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Os Maias: mudanças entre as edições

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'''Os Maias''' foram publicados no Porto em 1888, em 2 volumes de 458 e 532 páginas, pela '''Livraria Internacional de Ernesto Chardron'''  
'''Os Maias''' foram publicados no Porto em 1888, em 2 volumes de 458 e 532 páginas, pela '''Livraria Internacional de Ernesto Chardron'''  
Existe uma [http://purl.pt/23 versão digitalizada] e integral disponível na [http://bnd.bn.pt Biblioteca Nacional Digital]
   
   



Edição das 10h37min de 14 de outubro de 2005

Disambig grey.svg Nota: Este artigo é sobre Os Maias. Para outros significados, veja Maias (desambiguação).

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Predefinição:Spoiler Tudo começa no primeiro capítulo, quando se descreve a casa – chama-se “O Ramalhete” mas nada tem de fresco ou de campestre, o nome vem-lhe de um painel de azulejos com um ramo de girassóis, colocado onde deveria estar a pedra de armas. A primeira e mais importante pista para ler este livro é que nele, nada nem ninguém é o que parece. Afonso da Maia parece um patriarca, mas do seu casamento resultou apenas um filho. Maria Monforte parece um anjo, mas é um demónio. Carlos da Maia parece reunir tudo para ser um sucesso (é rico, bem educado, culto e bonito) mas é um fracasso. Maria Eduarda parece mulher de Castro Gomes, mas não é. Parece uma grande dama, mas também não o é. Todos julgam que a filha de Maria Monforte e Pedro da Maia morreu em Londres mas ela está viva. Carlos julga que a irmã morreu, mas não é verdade. A casa do Ega parece deserta, em determinado capítulo, mas não está. A tia da Gouvarinho parece uma puritana mas não é – tem a casa bem abastecida de whisky e gin. Toda a história se constrói em volta de sucessivos enganos, todos enganam todos e a verdade é destruidora – quando Pedro descobre a verdade sobre a mulher, isso leva-o ao suicídio, quando o Sr Guimarães revela a verdade sobre Maria Eduarda, isso acaba por matar Afonso.

Os Maias” tem uma vertente de romance policial. Há constantes apelos a uma desgraça futura – desde o dia em que o Vilaça escreve a Afonso a lembrar-lhe que sempre foram fatais aos Maias as paredes do Ramalhete, até ao momento em que o Ega prevê que Carlos há de acabar, como D. Juan, numa tragédia. O que o leitor tem que fazer é descobrir que desgraça é essa. É ainda fundamental e interessante o papel das coincidências – Maria Monforte leva a filha para Itália, depois para Viena, a seguir para Paris, depois para Londres e, por fim, para Paris de novo. Carlos, com excepção da sua viagem no fim do curso, vive em Portugal. Carlos crê que a sua irmã morreu, Maria Eduarda crê que apenas teve uma irmãzinha, que morreu em Londres. Quando ambos se encontram em Lisboa, ela tem um amante, ele tem uma amante. Podiam nunca se ter encontrado. Quando se apaixonam, Carlos acaba por descobrir que Maria lhe mentiu sobre o seu passado – podiam ter-se zangado definitivamente. Quando senhor Guimarães vem a Lisboa, não se move nos mesmos círculos que Carlos, seria bem provável que nunca o chegasse a ver. É, pois, por uma série de espantosas coincidências que a desgraça acaba por chegar.

Há ainda a abordagem científica. O romance foi escrito numa altura em que as ciências floresciam. Eça joga nele com o peso da hereditariedade (Carlos teria herdado da avó paterna e do próprio pai o carácter fraco, e da mãe a tendência para o desequilíbrio amoroso), e da acção do meio envolvente sobre o indivíduo (Carlos fracassa, apesar de todas as condicionantes que tem a seu favor, porque o meio envolvente, a alta burguesia lisboeta, para tal o empurra). A psicologia dava os seus primeiros passos – é assim que Carlos, mesmo sabendo que a mulher que ama é sua irmã, não deixa de a desejar, uma vez que não basta que lhe digam que ela é sua irmã para que ele como tal a considere.

Há em “Os Maias” um retrato da Lisboa da época. Quem conheça Lisboa pode espantar-se com o muito que as personagens andam a pé – Carlos, que mora na Rua das Janelas Verdes, caminha com frequência até ao Rossio (embora, por vezes, vá a cavalo ou de carruagem), coisa que, hoje, poucos lisboetas se disporão a fazer. Algumas das lojas citadas no livro ainda existem – a Casa Havaneza, no Chiado, por exemplo. É possível seguir os diferentes percursos de Carlos ou do Ega pelas ruas da Baixa lisboeta, ainda que algumas tenham mudado de nome. No final do livro, quando Carlos volta a Lisboa muitos anos depois, somos levados a ver as novidades – a Avenida da Liberdade, que substituiu o Passeio Público, e que é descrita como uma coisa nova, e feia pela sua novidade, exactamente como nos anos 70 se falava das casas de emigrante. Depois, claro, há as personagens. Cada personagem de “Os Maias” é um mundo.


Os Maias foram publicados no Porto em 1888, em 2 volumes de 458 e 532 páginas, pela Livraria Internacional de Ernesto Chardron

Existe uma versão digitalizada e integral disponível na Biblioteca Nacional Digital



Personagens de Os Maias

Lugares de Os Maias

Bibliografia académica sobre Os Maias

  • Roger Bismut, "Os Maias: imitação flaubertiana, ou recriação?", Colóquio/Letras, 69, 1982, pp. 20-28.
  • Maria Leonor Carvalhão Buescu, "O regresso ao 'Ramalhete'" in Ensaios de literatura portuguesa, Lisboa, Editorial Presença, 1985, pp. 104-119.
  • Jacinto do Prado Coelho, "Para a compreensão d'Os Maias como um todo orgânico" in Ao contrário de Penélope, Lisboa, Bertrand, 1976, pp. 167-188.
  • Suely Fadul Flory, "O Ramalhete e o código mítico: uma leitura do espaço em Os Maias de Eça de Queirós" in Elza Miné e Benilde Justo Caniato (eds.), 150 anos com Eça de Queirós, São Paulo, Centro de Estudos Portugueses: Área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa / FFLCH / USP, 1997, pp. 487-495.
  • Alan Freeland, "O leitor e a verdade oculta. Ensaio sobre "Os Maias"", trad. de José Moura Carvalho, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1989 imp.
  • Isabel Pires de Lima, "As máscaras do desengano. Para uma abordagem sociológica de "Os Maias" de Eça de Queirós", Lisboa, Caminho, 1987.
  • Isabel Pires de Lima (coordenação) Eça e "Os Maias", Porto, Edições Asa, 1990.
  • Óscar Lopes, "Três livros de Eça: "O Mandarim, A Relíquia, Os Maias" in Álbum de família. Ensaios sobre autores portugueses do século XIX, Lisboa, Ed. Caminho, 1984, pp. 69-114.
  • António Coimbra Martins "O incesto d'Os Maias" in Ensaios queirosianos, Lisboa, Europa-América, 1967, pp. 269-287.
  • João Medina, "O 'niilismo' de Eça de Queiroz n'Os Maias"; "Ascenção e queda de Carlos da Maia" in Eça de Queiroz e a Geração de 70, Lisboa, Moraes Editores, 1980, pp. 73-81 e 83-86, respectivamente.
  • Jorge Vieira Pimentel, " As metamorfoses do herói e as andanças do trágico em Os Maias de Eça", Arquipélago, 1, Ponta Delgada, 1979, pp. 91-106.
  • Carlos Reis, Introdução à leitura d'"Os Maias", 4ª ed., Coimbra, Almedina, 1982.
  • Carlos Reis, "Pluridiscursividade e representação ideológica n'Os Maias" in Leituras d'"Os Maias", Coimbra, Liv. Minerva, 1990, pp. 71-89.
  • Carlos Reis, (coord.) Leituras d'"Os Maias", Coimbra, Liv. Minerva, 1990.
  • Alberto Machado da Rosa, "Nova interpretação de Os Maias" in Eça, discípulo de Machado?, 2ª ed., Lisboa, Ed. Presença, 1979.

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