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Espeleologia: mudanças entre as edições

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Edição das 18h56min de 27 de abril de 2006

Espeleologia é a ciência que estuda as cavidades naturais e outros fenómenos cársicos, nas vertentes da sua formação, constituição, características físicas, formas de vida, e sua evolução ao longo do tempo. A Geologia, Hidrologia, Biologia, Climatologia e Arqueologia são algumas das ciências que contribuem para o conhecimento espeleológico. Os estudos espeleológicos apoiam-se frequentemente em levantamentos topográficos. A simples exploração ou visita das cavernas está por vezes associada à espeleologia, embora não se deva confundir com esta ciência.


A história da espeleologia

Em tempos pré-históricos as cavernas protegiam os nossos antepassados das intempérides e dos animais selvagens. Os achados mais antigos da presença do homem nas cavernas datam de 450 mil anos atrás e foram encontrados na Gruta Arago, na região francesa de Tautavel. Nesta gruta foi encontrado o esqueleto do mais antigo povoador europeu, baptizado como Homem de Tautavel. Com a evolução, este primata dá origem ao Homem do Paleolítico Superior, muito mais avançado que o anterior. É neste periodo (350.000 A.C. - 10.000 A.C.) que surgem as primeiras pinturas rupestres, fruto do ócio e do instinto artístico, ilustrando principalmente cenas domésticas e de caça. Com o fim das eras glaciares, o homem abandona as grutas e instala-se nos campos. As cavernas passam a servir de armazéns, lugares de culto ou túmulos funerários. Na Idade Média dá-se uma regressão de mentalidades, passando as cavidades a serem consideradas lugares do demónio e onde se escondem os leprosos e os doentes da peste. A Espeleologia passa por anos negros. A pouco e pouco as cavernas começam novamente a ser alvo de visitas e explorações, sendo alvo de estudos científicos a partir da segunda metade do séc. XIX. Agora já não é a busca de protecção, mas sim a curiosidade, que faz o homem regressar às grutas. As primeiras expedições de carácter científico eram motivadas pela Paleontologia, ciência que busca os vestígios do homem e dos animais pré-históricos. Crê-se que tenham sido os ajudantes dessas expedições que mais tarde se agruparam e se tornaram os primeiros espeleólogos, aqueles que estudam as cavidades.

O pai da espeleologia

Nascido em França na segunda metade do séc. XIX (1859 - 1938), Edouard Alfred Martel é considerado o pai da espeleologia. Desde tenra idade que se apaixona pelo mundo subterrâneo, tendo efectuado as suas maiores explorações em 1888, no maciço central francês. Em 1895 fundou a Sociedade de Espeleologia Francesa, a primeira associação de carácter espeleológico em França e no mundo. Foi o verdadeiro fundador da espeleologia física. Outro grande nome da espeleologia é o romeno Emile Georges Racovitza (1868 - 1947), que realizou os seus estudos em França. Juntamente com o seu discípulo e colaborador René-Jeannel (1879 - 1965), são considerados os fundadores da bioespeleologia, ciência que estuda a vida nas cavernas. No entanto a espeleologia não podia progredir sem o contributo de outras ciências. As dificuldades inerentes à exploração das grutas, bem como a subida e descida de poços de grandes dimensões, exigiam técnicas e materiais específicos. Robert de Joly (?), discípulo e seguidor de Martel, foi o primeiro a inventar e a aperfeiçoar radicalmente o material de exploração espeleológica. Os seus sistemas de iluminação, aparelhos de subida e descida e inclusivé o seu traje, foram copiados e imitados no mundo inteiro. É considerado o pai da espeleologia desportiva.


A espeleologia em Portugal

Os primeiros registos da actividade espeleológica no nosso país datam de 1758, ano em que o Padre Manuel Dias descreveu a exsurgência dos Olhos de Água. Em 1854 foram publicados os escritos das escavações em grutas da região de Condeixa, da autoria de Costa Simões e em 1872 foi publicado, no Diário Ilustrado nº 127, a descrição de uma visita à Gruta das Alcobertas, da autoria de B. Soveral. A realização em Lisboa do IX Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pré-Histórica, em Setembro de 1880, incluiu uma visita às grutas do Poço Velho em Cascais, importante necrópole neolítica, o que contribuiu decisivamente para o nosso reconhecimento no estrangeiro. Desde essa data até aos finais do século XIX, Portugal acompanhou a evolução europeia nestes domínios, publicando e apresentando em congressos internacionais diversos trabalhos sobre grutas nacionais. Os investigadores estrangeiros não ficaram indiferentes a este caudal de informação e antes do virar do século começaram a trabalhar nas nossas grutas, quer na área da antropologia quer na da biologia e hidrogeologia. Entre estes salienta-se P. Choffat que em 1891 iniciou a sua actividade em Portugal, cujos trabalhos se revestem de grande importância para o conhecimento geológico do país. No princípio deste século renovam-se as visitas de cientistas estrangeiros (W. Brindley, G. Eugenaud e E. Harlé), mas foi apenas nos anos vinte que estudiosos mais distintos nos visitaram, como H. Breuil, R. Jeannel, E. Racovitza e E. Fleury. Este último publicou em 1923, o livro "Portugal Subterrâneo" e devido ao seu contributo nos campos da geologia e geoespeleologia nacionais pode ser considerado o pai da espeleologia em Portugal. Na década de trinta verificou-se uma retoma dos portugueses aos trabalhos nas áreas da arqueologia e biologia. Na década de quarenta aparecem os primeiros espeleólogos, os quais começam como auxiliares e colaboradores das expedições científicas e que posteriormente se agrupam, tornando-se assim autónomos. Ainda nos anos quarenta surgiu o primeiro inventário de cavidades portuguesas, publicado na revista científica e literária de Coimbra "O Instituto" (1945); em 1948 é criado o primeiro clube de espeleologia e publicado um verdadeiro inventário das cavernas calcárias de Portugal, da autoria de Bernardino e António B. Machado. A. F. Martins em 1949 publica um estudo global da geografia física do Maciço Calcário Estremenho. O fim da década de 40 e o princípio da de 50 foram de grande importância para a espeleologia, com a exploração do complexo Moinhos Velhos - Pena - Contenda. Em 1957 efectua-se precisamente neste sistema uma expedição de alunos da Universidade de Londres. Assim, Moinhos Velhos e o seu sistema mantêm até 1985, o 1º lugar do "ranking" das cavidades em Portugal. Em 1956 e 1957 foram publicados estudos regionais sobre a Beira Litoral da autoria de A.F. Soares, L.N. Conde e A.F. Tavares. Nos anos 60 a espeleologia começou a evoluir fora dos meios universitários e científicos: foi ainda na década de 60 que se formaram vários clubes de espeleologia e que surgiram os primeiros cursos de formação. Na década de 70 a formação de espeleólogos passou a ter melhor qualidade, começando espeleólogos portugueses a realizar estágios em França e os clubes a apostar em cursos de formação. Em 1973 tem lugar o 1º Encontro Nacional de Espeleologia. Na década de 80 surgiram mais duas publicações de natureza espeleológica: O Mundo Subterrâneo, da Associação de Espeleólogos de Sintra (1980) e EspeleoDivulgação, do Núcleo de Espeleologia da Associação de Estudantes da Universidade de Aveiro (Junho de 1982). As explorações estrangeiras a Portugal foram retomadas em 1983, com a realização de uma expedição francesa à nascente do Alviela. Em 1985 é publicado o livro "Grottes et Algares du Portugal" de C. Thomas; no mesmo ano o seu trabalho, juntamente com o SAGA - Sociedade dos Amigos das Grutas e Algares, na gruta do Almonda tornaram esta cavidade na 1ª do "ranking" nacional. Em Agosto de 1987 realiza-se mais uma expedição francesa ao nosso país, constituida por 12 espeleólogos e 8 mergulhadores que exploraram alguns algares e mergulharam as Nascentes do Alviela e Almonda, chegando na primeira a 425 metros de distância e atingindo a cota de mergulho de - 60 metros. No ano seguinte, uma outra expedição francesa à nascente do Alviela, desta feita com uma equipa da Comissão de Mergulho Subterrâneo da F.F.E.S.S.M., atingiu a cota dos -78 metros e topografa 820 metros de galerias. Em 1990 surgiu mais uma publicação versando o território continental, o livro de Lúcio Cunha "As Serras Calcárias de Condeixa - Sicó - Alvaiázere. Estudo de Geomorfologia". A partir de 1998 os espeleólogos do Núcleo de Espeleologia de Condeixa começam a participar em explorações de ponta nas montanhas dos Picos de Europa, em Espanha. Ano após ano batem sucessivos recordes nacionais de profundidade, tendo em Agosto de 2000 chegado à cota dos -943m de profundidade, recorde absoluto português.


Ligações externas

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