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Incertae sedis

Incertae sedis —"com posição incerta"— é uma expressão latina utilizada na Taxonomia para indicar a incapacidade de estabelecer a posição exata de um táxon (Ordem, Família, Gênero e/ou Espécie) dentro da classificação. Pode ser usado de forma abreviada como inc. sed..

Sua necessidade reflete a parcialidade do conhecimento sistemático, e por trás do seu uso está mais a falta de acordo entre os especialistas da área do que a falta de informação e suposições sobre o grau de parentesco. Seu uso é provisório e dura o tempo necessário para se estabelecer um consenso a respeito da posição do táxon na classificação vigente.

Entre as principais razões para um grupo ser considerado incertae sedis estão:

  • Não inclusão ou escassez de material para análise: se uma análise filogenética formal é conduzida mas não inclui um determinado táxon, os autores podem optar por rotular o táxon como incertae sedis em vez de fazer suposições quanto à sua posição. Isto é particularmente comum quando filogenias moleculares são construídas por análise de tecidos, e a obtenção de material de certos organismos é de dificil acesso. É também um cenário comum quando táxons fósseis são analisados, e a escassez de material para comparações e determinação do grau de parentesco se torna difícil, sendo então adotada a posição incertae sedis. Por exemplo: Zielan-Jaworowska e colaboradores descobriram um novo espécime fóssil em 2007, o Argentodites coloniensis, entretanto não foi possível a determinação de um posicionamento taxonômico mais aprofundado; o táxon foi posto na ordem Multituberculata e subordem Cimolodonta, mas não foi possível a determinação da família.
  • Controvérsia: ocorre quando há resultados conflitantes ou falta de consenso por parte dos especialistas no grau de parentesco de determinado táxon. O incertae sedis é utilizado até que o conflito seja resolvido. Por exemplo, o Eurotamandua jonesi Storch, 1981 é um táxon controverso; foi atribuído como um Xenarthra por seu descobridor Storch (1981) e seguido por diversos autores: Storch e Habersetzer (1991), e Rose e Emry (1993); entretanto, Shoshani et al. (1997) argumentaram que o Eurotamandua era um Pholidota e não um xenartro. Outros estudos seguiram colocando o táxon como basal no grupo Eutheria (Gaudin e Branham 1998; Szalay e Schrenk 1998), até que Rose (1999) posicionou o Eurotamandua junto com o primitivo grupo Palaeanodonta, chegando então a um consenso. Outra espécie enigmática é a Sapayoa aenigma, ave colombiana que Sibley e Monroe (1990) colocaram numa infraordem separada Incerta Sedis, numa posição basal aos suboscines (Tyrannida) do Novo Mundo, entretanto ela não se mostra aparentada nem dos suboscines do Velho Mundo nem dos do Novo Mundo. Vários trabalhos científicos já foram publicados sobre sua possível inserção, entretanto nenhum deles chegou a um consenso (Sibley e Alquist 1990; Sibley e Monroe 1990; Fjeldsa et al. 2003; Kemp e Sherley 2003; Chesser 2004; Irestedt et al. 2006).
  • Posição basal: é uma tendência em crescimento, entre os taxonomistas, colocar um táxon basal num clado que contenha seus ancestrais, mas abster-se de dar a ele uma posição mais específica dentro da taxonomia. Por exemplo, os ancestrais de todos os primatas são colocados dentro da ordem Primates, mas não são delimitados em nenhuma família específica (como Lemuridae ou Hominidae), visto que são igualmente aparentados com todos os membros da ordem.

Bibliografia

  • AMORIM, D. S. (2002). Fundamentos de Sistemática Filogenética. Holos, Ribeirão Preto – São Paulo.
  • KIELAN-JAWOROWSKA, et al. (2007). First ?cimolodontan multituberculate mammal from South America. Acta Palaeontologica Polonica, 52 (2): 257-262.
  • BERGQVIST, et al. (2004). The Xenarthra (Mammalia) of São José de Itaboraí Basin (upper Paleocene, Itaboraian), Rio de Janeiro, Brazil. Geodiversitas, 26 (2): 323-337.
  • FJELDSA, et al. (2003). Sapayoa aenigma: a New World reprentative of ‘Old World suboscines’. Pro. R. Soc. Lond. 270: 2348-241.

Ver também

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