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Grussaí

Duas canoas em Grussaí
Lagoa em Grussaí
Miniatura do Cristo Redentor em Grussaí

Grussaí é o terceiro distrito do município de São João da Barra, no estado do Rio de Janeiro, no Brasil. É conhecida como a "praia das casuarinas", pela abundância deste tipo de árvore na região, tendo se tornado um balneário tradicional da Mesorregião do Norte Fluminense.

Etimologia

"Grussaí" é um nome de origem tupi que significa "rio dos caranguejos", pela junção de gûarusá (caranguejo) e 'y (rio).[1] Algumas fontes, em geral mais antigas, grafam erradamente o nome como "Gruçaí".

Caracterização

Trata-se de lugar pacato durante a maior parte do ano, com uma pequena população fixa estimada em 10 000 pessoas, que vive da pesca, do comércio e do turismo. Em anos recentes, Grussaí tem, também, atraído aposentados em busca de vida tranquila e eventualmente estrangeiros que trabalham em empreendimentos próximos.

Enquanto em Atafona, ao norte, o mar vem avançando sobre a terra na área onde deságua o Paraíba do Sul, em Grussaí vem ocorrendo fenômeno inverso: o mar tem recuado sistematicamente nas últimas décadas, aumentando bastante a faixa de areia da praia, chegando em alguns trechos a criar um novo quarteirão, que, pouco a pouco, vem recebendo novas construções.

A localidade conta com duas lagoas: a de Grussaí, que divide o núcleo urbano em duas partes, unidas por uma bela ponte para pedestres e outra para veículos, e a de Iquipari, um pouco mais ao sul, hoje já quase ligada à comunidade principal por loteamentos sucessivos.

História

No passado, havia, ao redor da lagoa, uma aldeia de nativos, onde se misturavam pessoas de origem cabocla com alguns estrangeiros que possivelmente naufragaram na região, o que explicaria o fato de muitos locais manterem ainda hoje olhos azuis muito claros. Viviam da pesca, de plantações e da criação de animais. No final do século XIX, aquelas terras foram adquiridas por Manuel Joaquim da Silva Pinto, casado com Branca Saturnino Braga e filho do Barão de São Fidélis, que construiu as duas primeiras casas de veraneio da região.

Inicialmente, as construções ficavam afastadas da praia, na área de restinga que hoje é a Avenida Liberdade. A primeira igreja de Santo Amaro foi construída em 1921 pelo empreendedor Ademar Laranjeira, tendo sido ampliada em 1956. Em 1922, o comerciante português Lourenço Augusto Russo estabeleceu-se em Grussaí e ali construiu um hotel com 10 quartos, por muito tempo o ponto de referência da localidade. O acesso a Grussaí era feito por jardineira (ônibus aberto) que seguia até Atafona, onde se pegava o trem da Leopoldina Railway para outros lugares. Naqueles tempos, ia-se à praia de charrete ou a cavalo e lá se trocava o roupão por roupa de banho em cabines de madeira (caramanchões), que já não mais existem.

Somente a partir do final dos anos 1940, a localidade começou a se expandir na direção do mar. Em 1955, um grupo de veranistas fundou o clube local na região da restinga (embora uma corrente então advogasse que ele ficasse mais próximo ao mar); nas décadas seguintes, ampliado, ele se tornaria o ponto de encontro para grandes shows, competições esportivas e bailes de carnaval. Em 1956, foi construído, por iniciativa particular, o primeiro mirante, localizado em frente à rua que ainda hoje é conhecida como "do Mirante". Com o afastamento do mar, este primeiro mirante tornou-se inútil: um segundo mais próximo ao mar e à esquerda da praia foi construído em 1968, também tornando-se, tempos depois, afastado do mar e vindo a ser desativado, é onde atualmente fica o "Polo Gastronômico". Hoje, os postos fixos de salvamento em Grussaí encontram-se instalados na cabeceira das novas passarelas suspensas para pedestres.

A água encanada e a luz elétrica somente chegaram em meados dos anos 1960, mas a rede de esgoto ainda permanece por ser construída. Com o asfaltamento da BR-356 e a melhoria nas condições de acesso, Grussaí foi crescendo sobretudo com a construção de casas de veraneio de classe média, justificando a existência de um comércio bem estruturado de materiais de construção. O comércio concentrou-se primeiro na antiga Rua das Flores e, mais tarde, ao longo da Avenida Liberdade e no entorno da Lagoa.

O outro lado da lagoa foi se tornando um bairro populoso e a se estender para os lados da lagoa de Iquipari, tornando loteamentos áreas que pertenceram, entre outros, ao ex-técnico da Seleção Brasileira de Futebol, Telê Santana. As terras no entorno da Lagoa de Iquipari foram adquiridas pela então LLX (hoje Prumo) e cercadas.

Já na parte norte, foram ocupadas as terras ao redor da Igreja de Santo Amaro, uma área que recebeu impulso a partir da inauguração do complexo do SESC-MG, em 1979. Mas Grussaí ainda hoje esbarra ao norte em terras remanescentes da família Pinto, que seguem até a praia.

Para a população local, a falta de oportunidades de trabalho não qualificado e de condições de estudo (somente há escolas de 1º grau) criaram um vínculo com a sede do município e com Campos dos Goytacazes, maior cidade da Região Norte Fluminense. Grussaí é servida por asfalto por um segmento de estrada que parte da BR-356 e hoje já é ligada à Atafona por estrada pavimentada, que segue pelo litoral. Há uma estação de rádio local (Grussai FM, 87.9 MHz), um caixa eletrônico e uma agência lotérica que aceita o pagamento de contas.

Bairros

  • Iquipari
  • Tele Santana
  • Nossa Senhora de Aparecida
  • Lagoa
  • Lagoinha
  • Figueira
  • Loteamento do Renan
  • Centro
  • Perigoso
  • Nova Grussaí

O novo Porto do Açu

Nos últimos anos, Grussaí tem se expandido mais para o sul, na direção da Lagoa de Iquipari, uma vez que vinha encontrando barreiras para crescer nas outras direções. A instalação do Complexo Portuário do Açu, da Prumo, ex-LLX, na praia do mesmo nome localizada a cerca de 12 quilômetros ao sul de Grussaí, também tende a movimentar bastante a região. A ponte que liga o píer ao continente é visível de Grussaí, embora ainda não exista uma via ligando-a à região.

Atualmente, o acesso direto ao porto do Açu a partir de Grussaí somente é possível pela faixa de areia da praia, por veículos com tração e apenas quando a barra da lagoa de Iquipari está fechada. A RJ-196 está projetada para atravessar a região, mas hoje existe apenas um caminho primitivo, conhecido como Estrada das Conchas. Entretanto, o acesso ao Açu a partir de Grussaí pode ser feito por estrada asfaltada, embora mais longa, tomando-se a BR 356 no sentido para Campos por cerca de 16 km até o cruzamento com a RJ 240, seguindo-a então por mais 20 km até o Açu.

Muitos dos que trabalham hoje no porto do Açu e nos empreendimentos a ele ligados (como as termelétricas) são locais de Grussaí ou escolheram Grussaí para viver, aumentando nos últimos anos o número de pessoas residentes, trazendo movimento por todo o ano e incentivando o comércio local.

Turismo

Ônibus turístico no distrito.

Durante os meses de verão, Grussaí é ocupada por milhares de turistas, provenientes sobretudo do vizinho município de Campos dos Goytacazes, do qual é a praia mais próxima, distando 36 quilômetros. Estima-se que os visitantes em casas de veraneio ou hospedados na rede hoteleira local cheguem a 50 mil durante os finais de semana mais movimentados, além daqueles que vêm apenas para aproveitar o dia. Grussaí é um dos locais onde a Prefeitura Municipal de São João da Barra costuma promover shows e eventos desportivos, atraindo grandes multidões às instalações especialmente montadas para abrigá-los.

Além da longa praia de areias claras e águas geralmente escuras (reflexo da foz do rio Paraíba do Sul, que desemboca no mar em Atafona, 10 quilômetros ao norte), os turistas encontram um lugarejo hospitaleiro e simpático. Isto não impede que episódios típicos de violência urbana (assaltos a residências e até homicídios) venham sendo crescentemente registrados, bem como uma especulação imobiliária, alimentada pelas expectativas de crescimento econômico projetadas para o município de São João da Barra.

As lagoas, que nem sempre oferecem condições adequadas de balneabilidade, também atraem muitos banhistas e pescadores. A parte mais urbana da praia (entre a Rua das Flores e a Rua Lourenço Augusto Russo, ainda hoje mais conhecida como Rua do Hotel) conta com um calçadão já tradicional. É neste trecho onde os grandes shows e eventos são normalmente realizados no verão e onde se concentram os trios nos dias de carnaval. No verão de 2014, foi preparado um terreno junto à rua da praia para passar a abrigar os shows, evitando assim o estresse na faixa de areia, terreno protegido para as tartarugas marinhas.

O carnaval em Grussaí já viveu diferentes fases, migrando das primeiras festas realizadas no hotel ou nas casas dos veranistas pioneiros até os anos 1950 para os grandes bailes promovidos pelo clube a partir dos anos 1960. Na década de 1990, ganhou impulso o carnaval de rua, que escolheu o sábado como o principal dia para o desfile dos blocos e fantasiados. Data daí o crescimento da Boneca do Waldir, que reunia uma multidão de foliões ao longo da Avenida Liberdade. Com o fim da Boneca em 2007, por problemas ligados à violência, as celebrações têm se concentrado nos trios elétricos que se apresentam todos os dias na orla e por outros blocos populares mais recentes. Em 2017, a Boneca do Waldir voltou ao Carnaval de Grussaí, após dez anos e numa versão mais modesta.

No verão de 2009, foi inaugurado um novo calçadão ligando Grussaí a Atafona, desta vez junto à pista oposta a da orla e passando por Chapéu do Sol, se tornando um outro ponto para práticas desportivas. Na sua parte inicial, ele dá acesso ao Polo Gastronômico, inaugurado em 2012, onde passaram a se concentrar os quiosques antes espalhados pela areia, contando com oito quiosques e quatro lojas de conveniência. O novo calçadão passa também pelo trecho conhecido como "praia dos mineiros", já no extremo norte de Grussaí, onde se concentram muitos turistas provenientes daquele Estado. Tanto em frente ao Polo Gastronômico quanto na altura da "praia dos mineiros" e no outro lado da lagoa foram construídas novas pontes elevadas de acesso de banhistas à praia.

O distrito conta com uma boa rede de pousadas e restaurantes. Neste ponto, destacava-se o complexo do SESC de Minas Gerais, aberto em 1979, que contava com uma estrutura de hospedagem e lazer de grande porte (mais de 600 apartamentos) e que por muito tempo se constituiu no principal empregador de mão de obra local, fechado em maio de 2020, por problemas administrativos agravados pela crise no setor de viagens causada pela epidemia do coronavirus. Entre outras atrações, os hóspedes contavam com um serviço de simpáticas charretes a cavalos, que levavam os banhistas do hotel até a praia, de certo modo refazendo o percurso que também faziam os veranistas pioneiros há setenta anos atrás.

A vida noturna concentra-se nos bares da orla e nos diversos bares e restaurantes da Avenida Liberdade, muitos dos quais abertos apenas durante os meses de veraneio ou durante os finais de semana fora do verão.

Entre outros, listam-se os seguintes locais de interesse em Grussaí:

  • um dos mais bem equipados clubes de praia da região, o Grussaí Praia Clube, estabelecido em 1955;
  • a pequena igreja de Santo Amaro, construída em 1921 e depois reformada;
  • as instalações do SESC-MG, que incluem réplicas de monumentos mundiais em menor escala e uma locomotiva a vapor original circulando por uma linha interna, que podem ser visitadas mediante identificação na portaria;
  • a pitoresca Rua das Cabanas, formada por construções neste formato, ao lado do clube;
  • a bela ponte pênsil para pedestres que atravessa a Lagoa de Grussaí;
  • o entorno das lagoas, com belas paisagens, bares e quiosques;
  • a área remanescente de restinga que ainda existe junto à praia, com fauna e flora únicas, objeto de diversos estudos acadêmicos </http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-33062000000300007&script=sci_arttext>.

Problemas ambientais

Como uma localidade em rápido crescimento, Grussaí vem acumulando problemas ambientais que, embora não sejam novos, tendem a se agravar com o urbanismo acelerado. Não há sistema público de coleta ou tratamento de esgoto, o que leva à construção de fossas que comprometem o lençol freático ou ao simples despejo na lagoa. A poluição na Lagoa de Grussaí já é alarmante e há tempos eliminou a tradicional atividade pesqueira que ali se desenvolvia. A Lagoa de Iquipari, ainda menos afetada pela urbanização, não sofreu tantos danos. Em anos recentes, Grussaí tem vivido alagamentos crescentes após chuvas fortes, que deixa debaixo d'água e por longos períodos partes inteiras de seu território baixo.

A vegetação própria da região tem sofrido muito com a expansão imobiliária. As áreas de restinga foram praticamente extintas na parte mais urbana e registram-se também denúncias de desmatamento das casuarinas tradicionais, que por anos marcaram a região e hoje se restringem a alguns bolsões isolados.

A poluição do mar também é antiga e decorrente principalmente da incômoda vizinhança com a foz do Rio Paraíba do Sul em Atafona, mas se alterna com períodos de mar limpo quando os ventos mudam. Grussaí integra a área coberta pelo Projeto Tamar no esforço de preservação das tartarugas que ali acorrem para depositar seus ovos na areia.

Referências

  1. NAVARRO, E. A. Método moderno de tupi antigo. 3ª edição. São Paulo. Global. 2005. 463 p.

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