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Dízimo

Dízimo (significa uma parte) origem decimal, é uma contribuição financeira para ajudar organizações religiosas judaicas e algumas denominações cristãs. Apesar de atualmente estar associada à religião, muitos reis na Antiguidade exigiam o dízimo de seus povos.

Origens

Na Bíblia Hebraica

Etimologicamente dízimo (latim decimus), significa a décima parte de algo. Vários conceitos do dízimo são descritos em Deuteronômio no capítulo 14, versículo 22-29.[1][2] Há vários conceitos do que seria esse dízimo e é notório que nenhum deles é em dinheiro:

  • Teroumat hamaasser: extraído dos produtos da colheita em terra de Israel, ou seja, o dízimo do dízimo (um por cento), que era dado à classe sacerdotal.
  • Maasser rishon: consiste na dedução de um décimo da renda e do produto de cada ano, dado aos levitas.
  • Ma'asser Sheni: consiste em levar um décimo da produção agrícola do primeiro, segundo, quarto e quinto anos do ciclo de sete anos da Terra para levá-lo ao templo e consumi-lo.
  • Ma'asser 'Ani: retirado no terceiro e sexto ano do ciclo de sete anos. Nenhum dízimo é retirado durante o sétimo ano, o Shmita, porque a terra deve ser deixada para descansar.

No contexto da reconstrução do templo após o Exílio Babilônico, o dízimo é incentivado no capítulo 3 dos versículos 8 a 12 do livro de Malaquias. Nesse contexto, que visava a restauração da classe sacerdotal e levítica, bem como atender os despossuídos, a infidelidade nos dízimos foi considerada um assalto a Deus, enquanto a fidelidade nos dízimos é apresentada como um teste de bênçãos.[3]

No Novo Testamento

Alguns teólogos alegaram que o dízimo era um costume judaico enraizado no tempo de Jesus, e é por isso que não havia um comando específico sobre o dízimo no Novo Testamento. [4] Os dízimos dos israelitas eram de caráter agrícola. Referências ao dízimo no Novo Testamento podem ser encontradas em Evangelho de Mateus, Evangelho de Lucas e Epístola aos Hebreus.

Cristianismo

Catolicismo

Dízimos e dízimo

No Catolicismo, durante o Conselho de Tours em 567, um decreto para a coleta do dízimo foi promulgado.[5] Em 585, durante o Segundo Concílio de Macon, um decreto foi adotado para a excomunhão daqueles que não pagam o dízimo pela Igreja. [6]

Dízimo no catolicismo brasileiro

Ver artigo principal: Dez Mandamentos do Dízimo

O Papa Bento XVI extinguiu o termo "dízimos" do quinto Mandamento da Igreja (pagar dízimos conforme o costume), conforme Compêndio do Catecismo da Igreja Católica por ele promulgado em 28 de junho de 2005 e republicado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.[7] O Quinto Mandamento agora é assim: "Atender às necessidades materiais da Igreja, cada qual segundo as próprias possibilidades".

Em artigo publicado no portal da CNBB, o Cônego Celso Pedro da Arquidiocese de São Paulo, delineia o divisor que deve haver entre o extinto dízimo levítico e a obrigação dos católicos para contribuir com as necessidades temporais da Igreja e a responsabilidade religiosa daí advinda: "O Novo Testamento não conhece o dízimo. Ele conhece a partilha fraterna para que não haja necessitados na comunidade e para que o evangelho seja anunciado. O anúncio do Evangelho é um assunto genérico, que pode ser especificado de diversas maneiras. Às vezes uma contribuição para a evangelização acaba sendo destinada a cobrir despesas mal programadas. Os necessitados, porém, são uma realidade que não deve existir na comunidade. Uma paróquia pode ter muitas ações sociais voltadas para fora, mas não pode deixar de verificar se entre os que participam da mesa eucarística não há alguém que passe fome. Todos devem poder dizer como Paulo: “Agora tenho tudo em abundância depois de ter recebido de Epafrodito o que veio de vocês”.[8]

Dízimo no catolicismo moçambicano

Em 2006, numa decisão que sofreu contestações pelos fiéis que se dizem obrigados a escrever os nomes, estado civil e idade nos respectivos envelopes, foi introduzido o dízimo pela Igreja Católica moçambicana. A questão ganhou maior relevo apenas em 2007 quando o arcebispo da Arquidiocese de Maputo, Francisco Chimoio, ameaçou, em carta, sancionar as paróquias que não aderiram ao sistema. Apesar de a decisão ser severamente censurada pelos fiéis católicos, o arcebispo de Maputo sustenta que a prática do "dízimo não pode ser vista do ponto de vista negativo, porque se trata de uma acção voluntária que visa apoiar a sustentação da mais antiga Igreja cristã com mais de dois mil anos".[9][10]

Instrução do Papa Francisco sobre abolição das taxas

No dia 27 de Julho de 2020, o Papa Francisco expede a todas as dioceses do mundo a Instrução Sobre Paróquia e Evangelização da Congregação Para o Clero, onde reitera que a proposição "não contém novidades legislativas", senão "modalidades para melhor aplicar a normativa vigente". [11] Estabelece regras na ação pastoral, junto aos órgãos e zonas pastorais a serem prescritas pelo Bispo Diocesano, cargos e conselhos, e dentro do assunto específico que trata das ofertas da igreja, aboliu toda e qualquer cobrança de taxa sacramental, conforme item XI - 118 da mesma Instrução: "Trata-se de uma oferta que, por sua natureza, deve ser um ato livre da parte do ofertante, deixando a sua consciência e ao seu senso de responsabilidade eclesial, não um “preço a pagar” ou uma “taxa a exigir”, como que tratasse de um tipo de “imposto sobre sacramentos”.

Reafirma-se, assim, o que sempre esteve prescrito no V Mandamento da Igreja: "Atender às necessidades materiais da Igreja, cada qual segundo as próprias possibilidades". Muito além de atingir em cheio a cobrança de taxas fixas, o documento celebra a oferta espontânea, inclusive anônima dos fiéis em relação à Igreja e seus Sacramentos. Pela carência de sustentação canônica, as Pastorais do Dízimo tão controversamente difundidas no Brasil há décadas, notadamente sucumbiram diante da clareza do documento firmado na Solenidade dos Santos Pedro e Paulo. Pois o documento do Papa Francisco, além da questão da oferta espontânea, propõe também seu anonimato: "Entre os instrumentos que podem consentir a realização de tal fim, pode-se pensar o recolhimento das ofertas em modo anônimo, assim que cada um se sinta livre de doar aquilo que pode, ou que considera justo, sem sentir-se no dever de corresponder ao que se espera ou um preço".

Protestantismo

No Protestantismo, Martinho Lutero, o teólogo por trás da reforma protestante, disse que a lei da graça exclui a lei do dízimo. Em um sermão de 27 de agosto de 1525, ele mencionou a passagem de Paulo em Gálatas 5: 3, onde se diz que quem concordar em viver de acordo com a lei de Moisés seria obrigado a praticar toda a lei (Dt 28:58).[12] Boa parte das denominações protestantes acreditam no dízimo como um modelo de generosidade não obrigatória ou que as despesas da Igreja e de suas missões devam ser custeadas de forma voluntária.

No cristianismo evangélico, as posições no dízimo variam de acordo com as denominações. Em algumas igrejas evangélicas, o dízimo é considerado obrigatório e o sujeito ocupa grande parte de cada culto.[13][14] Para algumas denominações, o dízimo é um modelo de generosidade, sem obrigação.[15][16]

A teologia evangélica considera que sob as doutrinas do sacerdócio universal dos crentes e o mandado de ajudar o próximo universalmente, a prática do dízimo se torna impraticável.[17]

De acordo com um estudo de 2018 realizado pela LifeWay Research que entrevistou 1.010 americanos, 86% das pessoas com crenças evangélicas dizem que o dízimo ainda é um mandamento bíblico hoje.[18] Neste número, 87% dos crentes batistas, 86% dos crentes pentecostais, 81% dos crentes não-denominacionais compartilham esta posição.

Um modelo de generosidade ou ofertas voluntárias

  1. Igreja Luterana - Sínodo de Missouri, Estados Unidos[19]
  2. Igreja Presbiteriana (Estados Unidos), Estados Unidos[20]
  3. Federação das Igrejas Evangélicas Batista da França, França[21]
  4. Aliança Cristã e Missionária EUA, Estados Unidos[22]
  5. Igreja Quadrangular, Internacional[23]
  6. Igreja de Deus (Cleveland), Internacional[24]

Uma doação obrigatória

  1. Convenção Batista do Sul, Estados Unidos[25]
  2. Assembleias de Deus[26]
  3. Igreja Universal do Reino de Deus, Internacional[27]

Angariação de fundos do governo

Em alguns países da Europa, principalmente em regiões de língua alemã, existe um imposto (Kirchensteuer, em alemão) formal e obrigatório para os professantes de uma fé. Este imposto é retido na fonte e posteriormente encaminhado à unidade religiosa de direito. Para quem se declara sem religião, não há a cobrança do referido imposto ou esse é encaminhado aos cofres públicos.[28]

Controvérsias

Uma doutrina particularmente controversa com dízimo é a da teologia da prosperidade, que se espalhou nas décadas de 1970 e 1980 nos Estados Unidos, principalmente por televangelistas pentecostais e carismáticos.[29][30] Esta doutrina é centrada no ensino da fé cristã como um meio de enriquecer-se financeira e materialmente, através de uma "confissão positiva" e uma contribuição para os ministérios cristãos.[31] Promessas de cura divina e prosperidade são garantidos em troca de certos montantes de doações.[32][33] A fidelidade no dízimo permitiria evitar as maldições de Deus, os ataques do diabo e da pobreza.[34] As ofertas e dízimo ocupam muito tempo nos cultos.[16] Muitas vezes associada ao dízimo obrigatório, esta doutrina é por vezes comparada com um negócio religioso.[35][36][37] Em 2012, o Conselho Nacional de Evangélicos da França publicou um documento denunciando essa doutrina, mencionando que a prosperidade era de fato possível para um crente, mas que essa teologia levada ao extremo leva ao materialismo e à idolatria, que não é a propósito do evangelho.[38][39] Pastores pentecostais que aderem à teologia da prosperidade têm sido criticados por jornalistas por seu estilo de vida bling-bling (roupas luxuosas, casas grandes, carros luxuosos, avião particular, etc.).[40]

Desde a década de 1970, vários escândalos financeiros de peculato têm sido relatados em igrejas e organizações evangélicas.[41] O Conselho Evangélico de Responsabilidade Financeira foi fundado em 1979 para fortalecer a integridade financeira de organizações e igrejas evangélicas que desejam voluntariamente ser membros e passar por auditorias contábeis anuais.[42]

Em 2015, o autor americano do livro "Sunday Morning Stickup" acusou algumas igrejas cristãs de usar estratégias de culpa para pegar ofertas e dízimo dos fiéis.[43] Em particular, distorcendo certas passagens da Bíblia para tornar as contribuições obrigatórias, aumentando os grandes doadores e fazendo perder vantagens para os membros que não dão o suficiente.

Ver também

Referências

  1. Norman Solomon, Historical Dictionary of Judaism, Rowman & Littlefield, USA, 2015, p. 459
  2. Sara E. Karesh, Mitchell M. Hurvitz, Encyclopedia of Judaism, Infobase Publishing, USA, 2005, p. 521
  3. David A. Croteau, Perspectives on Tithing: Four Views, B&H Publishing Group, USA, 2011, p.15
  4. David A. Croteau, Perspectives on Tithing: Four Views, B&H Publishing Group, USA, 2011, p. 184-185
  5. Americana Corporation, Encyclopedia Americana, Volume 30, Scholastic Library Publishing, USA, 2006, p. 788
  6. William J. Rademacher, John S. Weber, David McNeill, Jr., Understanding Today's Catholic Parish, Twenty-Third Publications, USA, 2007, p. 13
  7. LUIZ MAKLOUF CARVALHO, O NEGÓCIO DO DÍZIMO, piaui.folha.uol.com.br, Brasil, Abril 2008
  8. «De Éfeso, uma carta aos filipenses». Cônego Celso Pedro, Arq. de São Paulo. 5 de dezembro de 2008. Consultado em 28 de maio de 2012 
  9. «Igreja Católica introduz dízimo mas os crentes contestam». Maputo.co.mz. 26 de setembro de 2007. Consultado em 10 de outubro de 2010 
  10. «Moçambique: Igreja Católica introduz dízimo mas os fiéis contestam». O Verbo. 25 de setembro de 2007. Consultado em 10 de outubro de 2010 
  11. Beniamino Card. Stella, Íntegra da Instrução sobre paróquia e evangelização da Congregação para o Clero, vaticannews.va, Vatican, 29 de junho de 2020
  12. David A. Croteau, Perspectives on Tithing: Four Views, B&H Publishing Group, USA, 2011, p. 179-180
  13. John Blake, How passing the plate becomes the 'Sunday morning stickup', cnn.com, USA, 14 de junho de 2015
  14. Venance Konan, Églises évangéliques d’Abidjan - Au nom du père, du fils et... du business, koffi.net, Costa do Marfim, 10 de maio de 2007
  15. Dean R. Hoge, Money Matters: Personal Giving in American Churches, Westminster John Knox Press, USA, 1996, p. 141
  16. 16,0 16,1 Marie-Claude Malboeuf e Jean-Christophe Laurence, Églises indépendantes: le culte de l'argent, lapresse.ca, Canadá, 17 de novembro de 2010
  17. https://www.thegospelcoalition.org/article/7-reasons-christians-not-required-to-tithe/ 7 Reasons Christians Are Not Required to Tithe
  18. Bob Smietana, Churchgoers Say They Tithe, But Not Always to the Church, lifewayresearch.com, USA, 10 de maio de 2018
  19. Igreja Luterana - Sínodo do Missouri, Tithing, lcms.org, USA, acessado em 27 de maio de 2020
  20. Igreja Presbiteriana (Estados Unidos), Stewardship, presbyterianmission.org, USA, Maio de 1997
  21. FEEBF, COUTUMIER DE LA FEEBF : RESPONSABILITÉS COMMUNAUTAIRES, p. 15, federation.feebf.com, França, acessado em 27 de maio de 2020
  22. Ronald Walborn and Frank Chan, Stewardship and the Kingdom of God, cmalliance.org, USA, 2001, p. 30
  23. The Foursquare Church, Beliefs : 22. Tithes and Offerings, p. 2, foursquare.org, USA, acessado em 27 de maio de 2020
  24. Igreja de Deus (Cleveland), DOCTRINAL COMMITMENTS : Tithing and giving, churchofgod.org, USA, acessado em 27 de maio de 2020
  25. Southern Baptist Convention, On Tithing, Stewardship, And The Cooperative Program, sbc.net, USA, 2013
  26. Dízimos e ofertas.
  27. Igreja Universal do Reino de Deus, Em que Cremos : Dízimos e Ofertas, universal.org, Brasil, acessado em 27 de maio de 2020
  28. Bundesministerium der Justiz und für Verbraucherschutz, Grundgesetz für die Bundesrepublik Deutschland Art 140 , gesetze-im-internet.de, USA, retrieved May 27, 2020
  29. Kate Bowler, Blessed: A History of the American Prosperity Gospel, OUP USA, USA, 2013, p. 73
  30. Randall Herbert Balmer, Encyclopedia of Evangelicalism: Revised and expanded edition, Baylor University Press, USA, 2004, p. 562
  31. Kate Bowler, Blessed: A History of the American Prosperity Gospel, OUP USA, USA, 2013, p. 59
  32. Bob Smietana, Prosperity Gospel Taught to 4 in 10 Evangelical Churchgoers, christianitytoday.com, USA, 31 de julho de 2018
  33. Kate Shellnutt, When Tithing Comes With a Money-Back Guarantee, charismanews.com, USA, 28 de junho de 2016
  34. Venance Konan, Églises évangéliques d’Abidjan - Au nom du père, du fils et... du business Arquivado em 13 de janeiro de 2017, no Wayback Machine., koffi.net, Costa do Marfim, 10 de maio de 2007
  35. Laurie Goodstein, Believers Invest in the Gospel of Getting Rich, nytimes.com, USA, 15 de agosto de 2009
  36. Jean-Christophe Laurence, Le business religieux, lapresse.ca, Canadá, 17 de novembro de 2010
  37. Trésor Kibangula, RDC : pasteur, un job en or, jeuneafrique.com, França, 06 de fevereiro de 2014
  38. Henrik Lindell, Théologie de la prospérité : quand Dieu devient un distributeur de miracles, lavie.fr, França, 8 de agosto de 2012
  39. AFP, Le ruineux Evangile des "théologiens de la prospérité", lepoint.fr, França, 26 de março de 2013
  40. Cathleen Falsani, Falsani: Get real, ‘Preachers of L.A.’, ocregister.com, USA, 7 octobre 2013
  41. Michael J. Anthony, Introducing Christian Education: Foundations for the Twenty-first Century, Baker Academic, USA, 2001, p. 284
  42. Randall Herbert Balmer, Encyclopedia of Evangelicalism: Revised and expanded edition, Baylor University Press, USA, 2004, p. 239
  43. John Blake, How passing the plate becomes the 'Sunday morning stickup', cnn.com, USA, 14 de junho de 2015

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