Predefinição:Info/Patrimônio histórico O Teatro Oficina Uzyna Uzona é a sede da companhia de teatro homônima de São Paulo, Brasil, liderada por José Celso Martinez Corrêa, o "Zé Celso", e que é a maior e mais longeva companhia de teatro em atividade permanente do Brasil. Fundada em 1958 como a Companhia Teatro Oficina, que veio a formar a atual Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona, foi criada por Zé Celso Martinez Corrêa e outros estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, como Amir Haddad e Carlos Queiroz Telles.[1]
Desde sua profissionalização, em 1961, tem sua sede no bairro do Bixiga, São Paulo. O prédio atual era a sede do antigo Teatro Novos Comediantes, de uma companhia teatral mesmo nome.[2] Na década de 1960, o prédio foi adquirido pela companhia Teatro Oficina Uzyna Uzona. No mesmo ano, no entanto, o teatro foi destruído por um incêndio e, posteriormente, remontagens de antigos sucessos da companhia foram realizadas para levantamento de fundos e reconstrução do prédio.[3]
Dezenas de obras de grande importância na dramaturgia ocidental e do Brasil foram encenadas pelo Teatro Oficina por centenas de artistas que trabalharam na história da companhia. Atualmente, a companhia é dirigida por José Celso Martinez Corrêa.[4]
O famoso projeto arquitetônico, projetado em 1992 e inaugurado em 1993, tem a assinatura de Lina Bo Bardi e Edson Elito. Atualmente, o Teatro Oficina luta contra a especulação imobiliária do Grupo Silvio Santos, que quer construir torres residenciais no terreno contíguo ao teatro, o que comprometeria irreversivelmente o projeto de Bo Bardi e Elito. Em 2015, o Teatro Oficina foi eleito pelo jornal The Guardian como o melhor teatro do mundo na categoria projeto arquitetônico.[5][6]
Histórico
Fase amadora (1958-1961)
A Companhia Teatro Oficina nasce em 1958, no encontro de artistas no Centro Acadêmico 11 de Agosto da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo; entre eles José Celso Martinez Corrêa, Renato Borghi, Etty Fraser, Fauzi Arap, Ronaldo Daniel e Amir Haddad, grupo de teatro amador que se apaixona pela primeira peça escrita por Zé Celso, Vento forte para um Papagaio Subir. Esta é a primeira montagem do Oficina, estreando sua fase amadora, juntamente com A Ponte de Carlos Queiroz Telles. A Companhia monta em seguida A Incubadeira, também de Zé Celso, e resolve então fazer os seus primeiros trabalhos explicitamente políticos montando a Engrenagem e as Moscas, do influente filósofo existencialista Jean Paul Sartre.[7]
Em 1961, a companhia decide pela sua profissionalização e adquire o espaço que desde então é a sede do grupo, um edifício antigo onde funcionava um teatro espírita, o Teatro Novos Comediantes, na Rua Jaceguai.[2] Ao chegarem na locação, constatam que o antigo proprietário tinha removido todo o mobiliário e já que não havia mais a estrutura de um teatro no local. Nesta circunstância surge a primeira contribuição conjunta de arquitetura com a Companhia, sob o projeto arquitetônico de Joaquim Guedes: um palco no meio, duas arquibancadas se defrontando.[8]
Profissionalização e incêndio (1961-1973)
São criadas a companhia profissional e a sala de espetáculos, com a encenação de "A Vida Impressa em Dólar", de Clifford Oddets. Foi feita uma reforma a partir de projeto do arquiteto Joaquim Guedes, que criou um teatro tipo "sanduiche", com duas plateias frente a frente e separadas pelo palco central, que assim permaneceu durante essa primeira fase da companhia.[7]
Em 1962, são levados à cena Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams, e "Quatro Num Quarto", de Valentin Kataev. A peça Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki, estreia em 1963. O grupo monta "Andorra", de Max Frisch, em 1964, ano do golpe militar no Brasil, e "Os Inimigos", de Máximo Gorki, em 1966. No ano de 1966, o teatro que até então possuía formato de arena, com duas plateias opostas, teve seu espaço cênico transformado por nova reforma, após um incêndio que o destruiu completamente.[7]
Em 1967, a apresentação de "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade, traz notoriedade ao teatro, lançando o tropicalismo. Na Europa, o espetáculo torna o grupo internacionalmente conhecido. As montagens de "Galileu Galilei", 1968, e "Na Selva das Cidades", 1969, ambas de Bertolt Brecht, são o ápice do Oficina.[7]
Em 1971, com o lançamento do filme Prata Palomares, uma crise interna surge e a companhia se desfaz, ressurgindo posteriormente com outra equipe, mas ainda sob a liderança de José Celso e Renato Borghi, que patrocinam a vinda do grupo experimental estadunidense The Living Theatre.Com a apresentação da obra de criação coletiva "Gracias, Señor", surge o Oficina Usyna Uzona. A encenação seguinte é uma recriação autobiográfica de "As Três Irmãs", de Anton Tchekhov, 1972.[7]
Exílio de Zé Celso e ressurgimento
Em 1974, José Celso é detido e exilado pela ditadura militar brasileira. Ele vai morar em Portugal e retorna ao Brasil em 1979.[7] Em 1981, o teatro foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat), por sua importância histórica ao teatro brasileiro. Em 1984, passa a ser oficialmente chamado de Teatro Oficina Uzyna Uzona.[7]
O prédio passa por um novo processo de reforma com base em um projeto criado pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, em parceria com o arquiteto Edson Elito. Com a ideia central de aproximar a rua do espaço cênico, o teatro desenvolve-se através de uma faixa de pranchas de madeira com cerca de 1,5 metro de largura e 50 metros de comprimento entre o acesso frontal e fundos. O projeto de reforma ocorre até 1989 e a obra é concluída em 1994.[9][7]
A companhia volta chamar a atenção pública com a montagem "Ham-let", de Shakespeare, em 1993, que reinaugura o novo edifício do teatro.[9] Em 1996, a adaptação de "As Bacantes", de Eurípides, e, 1998, a encenação da peça "Cacilda!", do próprio José Celso, também têm boa repercussão. Entre 2002 e 2006, Zé Celso realiza a montagem da obra "Os Sertões", de Euclides da Cunha.[7]
Conflito com o Grupo Silvio Santos
Arquivo:Reunião no SBT- Teatro Oficina, Zé Celso, Sílvio Santos, Suplicy e Dória (parte 03).webm Em 4 de dezembro de 2018, o Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo realizou uma reunião para resolver um impasse entre José Celso e o Grupo Silvio Santos, que pretende construir prédios de até 100 metros de altura região, no Centro de São Paulo, o que prejudicaria a construção do teatro, que é tombado desde 2010 pelo patrimônio histórico nas esferas federal, estadual e municipal. Após a reunião, em que não houve consenso entre as partes, o MPF decidiu que ingressará com uma ação na Justiça buscando a preservação do patrimônio cultural. Para os representantes do diretor do teatro, o empreendimento não respeitaria a preservação do patrimônio tombado, tanto do edifício, quanto do bem imaterial a ser preservado.[10]
Em maio de 2018, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), deu parecer favorável para a construção dos prédios residenciais de. Segundo o Iphan, o processo atende às normas relativas ao processo de tombamento e o parecer favorável refere-se "estritamente ao que se refere às delimitações de suas áreas de entorno e de tombamento". No caso do Teatro Oficina, que possui uma fachada com janela de vidro, a área que o Iphan impede a construção é definida por um cone visual com abertura de 45º a partir de cada lado da janela. Nesta área, nenhuma obra pode ser construída em uma faixa de 20 metros a partir da lateral oeste do teatro.[10]
A discussão por autorização para realizar construções ao redor do teatro oficina se arrasta há anos e Silvio Santos também realizou pedidos ao Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e no Condephaat, que avaliam a questão.[10] Em dezembro de 2019, o Conpresp aprovou o projeto das torres de Silvio Santos ao lado do Teatro Oficina.[11]
Em fevereiro de 2020, o projeto de lei 805/2017, que determinava a implementação do "Parque Bixiga" no local onde as torres residenciais seriam erguidas, foi aprovado por unanimidade em segunda votação na Câmara Municipal de São Paulo.[12] Em março do mesmo ano, no entanto, o então prefeito em exercício da cidade, Eduardo Tuma, vetou o projeto ao citar questões legais e financeiras.[13]
Referências
- ↑ Guerra, Marco Antonio. Carlos Queiroz Telles. História e Dramaturgia em Cena. São Paulo: Anna Blume, 2004.
- ↑ 2,0 2,1 Cultural, Instituto Itaú. «Teatro Novos Comediantes». Enciclopédia Itaú Cultural (em português). Consultado em 12 de abril de 2019
- ↑ Cultural, Itaú. «Teatro Novos Comediantes». Ocupação (em português). Consultado em 12 de abril de 2019
- ↑ «Projeto do Teatro Oficina de Lina Bo Bardi é eleito o melhor do mundo pelo The Guardian». ArchDaily Brasil. 15 de dezembro de 2015
- ↑ Moore, Rowan (11 de dezembro de 2015). «The 10 best theatres». The Guardian (em English). ISSN 0261-3077
- ↑ «Projeto arquitetônico do Teat(r)o Oficina é melhor do mundo, diz jornal». Folha de S.Paulo
- ↑ 7,0 7,1 7,2 7,3 7,4 7,5 7,6 7,7 7,8 Itaú Cultural, ed. (10 de dezembro de 2017). «Teatro Oficina». Consultado em 30 de março de 2021
- ↑ Cultural, Itaú. «Teatro Novos Comediantes». Ocupação (em português). Consultado em 12 de abril de 2019
- ↑ 9,0 9,1 Matheus Pereira. archdaily, ed. «Clássicos da Arquitetura: Teatro Oficina / Lina Bo Bardi e Edson Elito». Consultado em 30 de março de 2021
- ↑ 10,0 10,1 10,2 G1, ed. (5 de dezembro de 2018). «Reunião acaba sem acordo em impasse de Silvio Santos com Teatro Oficina». Consultado em 24 de novembro de 2019
- ↑ Folha de S.Paulo, ed. (dezembro de 2018). «Conpresp aprova projeto de torres de Silvio Santos ao lado do Teatro Oficina». Consultado em 24 de novembro de 2019
- ↑ Bárbara Muniz Vieira (12 de fevereiro de 2020). G1, ed. «Após 40 anos de disputa por terreno, projeto de criação do Parque Bixiga é aprovado em segunda votação na Câmara de SP». Consultado em 30 de março de 2021
- ↑ G1, ed. (14 de março de 2020). «Prefeito em exercício, Tuma veta criação do Parque Bixiga». Consultado em 30 de março de 2021
Bibliografia
- BRANDÃO, Tania. Oficina: o trabalho da crise. In: MONOGRAFIAS 1979. Rio de Janeiro: Inacen, 1979. p. 11-62.
- CORRÊA, José Celso Martinez; STAAL, Ana Helena Camargo de (Org.). Zé Celso Martinez Corrêa: primeiro ato: cadernos, depoimentos, entrevistas 1958-1974. São Paulo: Editora 34, 1998.
- DYONISOS. Rio de Janeiro, n. 26, 1982. Número especial sobre Teatro Oficina. Organização Fernando Peixoto.
- LIMA, Mariangela Alves de. Eu sou índio. In: O NACIONAL e o popular na cultura brasileira: seminários - teatro. São Paulo: Brasiliense, 1983. p. 163-171.
- MOSTAÇO, Edelcio. Teatro e política: Arena, Oficina e Opinião. São Paulo: Proposta Editorial, 1982.
- NANDI, Ítala. Oficina: onde a arte não dormia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.
- SILVA, Armando Sérgio. Oficina: do teatro ao te-ato. São Paulo: Perspectiva: 1982.
Ligações externas
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