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Ficção: mudanças entre as edições

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A ficção ganha um potencial incrível com o advento da [[fotografia]]. A partir dessa inovação técnica, passa a ser possível captar imagens da realidade material sem a mão do homem “desenhando”: bastaria deixar a [[luz]] fazer seu trabalho sobre uma superfície fotossensível. Com isso, o objeto fotografado parece ser a expressão mais fiel da realidade — a única reprodução que corresponderia ao real.
A ficção ganha um potencial incrível com o advento da [[fotografia]]. A partir dessa inovação técnica, passa a ser possível captar imagens da realidade material sem a mão do homem “desenhando”: bastaria deixar a [[luz]] fazer seu trabalho sobre uma superfície fotossensível. Com isso, o objeto fotografado parece ser a expressão mais fiel da realidade — a única reprodução que corresponderia ao real.


No entanto, ainda no século XIX, poucas décadas depois de sua invenção, o homem já percebe a possibilidade de usar a fotografia para captar imagens não-reais, modificando a realidade e criando uma realidade fictícia. A diferença é que, enquanto nas artes anteriores essa modificação era feita pela mão do pintor ou escultor no estágio da Reprodução, pela primeira vez o trabalho criativo será feito no estágio da Produção. Durante a [[Guerra de Secessão]] dos [[Estados Unidos da América|EUA]], certos correspondentes [[Jornalismo|jornalísticos]], quando não conseguiam fotografar cenas de batalha ou não julgavam as fotos contundentes o suficiente, organizavam encenações com os soldados, de forma que pudessem registrar fotograficamente certas imagens que nunca ocorreram — ou melhor, nunca teriam ocorrido, não fosse a câmera presente ali. É nesse momento que nasce a ficção do [[cinema]], pois temos a reprodução técnica (não mais manual) de uma imagem que não está naturalmente presente na realidade material. Ela foi produzida para ser essa imagem, intencionalmente - no espaço que se chama "pró-fílmico". É por isso que até hoje a Produção é o estágio de realização de um filme que se ocupa de conseguir formar as imagens que serão captadas pela câmera para parecerem reais.
No entanto, ainda no século XIX, poucas décadas depois de sua invenção, o homem já percebe a possibilidade de usar a fotografia para captar imagens não-reais, modificando a realidade e criando uma realidade fictícia. A diferença é que, enquanto nas artes anteriores essa modificação era feita pela mão do pintor ou escultor no estágio da Reprodução, pela primeira vez o trabalho criativo será feito no estágio da Produção. Durante a [[Guerra Civil Americana]] dos [[Estados Unidos da América|EUA]], certos correspondentes [[Jornalismo|jornalísticos]], quando não conseguiam fotografar cenas de batalha ou não julgavam as fotos contundentes o suficiente, organizavam encenações com os soldados, de forma que pudessem registrar fotograficamente certas imagens que nunca ocorreram — ou melhor, nunca teriam ocorrido, não fosse a câmera presente ali. É nesse momento que nasce a ficção do [[cinema]], pois temos a reprodução técnica (não mais manual) de uma imagem que não está naturalmente presente na realidade material. Ela foi produzida para ser essa imagem, intencionalmente - no espaço que se chama "pró-fílmico". É por isso que até hoje a Produção é o estágio de realização de um filme que se ocupa de conseguir formar as imagens que serão captadas pela câmera para parecerem reais.


Daí pode-se perguntar: “se há uma intervenção na realidade material, a ficção existe materialmente?”. É difícil concordar com essa proposta, se lembrarmos que os cenários da ''Terra Média'', as maquiagens dos elfos, os elementos filmados não são a ''Terra Média'' nem os elfos; apenas parecem ser, e é essa a intenção para a posterior reprodução. O que teremos no final serão várias imagens (e sons!) organizadas em seqüência, que “dão a impressão” de contar uma história. Mas não existem no mundo material, uma vez que a seqüência de imagens no cinema não é uma realidade, só é aceita como uma realidade.
Daí pode-se perguntar: “se há uma intervenção na realidade material, a ficção existe materialmente?”. É difícil concordar com essa proposta, se lembrarmos que os cenários da ''Terra Média'', as maquiagens dos elfos, os elementos filmados não são a ''Terra Média'' nem os elfos; apenas parecem ser, e é essa a intenção para a posterior reprodução. O que teremos no final serão várias imagens (e sons!) organizadas em seqüência, que “dão a impressão” de contar uma história. Mas não existem no mundo material, uma vez que a seqüência de imagens no cinema não é uma realidade, só é aceita como uma realidade.

Edição das 04h05min de 7 de outubro de 2005

Ficção é o termo usado para descrever obras (de arte) criadas a partir da imaginação. Isto se faz em contraste à não-ficção, que reivindica ser factual sobre a realidade. Obras ficcionais podem ser parcialmente baseadas em fatos reais, mas sempre contêm conteúdo imaginário.

Definição

É um tanto difícil estabelecer limites sobre o que pode ser ficcional, e o que pode ser uma “interpretação real”. A Enciclopédia Larousse define ficção como “ato ou efeito de simular, fingimento; criação do imaginário, aquilo que pertence à imaginação, ao irreal; fantasia, invenção”.

Se ficções forem quaisquer produções humanas que representem a realidade sem, contudo, interferir materialmente nela, então qualquer discurso — melhor, qualquer expressão de linguagem — seria uma ficção. Mas, como já dito, a ficção aqui focada é a artística, especialmente a expressada pelos meios audiovisuais (cinema, televisão, vídeo). Certamente há mais campo de trabalho sobre ficção na literatura, na poesia, no drama teatral.

Ficção Audiovisual

A ficção audiovisual nada mais é do que uma seqüência elaborada de imagens e sons reproduzidos. Ou seja, não são de fato a imagem real nem o som real, mas uma reprodução técnica (fotografia, gravação magnética etc.) que simula para os sentidos a mesma percepção que teriam sobre os reais objetos. A forma como estes elementos reproduzidos são organizados produz no espectador uma compreensão inteligível que acaba por tomar a ficção como um espaço próprio, particular e exclusivo dela mesma.

Em outras palavras: quando um espectador vai ao cinema assistir ao filme “O Senhor dos Anéis”, ele vê nada mais que uma seqüência de imagens produzidas (o objeto foi modificado materialmente) e reproduzidas (o objeto foi simulado tecnicamente) que produzem nele a percepção de uma realidade à parte . Esta realidade (diegese) faz sentido somente dentro do filme, e neste limite exclusivo ela é coesa e coerente. O espectador não espera misturar a realidade material, que seus sentidos captam, com a realidade ficcional. Ele não está vendo a Terra Média, nem elfos, nem monstros, e sabe disso conscientemente (a não ser, é claro, as crianças). Ele está vendo o resultado de trabalhos de cenografia, figurino, maquiagem, interpretação dramática e sonoplastia (a produção) que foram captados por câmeras, tratados foto-oticamente, editados numa seqüência lógica e fotocopiados (a reprodução) e posteriormente projetados luminosamente numa tela.

Produção e reprodução, especialmente em cinema e vídeo, são estágios bem distintos e fundamentais para a construção do espaço ficcional. O primeiro, como percebemos, age materialmente sobre a realidade que será captada, construindo de fato um cenário ou modificando o cabelo ou a cor de pele de uma atriz. O segundo age sobre a imagem e o som captados, sem alteração material. O resultado é um produto que “dá a impressão” de ser real, mas é simulação ficcional. Isso é possível porque é inato à ficção audiovisual o recorte — a escolha de o que aparecerá dentro do quadro filmável, o foco em determinado objeto, o ângulo de captura e finalmente a edição/montagem.

Enquanto podemos dizer que a ficção em texto nasceu praticamente junto com a palavra — se tomarmos como certo que todo discurso é uma ficção, pois é uma realidade sobre o mundo, e não a realidade —, a ficção imagética é bem mais complexa para definir seu nascimento. Podemos tomar a escultura como uma espécie de ficção, já que produzia formas (deuses, monstros etc.) não existentes na realidade material. A pintura, então, seria uma notável forma de ficção durante séculos, mas ela poderia também ser usada para representar o real (retratos, paisagens). Ainda assim, tratar-se-iam de reproduções, não de realidades. Até então, era muito fácil distinguir sensorialmente o real do ficcional.

A ficção ganha um potencial incrível com o advento da fotografia. A partir dessa inovação técnica, passa a ser possível captar imagens da realidade material sem a mão do homem “desenhando”: bastaria deixar a luz fazer seu trabalho sobre uma superfície fotossensível. Com isso, o objeto fotografado parece ser a expressão mais fiel da realidade — a única reprodução que corresponderia ao real.

No entanto, ainda no século XIX, poucas décadas depois de sua invenção, o homem já percebe a possibilidade de usar a fotografia para captar imagens não-reais, modificando a realidade e criando uma realidade fictícia. A diferença é que, enquanto nas artes anteriores essa modificação era feita pela mão do pintor ou escultor no estágio da Reprodução, pela primeira vez o trabalho criativo será feito no estágio da Produção. Durante a Guerra Civil Americana dos EUA, certos correspondentes jornalísticos, quando não conseguiam fotografar cenas de batalha ou não julgavam as fotos contundentes o suficiente, organizavam encenações com os soldados, de forma que pudessem registrar fotograficamente certas imagens que nunca ocorreram — ou melhor, nunca teriam ocorrido, não fosse a câmera presente ali. É nesse momento que nasce a ficção do cinema, pois temos a reprodução técnica (não mais manual) de uma imagem que não está naturalmente presente na realidade material. Ela foi produzida para ser essa imagem, intencionalmente - no espaço que se chama "pró-fílmico". É por isso que até hoje a Produção é o estágio de realização de um filme que se ocupa de conseguir formar as imagens que serão captadas pela câmera para parecerem reais.

Daí pode-se perguntar: “se há uma intervenção na realidade material, a ficção existe materialmente?”. É difícil concordar com essa proposta, se lembrarmos que os cenários da Terra Média, as maquiagens dos elfos, os elementos filmados não são a Terra Média nem os elfos; apenas parecem ser, e é essa a intenção para a posterior reprodução. O que teremos no final serão várias imagens (e sons!) organizadas em seqüência, que “dão a impressão” de contar uma história. Mas não existem no mundo material, uma vez que a seqüência de imagens no cinema não é uma realidade, só é aceita como uma realidade.

Mas aceita por quem? Por um público, certamente, não por um indivíduo apenas. Uma das descrições enciclopédicas para “ficção” é “realidade convencional”. Entende-se por esse termo uma construção de realidade que não está limitada à percepção de uma única pessoa (como o sonho), e sim à de várias. Convencionalmente, a realidade de “O Senhor dos Anéis” é aceita como real, mas dentro dos limites exclusivos daquela obra. A realidade de “Guerra nas Estrelas” é outra, assim como a de “Cidadão Kane” ou de “Tudo Sobre Minha Mãe”. Cada ficção circunscreve-se em seu próprio espaço ficcional.

Ficção, neste entendimento, é a construção de diegese: um “espaço”, materialmente inexistente, mas que é percebido como virtualmente existente por uma ação conjunta sensorial e psíquica. Ou seja, não basta ver ou ouvir para perceber algo ficcional: é preciso também entendê-la, mentalmente, como tal.

Por que o Homem produz ficção?

Por que fazemos ficção? Por que criamos ilusões de realidades, espaços e pessoas inexistentes para contar histórias que nunca aconteceram? Por que produzimos imagens que não se encontram na natureza, de forma a materializar visualmente as idéias que temos na cabeça? Por que escrevemos roteiros, filmamos e editamos fotografia, cinema e vídeo?

O Homem é o único animal que produz ficção. É o único ser vivo que cria uma aparência de realidade para enganar a si próprio ou a seus similares. Todos os outros seres interagem com a realidade material, e apenas com ela — enquanto o Homem, não satisfeito em alterá-la, procura também criar uma espécie de nova realidade: a ficção. Ali, o Homem é capaz de moldar o ambiente e seus elementos, de acordo com sua vontade.

Mas o Homem, também, é o animal que sonha. Que, quando dorme, cria suas próprias versões da realidade, em situações nas quais pode realizar seus desejos. O Homem pega as experiências que vivenciou ou presenciou recentemente (restos diurnos) e cria alegorias para camuflar o que seu inconsciente mais deseja expressar: o seu desejo. O sonho fornece a possibilidade de realizar o desejo numa realidade que não terá maiores conseqüências — algumas horas depois, o Homem vai acordar e dizer que “tudo não passou de um sonho”.

Da mesma forma, a ficção cria um espaço simulador de realidade que não tem maiores conseqüências para além de sua fronteira. Ao terminar a sessão, “tudo não passou de um filme”. Tanto em sonho quanto em ficção, tudo que experimentamos foi a percepção de imagens e sons cujo sentido só existe em nossas mentes. E na ficção o Homem repete conscientemente o que o inconsciente faz no sonho: criar um mundo para efetuar desejos.

Nesta lógica, parece inevitável concluir que a capacidade humana de fazer ficção é conseqüência da sua faculdade de sonhar — que a construção de um espaço ficcional deriva da experiência onírica. Ou seja, a ficção existe porque o homem sonha. No entanto, essa afirmativa tão categórica e simplista poderia descartar inúmeras outras formas de interação com a realidade. Ainda assim, o primeiro contato que o Homem terá com uma experiência não-real e não-material será o seu próprio sonho. A partir disso, todo filme, toda novela, toda invenção será um sonho que se sonha acordado.

Ficção x Realidade

Ao longo da história do pensamento humano, a Filosofia, a Teoria da Arte e a Teoria da Comunicação vêm estudando a questão de como delimitar a fronteira entre ficção e realidade. É a camuflagem do limite entre representação e realidade que dá início e sentido ao problema. O observador de um quadro, ainda que fosse pintado com a mais precisa técnica de “realismo”, não era “enganado”, pois sabia que estava vendo um quadro. A fotografia, ainda que fosse alegadamente a captação mais fiel da realidade, não se confundia com ela, para o observador, por ser imagem estática. Mas o cinema, pela a transposição acelerada de fotogramas, causa a ilusão de movimento, o que amplia a sensação de “realismo” da imagem reproduzida, mais ainda com o advento posterior das cores (já que o preto-e-branco seria uma forma de diferenciar da visão “real” humana).

É essa opção que gera um problema de linguagem para o audiovisual. Se nenhuma imagem é o real, como transmitir o real? A afirmação de que "mesmo na realidade da imagens há muita ficção" (Ivete Lara C. Walty, “O Que É Ficção”), na medida em que condena toda produção audiovisual (mesmo aquela pretensamente “documental”) ao status de ficção, nega-lhes a confiabilidade e veracidade anteriormente conferidas. O problema de linguagem passa a ser “como contar a verdade?”.

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