Em artes visuais, o grafiti (português europeu) ou grafite (português brasileiro)[4][1][2][3][5] ou grafíti[6] (aportuguesamento do italiano graffiti, plural de graffito) é uma arte, na forma de uma inscrição caligrafada de elaboração mais complexa que a pichação ou um desenho pintado sobre um suporte em espaços públicos que não são previsto para esta finalidade (como em paredes), existente desde o Império Romano.
Por muito tempo visto como um assunto irrelevante ou mera contravenção, atualmente o grafite já é considerado como forma de expressão incluída no âmbito das artes visuais,[7] mais especificamente, da arte urbana — em que o artista aproveita as paredes, criando uma linguagem intencional para interferir na cidade. Entretanto, há quem não concorde, equiparando o grafite à pichação.[8] Grafitar locais públicos ou privados, sem autorização dos respectivos proprietários, é atividade proibida por lei em vários países.
Descrição
Normalmente distingue-se o grafite, de elaboração mais complexa, da simples pichação, quase sempre considerada como contravenção. No entanto, muitos grafiteiros respeitáveis, como Os Gémeos, autores de importantes trabalhos em várias paredes do mundo, aí incluída a grande fachada da Tate Modern de Londres,[9] admitem ter um passado de pichadores. Na língua inglesa, contudo, usa-se o termo graffiti para ambas as expressões.[10]
A partir do movimento contracultural de maio de 1968, quando os muros de Paris foram suporte para inscrições de caráter poético-político, a prática do grafite generalizou-se pelo mundo, em diferentes contextos, tipos e estilos, que vão do simples rabisco ou de tags repetidas ad nauseam, como uma espécie de demarcação de território, até grandes murais executados em espaços especialmente designados para tal, ganhando status de verdadeiras obras de arte. Os grafites podem também estar associados a diferentes movimentos e tribos urbanas, como o hip-hop, e a variados graus de transgressão.
Dentre os grafiteiros, talvez o mais célebre seja Jean-Michel Basquiat, que, no final dos anos 1970, despertou a atenção da imprensa nova-iorquina, sobretudo pelas mensagens poéticas que deixava nas paredes dos prédios abandonados de Manhattan.[11] Posteriormente Basquiat ganhou o rótulo de neoexpressionista e foi reconhecido como um dos mais significativos artistas do final do século XX. Atualmente no século XXI, muitas pessoas usam o grafite como arte em museus de arte.
Termos e gírias
- 3D - Estilo tridimensional, baseado num trabalho de brilho / sombra das letras.
- Asdolfinho - Novo estilo de grafite desenvolvido por americanos, no qual é visado a pintura animal.
- Backjump - Comboio pintado em circulação, enquanto está parado durante o percurso (numa estação por exemplo).
- Bite - Cópia, influência directa de um estilo de outro writer.
- Bombing - Grafite rápido, associado à ilegalidade, com letras mais simples e eficazes.
- Bubble Style - Estilo de letras arredondadas, mais simples e "primárias", mas que é ainda hoje um dos estilos mais presentes no grafite.
- Cap - Válvula (bico) aplicável às latas para a pulverização do spray. Existem variados caps, que variam consoante a pressão, originando um traço mais suave ou mais grosso (ex: Skinny", "Fat", "NY Fat Cap", etc.).
- Characters - Personagens, caricaturas, bonecos pintados a grafite.
- Crew - "Equipa", grupo de amigos que habitualmente pintam juntos e que representam todos o mesmo nome. É regra geral os writers assinarem o seu tag e respectiva crew (normalmente sigla com dois a 4 letras) em cada obra.
- Cross (atropelar) - Pintar um grafite ou assinatura por cima de um trabalho de um outro writer.
- Degradé - Passagem de uma cor para a outra sem um corte direto. Por exemplo uma graduação de diferentes tons da mesma cor.
- End to end - Carruagem ou comboio pintado de uma extremidade à outra, sem atingir a parte superior do mesmo (por ex. as janelas e parte superior do comboio não são pintadas).
- Fill-in - Preenchimento (simples ou elaborado) do interior das letras de um grafite.
- Grapixo - Grafite que se aproxima da pichação. As letras em formato rúnico, angulares, são representadas em 3-dimensões, com sombreamento, contornos e um background.
- Hall of Fame - Trabalho geralmente legal, mural mais trabalhado onde normalmente pinta mais do que um artista na mesma obra, explorando as técnicas mais evoluídas.
- Highline (sub-contorno) - Contorno geral de todo o grafite, posterior ao outline.
- Hollow - Grafite ou Bomb que não tem fill (preenchimento) algum e, geralmente, é ilegal
- Inline - Contorno das letras, realizado na parte de dentro das letras.
- Kings - Writer que adquiriu respeito e admiração dentro da comunidade do grafite. Um estatuto que todos procuram e que está inevitavelmente ligado à qualidade, postura e anos de experiência.
- Outline - Contorno das letras cuja cor é aplicada igualmente ao volume das mesmas, dando uma noção de tridimensionalidade.
- Roof-top - Grafite aplicado em telhados, outdoors ou outras superfícies elevadas. Um estilo associado ao risco e ao difícil acesso mas que é uma das vertentes mais respeitáveis entre os writers.
- Spot - Denominação dada ao lugar onde é feito um grafite.
- Tag - Nome/Pseudónimo do artista.
- Throw-up - Estilo situado entre o "tag"/assinatura de rua e o bombing. Letras rápidas normalmente sem preenchimento de cor (apenas contorno).
- Top to bottom" - Carruagem ou carruagens pintadas de cima a baixo, sem chegar no entanto às extremidades horizontais.
- Toy - O oposto de King. Writer inexperiente, no começo ou que não consegue atingir um nível de qualidade e respeito dentro da comunidade.
- Train - Denominação de um comboio (trem, vagão) pintado.
- Whole Car - Carruagem inteiramente pintada, de uma ponta à outra e de cima a baixo.
- Whole Train - Um comboio (trem, vagão) com todas as carruagens inteiramente pintadas, de uma ponta à outra e de cima a baixo.
- Wild Style - Estilo de letras quase ilegível. Um dos primeiros estilos a ser utilizado no surgimento do grafite.
- Writer - Escritor de grafite.
- Fake (falso) - Pessoa que assume o nome de "grafiteiro", carrega o nome, porém usando técnicas de street art.
Galeria
Antigo grafite político
(Vila dos Mistérios, Pompeia)Belém, Palestina
Ver também
- Aerografia
- Afresco
- Arte rupestre
- Estêncil
- Lista de ferimentos e mortes por graffitis e arte de rua
- Muralismo
- Museu Aberto de Arte Urbana de São Paulo
- Pichação
Referências
- ↑ 1,0 1,1 «UOL Dicionário Houaiss». houaiss.uol.com.br. Consultado em 12 de dezembro de 2015
- ↑ 2,0 2,1 «"A grafite" é o material dentro de um lápis ou lapiseira; e "o grafite é a arte urbana feita em paredes.». DicionarioeGramatica.com. Consultado em 12 de dezembro de 2015
- ↑ 3,0 3,1 «Dicionário Online - Dicionáro Caldas Aulete - Significado de grafite: (gra.fi.te) 1. Inscrição ou desenho feito em muros ou monumentos.». www.aulete.com.br. Consultado em 12 de dezembro de 2015
- ↑ Ciberdúvidas/ISCTE-IUL. «Os graffiti = os grafíti = os grafitos - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa». ciberduvidas.iscte-iul.pt (em português). Consultado em 14 de maio de 2018
- ↑ Dicionário Houaiss, verbete "grafito".
- ↑ «Significado/definição de 'grafíti'». Priberam. Consultado em 9 de março de 2014
- ↑ «Grafite ganha espaço em Museu de Arte Contemporânea»
- ↑ «Empresa contratada pela prefeitura apaga grafite no centro de SP»
- ↑ «Nunca e Osgemeos pintam paredes da Tate Modern, em Londres»[ligação inativa]
- ↑ «Pichação: escrita, tipografia e voz de uma cultura na cidade de São Paulo].» (PDF)
- ↑ «The Village Voice, 23.03.1982. Jean-Michel Basquiat and the Contemporary Art Scene, por Roberta Smith» (em inglês)
Ligações externas
- COUY, V. B. Mural dos nomes impróprios: ensaio sobre grafito de banheiro. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005. link.
- MARCHE, Guillaume. Expressivism and Resistance: Graffiti as an Infrapolitical Form of Protest against the War on Terror. Revue française d’études américaines, n° 131, 2012/1. link.
- GUERRA, Nicola. Vogliamo tutto. We want it all. Inside Art, n° 119, 2020. link.