".[18]
  • A Revista «Time» considerou a livraria uma das 15 livrarias mais interessantes do mundo, salientando o valor histórico e artístico da livraria portuguesa.[19]
  • A CNN, em 2014, considerou-a a livraria mais bonita do mundo.[20]
  • Em 2016, o então ministro da Cultura, João Soares, disse no Porto que a Cultura pode ser motor de desenvolvimento e afirmação no plano comercial para Portugal e apontou a histórica Livraria Lello como bom exemplo.[21]

Ver também

Referências

  1. «Livraria Lello em vias de ser classificada como monumento nacional». TSF Rádio Notícias (em português). 5 de janeiro de 2022 
  2. «Livraria Lello bateu mais um recorde de vendas e visitas em julho». Espalha-Factos (em português). 4 de agosto de 2018 
  3. Staff, Guardian (11 de janeiro de 2008). «The world's 10 best bookshops». the Guardian (em English) 
  4. CNN, By Frances Cha. «Bookmark this! World's best bookstores». CNN (em English) 
  5. «The world's greatest bookshops». Lonely Planet (em English) 
  6. January 06, Kavita Mokha; 2015. «World's Coolest Bookstores». Travel + Leisure (em English) 
  7. 7,0 7,1 7,2 «Livraria Lello - Porto XXI». Portoxxi.com 
  8. «Lello & Irmão - uma livraria deslumbrante». Cidadesurpreendente.blogspot.com 
  9. 9,0 9,1 «Livraria Lello». Direção-Geral do Património Cultural. Consultado em 29 de maio de 2017 
  10. ««Livraria Lello cobra 3 euros por entrada» - Jornal de Notícias». Arquivado do original em 15 de julho de 2015 
  11. http://horasextraordinarias.blogs.sapo.pt/exponenciar-324650
  12. http://www.noticiasaominuto.com/cultura/473802/apesar-do-preco-de-entrada-livraria-lello-triplicou-as-vendas
  13. «Quase metade dos visitantes da Livraria Lello são espanhóis» 
  14. Rita Cipriano (21 de maio de 2020). «Afinal, a Lello não inspirou Harry Potter. J.K. Rowling diz que nunca entrou na livraria». Observador 
  15. «Lello (Portugal), sobredosis de belleza». Literaturas.com 
  16. «Best bookshops». The Guardian. 11 de janeiro de 2008. Consultado em 5 de novembro de 2013 
  17. Sérgio C. Andrade (17 de novembro de 2010). «Lonely Planet classifica a Lello a terceira melhor livraria do mundo». Jornal Público online. Consultado em 17 de novembro de 2010. Arquivado do original em 19 de novembro de 2010 
  18. «Lello no topo das livrarias mais estilosas do mundo» 
  19. «Livraria Lello é uma das mais interessantes do Mundo» 
  20. «World's coolest bookstores» 
  21. «Soares defende que Livraria Lello é exemplo da Cultura como "motor" de desenvolvimento» 

Ligações externas

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Predefinição:Arquitetura Civil do Porto

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