Predefinição:Info/Prelado da Igreja Católica Júlio Renato Lancellotti (São Paulo, 27 de dezembro de 1948) é um pedagogo e presbítero católico brasileiro. Exerce a função de pároco da paróquia de São Miguel Arcanjo no bairro da Mooca, na cidade de São Paulo. Além da paróquia, o padre também é responsável pelas missas realizadas na capela da Universidade São Judas Tadeu, situada na mesma rua.
Biografia
Segundo dos três filhos do casal Milton Fagundes Lancellotti e Wilma Ferrari, descendentes de imigrantes italianos, Júlio nasceu no hospital São José do Brás.[1] Seu pai era comerciante e possuía uma mercearia. A mãe, quando solteira, operou como secretária em escritórios de advocacia e em algumas empresas; ao casar-se, por imposição dos costumes da época, abandonou sua carreira para se dedicar ao lar. Tornou-se cozinheira e passou a servir refeições em sua casa para contribuir com o sustento da família. Culta, era fluente em espanhol e tinha o hábito da leitura; ensinou aos filhos as primeiras letras.
Júlio iniciou sua educação formal no Educandário Espírito Santo, mantido pelas Missionárias Servas do Espírito Santo, no Tatuapé. Aos doze anos, entrou para o seminário em Araraquara, mas, incomodado com a rigidez da instituição, retornou para São Paulo, onde terminou o ginásio numa escola de presbíteros agostinianos. Decidiu mais uma vez se preparar para a carreira religiosa, chegou a ser frade, mas, aos dezenove anos, largou a batina novamente. Nesse ínterim, concluiu um curso de auxiliar de enfermagem na Santa Casa de Misericórdia de Bragança Paulista e passou a exercer a profissão. Ingressou depois nas Faculdades Oswaldo Cruz e concluiu o curso de Pedagogia. Em seguida, fez especialização em Orientação Educacional na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde atuou como professor-assistente do professor Carlos Alberto Andreucci, além de ministrar aulas nas faculdades Oswaldo Cruz, Castro Alves, Piratininga e no Instituto Nossa Senhora Auxiliadora, sendo neste último, voltado para preparação para o magistério. Lancellotti também trabalhou no Serviço Social de Menores, que, mais tarde, se transformou na Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, e no Centro de Apoio ao Imigrante, no Brás, dando aulas para crianças com dificuldade de aprendizado.[2]
Em 1980, conheceu Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, então bispo-auxiliar de São Paulo, e ficaram muito próximos. Juntos, fizeram toda a fundamentação da Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo. Um ano depois, começou a estudar Teologia e foi ordenado sacerdote em 20 de abril de 1985.[3]
Participou com Dom Luciano Mendes de toda a fundamentação da Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo. Participou dos grupos de fundação da Pastoral da Criança e colaborou na formulação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Em 1986 foi designado para a Paróquia São Miguel Arcanjo da Mooca, onde iniciou trabalho pastoral com moradores de rua e menores abandonados. Participou da campanha contra maus tratos ocorridos na Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor (FEBEM), resultando em manifesto contra a política do "Cacete pedagógico" e na demissão da presidente da FEBEM Maria Inês Bierrenbach em março de 1986, substituída por Nazih Curi Meserani.[4][5]
Quatro anos depois foi um dos fundadores da Comunidade Povo da Rua São Martinho de Lima, abrigo para moradores de rua. A comunidade possuía cozinha, lavanderia e uma pequena marcenaria destinada a realização de cursos profissionalizantes.[6]
Atua junto a menores infratores, detentos em liberdade assistida, pacientes com HIV/Aids e populações de baixa renda e em situação de rua. Acredita na pessoa humana acima de tudo, "como imagem e semelhança de Deus" e considera que todos os cidadãos que devem ter seus direitos respeitados.
Em 26 de julho de 1991 fundou a "Casa Vida I" e, posteriormente, a "Casa Vida II", para acolher crianças portadoras do vírus HIV. O projeto teve como madrinha Diana, Princesa de Gales e recebeu recursos de várias organizações religiosas do mundo.[7][8] Como vigário episcopal do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo, está à frente de vários projetos municipais de atendimento à população carente, como é o programa "A Gente na Rua", formado por agentes comunitários de saúde, ex-moradores de rua.
No final dos anos 1990 atuava dentro de unidades da FEBEM, por meio da Pastoral do Menor, denunciando maus tratos e torturas aos menores. Por seu trabalho acabou reconhecido pelo Unesco e recebeu seu primeiro título de Doutor Honoris Causa pela PUC.[9]
Caso de extorsão
Em outubro de 2007, foi revelado um inquérito da Polícia Civil do Estado de São Paulo sobre uma denúncia de extorsão a Lancellotti contra Anderson Marcos Batista, um ex-interno da então FEBEM, e Conceição Eletério.[10][11] De acordo com a denúncia, o casal ameaçou o religioso durante três anos com acusações falsas de pedofilia para obter vantagem financeira.[11][12][13] Em 2004, Anderson e Lancellotti chegaram a ir juntos a uma concessionária de veículos para comprar um Jeep Pajero financiado pelo padre. O casal chegou a ser detido e libertado em 2008, mas foi novamente preso em 2011, após o Ministério Público denunciar que Batista havia encontrado e ameaçado matar o padre.[10] [11]
Além de negar a extorsão, a versão dos acusados alegou que as denúncias foram uma represália por parte de Lancellotti, que teria supostamente oferecido R$ 200 mil a Anderson para dar uma entrevista desmentindo envolvimento amoroso entre ele e o padre.[10][11][14][15] Foi aberto também inquérito contra o padre para apurar os supostos abusos sexuais,[16] mas as investigações policiais concluíram que Lancellotti havia sido vítima de extorsão. Segundo as apurações, Anderson e Conceição faziam ameaças ao padre por intermédio de bilhetes levados por terceiros.[11] Ainda de acordo com a denúncia, Conceição havia ligado diversas vezes para o padre de um telefone celular rastreado pela Polícia Civil para pedir dinheiro.[10]
Em maio de 2011, a Justiça condenou o casal a sete anos e três meses de prisão pelo crime de extorsão.[10][11][17]
Reconhecimento
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil deu-lhe o Prêmio Franz de Castro Holzwarth em 2000 por seu trabalho contra a violação sistemática dos direitos das crianças e dos adolescentes.[18]
Em 2003, a Casa Vida recebeu o Prêmio OPAS, da Organização Pan-Americana da Saúde.
Em 2004, o Movimento Nacional de Direitos Humanos concedeu-lhe o Prêmio Nacional de Direitos Humanos.[19]
Também em 2004, a Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo ganhou o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, na categoria livre.[20]
Em 2005, Pe. Júlio recebeu menção honrosa do Prêmio Alceu Amoroso Lima Direitos Humanos.[21]
Em 2007, o Pe. Júlio recebeu o Prêmio dos Direitos Humanos promovido pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, na categoria “Enfrentamento à Pobreza”.[22]
Em 2020, o Padre Júlio recebeu, pelo voto popular, o Prêmio Poc Awards na categoria "Influencer do Ano"[23]. Promovido pelo Gay Blog Br, a indicação de Lancellotti se motivou por se posicionar frequentemente contra à homofobia[24].
Pe. Júlio é ainda Doutor Honoris Causa pela Universidade São Judas Tadeu (2004)[25] e pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Em 2021, Padre Júlio foi um dos vencedores do Prêmio Zilda Arns pela Defesa e Promoção dos Direitos da Pessoa Idosa, da Câmara dos Deputados, reconhecido pelo seu trabalho em benefício da população em situação de rua.[26]
Livros
Pe. Júlio publicou os seguintes livros:
- Rocha, Guilherme Salgado (2000). Padre Júlio Lancellotti : defesa dos excluídos. São Paulo: Salesiana. ISBN 85-87997-23-8. OCLC 56096462 (entrevista biográfica e depoimentos)
- Escobar, Júlio; Lancellotti, Júlio (2021). O Jesus das ruas na trajetória do padre Júlio Lancellotti : conversas. São Paulo: Córrego. ISBN 9786588822050
- Lancellotti, Júlio (julho de 2021). Tinha uma pedra no meio do caminho : invisíveis em situação de rua. São Paulo: Matrioska. ISBN 978-65-86985-26-9
- Lancellotti, Júlio (setembro de 2021). Amor à maneira de Deus. São Paulo: Planeta. ISBN 978-65-5535-450-8
- Labigalini, Eliseu (novembro de 2021). Coração, amor e compaixão. São Paulo: Selo da Rua. ISBN 9786589236054 (entrevista biográfica)
Referências
- ↑ Ofício de registro civil do Belenzinho (27 de dezembro de 1948). «Talão do assento de nascimento de Júlio Renato Lancellotti». Consultado em 9 de janeiro de 2020
- ↑ Cocolo, Ana Cristina (novembro de 2016). «"Estou do lado que Jesus queria que eu estivesse"». unifesp.br. Entretestes. Consultado em 27 de setembro de 2018
- ↑ «Entrevista com padre Júlio Lancellotti». Consultado em 20 de outubro de 2007. Arquivado do original em 17 de dezembro de 2004
- ↑ «Funcionários da Febem denunciam retorno do "cacete pedagógico":Manifesto aponta situação grave, afirma padre». Folhade S.Paulo, ano 66, edição 20802, Cidades, página 4. 17 de março de 1986. Consultado em 26 de dezembro de 2021
- ↑ «Meserani pode escolher equipe nesta semana». Folha de S.Paulo, ano 66, edição 20810, Cidades, página 28. 25 de março de 1986. Consultado em 26 de dezembro de 2021
- ↑ «Mendigo ganha área em São Paulo para tomar banho, lavar e cozinhar». Jornal do Brasil, ano XCIX, edição 319, página 14/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 23 de fevereiro de 1990. Consultado em 26 de dezembro de 2021
- ↑ «Casa para criança aidética é ameaçada na capital paulista». Jornal do Commércio (RJ) ,ano 164, edição 221, página 16/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 3 de julho de 1991. Consultado em 26 de dezembro de 2021
- ↑ José Maria Mayrink (4 de maio de 1997). «Crianças aidéticas vencem medo e preconceito». Jornal do Brasil, ano CVII, edição 26, página 14/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 26 de dezembro de 2021
- ↑ «O Bom Pastor da FEBEM». Manchete, ano 48, edição 2484, páginas 62-65/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 20 de novembro de 1999. Consultado em 26 de dezembro de 2021
- ↑ 10,0 10,1 10,2 10,3 10,4 «Justiça condena casal por extorsão ao padre Júlio Lancellotti». Folha de S.Paulo. 23 de maio de 2011. Consultado em 3 de fevereiro de 2021
- ↑ 11,0 11,1 11,2 11,3 11,4 11,5 «Casal acusado de extorquir padre Júlio Lancellotti em SP é condenado». O Globo. 24 de maio de 2011. Consultado em 3 de fevereiro de 2021
- ↑ Polícia procura ex-interno da Febem acusado de extorquir padre Júlio Lancelotti
- ↑ Padre Júlio Lancelotti diz que pagou extorsão por constrangimento
- ↑ Acusado nega extorsão contra padre e diz que denúncia é vingança
- ↑ Ex-interno afirma que fazia sexo com padre Júlio
- ↑ Polícia investiga contrato de ONG de padre Júlio Lancelotti
- ↑ Guimarães, Júlio (24 de maio de 2011). "Fui linchado, apedrejado", diz padre Julio Lancellotti sobre acusação de pedofilia. UOL Notícias, acesso em 24 de maio de 2011
- ↑ Página da OAB-SP[ligação inativa]
- ↑ Página do Movimento Nacional de Direitos Humanos
- ↑ «Página Rede Rua» (PDF). Consultado em 12 de agosto de 2009. Arquivado do original (PDF) em 10 de outubro de 2010
- ↑ Página do Conselho Latino Americano de Igrejas
- ↑ Padre Júlio recebe prêmio de direitos humanos Portal G1, acessado em 12 de julho de 2009
- ↑ «Oscar LGBT: Padre Júlio Lancelotti vence na categoria de "influencer do ano"». Revista Fórum (em português). 11 de fevereiro de 2021. Consultado em 14 de fevereiro de 2021
- ↑ www.gay.blog.br (11 de fevereiro de 2021). «Por voto popular, Padre Júlio Lancellotti vence categoria "Influencer do Ano" no Poc Awards 2020». GAY BLOG BR @gayblogbr (em português). Consultado em 14 de fevereiro de 2021
- ↑ Jornal Voz do Bairro[ligação inativa]
- ↑ Câmara dos Deputados (11 de fevereiro de 2021). «Câmara anuncia vencedores do Prêmio Zilda Arns 2021». Câmara dos Deputados (em português). Consultado em 23 de agosto de 2021
Ligações externas
- Predefinição:Twitter
- Casa Vida.
- CNBB I: Moção de apoio ao Mons. Lancellotti, Arquidiocese de São Paulo.
- FALCETA Jr. Leitura da Veja: Quando o jornalismo de latrina dispara contra a beatitude. Observatório da Imprensa, 16 de janeiro de 2006.
- PERISEÉ, Gabriel. Caso Júlio Lancellotti: o apedrejamento jornalístico[ligação inativa]. Observatório da Imprensa, in Observatório do Direito à Comunicação, 8 de novembro de 2007.
- MAYRINK, José Maria. D. Odilo diz que investigação irá inocentar padre Júlio, Agência Estado, 2 de novembro de 2007, 17h33.