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Edição das 22h30min de 10 de março de 2006
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Realismo filosófico
Durante a Idade Média, três soluções para o problema dos universais e dos particulares foram propostas: o realismo, o conceitualismo e o nominalismo.
Para o realismo os universais existem objetivamente, seja na forma realidades em si, transcendentes em relação aos particulares (como em Platão, universais ante rem), ou como imanentes encontrados nas coisas individuais (como para Aristóteles, universidade in re).
História do realismo na arte
O Realismo fundou uma Escola artística que surge no século XIX em reação ao Romantismo e se desenvolve baseada na observação da realidade, na razão e na ciência.
O Realismo é um movimento artístico surgido na França, e cuja influência se estendeu a numerosos países europeus. Esta corrente aparece no momento em que ocorrem as primeiras lutas sociais, sendo também objecto de acção contra o capitalismo progressivamente mais dominador. Das influências intelectuais que mais ajudaram no sucesso do Realismo denota-se a reacção contra as excentricidades românticas e contra as suas falsas idealizações da paixão amorosa, bem como um crescente respeito pelo facto empiricamente averiguado, pelas ciências exactas e experimentais e pelo progresso técnico. À passagem do Romantismo para o Realismo, corresponde uma mudança do belo e ideal para o real e objectivo.
Realismo nas artes plásticas
- Artistas do realismo
Realismo na literatura
Motivados pelas teorias científicas e filosóficas da época, os escritores realistas desejavam retratar o homem e a sociedade em sua totalidade. Não bastava mostrar a face sonhadora e idealizada da vida como fizeram os romanticos; era preciso mostrar a face nunca antes revelada: a do cotidiano massacrante, do amor adúltero, da falsidade e do egoísmo humano, da impotência do homem comum diante dos poderosos. Em lugar do egocentrismo romântico, verifica-se um enorme interesse de descrever, analisar e até em criticar a realidade. A visão subjetiva e parcial da realidade é substituida pela visão que procura ser objetiva, fiel, sem distorções. Em lugar de fugir à realidade,os realistas procuram apontar falhas como forma de estimular a mudança das instituições e dos comportamentos humanos. Em lugar de heróis, surgem pessoas comuns, cheias de problemas e limitações. Na Europa,o realismo teve início com a publicaçao do romance realista Madame Bovary (1857) de Gustave Flaubert.
- Principais correntes da época
Alguns expoentes do realismo europeu: Gustave Flaubert, Honoré de Balzac, Eça de Queirós
No Brasil
A partir da extinção do tráfico negreiro, em 1850, acelera-se a decadência da economia açucareira no Brasil e o país experimenta sua primeira crise depois da Independência. O contexto social que daí se origina, aliado a leitura de mestres realistas europeus como Stendhal, Balzac, Dickens e Vitor Hugo, propiciarão o surgimento do Realismo no Brasil.
Assim, em 1881 Aluísio Azevedo publica "O Mulato" (primeiro romance naturalista brasileiro) e Machado de Assis publica Memórias Póstumas de Brás Cubas (primeiro romance realista do Brasil).
Em Portugal
O Realismo na Literatura surge em Portugal após 1865, devido à Questão Coimbrã e às Conferências do Casino, como resposta à artificialidade, formalidade e aos exageros do Romantismo de uma sentimentalidade mórbida. Eça de Queirós é apontado como o autor que introduz este movimento no país, sendo o romance social, psicológico e de tese a principal forma de expressão. Deixa de ser apenas distracção e torna-se meio de crítica a instituições, à hipocrisia burguesa (avareza, inveja, usura), à vida urbana (tensões sociais, económicas, políticas) à religião e à sociedade, interessando-se pela análise social, pela representação da realidade circundante, do sofrimento, da corrupção e do vício. A escravatura, o racismo e a sexualidade são retratados com uma linguagem clara e directa.
A Génese do Realismo em Portugal
O primeiro aparecimento do Realismo em Portugal deu-se na Questão Coimbrã. Polémica esta que significou, nas palavras de Teófilo Braga “a dissolução do Romantismo”, nela se manifestou pela primeira vez as novas ideias e o novo gosto de uma geração que reagia contra o marasmo em que tinha caído o Romantismo.
O segundo episódio do aparecimento do Realismo em Portugal verificou-se em 1871 nas Conferências do Casino (ou Conferências Democráticas do Casino). Nesta nova manifestação da chamada Geração de 70 os contornos do que seria o Realismo apareceram desenhados com maior nitidez. Especialmente através da conferência realizada por Eça de Queiroz intitulada “O realismo como nova expressão da arte”. Sob a influência do Cenáculo, e da sua figura central Antero de Quental, Eça funde as teorias de Taine, do determinismo social e da hereditariedade com as posições estético-sociais de Proudhon. Atacando o estado das letras nacionais e propondo uma nova arte, uma arte revolucionária, que respondesse ao "espírito dos tempos" (zeitgeist), uma arte que agisse como regeneradora da consciência social, que pintasse o real sem floreados. Para Eça só uma arte que mostrasse efectivamente como era a Realidade, mesmo que isso implicasse entrar em campos sórdidos, poderia fazer um diagnóstico do meio social, com vista à sua cura. Assim reagia contra o espírito da arte pela arte, visando mostrar os problemas morais e assim contribuir para aperfeiçoar a Humanidade. Com este cientismo Eça já situava o Realismo na sua posição extrema de Naturalismo.
Reacções: Pinheiro Chagas atacou Eça. Luciano Cordeiro argumentou que ele próprio já tinha defendido posições parecidas
A implantação efectiva doRealismo em Portugal dá-se com a publicação do O Crime do Padre Amaro, seguida dois anos mais tarde pelo Primo Basílio, obras ambas de Eça, que são caracterizadas por métodos de narração e descrição baseados numa minuciosa observação e análise dos tipos sociais, físicos e psicológicos, aparecendo os factores como o meio, a educação e a hereditariedade a determinarem o carácter moral das personagens. São romances que têm afinidade com os de Émile Zola, com o intuito de crítica de costumes e de reforma social. O primeiro destes romances foi acolhido pelos críticos de então com um silêncio generalizado. O segundo provocou escândalo aberto. E a polémica e a oposição entre Realismo e Romantismo estala definitivamente. Pinheiro Chagas ataca Eça considerando-o antipatriota, pelo modo como apresenta a sociedade portuguesa. Chegaram a aparecer panfletos acusando os realistas de “desmoralização das famílias” (Carlos Alberto Freire de Andrade: “A escola realista, opúsculo oferecido às mães”) Camilo Castelo Branco vai parodiar o Realismo com Eusébio Macário (1879) e voltando a parodiar com A Corja (1880). Mas curiosamente, mesmo através da paródia, Camilo vai absorver a nova escola, como é nítido na novela A Brasileira de Prazins. (1882). Entretanto o paladino do Realismo, Eça, vai desorientar os seus seguidores ortodoxos com a publicação de O Mandarim. O que faz com que Silva Pinto (1848-1911) que tinha exposto a teoria da escola realista e elogiado Eça num panfleto intitulado Do Realismo na Arte, vai agora atacar Eça em Realismos, ridicularizando o novo estilo deste. Reis Dâmaso, na “revista de estudos livres” vai-se insurgir contra a publicação de O Mandarim acusando Eça de ter atraiçoado o movimento. Estas acusações não eram infundadas porque de facto Eça já estava a descolar de um realismo ortodoxo para o seu estilo mais pessoal onde o seu humor e a sua fantasia se aliam num estilo único.
Desde a implantação do Realismo com a conferência de Eça que o movimento logrou um núcleo de apoiantes que se desmultiplicaram em explicar e defender o seu credo estético. esse núcleo resvalou, regra geral, para uma posição mais extremadamente Realista, o Naturalismo, tornando-se ortodoxos e dogmáticos. Os defensores desta posição são José António dos reis Dâmaso (1850-1895) e Júlio Lourenço Pinto (1842-1907) autor da “Estética naturalista”, que pretendia ser um evangelho do naturalismo. No entanto estes dois autores são fracos do ponto de vista literário e totalmente esquecidos hoje em dia. Aqueles que não enveredaram por posições tão rígidas estão menos esquecidos como Luís de Magalhães que nos deixou “O Brasileiro Soares” (1886) que foi prefaciado por Eça. Outros nomes são Trindade Coelho, Fialho de Almeida e Teixeira de Queiroz.
Por volta de 1890 o Realismo/Naturalismo tinha perdido o seu ímpeto em Portugal. Em 1893 o próprio Eça o declarava morto nas Notas Contemporâneas: “o homem experimental, de observação positiva, todo estabelecido sobre documentos, findou (se é que jamais existiu, a não ser em teoria)
Balanço do Realismo em Portugal
Embora por vezes doutrinariamente fraco e/ou confuso o Realismo em Portugal apresenta-se por isso mesmo, mais do que um movimento consistente, como uma tendência estética, um sentir novo, que se opôs ao Idealismo e ao Romantismo. A sua consequência mais importante foi a introdução em Portugal às influências estrangeiras nos vários domínios do saber. Alargando as escolhas literárias e renovando um meio literário que estava muito fechado sobre si mesmo.
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