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Indústria farmacêutica

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A indústria farmacêutica é responsável por produzir medicamentos. É uma atividade licenciada para pesquisar, desenvolver, comercializar e distribuir drogas farmacêuticas. Muitas das companhias farmacêuticas surgiram entre o final do século XIX e o início do século XX. As principais descobertas aconteceram em torno das décadas de 1920 e 1960. Nos últimos anos surgiram os medicamento genéricos, com a mesma fórmula dos medicamentos de marcas registradas. Essa empresas fazem lobby incluso em países totalitários.[1]

Controvérsias

De modo geral, a indústria farmacêutica fabrica e comercializa seus medicamentos somente após um longo processo, que envolve meses ou anos de pesquisas, testes e pesados investimentos. As pesquisas para a busca e de determinados medicamentos podem custar bilhões de dólares. Quando um medicamento é descoberto por uma determinada empresa, esta pode requerer a patente da fórmula. Outras empresas que desejem fabricar a mesma fórmula devem pagar royalties à detentora da patente. O retorno da maior parte do investimento feito ocorre na forma de lucros advindos da venda de royalties, além da comercialização direta dos medicamentos.

Porém, nas últimas décadas, as grandes empresas farmacêuticas (conhecidas como Big Pharma[2]), frequentemente têm sua imagem afetada negativamente, dada a relação entre saúde e mercado, o que, em última instância, significa a transformação da saúde em mercadoria.

O Prêmio Nobel de Medicina Richard J. Roberts declarou, durante uma entrevista em 2011, que os fármacos que curam não são rentáveis e por isso não são desenvolvidos pelas farmacêuticas. A elas interessa desenvolver medicamentos cronificadores das doenças, que não curam de todo e devem ser consumidos de forma serializada, de modo que o paciente experimente uma melhora que desapareça quando deixar de tomar o medicamento.[3]

Os críticos afirmam que as pesquisas da indústria farmacêutica são orientadas basicamente pelo lucro, o que dá lugar à existência das chamadas doenças negligenciadas. Essas doenças afetam principalmente a população mais pobre dos países em desenvolvimento, que não pode pagar altos preços pelos remédios de que necessita. Assim, a indústria privilegia os investimentos na pesquisa e desenvolvimento de medicamentos para doenças que afetam a população mais rica - mais concentrada nos países desenvolvidos -, pode pagar e garantir o retorno dos investimentos em P&D. Segundo Louis Currat, secretário-geral do Fórum Global de Pesquisas em Saúde, ligado à Organização Mundial de Saúde, "menos de 10% das verbas para pesquisa são destinados a 90% dos problemas de saúde do mundo".

Tudo isso se evidencia em números que mostram a diferença entre pesquisas sobre doenças de impacto mundial, por exemplo: a malária, doença que mata um milhão de pessoas por ano, com 90% dos infectados localizados na África, conta com 18 medicamentos e 2 vacinas em desenvolvimento; a tuberculose, que mata dois milhões de pessoas todos os anos, (90% destes em países em desenvolvimento), conta com 17 medicamentos e 2 vacinas em desenvolvimento; e a AIDS, síndrome responsável por uma média de dois a três milhões de mortes anuais (com dois terços dos aproximadamente 40 milhões de infectados atuais encontrados na África, porém muitos outros milhões em países desenvolvidos), possui 88 medicamentos aprovados, 77 candidatos a medicamentos e 19 vacinas em desenvolvimento.[4]

Há quem afirme, entretanto, que sendo imprescindível a realização de pesados investimentos para a pesquisa e desenvolvimento de medicamentos eficazes contra certas doenças, os recursos necessários deveriam vir de financiamento público, ou que os preços dos medicamentos fossem subsidiadas pelos governos de países mais atingidos pelas doenças, de modo que a reduzir os preços aos consumidores, preservando-se os interesses da indústria, com relação a patentes e royalties. Mas ocorre que, no caso das doenças negligenciadas, os países mais afetados são também os mais pobres.

Na articulação da dinâmica de inovação com a sociedade, pode-se afirmar que o círculo virtuoso entre gasto em P&D e marketing, inovação, lucratividade e crescimento possui uma dimensão perversa em que a lógica de mercado se descola das necessidades de saúde, principalmente daqueles países e populações com menor poder de compra e que possuem alta incidência de doenças negligenciadas. [5]

Um recente estudo estatístico mostra como a indústria farmacêutica nos Estados Unidos aufere super-lucros, evidenciando rendas de monopólio, ao investir mais em marketing do que em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Os gastos dos grandes laboratórios com marketing superaram os 14000 milhões de dólares em 2004. A maior parte desses gastos refere-se a marketing direto, voltado a profissionais da saúde, e influencia diretamente a prescrição de medicamentos pelos médicos. A principal conclusão dos autores é a de que as empresas farmacêutica nos EUA não são as que mais investem em P&D, mas são as que apresentam as maiores taxas de lucros líquidos:

"À pergunta se os custos dos fármacos são justificados pelos gastos em pesquisa e desenvolvimento, a resposta é não."

As empresas farmacêuticas de fato investem em P&D, assim como outras empresas de outros ramos de atividade. Porém o investimento da indústria farmacêutica é pouco significativo, quando comparado aos seus imensos lucros de monopólio- entre 2½ e 37 vezes superiores aos lucros médios da indústria não-farmacêutica.[6] [7]

De todo modo, a imagem negativa da indústria junto ao público também não faz bem aos negócios. Por isso, algumas empresas têm procurado se aproximar de iniciativas voltadas para os países subdesenvolvidos. É o caso da Novartis, que criou em 2003 em Singapura o Instituto Novartis de Pesquisa em Doenças Tropicais. Mais recentemente, a mesma empresa, em parceria com a Fapesp, o Instituto de Medicina Tropical, a Faculdade de Medicina da USP, a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e a ONG Médicos sem Fronteiras, criou um portal para pesquisadores e centros de pesquisa, visando fomentar a troca de informações sobre o tema. [8]

Características da indústria farmacêutica

Em âmbito internacional, a indústria farmacêutica se caracteriza como um oligopólio diferenciado, baseado na inovação e nas ciências, pois a criação de novos produtos é prioritária em relação às economias de escala e aos custos de produção. As empresas que lideram o setor são multinacionais de grande porte e atuam de forma global no mercado. A principal fonte de diferenciação de produtos é, por um lado, a pesquisa e desenvolvimento e, por outro lado, o marketing. É necessário produzir novos medicamentos a cada patente expirada, pois, terminado o prazo de proteção, os produtos farmacêuticos ficam expostos à concorrência dos genéricos e similares, que utilizarão outras estratégias de competição. A principal maneira de a indústria se apropriar de resultados oriundos de seus esforços de P&D é a patente, que garante o monopólio temporário de vendas. A liderança de mercado é conquistada em segmentos de mercado particulares, mediante diferenciação de produtos.

O setor farmacêutico se caracteriza por uma forte dinâmica centrada em pesquisa e desenvolvimento, produção industrial e comercialização com altos investimentos e estratégia de competição focada na diferenciação de produtos. O Brasil representa o 8º maior mercado do mundo em faturamento, porém representa apenas 2% da fatia de mercado mundial, sendo os Estados Unidos o principal mercado, com aproximadamente 50% do volume de negócios. O segmento no Brasil é quase que totalmente dependente de importações e utiliza a proteção de patentes como uma forma de segurança de retorno dos investimentos praticados.

Nas duas últimas décadas e meia, o setor farmacêutico conheceu um crescimento significativo, que foi marcado por concentração industrial, lucros extraordinários (isto é, superiores ao lucro médio do mercado) decorrentes da combinação de aumento no consumo com elevação de preços dos medicamentos. No que se refere às oportunidades destacam-se a prospecção de novos caminhos científicos e tecnológicos particularmente no tocante ao impacto potencial da biotecnologia não somente na inovação em processos de P&D, mas também em produtos. Em relação aos desafios cabe ressaltar o papel da crescente pressão competitiva associada aos medicamentos genéricos diante de um momento em que os medicamentos líderes de venda terão suas patentes expirando.

Dentre as principais tendências que marcam a atual concorrência e organização produtiva da indústria farmacêutica internacional é possível destacar:

• Mudanças associadas aos vetores de crescimento do mercado global de produtos farmacêuticos;

• Aumento nas pressões competitivas enfrentadas pelos grandes laboratórios farmacêuticos decorrentes da concentração no vencimento de patentes de blockbusters;

• Declínio na produtividade das atividades de P&D: Redução no ritmo de registro de novos produtos com características inovadoras;

• Crescente competição dos medicamentos genéricos: intensificação no processo de fusões e aquisições entre empresas produtoras de medicamentos genéricos;

• Mudanças no Marco Regulatório associados às pressões crescentes de consumidores.

Esse conjunto de tendências gera um realinhamento das estratégias corporativas por parte das empresas multinacionais do setor no sentido de lucrarem através das oportunidades potenciais nos mercados emergentes, bem como de novas estratégias com foco em planejamento estratégico, aumento de produtividade, sobretudo na P&D, estratégias de outsourcing em países com menores custos de mão-de-obra, aumento do interesse em biotecnologia e entrada no mercado de medicamentos genéricos, além de um movimento das atividades de P&D para focar a pesquisa em medicamentos para grupos específicos em oposição às estratégias demasiadamente centradas nos blockbusters.

Por outro lado, essa mudança de posição não mudou, na essência, a estrutura da indústria nem o padrão de competitividade atual. Assim, dentre as relevantes características que marcam o padrão de concorrência na indústria farmacêutica mundial hoje, é possível mencionar:

i) o alto grau de internacionalização e o aumento de consolidação de empresas;

ii) a intensidade de conhecimentos científicos e tecnológicos do setor que demanda elevados gastos em P&D;

iii) a natureza fragmentada dos mercados relevantes na indústria farmacêutica, tanto do ponto de vista do consumidor quanto do ponto de vista tecnológico, o que implica a existência de nichos de mercado e representa uma importante janela de oportunidade para países menos desenvolvidos.[9]

Empresas líderes de vendas

As 15 empresas farmacêuticas que mais venderam em 2008 foram:[10]

Classificação Empresa Vendas
(USD milhões)
Sede
1 Pfizer 43,363 EUA
2 GlaxoSmithKline 36,506 Reino Unido
3 Novartis 36,506 Suíça
4 Sanofi-Aventis 35,642 França
5 AstraZeneca 32,516 Reino Unido
6 Hoffmann–La Roche 30,336 Suíça
7 Johnson & Johnson 29,425 EUA
8 Merck & Co. 26,191 EUA
9 Abbott 19,466 EUA
10 Eli Lilly and Company 19,140 EUA
11 Amgen 15,794 EUA
12 Wyeth 15,682 EUA
13 Teva 15,274 Israel
14 Bayer 15,660 Alemanha
15 Takeda 13,819 Japão

As maiores em volume de receita

A seguir, a classificação das 19 maiores empresas da área farmacêutica e de biotecnologia, segundo o volume de receita. Algumas, como Bayer, Johnson & Johnson e Procter & Gamble) têm uma receita adicional não incluída na tabela. A expressão Big Pharma é frequentemente aplicada a empresas com receita superior a USD 3 bilhões e/ou gastos em P&D maiores que USD 500 milhões.

Classificação[11] Empresa País Receita total (USD milhões) Gastos em P&D 2006 (USD milhões) Lucro líquido/ (prejuízo) 2006 (USD milhões) Empregados 2006
1 Pfizer EUA 67.809 7.599 19.337 122.200
2 Novartis Suíça 53.324 7.125 11.053 138.000
3 Merck & Co. EUA 45.987 4.783 4.434 74.372
4 Bayer Alemanha 44.200 1.791 6.450 106.200
5 GlaxoSmithKline Reino Unido 42.813 6.373 10.135 106.000
6 Johnson & Johnson EUA 37.020 5.349 7.202 102.695
7 Sanofi France 35.645 5.565 5.033 100.735
8 Hoffmann–La Roche Suíça 33.547 5.258 7.318 100.289
9 AstraZeneca Reino Unido 26.475 3.902 6.063 50.000+
10 Abbott Laboratories EUA 22.476 2.255 1.717 66.800
11 Bristol-Myers Squibb EUA 17.914 3.067 1.585 60.000
12 Eli Lilly and Company EUA 15.691 3.129 2.663 50.060
13 Amgen EUA 14,268 3,366 2,950 48,000
14 Boehringer Ingelheim Alemanha 13.284 1.977 2.163 43.000
15 Schering-Plough EUA 10.594 2.188 1.057 41.500
16 Baxter International EUA 10.378 614 1.397 38.428
17 Takeda Pharmaceutical Co. Japão 10.284 1.620 2.870 15.000
18 Genentech EUA 9.284 1.773 2.113 33.500
19 Procter & Gamble EUA 8.964 n/a 10.340 29.258
TOTAL 497.519 70.843 110.077 1.342.700
MÉDIA 24876 3542 5504 67135

Referências

  1. Stephen Cooter. “Review of PJ Lisa’s Assault on Medical Freedom.” The Family News. Volume IV, No 1, pp 21-23
  2. Lista das maiores empresas farmacêuticas
  3. Cura del Cáncer: ¿Bloqueada por las farmacéuticas? (Entrevista con el Nobel de Medicina Richard J. Roberts). Vanguardia, 25 de maio de 2011 (em castelhano) .
  4. Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica[ligação inativa]
  5. GADELHA, C. et al. Perspectivas do Investimento em Saúde[ligação inativa]
  6. Rendas de monopólio e os lucros da indústria farmacêutica
  7. Pharmaceutical High Profits: The Value of R&D, or Oligopolistic Rents? Arquivado em 3 de março de 2016, no Wayback Machine., por Janet Spitz e Marl Wickham, p. 13.
  8. Sem lucro não há interesse.[ligação inativa] por Marta Kanashiro].
  9. GADELHA, C. A. G.; MALDONADO, J.; VARGAS, M. A. (2008) Estudo Setorial sobre a Indústria Farmacêutica. Nota Técnica. Projeto “Uma Agenda de Competitividade para a Indústria Paulista”. São Paulo, UNESP/UNICAMP/USP/SDE/IPT-SP;GADELHA, C. A. G., (2006). Desenvolvimento, complexo industrial da saúde e política industrial. Revista de Saúde Pública, 40 (N Esp): 11-23.Antunes.A.M.S; Magalhães.J.L. Oportunidades em medicamentos genéricos.A Industria Farmacêutica Brasileira. Editora: Interciência 2008 1ª. Edição.
  10. IMS Health 2008, Top 15 Global corporations
  11. Top 50 Pharmaceutical Companies Charts & Lists, Med Ad News, September 2007 Arquivado em 9 de novembro de 2012, no Wayback Machine.

Ligações externas

Em inglês:

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