Predefinição:Sem-notas Na lógica, uma teoria de primeira ordem é um conjunto de fórmulas que fazem sentido em uma linguagem de primeira ordem. Inúmeras teorias da matemática como a teoria dos anéis, a teoria dos grupos e as teorias dos conjuntos são teorias de primeira ordem.
Definições
Uma teoria de primeira ordem T tem como base uma linguagem de primeira ordem , tal que a teoria será um conjunto específico de fórmulas bem-formadas de , fórmulas essas chamadas de axiomas.
De acordo com a teoria dos modelos, cada objeto matemático é um modelo de uma assinatura Σ de linguagem . Dado um conjunto de modelos de uma mesma assinatura, uma teoria é um conjunto de axiomas não-lógicos que são satisfeitos por todos esses modelos.
Seja α uma fórmula, dizemos que α é um teorema de T, denotado por T ⊢ α sse α pode ser demonstrada a partir de T. Também é dito como α é consequência lógica de T. O conjunto de tódos os teoremas de T é chamado de Th(T).
Propriedades
Uma teoria T pode ser:
- Axiomática, se há um procedimento recursivo que caracterize seus axiomas;
- Finitamente axiomatizada, se tem um número finito de axiomas não-lógicos;
- Axiomatizával, se há alguma teoria axiomática T* tal que Th(T*) = Th(T);
- Fechada, se Th(T) = T. Ou seja, se T só tem a si própria como consequência;
- Consistente, se não é o caso de existir uma fórmula φ em qualquer linguagem, tal que φ e ¬φ sejam ambos teoremas de T.
- Completa, se para toda fórmula α de , ou α é um teorema de T ou ¬α o é;
- Trivial, se toda fórmula α de é um teorema de T;
- Decidível, se há um algoritmo que decida se uma fórmula α de é ou não é um teorema de T;
- Satisfatível, se existe um modelo para todas as fórmulas da teoria. Pelo Teorema da completude de Gödel, satisfatível é equivalente a consistente;
- Categórica, se é consistente e todos os seus modelos são finitos e isomórficos.
Apesar de ter vários modelos, uma teoria T tem o que se chama de interpretação pretendida. Por exemplo, a aritmética de Peano nos naturais. Um modelo que seja isomórfico à interpretação pretendida é chamado de modelo padrão.
Grupos
Seja * uma operação definida em um conjunto G. Dizemos que o par (G, *) é um grupo se e somente se:
- O conjunto G é fechado sobre a operação *, isto é
- A operação * é associativa, ou seja, ∀g, h, k ∈ G, (g * h) * k = g * (h * k);
- Existe um elemento identidade e ∈ G para *, ou seja,
- Para todo elemento g ∈ G existe um único elemento inverso i ∈ G, isto é,
Os grupos abelianos são um caso particular de grupos em que a operação * é comutativa em G, isto é,
Por exemplo:
- (Z, +): os inteiros com adição;
- ({0,1}, ) : os valores binários com a operaçãoou exclusivo.
Outros tipos de grupos são:
- Grupos Simétricos;
- Grupos Alternadores;
- Grupos Diedrais;
- Grupos Cíclicos.
Grafos
Um grafo é um par G = (V,R), onde V é um conjunto finito e R é um conjunto de conjunto de pares ordenados (x,y) onde x e y são elementos de V, chamados de vértices do grafo. Os elementos de R são as arestas do grafo, e podem ser representados como R(x, y), interpretado como "há uma aresta de x até y".
Um grafo é definido pelos seguintes axiomas:
- Simetria:
- Anti-reflexividade:
Alguns matemáticos usam a palavra "grafo" em um sentido diferente e admitem a possibilidade de um vértice ser adjacente a si mesmo; uma aresta que une um vértice a se mesmo é chamado de laço. Também se admite mais de uma aresta com as mesmas extremidades; tais arestas são chamadas de arestas paralelas.
Para se referir a primeira definição de Grafo com mais clareza, é usada a expressão grafo simples. Para se referir a um grafo que pode ter arestas e laços múltiplos, é empregada a palavra multigrafo.
Um passeio em um grafo que atravessa cada aresta uma única vez, é chamado de trilha eureliana. Se, além disso, a trilha começa e termina no mesmo vértice o passeio é chamado um tour eureliano. Finalmente, se um grafo tem um tour eureliano , dizemos que o grafo é um grafo eureliano;
Relações de Equivalência
Seja A um conjunto e ≡ uma relação de equivalência sobre A. Para cada a ∈ A podemos construir o conjunto de todos os elementos x ∈ A que são equivalentes ao elemento a. Indicaremos tal conjunto por [a], isto é: [a] = {x ∈ A : x ≡ a}.
As relações de equivalência satisfazem os axiomas:
- Reflexividade;
- Simetria;
- Transitividade;
O conjunto [a] nunca é vazio, pois a propriedade reflexiva garante que a ∈ [a]. O conjunto [a] é denominado classe de equivalência, que também pode ser denotada por cl(a) ou .
Álgebras Booleanas
Seja B um conjunto com dois elementos distintos, 0 e 1, duas operações binárias, + e ⋅, uma operação unária ¬. Então, B é dito uma álgebra booleana se valem os seguintes axiomas, onde a, b e c são elementos quaisquer de B :
- Comutatividade;
- Distributividade;
- Identidade;
- Complemento;
Os operadores da álgebra booleana podem ser representados de várias formas. É freqüente serem simplesmente escritos como E, OU e NÃO, porém são mais comuns os seus equivalentes em inglês: AND, OR e NOT.
Dualidade
A dual de qualquer declaração em uma álgebra booleana B é a declaração obtida pela troca das operações ⋅ e + e de seus elementos identidade, 0 e 1, na declaração original.
Por exemplo, a expressão
é dual de
Observe a simetria dos axiomas em uma álgebra booleana B. Isto é, o dual do conjunto dos axiomas de B é o próprio conjunto de axiomas. Conseqüentemente, vale o princípio da dualidade em B.
O Princípio da Dualidade afirma que o dual de qualquer teorema em uma álgebra booleana também é um teorema. Ou seja, se qualquer declaração é conseqüência dos axiomas em uma álgebra booleana, então a declaração dual também é uma conseqüência dos axiomas.
Ordem
Sejam A um conjunto e R ⊆ A×A uma relação em A. Diz-se que R é uma relação de ordem parcial se:
- R for reflexiva, onde aRa para todo a ∈ A. Ou seja, se todos os elementos se relacionarem com si próprios.
- R for anti-simétrica, ou seja, R é tal que se aRb e bRa então a=b.
- R for transitiva, onde aRb e bRc implicam que aRc.
Ex: As relações (N, ≤), (℘(A), ⊆), (R, =) são de ordem parcial.
Uma relação diz-se ordem total ou linear se for uma ordem parcial e for total, ou seja, para todo a e b em A é verdade que aRb ou bRa (ou ambos).
Ex: A relação (N, ≤) é de ordem total.
Conjunto bem-ordenado
Um conjunto é A dito bem-ordenado se todo subconjunto de A tem primeiro elemento.
Um exemplo clássico é o conjunto dos números naturais com a ordem usual ≤.
- Um conjunto bem ordenado é linearmente ordenado. De fato, se a,b ∈ A, então {a,b} tem um primeiro elemento; logo, a e b são ordenáveis.
- Todo subconjunto de um conjunto bem-ordenado é por si só bem-ordenado.
- Se A é bem ordenado e B é isomorfo a A, então B é bem-ordenado.
- Todos os conjuntos finitos linearmente ordenados com o mesmo número n de elemento são bem-ordenados, e todos são isomorfos entre si.
- Todo elemento a ∈ A, que não é um último elemento, tem um sucessor imediato.
Anéis e corpos
A assinatura dos anéis tem duas constantes 0 e 1, duas funções binárias, + e ⋅, e, opcionalmente, uma função unária inversa -1.
Seja A um conjunto com as seguintes operações internas:
- e
(A, +, ⋅) é um anel se ∀a,b,c; ∈ A se valem as propriedades:
- Associatividade:
- Comutatividade:
- Elemento neutro de +:
- Elemento inverso ou complemento de +:
- Distributividade:
Se a multiplicação, ⋅, dos anéis é comutativa, temos um anel comutativo, se a multiplicação tem elemento neutro, temos um anel com identidade.
Um corpo é um anel comutativo em que todo elemento diferente de 0 possui um elemento inverso da multiplicação. Um anel comutativo com unidade e sem divisores de zero é chamado de corpo se:
Os corpos são importantes objetos de estudo na álgebra visto constituirem uma generalização útil de muitos sistemas numéricos, como os números racionais, os reais e os complexos.
Principais tipos de corpos:
- Corpo finito: é um corpo em que o conjunto dos elementos é finito.
- Corpo ordenado: é um corpo no qual existe uma relação de ordem total, e suas operações binárias são compatíveis com essa relação de ordem. Um corpo é ordenado se satisfaz as seguintes condições:
- A soma e o produto de elementos positivos são positivos;
- Dado a ∈ A, exatamente uma das três alternativas seguintes ocorre: ou a = 0, ou a ∈ A ou -a ∈ A.
Referências
SCHEINERMAN, Edward R. Matemática Discreta - Uma Introdução. São Paulo: Thomson, 2003. ISBN 8522102910.
LIPSCHUTZ, Seymour; LIPSON, Marc. Teorias e Problemas de Matemática Discreta, 2ª edição. São Paulo: Bookman, 2004. ISBN 0070380457.
Números reais(arquivo em pdf), por Gláucio Terra.
Modelos(arquivo em pdf), por Luiz Henrique de A. Dutra e Cezar A. Mortari.